Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 19 – Cap. 08 – Uma Mensagem Urgente, e os Verdadeiros Sentimentos de Zanoba

 

Passaram dez dias desde a batalha do Forte Karon. Naquele momento, Zanoba havia proposto um cessar-fogo com o inimigo, usando nosso refém real como moeda de troca. Eu não sabia os detalhes específicos, mas parecia que a guerra terminaria oficialmente em breve.

Também enviamos um mensageiro à capital em um cavalo veloz para informá-los de nossa vitória, do cativo que conquistamos e de nossos esforços para estabelecer uma trégua. Zanoba havia prosseguido com as negociações de paz sem esperar por ordens do rei, mas Shirone não estava em condições de travar uma guerra prolongada, então era difícil imaginar Pax se opondo. Afinal, o homem não era estúpido. Embora tenha sido preocupante que a resposta não chegou de imediato.

Mesmo depois de mais de uma semana, o forte ecoava com comentários apaixonados sobre nossa vitória na batalha. Roxy e eu deixamos uma grande impressão com nossos feitiços enormes e chamativos, enquanto o desempenho ousado de Zanoba na linha de frente também foi discutido. Algumas das tropas ainda estavam com a adrenalina em alta, eu acho.

Talvez por causa do meu desempenho em batalha, ou da maneira como lidei com aquele ataque furtivo, os soldados finalmente estavam se aproximando um pouco de mim. Sempre me trataram com educação, mas seus rostos costumavam se fechar toda vez que me viam. Ultimamente, no entanto, estava recebendo sorrisos de verdade das pessoas que encontrava. Tinha até um pouco de conversa fiada. Acho que me promoveram de “mago estrangeiro perigoso que apareceu do nada” para algo como “um camarada de guerra.” Ao menos ninguém me incomodou a respeito dos soldados que matei acidentalmente com a minha magia.

Entre isso, minhas sessões regulares de aconselhamento com Roxy, junto às tentativas de Zanoba de me animar, consegui me recompor emocionalmente. Neste ponto, eu poderia relembrar das minhas ações sem vê-las como crimes ou erros terríveis.

Honestamente, me culpei muito por tudo. Este não era um mundo amplamente pacífico, e eu era um subordinado direto de Orsted. Para proteger minha família, escolhi lutar contra um deus cruel. Eu devia saber que esse dia chegaria. Em algum nível, devo ter aceitado isso, mesmo que sem entusiasmo.

Mas, mesmo assim, tinha certeza de que não me alistaria em nenhuma outra guerra depois desta, não importa quem tentasse me recrutar. A guerra era como… um mundo totalmente diferente. Prefiria aquele em que costumava viver. Não ia matar ninguém a menos que fosse absolutamente necessário. No final das contas, decidi manter minha antiga política. Por um lado, toda essa angústia sobre isso depois do fato era exaustiva. Dificilmente valeria a pena tirar vidas se tudo o que conseguisse fosse um monte de colapsos nervosos de uma semana, sabe?

Mas agora estava tentando deixar tudo isso para trás, de qualquer forma. Avançando…

Fiquei alerta para sinais de perigo nos dez dias desde a batalha, mas nada demais aconteceu. Minha capacidade de mana havia sido totalmente reabastecida a essa altura, então estava no auge da minha condição de combate. Também tinha a Armadura Mágica Versão Um a mão e não estava me permitindo ficar descuidado. Era difícil imaginar o Deus da Morte vindo atrás de nós nesse momento. Sua vantagem teria sido maior se tivesse atacado durante nossa audiência com Pax.

A possibilidade de que o Deus-Homem não estivesse realmente manipulando nada se tornava mais plausível a cada dia. Talvez fosse como Orsted disse. Talvez esses eventos tenham ocorrido na outra linha do tempo e simplesmente não tenham sido mencionados no diário. Zanoba podia ter lidado com esse problema sem minha ajuda, ou podia nunca ter sido convocado, para começar.

Mas não chamaria essa viagem toda de perda de tempo. A vida do meu amigo esteve  em genuíno e sério perigo. Agora, entretanto, a guerra estava acabada. Não havia mais exércitos inimigos à espreita nas fronteiras de Shirone. Essa conquista com certeza seria suficiente para satisfazer o senso de dever de Zanoba. Agora só tínhamos que convencê-lo a voltar para casa, para a Sharia. Eu não ia deixá-lo aqui sob o controle de Pax.

— Hnnngh!

Estiquei meus braços e costas enquanto me deleitava com o sol da manhã. Eu não tinha nenhuma prova sólida de que o Deus-Homem não estava tramando alguma coisa, mas considerando que ficamos sozinhos por tanto tempo, as chances de ele ter armado uma armadilha para mim eram baixas. Graças a esse pensamento tranquilizador, tive uma boa noite de sono pela primeira vez. Acordei cheio de entusiasmo e decidi ir lavar meu rosto em um rio por perto. Um pouco de magia teria servido muito bem ao trabalho, mas estava com vontade de dar um passeio.

Quando cheguei lá, alguns pequenos grupos de soldados já estavam na margem do rio, jogando água no rosto e escovando os dentes.

— Ei, é o Rudeus! Bom dia, senhor!

— Obrigado pela vigia ontem à noite de novo!

— Sabe, eu só assumi que aquele enorme traje de metal era algum brinquedo do Príncipe Zanoba ou algo assim. Que implemento mágico impressionante!

Fiquei cercado antes mesmo de chegar à beira da água. Realmente me tornei popular de repente neste forte. Essa enxurrada diária de lisonjas com certeza exigia algum tempo para se acostumar.

Aliás, os soldados estavam todos vestidos com camisas e calças marrom-claras, a roupa padrão que usavam quando estavam de folga. O traje era o mesmo para homens e mulheres. E parecia que as mulheres não usavam sutiãs para dormir, a julgar pela visível demonstração de ânimo atualmente exibida por aquela arqueira que me deu um abraço outro dia. Que maneira adorável de começar minha manhã.

— Ah, eu estava me perguntando o que era essa multidão. Bom dia, Mestre Rudeus.

Virando-me, vi que Zanoba também foi caminhando até nós. Ele usava exatamente a mesma roupa que seus soldados. Graças à sua altura e membros estranhamente magros, parecia um NEET sujo deixando seu quarto pela primeira vez em um ano.

— Príncipe Zanoba!

Apesar de sua aparência nada real, todos os soldados caíram de joelhos ao vê-lo.

— Não há necessidade disso. Sigam em frente e retomem seu banho.

— M-Mas Vossa Alteza…

— No momento, sou um soldado sonolento como o resto de vocês — disse Zanoba, enfatizando seu ponto com um grande bocejo. — E certamente você não espera que eu aja todo poderoso com esta roupa, não é?

O homem andava absurdamente ocupado ultimamente. Eu não poderia contar todos os detalhes, mas evidentemente havia mil tarefas diferentes que precisavam ser feitas após uma batalha em escala tão grande.

Aliás, embora os caídos tenham sido deixados no campo de batalha, um grupo de coletores de aparência dura apareceu em poucos dias para despojá-los de seus equipamentos e incinerar os corpos. Parecia que havia pessoas que viviam em zonas de guerra e ganhavam a vida com esse tipo de trabalho. Uma espécie de versão profissional dos camponeses que caçavam samurais desertores por dinheiro.

Zanoba e eu fomos juntos até a margem do rio e nos ajoelhamos para molhar o rosto com água.

— … Então, como vão as negociações? Acha que vão assinar a trégua?

Em vez de pular direto para o modo de persuasão, comecei com um golpe teste. Uma vez que essa trégua fosse assinada e implementada, não haveria nenhuma necessidade real de Zanoba ficar por Shirone. Afinal, a guerra terminaria.

— Vão. Recebemos uma resposta provisória ainda ontem, na verdade. Embora nenhuma decisão oficial tenha sido tomada, tudo indica que aceitarão uma trégua em breve. Não deve haver mais incursões por… ah, pelo menos nos próximos três anos.

Com essas palavras, vários dos soldados ao alcance da voz murmuraram de excitação.

Whoops. Talvez não fosse uma pergunta que deveria ter feito em público… mas acho que a notícia foi boa, então não deve ser um grande problema.

Esse boato sobre “três anos” foi interessante, no entanto. Dada a forma como expressou a frase, Zanoba pensou que o Reino de Bista não havia abandonado totalmente suas esperanças de conquistar Shirone, apesar da derrota esmagadora no outro dia.

Presumi que dispensariam a maior parte de sua atual estrutura de comando, o que significava que teriam de encontrar novos generais competentes. Restabelecer suas forças também levaria tempo, e teriam que encontrar alguma desculpa meio plausível para quebrar a trégua que estavam prestes a assinar. Levaria, no mínimo, três anos para cuidar de toda a logística. Na prática, pode levar muito mais tempo até que estejam prontos para fazer outro movimento…

— Mas deve ser tempo suficiente para nossos propósitos — disse Zanoba. — Com três anos de paz, tenho certeza de que nosso reino ficará forte e estável novamente.

Enquanto Bista estivesse se reagrupando, Shirone teria a chance de reconstruir totalmente seu próprio governo e exércitos.

— Acha que o Rei Pax consegue fazer isso? — perguntei.

— Não duvido nem por um momento — respondeu Zanoba com um aceno de cabeça firme e confiante.

Eu não tinha certeza de onde vinha sua certeza, mas talvez houvesse algum plano em andamento. De uma forma ou de outra, parecia que esta guerra havia acabado. Isso com certeza não demorou muito.

— Bom ouvir isso. Espero que assinem logo para que ele possa começar — falei.

— De fato…

Havia felicidade no rosto de Zanoba naquele momento, mas também uma pitada de melancolia. Acho que conseguia entender isso. Ele não teria mais tantos papéis a desempenhar assim que as coisas estivessem boas e pacíficas.

Esta parecia ser uma boa oportunidade para mudar de marcha.

— Ei, Zanoba… o que planeja fazer depois, quando esta guerra acabar?

Comecei com um segundo golpe leve, embora a pergunta tenha saído soando mais sinistra do que eu pretendia. Esperançosamente, Zanoba não teria planos de propor casamento a alguém, o que seria o prenúncio mais que certo de sua morte. Se ele me rebatesse com “Já comprei o buquê”, salvar a sua vida já estaria além do meu alcance.

— Acho que voltarei à capital para receber novas ordens de Sua Majestade, antes de tudo. Embora ele também possa optar por me manter informado neste forte por enquanto…

— Quer dizer que vai ficar aqui? Em Shirone?

— … Hm? Bem, sim. Naturalmente.

Para ser justo, essa era a resposta que eu esperava. Ainda assim, quase parecia que o pensamento de retornar à Cidade Mágica de Sharia nunca havia passado por sua cabeça. A Armadura Mágica ainda não havia sido totalmente aperfeiçoada, nosso estudo da boneca automatizada estava parado no meio do caminho e nossos planos de vender estatuetas produzidas por Julie só agora começavam a se concretizar. Ele não se arrependeria de deixar algum desses projetos inacabados?

Bem, é claro que sim. Ele era apaixonado por tudo isso.

— Olha, Zanoba…

— Sim, Mestre Rudeus?

— Assim que a trégua for assinada, que tal voltar para casa, para Sharia, comigo? Vamos continuar fazendo estatuetas juntos.

Porra, isso meio que soou como uma proposta. E nem comprei um buquê primeiro.

Sabe … talvez seja uma proposta, de certa forma. Não estou querendo me casar nem nada, mas basicamente estou pedindo a ele que me escolha em vez de sua terra natal.

Zanoba olhou para mim sem expressão, a água continuando a pingar de seu rosto. Toda a emoção se esvaiu dele. Era difícil acreditar que ele estava sorrindo tão alegremente apenas um momento antes.

Nada bom. Ele claramente iria me dispensar. Ferrei com tudo, não foi? Eu deveria tê-lo deixado de bom humor antes de declarar como me sentia. Todos os meus sensores de rejeição bem calibrados estavam gritando preparar para impacto. Esse cara estava prestes a partir meu coração.

— Uh, quero dizer… não é como se eu estivesse pedindo para você abandonar o reino ou algo assim, apenas… Hmm?

Nesse momento, ouvi um barulho vindo do forte, e o barulho alto de cascos contra a terra. Não havia cavalaria estacionada no Forte Karon. Quem poderia ser?

Olhei para trás, em direção ao forte, a tempo de ver um único cavaleiro virando para seguir em nossa direção.

— Hmm. Um mensageiro da capital, talvez? — disse Zanoba quando nos levantamos. — Espero que traga uma carta de Pax sobre nossas negociações.

— Então, qual é o plano se ele disser para você ficar aqui lutando até que o inimigo seja completamente esmagado?

— Ah, boa pergunta. Suponho que seja possível, se você tiver a gentileza de nos acompanhar…

Enquanto brincávamos, o cavalo se aproximava cada vez mais. Percebi que reconheci seu cavaleiro. Era alguém que ambos conhecíamos bem.

— Ginger?

Era ela mesma, e estava conduzindo seu cavalo para a frente com uma expressão de puro desespero em seu rosto. O que estava acontecendo?

Ela nos viu e virou o cavalo bruscamente, esporeando-o diretamente para nós. Os soldados próximos se interpuseram entre nós, formando uma parede protetora.

— Essa é minha guarda pessoal! — gritou Zanoba. — Abram caminho imediatamente!

Uma expressão de alívio passou pelo rosto de Ginger quando as tropas se afastaram e Zanoba avançou para encontrá-la. Então ela escorregou da sela e caiu no chão.

— Ginger! O que aconteceu?! Fale comigo!

— Haaah… haaaa…

Zanoba a levantou do chão em seus braços. Ela estava claramente angustiada, e sua respiração soava áspera e forçada. Não tinha ferimentos externos óbvios, mas seu rosto estava nublado pela exaustão. Parecia que ela esteve andando em alta velocidade por dias, sem um momento de descanso.

— U-Um levante em Latakia, Vossa Alteza. Jade, o ex-general, levantou-se em nome do Décimo Primeiro Príncipe. Seu exército… cercou o palácio real!

Conseguindo apenas ofegar sua mensagem, Ginger imediatamente caiu inconsciente.

— O Décimo Primeiro Príncipe? Mas havia apenas dez de nós! Qual é o significado disso, Ginger?! Explique-se… você deve explicar logo!

— Calma, Zanoba. Ela obviamente precisa de um pouco de descanso…

Depois que fiz Zanoba parar de sacudir Ginger freneticamente em seus braços, nós a levamos para um quarto dentro do forte para se recuperar.

O Décimo Primeiro Príncipe era um garoto chamado Haruha Shirone.

Ele era uma criança de três anos de idade, gerado pelo ex-rei Palten Shirone bem tarde na vida. Sua mãe vinha de uma família de fazendeiros, uma linhagem que deveria tê-la desqualificado completamente como potencial consorte real. Por esse motivo, a existência de Haruha nunca foi reconhecida publicamente. Oficialmente “encontrando emprego” com um senhor provincial, sua mãe recebeu uma mansão isolada em um canto distante do reino para criar seu filho em segredo.

Pouquíssimos do reino sabiam sobre a existência de Haruha. Dentre esses, o próprio rei; o ministro que cedeu a mansão, e o General Jade, que por acaso era o irmão da mãe de Haruha.

Dois desses homens morreram no expurgo sangrento de Pax, mas o General Jade não.

Jade havia feito um juramento de lealdade eterna ao antigo rei. Apesar de suas origens humildes, Palten reconheceu os talentos incomuns do homem e o elevou constantemente na hierarquia até sua posição. Essa posição permitiu que Jade elevasse sua família de uma vida de pobreza esmagadora para uma vida de conforto e indulgência. Jade devia tudo ao rei, e sua gratidão era grande. Tão grande que quando os olhos do rei pousaram em sua irmã mais nova, ele a ofereceu de bom grado.

Na época do golpe de estado de Pax, Jade estava estacionado no Forte Karon. A guarnição do forte somava quase mil naquela época. Jade pegou metade desse número e voltou correndo para Latakia. Porém, quando chegou, era tarde demais: soube que o rei já estava morto, junto com o resto da família real.

Eram cerca de dois mil soldados estacionados na capital, agora sob o comando de Pax. O próprio exército de Jade agora tinha mil e quinhentos homens, engrossado pelas tropas dos lordes locais que enviaram reforços ao longo do caminho. Estavam em menor número, mas devido às grandes habilidades de Jade como comandante, poderiam ter triunfado.

No final, ele optou por não lutar. A razão para isso era simples: seu próprio exército agora estava dividido internamente em um par de facções rivais. Metade de seus aliados queria tirar o usurpador Pax do trono. A outra metade queria reconhecê-lo como rei imediatamente. Observando os nobres brigando ferozmente uns com os outros, Jade percebeu que não tinha nenhuma esperança real de vitória. Ele se rendeu sem lutar e jurou lealdade ao novo rei de Shirone.

Havia, é claro, mais nessa decisão do que aparentava. Jade soube com certeza que o filho de sua irmã, o Décimo Primeiro Príncipe Haruha Shirone, ainda estava vivo.

Ele esperaria pacientemente pelo momento certo. Aguardaria sua oportunidade. E no final, vingaria a morte do rei em nome de seu sobrinho. Este foi o verdadeiro juramento que fez naquele dia.

Nas semanas que se seguiram, Jade tomou as providências discretamente. Procurou aqueles que se ressentiam do governo de Pax e os unificou em uma aliança secreta, procurou o Décimo Primeiro Príncipe, fez as barganhas necessárias com os lordes locais… e em pouco tempo, havia reunido um exército rebelde inteiro, pronto e ansioso para atacar sob o seu comando.

A vitória era agora uma possibilidade real.

E então, a oportunidade perfeita se apresentou.

Os exércitos de Bista se preparavam para invadir e Pax começou a enviar suas tropas para guarnecer as fortalezas do norte contra essa ameaça. Graças à partida de Jade e ao caos do golpe de estado, as forças armadas de Shirone foram severamente enfraquecidas e o Reino do Rei Dragão não estava enviando reforços. Com toda a probabilidade, esta guerra não acabaria bem. Assim que o inimigo passasse pelo Forte Karon, o mais defensável dos fortes fronteiriços de Shirone, Pax não teria escolha a não ser usar seu trunfo e enviar o Deus da Morte para o norte. Com Randolph fora, mesmo uma força menor poderia ter sucesso em assassinar o rei.

Jade não lembrou de contar com um fator crucial: o retorno repentino do Terceiro Príncipe Zanoba Shirone. Sua aparição na cena foi chocante o suficiente, mas também trouxe a ex-maga da corte Roxy Migurdia, e um mago chamado Rudeus Greyrat, que diziam ter derrotado o Imperador do Norte Auber e a Deus da Água Reida em batalha.

Talvez Jade tenha considerado entrar em contato com Zanoba, na chance de ele voltar para se vingar de Pax. No entanto, Zanoba mostrou todos os sinais de lealdade a seu irmão e partiu para defender o Forte Karon sob suas ordens.

O plano de Jade logo saiu de curso. Shirone derrotou os invasores no Forte Karon em uma vitória histórica, e o Deus da Morte permaneceu ao lado de Pax.

Os exércitos de Shirone estavam enfraquecidos, mas se recuperariam no devido tempo. Também  havia uma boa chance de Pax chamar as forças que moveu para o norte, para a área ao redor da capital. Em particular, se o príncipe Zanoba, Roxy Migurdia e este Rudeus retornassem, qualquer ataque estaria fadado ao fracasso.

A janela de oportunidade de Jade estava se fechando rapidamente. Sendo assim, por falta de qualquer outra opção, lançou sua revolta, reuniu suas tropas rebeldes, tomou a capital em um ataque rápido e sitiou o castelo real.

Este foi o esboço de Ginger sobre o incidente, que nos deu ao acordar após várias horas de sono por exaustão. Ela estava na própria Latakia quando a rebelião começou, mas conseguiu escapar pelos portões nas primeiras horas caóticas de sua ocupação. No momento seguinte, cavalgou direto para Zanoba, o mais rápido que seu cavalo a levou.

Quando fugiu da capital, parecia que o rei estava sitiado no palácio com uma pequena força de defensores… mas não consiguia dizer como as coisas estavam neste momento.

Ginger encerrou sua longa história com uma voz calma e firme.

O palácio real era uma posição solidamente defensável. Mas dias se passaram desde que as forças de Jade o cercaram. Pax poderia muito bem estar morto e seu castelo ocupado pelos rebeldes.

Mas por que escolheu se esconder dentro de suas paredes? Sua “pequena força de defensores” incluía o Deus da Morte, Randolph Marianne. Poderiam ter rompido o cerco do inimigo e fugido.

Havia tanto que ainda não sabíamos. A melhor opção, presumi, era mover-se com cuidado e reunir…

— Entendo. Então vamos logo para a capital — disse Zanoba, no tom de alguém que propõe uma parada rápida por uma loja de conveniência. Ele se levantou da cadeira antes mesmo de terminar de falar.

Ginger pareceu aliviada com esse pronunciamento. Mas com as próximas palavras de Zanoba, seu rosto congelou em choque.

— Se Sua Majestade escapou, podemos trazê-lo a este forte para sua proteção. Se não conseguiu fugir, podemos entrar no castelo por uma passagem secreta conhecida apenas pela família real e escoltá-lo para um local seguro.

— E-Espere, Vossa Alteza!

Empurrando-se para fora de sua cama, o rosto cheio de desespero, Ginger agarrou a manga de Zanoba antes que ele pudesse se afastar.

Ele sorriu para ela de forma tranquilizadora. — Nós vamos ficar bem sozinhos, Ginger, eu garanto. Fique aqui e descanse enquanto estivermos fora.

— Você realmente quer ficar do lado do Rei Pax nisso?! — exclamou Ginger. Seu tom era de total descrença.

Zanoba voltou a encará-la, arqueando uma sobrancelha interrogativamente. — Naturalmente. Quem é esse Décimo Primeiro Príncipe para mim? Nunca vi o rosto do menino e não ouvi nada sobre seu nascimento até agora. Estou um tanto cético de que seja filho do meu pai.

Ele tinha um bom ponto. Era possível que o General Jade apenas odiasse Pax por outros motivos e tivesse fabricado esse novo príncipe para servir como seu fantoche. Supondo que o rei realmente tivesse sido íntimo de sua irmã, seria fácil fazer a história parecer convincente.

Ginger, entretanto, não estava de acordo com isso. A carranca desnorteada em seu rosto só aumentava.

— Então você pretende ir em auxílio do Rei Pax, resgatá-lo do palácio… e então fazer o quê, exatamente?

— Nosso curso de ação será uma questão para Sua Majestade decidir. Mas se ele ordenar que eu derrote o exército rebelde, suponho que será minha próxima prioridade.

— Você não pode dizer isso, Sua Alteza. Por que iria tão longe para ajudar aquela criatura vil?!

Zanoba contraiu a sobrancelha com isso. Agora havia raiva em seu rosto. — Você acabou de chamar nosso rei de criatura, Ginger? Isso é realmente o que ouvi você dizer?

— Sei que ultrapassei meus limites! Mas príncipe Zanoba, por favor… esqueceu o que o Príncipe Pax fez comigo?

— Do que diabos está falando?!

—Ele tomou minha família como refém, Príncipe Zanoba!

Zanoba contraiu a sobrancelha novamente.

Quase tinha me esquecido desse detalhe feio, depois de todos esses anos, mas dá para entender por que a memória permanecia fresca para Ginger. Ela sofreu a crueldade de Pax diretamente, e essas memórias permaneceriam para sempre. Tinha que presumir que Lilia e Aisha iriam apoiá-la, se estivessem presentes.

— Que tipo de rei coage a obediência de sua guarda pessoal ameaçando sua família?! Por que levantar um dedo para mantê-lo em seu trono?!

Lembrei que os shoguns da era Edo construíram todo um sistema em torno desse conceito. Pena que Ginger não estava por perto para repreendê-los. Embora pelo que me lembrava, os guardas pessoais da família real eram um grande negócio neste reino. Quanto mais cavaleiros um príncipe tivesse sob seu controle direto, mais alto se moviam na ordem de sucessão… ou algo assim. Os guardas provavelmente se orgulhavam de sua posição vangloriada. Não eram simples lacaios.

— Hrm — disse Zanoba depois de um momento. — Bem, Ginger, eu também tenho uma pergunta. Por que você protege um príncipe como Zanoba Shirone?

— O que… quer dizer?

— Eu vendi você para meu irmão, como deve se lembrar. Dificilmente a ação de um príncipe digno ou merecedor de proteção. Por que me serve mesmo assim?

Um ponto muito razoável. Foi Zanoba quem colocou Ginger à mercê de Pax, para começar. Ele literalmente a trocou por uma estatueta de Roxy que Pax comprou em algum lugar. Por que ela era tão leal a esse cara, afinal?

Ah, certo. Havia prometido à mãe dele que cuidaria dele…

— Bem, eu… eu sei que você é muito mais sábio do que deixa transparecer…

Ginger não mencionou isso, no entanto. Acho que não ajudaria em nada o fato de Zanoba ser um chefe menos ruim do que Pax.

— Pax é um homem bastante inteligente por si só, não acha? — respondeu Zanoba.

— Talvez inteligente, mas não sábio. Ele não pensa nas consequências de suas ações, apenas no prazer que lhe trazem no momento. É o comportamento de um tolo…

— E eu sou um tolo que dedicou minha vida a bonecas e estatuetas. Parece que Pax e eu somos muito parecidos.

— Isso não é verdade — disse Ginger, encarando Zanoba sem se mover de sua posição ajoelhada. — Você é uma Criança Abençoada, Príncipe Zanoba. Revelar que você possuía força e sabedoria teria colocado um alvo em suas costas. Você fez papel de bobo para evitar a atenção de seus rivais… Tenho certeza disso.

Zanoba dizia algumas coisas estranhamente profundas de vez em quando. Ele decifrou aquela escrita antiga bizarra que encontramos no núcleo do autômato e fez a Armadura Mágica para mim. Desde que voltou para Shirone, também provou ser um comandante perspicaz com visão estratégica real. Havia muitas razões para acreditar que Ginger poderia ter certa razão.

Dito isso, sua obsessão por bonecas era… claramente genuína. Não havia como fingir esse tipo de paixão. Na verdade, imaginei que ele não estivesse tão interessado em exibir sua inteligência na frente das pessoas.

— Não preciso bancar o tolo, Ginger — disse Zanoba. — Sou a própria definição de um. Tudo o que quero da vida é me afogar em meus interesses absurdos.

— Nesse caso, vamos voltar para a Cidade Mágica de Sharia imediatamente. Você poderia dedicar o resto de sua vida às suas paixões lá.

— Receio que isso não seja uma opção. Um fantoche como eu só pode se mover quando for direcionado.

— Eu… não entendo…

Nesse ponto, Ginger se virou para olhar para mim. A mensagem em seus olhos era clara o suficiente: Diga algo para ele! Você sabe que estou certa sobre isso.

Eu concordava que Pax havia feito algumas coisas verdadeiramente imperdoáveis. Ele capturou Lilia e Aisha, me atraiu para uma armadilha e tentou transformar Roxy em sua escrava pessoal. Inclusive o vi dar um soco na cara de Lilia. Mantive a calma na época, mas pensar nisso agora com certeza me irritou.

— Ouça, Zanoba… também não gosto desse plano.

— … Oh?

— Talvez Pax tenha mudado um pouco durante sua estada no Reino do Rei Dragão,  só que isso não significa que seja alguém por quem valha a pena arriscar sua vida.

Zanoba se virou para mim agora, aparentemente irritado. — Eu dificilmente esperaria isso de você, Mestre Rudeus. Como expliquei antes, minha vida é propriedade deste reino. E, claro, este reino é seu rei. Com a vida dele em perigo, dificilmente posso sentar e…

— Lembra do que me disse antes de partirmos, Zanoba? “Meu dever é proteger Shirone contra seus inimigos. Essa é a razão pela qual estou vivo… e tive permissão para divagar durante todos esses anos.” Lembra disso?

Zanoba não respondeu. Eu tinha memorizado cada palavra perfeitamente.

— Por que se importaria se é Pax ou este Décimo Primeiro Príncipe sentado no trono? Seu trabalho é proteger Shirone da invasão, não resolver todas as suas lutas pelo poder. Assim que a trégua for assinada, a guerra com Bista estará terminada. Parece-me que você cumpriu seu dever perfeitamente.

— Mestre Rudeus, por favor…

— Não pode considerar isso concluído? Talvez eu não devesse dizer isso em voz alta, mas a viagem até aqui não é exatamente exaustiva. Você pode voltar à sua vida normal em Sharia e aparecer sempre que parecer que uma guerra pode começar.

— Hrm.

Zanoba levou a mão ao queixo e olhou para o teto. Depois de um momento de contemplação, voltou seu olhar para mim.

— É uma ideia bastante atraente, devo admitir… mas não posso aceitar.

— Tudo bem, mas por que não?

Estava ficando mais difícil manter a calma. Muito mais difícil. Mas eu sabia que tinha que tentar. Gritar com alguém era a última maneira de fazer a pessoa mudar de ideia.

Sabia que havia falhas no meu raciocínio, é claro. O Reino de Shirone provavelmente não deixaria Zanoba simplesmente vagar porque seu trabalho estava feito por enquanto. Se  continuasse aparecendo do nada para assumir o comando no último momento possível, causaria todo tipo de dor de cabeça e complicações.

Conseguia entender isso. Sabia que meus argumentos eram frágeis. ainda assim, ele ainda podia usar isso como desculpa para voltar para casa conosco, para o lugar onde era mais feliz.

— Você pode pelo menos me dar uma explicação, Zanoba?

— Hmm… não tenho certeza se entendo.

Ah, vamos lá! Isso é sério?!

Ugh. Tá, calma. Tenha paciência. Ele tem que ter um motivo. Tem que haver algo que o está fazendo ser tão teimoso. Apenas continue cutucando, e eventualmente chegaremos lá…

— Ouça, Zanoba… Você entende que Pax deve estar aterrorizado com você, certo?

— Aterrorizado comigo? Mas por quê?

— Quero dizer, ele matou o resto da sua família, lembra? E você é uma Criança Abençoada.

Zanoba não guardava rancor do homem, mas Pax tinha motivos de sobra para se sentir culpado por suas ações. Os reis nessa posição tendiam a ficar paranóicos.

— Se você aparecer no palácio para ajudá-lo a escapar, ele pode facilmente presumir que você está lá para matá-lo. Você pode acabar sendo assassinado pelo Deus da Morte na mesma hora.

Fui respondido com silêncio.

— A mesma coisa pode acontecer mais tarde — continuei. — Você poderia salvar a vida dele uma dúzia de vezes, e ainda não acho que Pax vai confiar em você. Eventualmente, ele encontrará uma desculpa conveniente para te matar. Não faz sentido você ficar com ele.

Zanoba não disse nada. Ele olhou para mim, seu rosto impassível e ilegível.

— Você me disse que se seu reino quer que você morra, então você aceitará isso. Posso entender porque estaria disposto a morrer em batalha, sabe? É seu dever. É a razão pela qual deixaram você viver. Mas por que você deixaria Pax matá-lo por paranoia? O que isso faria de bom para Shirone, exatamente?

Zanoba fechou os olhos e respirou longa e lentamente, como se tentasse digerir minhas palavras. Ao exalar, abriu os olhos pela metade.

— Apesar de tudo, ele ainda é meu irmão mais novo… e a única família que me resta — disse.

E assim, ele acabou com todo o meu ânimo. Agora o homem estava jogando sujo. O que eu deveria dizer sobre isso?

Aparentemente sem saber que já havia vencido a discussão, Zanoba continuou.

— Talvez pareça absurdo, vindo de um homem que nunca falou dessas coisas antes… mas Pax é meu irmão, Mestre Rudeus.

Seu rosto estava inexpressivo. Não houve nenhuma das teatralidades usuais – nenhuma risada, nenhum grito, nenhuma postura pomposa. Zanoba estava apenas olhando para mim. Ou talvez através de mim.

Deixei escapar um suspiro longo e audível. Parecia que eu tinha que adicionar persuasão à minha lista de suas habilidades e dons. Ao introduzir o ângulo “ele é da família”, acabou destruindo completamente minha capacidade de me opor a seus planos. Sua teimosia de repente parecia compreensível.

Me peguei imaginando o que faria no lugar dele. Se Aisha matasse Norn, ou vice-versa, eu obviamente ficaria furioso. Era difícil me ver perdoando isso.

Mas e se eu mal conhecesse uma delas, ou talvez as duas? E se o assassino estivesse envolvido em algo muito maior do que ela? E se ela estivesse tentando seguir em frente, realizar algo significativo, apesar de seus erros e crimes?

Ela ainda teria um pedacinho meu. E provavelmente também tentaria ajudá-la.

— Tudo bem, Zanoba.

Zanoba não tinha intenção de voltar para Sharia conosco. Nada disso. Finalmente entendi isso. Eu não sabia o quão honesto ele estava sendo sobre seus motivos. Mas mesmo que estivesse apenas me manipulando, usou a palavra família para fazer isso. Essa era a arma mais forte que poderia usar em uma discussão comigo.

Ele havia tomado sua decisão e claramente não iria se curvar.

Desculpa, Cliff. Desculpa, Julie. Afinal, parece que não vou arrastar Zanoba para casa.

A única coisa que eu poderia fazer, realisticamente, era proteger e apoiar Zanoba até que ele de alguma forma conseguisse ganhar a confiança do Rei Pax.

— Sendo honesto, eu estava planejando trazer você de volta para casa comigo, mesmo que precisasse rastejar na terra e chorar. Porém,já que você colocou dessa forma… acho que vou ficar por aqui só mais um pouco.

— Meus sinceros agradecimentos, Mestre Rudeus, e estou feliz por não ter chegado a esse ponto. A visão de suas lágrimas certamente teria enfraquecido minha determinação.

— Droga. Talvez eu devesse ter começado com isso.

— Poupe-me, por favor!

Pela primeira vez em muito tempo, Zanoba e eu sorrimos um para o outro.

Cliff provavelmente entenderia assim que eu explicasse toda a história para ele. Quanto a Julie, bem… poderia perguntar o que ela queria e trazê-la em segurança para Zanoba se decidisse se juntar a ele.

O plano da estatueta de Ruijerd teria que ser descartado. Isso era drástico, considerando que já havíamos obtido a permissão de Perugius para tal, assegurado a cooperação de Ariel e colocado Aisha para trabalhar procurando funcionários… Doeu saber que aqueles anos de preparativos não dariam em nada, honestamente.

Ainda assim, eu não reclamaria. Não poderia. Não se Zanoba estivesse fazendo isso por sua família.

Ele não estava… exatamente em bons termos com Pax no momento. Mas isso era algo que poderia mudar com o tempo. Poderiam se desculpar pelo passado e encontrar uma maneira de perdoar um ao outro. Lentamente, pouco a pouco, poderiam construir um relacionamento baseado na confiança e no respeito. Seus erros poderiam ser corrigidos.

Eu não gostava nada de Pax, mas ele era capaz de mudar, e já havia provado isso.

Qualquer um pode mudar.

— Não… você não pode estar falando sério…

Ginger olhou para nós, seu rosto pálido de horror.

Eu podia entender o seu ponto de vista. Ela não esteve presente na nossa audiência com o Rei Pax, esteve? Em sua mente, ele ainda era o mesmo Príncipe Pax que ela conhecera muitos anos atrás, um bastardo perverso e mesquinho, em outras palavras.

— Sinto muito, Ginger. Zanoba deixou seus sentimentos bem claros e acho que devo respeitar isso neste momento.

Nessas circunstâncias, era difícil imaginar Pax mantendo seu trono por muito tempo, mas teríamos que ver o que poderíamos fazer. O primeiro passo era bastante óbvio, pelo menos. Além disso, havia espaço para otimismo. Quando Zanoba aparecesse para resgatá-lo, talvez Pax realmente reconsiderasse sua desconfiança.

— Acho que isso conclui nossa conversa, Ginger. Minhas desculpas por tudo que fiz você passar.

Com um tapinha gentil no ombro de sua leal guarda-costas, Zanoba passou por ela em direção à porta.

— S-Sua Alteza, espere! Por favor!

Quase caindo da cama, Ginger agarrou Zanoba pela perna. Ela não fez nenhum movimento para soltá-lo, ou para se levantar do chão, e havia desespero total em seus olhos.

— Entendo que não há como parar você, Príncipe Zanoba. Mas, pelo menos, permita-me fazer um pequeno pedido!

— Que pedido seria esse?

— Não morra, mesmo que o Rei Pax o ordene! Por favor… só não morra!

Sua escolha de palavras foi desajeitada. Ela provavelmente não tinha pensado nisso antes. Ainda assim, seu significado era bastante claro. No final das contas, tudo o que ela queria era que Zanoba continuasse vivo.

— Hrm. Isso parece potencialmente irracional…

Cortei Zanoba e aceitei o pedido dela em seu nome. — Você tem minha palavra sobre isso, Ginger. Vou garantir que Zanoba sobreviva a isso, não importa o que aconteça.

Eu entendi que Zanoba sentia que devia lealdade a Pax, mas sua morte não ajudaria nenhum deles. Se o relacionamento deles desmoronasse e não houvesse como salvar a situação, eu mesmo teria que arrastar Zanoba de volta para a segurança. Esse era, originalmente, o trabalho que eu tinha que  fazer. Não ia me deixar perder isso de vista, não importa o que mais acontecesse.

— Muito obrigada, Senhor Rudeus. Você tem minha sincera gratidão…

Ginger baixou a cabeça profundamente e não disse mais nada.

 


 

Tradução: Gtc

Revisão: B.Lotus

QC: Taipan & Delongas

 

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