Colocamos o acordo por escrito, explicando todo o caso sórdido que havia acontecido e dizendo que somente o bom caráter de Rudeus havia impedido que a Criança Abençoada fosse ferida. Colocava a culpa na Igreja Millis e estipulava que, ao aceitar a responsabilidade, a Santa Igreja Millis faria a restituição apoiando de forma abrangente as atividades do Deus Dragão Orsted e de Rudeus Greyrat. O contrato foi concluído com algo do tipo: as “atividades” pertinentes podem envolver demônios, mas não devem se estender a nenhum ato que viole as leis de Millis.
Os dois principais culpados, o Papa e o cardeal, assinaram o documento como se não fosse nada demais. O suor nervoso que escorria pelo rosto do cardeal era, honestamente, adorável.
O contrato foi assinado, minha refém devolvida e a reunião concluída.
Aparentemente, a decisão tomada por nosso tribunal provisório seria posteriormente revisada por um conselho de avaliação que atribuiria responsabilidade a todas as partes relevantes. Independentemente do que isso envolvesse, aposto que o cardeal encontraria uma maneira de se esquivar. Perseguir os culpados não era meu trabalho. Se não fossem apóstolos do Deus-Homem, não eram meus inimigos, apenas incômodos. Além disso, eliminar o cardeal não era a mesma coisa que acabar com os Expulsionistas. Eu tinha conseguido o que queria e resolvido o ataque no jardim. Isso é uma vitória.
Zenith, Cliff e eu partimos para a casa.
No caminho, Cliff deixou escapar:
— Sinto muito.
— Calma, do que estamos falando? — respondi, um pouco perdido.
— Agora que pensei melhor, percebi que é minha culpa o fato de Zenith ter permanecido cativa por tanto tempo — disse ele. — Não fui cuidadoso o suficiente. No final deu certo, mas sinto que só piorei as coisas ao pensar que poderia suavizar tudo.
Não é assim que você é? Você usa um monte de suposições equivocadas para fazer um grande discurso lógico, mas, no final, todos acabam felizes. Isso é o que você é, Cliff.
— Não estou guardando rancor contra você. Vamos tentar aprender com isso para que possamos fazer melhor da próxima vez.
— Sim, é claro — respondeu. Cliff estava se sentindo deprimido, mas, pessoalmente, estava mais preocupado com o que isso faria com sua carreira.
Wendy estava esperando por nós quando chegamos em casa. Apenas Wendy, sozinha.
— Ah, bem-vindos ao lar! — disse ela. Senti uma inquietação repentina. Aisha e Geese estavam bem?
Quando o contrato estava sendo redigido, tentei perguntar casualmente por eles, mas o cardeal e os Cavaleiros do Templo basicamente disseram: “Não sei e não me importo”.
— A Srta. Aisha e o Mestre Geese estão sãos e salvos! — Wendy continuou, dissipando minha paranoia. Os dois saíram do porão.
— Irmãozão, você voltou! E… e oh, Mãe Zenith!
Os dois me contaram o que havia acontecido. Ficaram sabendo que Claire e Carlisle haviam saído de casa cedo naquela manhã para ir à sede da igreja, então eles mesmos se dirigiram para lá na tentativa de me avisar. No entanto, quando chegaram, já era tarde demais. Os Cavaleiros do Templo estavam em alvoroço; Claire estava na igreja, eu também estava lá, tentando me aproximar de Therese. Somaram dois com dois e presumiram que havíamos nos encontrado e entrado em conflito. Nesse momento, se lembraram das ordens que eu havia dado a eles e voltaram para a casa de Cliff. Arrumaram nossas coisas para uma fuga rápida e depois se esconderam nos fundos da casa. Estavam planejando sair da cidade quando a noite caísse.
— Aqueles Cavaleiros do Templo apareceram algumas vezes, mas desta vez os mandei embora! — Wendy disse. Agora ela estava fazendo seu trabalho corretamente, pelo menos.
Mas o cardeal havia tentado chegar até Aisha e Geese. Que pesadelo.
— De qualquer forma, você recuperou a Mãe Zenith. Isso significa…?
— Sim, está tudo acabado — declarei.
Contei a Aisha e Geese tudo o que havia acontecido. Quando terminei, Aisha suspirou de admiração.
— Irmãozão, você é tipo um super herói ou algo assim — disse ela, com os olhos brilhando. — Todo mundo está estragando tudo e, um dia, bam, chamam um aventureiro, um estranho chega à cidade e, misteriosamente, volta para o lugar de onde veio.
Não seja idiota, pensei. Não sou bonito o suficiente para ser o protagonista.
Combinamos de levar Zenith de volta para ver a Criança Abençoada no dia seguinte. Carlisle e Claire foram de carruagem até a casa de Cliff para nos buscar, e nós cinco, incluindo Cliff, partimos juntos.
Dentro da carruagem, tive a chance de conversar com Carlisle, que parecia muito abalado com tudo e não parava de se desculpar comigo. Não estava interessado em apontar culpados, talvez ele pudesse ter lidado com as coisas um pouco melhor, mas… as pessoas cometem erros. O importante é que aprenda com eles para que possa se sair melhor no futuro, certo? Além disso, não poderia dizer que estava me saindo muito bem nesse aspecto. Quem era eu para começar a insistir com outras pessoas sobre seus erros? Como alguém poderia seguir em frente se você continuasse desenterrando o assunto? Não que fosse minha função garantir que algum deles estivesse avançando.
Carlisle falou muito, mas Claire não disse nada. Encurralada com nós quatro na carruagem, ela permaneceu em silêncio o tempo todo.
O que ela está pensando? Devo perguntar? considerei. Ainda estava pensando na questão quando chegamos ao terreno da igreja.
Depois de passar por alguns procedimentos oficiais, nos foi concedida a entrada ao santuário interno para a audiência. Fomos levados a um cômodo que parecia ser o quarto da Criança Abençoada.
Uma barreira transparente foi montada no meio da sala, exatamente como quando me encontrei com o Papa. Havia também duas cadeiras e uma janela. Seis guardas ficaram atentos sob as luzes fracas.
Therese não estava lá. Talvez tivesse sido transferida. De qualquer forma, parecia que o exame aconteceria com os fanboys da Criança Abençoada presentes. Eles não pareciam hostis, só um pouco tensos e sem vontade de olhar para mim.
Não estou atrás de um pedido de desculpas, pessoal. É seu trabalho, eu entendo, pensei.
Além disso, deixei todos inconscientes. Eles começaram, e eu terminei. Estávamos quites. Eles provavelmente sofreriam algumas consequências profissionais também, então fiquei feliz em deixar as coisas para lá. Na verdade, esperava poder sair daqui em termos amigáveis. Não gostava da ideia de que esses caras guardassem rancor de mim.
— Vamos começar?
A Criança Abençoada e Zenith sentaram-se uma de frente para a outra. Poeira apoiou gentilmente a cabeça de Zenith, posicionando-a de forma que ficasse imóvel com os olhos abertos. Em seguida, a Criança Abençoada se inclinou para frente e olhou profundamente nos olhos de Zenith. Isso me fez lembrar de um exame de optometrista.
— …Uau.
O olhar da Criança Abençoada brilhou enquanto olhava para Zenith. Brilhava literalmente. Não consigo pensar em uma maneira melhor de dizer isso. Fios tênues de luz as conectavam, olho a olho.
Os otakus estavam todos tipo “Óóóóó!!” ou “Aaahh!!”, ao redor dela.
— Essa é a nossa Criança Abençoada…
— Ela realmente é abençoada…
Essa luz não aparecia antes. Estava fazendo um show? Ou isso exige esforço?
Talvez fosse como magia de fogo, onde quanto mais forte se torna sua magia, mais quente e brilhante o fogo fica. Talvez esse fenômeno só acontecesse quando estava levando seu poder ao limite. Ela havia trocado a TV a cabo básica pela fibra óptica.
Claire cerrou o punho sobre o coração, como se estivesse rezando. Tentei focar de novo. Neste momento, todo o passado de Zenith estava sendo revelado. A Criança Abençoada poderia até mesmo ser capaz de ver as memórias que haviam sido devoradas por sua prisão mágica de cristal nas profundezas do labirinto. Se as memórias de Zenith revelassem a causa, talvez pudessem lançar luz sobre uma solução.
Mesmo se fosse só uma pista, pode ser suficiente para que um de meus amigos mais inteligentes pense em algo. Talvez Orsted ou Kishirika.
— Ah! — exclamou a Criança Abençoada suavemente, depois estremeceu. Poeira soltou a cabeça de Zenith e, em seguida, tocou gentilmente o ombro da Criança Abençoada.
Isso significa “download concluído”?
A criança se levantou, com os olhos ainda bem abertos, olhando diretamente para mim.
— Rudeus Greyrat.
— Sim? — respondi. O uso do meu nome completo me fez sentar direito.
— Eu vi as memórias de Zenith Greyrat.
— O que você viu?
— Até o incidente de deslocamento, ela vivia em Villa Buena, em Fittoa, onde prestava seus serviços ao curandeiro local enquanto criava Aisha e Norn.
Estamos voltando a esse ponto? Ok, não, é justo. Ela tem que passar por tudo em ordem ou parecerá que está falando aleatoriamente.
— Depois que foi embora, não houve um dia sequer em que ela não se preocupasse com você. Se preocupava com o fato de você não estar comendo direito, de não estar lavando a roupa, de estar atrás de várias garotas diferentes…
Oh, uau, desculpe, mamãe. Pelo menos não traí ninguém!
O Continente Rudeus era uma terra pacífica… até ser conquistado pelos pedaços abaixo da cintura. Ele até conseguiu evitar a invasão da desavisada Terra de Sylphie por um tempo. Por mais difícil que isso possa ser de imaginar para qualquer pessoa que conheça os movimentos de tropas de Rudeus nos últimos anos.
— Em meio às preocupações com você, as lembranças dela se tornaram brancas.
O Incidente de Deslocamento de Mana, eu me lembrava daquele momento, mas a maioria das pessoas foi deslocada antes de perceber o que estava acontecendo ou porquê. Foi isso que aconteceu com Paul, e ouvi dizer que o mesmo aconteceu com Lilia.
— Por algum tempo depois disso, apenas escuridão.
— Uh… “algum tempo”?
— Sim. Era como se ela permanecesse em um sono profundo e sem sonhos, enquanto uma grande quantidade de tempo passava ao seu redor.
Portanto, ela não tinha lembranças desse período. Nesse caso, ela deve ter sido enviada diretamente para o labirinto pelo Incidente de Deslocamento. As chances de isso acontecer deviam ser mínimas… mas não eram impossíveis. Um teletransporte aleatório para qualquer lugar do mundo tinha uma pequena chance de enterrá-lo dentro de uma parede. Se você fizesse isso de propósito, estabelecesse um círculo de entrada e saída com antecedência e assim por diante, isso eliminaria esse tipo de risco…
O Incidente de Deslocamento de Mana realmente destruiu nossas vidas. Aparentemente, era a consequência da chegada de Nanahoshi a este mundo, mas isso não importava. Agora tudo estava terminado.
Se a humanidade não tivesse transformado os círculos de teletransporte em um tabu e só administrasse seu uso de forma responsável, teria resistido a essa crise sem entrar em pânico.
Direi isso à Ariel da próxima vez. Ela resolverá as coisas se eu escrever um relatório sobre teletransporte para ela.
…Espera.
Como o Geese encontrou Zenith, então? Ele me disse que perguntou por aí e ouviu que ela estava nas profundezas do labirinto de teletransporte… mas, calma aí…
— Então, ela teve um sonho — disse a Criança Abençoada.
Voltei a me concentrar.
Ele nem está aqui no momento. Posso questionar Geese mais tarde.
— Um sonho? — questionei.
— Um sonho. Começou com ela sentindo como se tivesse sido transformada em uma boneca de pano.
— Uma boneca de pano…?
— Mesmo assim, foi um sonho agradável — disse a Criança Abençoada fechando os olhos. Sua voz fluía, como se estivesse assistindo a um filme que passava na parte interna de suas pálpebras.
— Ela sonhava estar tendo uma vida fácil em uma casa que não conhecia. Ela e Lilia sentavam-se ao sol e cuidavam do jardim.
A voz da Criança Abençoada havia mudado sutilmente. Assemelhava-se com Zenith.
— Paul foi embora, mas Rudy e Sylphie se casaram e depois tiveram um bebê, mas então, bem, tal pai, tal filho! Rudy apareceu com Roxy e depois com Eris… elas não paravam de chegar! Pelo menos, todas pareciam felizes. Até mesmo Sylphie.
“Norn resmungava muito, mas ainda assim ia à escola e me dava um beijo de despedida todas as manhãs. Aisha e eu estamos nos tornando grandes amigas! Você sabia que ela gosta de flores? Digo a ela que gosto de maçãs e narcisos e ela se vira para mim e diz: ‘Senhorita Zenith?’. Pode me chamar de mamãe, disse a ela, mas Lilia pareceu um pouco infeliz com isso. Acho que ela quer que Aisha a veja como mãe também.
“Roxy está lecionando na escola local. Norn diz que todas as crianças a adoram. Ela deve ser bem velha, já que é um demônio, mas tudo bem, Rudy a ama, então acho que não devo me preocupar muito com a idade.
“Conheci a Eris pela primeira vez. Ficou claro como o dia o quanto ela ama Rudy. Ela vem me ver quando não tem mais ninguém por perto com o rosto muito vermelho e diz algo como ‘Eu… ainda estou descobrindo as coisas, mas… farei o meu melhor’.
“Sinceramente, simplesmente caí na gargalhada. Disse a ela para tentar dizer isso ao Rudy. Não fazia sentido ser tão formal comigo. Então, Eris ficou vermelha de novo e abaixou a cabeça. Foi a coisa mais fofa. Ela é sempre tão ousada, sabe?”
Essas eram as lembranças de Zenith dos últimos anos. Não combinavam muito com as minhas. Norn quase nunca falava com Zenith e embora Aisha falasse com ela no jardim com frequência, Zenith nunca respondia.
Será que isso significa que, aos olhos de Zenith, ela achava que estava falando com todos e que eles estavam respondendo?
— Depois, há os filhos de Rudy. Lucie é a coisinha mais preciosa. Ainda é muito pequena, mas está se esforçando ao máximo para ser uma irmã mais velha. Ela ouve atentamente tudo o que Sylphie diz e pratica sua magia todos os dias para mostrar a Rudy. Comigo, porém, ela não se mostra tão severa. Diz que não é tão forte quanto sua mãe e cobra muito de si mesma. Eu digo a ela que não tem com o que se preocupar, pois um dia poderá fazer tudo isso e, mesmo que não consiga, encontrará seu próprio talento. Depois disso, ela diz que fará o melhor que puder. Ah, ela é tão doce!
“Lara realmente gosta de mim. Sabe que ela fala desde o momento em que nasceu?! Ela me chama por qualquer coisa; Vovó, vovó… ela diz, e quando me dou conta, Leo aparece dizendo: ‘Senhorita Zenith, socorro! A Srta. Lara se molhou!’. Ultimamente, ela sobe em meus joelhos e nos sentamos ao sol com Leo e conversamos sobre o campo ao redor da casa ou sobre a cidade natal de seu pai, esse tipo de coisa.
“Arus adora seios, assim como Rudy quando era pequeno. Sempre que o pego no colo, ele se agarra ao meu e parece muito satisfeito consigo mesmo. Acho que até os seios de uma vovó idosa como eu servem! Ele é um pouco travesso, assim como Paul e Rudy. Digo a ele que, se vai fazer todas as meninas chorarem como Rudy, precisava se certificar de que todas também fiquem felizes no final.”
Percebi que meus olhos estavam quentes e lágrimas escorriam pelo meu rosto. Lucie quase nunca se aproximava de Zenith e Lara não conseguia falar. Mais da metade das cenas descritas pela Criança Abençoada eram apenas delírios de Zenith, alucinações que se desenrolam por trás de seus olhos vazios, mas o mundo que ela viu era muito gentil.
— Ah, quase me esqueci! Rudy começou a trabalhar para um cara realmente incrível, chamado Deus Dragão Orsted. Um dos três Heróis Matadores de Demônios e um aprendiz distante do Deus Dragão Urupen. Ele deveria ser super forte e assustador e todos parecem aterrorizados com ele, mas ele não parece tão ruim para mim. Acho que, no fundo, ele só quer fazer amigos. Ele se apega ao Rudy em particular, sempre vem ver como nossa família está se saindo. Converso com ele às vezes, mas ele não parece muito acostumado a falar com as pessoas. Ele fica de boca fechada, mas é uma boa pessoa. Ensina truques a Lucie para ajudá-la com sua magia quando ela está com dificuldades, embora sejam um pouco complicadas e acho que ela não o entende muito bem.
“Uma vez, perguntei se ele queria segurar Lara. Ele ficou tão nervoso com isso! Mas foi muito cuidadoso quando a pegou, contudo, acho que não gosta muito do Leo e do Arus. No outro dia, fez Arus chorar e depois saiu sem cumprimentar Eris. As vezes fico pensando que tipo de trabalho Rudy está fazendo para esse homem que é tão forte e, ao mesmo tempo, tão gentil. Seja o que for, estou orgulhosa dele. Tenho certeza de que o Paul também ficaria.
Quanto disso é verdade? Orsted quase nunca vem aqui em casa… Ele está vindo sem me avisar?
— Rudy cresceu e se tornou um jovem maravilhoso. Norn e Aisha também estão crescidas e Sylphie teve seu segundo bebê. Lilia estava muito preocupada, dizendo que agora tinha que cuidar de mim! Que bobagem, obviamente as crianças vêm em primeiro lugar. Estou indo visitar minha mãe, então vou deixar a Sylphie com você, Lilia, ok?
“Não se preocupe comigo, ficarei bem. Eu costumava ser uma aventureira, sabe?! Estamos indo com Rudy, Aisha e o amigo de Rudy, Cliff. Estou ficando animada com a ideia de fazer uma viagem com o Rudy!
As memórias de Zenith estavam se aproximando dos dias atuais.
— Mamãe está muito velha. Não está nada parecida com o que me lembro! Achei que fosse gritar comigo, mas ao invés disso, veio até mim, dizendo: ‘Zenith, oh, Zenith’, e parecendo toda chorosa! Ela estava preocupada que eu estivesse machucada ou doente, então trouxe um médico para me ver. Quero dizer, como pode ver, estou em perfeita saúde, mas mamãe gosta de se preocupar. Ela trazia o médico todos os dias! Sempre foi muito severa conosco, mas agora olha para mim como se fosse chorar e não me repreende de forma alguma. Ela vem aqui com frequência porque está preocupada.
“Ah, o Papai também veio. Ele deixou a barba crescer, dá para acreditar? Não costumava usá-la assim, mas quando perguntei a ele sobre isso, me disse que deixou crescer porque foi promovido. Ficou tão estranha nele que tive que rir.
Dei uma olhada para Claire e Carlisle. Claire estava com o rosto enterrado no peito dele, enquanto Carlisle acariciava seus cabelos. Seus olhos cheios de lágrimas.
— O único problema é que mamãe não se dá bem com Rudy. Rudy odeia que as pessoas olhem para ele com desprezo e lhe digam o que fazer, então ele e a mamãe brigaram. Gostaria que encontrassem uma maneira de fazer as pazes… Então Rudy colocou a mamãe contra as cordas! Paul sempre foi assim quando brigávamos em Buena. O Rudy realmente não é de puxar o saco… Bem, vou ter de fazer com que façam as pazes!
Os olhos da Criança Abençoada se abriram.
Então, esse é o fim?
— Ufa — disse ela, esfregando os olhos e expirando, antes de cair de volta em sua cadeira.
Os otakus correram para o lado dela, um com o que pareciam ser toalhas quentes, outro com um copo de água. Um deles começou a massagear seus ombros. Era como se ela fosse uma antiga imperatriz ou algo assim.
— Minhas desculpas. Isso foi tudo o que eu vi. Você ouviu o que queria? — perguntou a Criança Abençoada. Ela parecia estar exausta. O uso desse poder realmente a esgota, pensei.
Acho que sim. Ela leu todas as memórias de Zenith, baixou-as em seu próprio cérebro e, em seguida, seu cérebro converteu tudo isso em um pequeno monólogo simulado de Zenith para nós. Ter todas essas informações em seu cérebro ao mesmo tempo deve ser exaustivo.
Pela primeira vez, pensei que talvez devesse me juntar aos otakus. Ela merecia aquela massagem no ombro.
— Sim, obrigado — respondi. Ainda não sabia como curar Zenith, mas agora sabia como ela se sentia depois de ficar assim. Só de saber disso, valeu a pena vir para Millis.
— Pode não significar muito, mas ela está feliz agora — disse a Criança Abençoada. — Ela sabe que Paul está morto e entende o que está acontecendo ao seu redor.
Com certeza, pensei. Ela entende muito mais do que eu imaginava. Tudo ainda parecia um pouco onírico e a voz da Criança Abençoada tinha emprestado a ela essa qualidade de conto de fadas, mas… quero dizer, ela sabia quantos filhos eu tinha e sua descrição das personalidades deles tinha sido bastante sólida. Exceto pela Lara, talvez, porém Lara gostava de Zenith. Talvez, do ponto de vista de Zenith, parecesse que ela estava tentando se comunicar.
— Aprendi mais uma coisa — disse a Criança Abençoada. Olhei para ela com ar de interrogação. — Zenith… Não sei o quanto ela vê, mas consegue ler mentes.
Ler mentes?
— Por causa de sua condição atual, ela nem sempre interpreta corretamente o que lê, e acho que ela pode estar preenchendo as partes que não consegue ler com suas próprias histórias… — A voz da Criança Abençoada se arrastou.
Ela acenou para mim, gesticulando para que eu aproximasse minha orelha de sua boca. Todos os otakus imediatamente taparam os ouvidos e se afastaram.
Eu me inclinei em sua direção e ela sussurrou:
— Ela é uma criança abençoada.
Assenti lentamente com a cabeça. Sabia desde o início que era provável que ela estivesse amaldiçoada, e sabia muito bem que uma Criança Amaldiçoada e uma Criança Abençoada eram, em essência, a mesma coisa.
— Se isso for divulgado, as coisas ficarão fora de controle novamente. Recomendo que a mantenha em segurança — disse ela.
— Não há dúvida quanto a isso — concordei. — Sou um seguidor de Orsted. Eu a protegerei, não importa o que aconteça.
— Comprometimento total… É assim que você é, não é?
Provavelmente não preciso dizer a ela que farei de tudo, já que tentei sequestrá-la, mas sim. Essas são as palavras pelas quais estou tentando viver.
Agora eu sabia duas coisas, a primeira era que Zenith tinha poderes, ela conseguia ler mentes. Não estava claro o quanto conseguia ler, mas provavelmente não a estava matando. Era mais como se ela não soubesse como comunicar o que estava vendo. Não há perigo imediato. Eu poderia relaxar um pouco sabendo disso.
A segunda foi que havia algo errado com Geese. Algumas das coisas que me disse não se encaixavam e, honestamente, seu comportamento durante todo esse incidente foi um pouco estranho. Ir para a propriedade Latria mesmo sabendo que eram a favor da expulsão de demônios, depois seguir cegamente as ordens de Claire e trazer Zenith para o campo aberto. Precisava falar com ele logo; hoje, se possível.
— Criança Abençoada, estou muito feliz por termos nos conhecido — disse. — Gostaria de agradecê-la de alguma forma.
Ainda não sabia como recuperar as memórias de Zenith, ou melhor, como fazer para que voltasse a ser o que era, mas aprendi que as coisas não eram nem de longe tão ruins quanto eu temia. Ela estava consciente, apenas sonhando. Isso significava que, um dia, ela poderia acordar; e mesmo que não acordasse, contanto que estivesse feliz assim, talvez não houvesse problema.
— Você é muito gentil. Nesse caso, tenho duas solicitações. Posso fazê-las?
— Vá em frente.
— Você me daria essa pulseira?
— Pulseira? — Olhei para baixo e vi o bracelete de Orsted brilhando em meu braço.
— Sim — disse a Criança Abençoada.
— Hmm, veja… O problema é que não posso tirar isso. Não há mais nada?
— Qualquer coisa serve, desde que identifique o portador como um seguidor de Orsted em um piscar de olhos.
Desde que identifique o portador como um seguidor de Orsted em um piscar de olhos… Será que ela quer dizer o que eu acho que quer…?
— Você quer se juntar à Orsted?
— Eu quero. Gostaria de viver mais de trinta anos.
— É justo.
É mesmo, seu destino é fraco. Está fadada a morrer, a menos que algo mude. Não estava em sua melhor forma, mas também não parecia doente. Isso deixava o assassinato como a maior preocupação. Considerando seu poder e o grande número de esquemas em andamento na Igreja Millis, essa era a causa mais provável. No entanto, se estivesse sob a proteção de Orsted, o cardeal (que estava com a consciência pesada em relação a tudo isso) e o Papa (que achava que eu estava do seu lado agora) teriam muito mais dificuldade para agir contra ela. Ainda assim, não era uma garantia.
Heh… Tudo bem, então vamos fazer uma garantia melhor.
— Ok, trarei algo para você nos próximos dias — prometi.
— Ah, obrigada! Com isso, talvez eu consiga chegar aos cinquenta! — respondeu.
Ela me ajudou seriamente em todos os momentos. Não traria a ela uma mísera marca do Deus Dragão, eu invocaria uma fera guardiã para ela.
— E a segunda coisa? — questionei.
— Quero que consiga uma sentença mais branda para Therese. Se não fizermos nada, ela será rebaixada e mandada para bem longe.
— Quero dizer, ela não estava preparada para isso? — disse. Não estava apenas “cumprindo ordens”, como também não conseguiu executar essas ordens.
— Isso não é injusto, mas entenda, Rudeus, que a derrota dela para você foi uma derrota bem humilhante para o cardeal. Se for despachada para longe, será morta; eu quero ela em minha guarda.
Conseguia entender o cardeal podendo matá-la por puro rancor quando ela não fosse mais útil, mas ela se manteve fiel ao seu papel de capanga, e é isso que acontece com capangas que falham…
Ainda assim, não podia negar que ela havia feito absolutamente tudo que pôde por Zenith. A morte era um preço alto a ser pago por seguir ordens e ser manipulada.
— Tudo bem — concordei.
— Obrigada. Posso pegar sua assinatura? — Um dos fanboys trouxe um documento para mim. Eles estavam por dentro de tudo, esses caras…
— Estou ansiosa para trabalhar com você no futuro, Sir Rudeus — disse ela.
E essa é a história de como a Criança Abençoada se tornou uma seguidora de Orsted.
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— Rudeus.
Estávamos esperando a carruagem em uma sala lateral quando Claire me chamou. Seu rosto estava tão duro como sempre. Essa era a aparência dela. A menos que fosse ansiedade que estivesse lendo em seu rosto?
— Este é longe de ser um lugar apropriado para discutir o que tenho a dizer — continuou — e esperava falar com você quando as coisas estivessem um pouco mais calmas, mas você certamente ficará mais ocupado com o passar do tempo. Podemos conversar agora?
Assenti com a cabeça.
Ela está brava comigo por ter três esposas? Duas já era ruim, mas três! A Igreja Millis jamais aceitará tal coisa!
— É sobre a bagunça que causei.
— Está bem.
Então não se trata da questão das esposas. Ela quer falar sobre si mesma. É justo. Ela não iria me repreender por minhas escolhas de vida depois do que tentou fazer. Isso seria ridículo.
Sua expressão permaneceu firme enquanto prosseguia.
— Sei que o que tentei fazer era imperdoável.
— Sim — murmurei em resposta.
Pode ter sido para o bem de Zenith ou o que quer que fosse, mas seu plano de tratamento era muito exagerado. Se tivesse ido até o fim, bem… digamos que não estaríamos conversando de forma tão amigável como agora.
— Quero que você me puna — disse Claire.
— P-Punir…?
— Sim. Roubei Zenith de você e tentei fazer algo totalmente desumano com ela. Eu deveria ser punida de acordo.
— Não pode simplesmente pedir desculpas?
— O que isso resolveria? Os pecados devem ser punidos — insistiu ela.
Entendia a linha de raciocínio dela, se o arrependimento tornasse tudo melhor, não haveria necessidade da polícia. Praticamente todos os que contribuíram para aquela bagunça receberam algum tipo de punição, mas Claire não. A própria Claire não estava satisfeita com isso.
— Ok, então… Que tipo de punição você acha que merece?
— Você poderia me bater com um chicote, um bastão ou cortar meus braços. Até mesmo me matar, não me importo.
Hmm… Isso é um pouco demais. Não queria ficar conhecido como um assassino de vovós. Além disso, Zenith ficaria muito zangada comigo.
— Você ouviu o que Zenith disse lá dentro, como eu era presunçosa, não pensava em ninguém e ainda assim ela confiava em mim como um bebê; e eu ia jogá-la no inferno. Idiotas como eu não precisam de pena, apenas ser esmagados pelo martelo da justiça.
Suas mãos estavam cerradas em punhos e tremiam.
Foi isso que ela ouviu lá atrás?! Parecia um pouco diferente para mim.
Zenith perdoou Claire. Acho que ela não sabia o que Claire planejava, mas sabia que Claire estava sofrendo por causa de alguma decisão e que isso estava relacionado a ela. Por isso que, quando viu Claire tentando assumir toda a culpa sozinha no julgamento sem que ninguém a defendesse, Zenith a perdoou. Depois, deu um tapa em Carlisle e em mim, mas não em Claire.
Ok, talvez eu esteja distorcendo um pouco essa lógica. Também não foi assim que aconteceu.
Talvez fosse justo que Claire recebesse algum tipo de punição, a própria Claire parecia querer mais a punição do que o perdão e não iria a lugar algum até conseguir isso.
Tudo bem, então.
— Bem, tudo bem… Se você insiste… — comecei. Claire olhou para mim com nervosismo.
Desculpe, mas se é tudo a mesma coisa para você, vou usar isso a meu favor.
— Quero que você se converta — exigi.
— Você se refere à sua religião? Quer que eu cultue demônios?
Droga, não fui claro. Não é converter. Eu realmente não quero que você entre para o culto à Roxy. Como diabos posso explicar? Ah, bem, acho que posso explicar isso para ela.
— Não, desculpe, não foi isso que eu quis dizer. Não precisa sair da Igreja Millis. Quero que deixe os Expulsionistas.
— Toda a família Latria?
— Só você já estaria bom para mim. Uma das minhas esposas é um demônio, então prefiro que não a chame de “imunda”. Além disso, gostaria que reconhecesse minha religião e guardasse para si suas opiniões sobre minha família.
Claire não respondeu.
— E mais uma coisa. Se tiver que tomar esse tipo de decisão novamente, converse comigo sobre isso, ok? Tenho o poder de resolver a maioria das coisas… Pelo menos, gosto de pensar assim — concluí. Claire me encarou chocada, mas assentiu.
— Muito bem — disse ela.
Ela não parecia convencida. Provavelmente não tinha certeza se havia sido punida. Nem eu, na verdade. Basicamente, fiz uma lista de tudo o que queria dela e ela interpretou isso como uma punição.
Ela assentiu com a cabeça mesmo assim. Acho que ela decidiu que, se esse fosse meu julgamento, ela concordaria com ele.
— De hoje em diante, eu, Claire Latria, serei uma integracionista e farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar nessa causa. Confiarei em você, Rudeus, e não farei nenhum comentário sobre sua religião ou seus métodos educacionais, nem permitirei tais palavras de qualquer outro.
— Obrigado… — respondi. — Só não exagere, tá? Forçar seus pensamentos nos outros nunca é bom.
— Eu entendo.
Se conseguisse que a velha raposa fosse um pouco mais flexível, poderia descansar com muito mais facilidade. Dessa forma, poderia ter certeza de que ela não começaria nenhuma briga com minhas esposas ou filhas. Agora ela estava toda obediente, mas como se diz? Os votos feitos na tempestade são esquecidos na calmaria… Quando nos encontrássemos de novo… ou melhor, se nos encontrássemos de novo, eu realmente não queria entrar em outra discussão.
— Isso é tudo o que tenho a dizer — disse.
— Agradeço por sua gentileza — respondeu ela de forma brusca, depois assentiu.
Você poderia ser pior em pedir desculpas? pensei. Francamente…
Certo, então voltemos à casa de Cliff. Provavelmente teria que me apresentar na propriedade Latria mais tarde, mas primeiro teria que lidar com Geese. Eu tinha sérias dúvidas; sobre essa viagem e sobre a última vez que o encontramos. Quando me lembrei, percebi que o cara tinha um talento especial para aparecer no momento certo. Estava ansioso para ele me explicar esse truque.
— Estou saindo para encontrar Geese — disse para Aisha e Zenith quando fui embora.
— Irmãozão, espera aí! — Aisha gritou, correndo para me deter com a mão estendida. — Veja isso!
Em sua mão havia uma carta. Estava selada com cera, e do lado de fora estava escrito Rudeus.
— Wendy disse que, assim que você saiu, Geese apareceu e deixou isso! — Aisha explicou.
Aceitei sem dizer nada. Uma carta, neste exato momento…
Tinha um mau pressentimento sobre isso.
Quebrei o lacre e comecei a ler.
Rudeus,
Olá, chefe. Se voltou para casa depois de falar com a Criança Abençoada e está lendo esta carta, bem, provavelmente já entendeu o que aconteceu.
Entendeu, não é? Quero dizer, acho que sim. É impossível que não tenha entendido, certo? Se ainda não o fez, eu realmente fiz besteira ao escrever isso, mas foda-se.
Acho que você tem algumas perguntas, não é, chefe? Por exemplo, como eu sabia onde Zenith estava quando não havia como saber? Por que levei Zenith para fora na hora certa?
Faz um tempo, mas a primeira vez que nos conhecemos também foi assim. Que coincidência eu encontrá-lo assim na vila Doldia…
Então… Como eu fiz isso? Há algumas coisas que nem mesmo o poderoso aventureiro rank S, Geese, deveria ser capaz de fazer!
Que tal eu lhe contar?
Tudo isso foi graças às instruções do Deus-Homem. Tudo o que fiz foi seguir os conselhos do Deus-Homem.
Basicamente, sou o que você chamaria de “Apóstolo do Deus-Homem”. Estava te enganando, chefe.
E aí? Surpreso? Você está pensando “eu sabia” ou está irritado?
Sim, você provavelmente está irritado. Ah, bem, isso é justo!
Porém, só para ciência, ouço a voz desse deus desde que era criança. Essa voz me tirou de alguns apuros e de algumas situações de quase morte. Sou fraco e não consigo me virar sozinho. Essa voz foi minha salvação, sabe?
Não foi a mesma coisa com você, chefe?
O Deus-Homem o ajudou quando você voltou do Continente Demônio. Ele o reuniu com o velho Ruijerd e depois se certificou de que você colocasse as mãos no Olho Demoníaco. Tirou você daquela cela e salvou a vida de sua irmãzinha. Foi o Deus-Homem que me disse onde encontrar Zenith também.
Ele fez tudo isso por você, chefe.
Você é um traidor.
O quê, vocês tiveram uma pequena desavença?
Sei que o Deus-Homem não é benevolente. Todos os conselhos que dá são apenas para que Ele possa nos usar em seus próprios fins. Sinceramente, somos como brinquedos para Ele. Acho que você se considera importante demais e isso realmente o irritou, não é? Mas traí-lo e acabar com tudo? Não acha que foi longe demais? Ok, Ele usou você, mas devemos tudo a Ele. Essa é a única maneira de tudo isso fazer sentido.
Foi assim que vi a situação depois que minha cidade natal foi varrida do mapa.
O Deus-Homem me manipulou e depois destruiu meu lar; e ainda riu disso! Contou-me tudo sobre como havia me enganado. É claro que fiquei irritado! Tipo, que porra é essa, cara?! O que há de errado com você? Eu me fodi! Deixei que Ele fizesse isso, sabe?
Mas foi isso que Ele me disse:
“Depois de tudo o que fiz por você, isso não é nada.”
Acho que Ele queria só me irritar ainda mais, me levar ao limite, sabe? Fazer eu enlouquecer só para que pudesse rir de mim.
Mas, quando Ele disse isso, fiquei impressionado.
Ele tem razão, pensei.
Pensando no que devia a Ele depois de todas as vezes que Ele salvou minha pele, achei que poderia simplesmente… deixar para lá. Quero dizer, há um pouco de rancor por trás de tudo, mas isso é normal, não é?
De qualquer forma, acho que você não está entendendo, não é, chefe? Deve estar lendo isso e pensando: “Novato, você está louco!”. E talvez isso pareça errado para você, mas não para mim.
Na minha opinião, você está dando as costas para suas dívidas. Mordendo a mão que o alimentou. Sinto muito, chefe, mas acho que agora sou da equipe Deus-Homem.
Desta vez estava testando as águas, vendo do que você era capaz. Eu o coloquei em minha armadilha e depois coloquei os Cavaleiros do Templo contra você. Parece que você passou direto por eles no final, mas agora sei o que não funciona. Você fez besteira, me mostrou todos os seus truques. Vou atrás de aliados o suficiente para saber que posso derrotá-lo e depois voltarei para enfrentá-lo de frente, de forma justa. É uma guerra, chefe. Planeje seu funeral.
Não odeio você nem nada. Passamos bons momentos na prisão e nunca me esquecerei de nossa viagem pela Estrada da Espada Sagrada. A caça no labirinto também! Foi a melhor sensação de estar vivo que tive em muito tempo. Não me esqueci de nada disso.
Mas é só isso. Não o odeio, mas não lhe devo nada. Posso ter meus pequenos problemas com o Deus-Homem, mas estou em dívida com Ele. Mesmo quando há ressentimentos, é preciso pagar o que se deve. Isso é um azar para nós dois, chefe.
Att,
Geese Nukadia
Saí correndo para fora de casa.
— Geese! — gritei enquanto corria.
Geese.
Geese era meu inimigo. Não sabia como, mas ele tinha visto a Armadura Mágica. Disse que estava se preparando para me enfrentar.
Como?
Da próxima vez, lutaria comigo de forma justa. Eu poderia confiar nisso? Não importava. Se era isso que pretendia fazer, eu o impediria.
Tinha que matá-lo.
Continuei correndo até o Distrito Mercante e entrei no escritório dos mercenários. Imediatamente enviei uma mensagem a Orsted sobre tudo o que havia acontecido em Millis, a identidade do apóstolo do Deus-Homem e o conteúdo da carta.
Não iria esperar por uma resposta, estava indo atrás de Geese. Um problema: Não tinha como saber para onde ele tinha ido. Trabalhar sozinho seria tolamente ineficiente. Voltei à igreja e pedi que emitissem um mandado de prisão contra Geese. Em seguida, fui até os Cavaleiros do Templo e exigi que enviassem grupos de busca por toda Millishion e arredores.
No entanto, Geese era um apóstolo do Deus-Homem.
Ele podia ver o futuro.
Geese, o cara que chegou ao rank S sem nenhuma habilidade de combate.
Não havia a menor chance de pegá-lo.
Tradução: NERO_SL
Revisão: Pride
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