Eu estava em uma casa nos arredores da cidade mágica de Sharia. O cômodo à minha frente estava decorado dignamente como o castelo de um rei demônio maligno. Estava mobiliado com um luxuoso tapete Asurano e cadeiras feitas de mogno e couro de dragão vermelho, recheadas com lã de Millis. A mesa era de madeira clara para combinar com as cadeiras, e os ornamentos — todos meticulosamente criados pelos artesãos de Sharia — impressionariam qualquer um. A lareira brilhava, suas chamas crepitando suavemente de uma maneira acolhedora que, contra minha vontade, tranquilizava meu coração.
Você provavelmente está se perguntando qual parte disso se assemelha a um castelo de um rei demônio maligno. Isso estava presente na aura perturbadora que emanava do homem carrancudo, lançando olhares furiosos para mim de sua cadeira. Sua presença fazia com que todos os lugares por onde passava parecessem um castelo de um rei demônio maligno ou uma sociedade secreta. A atmosfera de um lugar está relacionada às pessoas nele presentes. Os móveis ou qualquer outra coisa são apenas um detalhe. Sempre se trata das pessoas.
— Isso é tudo que tenho a relatar desta vez — falei, encerrando meu relatório sobre os acontecimentos no País Sagrado de Millis. Meu tom de voz tinha o tipo de atmosfera acolhedora que você pode encontrar na casa de uma família que está se esforçando um pouco demais para fingir que um divórcio não está prestes a acontecer.
Orsted sempre parecia prestes a explodir. Talvez seja por isso que Eris, que estava atrás de mim, estava tão nervosa. Na verdade, a expressão que ele estava usando agora não era o rosto de alguém prestes a explodir. Ah, entendi. Ultimamente, eu tinha pegado o jeito de ler as expressões de Orsted, então sabia o que esse rosto queria dizer.
Certo, então… Era cerca de setenta por cento de dúvida e talvez trinta por cento de falta de interesse. Não estava especialmente irritado.
Então você pode ficar tranquila, Eris.
— Então, sobre esse erro… Eu prometo que vou arrumar a bagunça que fiz aqui!
Deixe com o Kaijin Quag-Man para acabar com o Kamen Rider Geese!
— Oh, sim, obviamente, você lidará com isso. A questão é… — Pelo tom de Orsted, eu deduzi que essas palavras vinham da parte dos setenta por cento de dúvida.
Alguma coisa está te preocupando, senhor?
— Você me disse tudo isso através da pedra de comunicação — explicou ele. — Por que você viajou até aqui para dizer isso de novo?
— Sou obrigado a fazer meus relatórios. Além disso, parece que meus planos terão que mudar daqui para frente, então achei que uma reunião fosse necessária.
— Entendo… — Orsted disse com um suspiro. Ele sentou-se novamente. — Então? O que você está planejando?
— Serei breve — falei limpando a garganta. — Como mencionei através da pedra de comunicação, Geese me disse que está reunindo forças para me enfrentar em uma batalha direta. Não sei se ele estava falando a verdade ou não, mas planejo contra-atacar reunindo aliados poderosos por conta própria.
— Hmm.
Ele realmente precisava olhar para mim como se estivesse resmungando, “Exatamente o que você me disse antes, não é?!”
Pensei que conversar pessoalmente poderia levar a novos desenvolvimentos ou algo assim, então me processe…. Além disso, fazer um acompanhamento é importante. Não seria bom se estivéssemos olhando a situação de maneiras diferentes.
— Primeiro, quero obter a aprovação do Deus da Morte no Reino do Dragão Rei, depois Atofe, e só então irei ao Deus do Norte… Oh, você sabe onde está o Deus do Norte?
Depois de Atofe, eu queria conversar com os Sete Grandes Poderes, começando pelo mais forte deles:
Número cinco: o Deus da Morte. Número seis: o Deus da Espada. Número sete: o Deus do Norte.
Em uma reunião anterior com Orsted, ele me disse que o Deus do Norte era mais fácil de conversar do que o Deus da Espada, então planejei alterar um pouco a ordem e dar prioridade ao Deus do Norte.
— Eu não sei. Todo Deus do Norte tem sido um andarilho. A menor alteração no curso da história poderia fazê-lo aparecer no outro lado do mundo. Depois de tantas mudanças, não posso dizer.
— E normalmente?
— O segundo Deus do Norte estava no continente de Begaritt, enquanto o terceiro estava na região em guerra do continente Central, eu acredito.
Ambos estavam muito distantes, e nomear continentes inteiros dificilmente reduzia as possibilidades.
— Entendido. O próximo é o Deus da Espada, suponho.
Então, a ordem agora era o Deus da Morte, Atofe, e então o Deus da Espada… Sinceramente, eu queria conversar com muitas mais pessoas. Os principais grandes poderes, em ordem, eram o Deus da Técnica, o Deus Dragão, o Deus da Luta e o Deus Demônio.
Além do Deus Dragão, todos eles estão selados ou desaparecidos, certo? Espere, só um momento…
— Falando nisso — retomei —, acha que o Deus da Técnica se aliaria a mim? Lembro-me de você dizer que ele se separou do Deus Demônio, o que significa que ele deveria estar disposto a me ajudar a lutar contra o Deus-Homem. Certo?
— Você tem usos melhores para o seu tempo.
— Sim, as memórias dele ficaram um pouco confusas, certo? Ok, e se nós, tipo, fundíssemos ele de volta com o Deus Demônio Laplace para retorná-lo à sua forma verdadeira… ah, espera. Acho que isso deixaria o Sir Perugius louco, né? Talvez você possa, tipo, conversar com ele?
— Chega — rosnou Orsted, e eu me calei. — Não vou me aliar a eles.
Eles. Agora entendi o que ele estava dizendo. Orsted via Laplace e Perugius como farinha do mesmo saco. Provavelmente o mesmo valia para todos os Cinco Generais Dragões.
— Mas, hum, você não acha que se Perugius soubesse algo sobre Laplace, ele se manifestaria?
— Se ele se tornar meu inimigo, eu o eliminarei.
— …Entendido.
Eu poderia supor por que ele estava sendo tão obstinado. Perugius não era afetado pela maldição de Orsted. No entanto, Orsted não fazia nenhum esforço para se aproximar dele, e agora essa recusa teimosa. Mas não tínhamos muitas opções aqui.
Ainda assim, por algum motivo, eu hesitei em perguntar. Não conseguia formular a pergunta. Parecia que não era o momento certo.
Se eu lhe perguntasse, “Os tesouros secretos que levam ao Deus-Homem são as vidas dos Cinco Generais Dragões?”, eu suspeitava que acabaria com Perugius ou Orsted como inimigos. Eu devia muito a ambos, e não queria me encontrar no meio de sua disputa. No momento, a jogada inteligente era fingir que eu ainda não sabia de nada.
— Entendido — respondi. — Vamos para o próximo assunto.
— Proceda.
Mudei de assunto. Nada de bom poderia resultar em insistir em um plano que Orsted já havia rejeitado. Eu era um subordinado de Orsted, o que significava que ele tinha a palavra final sobre nossa linha de ação.
— Enquanto eu tentava explorar várias opções em Millis, tive a impressão de que sua, hm… autoridade, ou como quer que você chame, estava um pouco deficiente.
— Isso é porque eu não tenho nenhuma — respondeu Orsted.
Não seja bobo, é claro que você tem! Eu queria responder, mas pensando bem, os Sete Grandes Poderes eram essencialmente atletas que tinham conquistado medalhas olímpicas. Talvez eles não tivessem autoridade formal. Por outro lado, os Sete eram nomes importantes neste mundo. Embora a sociedade comum tendesse a esquecê-los, pessoas com status suficiente pelo menos os conheciam por reputação. Os Sete Grandes Poderes incluíam os melhores dos melhores espadachins, o Deus do Norte e o Deus da Espada. Seus discípulos eram contratados como instrutores marciais e guardas em todo o mundo. Quando se pensava em quão fortes eles eram e que aliados valiosos eles seriam para qualquer poder político, a posição de Orsted como o segundo entre os Sete parecia ser algo significativo, então estava ansioso para aproveitá-la da melhor forma possível.
— Bem, sobre isso: eu tenho uma proposta — declarei.
— Qual seria?
A questão era que, embora Orsted fosse praticamente um desconhecido, Perugius era um nome conhecido por todos. Seria fácil impressionar as pessoas se elas pensassem que eu estava no mesmo nível que ele… mesmo que apenas pelo título.
— Eu tenho me apresentado como o “Braço Direito do Deus Dragão”, mas ainda é um pouco… como devo dizer? Não impressiona as pessoas. Tipo, não são muitas as pessoas que ficam maravilhadas com o Deus Dragão, sabe? Ou pelo menos não parece ser assim. Então, estava pensando se, por uma questão de clareza, eu poderia me chamar de “Rei Dragão”. Poderíamos fazer algo como Rei Dragão Pantanoso, ou qualquer coisa que soe bem…
— Não! — Exclamou Orsted.
Espera, o quê?
— Eu proíbo você de usar o título de Rei Dragão. — Ele estava me encarando. Tipo, realmente encarando. Sim, entendi. Eu conseguia ler seu rosto, mesmo quando estava com uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Provavelmente era a expressão de “raiva” dele.
Ele está realmente irritado. Que diabos? Cara, estou tremendo.
— Todos eles vivem como bem entendem, agarrados ao seu orgulho desgastado. E depois morrem por causa de ressentimentos insignificantes.
Quando eu não disse nada, Orsted continuou:
— Você é diferente. É por isso que você não pode usar aquele nome, Rudeus Greyrat.
— Eu…uh… Sim senhor.
Aquilo foi inesperado. Eu não estava preparado para um confronto. Eu pensei que ele iria me dispensar com um desinteressado “Você pode se chamar do que quiser”.
Droga. Eu não conseguia parar de tremer.
Ouvi um som de desaprovação, bem como vi Eris se movendo para frente.
— Eris, não! — Chamei-a de volta.
Relaxe. Isso não é uma briga. Nem mesmo um desentendimento. Eu disse algo que vai totalmente contra o plano do chefe para a empresa, e agora ele está bravo. Então, saia dessa postura e tire a mão da espada, ok?
— Fui longe demais. Peço desculpas — supliquei.
— Não importa — respondeu Orsted, e eu abaixei a cabeça. A raiva de Orsted dissipou-se. Ele sempre agia presumindo que tinha as voltas no tempo como uma opção de segurança, mas algumas coisas ainda eram inegociáveis. Eu tinha cutucado uma ferida aberta sem olhar. Bem, não importava como eu me chamava. Eu poderia projetar autoridade de várias outras maneiras. Talvez minha própria sensação de majestade não fosse tão fácil de acessar, mas eu poderia… bem, hm. Eu poderia pegar emprestado um pouco da autoridade de Ariel e do Reino de Asura, talvez?
Certo, vamos seguir com isso.
— Vamos supor que eu consiga que Ariel me empreste um pouco de autoridade, então. Quem devo tentar trazer para o nosso lado após o Deus da Espada?
— O Reino Biheiril seria o melhor. É lá que reside o Deus Ogro. O Deus do Minério pode esperar. Se a situação se transformar em guerra, ele fornecerá armas de boa qualidade, mas não é bom em combate. — Agora que Orsted mencionou, eu me lembro dele dizendo que o Deus Ogro e o Deus do Minério devem ser trazidos junto com os outros.
— Você quer dizer que eu deveria fazer com que o Deus Ogro se junte a nós?
— Não. É extremamente provável que ele seja um discípulo do Deus-Homem. Devemos esmagá-lo antes que Geese possa recrutá-lo. — Certo, o Deus Ogro provavelmente se voltaria contra Laplace. E Laplace era inimigo do Deus-Homem. O inimigo do meu inimigo, o que significa que o Deus Ogro era fácil de ser convertido em discípulo, e por isso deveríamos esmagá-lo primeiro. Ok, sim, isso fazia sentido como uma estratégia; fortalecendo nossas próprias peças enquanto também eliminamos as de Geese, e eliminando-as uma de cada vez para que os cinco não possam nos atacar ao mesmo tempo. Era uma maneira de seguir em frente.
— Há mais alguém que provavelmente se voltará contra nós?
— Hmm. Não, nenhum tão significativo quanto o Deus Ogro — respondeu Orsted. — Há o Rei Abissal Vita, que vive no Inferno, no labirinto do Continente Divino, e o Vil Rei Demônio Qeblaqabla, do Continente dos Demônios. Seria prudente eliminá-los. No entanto, agir contra eles primeiro causaria problemas, então eles podem ser deixados por último.
— Entendo. — Todos eles tinham nomes tão extravagantes. Eu me perguntava se teria que lutar contra eles apenas pelo crime de serem propensos a se voltarem para o Deus-Homem. Eles ainda não haviam feito nada. Eles não eram discípulos. Orsted se importaria se eu os tornasse meus aliados primeiro? Eu não era totalmente contra lutar contra eles, se parecesse que as coisas não iam funcionar, então eu poderia lutar.. No fundo, eu não estava muito animado em assassinar pessoas antes mesmo de elas se envolverem nisso.
— Certo, então o plano é eu torná-los meus aliados ou neutralizá-los.
— Precisamente.
Os detalhes virão depois, suponho.
— Vamos para o próximo tópico. Sobre meus planos de visitar o Reino do Rei Dragão…
Depois disso, Orsted me deu fragmentos de informações sobre a família real e os nobres com poder no Reino do Rei Dragão. Foi aí que deixamos as coisas.
Eu não esperava que a questão do título de Rei Dragão o afetasse tanto.
Preciso ser mais cuidadoso da próxima vez.
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— Whew…
— Bem-vindo de volta, Presidente Rudeus! — Assim que saí da sala do chefe, a garota na recepção se levantou e se curvou entusiasticamente. Uma garota meio-elfo, meio-humana. Ela havia herdado a longa vida útil de um elfo, mas ainda era muito jovem. Ela foi contratada como secretária de Orsted após uma série de rigorosos processos de seleção entre um grande número de candidatos. Ela passava o dia inteiro sentada aqui, sem nunca ver Orsted, pois ele sempre estava trancado na sala. Ela seguia suas ordens apenas por meio de comunicação escrita, ao mesmo tempo em que cuidava meticulosamente dos deveres administrativos. Qual era o nome dela mesmo…?
— Oh, sim, obrigado.
— Você não parece bem. Aconteceu alguma coisa?
— Bem, na verdade… O Senhor Orsted não ficou muito satisfeito comigo.
— Entendo! Até você se mete em problemas às vezes, Presidente!
— Talvez eu tenha, hmm, puxado o rabo do tigre desta vez, por assim dizer.
— Nossa… Mas o CEO realmente depende de você, Presidente Rudeus. Talvez ele apenas tenha grandes expectativas em relação a você.
— Hahaha. Não, não foi isso.
Ela era resistente à maldição de Orsted e atenciosa com os outros. Uma pessoa incrível em todos os aspectos. A única coisa é que eu realmente não conseguia me lembrar do nome dela. Qual era mesmo, sério? Faristy… ou Feristaly? Não, isso não estava certo. Aisha provavelmente saberia, mas ela estava com a Zenith agora, na sala ao lado.
Tudo bem. Eu perguntaria a Aisha em particular outro dia.
— Eu estava pensando, se Orsted é o CEO e eu sou o presidente, não parece que eu sou mais importante do que ele?
— Oh… Como devo chamá-lo, então?
Agora que mencionou… Linia era a CEO interina e Aisha uma consultora, além de vice-chefe. Se eu era o presidente da empresa, então restava…
— E quanto a Comandante Supremo?
— …Bem, ele deve ter a aprovação final.
— Verdade. Hum, bem, acho que falarei com ele depois sobre isso — respondi.
Deixando de lado qualquer outra coisa, ela parecia estar fazendo um bom trabalho aqui. Até agora, não haviam ocorrido problemas graves, e sua alegria mantinha todos motivados. Orsted não parecia ter qualquer reclamação. Além disso, eu me certifiquei de contratar alguém com uma dívida enorme, então ela tinha uma motivação extra para tolerar um dia difícil de vez em quando.
— Não houve nenhum outro problema?
— Não, nenhum.
— Isso é um alívio. Se as coisas não estiverem correndo bem ou se houver algo mais que você precise, por favor, entre em contato comigo imediatamente. Se estiver ao meu alcance, farei questão de garantir que seja feito.
— O quê?! — Ela ficou surpresa. Por que isso? É verdade que nossa empresa não tinha nenhum padrão de trabalho ao qual deveríamos seguir, mas eu estava tentando construir um ambiente de trabalho positivo.
— Desculpe, Sr. Presidente. É que o Sr. Orsted me fez a mesma pergunta.
— Oh, ele fez? Huh.
— Ele já fez tantas acomodações por mim. — Normalmente, qualquer pessoa recebendo algo assim, mesmo indiretamente, ficaria em alerta, pensando que era um acordo com o diabo. Isso tinha que significar que o capacete especial que Cliff havia feito estava cumprindo seu papel, aliviando os efeitos da maldição de Orsted. Coisa boa.
— É uma pena que eu nem consiga ver o rosto dele, depois de tudo o que ele fez por mim.
— Isso é culpa da maldição. No momento em que você visse o rosto dele, toda a gratidão que você sente agora se transformaria em ódio e desconfiança.
— É horrível, não é?
— É verdade. E é por isso que quando o Sr. Orsted estiver trabalhando nos fundos, você nunca deve dar uma espiada pelas divisórias deslizantes.
— …Q-quais divisórias deslizantes? — Ela repetiu, confusa. Eu pigarreei. Na verdade, desde que ele estivesse usando o capacete, um olhar ou dois provavelmente não faria mal. Mas conhecendo o Orsted, ele não usava o capacete o dia todo, todos os dias. Não podíamos ser descuidados demais.
— Não importa. Deixo as coisas por sua conta então.
— Entendido, Sr. Presidente.
— Mais uma coisa. Você poderia dar uma dica ao chefe de que o presidente parecia realmente angustiado?
— Claro. — Ela riu. — Sabe, eu não esperava que você fosse tão tímido.
Nada de surpreendente nisso. Sempre fui assim. Sou tão corajoso quanto sou alto.
Após essa conversa, saí do escritório.
Certo. Em seguida, eu precisava relatar para minha família sobre Zenith e toda a questão com Geese. Havia muito que eu precisava dizer. Pelo menos nem tudo eram más notícias, mas isso era um consolo vazio.
POV LILIA
Naquele dia, Elinalise estava conosco. Ela vinha algumas vezes por semana para conversar com as senhoras da casa. Ela era casada, tinha um filho e sua própria residência, mas seu marido estava longe. Eu imaginava que ela se sentia solitária. Esse sentimento era muito familiar tanto para as senhoras da casa quanto para mim. No entanto, pela maneira e postura de Elinalise, você nunca teria imaginado que ela estava silenciosamente se desmoronando por dentro, imagino que era por isso que ela constantemente vinha buscar conselhos. Discutimos todo tipo de perguntas, desde que tipo de educação era apropriada para crianças de certa idade até pequenas reclamações.
Uma dessas perguntas foi:
— Quando você acha que Aisha vai aprender a se comportar como uma adulta?
— Eu me pergunto a mesma coisa. Não é que ela não possa… Bem, provavelmente ela não vai até sentir que é necessário.
— Quando poderia ser isso?
— Digamos que quando ela ache um garoto de quem goste, por exemplo…
— Eu suponho que o Mestre Rudeus não será suficiente.
— Você sabe tão bem quanto eu que o motivo pelo qual Aisha continua agindo como uma criança é inteiramente porque ela está limitada em seu papel de irmã mais nova do Rudeus. Ela não é amante ou esposa dele.
— Agora que estamos falando sobre isso, suponho que eu já soubesse disso.
— O que eu quero dizer é que você precisa encontrar alguém diferente para a Aisha. Alguém encantador. Alguém que não lhe dê atenção a menos que ela se comporte como uma adulta.
Hmmm, pensei. Sim, fui eu quem procurou conselhos naquele dia. A Srta. Elinalise parecia muito mais jovem do que eu, mas ela tinha a sabedoria que vem com a idade. Fiquei grata pela forma como ela abordou minhas preocupações de maneira minuciosa.
— Sim. Você quer alguém mais jovem e um pouco inútil. Alguém que tenha uma grande atração por mulheres adultas.
— Realmente ruim, você diz?
— Exatamente. Aisha não deve ter problemas em satisfazer as fantasias de um garoto assim, e ela também pode colocar algum juízo na cabeça desse tipo de rapaz.
Eu sabia perfeitamente bem que Aisha não ia acabar com o Mestre Rudeus. Ele não a queria e ela não tinha interesse nele. Infelizmente, eu não conseguia ver nenhum potencial candidato a marido que eu trouxesse para casa sendo bem aceito também.
— Tudo que você pode fazer é tentar fazer acontecer.
— Entendo… — afirmei, baixando a cabeça, e então deixei escapar um “Ah!” quando Leo entrou galopando na sala de jantar. Srta. Lara e Srta. Lucie estavam sentadas em suas costas. Pareciam estar brincando de cavalinho.
— Woof! — Leo latiu, olhando para mim.
Que estranho. Ele era um cachorro esperto e quase nunca latia a menos que houvesse uma razão. Não poderia ser que algo tivesse acontecido com a Sra. Sylphiette?!
— Woof, woof! — Leo abanou o rabo, então olhou de mim para a porta da frente e novamente para mim.
Ah, esqueça. Leo estava muito feliz. Além disso, se algo tivesse acontecido com a Sra. Sylphiette, ele teria latido urgentemente para alguém vir até ele.
Seu olhar estava fixo na porta da frente. Teríamos um visitante? Leo não costumava abanar o rabo para visitantes. Ah, talvez a Sra. Roxy tenha voltado para casa, pensei, levantando-me assim que a fechadura da porta da frente fez um clique. Eu corri para receber os visitantes.
— Oh, olá, Lilia. Estamos de volta.
— Olá, Lilia!
— Bem-vindo de volta, Mestre Rudeus! Sra. Eris! — gritei em resposta.
Lá, na entrada, estava o Mestre Rudeus, junto com a Sra. Eris, a Sra. Zenith e Aisha, e muito mais cedo do que eu esperava. O plano do Mestre Rudeus era ficar em Millis por cerca de meio ano, mas mal havia passado um mês e meio desde que eles partiram. Além disso, a expressão do Mestre Rudeus estava incomumente solene…
Imediatamente soube o que deve ter acontecido. Havia sido um problema. O que quer que fosse, provavelmente era culpa de Lady Claire. Ela não era uma pessoa muito flexível e também era um tanto severa com Aisha e a Srta. Norn. Era uma devota seguidora de Millis e de forma alguma uma pessoa má, mas também não poderia ser chamada de “boa”, mesmo que você estivesse tentando soar gentil. Pensando em suas personalidades, ela e o Mestre Rudeus seriam como óleo e água.
Se eu tivesse que adivinhar, eles tiveram uma séria desavença sobre algo relacionado à família, e isso resultou em um confronto.
— Algo aconteceu? — perguntei. A expressão já solene do Mestre Rudeus tornou-se ainda mais severa. Eu tinha certeza de que ele poderia lidar com qualquer obstáculo… mas fazia sentido que algumas diferenças simplesmente não pudessem ser resolvidas.
— Eu diria que sim. — Ele respondeu. Sua escolha de palavras foi intencionalmente vaga.
— Foi a Lady Claire? — indaguei. Rudeus pareceu surpreso.
— Não. — Ele declarou. — Bem, quero dizer, Claire e eu tivemos uma pequena discussão, mas estamos bem agora. No fundo, ela não é uma pessoa tão má.
Isso só me deixou mais perplexa, embora eu me sentisse um pouco aliviada. Ao longo do último mês e meio, fui assolada pela ansiedade de não ter ido com eles. Eu achava que deveria acompanhá-los para mediar. De acordo com a explicação de Rudeus, minhas preocupações eram infundadas. O que havia dado errado?
— Então… — comecei, mas o Mestre Rudeus desviou o olhar com uma expressão preocupada no rosto. Ao lado dele, Aisha parecia desconfortável. Algo mais deve ter acontecido. Olhando para Aisha, ela pode ter sido o motivo do conflito.
— Aisha causou problemas? — Como eu havia acabado de dizer a Elinalise, Aisha, apesar de já ter quinze anos, se recusava veementemente a se comportar como adulta. Ela era talentosa, mas persistia em agir como uma criança.
Eu costumava ter tanto orgulho dela, há muito tempo. Pensava: essa garota é uma criança talentosa. Agora posso retribuir ao Mestre Rudeus por sua bondade. Mas se ela nunca deixar de ser uma criança talentosa…
— Não, Aisha fez o trabalho dela muito bem — afirmou Rudeus.
Neste ponto, até mesmo eu sentia que estava sendo intrometida ao abrir a boca.
— Então, por que…
Mestre Rudeus me interrompeu.
— Olha, vai ser uma história muito longa quando eu começar a contar. Podemos esperar até que todos estejam aqui?
— Claro. Peço desculpas, Mestre Rudeus.
— Não se preocupe… Ei, e nem todas as notícias são ruins. Tenho uma ótima notícia. Ah, eu preciso desfazer as malas, então fique de olho na minha mãe para mim, tudo bem? — Mestre Rudeus riu fracamente e depois se apressou para o quarto. A Sra. Eris, com uma expressão preocupada, foi atrás dele.
Aisha e a Sra. Zenith ficaram onde estavam. Aisha estava emburrada, mas de alguma forma senti que a Sra. Zenith estava de bom humor.
— Você se comportou bem, Aisha? — questionei.
— Eu, hmm, meio que estraguei as coisas. — Ah, então ela não estava emburrada. Ela estava deprimida.
Isso não é típico de você, pensei. Desde criança, Aisha mal cometia erros, e nas raras ocasiões em que o fazia, raramente os admitia. No entanto, agora aqui estava ela, admitindo um sem hesitação. Talvez ela tenha amadurecido um pouco mais do que eu pensava.
— Foi algo muito ruim?
— Não, Rudeus resolveu imediatamente.
Fiquei em silêncio. O que poderia ter sido? Com aquela expressão no rosto do Mestre Rudeus…
Mas não importa. Ele disse que falaria sobre isso mais tarde, então eu esperaria.
De repente, percebi que Zenith estava olhando para mim. Ela estendeu a mão, parecendo muito radiante, então eu peguei sua mão e a conduzi até seu quarto.
Mais tarde naquela noite, toda a família se reuniu. Todos estavam presentes por ordem do Mestre Rudeus. Elinalise já estava aqui, então ela, é claro, estava presente, assim como a Srta. Norn e a Sra. Roxy, que acabavam de voltar da escola. Era comum a família se reunir quando o Mestre Rudeus retornava para casa, mas muito menos comum para ele propor formalmente. Geralmente, reuníamos todos apenas quando Aisha ou os olhos perceptivos da Sra. Sylphie consideravam necessário discutir algo. Rudeus ainda tinha aquela expressão no rosto.
Isso seria importante. Enquanto ele começava sua história, eu ouvia com apreensão.
— Vamos começar. Primeiro, eu consegui alcançar meus objetivos em Millis. Cliff também conseguiu se infiltrar na Igreja, então não há necessidade de se preocupar com ele.
Apesar de um contratempo com a Lady Claire, o Mestre Cliff conseguiu se estabelecer na igreja conforme planejado, e o Bando Mercenário Ruato estava em pleno funcionamento como resultado. Agora, a igreja estava em grande dívida com o Mestre Rudeus, e ele havia recrutado a Criança Abençoada como aliada de Orsted. Parecia ser um sucesso total e incontestável. A Sra. Elinalise, ao ouvir que o Mestre Cliff havia conseguido uma posição em Millis, parecia aliviada. Infelizmente, a história de Rudeus não terminava aí.
— Geese é um discípulo do Deus-Homem — anunciou Rudeus.
Geese. Aquele ladrão demônio da antiga equipe do Mestre Paul? Ele estava por trás de todos os problemas que o Mestre Rudeus enfrentou e, no final, fez uma declaração de guerra antes de fugir. Eu o conhecia há muitos anos, desde quando atravessamos para o Continente Begaritt. Mesmo naquela época, ele sempre se preocupava com o bem-estar do Mestre Paul e da Sra. Zenith. Lembrei-me de como ele havia sido consciente ao reunir as informações necessárias para a arriscada expedição ao labirinto. Geese trabalhou incansavelmente para salvar a Sra. Roxy e a Sra. Zenith. Enquanto o Mestre Paul afundava na depressão, Geese corria por aí tentando recrutar guerreiros poderosos para se juntarem à equipe, vendendo mapas que ele mesmo desenhava por quase nada. Durante todo o tempo em que ajudou o Mestre Paul, ele nunca revelou outras razões.
Não conseguia conciliar a imagem de Geese em minha mente com o Geese descrito pelo Mestre Rudeus; o traidor que estava tentando derrubar o Mestre Rudeus, a Sra. Roxy e os outros.
— Desde o seu pedido para divulgar cartazes de procurado, eu tenho me perguntado… — apontou a Sra. Roxy. — Você tem certeza de que não houve algum engano? — Como uma exploradora experiente de labirinto, ela sempre teve uma alta opinião de Geese. Segundo ela, não havia ninguém mais confiável em qualquer área, exceto em combate.
— Se ao menos… se ao menos eu pudesse dizer que este é o caso. — Mestre Rudeus deu um sorriso triste e em seguida tirou uma carta do bolso. A Sra. Roxy pegou a carta e leu seu conteúdo. Sua expressão geralmente sonolenta escureceu, mas ela assentiu, aceitando imediatamente. Ela passou a carta para mim. Quando a examinei, entendi.
A carta tinha um tom descontraído e amigável, apesar de seu conteúdo. Algo nela me disse instantaneamente – esse realmente era de Geese. Não era que ele odiasse o Mestre Rudeus ou a Sra. Roxy, nem que estivesse planejando destruí-los desde o início. Ele e o Mestre Rudeus simplesmente se encontraram em lados opostos, mas não era o tipo de inimizade que surgia de ressentimento.
— Fazendo gestos ocasionais como esse, contando a você por uma questão de justiça quando normalmente ele nunca se importa… Isso é muito típico do Geese, de certa forma — declarou a Srta. Elinalise com um suspiro.
Quando eu refleti sobre isso, esse tipo de coisa frequentemente ocorria no palácio interno em Asura. As intensas lutas pelo poder daquele país haviam transformado muitas pessoas que não tinham uma verdadeira inimizade pessoal entre si. No entanto, uma vez que as circunstâncias tornavam um homem inimigo de seu semelhante, a tradição ditava que ele deveria enfrentar seu novo inimigo em uma luta justa. A carta refletia essa mentalidade.
— Eu sei que o Geese fez muito por todos vocês, então lamento ter que dizer isso — afirmou Mestre Rudeus —, mas parece que vou ter de lutar contra ele… e matá-lo.
As palavras pareciam causar-lhe uma grande dor. Talvez não fosse óbvio, mas acredito que Mestre Rudeus tinha uma grande estima por Geese. A Sra. Eris descrevia-os como bons amigos e havia me contado que eles se chamavam de “chefe” e “novato”. A forma como Geese falava sobre as conquistas do Mestre Rudeus como se fossem suas próprias me fazia pensar que ele realmente o amava. De todos, isso provavelmente era o mais difícil para ele.
— Oh, Rudy… — disse a Sra. Sylphie. Parecia que ela não sabia o que mais dizer.
Em contraste, o rosto da Sra. Roxy estava duro.
— Geese. Nosso Geese… — Ela murmurou.
Assim como eu, ela também havia estado naquela equipe com o Geese. Ela havia contado com ele. No entanto, ela aceitou rapidamente essa nova revelação. Não havia dúvidas em seus olhos. Pelo contrário, tive a sensação de que ela estava determinada a ser firme como uma rocha para o bem do Mestre Rudeus.
— Enfim — continuou o Mestre Rudeus —, parece que vou ficar longe por muito tempo novamente. Vocês têm o Leo aqui para protegê-los, mas não há como prever o que o Geese pode fazer. Quero que todos vocês tenham cuidado e evitem qualquer perigo, certo?
Eu não permitiria que nenhum de nós aqui se tornasse um fardo para o Mestre Rudeus. Trabalharia junto com o restante da família para garantir que toda a casa estivesse segura, para que o Mestre Rudeus pudesse lutar sem se preocupar conosco. Ele estava sempre preocupado, sempre olhando por cima dos ombros. Ele não conseguia ver o quanto éramos comprometidas. Era uma boa qualidade, com certeza, mas quando falhava em confiar em nós, ele parecia distante. Embora eu suponha que, do ponto de vista de alguém como o Mestre Rudeus, devíamos parecer terrivelmente frágeis.
— Eu vou garantir isso — confirmou Roxy. — Rudy, se Geese está se movendo contra você, acho que este não é só mais um trabalho comum. O que você precisar, me diga.
— O mesmo vale para mim — acrescentou Sylphie. — Não posso fazer nada no momento, mas estou aqui por você, Rudy. — Elas estavam agindo de acordo com suas personalidades, como sempre.
— Sim, sem dúvida! — bradou a Sra. Eris, assim como Aisha: — Com certeza! — Ambas falaram como se não houvesse outra resposta possível.
— Eu entendo a situação — disse a Srta. Norn. Ela parecia incerta, mas seu aceno foi determinado.
Eu também concordei, é claro.
— Eu posso não ser de grande ajuda — falei —, mas vou garantir que não me tornarei um obstáculo para você.
Se não fosse pela antiga lesão no meu joelho, talvez eu pudesse ter falado com mais confiança. A resposta que dei foi o máximo que minha força permitia.
— Obrigado — disse o Mestre Rudeus. — Como eu disse, provavelmente não estarei em casa por um tempo. Acho que, por enquanto, podemos encerrar esta reunião familiar…
— Espera, Irmão — interrompeu Aisha. — Você precisa contar a eles sobre a Zenith.
— Ah, verdade.
Sra. Zenith. Senti meu corpo ficar tenso. Lembrei-me então de que o erro que Aisha não queria mencionar também ainda não havia sido discutido, e fiquei ainda mais nervosa. Mestre Rudeus, no entanto, estava sorrindo.
— Na verdade, descobri tudo sobre a maldição em minha mãe. — Ele declarou. Isso tinha que ser a boa notícia que ele havia mencionado, não o erro de Aisha. — Ela tem uma maldição que permite ler mentes. Não que ela possa ver tudo, mas… parece que ela nos entende muito bem.
Mestre Rudeus transmitiu tudo o que a Criança Abençoada havia lhe contado e descreveu como a Sra. Zenith via o mundo ao seu redor. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto uma grande onda de memórias me invadia. Havia sinais de sobra, agora que eu sabia procurar por eles. A Sra. Zenith sempre estava um passo à frente ao cuidar do jardim, e quando a Srta. Lucie ainda era pequena, a Sra. Zenith parecia saber quando ela iria chorar antes mesmo de acontecer. E então havia… bem. Eu não tinha certeza de como descrever isso. A Sra. Zenith sabia sobre o Paul. Todos nós assumimos que ela não percebia que ele havia morrido. Pensávamos que, se suas memórias algum dia retornassem, ela ficaria angustiada, mas ela sabia de tudo. E não apenas isso, ela tinha aceitado e começado a seguir em frente. Quando isso afundou em minha mente, eu não consegui parar de chorar.
— Lilia… — disse Mestre Rudeus.
— Me desculpe. Mestre Rudeus… — Não havia um olho seco no quarto, mas eu fui a única que enterrou o rosto nas mãos e soluçou. Tudo o que eu fiz recentemente foi chorar. Quando eu era jovem, quase nunca derramava lágrimas. Não achava que minhas emoções tinham tanto controle sobre mim. Pode ser outro sinal de que estou ficando velha.
Aisha acariciou minhas costas enquanto eu chorava, e então, quando as lágrimas finalmente diminuíram, Sra. Zenith veio e colocou uma mão na minha cabeça, fazendo com que os soluços voltassem com força.
POV RUDEUS
Meu relatório para a família foi concluído. Todos eles deram suas respostas encorajadoras habituais, palavras que me fizeram sentir que podia contar com eles. Eu sabia que Lilia e Roxy, em particular, tinham sentimentos complicados em relação a Geese, mas ambas concordaram com a necessidade de matá-lo sem reclamações ou dúvidas.
Em seguida era Zanoba. Eu planejava fazer uma visita ao Reino do Rei Dragão, então teria que discutir isso com ele antes de partir. Sem dúvida, ele teria seus próprios pensamentos sobre o assunto.
Eris, Sylphie e Roxy foram comigo. Nós pegamos a carruagem do Bando Mercenário até a Loja Zanoba. O principal motivo da visita era fazer uma lista de verificação para fortalecer a Armadura Mágica.
— Certo, vamos seguir com isso — afirmei, quando ele apresentou suas ideias.
Era hora de retomar o desenvolvimento da Versão Três. Além disso, eu precisaria de outro trunfo. Geese já tinha visto a Armadura Mágica, então ele encontraria alguma maneira de contra-atacar. Eu queria uma arma secreta adicional.
Quando expliquei tudo isso, Zanoba respondeu com confiança:
— Estou mais do que feliz em ajudar.
— Assim como eu — interveio Roxy. — Meu conhecimento sobre círculos mágicos cresceu bastante nos últimos anos. Acredito que posso ser de alguma ajuda.
Ajuda, você diz? Quero dizer, sou grato, só não tenho certeza se essa é uma boa ideia…
A verdade é que a Armadura Mágica estava tão complexa que nem eu mesmo poderia fazer muito além de montá-la e ativá-la.
— Você tem certeza? — questionei. — Não é algo que se possa encarar levianamente.
Roxy fez um bico.
— Rudy, querido, você sabe com quem está falando, certo?
— M-Me de-desculpe! — gaguejei.
Eu fiquei um louco por um segundo! Eu deveria saber que não há nada que Roxy não possa fazer! Não sei no que estava pensando! Sou um bobo! Um caso perdido completo! Deveria morrer aqui mesmo!
— Eu estudei tudo isso por você, Rudy. Revisei todas as notas de pesquisa do Zanoba e do Cliff para poder ajudar com a manutenção e atualizações.
— Roxy…!
Isso mesmo, em Shirone ela conseguia desenhar círculos mágicos do nível de Fogo Sagrado…
Ocorreu-me que talvez ela nem sempre tivesse sido capaz de fazer isso. Talvez ela tivesse aprendido quando pesquisou círculos mágicos após retornar à universidade.
— Okay, então — concordei. — Estou colocando a Armadura Mágica e minha vida em suas mãos, Mestra!
— Eu aceito. — Ela respondeu.
Eu tinha assumido que, com a partida de Cliff, a pesquisa da Armadura Mágica ficaria estagnada, mas felizmente, cometi um erro de cálculo. Qualquer armadura que Roxy fizesse para mim valeria um exército por si só. Ela poderia ter feito algo perigoso de papelão, se fosse necessário; ainda assim, eu enfrentaria três Orsteds de uma vez e acabaria com eles!
— Eu não sou o Cliff, então não crie expectativas muito altas — disse Roxy. Mesmo assim, ela parecia orgulhosa de si mesma, presumivelmente devido à confiança em suas habilidades. Fiquei imaginando se ela já não tinha alguns planos elaborados para melhorias.
— Hahaha. Agora que a Mestra do Mestre está aqui, não vai sobrar nada para eu fazer! — declarou Zanoba, e todos nós rimos.
— Certo, Zanoba — continuei. — Há outra razão pela qual vim aqui hoje.
— Oh? Seja lá o que for, parece sério. Talvez você tenha ficado sabendo da minha aquisição de uma fascinante nova miniatura outro dia? Meu amigo, é realmente uma peça especial! Feita de um material único. Seus membros são bem flexíveis…
— Vou para o Reino do Rei Dragão — interrompi Zanoba no meio da frase — para ver Randolph. Você vem comigo, certo? — Zanoba segurou minha mão, apertando-a firmemente. Graças à Prótese Zaliff ela estava fria, mas a força de seu aperto estava precisamente calibrada para não esmagar minha mão.
— Obrigado, Mestre. — Ele falou.
Sim, sim, chega de agradecimentos. Você vem ou não?
— Vou fazer minhas malas imediatamente.
Isso significa que você está vindo, certo? Muito bem, então.
Zanoba vinha implorando para saber quando eu iria expandir para o Reino do Rei Dragão desde muito tempo atrás. Fazia todo sentido ele vir junto. Ele passou todo esse tempo preocupado com a criança que Pax deixou para trás.
— Opa, calma aí — apontei. — Não é como se eu estivesse partindo neste exato momento.
— Oh, certo. Peço desculpas… Então vou encontrar alguém para cuidar da loja primeiro. Embora eu mal tenha trabalho agora! — Zanoba gargalhou.
As Lojas Zanoba estavam crescendo a cada dia. O número de lojas e funcionários havia aumentado e, nos dias de hoje, quase tudo era administrado por trabalhadores. Como o líder da organização, o trabalho de Zanoba agora era tomar decisões finais em projetos importantes, entrevistar para cargos executivos e fazer verificações de controle de qualidade nos produtos de cada local. Considerando que a própria Loja Zanoba era quase como uma subsidiária de nossa Corporação Orsted, e que ele não precisava estar envolvido em nenhuma tomada de decisão… Bem, sendo brutalmente honesto, não havia muito para ele fazer aqui.
— Está bem, apenas certifique-se de ser rápido.
— Entendido — respondeu ele, e com isso, segui meu caminho.
Não estávamos indo para o Reino do Rei Dragão porque algo tinha acontecido. Eu não esperava que algo acontecesse. Mas, dado o meu histórico, as chances de nos envolvermos em alguma coisa eram altas. Poderíamos encontrar Geese tentando recrutar Randolph, por exemplo. Ok, isso era improvável, mas eu queria ter precaução adequada mesmo assim.
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Uma pessoa ficou surpreendentemente quieta no caminho de volta para casa.
Eris olhava pela janela da carruagem, aparentemente perdida em pensamentos. Talvez ela estivesse pensando em Geese. Não importa o que ela pudesse dizer agora, Eris havia simpatizado com Geese desde quando o conheceu na Grande Floresta. Lembro-me dela me dizer que ele iria ensiná-la a cozinhar. Ela não se dava bem com muitas pessoas, mas Geese era diferente.
De repente, Sylphie apertou minha mão. Eu olhei para cima.
— Está tudo bem, Rudy? — Ela perguntou.
— …Hã? Ah, sim, está tudo bem. — Eu não sabia a que “isso” se referia nem como estava tudo bem, mas eu disse mesmo assim. Toda a situação com Geese foi um grande choque, mas havia muitas outras coisas que estavam bem. A barriga de Sylphie tinha crescido desde que eu saí para levar Zenith de volta ao País Sagrado de Millis. A gravidez foi detectada cerca de três meses atrás, e desde então mais um mês e meio se passou, então arredondando ela está com cerca de cinco meses de gestação.
— E você, Sylphie? — indaguei.
— Eu nunca fui próxima de Geese como o resto de vocês.
— Ah, entendi. — Não era isso que eu queria dizer, mas, ei, se ela não estava mencionando a gravidez, eu poderia assumir que estava indo bem. Afinal, esse era o segundo filho dela. Fazia sentido ela ser uma veterana nisso agora.
No entanto, não podia ficar complacente. O Deus-Homem havia dito algo, há muito tempo, sobre como o destino das pessoas fica ambíguo quando estão grávidas, o que as torna mais vulneráveis a serem mortas. Por causa dessa sombria advertência do Deus-Homem, eu tinha convocado uma besta guardiã por sugestão de Orsted. Eu tinha quase certeza de que Sylphie ficaria bem, mas não conseguia me livrar de toda a minha ansiedade. Eu tinha certeza de que tinha feito tudo o que podia, mas mesmo assim…
Ah.
Sem conseguir acreditar nas minhas próprias palavras enquanto falava, eu anunciei:
— Até lidar com o Geese, vou abrir mão do sexo.
Sylphie ficou olhando fixamente. Roxy ficou boquiaberta. Eris estreitou os olhos para mim.
— Uh, tudo bem. Se é isso que você quer, Rudy — disse Sylphie. — Não me importo, só que… hmm…?
— Eu também não me importo — concordou Roxy duvidosamente. — Embora… isso é algum tipo de gesto religioso?
— Eu te disse, não disse? O Deus-Homem afirmou que é mais fácil te atacarem quando você está grávida. Geese pode tentar usar isso também, então acho que devemos parar por enquanto.
Todas me olharam como se fosse a primeira vez que ouviam sobre isso. Talvez eu não tenha contado a elas. Ou talvez eu tenha contado e elas tenham esquecido. A memória das pessoas muitas vezes fica turva.
— Acho que não temos escolha — declarou Eris de forma lacônica, virando-se para olhar pela janela novamente. Ela não parecia feliz, mas não contestou. — É difícil imaginar você cumprindo uma promessa assim, Rudeus.
Rude. Aparentemente, minhas regiões inferiores não eram confiáveis. Eu também não confiava nelas. Elas estavam se comportando por enquanto, mas quando você está segurando uma arma carregada, o dedo no gatilho fica coçando. É assim que os homens são. Uma vez que está armado, não demora muito para disparar.
— Não tem como a Sylphie parar de repente também — acrescentou Eris.
— Er… Vou seguir isso se é o que o Rudy quer.
— Como se fosse. No momento em que Rudeus disser: “Vamos apenas nos divertir um pouco”, você vai ceder, tipo “Bem, se for só um pouco…” Não é verdade?
— …Sim. — Sylphie admitiu.
Certamente, tocar não era um problema, certo? Se eu a abraçasse e deixasse a munição na câmara… Só um pouco. Esse tipo de pensamento seria a minha ruína.
— É por isso que estarei ao lado de Rudeus o tempo todo, pronta para bater nele se ele tentar algo.
Então, se eu tentar fazer algo, um soco de Eris e eu fico apagado. Depois, quando acordar, tudo estará esquecido. Perfeito.
— Obrigado, Eris — murmurei.
Certo. A partir de hoje, sou Rudeus, o Celibatário. Isso será moleza.
Tradução: Buckisius
Revisão: Pride
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