— Nina, uma carta.
Era verão quando uma carta chegou à porta da Rei da Espada Nina Falion. O Santuário da Espada estava sempre frio graças às constantes nevascas que caíam durante todo o ano, mas este dia era tão quente quanto o início da primavera. O mestre do salão de treinamento, o Deus da Espada Gal Falion, parou antes do meio-dia; dizendo:
— Você tem que ser um idiota para treinar em um dia tão bom, então vocês podem fazer o que quiserem por hoje. — E então marchou galantemente para um local de cochilo.
Nina era o animal de estimação do professor, então sua ideia de “o que você quiser” era continuar praticando, mas fez uma pausa quando ouviu falar dessa carta.
— Uma carta? Eu…Sol… Ah!”
Nina, encharcada de suor enquanto recebia a carta, abriu um sorriso. No outro lado do envelope, estava o emblema do Estilo Deus da Água com um nome familiar escrito abaixo: Isolde Cluel
A principal espadachim do Estilo Deus da Água, com quem Nina havia treinado apenas alguns anos antes. Nina lembrou que ela estava trabalhando no Reino de Asura como instrutora de luta de espadas, enquanto também gerenciava um campo de treinamento do Estilo Deus da Água. O relacionamento delas era amigável, mas se distanciaram desde que Isolde deixou o Santuário da Espada. A carta dela tornara-se uma agradável surpresa.
— Humm…
Mais do que apenas agradável! Nina rasgou o envelope com vigor antes de retirar a folha de papel de dentro do envelope, no entanto, o brilho em seu olhar se esvaneceu no momento em que colocou os olhos sobre as linhas bem embaladas de palavras que o papel continha.
— O que diz?
Nina, bem, não sabia ler.
Ela poderia reconhecer o nome de um conhecido, mas não tinha alcançado o nível de compreender passagens inteiras. Isso nunca importou muito aqui no Santuário da Espada.
Posso pedir pra alguma outra pessoa ler, ela pensou. Havia pelo menos algumas pessoas vivendo naquele salão de treinamento que cresceram com uma escolaridade adequada. Alguém poderia lê-la. Provavelmente.
Nina foi para o quintal. Lá, alguns dos aprendizes estavam tomando sol enquanto se divertiam jogando conversa fora. Normalmente, seria trabalho dela repreendê-los quando relaxavam; os aprendizes se levantariam apressados e se desculpariam logo depois, no entanto, hoje foi um raro dia em que o mestre lhes disse com todas as letras para tirar o dia de folga, então Nina não disse nada sobre seu comportamento e, em vez disso, perguntou se alguém poderia ler sua carta. Os aprendizes trocaram olhares antes que um levantasse a mão. Nina entregou a carta para aquele que alegou que “poderia ler a linguagem humana” e pediu-lhe para fazê-lo.
O conteúdo da carta era bastante simples. Ele resumia o que ocorreu nos últimos anos, bem como o que vinha acontecendo ultimamente, com a morte de Reida, as dificuldades de administrar o campo de treinamento, e as intensas brigas de Isolde com Ghislaine como instrutora de espada. Nina sorriu com esse último detalhe; ela podia imaginar a autoritária e certinha Isolde furiosa com um dos comentários selvagens de Ghislaine, mas aquele sorriso ficou sério quando chegaram à última parte.
— A coroação de Sua Majestade Ariel será realizada em breve. O mês inteiro será um grande festival nacional. Eu adoraria que você viesse visitar para a ocasião.
No momento em que Nina ouviu essas palavras, resolveu viajar para o Reino de Asura. Não houve debate. O estilo do Deus da Espada pregava que o primeiro a fazer um movimento seria o vencedor por uma razão. O momento em que ela quis ir foi aquele no qual partiu.
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A rua principal de Arus, capital do Reino de Asura, estava completamente inundada de pessoas. Eram tantas que a menor oscilação para algum lado forçaria você a bater os ombros, ou que você não poderia ver mais do que alguns metros à frente. Mais denso do que uma família de lobos da neve crescidos — uma matilha cheia.
A capital do Reino de Asura atraiu pessoas de todo o mundo conforme se preparava para a próxima coroação. Gente do campo que veio na esperança de ter um vislumbre do governante da nação mais forte do mundo, nobres enviados de terras estrangeiras que vieram dar suas bênçãos em nome da diplomacia, espadachins errantes que achavam que este seria o momento perfeito para encontrar algum trabalho no palácio, aventureiros que previram que a guilda estaria de mãos atadas e vieram para conseguir alguns trabalhos simples e bem remunerados, foras-da-lei que estavam fugindo e apostaram que o melhor lugar para esconder uma árvore era na floresta, comerciantes que vieram vender mercadorias obscuras — para encher os bolsos em cima de uma multidão enorme e festiva; todas as raças que viviam no Continente Central, e algumas que viviam além dele entraram nesta nação. E a cereja no bolo, os Cavaleiros Brancos do Reino de Asura sediariam um desfile, então mesmo os moradores da cidade recheavam a rua principal para ver seus amados cavaleiros em toda sua glória.
Whuuuhh…
No meio de tudo isso, Nina estava sendo jogada de um lado para o outro enquanto tentava caminhar em direção ao centro da cidade. Foi a primeira vez em sua vida em que viu tantas pessoas. Já tinha estado em cidades que achava serem bem grandes, mas a visão massiva da multidão fez esse pensamento murchar.
— Tch, olhe para onde você está indo, sua porquinha!
— Oqu… Ah, você é… Huh?
No momento em que percebeu que alguém estava a insultando, eles foram engolidos pelo mar de pessoas.
Isso era novidade para Nina. Ela era, para constar, uma Rei da Espada; com seus sentidos afiados, poderia identificar o sujeito e segui-lo, se quisesse, entretanto, ele simplesmente a xingou e continuou andando. Ele provavelmente sequer se dignou a olhá-la nos olhos. “Talvez esse tipo de coisa seja um tipo de cumprimento na cidade”, pensou. Se este fosse o Santuário da Espada, ela teria enviado qualquer um que falasse com ela dessa maneira direito para um curandeiro, mas talvez, na capital, ser achincalhado não significasse necessariamente que estavam procurando briga.
— Ei, linda dama, gostaria de dar uma olhada?
— L-linda? Quem… Eu?
Depois de mais alguns passos tímidos, Nina descobriu que a pessoa que a estava chamando era um comerciante. Ele estava vendendo algo em uma pequena loja nas proximidades.
— Oh, mas é claro! Nunca vi alguém tão bonita como você, a propósito, madame, você parece nova na capital, não?!
— Sim! Como você sabia?
— Huh? Oh, você não é daqui. Se perder em uma multidão como essa é o sinal mais verdadeiro de um forasteiro.
Ouvir que ela estava agindo como um caipira fez o rosto de Nina ficar vermelho-beterraba. Ela acreditava que poderia se portar bem na capital, mas para os reais moradores do lugar, sua ideia de cidade grande não era mais que o rancho.
— Com certeza é uma multidão enorme. Acha que todos estão aqui para a coroação?
— Isso faz parte, é claro, mas hoje também é o desfile dos cavaleiros, então todos estão se reunindo na rua principal.
— Entendo…
— Você viu todas as placas, certo? Eles disseram que quem quiser ver o desfile deve ir para a rua principal, enquanto aqueles que não quiserem devem pegar a estrada secundária, a “Saalten Street”…
— Desculpe, mas eu não posso…
— Ah, entendi, entendi. De fato! Se você não tem necessidade de ver o desfile, então talvez você poderia vir à nossa loja? É muito fácil entrar na Saalten Street pela porta dos fundos.
— Tem certeza? Mas eu não posso pagar a…
— Oh, eu jamais sonharia em cobrar… Ah, é verdade, se você diz que não sabe ler, então eu sugiro que você compre um dos nossos produtos. É um livro ilustrado empacotado com uma estatueta, mas o final do livro ensina como lê-lo. Tem comentários e revisões.
— Eu realmente não posso pagar um li—
— Oh, não se preocupe, absolutamente não se preocupe. Nossos livros são muito, muito mais baratos que aqueles que você acharia em qualquer outro lugar. Apenas duas moedas grandes de cobres Asuranos…. Não, eu sinto que isso deve ser algum tipo de destino, então eu vou reduzi-lo a um único grande cobre Asurano e oito pequenas moedas de cobre! O que acha?
Antes que Nina percebesse, estava parada em uma estrada consideravelmente mais vazia, enquanto segurava um livro ilustrado e uma estatueta. Sua carteira agora era mais leve pelo peso exato de uma única moeda de cobre grande Asurano e oito pequenas moedas de cobre.
Ela ficou impressionada com a conversa rápida do vendedor. Nina ficou com a sensação de que havia sido pressionada a fazer algo quando percebeu o que havia acontecido, mas não era inteiramente um sentimento negativo. A velocidade dos ataques do comerciante a lembrou de seu treinamento com o Deus da Espada Gal Falion.
Ainda assim, uma grande moeda de cobre e oito moedas de cobre. Pode ter sido barato para os padrões do mercado de livros, mas era bastante caro para os padrões da carteira de Nina, no entanto, aquele comerciante havia mostrado a ela o caminho, então não pagar sua dívida com ele teria manchado seu nome como Rei da Espada.
Isso foi o melhor, ponderou Nina, e assim ela começou a andar.
Saalten Street era dois metros mais baixa do que a rua principal. Era um pouco úmido e se ramificava em muitos túneis — parecia um atalho para os moradores da cidade em vez de turistas. A estrada em si era larga e assim como o comerciante disse, era mais vazia do que a rua principal; contudo, isso era relativo, já que a rua ainda estava cheia de pessoas… Mas aqui, o fluxo de pessoas estava bem dividido entre aqueles que se dirigiam para o centro da cidade e aqueles que se dirigiam para os limites da cidade, então Nina pode seguir seu caminho sem ser empurrada demais.
— Aposto que agora posso chegar ao salão de treinamento de Isolde ao anoitecer.
O dinheiro que ela pagou antes estava começando a valer a pena. Com isso em mente, ela deu outra olhada no boneco e no livro ilustrado em suas mãos.
A estatueta era um demônio que segurava uma lança, enquanto a capa do livro ilustrado tinha o mesmo personagem desenhado nela. Nosso herói, provavelmente, e extraordinariamente, ele era da raça Superd. Nina não sabia que tipo de história o livro contava, mas como guerreira, ela sempre quis lutar com um Superd. De acordo com sua amiga Eris, os Superd eram incrivelmente fortes. Se Eris, o Cão Louco que irradiava uma ameaça que poderia assustar um diabo, falava dos Superd com respeito, então Nina estava intrigada.
“Além do que, isso vai me ensinar a ler, de acordo com o vendedor. Não vai machucar estudar um pouco entre as sessões de treinamento” – Concluiu enquanto continuava caminhando.
Seu foco mudou quando ouviu aplausos da rua principal. Parecia que o desfile estava começando. Ver tanta comoção a fez se perguntar sobre esse desfile; ela pretendia visitar Isolde primeiro, mas não faria mal passar pela rua principal agora para assistir, não é?!
— Huh?
Mas então ela vislumbrou uma mulher ruiva pelo canto do olho que parecia um pouco familiar.
— Eris?!
O que ela estaria fazendo aqui? pensou enquanto seguia aquela mulher com os olhos. Com certeza era ela! Na rua principal, dois metros acima dela, viu o topo de uma cabeça ruiva. Nina só podia ver por trás, mas aquela postura a fez ter certeza. Sem dúvida, era Eris. Nina não sabia o que estava fazendo aqui, mas não conseguiu resistir à nostalgia que brotava em seu coração.
—Eri — Nina tentou gritar, até que algo a fez engolir suas palavras.
— Suba, Lucie. Consegue ver?
— Aham! Está tudo brilhando.
Aquele algo era a garotinha que Eris erguia em seus ombros.
— Vamos lá, Eris, eu queria dar a ela um passeio no ombro.
— De jeito nenhum. Eu sei que você só quer babar nas coxas de Lucie, assim como você fez comigo ontem à noite!
— Que rude. Eu não sonharia em fazer algo assim com minha própria filha de carne e osso!
— Oh, claro que você não iria!
— Quero dizer, é verdade que eu a amo o bastante para querer ficar babando nela…
Essa conversa era com o homem parado ao lado de Eris. Ela também já tinha visto o homem antes. Foi durante aquele terrível encontro com o Rei Demônio Badigadi.
Ele era o mago que o derrotou em um único golpe.
Este era o homem que vinha sendo chamado ultimamente de “Mão Direita do Deus Dragão”, com avistamentos dele sendo relatados em locais ao redor do mundo:
Rudeus Greyrat.
—…
Nina percebeu que estava tendo um grande choque.
Ela sabia que Eris havia voltado para Rudeus, para ajudá-lo a lutar contra o Deus Dragão Orsted, e como as cartas pararam de chegar depois disso, ela tinha certeza de que os dois haviam morrido, mas também ouviu rumores espalhados de que eles haviam aparecido juntos no Reino de Asura. Rudeus ficou conhecido como a Mão Direita do Deus Dragão depois disso, então Nina assumiu que Eris havia se rendido ao Deus Dragão também.
Tinha certeza de que Eris havia ficado forte, muito mais forte do que antes, mas a Eris que Nina estava olhando agora, estava longe da que ela imaginava. Essa Eris estava brincando e rindo com um homem, e a garota que ela agora tinha em seus ombros era provavelmente sua filha. Nunca ocorreu a Nina que Eris poderia ter se casado, muito menos ser mãe de uma criança. A Eris que ela conhecia — aquela fera indomável, o Cão Louco — agora estava fazendo isso… Vindo para assistir a um desfile e flertando com um marido bem-amado…
— Eu vou… apenas ir ver Isolde.
Com esse pensamento, Nina desviou o olhar.
Nina pensou que se tornar Rei da Espada significava que estava finalmente em pé de igualdade com Eris, mas agora tinha que suportar esse enorme sentimento de derrota.
Nina não viu, mas isso é importante: fora da vista de Nina, obscurecida pela multidão, Roxy e Sylphie estavam ao lado de Rudeus, com Zanoba e Julie por perto.
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Depois, Nina foi para a sala de treinamento de Isolde. A atmosfera solene e o fedor do suor acalmaram seus nervos. Depois de cumprimentar Isolde, Nina foi apresentada aos alunos. Cada um deles, meninos e meninas, carregavam o ar honesto e humilde que só virgens exalam.
Sim, é assim que um verdadeiro praticante de esgrima deveria ser – pensou consigo mesma.
Depois de receber um tour pela sala de treinamento, Nina foi levada para a casa de Isolde. Foram feitos arranjos para que ela passasse a noite lá, durante sua estadia em Arus, já que a casa de Isolde tinha um quarto de hóspedes. O quarto já havia sido ocupado pelo Deus da Água Reida, mas já estava totalmente limpo.
Nina não estava preocupada com Reida e, em vez disso, encontrou alívio no fato de Isolde não mostrar sinais de ter um homem. Ela era o Imperador da Água, uma instrutora de espadas e uma cavaleira; teria sido um verdadeiro partido. Se até mesmo Eris conseguiu se casar e ter filhos, a radiante Isolde também poderia ter arranjado um parceiro. Não seria surpresa para Nina entrar na casa de Isolde e ser apresentada ao seu marido e filho. Ela se preparou para o pior, mas agora sentia uma sensação proporcional de alívio.
— Nina, na verdade, haverá uma pequena reunião assim que o desfile terminar. Tenho certeza de que você deve estar cansada de sua longa viagem, mas você se importaria de se juntar a nós lá? Há muitas pessoas que adorariam conhecer um Rei da Espada.
Isolde propôs essa ideia enquanto Nina estava descarregando sua bagagem e recuperando o fôlego.
— Claro, tudo bem por mim. — Nina concordou de imediato. Ela não sabia o que essa “pequena reunião” deveria ser, mas não era como se ela tivesse planos para a noite, de qualquer maneira. Ela poderia adiar seu passeio até amanhã, ou assim pensou.
Nina começou a se arrepender de sua decisão em menos de uma hora.
Claro, sua linha de raciocínio fez diversas paradas antes de, finalmente, chegar ao arrependimento. Começou com: algo está errado. Foi quando ela viu que Isolde a havia levado para uma mansão gigante perto do castelo real. Hein?! Isso parece um exagero para uma “pequena reunião”, ponderou.
Fui tapeada, pensou logo em seguida. Aconteceu quando ela foi levada para um quarto de aparência extravagante, para escolher um vestido de aparência extravagante, e foi meio que empurrada para dentro por várias empregadas domésticas. Isso definitivamente é algum tipo de festa para a nobreza”, concluiu.
Não deveria ter vindo, era o pensamento que ela tinha em mente. Por que ela concordou tão instantaneamente? Por que ela se juntou tão ingenuamente? Por que ela permitiu que eles a vestissem sem brigar? Nina normalmente teria lutado para se libertar, então, por que não tinha? Deve ter sido porque ela não era normal. Ela estava envolta em um vestido estranho, feito para usar saltos altos precários que a desequilibravam, e foi até mesmo despojada da espada que tinha sido uma companheira tão confiável para seu cinto. Este era o estado em que Nina estava quando Isolde a arrastou para o salão de festas e a apresentou pessoa após pessoa, mas ela logo percebeu algo que lhe deu um pouco de alívio: nem todos aqui eram nobres. Enquanto muitos deles eram, alguns vieram de mundos que Nina entendia, como o cavaleiro humilde ou o jovem mago habilidoso retirado de outro país; e entre aquela multidão haviam pessoas que, assim como ela, tinham sido enganadas para vir, e agora eram peixes fora d’água.
As pessoas se sentem à vontade quando percebem que não estão sozinhas. Enquanto relaxava, Nina se lembrou de que era uma Rei da Espada. Não era nada para ela analisar seu oponente e medir suas chances de vitória. Uma vez que ela confirmou que todos ao seu redor eram fracos, até começou a se sentir um pouco ousada.
Estou faminta, ela pensou com sua recém adquirida coragem. Ela tinha apetite. Ocorreu-lhe que não tinha comido nada desde o meio-dia. Todos os praticantes do Estilo Deus da Espada eram grandes glutões. Fora das vezes em que seu treinamento exigia que ela se escondesse na floresta ou algo assim, nunca pulava refeições, e assim, é claro, seus olhos foram atraídos para o suculento bufê colocado no salão de baile.
Naturalmente, depois de atacar cada pedaço de comida à vista enquanto seus colegas festeiros olhavam, ela se viu precisando recuar para o banheiro mais próximo. Uma criada muito gentilmente a guiou para o banheiro. Nina lutava para colocar seu vestido de volta depois de terminar seus negócios, e a empregada já estava longe quando finalmente conseguiu. Ela se encontrava perdida nesta mansão labiríntica, sem ideia de como chegar ao salão de baile — tudo isso era, é claro, inevitável.
Isso está realmente mexendo comigo, ela pensou, enquanto suspirava para si mesma e caminhava pelo corredor mal iluminado. Nina estava continuamente sobrecarregada pela atmosfera de todos os lugares em que esteve, desde que chegou ao Reino de Asura, e isso a manteve desequilibrada e um pouco desassociada. Sua crença de que poderia enfrentar o mundo, agora que era o Rei da Espada, estava em frangalhos.
— Eu costumava fazer as coisas sem precisar pensar tanto…
Talvez fosse porque ela agora era um Rei da Espada com discípulos, ou talvez fosse porque encontrou Eris e sua personalidade passou para ela. Ao contrário dos velhos tempos, não conseguia mais agir sem pensar nas consequências. Ela acreditava que essa mudança a tornara uma guerreira melhor, mas…
— Ah, certo, esqueci de contar a Isolde sobre Eris.
Eris estava na cidade, então Nina queria sugerir outra sessão de treinamento com as três, mas no momento em que considerou, a imagem do que viu naquela tarde passou por sua mente. Ela balançou a cabeça para tirar isso da mente.
Essa não era mais a Eris que eu conhecia – pensou.
Ela queria esquecer isso e voltar para o salão de baile o mais rápido possível. Daria uma desculpa qualquer para poder ir para casa. Pode ter sido desconfortável na mansão, mas havia muitos outros pontos turísticos famosos para ver em Asura. Isolde poderia lhe mostrar os arredores… Não, sua amiga com certeza estaria ocupada, então teria que explorar por conta própria. Tinha algum tipo de festival acontecendo na cidade, então certamente poderia encontrar uma maneira de se divertir. Talvez pudesse visitar o salão de treinamento do Estilo Deus da Espada na cidade.
Certo, tudo bem… Hm?
Logo depois de firmar sua determinação, Nina viu uma sala com luz vazando dela. A porta era pequena; certamente não uma que levasse ao salão de baile, ainda assim, provavelmente havia alguém lá que sabia o caminho para isso, então Nina imaginou que poderia pedir instruções. Sentindo-se meio aliviada, se aproximou da porta e…
— …Vossa Majestade Ariel, certamente você não quer que isso seja tornado público, não é?
Essa era uma ameaça clara. Ela parou no lugar.
Vossa majestade… Ariel?
Ela percebeu. Mesmo uma caipira, Nina sabia que havia apenas uma pessoa neste país que seria abordada dessa maneira.
Ariel Anemoi Asura.
A rainha que teve um retorno meteórico à realeza depois de passar quase uma década no distante Reino de Ranoa, e cativou os corações de seu povo. Seria fácil sugerir que as festividades e a fanfarra em toda a capital de Arus eram todas dedicadas a essa mulher solteira.
— Hã? O que você poderia querer dizer?
— Você está dizendo que não se lembra?
Nina caminhou levemente, enquanto se aproximava da porta. Uma vez lá, espiou para dentro da sala através da rachadura aberta.
Oh!
Dentro havia um homem e uma mulher; uma mulher loira sentada em uma cadeira e um homem de cabelos castanhos claros de pé ao seu lado. O homem tinha um rosto que parecia familiar para Nina.
— Ah, por favor. Isso pode ser qualquer coisa…
— Ah, não, na verdade-
Rudeus Greyrat.
O homem que riu com Eris naquela tarde. Ele aproximou seu sorriso diabólico da bochecha de Ariel.
Ele está pressionando-a para ter relações carnais! Pensou Nina.
Rudeus Greyrat era um homem conhecido por ter duas outras esposas, além de Eris. Nina se lembrou dos rumores sobre ele ser bastante… amoroso também. Alguns sussurravam que ele também havia feito muito trabalho nos bastidores para ajudar Ariel a se tornar governante. Se ele realmente estava sob o comando de Orsted, então provavelmente ajudou Ariel como peão de Orsted, e agora, estava chantageando-a para dormir com ele.
Eu vou matá-lo! – Nina decidiu no mesmo instante.
Não preciso pensar. Ela não sabia com que segredo Ariel estava sendo chantageada. Ela não sabia o quão forte Rudeus era. Isolde estava sob o comando de Ariel. Se o chefe de uma amiga estava sendo chantageado, então não havia razão para manter a lâmina guardada. Ela nem sequer tinha sua espada, mas nada disso importava; Nina encontraria uma maneira de cortá-lo.
Este seria o ponto em que Nina, se estivesse com a cabeça no lugar, diria a si mesma para esperar um momento… mas as últimas horas haviam sobrecarregado sua capacidade de autocontrole, mas antes que ela pudesse agir, os sentidos de Nina a alteraram para uma aura de animosidade logo atrás dela.
— Gah!
Ela cambaleou. Lá, um monstro em um vestido vermelho-sangue estava diante dela.
— Eris?
Nina não tinha pensado que estaria aqui, mas Eris estava sempre ao lado de Rudeus. Como ele estava bem aqui, é claro que ela também viria.
— Nina?
A expressão de Eris se reduziu à uma de suspeita, mas sua fúria logo retornou.
— Quer me dizer para quem você está apontando toda essa sede de sangue?
Merda, pensou Nina. Não havia como parar Eris quando ela ficava assim. Se elas entrassem em conflito, então Rudeus viria correndo daquela sala. Ela estava arriscando uma briga de dois contra um. Eris pode não ter tido uma espada, mas ser flanqueada por um mago seria…
— Huh? Já voltou, Eris?
No momento em que Nina pensou no pior cenário, isso já havia acontecido. A porta atrás dela se abriu e rosto de Rudeus se revelou. Nina entendeu instantaneamente que a vitória estava fora de questão, mas enfrentar o impossível com a tenacidade de uma besta selvagem era o núcleo do Estilo Deus da Espada. Nina começou a concentrar sua força em seu núcleo.
— Agora, então, Sir Rudeus, acredito que está na hora de nos juntarmos à festa. Estamos deixando nossos convidados esperando.
Quando Ariel apareceu ao lado de Rudeus tão indiferente quanto poderia ser, toda a força de Nina se desfez. A expressão de Ariel não desmentia uma pitada de desespero ou intimidação. Alguma coisa estava muito errada aqui. Outra vez. Esse era um sentimento com o qual ela se familiarizou bastante nas últimas horas.
— Você… você não está sendo chantageada? — Ela perguntou enquanto se dobrava sobre si mesma.
— Hm? — Ariel olhou para a posição de Nina e simplesmente inclinou a cabeça.
Nina e Ariel nunca se conheceram de verdade, mas após comparar a postura e a expressão de Nina com a de Eris e ao refletir um pouco sobre a conversa que acabara de ter, Ariel deduziu o que estava acontecendo.
— Oh não, fui eu quem fez um pedido a Rudeus e ele recusou. Eu, contudo, queria sua ajuda, então apresentei o que eu pensei que seria uma fraqueza dele, mas fui superada… Será que você só ouviu a segunda metade dessa troca, presumiu que eu estava sendo ameaçada e estava vindo em meu socorro?
Nina assentiu fracamente com os olhos ainda arregalados. Ariel segurou levemente o braço de Nina e a ajudou a se levantar com cuidado.
— Muito obrigada. Acredito que ainda não nos encontramos. Meu nome é Ariel Anemoi Asura, a nova governante do Reino de Asura.
— Uh, ah, hein?!
Ali estava a futura líder de um reino em toda a sua glória, e ela ainda sentia a necessidade de trocar apresentações. Incapaz de processar essa série de eventos, Nina entrou em pânico e se virou para Eris. Ela olhou para Nina com suspeita, mas suspirou e deu corda pra ela.
— Essa aqui é Nina.
— Uma conhecida sua, Lady Eris?
— Sim, ela é a Santa da Espada Nina Falion. Nós treinamos juntas no Santuário da Espada.
Nina percebeu que precisava evitar a próxima parte da conversa, onde Eris inevitavelmente diria que não tinha ideia do que sua ex-parceira de treinamento estava fazendo aqui.
— E-eu sou um Rei da Espada agora! O mesmo que você!
— Oh… você é? Parabéns.
Nina ficou em silêncio depois daquele leve elogio. Parecia que tinha acabado de se gabar de seu título sem motivo. Tudo o que ela queria era dar um pouco de contexto…
— Entendo, Lady Nina. A festa de hoje foi planejada por Rudeus e eu. Acredito que teremos a chance de conversar mais tarde, mas por enquanto, por favor, relaxe e aproveite a noite.
— Ah, c-claro.
Ariel sorriu calorosamente e caminhou pelo corredor com Rudeus. Depois de vê-los partir, Nina soltou um suspiro enorme. Este dia continuou botando-a para baixo.
— Então, o que você está fazendo aqui, afinal? — Eris exigiu saber, ao ficar para trás com ela.
Nina se virou para encarar sua velha amiga. Seu vestido carmesim e seu penteado combinavam com ela; sua escolha de colar, brincos e outras peças de joalheria eram modestos e de bom gosto. As características sutis de uma verdadeira dama.
— Hm… Eris Seu vestido, er, ficou bom.
— Heh heh, claro que sim! Rudeus escolheu ele mesmo!
Havia aquela faísca. “Eris não mudou tanto assim, no fim das contas” – pensou Nina. Era difícil imaginar que essa mulher orgulhosa que agora estufava o peito, fosse aquele animal selvagem de antes, mas, mesmo assim…
Nina suspirou e começou a descarregar em Eris.
— Você tem que ouvir isso. Então, Isolde…
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No final, Nina nunca descobriu para que era a festa. Quando ela e Eris voltaram para o salão de baile, encontraram Rudeus dirigindo-se à multidão:
— O Deus Dragão Orsted é seu aliado! Aja agora e incluiremos isso como nosso presente extra totalmente grátis! Não se preocupe, não há taxa para se inscrever. Tudo o que pedimos é que você simplesmente reúna sua força em preparação para alguma guerra daqui a oitenta anos e, quando chegar a hora, empreste essa força ao Deus Dragão Orsted. Se você fizer esse pequeno compromisso, a Corporação Orsted garantirá seu apoio pelos próximos cem anos! O Deus Dragão Orsted irá salvá-lo em sua hora mais escura, de perigos que vão desde as profecias de figuras divinas escusas, até os terrores das invasões domiciliares. Por favor, um voto para o Dragão Orsted é um voto para um futuro brilhante!
Nina não conseguia entender o que ele estava dizendo, então ela simplesmente assentiu.
Rudeus parecia estar reunindo aliados. Assumindo que seu último encontro realmente foi um mal-entendido, então ela não se oporia a ajudar o marido de Eris, ainda assim, não entendeu muito bem o que ele queria. Uma guerra irromperia em oitenta anos, então ele queria que eles ajudassem Orsted quando chegasse a hora… o que significava que queria que eles reunissem forças até então. Isso foi um pouco elaborado.
Nina não estava sozinha; muitos outros convidados pareciam estar igualmente confusos. Mas no final, todos assentiram. Provavelmente ajudou que nem uma única pessoa naquela sala recusasse um pedido de Ariel.
Depois da festa, Nina ficou na mansão por sugestão de Eris. Isolde se juntou a eles. Descobriu-se que todo o lugar era um presente que Ariel havia fornecido a Rudeus, então eles estavam livres para usá-lo como quisessem, ou assim Eris ostentou.
Naquela noite, as três se reuniram para sua primeira conversa juntas em anos. Eris continuou a falar sobre absolutamente nada além de Rudeus, e até Isolde estava resmungando sobre como ela estava começando a querer um parceiro próprio. Ver aquelas duas ricochetearem uma na outra de alguma forma lembrou Nina dos velhos tempos; o conteúdo do que elas falavam poderia ter mudado um pouco, mas a diversão que ela tinha na presença delas não havia mudado nem um pouco. Só isso fez a viagem à capital de Arus valer a pena. No momento em que o dia seguinte chegou, seus sentimentos tolos de ciúme e derrota haviam diminuído. Se sentia como ela mesma.
Nina provou tudo o que Arus tinha a oferecer até a conclusão das festividades da coroação. Os pontos turísticos, as multidões e as salas de treinamento. Quando ela queria ir a algum lugar, ela ia, e não foi sozinha; houve muitos dias em que Isolde não pôde se juntar a ela devido a obrigações de trabalho, mas por algum motivo, Eris ficou com Nina o tempo todo.
Eris tagarelava sobre Rudeus toda vez que abria a boca, então Nina tinha que se perguntar por que ela não ficava com o marido, mas depois de passar tanto tempo com Eris, começou a entender o seu processo de pensamento: ela queria que Nina aceitasse seriamente a proposta de Rudeus. Eris não era boa com palavras, o que tornava difícil entender qual era seu ponto de vista, mas seu espírito sincero e direto comoveu o coração de Nina. O pedido de Rudeus passou de um jargão incompreensível para algo que ela agora considerava seriamente.
Nina voltou ao Santuário da Espada depois que a coroação terminou. Ela pensou um pouco ao longo do caminho sobre como concordara em se juntar às forças de Orsted daqui a oitenta anos, sobre o quão feliz, brilhante e alegre Eris parecia, e como Rudeus estava ao lado dela.
Pensava neles enquanto esporava seu cavalo. Ela não se comprometeu totalmente com isso, mas quando viu a pessoa que veio lhe dar as boas-vindas quando chegou no Santuário da Espada, algo se encaixou.
Era o primo da Nina. Um jovem que seguiu seus passos para se tornar Santo da Espada, e agora estava à beira de alcançar o Rei da Espada: Gino Britz. Nina olhou para ele e disse a primeira coisa que lheveio à mente. Não hesitou. O estilo do Deus da Espada pregava que o primeiro a fazer um movimento seria o vencedor por uma razão.
“Ei, Gino. Quer se casar?”
Pouco depois, o Santuário da Espada foi o lar de um novo casal, mas isso é uma história para outra época.
Tradução: Black Lotus
Revisão: Akira C-137
QC: Pride
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