Geese Nukadia, o último da tribo Nuka. Ponto fraco: combate. Ponto forte: todo o resto. Apesar de não ser nenhuma ameaça com uma espada e um inútil em magia, ele perseverou e conseguiu se tornar um aventureiro rank S.
Esse era o Geese que Orsted conhecia.
— Geese sempre foi consistente, independentemente do meu curso de ação, então assumi que ele não poderia ser um apóstolo… até agora.
Era assim que Orsted operava. Ele agia e observava como o mundo e as pessoas reagiam a ele, então usava isso para identificar os apóstolos do Deus-Homem ou o que quer que estivesse procurando. Orsted testemunhava como a história progredia quando ele intervinha e quando não, mas em todos os loops as ações de Geese permaneceram as mesmas. Geese vivia sua vida como aventureiro e morria como aventureiro. Nada do que aconteceu ao seu redor o fez tomar qualquer atitude que despertaria a suspeita de Orsted.
Orsted era bom em farejar os apóstolos do Deus-Homem. Não havia muitos apóstolos como Geese, digo, não muito bons em uma luta, especializados em coletar informações e fabricar desinformação, mas existiam e se mantinham nas sombras, realizando seus planos na escuridão e ajudando outros apóstolos em momentos cruciais. Esses apóstolos sempre tiveram o cuidado de não revelar sua verdadeira natureza. Orsted matava todos eles. Ele tinha os loops temporais, então com repetições suficientes, não era difícil descobrir quem era um apóstolo e quem não era.
Geese sozinho era diferente, não levantava suspeitas; Orsted disse que ele nunca foi um apóstolo. Não importava o que Orsted fizesse, ele nunca agiu como um. Nem mesmo quando estava prestes a ser morto.
— Mas isso significa — disse Orsted — que ele era um apóstolo em todos os loops, mas escondia perfeitamente.
Geese nunca admitiu ser um apóstolo em nenhum loop anterior. Orsted já havia suspeitado e matado ele antes, mas mesmo momentos antes da morte, mesmo com uma faca em sua garganta, Geese nunca confessou.
— Eu me iludi pensando que esse era o curso normal da história… Então foi daí que vieram essas derrotas.
Quando nos comunicávamos por meio de mensagens, sempre sabia quando Orsted estava sentindo arrependimento.
Orsted nunca suspeitou que Geese fosse um apóstolo até minha mensagem. O Deus-Homem devia estar se mijando de tanto rir: Ele ainda não se tocou! Pfeh heh heh!
Acho que Orsted não considerou Geese tão importante no início, só isso.
— Mesmo assim, você fez bem, Rudeus — disse-me. — Ele era o trunfo do Deus-Homem… mas não mais.
Não poderia haver outros apóstolos como Geese, afinal, Orsted tinha os loops e o Deus-Homem não. De qualquer forma, os apóstolos agiam de forma mais independente do que você imagina. Mesmo que o Deus-Homem quisesse mais apóstolos como Geese, adquiri-los seria algo mais fácil de falar do que fazer.
O que significava que Geese era provavelmente a última linha de defesa do Deus-Homem. O último apóstolo que ele manteve escondido foi Geese… Eu ainda estava lutando para entender isso.
Orsted pensou que estava a apenas algumas voltas de uma vitória fácil, agora. Tomara que sim… Ele tinha os loops temporais, então mesmo que estragássemos tudo neste, ele poderia simplesmente matar Geese em seu Novo Jogo +. Então estaria um passo mais perto da vitória.
O único problema era que, se Orsted perdesse e fosse para o próximo loop temporal, eu só tinha este. Game Over para mim.
— Quero vencer neste loop — respondi, a ansiedade latejando em meu peito.
A resposta de Orsted foi:
— Só quis dizer que ele já jogou seu trunfo.
Eu bufei.
Boa recuperação, Orsted.
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Um mês se passou desde que Geese se assumiu como apóstolo do Deus-Homem.
Depois, tentei encontrá-lo. Com a ajuda das ordens de cavaleiros, o caçamos por todo o Continente Millis. A Igreja Millis e os Latrias fizeram o possível para nos ajudar e a busca ainda estava em andamento. Parecia provável, porém, que ele tivesse conseguido escapar.
Desnecessário dizer que eu não estava focando apenas em Millis, entrei em contato com a tribo Doldia imediatamente e fiz com que publicassem um aviso de procurado na Grande Floresta. Também notifiquei Ariel e consegui que ela fizesse o mesmo no Reino Asura, então pedi a Roxy para fazer um pedido no Reino Ranoa.
Mesmo assim, tinha certeza de que não o pegaríamos. Do sul e nordeste do Continente Central, ao Continente Begaritt, Continente Demônio e Continente Celestial, era um grande mundo. Havia muitos lugares que minha influência não alcançava. Eu nem sabia para que lado ele havia fugido. Norte? Oeste? Se tivesse contatos no Reino do Rei Dragão, isso significaria que ele tinha ido para o Continente Demônio com certeza, mas depois da morte do rei, aquele lugar ficou meio bagunçado. O Continente Demônio era amplo e Geese podia se misturar ali. Talvez tenha usado um círculo de teletransporte que eu não conhecia, então poderia estar literalmente em qualquer lugar.
Geese se foi completamente. Eu acusei o golpe. Para ser franco, esperava que pudéssemos pegá-lo de imediato, mas eventualmente, tive que aceitar que isso não ia acontecer e começar a pensar em como me proteger. Em sua carta, Geese disse que da próxima vez iria lutar comigo de forma justa. Ridículo. Era de Geese que estávamos falando; mentir era como respirar para ele. O que eu sou, um otário?
Contudo, mais uma vez…
Quando pensei melhor, percebi que Geese poderia facilmente ter me matado a qualquer momento em Millis. Afinal, baixei minha guarda perto dele. Eu confiava nele, mas ele não me matou. Tudo o que fez foi tentar me enganar para cair em sua armadilha, e mesmo depois que a armadilha se desfez, ele ainda não tentou nada. Inferno, ele poderia ter tomado Aisha como refém. Aisha podia se defender com uma espada e magia, então ele pode ter pensado que isso era morder mais do que podia mastigar, mas teve a oportunidade e mesmo assim não fez isso.
Talvez eu pudesse confiar na carta. Talvez, apesar do fato de estar trabalhando sob as ordens do Deus-Homem, o próprio Geese quisesse lutar de forma justa.
Quando você tem que matar alguém, é melhor jogar limpo ou vai estragar tudo. Parecia um dos defeitos de Geese, certo?
Porém, posso estar errado. Ele pode querer que eu pense isso enquanto na verdade planeja o oposto. Até onde sabia, ele poderia estar escondido em um armário na casa de Cliff esperando para cortar minha garganta com uma faca envenenada quando eu fosse dormir.
Imaginar caras nas paredes não está ajudando.
Ainda não havia sido atacado, o que significava que Geese não havia reunido suas forças com antecedência. Ele provavelmente estava em algum lugar agora, reunindo aliados. Estava vindo atrás de mim, mas não agora.
Foi o que tentei dizer a mim mesmo. Na verdade, não conseguia me livrar da sensação de que poderia ser atacado a qualquer momento.
Eu estava assustado.
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Agora, enquanto estava ocupado caçando Geese, Aisha tinha todo o trabalho de montar o bando mercenário sob controle. Escolheu um gerente para a filial, recrutou membros e elaborou um plano para o futuro dos negócios. Normalmente tudo precisava da minha aprovação, mas Aisha cuidava de tudo. Os Latrias ajudaram a cuidar de Zenith, então tirou muita pressão dela, mas mesmo levando isso em consideração, sua eficiência era fora de série.
Teve tempo até para pensar em mim no meio disso. Um mês após o desaparecimento de Geese, Eris chegou ao País Sagrado de Millis através do círculo de teletransporte para me proteger.
Quando chegou, já estava em modo de batalha total. Em vez de roupas civis comuns, usava o sobretudo de Rei da Espada e carregava duas espadas, um anúncio ousado para que qualquer um visse de longe que ali estava uma guerreira que deveriam conhecer.
— Agora que estou aqui, vai ficar tudo bem! Vou cortar todos eles ao meio! — gabou-se. — Ideia estúpida de Geese, virando-se contra você! Aquele verme estava certo quando dizia “Ah, não, não sou páreo para o chefe, de jeito nenhum!”
Ouvi-la tagarelando toda alegre acalmou um pouco meus nervos. Não iria ser surpreendido na surdina e assassinado esta semana, me consolei. Em algum nível, provavelmente até acreditei nisso.
— Eris… — Eu disse a envolvendo em meus braços. Isso se transformou em acariciar seus seios, e nesse momento ela me espancou até quase a morte. À medida que minha consciência se desvanecia, tudo ficou claro:
É isso!
Esse sempre foi o plano de Geese.
— FIM —
…Bem, brincadeiras à parte.
Agora que as coisas se acalmaram um pouco, era hora de se organizar.
Primeiro, levar Geese a sério. Supondo que realmente estivesse reunindo suas forças para me atacar de frente, havia três coisas que eu precisava fazer.
Um: Encontrar Geese.
Dois: Tornar a Armadura Mágica (e eu mesmo) mais forte.
Três: Formular uma contra-estratégia.
Quando me dei conta, isso era o que estive fazendo o tempo todo. A única diferença era que agora, em vez de oitenta anos, eu tinha uma linha do tempo significativamente comprimida. Apenas alguns anos para ficar bom. E Geese não era um cara comum. Quem sabia como seria um ataque justo e direto vindo dele? Viria até mim com quantidade ou qualidade?
De acordo com Orsted, não havia muitos por aí que pudessem me derrotar quando usava minha Armadura Mágica. Mesmo assim, aprendi em primeira mão no outro dia como os números podem virar uma batalha. Se ele pudesse conseguir quinze ou mais guerreiros de classe mundial que pudessem se coordenar como os Cavaleiros do Templo fizeram em uma luta, eu estaria frito.
Contudo, ele precisaria de tempo para encontrar pessoas assim. Não havia muitos por aí. Um ano, talvez dois? Estava bem confiante de que levaria esse tempo, no mínimo. Preso em uma armadilha cuidadosamente construída ao longo dos anos, e com os números a seu favor? Mesmo eu não poderia dar um jeito de me safar disso. Por um segundo, os Cavaleiros do Templo tiveram uma chance de vencer; um apóstolo do Deus-Homem seria muito pior.
Só precisava impedi-lo antes que chegasse a isso. Viajaria pelo mundo e faria seus alvos de meus aliados antes que ele pudesse alcançá-los. Se já tivesse conquistado alguns deles, então eu os mataria antes que pudessem se juntar contra mim. Em cada missão seguinte, por menor que fosse, tinha que procurar inimigos. Poderia restringir a localização provável de Geese para o Continente Demônio como um todo e, potencialmente, para o Reino do Rei Dragão, se realmente tivesse que adivinhar. Sim, o Continente Demônio parecia particularmente provável. Rufiões como Atofe provavelmente aproveitariam a chance de lutar quando soubessem que Geese estava tentando me derrubar.
Planejei deixar o Continente Demônio para o final, mas parecia que estávamos subindo-o na lista. No entanto, provavelmente poderia priorizar uma parada no Reino do Rei Dragão antes. Era lá que o Deus da Morte Randolph estava, e ele me derrotou na Versão Dois aprimorada. Ele seria um aliado sólido. Gostaria de chegar até ele primeiro.
Com isso, meu curso foi definido.
O bando mercenário ainda estava em seus estágios iniciais, mas os Latrias e a igreja estavam aqui para apoiá-los. Contanto que os dois figurões da Igreja Millis estivessem nos trazendo trabalho, o escritório poderia funcionar por enquanto. Alcancei o mínimo do que vim fazer em Millis. Era hora de voltar para o escritório principal em Sharia, então Orsted e eu poderíamos elaborar o resto do nosso plano.
Porém, primeiro é hora de dizer adeus.
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Fui até a propriedade Latria, apresentei Eris e anunciei que estava voltando para casa.
— Entendo — disse Claire.
Mesmo diante de Eris, que não era exatamente uma dama, ela não demonstrou nenhuma desaprovação. Parecia ter levado minhas palavras a sério. A única emoção que pude detectar foi, vagamente, decepção.
— Suponho que levará Zenith com você? — perguntou.
— Correto. Levo minha responsabilidade de cuidar dela a sério.
— Muito bem.
Enquanto Aisha e eu estávamos exaustos, Zenith, por sua vez, ficou com os Latrias no último mês e, segundo Claire, estava bastante ativa; talvez fosse a nostalgia de estar de volta à casa em que cresceu. Aparentemente, vagava pela propriedade e saía para ver os jardins com frequência. Sempre queria estar do lado de fora. Estava tão esparsa como sempre, mas ficou claro que aproveitava ao máximo o retorno à sua antiga cidade natal.
Todos os homens e mulheres da propriedade Latria a observavam com tristeza.
No final, não cheguei a conhecer Edgar ou Anise… Tudo por causa de Geese. Pedi a Claire que repassasse a mensagem de que com certeza reservaria um tempo para visitá-los na próxima vez em Millillion.
— Me dói não ter visto Norn de novo…
— Nós voltaremos — tranquilizei. — Da próxima vez, trarei Norn e meus filhos também. Aisha… bem, não posso garantir nada quanto a ela.
O relacionamento de Aisha e Claire não havia melhorado. Claire pode ter prometido não interferir mais com minha família, mas a aversão existente de Aisha por Claire não poderia ser desfeita em um dia. Claire, pelo que sei, basicamente só fez o que achou melhor para Aisha. Uma bastarda deve saber seu lugar e deixar que os filhos legítimos fiquem no centro das atenções. Uma filha da família Greyrat deve agir como uma dama e uma empregada da família Greyrat deve dedicar-se ao chefe da casa.
Claire estava tentando dizer a ela para se comportar de acordo com sua posição, mas Aisha era todas essas coisas e também nenhuma delas. Não tinha um papel definido, e Claire aparentemente tinha muitas opiniões sobre isso. Mesmo agora, depois de fazer essa promessa para mim, seu olhar era duro toda vez que caía sobre Aisha.
— Não vou me alongar muito sobre isso, como prometido, mas me preocupo com o futuro dela — disse Claire.
— O quê? Ah, não, acho que ela vai ficar bem.
Aisha era incrível e inteligente, quase inteligente demais. Ela ficaria bem.
— Não tenho certeza… — Claire disse parecendo não convencida. — Não consigo me livrar da sensação de que ela cometerá algum erro do qual não poderá se recuperar.
— Não há muitas coisas das quais você não possa voltar atrás, além disso, não importa o que aconteça, estarei lá para ela. Eu, Sylphie e Roxy. Eris pode ser bem útil também, para certos tipos de problemas.
Após um momento de silêncio, Claire disse:
— Se essa é a sua opinião, não direi mais nada sobre o assunto.
Ela parecia ter mais coisas a dizer, mas ei, se ela estava preocupada com Aisha, tudo bem. Era livre para se preocupar com quem quisesse.
— Apenas aguarde, estaremos de volta em breve — disse. — Tenho certeza que Aisha vai crescer um pouco nesse meio tempo. Embora não possa prometer que será em uma direção que você aprove.
Claro, houve alguns solavancos ao longo do caminho, mas Claire não era uma má pessoa. Talvez não fosse a mais legal, mas não era má. Não via nenhum problema em trazer minhas esposas e filhos para uma visita. Da próxima vez, me certificaria de fazer ser leve e curta; mostrar a ela que estávamos todos bem, fazer uma refeição juntos, conversar sobre os acontecimentos recentes e depois nos despedir com um sorriso.
— Receio que, dada a minha idade, esta seja nossa última despedida.
Nosso último adeus. Claire tinha mais de sessenta anos. Não tinha certeza de qual era a expectativa de vida média neste mundo, mas ela ainda estava com boa saúde. Contudo, era uma viagem de volta de quatro anos de Millis à Sharia. Não era uma viagem curta. Não íamos virar e voltar no momento em que chegássemos; levaria no mínimo dez anos antes de nos reunirmos. Claire teria passado dos setenta. Nessa idade, bem… Não seria um grande choque se…
Entendi o ponto dela.
É claro que na minha família nós usamos círculos de teletransporte, então na realidade as viagens não demoravam muito. Poderia contar a ela sobre isso, mas ao mesmo tempo, não gostava de tornar amplamente conhecido que estava me teletransportando para todos os lugares. Era mais seguro manter isso por baixo dos panos para o caso de alguém usar isso contra mim. Além disso, você sabe, o teletransporte era um tabu mundial. Ainda era usado de alguma forma pelos Reinos Asura e do Rei Dragão, e provavelmente pela Família Real em Millis também, mas essas eram as três maiores nações do mundo e até elas mantinham segredo sobre isso.
— Rudeus — chamou Claire —, obrigada por trazer Zenith de volta. Ela inclinou a cabeça para mim. Aparentemente, ela e Zenith pegaram uma carruagem para ver uma peça de teatro outro dia. Claire franziu o cenho o tempo todo, mas um dos criados disse que fazia muito, muito tempo que a dona da casa não parecia tão feliz.
— Eu voltarei — declarei. — Em breve. — As palavras saíram antes que eu tivesse tempo de detê-las.
— Mas…
— Eu definitivamente voltarei — bradei, colocando o máximo de força nas palavras que pude.
Claire sorriu.
A última coisa que me disse, ainda radiante, foi:
— Zenith criou um bom menino.
Fui me despedir da Criança Abençoada também. Tinha dois presentes de despedida para ela. No mês passado, Aisha havia encontrado um artesão de Millishion para fazer algo para ela, então meu primeiro presente foi uma braçadeira quase idêntica à minha. O design usual tinha um bisel incrustado de joias, no qual estava embutida uma pedra. Para este, eu mesmo fiz a pedra com magia da terra. Era preta e brilhante, gravada com o emblema do Deus Dragão. Deveria transmitir a qualquer um que o visse que o usuário era um de seus seguidores. O segundo presente: um pergaminho que Orsted me enviou para convocar uma Besta Guardiã.
Apareci com meus presentes e pedi que chamassem a Criança Abençoada, apenas para o esquadrão simples vir ao meu encontro. Therese também estava com eles, o que significava que escapou da transferência. Pelo que parece, uma petição com meu nome ajudou nisso. Mesmo assim, foi punida com um rebaixamento, então não estava mais comandando a guarda da Criança Abençoada. Um novo capitão havia sido nomeado, portanto agora Therese servia a ela como uma espécie de vice.
Acontece que o novo capitão se mostrou um pouco inflexível. A braçadeira era uma coisa, mas a ideia de usar magia de invocação desconhecida dentro da igreja foi rejeitada como totalmente ultrajante; o que não me impediu de fazer as coisas do meu jeito.
— Este é um presente do Deus Dragão Orsted para a Criança Abençoada, para agradecê-la por sua proteção a seu humilde servo Rudeus! — declarei. — Você, um mero capitão da guarda, não tem o direito de interferir!
Eu era sinônimo de má sorte para a carreira dessas pessoas…
A besta que emergiu do pergaminho era uma coruja prateada com cerca de um metro de altura; menor que Leo, mas bastante imponente, e seus olhos dourados tinham algo de inspirador neles. Não era um dos espíritos de Perugius, mas era super raro. Duvido que coisas assim apareçam com frequência. Além disso, esta era para uso exclusivo da Criança Abençoada, então provavelmente era de um nível diferente? Pelo menos a fera com bordas holográficas que desenhamos tinha um quê de divino. Eu devia ter batido o pé para fazer o capitão aprovar uma gigantesca aranha preta brilhante.
— Vou cuidar bem dela — disse a Criança Abençoada com os olhos brilhando enquanto observava a coruja. Ela estendeu a mão para acariciá-la e a ave fechou os olhos com evidente prazer. A Criança Abençoada parecia encantada pela coruja ter voado até ela logo após ser convocada.
— Na verdade, esse é o trabalho da coruja — respondi. Não era um animal de estimação. Só precisava relaxar e deixá-la protegê-la, nada mais. — Bem. Até a próxima, então.
— De fato. Fique bem, Sir Rudeus! — respondeu a Criança Abençoada.
Ao sair, fiz uma reverência a Therese e aos outros Guardiões de Anastasia também. Provavelmente os encontraria de novo.
Por último foi Cliff.
Ele parecia ter tido um começo incrivelmente bom aqui. Depois do outro dia, tanto os papalistas quanto os cardinalistas o notaram. Todos os tipos de histórias circulavam sobre ele, nenhuma delas muito precisa.
“Cliff Grimor convenceu o braço direito do Deus Dragão e salvou a Criança Abençoada.”
“Em meio à rixa do Papa e do cardeal, ele falou por justiça e fez com que todos vissem a razão no final.”
“Ele é um exemplo para todos nós que seguimos Millis. Um jovem verdadeiramente admirável.”
A parte engraçada era que, até onde sabia, as origens dos rumores eram o comandante dos Cavaleiros do Templo e o vice-capitão dos Cavaleiros da Catedral. Graças a isso, cavaleiros e padres menores confiaram em seus relatórios e ficaram convencidos de que o Papa havia conseguido um braço direito excepcional.
Além disso, talvez graças a essas histórias, Cliff estava conseguindo trabalho de verdade. No momento, isso significava oficiar casamentos para nobres importantes. Não importa o que esteja acontecendo no mundo, um padre nunca fica sem trabalho. Sem entrar em detalhes, Cliff adquiriu muita experiência da vida real em Sharia. Era jovem, mas tinha muitas habilidades e seus superiores o viam como um funcionário excepcionalmente talentoso. Algumas pessoas não gostaram muito de tê-lo por perto, aparentemente… Mas ei, o que você vai fazer? É natural que, quando aparece um novo contratado talentoso e que também era neto do Papa, algumas pessoas ficariam com ciúmes. Cliff teria que se virar sozinho.
Todavia, não estava preocupado. Não com Cliff. Não com o Cliff que conhecia. Ele passaria por cima de tudo o que o mundo jogasse nele.
Como se fossem apenas uma coisinha irritante.
— Estou indo embora então, foi bom ver você, Cliff — disse.
— Você também… — Ele respondeu. — Fale com Lise por mim.
— Pode deixar. Vou dizer a ela para não trair você.
Cliff, até onde sabia, ainda não havia contado a ninguém que era casado. Tudo o que disse publicamente foi que seu coração pertencia a alguém… Isso não era típico dele, mas entendo por que anunciar seu casamento com Elinalise poderia ser um pouco complicado. Mesmo por aqui, todos os aventureiros conheciam as histórias sobre Elinalise, a Elfa Vadia. Agora mesmo havia velhos veteranos grisalhos vagando por aí que tiveram sua primeira vez com ela.
Sim, talvez fosse melhor se Cliff não dissesse com quem se casou ainda. Não faria mal esperar até que fosse importante o suficiente para poder lidar com algumas pessoas falando pelas costas. Ele chegaria lá um dia, tinha certeza que ele não levaria aquele segredo para o túmulo.
No entanto, sempre havia a chance de propostas começarem a chegar pelo correio… E também tinha a Wendy. Era uma empregada e ia para casa à noite, mas quando um jovem e uma jovem passam algum tempo juntos sob o mesmo teto… Esquece, isso foi estúpido. Estávamos falando de Cliff. Alguém muito além da minha mente distorcida. De jeito nenhum Cliff dormiria por aí depois de toda a sua pregação sagrada. Não quando nem eu iria por esse caminho!
Gulp. Hora de parar de pensar nisso ou vou zikar. Faça o seu melhor, Cliff.
— Mantenha-o em suas calças — adverti. — Santo Millis está sempre observando!
— Não se preocupe, não saberia nem onde encontrar tempo — respondeu ele.
Cliff andava ocupado ultimamente. Ele era bom em seu trabalho e as pessoas o viam como o braço direito do Papa. Com seu capital social subindo assim, havia até alguns nobres se aproximando dele.
— É mesmo? Você está na crista da onda ultimamente, pelo que ouvi dizer. Pode simplesmente jogar a doce e pequena Wendy na cama e…
— Wendy é basicamente minha irmãzinha — objetou Cliff. — Se você não tocou nas suas, por que isso passaria pela minha cabeça?
Eu nunca daria em cima das minhas irmãs! Que porra é essa?!
Assumi uma expressão ofendida e Cliff olhou para baixo.
— É só que… — Ele começou. — Eu realmente queria chegar até aqui por mérito próprio.
Não consegui não rir ao responder:
— Se não fosse por você, acha que tudo isso teria terminado bem?
— Snrk! — Estava tentando ser legal, mas Cliff riu de mim pelo nariz.
Ponto tomado, caramba. Cliff salvou o dia, mas também me trouxe aqui, e fui eu quem começou o problema em primeiro lugar.
Havia uma sensação de bombeiro que virou incendiário em tudo isso. Ainda assim, ele permaneceu fiel a si mesmo o tempo todo e agora estava sendo reconhecido por isso. No final, a boa sorte de Cliff voltou para Cliff.
— De qualquer forma — continuou —, obrigado, Rudeus. Estou sendo notado agora, e tudo graças a você.
— Não, eu que agradeço. Você fez a ponte com as pessoas certas em Millis, e agora temos um bando mercenário aqui também.
A venda de estatuetas de Ruijerd, por outro lado, parecia que poderia demorar um pouco mais. Se apressasse as coisas, poderia nos preparar para as vendas imediatamente, mas não nos via conseguindo muitos clientes. O bando mercenário também não estava totalmente estabelecido ainda, então isso levaria a problemas nessa frente, mas, ei, quaisquer outros desafios que enfrentamos aqui foram praticamente resolvidos. Apenas jogaria Cliff neles como outra chance de provar a si mesmo.
— Tudo daqui em diante é comigo — disse ele.
— Pode deixar. Boa sorte! — desejei.
Não saiu exatamente como planejei, mas tinha certeza de que cumpri minha promessa com Elinalise também. Cliff ficaria bem. Independente de como fosse com os outros padres, ele começou com o pé direito; e não era como se faltassem problemas para ele resolver sozinho. A rixa entre os papalistas e os cardinalistas não foi resolvida. Fiquei empolgado para ver Cliff realizar grandes coisas à sua maneira, e se tudo desse errado, ele sempre poderia voltar e trabalhar para mim.
Tente ir com calma, pensei.
— Desculpe, não pude fazer muito por você no mês passado — disse ele.
— Ah, não se preocupe — respondi. Eu tinha minhas batalhas e Cliff tinha as dele. — Se algo acontecer com um dos servos do Deus-Homem, porém, envie-me uma mensagem pela pedra de comunicação imediatamente. Estarei lá o mais rápido que puder.
— Pode deixar — respondeu Cliff, com um aceno decisivo. Eu não estaria lá em todas as batalhas, mas em uma emergência viria correndo, afinal, ele era meu amigo.
— Tudo bem então, Cliff… Fique bem.
— Você também, Rudeus.
— Tenha em mente, porém, que posso acabar de volta aqui em um ano.
— Bom, já devo estar pronto para apresentar Lise a todos.
Ah, sim, há o negócio da maldição de Elinalise. Isso pode não ser um adeus por muito tempo.
— …Percorremos um longo caminho desde que você era o garoto novo na universidade, hein? — Ele disse.
— Nah, você sempre será o mesmo velho gênio Cliff para mim — respondi.
Cliff deu de ombros com um sorriso amarelo.
Com isso, minhas batalhas em Millis terminaram. O confronto com os Latrias, depois as maquinações da Igreja Millis e, finalmente, a traição de Geese… Muita coisa aconteceu, mas todas essas novas experiências me impulsionaram para o que eu tinha que fazer.
Prepare-se, Geese. Estou chegando.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Pride
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