Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 22 – Cap. 10 – Confronto com a Rei Demônio Atofe

 

— Eu sou a Rei Demônio Imortal Atoferatofe Rybak! Se me derrotar, vou reconhecê-lo como campeão! Se você perder, servirá como um de meus fantoches até o dia em que der seu último suspiro!

Atofe irradiava malícia. Uma figura solitária estava contra ela: a campeã.

— Eu sou a Rei da Espada Eris Greyrat — declarou Eris.

Diante de Atofe, ela ergueu a Espada do Dragão Fênix, uma das Sete Lâminas do Deus da Espada, acima de sua cabeça.

— Estilo Deus da Espada! — exclamou Atofe, feliz. Sem tirar os olhos de Eris, sacando sua própria lâmina. — Só para você saber, a Espada de Luz não vai funcionar em mim.

Eris não reagiu. Ela sabia. Já ouvira a lenda dos reis demônios Imortais.

A Rei Demônio Imortal Atofe não poderia ser derrotada.

Não era uma questão de técnica; Atofe era lenta e sua lâmina, desleixada. Ela apenas não poderia morrer. Nenhum golpe ou ferimento daria cabo dela. Não importa o quanto batesse nela, ela se reergueria. No final, venceria por pura resiliência.

Essa era a Rei Demônio Imortal Atofe. Na Guerra de Laplace, havia menos de uma dúzia de valentes guerreiros que tinham sido capazes de se levantar contra ela. Os Três Deicidas estavam entre esses poucos. O único indivíduo a vencê-la no um contra um foi o Deus do Norte Kalman, ou assim pregavam as histórias.

Eris avaliou se sua força era suficiente para derrubar a rei demônio, e sabia que a resposta era não. Sozinha, era impossível. A ideia de desafiar um ser lendário era emocionante, mas ela compreendia que não havia como vencer Atofe com sua própria força.

Porém, isso não era motivo de choro. Ela pode não ter a habilidade necessária, mas alguém aqui tinha. Eles discutiram isso com antecedência.

— Ei, diga alguma coisa! — gritou Atofe.

Eris não deu resposta.

— Calma lá — continuou Atofe. — Havia um cara como você que fez aquilo de concentrar toda a sua energia em um único golpe poderoso e depois veio para cima… — Eris continuou sem respondê-la, ela riu. — Tenho uma boa memória, viu. Lembro-me muito bem. Esse golpe nunca me atingiu. O esmaguei com o punho, como uma fruta. — Atofe esbravejou, relembrando, depois olhou para Eris. — Bem, Eris Greyrat? Esta será a aposta de uma vida para você. Vai se humilhar na frente de seus companheiros de confiança… ou clamará as glórias?

Ela deu um tapa na própria testa.

— Veja, aqui está minha cabeça. Leve-a para casa e você será heroína da humanidade por toda a eternidade! — Atofe estava extremamente confiante. O olhar em seu rosto dizia: De jeito nenhum essa princesinha pode me matar.

Ao nosso redor, seus guardas pessoais choramingavam dizendo coisas como:

— Não, Lady Atofe! Você está baixando a guarda de novo!

Permitir que o herói desse o primeiro golpe de propósito era uma característica inevitável dos descendentes dos reis demônios imortais, suponho.

— Não preciso de glória nenhuma — rebateu Eris, bruscamente. — Mas vou arrancar sua cabeça.

— Palavras ousadas, Eris Greyrat! — Atofe urrou. Sua voz trovejou pela arena. — Tente a sorte!

O sol da tarde se afundou atrás das montanhas e a escuridão se instalou. As duas mulheres foram iluminadas pelas chamas roxas das tochas. Os olhos de Atofe brilharam. Eris a encarou de volta, destemida.

Seus olhares estavam focados uma na outra. Cada uma cobiçava o sangue da outra.

Poderia começar a qualquer momento.

— Hum…

Os guardas pessoais de Atofe não estavam olhando para Eris ou para sua soberana. Em vez disso, seus olhos estavam fixos no gigante atrás de Eris. Ali, na penumbra, erguia-se uma figura imponente feita de pedra, com cerca de três metros de altura. De onde poderia ter vindo? Alguém usou magia de invocação? Mas não, não surgiram quaisquer efeitos colaterais de uma.

Alguns passos atrás do gigante estava a maga de cabelos azuis. Ela cerrou o punho em uma clara declaração de sucesso, olhando para o gigante.

— Ah… — Por que Eris, a guerreira selvagem do Estilo Deus da Espada, não atacou? Um dos guardas entendeu, suspirando de admiração: Ela estava ganhando tempo para que Rudeus pudesse se preparar.

Roxy havia convocado a Armadura Mágica Versão Um.

— Quem… Uau… — Atofe, olhando para a figura sombria atrás de Eris, soou espantada. Ela reconheceu aquela armadura de muito tempo atrás, antes da Guerra de Laplace. Ela a tinha visto na Segunda Guerra Humano-Demônio antes de ser selada. Parecia um pouco diferente de como se lembrava. A cor era diferente. Mas tais mudanças eram triviais. Naquela época, havia muitos conjuntos de armaduras parecidas. Este era o pacote completo.

— Armadura do Deus Lutador…! — murmurou Atofe. Ela encarou-a fixamente, estupefata.

— Gyaaaaaah! — Somente então, Eris atacou.

POV RUDEUS

A espada de Eris zuniu.

Sua lâmina percorreu o caminho mais reto para o pescoço de Atofe, enquanto a rei demônio estonteava-se com a Armadura Mágica. A espada mágica, como um feixe de luz prateada, acertando o alvo com plena potência, fazendo seu caminho através da carne de Atofe.

Eris ficou alarmada, e sua lâmina parou. Ficou presa no meio do pescoço de Atofe.

Enquanto isso, a espada dela estava enterrada profundamente no ombro direito de Eris, e o restante de seu braço não estava se movendo.

Ela não tinha simplesmente parado. Alguém a tinha impedido.

Espada de Luz atingia os ligamentos entre os ossos, praticamente inutilizando qualquer corpo em que fosse usada. Foi por isso que foi reconhecida como a técnica de espada final… e tinha sido bloqueada.

— Gyaaaaaah! — Eris desistiu imediatamente do braço direito. Usando apenas o esquerdo, libertou sua lâmina. Normalmente, a Espada de Luz deveria ter decapitado seu oponente de forma limpa. Com apenas uma mão, no entanto, seu poder foi reduzido. Um terço do pescoço de Atofe permaneceu intacto, ainda firmemente preso ao tronco. Isso significaria a morte em qualquer batalha normal. Mesmo um terço do pescoço cortado já seria uma ferida letal. Mas o adversário de Eris era Atofe. Rei Demônio Imortal Atofe.

— Ngraaah! — Atofe parecia um cadáver enquanto chutava Eris para longe. Um som horrível de bwong estourou quando Eris saiu voando. Roxy a pegou. O sangue fluía copiosamente de seu ombro; ela encarou Atofe com vontade assassina inabalável em seus olhos. Ela ainda queria lutar, mas seu papel já tinha sido cumprido, por enquanto.

Atofe uivou seu grito de guerra, depois virou-se para mim. Ela ergueu a espada em uma postura defensiva, depois se inclinou para a frente em um mergulho enquanto eu preparava minha metralhadora. Talvez tenha sido algum instinto animal que a fez avançar contra mim enquanto ainda não tinha feito nada; talvez seja uma decisão tomada com base em experiência.

Com Eris fora do caminho, minha linha de fogo era clara.

— Fogo! — gritei, disparando uma saraivada de canhões de pedra.

No meu primeiro passo, a armadura de Atofe reduziu-se à pó. No segundo, seus ombros foram despedaçados e sua espada voou de seu aperto. No terceiro, seu tronco, recheado de buracos como um favo de mel, foi arrancado de sua pelvis.

Não houve um quarto passo. A metade dela que restava cambaleou e foi ao chão. Uma cena de cortar o coração. Não havia sangue – talvez porque Atofe era uma rei demônio imortal – mas teria sido verdadeiramente nauseante se houvesse. Ainda não estava acostumado a matar pessoas. Nunca estaria. Só consegui usar a metralhadora à queima-roupa porque sabia que ela não morreria. Sim: mesmo depois disso, Atofe não morreria.

Roxy aplicou magia de cura na ferida de Eris, depois olhou ao redor ansiosamente para a guarda pessoal de Atofe:

— Conseguimos?

Sem Atofe por perto para lhes dar ordens, não nos atacariam. Nenhum deles estava preocupado também. Eles tinham total fé na imortalidade de sua mestra.

— Ainda não — respondi, ainda em alerta.

Os guardas murmuravam entre si.

— Agora é nossa vez?

— Não, impossível.

— Mantenha o olhar abaixado. Você viu aquele ataque dizimar o aço negro?

— Armadura não adianta nada, hein? Que magia era essa?

— Da última vez em que lutou com Lady Atofe, ele usou um canhão de pedra ultra poderoso. Provavelmente é isso.

— Ah, isso faz sentido. Então é um tipo de canhão de alta cadência?

— Então isso significa que… O que é isso, um cajado? É uma arma mágica separada da armadura?

Estavam analisando a briga. Nada os deixava animados?

Mas bem, acho que eles sabiam que seria preciso mais do que isso para matar Atofe.

Ela se regeneraria. Estava literalmente no processo de fazer isso agora. Pedaços dispersos de carne se agruparam para formar partes maiores, conectando-se peça por peça até que ela estivesse quase de volta ao seu tamanho original. Ao contrário de certas formas de vida parasitárias, ela poderia se recompor mesmo depois que você destruísse os elos com o hospedeiro…

Sua força vital era tão forte que parecia não importar se alguns pedaços dela fossem deixados de fora do todo, porque quaisquer restos mortais se regenerariam através da mitose. Uma criatura assim, usando armadura e treinada para a batalha… Não era atoa que ela era durona.

Atofe terminou de se regenerar enquanto eu meditava a respeito.

Como eu enchi de buracos, sua metade superior estava nua.

Seu abdômen ainda mais bem definido que o de Eris, e seus seios… grandes, mas não tão grandes quanto os de Eris, estavam à mostra. Havia algum sentido, eu me perguntava, em uma criatura como ela malhar? Parece que sim.

Caramba, provavelmente havia muito mais razões para ficar trincada quando suas células não poderiam morrer do que havia para as pessoas comuns. Intrigante.

Quando Atofe estava diante de mim, totalmente restaurada e desarmada, perguntei:

— Você ainda quer lutar? — Estava pronto para uma batalha prolongada onde usaria todas as habilidades à minha disposição, mas não tinha vindo com intenção hostil. Se eu decidisse que Atofe recém-regenerada era muito incômoda e tentasse seriamente prendê-la ou exterminá-la, Moore, que estava assistindo por trás dela, me tomaria como hostil.

Tendo isso em mente, ele assumiria o comando da guarda pessoal de Atofe e me atacaria. Foi o que Orsted me disse. Eu tinha pensado sobre como lidar com essa eventualidade… mas não queria recorrer a isso. Sua regeneração era um incômodo, mas vencê-la toda vez que ela voltava, quantas vezes fosse necessário para satisfazê-la, era a melhor opção. Eu não sabia quantos rounds seriam necessários, mas eu lutaria contra ela enquanto minha magia durasse.

Mas então Atofe gritou de volta:

— Não!

Moore correu e colocou uma capa sobre ela.

— Vou lhe dar uma nova armadura imediatamente, Lady Atofe — disse ele. Atofe bufou, depois sentou-se no chão com um baque, cruzando as pernas. Aparentemente, não teria mais briga. Ela olhou ressentida para mim.

Fiquei genuinamente surpreso. Eu estava convencido de que no momento em que ela estivesse de pé novamente avançaria sobre mim como um javali ou ordenaria que seus guardas nos atacassem de todos os lados. Eris ficou entre nós dois, espada a postos, mas Atofe não lhe lançou um único olhar. Atrás de mim, Roxy agarrou seu cajado, mas duvidava que ela teria a chance de usá-lo.

Atofe continuou a me encarar por muito tempo sem dizer uma palavra. Depois do que parecia ser para sempre, ela murmurou:

— Você se lembra daquilo, Moore?

— Temo que não estava vivo durante a Grande Guerra Humano-Demônio. — Ele respondeu.

— Ah, verdade. Verdade. — Ela nunca tinha estado tão quieta. Ou calma. — Não era assim naquela época. Era muito mais chamativa. Não tinha essa arma, e era mais rápida e mais forte também.

Atofe tinha que estar falando sobre a Armadura do Deus Lutador original – o conjunto definitivo de armadura criado por Laplace.

— Mas era assim que os humanos eram: fracos no início; desamparados como bebês. Eles quebravam e fugiam no momento em que atacávamos. Mas, com o passar do tempo, eles mudaram. Novos sujeitos, novas armaduras, novas armas. Até a forma como lutavam. Eles se reuniam e se dispersavam, ficavam esperando nas montanhas e armavam emboscadas às margens dos rios… e à medida que o faziam, pouco a pouco, foram se fortalecendo. Kal costumava dizer que essa era a força dos humanos. — Atofe parecia composta, e ela realmente soava inteligente. Talvez os reis demônios imortais entravam no “modo sábio” após a regeneração, assim como os humanos faziam depois de outras atividades.

— Você fez isso? — Ela me perguntou.

— Sim — respondi.

— Huh… Você é forte, não é? Muito forte — comentou Atofe. Seus olhos pareciam brilhantes e revigorados. — Engraçado. Vocês humanos patéticos estão alcançando o Clã Dragão quando nem meu pai conseguiu derrotá-los, não importa como ele lutasse. — Ela se levantou devagar, então ordenou que Moore ficasse ao seu lado enquanto me encarava, eu lutava para entender o que ela havia dito. Ela cruzou os braços e prosseguiu. — Fui derrotada. Como prometido, vou me juntar à sua causa, enquanto você ainda estiver vivo.

Foi assim que Atofe se tornou minha aliada. Ela também me disse:

— Você me venceu, Rudeus Greyrat, então eu o nomeio “Campeão”.

E eu me tornei campeão também.

 

 

Mais tarde, houve um banquete na fortaleza de Atofe. Um banquete para celebrar a morte do rei demônio, oferecido pelo próprio rei demônio vencido. Seus guardas pessoais eram os garçons e também os convidados.

O vasto campo de treinamento servia como salão de banquetes. Os manequins e equipamentos de treinamento foram removidos para abrir espaço para uma arena no centro cercada por tapetes de couro. Os guardas sentaram-se à volta do banquete. A Rei Demônio Atofe havia sido derrotada, mas isso não significava que algum de seus prisioneiros seria libertado. Ela provavelmente não entenderia se eu trouxesse isso à tona, além disso, seria um problema para mim se a guarda pessoal dela ficasse mais fraca daqui em diante. Decidi deixar as coisas como estavam. Não estávamos brincando de polícia e ladrão, afinal de contas. Era incapaz de libertar a todos. Bem, ok, se algum deles estivesse desesperado para ir para casa, eu procuraria uma chance para livrá-los dessa. Contanto que fizesse isso devagar, Atofe não perceberia.

Dito isso, os guardas pessoais de Atofe pareciam estar felizes e curtindo a festa. Não havia um que aparentava estar prestes a se levantar em revolta. Acho que fazia sentido. Não era como se tivessem vencido Atofe eles mesmos.

— Este é um dia alegre! Vamos beber! Vamos cantar! E vamos lutar! — Apesar da derrota, Atofe estava em alto astral. Ela estava se divertindo muito fazendo seus servos batalharem na arena central. Notei que a cada caneca da cerveja que eu trouxe, ela gritava:

— Delicioso! — Parece que tinha apreciado meu presente. Foi um pensamento estranho, mas ela me lembrou Badigadi nesse momento. Depois de uma batalha, sua primeira prioridade era beber e cantar… Bom, eles eram irmãos, afinal. Talvez o Imortal Necross Lacross também tenha sido assim.

— Ahahahaha, boa!

— Esmaga ele!

— Levante a guarda! Sem essa! Levanta! Ahhh…

Estavam no meio de um combate corpo a corpo na arena. Sem armas, sem armaduras, contando apenas com seus punhos nus. Os homens mais bravos da guarda pessoal de Atofe acertavam uns nos outros com os punhos, uma demonstração de macheza.

…Hein? Espera aí, deixa pra lá. Não era um guarda. Nem um homem, vale dizer.

— A vencedora é… Eris! — Eris estava participando. Ela ainda deveria ter energia estagnada mesmo depois de batalhar contra Atofe. Agora mesmo, estava trucidando um demônio da guarda pessoal dela com a ferocidade de um cão selvagem. E isso depois de lutar contra os quatro mais fortes sob o comando de Atofe! A garota era imparável…

Foi uma boa luta. O guarda com cara de lagarto era tão duro quanto ela. Um sinal de como os guardas pessoais de Atofe eram de elite. Quando você tirava a espada de Eris a luta ficava no corpo a corpo, no entanto, era bem equilibrada. A não ser que um deles estivesse se segurando… Mas não, não foi isso. Os competidores estavam espalhados, inconsciente nas bordas da arena. Eris já tinha dado cabo de três deles. Ela havia levado algumas pancadas, mas Roxy estava lá como sua suporte usando magia de cura. Ela ficaria bem.

Eris tinha ficado muito mais forte…

Atofe encheu-se de prazer.

— Você é durona! Exatamente o que se esperaria da companheira do Campeão! Tudo bem, quem é o próximo? Quem vai ser?

— Eu desafio você, Rei Demônio Atofe! Desça aqui e lute comigo! — Eris gritou. Nisso, Atofe gargalhou em resposta.

— Você é uma idiota ainda maior do que Kishirika, me desafiando para o combate desarmado! Eu gosto disso! Tudo bem, eu luto com você! — Ela jogou o manto de lado com um Swishm dramático, e rumou até a arena completamente exposta da cintura para cima. O banquete aproximou-se do seu auge; aplausos ressoavam alto a ponto de parecer que o chão poderia se dividir. Quem ganharia? Eris? Atofe?

As chances tinham que estar ao lado de Atofe. Pessoalmente, eu não tentaria alertar Eris, pois só geraria um grande transtor…

— Mestre Rudeus… Mestre Rudeus!

— Ah! Desculpe.

Eu não estava no banquete. Ao invés disso, estava sentado com Moore em uma sala na fortaleza discutindo o que fazer a seguir. Eu deveria ter sido o convidado de honra… A farra estava a todo vapor lá fora. O evento todo era em homenagem a quem mesmo?

Moore limpou a garganta.

— Obrigado pelos detalhes. Tenho aqui um pedido para a busca e extermínio do discípulo do Deus-Homem Geese e apoio na luta contra ele; a busca por Kishirika; a criação de um serviço de inteligência e o apoio no combate contra o Deus Demônio Laplace. Isso é tudo?

— Isso mesmo.

Ao contrário de Atofe, Moore era um cara com quem você podia conversar. Ele ouviu meus pedidos, os colocou em ordem e estava dando a devida consideração. Comecei a divagar se era possível que, há muito tempo atrás, o cérebro de Atofe tenha ganhado consciência, escapado de seu crânio e assumido a forma de Moore.

— Deixando de lado os dois primeiros, por enquanto, duvido que possamos ajudar com os dois segundos, especialmente a luta contra Laplace.

— É realmente impossível? Ela tem algum tipo de obrigação com Laplace…?

— Lady Atofe perdeu para você e apenas para você. Se você morrer, o trato perde o sentido. Você estará vivo em oitenta anos?

— …Provavelmente não. — No fim das contas, a dívida dela era comigo.

Talvez eu devesse ter orquestrado as coisas de forma que ela pensasse que tinha perdido para Roxy… bem, já era tarde demais para isso. Um ponto para o destino.

— A companhia mercenária também é um problema — continuou Moore.

— É um problema territorial?

— Lady Atofe reina sobre esta região, mas seus únicos súditos são seus guardas. Se você quer montar outra organização, é uma prerrogativa sua, mas vão ter que se cuidar sozinhos.

— Muito bem — respondi.

Então não daria para o Bando Mercenário Ruato. Poderíamos estabelecer uma base, mas sempre teríamos que ter em mente que estávamos operando ao lado de uma organização liderada por Atofe.

Problemas seriam inevitáveis. E seriam daqueles que não se resolvem através da esperteza, mas sim por pura força bruta. Já conseguia me imaginar vindo para conferir as coisas e achando o lugar em ruínas.

— Para encontrar Kishirika, podemos enviar cartas assinadas por Atofe a todos os reis demônios. Suas excelências devem estar dispostas a ajudar em uma operação de busca.

— Obrigado.

— Não me agradeça. Você é quem vai entregá-las, Mestre Rudeus. Nos faltam informações adequadas sobre o paradeiro dos círculos de teletransporte.

— Mas é claro.

Certo, esse cara sabia sobre os círculos de teletransporte. Não precisei escondê-los. Os humanos haviam banido os círculos, mas os demônios – especialmente os mais velhos – não os enxergavam como um tabu.

— Lady Kishirika virá até você logo, a menos que ela tenha um bom motivo. Duvido que vá demorar até a encontrarmos.

— Sim, mas quanto mais rápido, melhor.

— Vai depender da rapidez com que você entrega as cartas… mas imagino que vá encontrá-la dentro de um ano.

Como de costume, ninguém sabia onde ela estava.

— Por que você acha que ela está sempre vagando assim?

— Jamais ousaria presumir quais tipos de coisas se passam na cabeça de demônios velhos como ela.

— …Nada mais justo.

Para mim, Moore parecia um velho demônio também. Não sabia quantos anos ele tinha, mas era um demônio imortal, então certamente estávamos trabalhando com alguns séculos.

— Você ficou muito mais forte, Mestre Rudeus — comentou Moore. — Parece um homem diferente em comparação com quando o vi pela última vez.

— Isso graças à Armadura Mágica.

— Você é muito modesto.

— Não é modéstia. Posso ter adquirido algo capaz de fazer Lady Atofe se render, mas minha força pessoal não teve nenhum grande salto.

“Força” era algo que você poderia construir, desde que combinasse magia e habilidade, mas não fiz isso por conta própria. Tive ajuda de Zanoba, Cliff e, mais recentemente, Roxy.

Sem eles, a Armadura Mágica nunca teria sido concluída e eu nunca teria aprendido a operá-la.

— Você é a segunda pessoa cuja força Lady Atofe reconheceu após um golpe. O primeiro foi Lorde Kalman, o primeiro Deus do Norte.

— Não acho que estou no nível de um dos Grandes Poderes. — Se Atofe tivesse continuado lutando e ressuscitando, acho que teria perdido no final. A Armadura Mágica queimava muita energia, e eu não tinha muita na reserva.

— Não há nada de errado em compensar o que falta. Sejam habilidades, armas ou aliados, Lady Atofe reconhece a todos eles. É por isso que ela sempre diz aos desafiantes para a encararem todos juntos. Isso é o que torna os humanos fortes, de acordo com ela.

A força dos humanos estava em… combinar nossos poderes? Então, usar armas e lutar ao lado de outros eram apenas tipos diferentes de táticas e habilidades. Não havia forma covarde de lutar. Por isso Atofe aceitou sua derrota e por isso Moore estava me elogiando agora. Agora entendi. Mais ou menos.

— Mas lembre-se: Lady Atofe ainda tem as habilidades de uma guerreira Estilo Deus do Norte, e nós, sua guarda pessoal. Não se deixe enganar achando que ela lutou contra você com tudo que tinha.

Vou ter certeza de não esquecer.

Desta vez, eu tinha lutado contra Atofe sozinho. Mas esse era o ponto mais fraco dela. Ela sempre usaria do poder dos outros para ampliar o seu próprio. Ela se armaria, blindaria e usaria sua guarda pessoal. Quando ela entrava em uma batalha de verdade, era certo que mobilizaria tudo que tinha contra os inimigos. Atofe tinha muita força disponível, embora onde planejava usar todo esse poder fosse um mistério para mim. Foi assustador pensar. Lembrei-me de como Rudeus do futuro sofreu na luta contra Moore…

Durante esta visita, mantive em mente a possibilidade de ter que lutar contra os guardas e me preparei de acordo. Roxy tinha pergaminhos mágicos à mão para cada contingência, o que significava que, enquanto pudéssemos segurar Moore por alguns momentos, teríamos uma escapatória. Pensando agora, caso os guardas tivessem se engajado na luta, estaríamos com sérios problemas.

Nesse momento, ouvi Atofe gritando por Moore.

Moore! Moore! Traga o Rudeus para cá! — Sua voz era tão alta que facilmente chegou até aqui. Olhei pela janela e vi Eris de bruços no chão com Roxy correndo para ampará-la.

Ela tinha perdido, pelo jeito. Claro que tinha.

— Parece que é melhor eu ir — anunciei. — Se precisar me contatar, use a pedra de comunicação que configurei há pouco.

— Eu vou. Só mais uma coisa. — Moore pegou uma caixa ao lado dele e a ofereceu a mim. Era do tamanho de um dicionário e estava gravado com padrões diabólicos. O tipo de caixa que amaldiçoa quem a abre. Quando a peguei, descobri que era inesperadamente leve.

— Lady Atofe me disse para dar isso a você. — Moore falou.

— O que é isso…?

— Se você se encontrar em uma situação desesperadora, abra-a. Tenho certeza de que vai achar útil.

Então você está dizendo: “É uma surpresa”?

— Vamos indo, então? — sugeriu Moore.

— Parece bom. — Coloquei a caixa na mochila e saímos da sala.

Depois disso, fui levado a um assento ao lado de Atofe, com a melhor vista da casa da arena. O vinho fluía livremente enquanto o banquete continuava. Orquestraram uma batalha de cinco contra cinco entre os guardas, seguida por uma exibição mágica ridiculamente chamativa de Moore e alguns outros. Depois veio um show de acrobacias como num circo chinês, seguido por um bardo que cantou para nós.

Achei difícil aproveitar qualquer um destes. Atofe sentou-se ao meu lado o tempo todo, ainda nua da cintura para cima. Não sabia para onde olhar. Veja, o celibato de Rudeus, o celibatário, só o havia deixado com mais tesão.

Dei uma espiadinha, mas não tinha percebido que Eris tinha se sentado ao meu lado. Ela agarrou minha orelha e Roxy, que se jogou no meu colo, bloqueou minha visão de Atofe.

Foi um grande banquete.

 


 

Tradução: Black Lotus

Revisão: Pride

 

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Bravo

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