Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 19 – Cap. 07 – A Batalha

 

Certo, então… Zanoba tinha rumado para Deus-sabe-onde. Ele queria encontrar e matar o comandante do inimigo, o que não fazia nenhum sentido para mim. Nem um pingo de bom senso. Mas eu não poderia deixar meu posto neste momento. Não gostei da ideia de lançar feitiços em um campo de batalha onde Zanoba poderia estar escondido em qualquer lugar… mas pelo menos, julgando por como as coisas soavam, ele tinha discutido seu plano com o comandante e os capitães. Teria que confiar que ele não seria descuidado o suficiente para cair na nossa linha de fogo.

Ele tinha pensado bem nisso, certo? Certo?

Digo, ele levou uma centena de tropas. Devem ter planejado esta operação como parte da estratégia geral da batalha. A melhor coisa que eu poderia fazer pelo homem neste momento seria desempenhar bem o meu próprio papel.

— … Hooo.

Acalme-se, Rudeus. Zanoba não é um idiota. Ele está fazendo isso por uma razão. Apenas se concentre em fazer o seu trabalho e vai ficar tudo bem.

— Hooo… haaa…

Tudo bem. Antes de mais nada, vamos dar uma olhada no inimigo.

No tempo que levou para eu limpar minha cabeça, o exército adversário marchou para dentro do campo de visão e se colocou em formação para além do meu campo de armadilhas. Mal estavam longe o suficiente para que nossos arqueiros ainda não conseguissem alcançá-los. Naturalmente, também não poderiam nos acertar com os deles. A batalha não começaria de verdade até que a maioria deles tivesse chegado na zona que enchi de armadilhas.

— Sim, com certeza são muitos…

— Hmm. Parecem ser apenas cerca de três mil.

— Há mais um monte de espera nas fileiras de trás.

Os soldados nas muralhas estavam ocupados adivinhando o tamanho exato da força à nossa frente. Hmm, vocês não deveriam contar o número de bandeiras inimigas ou algo assim?

— Rudy, precisamos de um contra-feitiço!

— Huh?

Assustado pela urgência na voz de Roxy, olhei para o outro lado do campo de batalha. Algo como um tornado estava tomando forma perto do meio da formação do inimigo.

— Vão encher todas as armadilhas de uma só vez com magia de terra!

Ah, certo. Aquele é o feitiço de nível Santo, Tempestade de Areia, não é?

Com certeza não perderam tempo indo em direção às minhas armadilhas. Provavelmente tinham descoberto sobre elas com antecedência, com batedores ou espiões, e elaboraram um plano para neutralizá-las com um único feitiço massivo.

Desnecessário dizer, nós também tínhamos previsto essa possibilidade.

— Tudo bem. Vou contra atacar com uma Tempestade Violenta.

Com essas palavras, estendi as duas mãos em direção ao redemoinho de poeira e terra em constante crescimento.

 

 

 

Escolhi responder com um feitiço de vento de nível Santo. Apesar da sua classificação, seus efeitos não eram particularmente extravagantes, mas eram muito poderosos. Uma série de feitiços de nível Santo, tais como Cumulonimbus e Tempestade de Areia, eram magias combinadas que utilizavam o vento junto de algum outro elemento. A Tempestade Violenta, por outro lado, era apenas a mais pura rajada de vento. Embora custasse a mesma quantidade de mana que algo como a Tempestade de Areia, todo esse poder era dedicado a um único propósito.

Na prática, isso significava que era capaz de apagar totalmente os fenômenos mais complexos criados pelos feitiços de água ou terra. Era também devastadoramente eficaz contra monstros voadores de todos os tipos, só para lembrar. Mas outros feitiços eram melhores escolhas se seus inimigos estivessem no chão; o vento perderia parte de sua força a uma distância maior, pois empurrava árvores e outros obstáculos.

Havia uma teoria de que a magia de vento puro havia sido desenvolvida como uma forma de contrapor-se a outros feitiços elementais, assim como esta funcionaria no campo de batalha. Ainda assim, era apenas uma teoria, e eu não tinha certeza se acreditava nisso.

Embora a Tempestade Violenta pudesse perder algum poder enquanto avançava, era forte o suficiente para arrancar árvores maciças pelas raízes se usasse mana suficiente. E, bem… essa diminuição no poder só acontecia quando se movia pelo solo. No ar, não era um problema. Este feitiço poderia ter sido facilmente projetado para derrubar dragões voadores.

Hmm. Eu tinha a sensação de que os próprios dragões usavam um pouco de magia de vento. Digo, de que outra forma manteriam aqueles corpos maciços no ar, hein?

Além do que, alguns afirmavam que o uso excessivo de feitiços como este poderia deixar o usuário careca. A teoria era que todas aquelas rajadas de vento afiadas começariam eventualmente a arrancar os pelos pelas raízes. Parecia plausível, dado que o diretor da nossa universidade era um mago de vento de nível Rei.

Tá, tá. Agora estou bem e calmo. Beeeem e calmo!

Quando terminei de divagar a respeito dessas trivialidades em minha mente, meu ritmo cardíaco havia voltado ao normal e meu feitiço havia destruído o redemoinho de poeira inimigo. Os soldados ao nosso redor irromperam em uma torcida espontânea.

No entanto, eu não havia causado nenhum dano significativo ao exército em si. Ainda estavam bem longe de nós, mas seria de se esperar que uma explosão forte o suficiente para quebrar um feitiço de nível Santo também teria algum efeito no solo. Foi porque apontei direto para o tornado? Ou talvez a mana de nossos feitiços tenha interagido de alguma forma?

Bem, tanto faz, não importava mesmo. Agora podemos nos concentrar em…

— Rudy, estão tentando de novo!

— Huh? Sério?

Isso parecia meio inútil. Eu poderia contra atacar o feitiço de novo, né?

Ah, espera… eles não sabem sobre a minha capacidade de mana.

A maior parte dos magos ficaria sem energia em pouco tempo se continuasse lançando magias de nível Santo. E como o inimigo nos superava em dez para um em números, provavelmente também tinham dez vezes mais magos. Provavelmente pensaram que poderiam ficar sentados ali atirando exatamente o mesmo feitiço de um círculo mágico até que ficássemos sem nada.

Huh? Isso não significaria que não tem nenhum discípulo do Deus-Homem lá?

Qualquer um que trabalhasse para ele saberia sobre mim. Certamente não deixariam os magos desperdiçarem seu tempo e mana desta maneira, certo?

… Não, eu não podia tirar conclusões precipitadas. O Deus-Homem poderia estar dando conselhos, mas isso não significava que seu comandante estivesse sempre ouvindo.

— Por enquanto, vou continuar contra-atacando os feitiços até que desistam. Parece um bom plano?

— Uh, sim, é claro. Você… está bem de mana?

— Aham, vou ficar bem.

O capitão pareceu um pouco abalado neste momento. Ou talvez aterrorizado.

Bem, minha capacidade de mana era provavelmente a coisa mais confiável a meu respeito. Se essas pessoas quisessem me fazer disparar dez feitiços de nível Santo, poderia lidar com isso sem qualquer problema.

No final, os magos inimigos lançaram seu feitiço Tempestade de Areia mais cinco vezes, mas contra ataquei cada um deles exatamente da mesma maneira. Era uma pena que não pudesse usar o Atrapalhar Magia para poupar alguma mana. De uma distância tão grande, não seria uma boa opção.

Após a sexta tentativa fracassada, as forças inimigas pareceram fazer uma pausa em seus ataques. Podiam ter ficado sem magos capazes de usar a magia de nível Santo. Também era possível que o círculo mágico tivesse se desvanecido, ou que tivessem percebido que não estavam chegando a qualquer lugar com essa estratégia.

— Você acha que eles vão tentar uma investida? — perguntei, olhando para o capitão do esquadrão de magos.

— Difícil dizer — respondeu, franzindo o cenho para as linhas inimigas distantes.

Não pensei que, se eu fosse o comandante deles, arriscaria enviar todas aquelas tropas para um campo cheio de armadilhas. A melhor opção seria se retirar, certo? Se perceber desde cedo que julgou mal seu inimigo, por que não se retirar para coletar mais informações? Me parecia ser a jogada mais inteligente.

— Ah… parece que vão optar por isso.

Mais uma vez voltou a surgir movimento nas linhas inimigas. Estavam se movimentando lentamente para frente, quase como se estivessem arrastando algo pesado por trás deles.

Bem, acho que era esperado.

Os comandantes daquele exército provavelmente tinham avaliado todo tipo de opções táticas e planos de contingência antes de aparecerem à nossa porta. Haviam gasto alimentos e recursos valiosos para chegar tão longe, e também tinham o moral de suas tropas a considerar. Provavelmente não poderiam recuar após uma troca fracassada de feitiços.

Digo… pelo que eles sabiam, neste ponto nossos magos também poderiam estar esgotados. Talvez esperassem que isso lhes permitisse atravessar a zona de armadilhas sem sofrer muitas baixas.

— Arqueiros, prontos!

A um mero comando de seu capitão, nossa linha de arqueiros deu um passo à frente. Encaixaram suas flechas e puxaram seus arcos para trás, visando as linhas de soldados escolhendo seu caminho através da zona de armadilhas.

— Fogo!

A primeira saraivada de flechas correu pelo ar.

Foi uma barragem modesta; tínhamos apenas cerca de cinquenta arqueiros na amurada, e havia pelo menos alguns milhares de soldados inimigos correndo em nossa direção. Qualquer efeito seria obviamente mínimo.

O comandante inimigo parecia ter chegado à mesma conclusão. Alguns momentos depois, ouvimos o som de trombetas vindas de baixo, e o inimigo passou a avançar muito mais rápido. Vi soldados caindo em armadilhas aqui e ali. Outros, no entanto, estavam colocando pontes toscas através das trincheiras, e ainda mais se aproximavam delas em segurança. Estavam fazendo um progresso constante.

Pelo aspecto das coisas, tinham interpretado nossa saraivada de flechas como um sinal de que não tínhamos nenhum mago ainda capaz de lançar feitiços ofensivos. O que foi um erro de cálculo, é claro.

— Magos de combate, prontos!

Os soldados magos prepararam seus cajados em resposta ao comando de seu capitão.

Havia vinte no pelotão. Oito deles deram um passo à frente, até a borda da muralha. Outros oito ficaram por trás deles. Os quatro últimos se posicionaram em frente ao círculo mágico de Roxy.

— Não fiquem nervosos! Esperem até que os tenhamos puxado mais para dentro!

Os magos apertaram os punhos em torno de seus cajados. Roxy seguiu o exemplo, fechando os olhos para se concentrar. Não querendo ser deixado de fora, fechei minhas mãos em punhos e olhei atentamente para o inimigo.

A maioria de suas tropas estava agora dentro da zona de armadilhas.

— Encantamentos! Agora!

Por ordem do capitão, os oito magos da linha de frente começaram o cântico para um feitiço de fogo em perfeita sincronia. Quando o encantamento chegou na metade do caminho, os oito atrás deles também começaram a entoar.

— Bola de Fogo!

Oito bolas de fogo voaram dos cajados dos magos na frente. Fazendo um arco em direção ao campo de batalha, atingiram a linha inimiga bem no centro, deixando um punhado de corpos carbonizados por lá.

A linha da frente recuou imediatamente e começou a entoar tudo de novo.

— Bola de Fogo!

Poucos momentos depois, a segunda linha de magos havia disparado sua própria rajada. Ao escalonar seus encantamentos, efetivamente cortaram o tempo entre seus ataques pela metade.

As Bolas de Fogo continuaram a voar de forma constante. Mas quando a segunda rajada começou, recebeu, como resposta, uma enorme enxurrada de Bolas de Água do inimigo. Embora não conseguissem nos alcançar no topo do forte, estavam batendo nas Bolas de Fogo e reduzindo-as a vapor.

Em outras palavras, um contra-ataque. Aparentemente, não haviam desperdiçado toda a mana de seus magos em nossas trocas anteriores.

Bem, sim. Obviamente não fariam isso.

— Ali, Senhorita Roxy. Está vendo aquela bandeira de escorpião na ala direita?

— Sim, estou vendo.

Com um aceno de cabeça para o capitão do esquadrão de feiticeiros, Roxy se virou para olhar em minha direção.

Aquela bandeira de escorpião estava bem ao redor de onde saía a barragem de Bolas de Água. Os magos inimigos estavam concentrados naquela área. Em outras palavras, se acabássemos com tudo naquela área, não teríamos mais nenhum contra-ataque para nos preocupar.

— Vamos começar, Rudy… Uhm, ou você prefere só observar?

— Não. Eu estou com você.

— Então que seja.

Com um sorrisinho, Roxy se afastou e começou seu encantamento. Eu respirei fundo, depois comecei a canalizar mana em minhas mãos.

Um momento depois, matei muitas pessoas.

 

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Depois disso, a batalha se transformou em um abate unilateral.

A eliminação da grande maioria de seus magos os tornou indefesos contra nossos feitiços. A maioria dos que morreram foram queimados até se converterem em cinzas pelo feitiço de fogo de nível Santo desencadeado por nossos magos de combate. Mas então, quando o avanço deu lugar a uma derrota, os sobreviventes descobriram que era praticamente impossível recuar pelo campo de armadilhas atrás deles. Algumas unidades pareciam ter perdido seus comandantes; seus movimentos foram afetados pelo pânico e se desorganizaram. E então Roxy e eu os atingimos com mais magia de nível Santo.

Parecia que tínhamos pisado em um formigueiro. Os soldados corriam em todas as direções, aterrorizados e desorientados. Rajadas de vento os sopravam para armadilhas, e raios os fritavam onde estavam. Morreram às dezenas.

Finalmente pude entender aquela famosa frase de O Castelo no Céu. A partir desta distância, as pessoas pareciam exatamente como sobras de lixo deixado para trás.

Ainda assim, nem todos entraram em pânico diante da morte. Alguns conseguiram ultrapassar a zona de armadilhas, escapando da área de efeito de nossos feitiços. Alguns eram magos que conseguiram se aproximar o suficiente para lançar feitiços contra nós. Combatemos quase todos os seus ataques, mas alguns ainda nos acertaram, e sofremos baixas.

Alguns dos inimigos invasores eram arqueiros, que soltaram seus arcos e desembainharam suas espadas quando se aproximaram. Os demais eram soldados rasos. Juntos, criaram seu caminho até as muralhas do forte, onde uma força de trezentos defensores bem apoiados os esperava. Enquanto isso, fizemos chover magia sobre eles, igual uma chuva de pedras.

No final, apenas um punhado de pessoas sobreviveu. Alguns haviam perdido sua vontade de lutar; outros lutaram ferozmente. Alguns foram levados como cativos e outros mortos, mas não sei dizer por quê.

Em comparação, eu poderia contar nossas perdas com meus dedos. Vencemos o inimigo de forma tão sólida que as palavras vitória histórica chegaram à mente.

Quando tudo acabou, o Comandante Babriti soltou um rugido que parecia sacudir o forte até suas fundações. Os magos e arqueiros nas muralhas lhe responderam da mesma forma, seus olhos brilhando de júbilo.

Também gritei junto, embora não tivesse certeza se eu sentia o mesmo tipo de alegria que eles sentiam. Não parecia real que tivesse matado tantas pessoas, ou que tivéssemos vencido a batalha. Ainda assim, as pessoas ao meu redor mais do que compensaram minha falta de excitação. Soldados que me trataram com cautela e formalidade rígida, correram para me bater nas costas. Alguns atiraram seus braços em torno de meus ombros e outros me abraçaram. Uma delas era uma jovem arqueira. Ela olhou para mim e disse algo como: “Conseguimos! Você nos salvou! Muito obrigada”, com lágrimas nos olhos. Naquele momento, finalmente, uma onda de orgulho e felicidade se abateu sobre mim.

Por fim, Roxy se jogou em meus braços e me beijou nos lábios. Esse não era o tipo de coisa que Roxy fez em público, então deve ter ficado tão nervosa quanto os outros. Recebemos uma mistura de aplausos e gritos de boa índole dos soldados ao nos abraçarmos.

Fiquei feliz naquele momento. Verdadeiramente feliz.

Para ser claro, não foi apenas porque uma mulher encantadora se atirou sobre mim. Havia também alguma psicologia de grupo em ação. O puro delírio ao meu redor havia dominado completamente o meu cérebro. Não um sentimento ruim, sabe? Isso me impediu de pensar em todas as pessoas que acabara de assassinar com um estalar de dedos. No final das contas, tínhamos vencido a batalha praticamente sem vítimas. Isso era algo que valia a pena comemorar. Não há motivo para pensar muito sobre os detalhes feios, certo? Quando lembrasse desse dia, tudo o que eu tinha que pensar era: Ei, até que não foi tão ruim para a minha primeira vez. Acho que afinal não foi grande coisa.

Talvez fosse assim que precisasse viver em um mundo como este. Não precisava continuar julgando tudo o que acontecia neste lugar pelos padrões morais que aprendi na minha primeira vida. Não precisava arrastar uma velha regra arbitrária para sempre igual uma bola com corrente. Poderia matar quando necessário, e me conter quando precisasse. Uma batalha não ia me transformar em um maníaco sanguinário. Eu tinha mais autocontrole do que isso.

— O Príncipe Zanoba voltou!

O grito de um mensageiro abaixo me assustou e deixei de divagar. Uma vez que a batalha havia começado de verdade, esqueci completamente de Zanoba e sua unidade.

Desci correndo para o forte, tomando as escadas o mais rápido que pude. Mas congelei de espanto quando cheguei ao final.

Uma multidão de soldados havia se formado em torno de um grupo de cerca de dez pessoas que pareciam ter vindo de outro planeta. Seus corpos estavam cobertos de galhos e folhas, seus rostos manchados de sujeira e fuligem, e seus cabelos manchados de sangue e suor. Um deles, um homem imponente vestido com uma armadura volumosa, gritou alegremente à minha vista: — Saudações, Mestre Rudeus!

Espera, quem deveria ser?

Não, sério. Honestamente, não o reconheci no início.

Seu cabelo estava encrostado com sangue seco, sua armadura coberta de cortes que não estavam lá naquela manhã, e seus óculos manchados onde havia tentado limpar… algum tipo de líquido vermelho.

— Zanoba?

Sim, definitivamente é o Zanoba. Parece com uma pessoa completamente diferente, mas só pode ser ele. Ah. Acho que eu deveria, uh… censurá-lo por desaparecer sem qualquer aviso prévio.

— Mas que…

Ao me aproximar de Zanoba, a multidão de soldados se separou na minha frente e perdi minha linha de raciocínio em meio a uma frase.

Alguém estava de joelhos aos pés de Zanoba. Estava coberto de lama, mas também envolto em uma rede. Reconheci essa rede. Era o item mágico que eu havia dado a Zanoba antes de sairmos.

— Graças a seus esplêndidos esforços, nosso ataque surpresa funcionou perfeitamente. Veja… capturamos o comandante inimigo!

— Uhm… Uau…

Olhei em volta e percebi que os soldados ao nosso redor estavam felizes pelo bando imundo de dez pessoas. Não olhavam mais com cautela ou incerteza para Zanoba; seus olhos brilhavam de admiração.

Espera! Dez? Por que são tão poucos? Eu tinha visto uma centena de pessoas deixando o forte mais cedo. — Uh, onde estão os outros?

— Deitados no campo de batalha — respondeu Zanoba. — Morreram corajosamente, cada um deles.

Ah. Certo. Acho que é isso que acontece quando se ataca um exército tão grande com apenas uma centena de soldados.

Embora… não estou certo de ter entendido. Não precisávamos desse ataque furtivo para vencer a batalha, certo? Ganharíamos de qualquer forma. Não posso ser o único percebendo isso. Estou esquecendo alguma coisa?

— E-Então… este cara vale a perda de noventa soldados, certo?

— Inquestionavelmente. Ele é um membro da família real Bista. Com ele como nosso refém, deve ser simples negociar uma conclusão para esta guerra.

Ohhh. Certo… Sim, agora entendi. Se ele é assim, tão valioso, acho que Zanoba fez a escolha certa.

Acabar com um avanço inimigo não é o mesmo que vencer a guerra. Mas a incursão de Zanoba transformou nossa vitória tática em uma enorme vitória estratégica. Desse ângulo, talvez a vida de noventa soldados tenha sido um pequeno preço a se pagar.

Espera, não. Por que eu estava caindo nessa linha de pensamento? Tínhamos acabado com aquele exército. Deviam ter perdido umas mil tropas, talvez até duas ou três. Se tivessem alguém com um cérebro funcional no comando, teriam parado de insistir na invasão.

Ou talvez eu estivesse superestimando um pouco a nossa vitória. Talvez todas as tropas que vimos somassem apenas alguns milhares. E a maioria da força inimiga havia recuado. Se realmente tivessem mais soldados esperando na retaguarda, talvez só tivéssemos acabado com algo como quinhentos?

— Ah, que alegria ter sido bem sucedido — disse Zanoba, sorrindo alegremente para mim. — Eu dificilmente poderia ter pedido a você e à Senhorita Roxy ficarem neste forte por tempo indeterminado, afinal!

Tá, sim. Acho que agora entendi.

O inimigo poderia não desistir após uma única batalha desastrosa. Quem sabia quão racional era o comandante deles, afinal? Podíamos ter feito um nariz sangrar hoje, mas eles ainda tinham a vantagem numérica. Se seu próximo ataque ocorresse quando Roxy e eu não estivéssemos por perto, o Forte Karon poderia muito bem cair. Sem contar que nós dois não tínhamos a opção de ficar em Shirone por anos. Capturando um príncipe inimigo e negociando algum tipo de trégua, poderíamos terminar a guerra em um golpe decisivo, antes que tudo isso se tornasse um problema.

Mesmo assim, não poderíamos ter encontrado outra maneira? Talvez eu pudesse ter explodido um dos fortes deles em pedaços, ou algo assim?

… Nah. Seria estúpido confiar um trabalho desses a um cara que passou os últimos dias chorando a respeito de matar pessoas…

— Devo dizer que tudo correu de acordo com o planejado. Você e a Senhorita Roxy nos ofereceram uma diversão soberba com sua magia! E esta rede de arremesso encantada? Que ferramenta esplêndida! Desde o início eu esperava que isso permitisse capturar um comandante inimigo, mas funcionou melhor do que imaginei.

Zanoba havia cortado as fileiras de inimigos à medida que o vento e chuva surgiam em fúria, aproveitando a confusão geral para capturar o líder. Os riscos tinham sido terríveis. Ele apostou a própria vida,mas saiu vencedor; transformou o caos que eu e Roxy criamos em uma oportunidade, foi até o limite e fez nossa vitória valer.

— Sabe, Mestre Rudeus… já vi feitiços de nível Santo de longe antes, mas são algo completamente diferente quando você vai direto para um deles!

— Ah… sim, imagino que sim…

Um calafrio desagradável correu pela minha espinha. Cumulonimbus tinha uma área de efeito ampla. Era um feitiço projetado para eliminar indiscriminadamente um grande número de inimigos. O que pode significar…

— Uh, ei, Zanoba… vocês não foram atingidos por um raio nem nada assim, né?

— Hrm.

Zanoba colocou uma mão em seu queixo e pareceu considerar cuidadosamente a resposta. Depois de um momento, falou com uma expressão séria em seu rosto.

— Nenhuma guerra é ganha sem sacrifícios, Mestre Rudeus.

Nós os atingimos.

Os relâmpagos de nossos feitiços Cumulonimbus tinham atingido nossos próprios aliados. Talvez tivéssemos derrubado alguns nas armadilhas com rajadas de vento. Eu poderia ter matado alguém que jantou ao meu lado na noite anterior. Roxy poderia ter matado alguém a quem havia ensinado um pouco de magia.

É provável que eu nunca tivesse sequer falado com a maioria deles. Mas, no mínimo, sabia que algumas pessoas cujos rostos me eram familiares agora haviam desaparecido para sempre.

— E, é claro — continuou Zanoba —, eu assumo toda a responsabilidade por cada soldado que perdemos neste dia, como o homem que os comandou em batalha. Você não tem nada de que se sentir culpado.

Em teoria, isso fazia sentido. Só que, neste momento, a teoria não significava muito para mim.

— Você deve estar cansado depois de todo o seu trabalho, tenho certeza. Prometa-me que descansará pelo resto do dia. — Zanoba me deu um tapinha suave no ombro, depois arrastou seu cativo para dentro do forte, emitindo comandos rápidos para os soldados ao seu redor enquanto entrava.

Fiquei atordoado enquanto o via partir. Em algum momento, acabei completamente sem palavras.

Ah, certo. Tenho que me preparar para aquele ataque do Deus da Morte… Não há tempo para ficar de pé feito um idiota. Não há tempo para descansar. Ainda não. Eu deveria só… ficar perto da Versão Um. Estarei pronto para ele, caso apareça…

Naquela noite, foi lançada uma incursão no forte.

Mas não era o Deus da Morte e eu não era o alvo. Era o inimigo, e vieram em uma tentativa de libertar nosso refém real.

Não matei nenhum deles. Não eram suficientemente perigosos para isso. Em vez disso, deixei todos inconscientes e os entreguei à guarnição do forte.

O que aconteceu a eles após isso? Nem ideia. Pelo menos fui com a contenção, em vez de assassiná-los casualmente. Isso era um bom sinal, né? Foi assim que me senti. Apesar das minhas emoções estarem uma bagunça, pude me controlar. Ainda continuava com esse reflexo contra matar.

E ficaria tudo bem. Ou assim continuei dizendo a mim mesmo, ao longo de toda aquela noite.

O Deus da Morte nunca apareceu.

Não houve nenhum ataque furtivo.

 

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No dia seguinte, questionei o refém após obter a aprovação da Zanoba. Ele era, de fato, da realeza rival de Shirone, ao norte.

Perguntei se reconhecia o nome Deus-Homem. Sua resposta foi não.

Perguntei se alguém em seu reino andava por aí fazendo previsões ou profecias suspeitas. Sua resposta foi não.

Perguntei-lhe como tinham reunido um exército de cinco mil homens na fronteira de Shirone tão rapidamente após o golpe de estado. Ele disse que isso não tinha acontecido rapidamente. Há vários anos, estavam procurando uma chance de invadir.

Tudo isso apontava para uma conclusão: o reino ao norte estava limpo. Não havia aliado do Deus-Homem controlando todas as coisas. Quero dizer, o Deus-Homem pode ter manipulado eventos para fazê-los invadir… mas me senti confiante de que ao menos este cara não era um discípulo. Ele era o típico oficial de comando cheio de si, seguindo ordens sem qualquer informação ou coisa do gênero.

O Deus da Morte não tinha vindo por mim, e os invasores eram simples invasores. Nada estava se revelando do jeito que eu havia previsto. Pela primeira vez em algum tempo, senti como se tivesse saltado direto no meio de muitas sombras. Comecei a pensar que tinha entendido toda esta situação em um nível fundamentalmente errado. Talvez não houvesse nenhuma armadilha. Talvez o Deus-Homem não tenha estado envolvido em nada disso.

Ainda assim, me recusei a abaixar a guarda. Meio convencido de que era inútil, ficar alerta e pronto para tudo que pudesse acontecer.

E então, dez dias depois… o chão abaixo de nós se abriu.

 


 

Tradução: Gtc

Revisão: B.Lotus

QC: Taipan & Delongas

 

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