POV GEESE
Meus olhos se abriram.
Levantei-me estalando o pescoço e verificando se todas as minhas partes estavam funcionando. Não sinto formigamento nos membros, nem indigestão. Também não há crescimentos estranhos na minha pele. Tirando um leve incômodo na barriga, estava em plena forma.
Saí da barraca e me estiquei, sentindo minhas costas estalarem quando bocejava. Observei o sol nascer; a direção dele me indicava a direção para a qual estava voltado. Comparei isso com meu mapa e a linha do cume para confirmar minha localização atual. Também verifiquei ontem, antes do sol se pôr, mas as coisas podem parecer diferentes da manhã para a noite, sabe?! É importante verificar duas ou três vezes, pois são principalmente os idiotas que não confirmam onde estão que se perdem.
— Oeste hoje, hein?! — murmurei para mim mesmo, enquanto pensava para onde precisava ir. Não havia ninguém por perto para responder.
Na noite passada, o Deus-Homem apareceu novamente em meus sonhos e me disse para ir ao oeste com o sol nascente, descansar nas raízes da terceira árvore do Fenyl Boulevard, e depois pegar a quinta carruagem que passasse. Andaria na carruagem por um tempo, depois desceria na cidade em que ela chegasse e me hospedaria no Hostel Folha Nova. Ele disse que isso me manteria longe das mãos do Bando Mercenário.
Não faz muito sentido, não é mesmo? Se você for um homem comum, provavelmente começaria a desconfiar de tudo isso. Não é como se o Deus-Homem lhe dissesse porquê deve fazer tudo exatamente assim, então, em algum momento da sua vida, acabaria fazendo algo um pouco diferente do que Ele lhe disse e BAM… te pegaram. Eu entendo, realmente entendo. Antigamente, eu mesmo costumava fazer coisas desse tipo.
Atualmente, porém, vivo de acordo com as palavras do Deus-Homem. Acho que essa é a maneira certa de viver. No que me diz respeito, a palavra do Deus-Homem é a lei.
Sim, tudo bem, estou ouvindo. Obviamente, o fato de eu fazer o que Ele diz não significa que tudo sempre saia perfeito, às vezes os conselhos d’Ele me colocam em situações bem desagradáveis; não é nem um pouco incomum, mas sabe o que tenho a dizer sobre isso?
E daí? Vamos lá, pense nisso. Quer eu faça o que Ele diz ou não, às vezes acontece alguma coisa, a vida não é só sol e rosas; mas uma coisa posso dizer com certeza: enquanto obedecer a Ele, não morrerei. Como sei disso? Sou muito fraco, mas já passei por algumas situações extremamente perigosas e sobrevivi para contar a história. Já vi muitos caras durões, muito além do meu nível, cometerem erros e morrerem. Na verdade, é patético esses caras que estão sempre se gabando como se fossem o rei dos durões e, quando estão prestes a morrer, começam a chorar. Ajude-me, não quero morrer! Salve-me, mamãe!
Entendo que todo mundo é um pouco patético, tudo bem, mas os caras que morrem desse jeito são sempre os caras que saem por aí se gabando de que a morte não os assusta. Cada um deles banca o herói genuíno. Isso não lhe dá nojo?
Veja bem, as pessoas tentam evitar a morte, isso é natural. Nossos instintos nos dizem que morrer é ruim, que é assustador, e não me entenda mal, eu tenho medo. Eu não quero morrer! É por isso que, contanto que o Deus-Homem me dê conselhos que me mantenham vivo, isso é tudo de que preciso. Ele é a razão de eu ter sobrevivido até agora. Pode-se dizer que Ele é meu anjo da guarda, ou qualquer que seja a versão maligna disso.
A história de como tive a chance de retribuir a Ele por tudo isso começa há alguns anos. Estava bêbado e desmaiado em uma taberna de Asura, como de costume, quando o Deus-Homem falou comigo. Ele disse que tinha um pedido. Suas “solicitações” praticamente nunca terminam bem. A última vez que Ele teve uma para mim, minha cidade natal foi varrida do mapa, chorei o suficiente para uma vida inteira e gritei até perder a voz. Desta vez, não tenho dúvidas de que seria tão ruim quanto, afinal, Ele gosta de fazer com que pense que está do seu lado e depois te arrebenta. Quando minha cidade natal foi destruída, Ele apareceu só para rir da minha cara de choque.
Esperava tudo isso, mas dessa vez algo estava diferente. Não cheguei até aqui na vida sem saber ler as pessoas e podia dizer que o Deus-Homem estava em uma situação difícil e tinha vindo procurar ajuda. Foi por isso que decidi aceitar. Cheguei a pensar que poderia ser uma encenação, mas o cara não é exatamente um ator… Além disso, se realmente estivesse em uma enrascada, eu não hesitaria em dar uma mãozinha. Afinal, uma dívida é uma dívida, e eu tinha uma grande dívida com Ele.
O Deus-Homem disse que Rudeus o havia traído. Na verdade, provavelmente apareceu para dar uma boa risada da cara de Rudeus como fez comigo e não foi como Ele queria. De qualquer forma, Ele disse que Rudeus era seu inimigo agora. Acho que agora está do lado do Deus Dragão Orsted, o número dois entre as Sete Grandes Potências. Uma tacada de mestre! Os detalhes não são importantes. Tudo o que precisava saber é que o Chefe havia se aliado a esse deus importante e agora estava causando problemas para o Deus-Homem.
O Deus-Homem pode ver o futuro, consegue enxergar tão longe, que comparado a ele, o Olho Demoníaco da Previsão pode até ser cego. Seria de se esperar que isso tornasse a vitória sobre seus inimigos uma brincadeira de criança… mas aparentemente não era tão simples assim. Ele não me contou todos os detalhes, mas me disse duas coisas.
Primeiro: Ele só podia ver o futuro de três pessoas de cada vez. Segundo: não conseguia ver o futuro de Orsted. Se Orsted fosse interferir com qualquer uma das três pessoas cujo futuro já tinha visto, esses futuros mudariam. Do ponto de vista do Deus-Homem, se Orsted, e somente Orsted, mexesse com o futuro deles, seria como se absolutamente nada tivesse mudado. De seu quarto branco, Ele podia ver o mundo inteiro, mas Orsted era um buraco em sua visão.
Agora, Rudeus havia herdado essa pequena peculiaridade de Orsted. Ele estava sob a proteção do Deus Dragão ou algo assim, e Orsted tinha algum tipo de maldição que fazia com que as pessoas o temessem e o vissem como um inimigo, por isso não havia muitas pessoas assim. Ninguém o procurava para pedir ajuda, e ele não tinha aliados, mas com o Chefe sendo seu intermediário, de repente conseguiu ter muitas pessoas ao seu lado. Agora, como acha que isso fica para o Deus-Homem?!
O engraçado é que o Deus-Homem pode ver sua própria morte. Um dia, sem aviso, sua visão mudou. Ele costumava ver a si mesmo se elevando sobre o local onde Orsted estava caído e chutando-o enquanto estava lá, mas agora era Orsted quem estava rindo e dando o chute.
Por que Ele só podia ver aquele momento?! Bem, provavelmente porque naquele momento Orsted e o Deus-Homem estavam no mesmo lugar. Ele teve essa visão com seus próprios olhos, e isso significava que Ele também podia ver Orsted. Não me preocupo com os detalhes de como os poderes do Deus-Homem funcionam, o que importava era que Rudeus agora era uma ameaça. O Deus-Homem precisava que Rudeus fosse eliminado rapidamente e já havia tentado vários planos para matá-lo, no entanto, não importava o que Ele tentasse, nada funcionava. No Reino Asura, havia tentado colocar o Imperador do Norte e a Deus da Água contra ele, mas nenhum deles conseguiu fazer o trabalho. Além de Orsted ter se saído bem, não conseguiu descartar Rudeus, que seguiu seu caminho alegre e ainda recrutando.
Então, o Deus-Homem elaborou um plano. Se três apóstolos não fossem suficientes para derrotar Orsted, faria mais. Copiaríamos Rudeus. Orsted não podia construir alianças sozinho, mas com Chefe como seu intermediário, reuniu toda uma rede de ajudantes. O Deus-Homem só podia trabalhar por meio de três apóstolos de cada vez, mas desde que conseguisse que um desses apóstolos reunisse aliados, acabaria com muito mais do que três seguidores.
Boa ideia, não é?!
E eu havia sido escolhido como o homem para a tarefa de conquistar esses aliados. Não sei o porquê d’Ele ter me escolhido, mas como o padrão do Deus-Homem era pisotear tudo o que a pessoa amava e jogar o que restava no lixo quando terminava de usar alguém, então talvez eu fosse o último cara que Ele tinha deixado.
Quando terminasse de formar nosso exército, Ele esperaria o momento perfeito e faria com que todos atacassem de uma vez. Tchau tchau, Rudeus.
E foi assim que acabei aqui, me matando de trabalhar para encontrar pessoas que se voltassem para a causa do Deus-Homem. Meu prazo era o “momento certo” do Deus-Homem. Não restava muito tempo, mas não estava indo mal. Não que tenha sido fácil encontrar aliados.
Era assim que fazíamos as parcerias: o Deus-Homem me dizia “Aquele cara!”, e eu ia ao encontro deles, dava a eles um banho de manteiga com minha melhor fala mansa e dizia-lhes para estarem no “ponto de encontro” no “momento certo”.
Todas as pessoas que o Deus-Homem havia me enviado até agora eram bem duvidosas. Até conseguiam dar conta, com certeza, mas eram todos um pouco confusos, ou pareciam entender apenas a metade do que eu estava falando, ou tinham alguns problemas estranhos, ou eu simplesmente não conseguia fazer uma leitura deles… Quero dizer, é provavelmente por isso que ficavam em silêncio enquanto um cara como eu estava falando.
O principal problema é que não havia muitos deles. Contando comigo, poderia contar todos nós com duas mãos.
No entanto, o que lhes faltava em números, compensavam em músculos. De guerreiros mundialmente famosos a caras que se encaixariam perfeitamente nos contos de fadas de Millis, todos eram os melhores da classe. Tentei sugerir que talvez devêssemos contratar algumas centenas de tipos genéricos que trabalhariam em troca de ouro ou qualquer outra coisa, mas isso não foi aceito. O Deus-Homem ficava nervoso com traidores, não gostava muito desse negócio de assumir pessoas cujo futuro não podia ver.
É justo.
O Deus-Homem não é exatamente popular e não era preciso ser um gênio para saber o que aconteceria se Rudeus aparecesse para conquistar corações e mentes. O Chefe pode não parecer, mas tem um talento especial para fazer com que as pessoas o sigam. Preocupado com alguma coisa? Ele estará lá se preocupando com você. Tem algum problema? Ele estará lá para resolver o problema com você. Não importa o quanto você fique para trás, ele esperará que você o alcance e, apesar de ter níveis de poder insanos, é gentil com quem não tem.
É por isso que não podemos nos basear apenas em números. O Deus-Homem estava certo.
Além disso, lamento dizer, mas não sou do tipo carismático, então não consigo trabalhar com uma multidão.
Cada aliado era um inimigo em potencial, portanto não podíamos enfrentar muitos. Também seria mais provável que acabássemos com idiotas que não ouvem o plano e isso era tudo o que você precisava para transformar uma posição vencedora em uma posição perdedora. Portanto, ficamos com alguns poucos. Pelo menos esses caras não se tornariam traidores e acabariam sendo bem úteis, apesar de todas as suas peculiaridades.
Com a ajuda deles, descobriremos os pontos fracos de Rudeus e Orsted.
Hmm…
Talvez esteja falando demais, mas acho que Ele poderia ser um pouco mais confiante, sabe?! Não importa quem sejam, se tivéssemos números a nosso favor, nossas opções aumentariam muito. Você não ganha muito dinheiro a menos que corra alguns riscos.
No final das contas, porém, ele é o mestre e eu o discípulo, a palavra dele que vale. No entanto, o mestre teve algumas reclamações para mim desta vez.
Por que não matou Rudeus quando teve a chance? Poderia tê-lo envenenado!
Sim, é claro. O problema é que preciso ser fiel a mim mesmo. Como posso dizer? Bem, trair o Chefe seria, se olhar por certo ângulo, o mesmo que trair Paul, certo?! Jamais poderia trair Paul, então como poderia assassinar seu filho, não é? Um homem precisa ter um código de honra, sabe?!
O Deus-Homem não acreditou, mas eu me conheço, se tivesse tentado envenenar Rudeus ou algo do gênero, acho que teria me engasgado antes de fazer isso. No meio do caminho teria ficado com medo, mas depois que ele se tornou traidor, não há mais o que temer. Já me decidi. Rudeus Greyrat é meu inimigo.
Então, aqui estou eu, nos dias de hoje, me preparando para partir para mais um dia de busca de talentos ocultos para participar do caso.
Quantos eu tinha até agora? Três? Quatro? Cada um deles, até agora, valia por um exército. Nunca pensei que conheceria homens desse calibre, muito menos conversar com eles. Para mim, todos eram lendários e estavam fora do meu alcance, porém, quando comecei a conversar com eles, ficaram surpreendentemente… quero dizer, tudo bem, não deveria ter sido uma surpresa, mas todos eram apenas… homens. Pessoas comuns. Mesmo que tivessem alguns problemas de personalidade.
Especialmente o primeiro, que era famoso o suficiente para que até mesmo você possa conhecê-lo, mas caramba, ele realmente era apenas mais um cara.
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Então aqui estávamos nós, pouco depois que o Deus-Homem veio a mim com seu pedido. Antes de partir, o Deus-Homem tinha algumas tarefas para mim.
Peguei uma lâmina de espada demoníaca apodrecendo na parte de trás de um depósito de lixo velho no Reino Asura, depois uma empunhadura de um túmulo no Reino do Rei Dragão, então levei-os a um ferreiro que trabalhava com armas demoníacas e as reforjei. Também peguei esse álcool feito por uma tribo bem astuta no Continente Demônio e algumas outras coisinhas. Não sabia para que servia nada disso, embora queira dizer que, segundo o Deus-Homem me disse, e imaginando o que estava por vir da melhor maneira que pude, consegui supor como esse material poderia ser útil. Melhor prevenir do que remediar, como dizem. Melhor estar super preparado. Eu também bisbilhotei um pouco, mas não posso vencer o Deus-Homem quando se trata de coletar informações, então muito desse trabalho foi desperdiçado.
Depois de tudo isso, fui para o norte seguindo as instruções do Deus-Homem.
Ao contrário de Rudeus, eu não tinha nenhuma relíquia antiga de deslocamento da Tribo Dragão, então estava limitado pelo tempo de viagem, mas curiosamente havia alguns outros círculos de teletransporte por aí; não sabia se Orsted sabia sobre eles ou não. Ele não parecia estar usando-os, então usei para me locomover. Existem apenas alguns deles e não poderiam levá-lo a todos os lugares, mas foram úteis.
A pedido do Deus-Homem, fui para a cidade mais próxima do meu destino final, me abasteci com roupas para o frio e depois me arrastei pela neve que estava apenas começando a se acumular.
Estava indo para uma ravina no meio de uma floresta que era o lar de monstros. Claro que tive de fugir de alguns, afinal, um cara como eu não deveria entrar sozinho sem nenhuma arma ou defesa.
Todavia, tinha alguns truques na manga. O Deus-Homem me disse que se eu entrasse na floresta na hora certa e fizesse a coisa certa no momento certo, poderia ir de A até B sem ser incomodado. Por exemplo, Ele disse: “Quando chegar a uma caverna sob uma grande Árvore Tournel, pare e conte lentamente até vinte antes de seguir em frente”. Fiz o que Ele me disse, verificando embaixo de cada Árvore Tournel que passava. Não tinha chance de eu me perder, se o Deus-Homem dissesse que havia uma caverna, ela estaria lá.
Não haveria nenhum sinal de que funcionou e nem qualquer explicação do porquê eu deveria fazer isso. Ficaria parado na frente de um pequeno buraco, talvez grande o suficiente para uma criança se esconder lá dentro da neve que caía suavemente e contar lentamente até vinte. Não olharia para dentro, nem tiraria nada de dentro, então nada iria sair rastejando. Se tudo corresse perfeito, na melhor das hipóteses, nada aconteceria. Sem a menor esperança de entender o que estava fazendo, me apressaria em seguir meu caminho.
Ah, mas se demorasse só um segundo a mais, algo muito ruim aconteceria.
Assim, não sou desleixado, então posso adivinhar o que pode ser. Eu sou um aventureiro de rank S e sei que tipo de monstro fazia seu ninho neste buraco. É aqui que os Snowbucks, feras parecidas com veados gigantes, vivem quando filhotes. Passam o inverno ali e depois saem na primavera. Eles se escondem para se proteger contra seus predadores naturais… basicamente todos os outros carnívoros e monstros. Quanto ao chefão nesta floresta? Bem, esse seria o Tigre de Garras de Gelo, um grande gato que se enterra na neve atrás de suas presas e ataca quando você menos espera. Não notei nada, mas eu provavelmente estava sendo caçado por um Tigre de Garras de Gelo fodão. Esse aqui, porém, é uma refeição mais fácil e saborosa; descanse em paz filhotinho Snowbuck.
De qualquer forma, é assim que funciona quando você pode ver o futuro, as coisas podem ser perigosas, mas não há necessidade de se preocupar em morrer. Nada inesperado acontece. Você pode ter alguns arranhões, algumas contusões, mas sempre dá certo no fim.
Eu atravessei a floresta dessa maneira.
Fora da floresta, encontrei a ravina. Um vento frio a cortava; as paredes do penhasco estavam todas cobertas de gelo. Blocos de gelo flutuavam no rio que corria ao longo do fundo.
— Brrr… — estremeci.
A palavra frio não fazia justiça para descrever. Eu queria dar o fora daqui o mais rápido possível, mas engoli esse sentimento e parti caminhando por meio dia ao longo da ravina gelada até encontrar uma passagem que descia pela face do penhasco. Segui para baixo e depois continuei subindo a ravina até encontrá-lo.
Ele estava sentado junto a uma enorme pedra, segurando sua espada. Uma fogueira ardia à sua frente, onde um pedaço de carne em um espeto chiava enquanto assava. Não precisei perguntar para saber que tipo de carne era, pois podia ver a carcaça logo atrás do homem e sua fogueira.
Estava coberto de escamas brancas da cor da neve e tinha enormes garras e presas: um Dragão das Neves. Um monstro de rank S. Esses monstros eram mutações recentes do Drake Branco de rank A e tinham o dobro do tamanho de um; baforavam gelo e podiam usar magia de água de alto nível. Suas asas não eram para voar, mas ajudá-los a pular. Usavam suas pernas musculosas para chutar as paredes da ravina e pular sobre suas presas.
Tecnicamente não eram dragões, mas ainda estavam mais próximos de um dragão do que de um Drake Branco. Eles eram fortes como dragões, daí o nome Dragão das Neves, sacou? Eram muito raros, tiranizavam e devoravam bandos inteiros de Drakes Brancos. Não é o tipo de monstro que você caça sozinho, mas esse cara parecia ter derrubado esse garotão sozinho. Não fiquei surpreso nem nada, já que sabia que ele era o tipo de cara que poderia fazer isso. E agora nós íamos ter uma conversa.
Quando cheguei perto o suficiente dele, um arrepio percorreu minha espinha. Esse cara iria me matar; não precisava nem me avisar. Sabia que depois desse ponto estaria entrando no alcance de sua espada e seria melhor estar pronto para enfrentar as consequências. Meu rosto parecia prestes a paralisar, mas me forcei a sorrir. Um sorriso que esconderia meu medo e irradiaria confiança, então, com o sorriso fixo no lugar, fui até ele. Parecia meio errado para mim estar olhando de cima para esse cara, mas ele estava sentado, o que eu deveria fazer?!
— Sim? — Ele disse.
Foi um desafio, mas sua voz era mortalmente calma. Ele não estava tentando me ameaçar ou me intimidar, apenas perguntando com indiferença após minha aparição repentina, como se você perguntasse o nome de alguém.
Então respondi:
— Sou Geese.
— Não perguntei seu nome — respondeu.
Tudo bem, interpretei errado. Por onde deveria começar? Eu tinha muito o que conversar com ele. Contudo, para começar, decidi apenas calar a boca e ficar lá. Caras como esse odeiam fala mansa. Eles tinham seu próprio método de persuasão.
Para vocês que estão acompanhando, esse método é “violência”. Sabem… aquilo em que não sou bom… Mas esse cara em particular… sua violência era impecável. Ótimo material, de classe mundial, mas não há necessidade de trazer isso à tona aqui. Com certeza não estava querendo comprar briga aqui, então o silêncio funcionaria bem.
— Que porra tá havendo aqui? — Ele rosnou.
Viu o que eu disse?! Mantive meus lábios fechados, então ele começou a falar sozinho. Ele não tinha terminado.
— Na outra noite, um bastardo que se autodenomina Deus-Homem ou o que quer que seja apareceu em meus sonhos dizendo querer que eu o ajudasse. Disse que se eu o ouvisse, ele tornaria meus sonhos realidade. Também disse que este lugar seria a prova, então quando vim aqui, encontrei essa coisa. — Ele apontou o polegar para a carcaça do Dragão das Neves atrás dele.
Ei, calma aí, Senhor Deus-Homem; você não me disse nada sobre chamá-lo aqui. Se me dissessem para aparecer aqui e encontrasse uma besta como aquela esperando, eu pensaria que fui enganado.
— Quando eu era garoto, investi contra um Dragão das Neves e mal consegui escapar com vida — disse ele. — Eu ia voltar e matá-lo um dia, mas no meio do caminho o perdi. Acreditaria nisso?! Eu só apareci e aqui estava.
Ahah, então esse é o seu jogo, pensei. Agora entendi. O Deus-Homem era um profissional nesse tipo de coisa. Realizando seus sonhos, ou perto disso. De qualquer forma, esse cara não parecia se sentir enganado mesmo depois de ter um Dragão das Neves pulando em cima dele.
Ah, certo, claro. Um desses tipos de herói.
— Então eu o matei e agora você apareceu — continuou, depois apontou para mim. — Uma cara de macaco… Ei, você disse que se chama Geese, certo?!
Finalmente olhou para mim e, pela primeira vez, vi seu rosto. Ele não parecia especialmente forte. Passo todo o meu tempo tentando ler as pessoas, então geralmente posso dizer por seus rostos se são fortes ou fracos. Não é como se eu julgasse o quão durões eles se parecem, está tudo na expressão. As pessoas que são fortes geralmente colocam tudo para fora. Trabalham duro todos os dias, então não pensam nisso como uma dificuldade, é um algo normal para eles. Eles têm uma imagem clara de suas próprias capacidades e não vacilam, o que significa que geralmente não usam uma fachada.
Esse cara não estava se exibindo, mas estava hesitante. Alguém apareceu e rasgou tudo o que ele pensava ser verdade em pedaços minúsculos. Agora estava exausto, sem paciência e no limite. Isso foi o que seu rosto me disse. Ahhh, entendi. Ele tomou uma surra recentemente; foi espancado! Quase morto. Este é alguém que pensou que isso não era possível, ou pelo menos pensou que tinha alguns anos antes de chegar a esse ponto.
Ele teve seu mundo completamente abalado, de modo que agora não sabia o que pensar. Fraco de confiança, veio aqui para lamber suas feridas. Ah, sim, agora sei exatamente qual é o seu negócio. Já vi isso uma centena de vezes antes e nenhum deles está tão acima do resto quanto você, mas todos são fortes o suficiente. A aparência de um cara grande e imbatível se desesperando depois que alguém os cortou uma ou duas vezes não é algo que esquecerei tão cedo. O problema é que só porque você está se sentindo mal, não significa que tudo está perdido, amigo.
Esse cara ainda era um mestre em seu ofício e não tinha dúvidas de que poderia usá-lo.
— Explique — exigiu ele, então finalmente abri minha boca. Havia tanto que eu tinha a dizer a ele. Depois que o Deus-Homem me deu seu perfil, elaborei um pouco de discurso, por isso fiquei mudo até agora. Caras como ele realmente perdem o controle como se estivessem tendo um ataque quando você começa a tagarelar tentando acalmá-los. A arte de falar é garantir que você seja claro e direto ao ponto.
— Primeiro… Certo, sim, então estou aqui como um representante do Deus-Homem.
— Repre… o quê?
Como é? Nunca ouviu “representante” antes? Cara, eu não suporto esses tipos incultos… Sim, tudo bem, você me pegou. Também não fui à escola.
— Olha, o Deus-Homem concederá seus sonhos, mas em troca, ele tem um pequeno favor a pedir. Ele está reunindo aliados e estou aqui como o que você chamaria de garoto de recados, reunindo o bando.
— Hã, sonhos, hein…? — ecoou. — Você e seu chefe sabem qual é o meu sonho, então? — Ele acariciou a empunhadura de sua espada.
Ooh ho ho, isso é assustador. Ele não fez nada além de acariciá-la, mas se o capricho o atingisse, aquela espada seria desembainhada antes que eu pudesse sequer piscar, então minha cabeça poderia dar adeus ao meu corpo. Ou talvez fossem meus olhos esquerdo e direito se despedindo. A linguagem corporal desse cara estava me dizendo alto e claro: se eu não falasse sério, estaria morto. Se desse uma resposta que ele não gostasse, também morreria.
Felizmente, eu sabia qual era o sonho dele, já que o Deus-Homem me contou tudo com antecedência. Sabia porquê esse perdedor estava espreitando sozinho aqui, mas se essa informação estivesse errada… quero dizer, seria típico dele me dizer que está errado.
Oh, Santo Deus-Homem, não me abandone. Mesmo eu, seu humilde servo, não acharei graça se morrer aqui.
— O Deus Dragão Orsted! — afirmei. Parecia que a temperatura ao nosso redor tinha despencado, mas isso me disse que estava no caminho certo. Se ele não tivesse uma reação que eu pudesse captar, estaria praticamente morto. Estávamos oficialmente no jogo. Eu disse a ele algo que não deveria saber. Enquanto sua mente cambaleava com o choque, continuei falando para que ele não tivesse chance de começar a pensar novamente.
— Você quer derrotar o Deus Dragão Orsted. Ele o venceu uma vez há muito tempo, então você treinou para se tornar o mais forte que existe e, de certa forma, chegou lá, mas então se viu acorrentado pelas restrições que impôs a si mesmo, nem mesmo tentando ir atrás de seu objetivo. Seu inimigo final. O Deus-Homem também está atrás de Orsted.
“É só que… Ele não está indo pela glória; só o quer morto por qualquer meio que seja, sacou?! E você é esse meio, entendeu?! É só que… desculpe cara, mas você não tem chance sozinho. Vou convidar mais alguns para essa festa.
“Ei, não me olhe assim! Alguma coisa que eu disse agora estava errada? Você sabe muito bem que não é páreo para Orsted sozinho; mas acho que você quer tentar, não é?! Todo esse tempo você quis isso. Caso contrário, nunca teria fugido da casa onde morou todos esses anos, deixado para trás tudo de que dependeu durante todo esse tempo e largado sua família para vir viver aqui como um vagabundo. Você poderia ter um emprego confortável no governo e ir para onde quisesse. Estou errado? Hã?!
“Então, o que estou oferecendo a você é o direito de desafiar Orsted. Poderia vagar por aqui até o dia de sua morte e talvez nunca o encontrasse, ou ele pode rejeitar seu desafio e mandá-lo embora. Fique comigo e vou conseguir o melhor palco possível para o seu confronto. Farei com que Orsted enfrente você sem correr ou se esconder.
“Calminha, eu entendo. Entendo o que está pensando. Você acha que não tem o direito de enfrentar Orsted, mas você não fez um juramento a si mesmo, quando ele te derrotou da última vez?! Disse que nunca mais perderia, nem para Orsted, nem para ninguém. E você conseguiu! Até o outro dia você estava invicto.
“Então você perdeu. Teve seu segundo gosto de derrota mesmo depois de ter feito aquele juramento. Foi atropelado como costuma fazer com os fracos que te olham torto; é por isso que veio se esgueirando como um cachorro para contornar esta ravina. Você nem está procurando por Orsted, está vagando sem rumo. Sim, eu entendo. Você não merece isso, certo? Agora que foi derrotado essa única vez, você perdeu o direito de desafiar Orsted.”
Havia um brilho nítido em seus olhos agora. Ainda assim ele ainda não veio para mim com sua espada. Em vez disso, usou suas palavras.
— Está errado — disse ele.
— Sim, você está certo sobre isso! Está tudo errado! Totalmente errado! — Ele me pegou. Minhas palavras estavam chegando até ele. — Não merece? Até parece! Você com certeza merece! Quer dizer, vamos lá, quem disse que você precisa ser o número dois antes de ganhar uma chance de ser o número um? Só porque alguém pegou você, isso significa que você não pode enfrentar Orsted? Quem disse? Ninguém! Agora, quando se pensa assim, você tem mais direito do que qualquer um, pois passou a vida inteira trabalhando para isso!
Eu vi uma sombra em seus olhos. Ele estava quebrando. Mais um empurrãozinho.
— Você deve desafiar Orsted! Quem se importa em ganhar ou perder?! Você pode ser fraco ou já ter passado do seu auge, mas quem se importa?! Caramba, talvez seja melhor assim! Na verdade, pode ser melhor! Agora é quando você consegue se livrar dessas correntes. Você pode ir e enfrentá-lo sem nada pairando sobre você.
“É claro, talvez você seja esmagado, mas e daí?! Pretende vagar sem rumo até ficar velho, frágil e morrer como um vira-lata desgarrado? Você está realmente bem com isso? Você não é só um marginal, é?
“Então, o que está impedindo você? Vamos lá, junte-se a mim. Então enfrentaremos Orsted. O que me diz?” — terminei e estendi a mão para ele.
Ele não disse nada. Seus olhos estavam sombrios, hesitantes, vacilantes e olhando diretamente para mim.
Oooh, eu exagerei.
É sempre melhor despejar todas as informações que você tem de uma vez e só dar ao outro cara a chance de pensar depois de colocá-lo em um caminho. O problema com esse tipo de abordagem é que, se você falar demais, eles se fecham completamente. Ele estava reagindo a parte do que eu estava dizendo, então pensei que estava indo bem, mas talvez ele não fosse do tipo que pensa. Seria inesperado, mas esse era o tipo de risco que eu tinha que correr. De qualquer forma, não se pode forçar as pessoas a pensar do jeito que você quer enfiando um monte de palavras em suas cabeças. Então, incentive-os a seguir uma linha, defina o tom e deixe-os pensar nisso. Dei a ele toda a matemática, ele só tinha que juntar tudo, mas algo dentro dele o estava impedindo. Só precisava de uma desculpa para fazê-lo engolir a isca, então o pegaria. Essa é a minha abordagem.
Na verdade, se ele fosse mais esperto, acho que já estaria a bordo. Que pena.
Ele não disse nada. Estava em absoluto silêncio. Esta ravina era o covil do Dragão das Neves, então nenhum outro monstro nos incomodaria aqui. Nem mesmo o vento. Não conseguia nem ouvir o som da água do riacho congelado, apenas o crepitar da carne assada me dizia que o tempo estava passando.
O homem era mais do que apenas silencioso, ele não moveu um único músculo. Estava tão imóvel que poderia estar morto. Ele não tinha presença alguma, como se nem estivesse aqui.
O silêncio me atingia, porque quando tudo está em silêncio significa que estou sozinho. Eu não sou nada sozinho. Bastaria um monstro à espreita por aqui e eu estaria morto. Não iria rolar com as patas para cima, mas não também não podia me enganar achando que poderia vencer.
Tudo o que podia fazer era…
— Não estou interessado em me tornar o peão de ninguém — disse o homem de repente. — Mesmo que isso signifique que eu apodreça aqui.
Ele não pegou minha mão. Pior, ele pegou sua espada e senti o suor rolar por todo o meu corpo. Cada célula estava gritando para que eu desse o fora daqui, mas meu cérebro lutou e me disse para ficar parado. Sabia que não poderia fugir, porque esse cara poderia me cortar em pedaços em um piscar de olhos. Meu cadáver seria enterrado na neve até que a primavera o derretesse e os insetos viessem me comer.
Porém, ainda estava inteiro. Ele não estava brincando comigo. Se quisesse me matar, acabaria em um segundo, então por quê…?
Nesse momento, o homem murmurou:
— Ei, cara de macaco, por que está fazendo isso? — Parecia estar apenas me dando uma chance de responder antes de me matar. — Não pensou que talvez depois de vir até mim, dissesse alguma besteira e eu poderia simplesmente cortar sua cabeça e deixar seu cadáver aqui?
Ah, esse pensamento me ocorreu. Mais do que algumas vezes. Todas as vezes que eu me aproximava de algum louco furioso, lutava contra a vontade de gritar e usava minha língua e toda a minha inteligência para acalmá-los.
Deixe-me perguntar, você já pensou no que passei para não irritar caras como você?
— Que sonho seu mestre está lhe concedendo, hein? Por que está fazendo isso? — O homem perguntou.
— Por quê…? — Eu não esperava essa pergunta, mas fazia sentido, agora que penso nisso. Devo estar confundindo os outros que estão olhando de fora. — Quero que você saiba, sou um servo fiel do Deus-H…
— Não me venha com essa merda de “fé” — disse ele.
Uma onda de malícia tomou conta de mim. Minhas pernas começaram a tremer loucamente e algo dentro de mim estava se contraindo. Foi tão intenso que fez tudo até agora parecer nada. Comecei a me perguntar se talvez já não estivesse morto.
— Encontrei minha cota de seguidores devotos. Maníacos como aqueles Cavaleiros da Ordem de Millis que fariam qualquer coisa por seu precioso deus. Não sinto isso vindo de você, nem um pouco.
Ei, não me estereotipie assim. Os Cavaleiros da Ordem de Millis são um bando de fanáticos de boa-fé.
Mas e daí?! Talvez desafiar Orsted signifique que eu também sou. Sim, colocando assim, faz sentido. Número dois dos Sete Grandes Poderes e o oponente que esse cara deu toda a sua vida para tentar derrotar, e mesmo assim…
Bem, o único com quem vou lutar é o Chefe, mas visto que sou eu, isso não muda muito. Por que alguém como eu arriscaria minha pele para lutar contra um adversário que não posso vencer, um que está totalmente fora do meu alcance? Isso é tudo o que ele está pedindo.
Ninguém faria isso sem um bom motivo.
Bem… Por quê? Por que eu estava fazendo isso pelo Deus-Homem?
Agora foi a minha vez de ficar em silêncio. Quando você está falando com caras temperamentais, se calar é equivalente a um desejo de morte. O engraçado foi que ele me deu um pouco de tempo. Acho que quando você enfrenta o melhor dos melhores de todos os caras raivosos, eles desenvolvem um pouco de paciência.
Tudo mergulhou no silêncio novamente. Meus pensamentos voltaram muito no passado. Lá no meu nascimento e até quando me tornei um aventureiro. Antes de conhecer o Deus-Homem.
Nasci em uma pequena vila no sul do Continente Demônio. Era o terceiro de cinco filhos do chefe da aldeia. Não era muito, mas vivíamos um pouco mais livres do que um aldeão comum. Naquela época, porém, eu me sentia muito restrito. Veja só, minha futura esposa foi escolhida para mim quando nasci, assim como meu futuro trabalho, que como um filho do chefe da aldeia, era viver a vida que foi planejada para mim. Contanto que eu conseguisse, poderia fazer o que mais quisesse.
O trabalho que escolheram foi o de manutenção de registros. Acompanhava a comida que cultivávamos e pescávamos, as mercadorias que obtínhamos por meio do comércio com o mundo exterior, as mercadorias que comprávamos; contabilizava tudo em toda a aldeia e anotava tudo direitinho. Era isso.
Parando pra pensar, era um trabalho importante. Ao longo dos anos, ao ver lojas que mantinham livros desleixados e aventureiros que não conseguiam administrar seu ouro, percebi o quanto isso era importante, mas tudo o que o jovem Geese pensava naquela época era que tudo isso era chato.
Há muito mais que eu poderia fazer, pensava. Se tivesse a chance de pegar uma espada ou estudar magia, mostraria a todos: eu poderia ser alguém. Ou talvez, se pudesse apenas servir a algum país, todos vocês ouviriam sobre meu grande heroísmo. Eu entraria para a história.
Sempre que começava a falar assim, meu pai me batia.
“Saiba seu lugar!” era o que ele costumava dizer.
Olhando para trás, acho que meu pai disse isso porque me via como eu realmente era. Meu pai conhecia os limites do meu potencial, mas eu obviamente não. Como diabos eu deveria saber o meu lugar?! Eu nunca tinha ido para o mundo.
Então saí do ninho, abandonei meu emprego, fugi de casa e me hospedei em uma das caravanas mercantes que vinham negociar com nossa aldeia. Deixei minha família e minha noiva para ir à maior cidade mais próxima.
Era aí que minha lenda começaria. Estava absolutamente convencido disso, mas a realidade me alcançou muito rápido. Quer fosse com magia, ou com a arte da espada, eu era uma causa perdida. Não conseguia nem atingir a média. Acho que me saí tão bem quanto qualquer outra pessoa, deixando de lado as batalhas, mas com certeza não me destaquei de forma alguma. Eu mal conseguia bater a média quando me esforçava muito. Maestria, qual é?! Não me faça rir.
Tentei todos os tipos de coisas para tentar encontrar meu talento, mas não adiantou. Estava firmemente preso sendo mediano. Medíocre, não importa como olhasse para mim. Mesmo assim, tentei ser um aventureiro, afinal, esse era o meu sonho. Joguei tudo fora por isso. Não podia desistir e voltar para minha aldeia depois de tudo.
Eu não era tão ruim com minhas mãos, então pensei em experimentar artesanato. Consegui terminar alguns trabalhos de rank F como um aventureiro solitário tentando não morrer congelado, de alguma forma me mantive à tona, mas isso não me satisfez. Os trabalhos de aventureiro de rank F eram, quando se tratava disso, apenas bicos. Eu era o faz-tudo da cidade, o pau para toda obra. Como isso era diferente da vida que tive em casa? Eu não tinha fugido para fazer essa merda. Queria aventuras emocionantes! Conquistar grandes feitos que enchessem aqueles que ouvissem meu nome de admiração. Esse era o meu sonho.
Então segui em frente. Desajeitadamente peguei uma espada, consegui um conjunto de armadura de segunda mão, reuni alguns companheiros de equipe, então saí para o deserto para fazer trabalhos de coleta e matança. Foi um desastre. Fomos massacrados. Assim como a maioria dos grupos de aventureiros iniciantes no Continente Demônio, os monstros nos despedaçaram. A única razão pela qual sobrevivi foi por causa de um sonho que tive pouco antes de acontecer.
Em um espaço vazio, de pé sobre um chão branco que se estendia até o infinito, um homem com um rosto que não conseguia distinguir me deu uma mensagem divina.
Se isso acontecer, Ele me disse, eis o que você deve fazer. Foi tudo tão casual que pensei nisso como um sonho aleatório. De jeito nenhum o que Ele estava descrevendo poderia acontecer conosco.
Porém, é claro, aconteceu. As cabeças dos meus companheiros de equipe foram arrancadas de seus corpos e devoradas e eu fiquei sozinho, encurralado e em prantos, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Foi quando fiz o que o homem misterioso do meu sonho me disse para fazer. Um homem morto aceitará qualquer ajuda que conseguir.
Eu sobrevivi.
A partir desse dia, o pequeno Geese tornou-se apóstolo do Deus-Homem.
Pensei que a vida como apóstolo era como um paraíso. O Deus-Homem me ensinou como lutar com espada e com magia, e embora Ele não tenha me dado um poder equivalente ao de um Olho Demoníaco, prontamente me contava o futuro. Com isso à minha disposição, subi no mundo. Passei por algumas situações seriamente desagradáveis que nunca teria resolvido sozinho, o que me fez ser notado por alguns caras realmente poderosos que se tornaram meus aliados. Usei meu conhecimento do futuro para ajudar aqueles caras e ganhei sua confiança. Junto com eles, parti em uma aventura emocionante.
Adorei cada minuto.
— Viu? Não aconteceu exatamente como eu disse? Qualquer coisa além de lutar, eu cuido para vocês! — disse a eles. Contanto que pudesse me gabar, eu estava feliz. Senti que era um dos melhores e esses caras realmente poderosos me tratavam como um igual; além disso, todos os zé-ninguéns ao nosso redor presumiam que eu era um figurão como meus colegas. O que mais eu poderia pedir?!
Depois que minha cidade natal foi exterminada e me juntei ao Presas do Lobo Negro. O Deus-Homem não me disse muito sobre o futuro, mas não dei importância. De qualquer maneira, eu estava me divertindo correndo atrás de Paul. Ele ainda aparecia para salvar minha pele quando precisava. Os conselhos do Deus-Homem eram como uma parte de quem eu era. Foi graças a Ele que me tornei um verdadeiro aventureiro.
Parte de mim, porém, parecia vazia. Esse sentimento ficou mais forte depois que o Presas do Lobo Negro se separou e passei um tempo vagando sozinho. Não conseguia me livrar da sensação de que era uma fraude, de que nunca havia conquistado nada sozinho. Se não fosse tão ingênuo, talvez pudesse ter acreditado um pouco em mim mesmo, mas o fato é que eu não poderia lutar para salvar minha vida. Sem meu conhecimento do futuro, meu único propósito era acompanhar caras realmente fortes e incríveis para cobrir seus pontos fracos.
Toda a minha personalidade de aventureiro era apenas uma concha de mentiras e orgulho.
Você sabe como o cocô de peixe dourado se agarra a eles enquanto nadam? Era eu. Tudo o que tinha a meu favor eram truques baratos e uma língua afiada. Não havia nada, nem uma única coisa em que eu fosse realmente bom. Eu estava bem vivendo assim? Foi quando me perguntei, o que eu queria? Quem eu queria ser? Esses sentimentos sempre estiveram à espreita dentro de mim.
O que eu disse ao cara durão na minha frente foi simples.
— Você provavelmente não vai entender, mas em toda a minha vida nunca estive à frente de ninguém — disse a ele. Não estava tentando convencê-lo de nada. Agora, estava apenas dando voz ao que estava em meu coração. — Eu sobrevivia com migalhas, sempre tentando obter uma vantagem sobre as pessoas, mentindo, falando mansamente e vivendo à sombra de outras pessoas. Nunca consegui uma única coisa de forma independente.
Nunca tive nada que eu quisesse. Eu tinha um sonho. Queria ir em uma aventura incrível e entrar para a história. Não era pedir muito, não é? Quem realmente se importa com a história?
Esse era meu único desejo, sabe, ser especial. Eu tinha que me aventurar, mas estava sempre seguindo meus companheiros de equipe. Nunca tive eles me seguindo a algum lugar que eu quisesse ir. Acho que no fundo eu sabia… Sabia que estava pegando emprestado todo o meu poder e qualquer coisa que conseguisse com ele seria vazia. A qualquer momento, um pequeno gesto do Deus-Homem poderia levar tudo embora.
Então tentei não querer nada. Se me concentrasse em algo, pensei, nunca conseguiria. Apenas relaxe, divirta-se, siga o fluxo de qualquer coisa que a vida me jogue. Então tudo daria certo. Agora há uma maldição que tenho que conviver, pensei.
…Mas me sinto um pouco diferente agora. O Deus-Homem veio até mim pedindo ajuda. Um deus todo-poderoso desceu para me pedir ajuda. Ele precisava de mim, então eu não era um lixo, era alguém que importava. Em outras palavras, se vencêssemos essa luta, isso provaria que eu era especial. Eu sempre estive em guarda perto de todos, empilhando mentiras sobre mentiras e pensando ser inútil. E se essa fosse minha chance de ser forte como sempre quis?
— É por isso, como devo dizer… — Essa era uma resposta na qual eu apostaria minha vida? Algo dentro de mim me disse que não deveria. Que tudo isso era uma porcaria e eu já sabia o que valia. Eu sabia que não era nada de especial. Não consigo nem brandir uma espada, ou usar magia. Havia uma coisa estranha que eu poderia fazer melhor do que a média, mas nunca dominei nada. Eu sempre seria um pau para toda obra e um mestre de ninguém. Um ninguém com cara de macaco.
Contudo…
— Não posso deixar isso acabar assim — disse, então calei a boca. Fiquei surpreso com o quão certas essas palavras soaram para mim.
Isso aí, é isso. Foi assim que sempre me senti.
Todo esse tempo pensei que estava aproveitando bem a vida, me divertindo, e um dia morreria em uma vala e seria isso, mas no fundo me sentia diferente.
— Você não pode, hein…? — disse o homem. Ele tirou a mão da espada, seus olhos estavam opacos agora, o brilho de antes se foi. — Hah, isso é verdade. Você está totalmente certo.
Deixei escapar o que veio à minha cabeça, mas pensando bem, o que eu disse se encaixa perfeitamente na situação desse cara.
Não posso deixar isso acabar assim. Eu não podia e ele também não.
— Tudo bem — disse ele com um sorriso selvagem, em seguida, estendeu a mão e pegou a minha que ainda estava estendida. — Eu vou ser seu peão. — Foi tudo tão rápido que pareceu um pouco anticlimático, mas o que eu disse agora trouxe esse cara para o nosso lado. Esse cara, o maior espadachim do mundo, tão poderoso que toda a humanidade sabia o nome dele.
— Então o que eu faço agora? Serei seu guarda? — perguntou.
— Ah não…
Senti um sorriso vindo e o forcei de volta. Talvez eu não precisasse, mas não é algo bom sair por aí sorrindo para as pessoas. Isso as afasta. Esse é outro mau agouro, anotado.
— Por enquanto, você vai ficar aqui — disse entregando a ele um mapa. — Assim que chegar lá, vou te dizer o que vem a seguir. Mais uma coisa: se nos encontrarmos, aja como se não me conhecesse. Isso tudo é ultrassecreto.
O local do confronto final já estava definido. Quando não estava fazendo convites para caras como esse, estava preparando o resto. Sendo cuidadoso e tomando meu tempo para arrumar tudo. Eu não ia perder.
— É justo — disse ele depois de pegar o mapa. — Só tem um pequeno problema. Eu não sou nenhum ator. Se não quiser ser pego, é melhor ficar fora do meu caminho. — Ele começou a se afastar como se não desse a mínima para mim, como se eu nem estivesse aqui.
Eu gostei daquilo. Você poderia dizer que ele viveu toda a sua vida por sua espada. Sem ações inúteis ou palavras desperdiçadas. Quando ele decidia algo, simplesmente fazia. Não era a pessoa mais fácil de manipular, mas sim insanamente poderoso. E agora… era meu peão.
Observei suas costas recuarem até que ele sumiu de vista. Então, com um grito, soquei meu punho no ar.
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Esse primeiro cara foi o mais fácil. Era grande o suficiente para não precisar de apresentações e com certeza não agia como se tivesse tempo para um zé-ninguém como eu, mas no final, tudo o que tínhamos que fazer era conversar. Ele esquivou do que eu estava dizendo e se juntou a mim por vontade própria. O momento provavelmente teve algo a ver com isso. Depois de todas as minhas tramas e preocupações, no fim foi algo que eu nem quis dizer como persuasão que convenientemente ressoou com ele. As pessoas sempre se abrirão sobre o que quer que as esteja incomodando se alguém vier até elas com as palavras perfeitas.
No final, era só isso. Eu fiz bem, certo? Algumas partes eu tive sorte, mas ainda assim conversei com ele.
Porém, temos um problema, óh santo Deus-Homem. Desde que conversei com aquele cara, sinto que algo está errado. Talvez tenhamos perdido um truque, sabe?! Tenho a sensação de que em algum lugar ao longo do caminho vamos cair em uma armadilha.
Bem, meu deus, alguma ideia do que se trata?
Tradução: NERO_SL
Revisão: Akira Ken C-137
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