Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 22 – Cap. 08 – Aprisionado no Forte Necross

 

POV RUDEUS

 

— Veja, chegamos — disse Atofe. Depois de voar em círculos acima do Forte Necross, ela pousou em um prédio localizado não muito longe da arena e me jogou numa sala lá dentro.

— Hum, onde é que…? — comecei timidamente. O quarto tinha sido feito para uma menina, tudo era rosa bebê. Havia uma cama de dossel, móveis brancos, cortinas de renda e um bule sofisticado. Parecia um quarto no palácio de Asura, mas nem mesmo o aposento de Ariel era tão feminino.

A única coisa que não combinava com a estética era a vista da janela: terra avermelhada e uma montanha coberta de árvores assustadoras, sem contar os Drakes Negros sobrevoando a montanha. Não que isso já não fosse impressionante por si só…

— O quarto da princesa! — Atofe anunciou.

— Princesa…? Quer dizer que este quarto pertence à sua filha, Lady Atofe?

— Não! Eu não tenho uma filha!

Eu sei. Orsted me disse isso.

A Rei Demônio Atoferatofe Rybak teve apenas uma criança. Um filho. O Deus do Norte Kalman II.

A Epopeia do Deus do Norte em circulação no momento era principalmente sobre ele. Ele matou um rei dragão gigante e derrotou gigantes no Continente de Begaritt. Parecia ser um herói genuíno, mas Orsted o chamou de “garoto idiota”. Como dizem: tal mãe, tal filho.

— Então este quarto… é o seu quarto!

— Não faz muito meu estilo.

— Hehehehe. Não espere que seu campeão venha salvar você! Vai ficar aqui até morrer! — Atofe cacarejou.

Ela não estava ouvindo. Com outro “Mwaaaahahahah!”, Atofe deixou o quarto.

Certo, o que estava acontecendo? Eu estava preso? A porta nem estava trancada. Seria essa uma maneira indireta de Atofe me pedir em casamento?

Cara, não consigo entender.

— Com licença. — Veio uma voz de trás de mim, era Moore. Ainda bem, alguém sensato.

— Você parece confuso — apontou ele.

— Sim — rebati.

— Por favor, sente-se. Vou explicar.

Obedeci e sentei numa cadeira ridiculamente feminina. Era bem confortável. Eles devem ter usado bons materiais e a almofada era muito macia. Era um pouco pequena para mim, como se fosse feita para uma pessoa um pouco menor. Seria perfeita para uma adolescente.

Quando me sentei, Moore pegou o bule e serviu uma xícara de chá. Tanto o pote quanto as xícaras não pareceriam deslocados nas mãos da realeza, especificamente da realeza de Asura. Eu tinha visto o mesmo tipo sendo usado nos aposentos de Ariel. O líquido que saiu foi um pouco diferente, entretanto. Era mais enevoado que o chá preto e tinha uma cor mais suave.

Que sabor é esse, eu me perguntei. Espera, eu já vi isso antes. Isso é Chá Sokas.

Nanahoshi queria muito aquilo. Embora eu ache que ela não bebesse pelo gosto.

— Ah, obrigado. — Eu disse. — Com sua licença.

Pelo menos meu chá era do tipo normal. Fiquei grato por isso.

— Bom. Agora, por onde você gostaria que eu começasse? — perguntou Moore.

— Do começo, se possível.

— Do começo? — Moore ficou pensativo, então, como se subitamente lembrasse de algo, começou a falar. — Lady Atofe nasceu no final da primeira guerra Humano-Demoníaca.

— Uau. Então até Lady Atofe tinha pais, hein?

— De fato. Diz-se que sua honrada mãe era de grande intelecto, como Lorde Badigadi.

Grande intelecto como o de Badigadi…? Certo, acho que estamos falando dos padrões dos reis demônios imortais aqui.

— Lorde Badi cresceu observando sua sábia mãe e Lady Atofe seu pai, o Lorde Imortal Necross Lacross. Naquela época, o Lorde Imortal era o mais poderoso de todos os reis demônios.

Ele foi um dos Cinco Grandes Reis Demônios da Primeira Guerra Humano-Demoníaca. Não restava muita informação sobre ele, mas comparado aos outros reis demônios, ele deve ter sido incrivelmente poderoso.

— Lorde Necross foi morto pelo herói Arus. Eu ainda não havia nascido e não sei como é possível tirar a vida de um rei imortal. Nem Lady Atofe, que era apenas uma criança. O que ela lembra é que, quando viu seu pai morrer, decidiu que tinha que ficar mais forte e se tornar um rei demônio poderoso.

Certo, então agora ela é como… seu pai morto?

Apesar de parecer não pensar muito nas coisas, Atofe estava lutando por algo.

Eu não conhecia muitos reis demônios, mas a verdade era que, entre todos eles, Atofe era a que mais lembrava um. Como posso explicar? Ela era como a encarnação física da violência e do medo, ou algo assim. Ela simplesmente era um rei demônio. Essa é a melhor maneira que eu poderia explicar.

— Entretanto, nós, demônios imortais, não damos muita importância ao passado. Sua Majestade Necross Lacross era um rei poderoso, mas ninguém sabia como ele havia adquirido tanto poder.

Ah, isso faz sentido. Ela queria ser como o pai, mas só tinha uma ideia vaga de como ele realmente era.

Típico da Atofe. Tal filha, tal pai. Talvez, no fundo, todos os demônios imortais fossem assim.

Seu pai também não havia deixado nenhum registro da extensão do poder dele. Um humano teria deixado relatos exagerados de sua própria grandeza, mas demônios imortais viviam tanto que não ligavam para o passado. É possível que na época eles nem tivessem o conceito de fazer registros. Não havia necessidade de aprender com o passado, aquilo era algo óbvio para eles. Se você pensasse assim, não deixaria nenhuma informação para trás.

— Eu tenho uma pergunta para você, Mestre Rudeus.

— Sim?

— Que tipo de ser é um rei demônio? Como eles são falados entre os humanos?

— Uh…

Reis demônios… reis demônios…

Neste mundo, os reis demônios não eram nada mais que governantes de regiões do território dos demônios, mas eu só pensava assim porque sabia um pouco sobre o Continente Demônio.

E um humano comum? O que as pessoas em Asura ou Ranoa dizem sobre eles?

— Eles dizem que são incrivelmente poderosos e que são os inimigos naturais da humanidade, e também que sequestram princesas às vezes. — Oh.

— É verdade — disse Moore.

De fato, é verdade.

— Depois que Sua Majestade Necross Lacross faleceu, Lady Atofe, que não sabia o que significava ser um rei demônio poderoso, procurou aprender com os humanos e assim reuniu registros feitos por eles.

— Falando assim, parece até que era a própria Atofe que estava lendo os registros — interrompi.

— Foi, é claro, a guarda pessoal dela na época que fez a leitura.

Sim, imaginei.

— Vários reis demônios foram mencionados nesses textos. Todos os que eram conhecidos como “poderosos” tinham alguns pontos em comum.

— Pontos em comum? Você quer dizer…

— Sim, as qualidades que você acabou de listar.

Poder esmagador, inimigo natural da humanidade, sequestrar princesas.

Além disso, é derrotado pelo herói que vem resgatar a princesa.

— Você não achou que isso soou estranho? — perguntei.

— Eu não era nascido naquela época, e os subordinados dela provavelmente sabiam pouco sobre humanos. Também havia documentos entre os registros de demônios que continham histórias semelhantes, embora, é claro, os próprios demônios imortais não deixassem registros. A história de como um rei demônio sequestrou uma princesa e foi derrotado pelo herói Arus…

Ah, certo. Entendi agora.

Durante a primeira Grande Guerra Demoníaca, o herói Arus, junto com seis companheiros, matou todos os Cinco Grandes Reis Demônios. Ele foi o herói que derrotou Kishirika e pôs fim a uma guerra que já durava mil anos. Havia uma história como a que Moore descreveu em um dos contos sobre ele, e a essência disso é que ele derrotou o rei demônio, resgatou a princesa, casou-se com ela e fundou o Reino de Asura. No entanto, de acordo com as histórias que li na casa de Boreas, Arus não tinha realmente planejado salvar a princesa e o rei demônio não a havia sequestrado.

Uma nação humana, num ato de diplomacia estratégica, ofereceu a princesa ao rei demônio como refém. Arus, por razões totalmente não relacionadas, invadiu o castelo, derrotou o rei demônio e, com isso, a princesa acabou sendo resgatada. Era isso que tinha realmente acontecido.

Os autores posteriores a esses eventos, no entanto, não contaram dessa maneira. Muitos deles acrescentaram um toque dramático à história do herói Arus e sua batalha para resgatar a princesa. Alguns deles devem ter conhecido mais da história do que outros. Ou isso, ou eles estavam escrevendo pura ficção, totalmente descolados da história.

Dependendo do livro, foi um rei demônio diferente que sequestrou a princesa, e o nome da princesa e sua terra natal também variavam. Se você acreditasse em todas as histórias, todos os cinco Grandes Reis Demônios sequestraram uma princesa e o herói Arus derrotou todos eles, teve um final feliz com todas as princesas, e a recém-fundada Asura acabou com um harém inteiro de rainhas consortes.

E ela tinha… acreditado em todas elas. Falo de Lady Atofe. Ela pensou que o que estava escrito naqueles livros sobre como eram os heróis, princesas e reis demônios era verdade.

— Agora, eu entendo. Então é por isso que Lady Atofe é tão inclinada à violência.

— Não, não — respondeu Moore. — Ela sempre foi assim.

— Oh. Tudo bem então.

Ela não havia se transformado na violência encarnada ao longo do caminho, então. Aquilo meio que era simplesmente ela.

— Ela é esse tipo de pessoa — continuou Moore. —  Interpretando o personagem do rei demônio da maneira que era mais conveniente para ela.

Não era como se ela tivesse escolhido uma interpretação preferida, parecia mais que tinha simplesmente ignorado as partes que não gostava. O resultado: Rei Demônio Imortal Atoferatofe, o medo encarnado. Não me levem a mal, acho que funcionou. Havia muitos humanos que genuinamente temiam Atofe.

— Tudo bem — retomei. — Como isso está relacionado ao motivo pelo qual fui trazido aqui?

— Você disse que era uma princesa.

— Apenas brinquei, então…

— Mesmo sendo brincadeira, você não deveria ter dito isso.

Você diz isso agora, mas como eu ia saber que Atofe acha que a coisa normal a se fazer com uma princesa é sequestrá-la e trancá-la?

— Então, o que Eris e Roxy estão fazendo agora? — indaguei.

— Os campeões devem passar por testes para demonstrar seu poder à rei demônio.

— O que significa…

— Essencialmente, se você quer lutar contra Lady Atofe, tem que derrotar sua guarda pessoal primeiro. Senhorita Eris e Senhorita Roxy estão lutando com os membros da guarda mais idio… quero dizer, com os nossos guerreiros de elite especialmente selecionados.

Então Eris e Roxy estavam perto de vencer os Quatro Supremos de Atofe (os idiotas especialmente selecionados).

— Isso não soa bem — comentei.

Eu não teria me importado se fosse por diversão; Eris estava ansiosa por uma briga de qualquer maneira, então funcionava perfeitamente, mas se fosse uma luta até a morte era diferente.

— Certo. Sinto muito, mas é melhor eu ir. Tenho que ajudar Eris.

Moore me chamou

— Espere, por favor.

— Você terá que lutar comigo se quiser me impedir, e olha que não é tão incomum hoje em dia que a princesa também lute.

Algo me dizia que lutar contra Moore seria doloroso. Quando enfrentei Atofe da última vez, a luta se tornou um tiroteio mágico, e não saí me sentindo muito bem. Pensei em como lidar com isso da próxima vez… mas a diferença de experiência entre nós era muito grande. Não importava o que eu fizesse, as chances não estariam muito a meu favor.

Desta vez, porém, eu tinha a Armadura Mágica. A vitória não seria determinada por quem era o melhor em disparar ataques mágicos.

— Não se preocupe — respondeu Moore. — Lady Atofe pode estar falando sério sobre tudo isso, mas nós, seus servos, não gostamos de assassinar pessoas. Não nos dias de hoje e na era atual. Mesmo que seus amigos sejam derrotados, eles no máximo perderão só um braço ou algo assim.

— É isso que você quer dizer?

— Seja como for, seus oponentes são todos membros da guarda pessoal de Lady Atofe, guerreiros que vieram a esta terra para se dedicarem aos treinos o quanto fosse preciso. Eu o aconselho a não esperar uma vitória fácil.

Eu não gostava daquilo… mas ainda pensava que se alguém pudesse lidar com eles, seria Eris, e era por momentos como esse que ela treinava tanto. Tudo bem, talvez esta situação específica fosse um pouco diferente. A questão era que ela estava pronta para usar suas habilidades quando fosse necessário e, além disso, Roxy estava lá com ela. Se Eris era os músculos, Roxy era o cérebro. Eu estava confiante de que juntas elas poderiam vencer ou, pelo menos, eu esperava que pudessem.

Aquele ainda era o Forte Necross, entretanto. Como os contos contavam, era basicamente o Santuário da Espada, versão Estilo do Deus do Norte. Todos ali atravessaram o Continente Demônio para alcançá-lo. Essas não eram pessoas que faziam as coisas pela metade.

Além de minhas preocupações quanto a ganhar ou perder, porém, também percebi que só queria ver Eris em ação. Ela serviu como minha companheira de sparring para treinar combate corpo a corpo, e eu ainda não tinha conseguido vencê-la, nem mesmo com a Armadura Mágica. Queria ver como ela se sairia num lugar como este.

— Hum, tá bom, posso só ir pra torcer por elas?

— Você pode. Afinal, as palavras de apoio da princesa devem dar ânimo aos heróis — disse Moore.

— Não precisa tirar sarro de mim.

Corri de volta para Eris sem mais delongas.

Fiquem firmes, ó bravas campeãs! Sua princesa está chegando!

 


 

Tradução: Marloon5

Revisão: Pride

 

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Bravo

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