O Laboratório de Zanoba no prédio de pesquisa principal da Universidade de Ranoa estava mais lotado do que o normal. Seis de nós estávamos reunidos em torno da mesa central. Cliff, Zanoba e eu estávamos sentados, enquanto Elinalise, Ginger e Julie formavam um círculo mais amplo.
Talvez houvesse sete de nós, na verdade. Elinalise estava segurando seu bebê.
O clima na sala era… pesado. Para dizer o mínimo.
A expressão de Zanoba era solene. Cliff estava franzindo a testa com irritação. Os olhos de Julie estavam vermelhos, Ginger parecia seriamente angustiada e até mesmo Elinalise estava sem palavras.
— Ok, vamos todos respirar fundo —, falei. — Zanoba, você pode explicar de novo, por favor? Desde o início?
— …Muito bem.
Zanoba assentiu com a cabeça, seu rosto tão vazio e sério como sempre. Era meio perturbador, honestamente. Eu estava acostumado com ele sorrindo de orelha a orelha toda vez que me via. Parecia que ele havia se transformado em uma pessoa completamente diferente.
— Alguns dias atrás, recebi uma carta do Reino de Shirone.
Ele havia passado a carta para mim um pouco antes. Ainda a tinha em minhas mãos. O envelope apresentava o selo real de Shirone e a assinatura do irmão de Zanoba, Pax. Dentro, encontrei três folhas de papel.
A primeira continha uma descrição do golpe de estado ocorrido em Shirone há cerca de seis meses. O Sétimo Príncipe, Pax, havia retornado abruptamente de seus “estudos” no Reino do Rei Dragão – com o apoio aberto daquela nação. Ele não perdeu tempo em dar um golpe e assassinar seu pai, o rei. Depois de massacrar o resto da família real, ele assumiu o trono de Shirone para si.
Essa era a essência desta primeira folha. A versão na carta era muito mais dramática (detalhada), e conseguiu fazer a coisa toda parecer quase heróica.
A segunda página descrevia as consequências. A maioria dos ministros e generais de Shirone foi demitida após o golpe, e muitas pessoas fugiram do país com medo. Isso havia deixado seus militares (exército) perigosamente fracos. Uma nação rival ao norte estava se preparando para tirar proveito da situação, e Shirone não tinha poderio para defender suas fronteiras.
Dadas as terríveis circunstâncias, alguém aparentemente sugeriu que convocassem Zanoba a voltar para lutar na linha de frente. Ele era uma Criança Abençoada, afinal, e eles precisavam de toda a ajuda possível.
O escritor continuou argumentando longamente que nada disso era culpa de Pax, já que os expurgos foram um passo necessário para a reforma. Alguém estava claramente se sentindo um pouco na defensiva.
A terceira página da carta era uma ordem formal invalidando os comandos do velho rei para Zanoba e convocando-o de volta para Shirone. Estava carimbado com o selo do rei, o que provavelmente significava que era uma ordem real oficial.
Basicamente, tínhamos a história heróica do rei Pax na página um, um monte de desculpas esfarrapadas na página dois e um tipo de aviso na página três.
“Eu assumi o trono à força, mas então nosso exército se desfez. Agora o inimigo está invadindo. Preciso que você volte aqui e lute contra eles.”
As palavras sem vergonha vieram à mente. Ainda assim, eu podia ver de onde estavam vindo. Não tinha certeza de quanto Zanoba poderia contribuir pessoalmente para a guerra, mas ele era uma figura famosa em Shirone. A notícia de seu retorno melhoraria o moral das outras tropas.
Pessoalmente, senti que o Reino do Rei Dragão deveria estar defendendo Shirone, já que foram eles que colocaram Pax no trono em primeiro lugar… mas talvez houvesse algum motivo para eles não poderem se envolver diretamente. Cada país tem sua própria política interna para se preocupar, certo?
Enfim. Eu podia ver por qual razão Pax poderia precisar da ajuda de Zanoba agora.
Dito isso, oito anos atrás, Zanoba basicamente arruinou a vida de Pax ao me resgatar de suas garras. Como resultado direto das ações de Zanoba, ambos foram efetivamente exilados. Pax foi enviado para estudar no Reino do rei Dragão, enquanto Zanoba foi banido para Ranoa. Se Pax ainda guardasse rancor por tudo isso, voltar para Shirone seria incrivelmente perigoso. Esta carta pode muito bem ser uma armadilha destinada a atrair Zanoba para a morte.
Dito isso… o verdadeiro problema era que ele não parecia se importar com essa possibilidade.
— Então, depois de ler isso — falei —, você decidiu…?
— Retornar a Shirone e seguir para a linha de frente, conforme ordenado.
Sim, ok. Eu não entendi.
Cliff e Ginger já haviam expressado sua oposição ao plano de Zanoba. Eu não tinha uma opinião formada, mas estava me sentindo seriamente confuso. Eu poderia ter entendido se Zanoba quisesse matar Pax e vingar seu pai assassinado. Também poderia ter entendido se ele quisesse ficar longe de Shirone pelo resto de sua vida. O lance era que ele estava levando essas ordens a sério. Ele sabia que isso poderia ser uma armadilha e iria cair direto nela.
Por que estava tão disposto a obedecer a Pax? O homem havia assassinado o próprio pai.
— Não vejo nenhuma razão para que você precise ir — disse Cliff com veemência. — Isso é uma armadilha, Zanoba. Estou disposto a apostar que ele quer você morto.
— Hmm.
— Quando alguém toma o poder em um golpe, normalmente acaba com toda a família do antigo rei. É a coisa mais racional a se fazer, honestamente.
Cliff estava falando por experiência aqui; ele veio para Ranoa por causa de uma luta pelo poder no País Sagrado de Millis. Se seu avô fosse derrubado por seus rivais dentro da igreja, o próprio Cliff estaria em grave perigo. Quando você perde uma luta pelo trono, seus herdeiros morrem com você. Isso era incrivelmente óbvio, pelo menos para ele.
— E mesmo que Shirone seja invadida — Ele continuou —, que diferença faria ter você lá? Você é apenas um homem.
— Serei de alguma ajuda, tenho certeza — respondeu Zanoba. — Sou uma Criança Abençoada, afinal.
— Tudo bem, talvez você salve o dia! Mas o que acontece então, Zanoba?! — Cliff gritou, batendo na mesa com irritação. — O que você acha que Pax vai fazer quando o inimigo se retirar?!
Cliff sabia dos motivos do exílio de Zanoba. Contamos a ele a história de como nos conhecemos, então também sabia sobre os crimes anteriores de Pax. Ele definitivamente estava presumindo o pior sobre os motivos de Pax… mas honestamente, era difícil culpá-lo.
— Depois de desempenhar seu papel, ele pode se livrar de você a qualquer momento que quiser!
Apesar de meus melhores esforços, não consegui encontrar uma brecha no argumento de Cliff. Era possível que realmente houvesse uma invasão chegando, e Pax realmente precisava da ajuda de Zanoba. Era possível que Zanoba pudesse mudar as coisas de alguma forma.
Mas assim que a poeira baixar, como Pax o “recompensaria”?
Zanoba era o Terceiro Príncipe; um potencial candidato ao trono. E ganhar uma guerra faria maravilhas para sua popularidade, especialmente com o exército. O homem se tornaria um herói nacional da noite para o dia. Isso não pareceria perigoso para Pax? Zanoba não pareceria uma ameaça?
Provavelmente. E não era difícil imaginar como ele reagiria a isso.
— Acho que Cliff está certo, Zanoba — falei.
— … É bem provável que ele esteja —, respondeu Zanoba, balançando a cabeça solenemente.
Então, aparentemente… ele sabia que Pax tinha boas razões para odiá-lo e reconheceu que voltar para casa em Shirone poderia ser suicídio. Isso apenas tornou as próximas palavras que saíram de sua boca ainda mais difíceis de entender.
— No entanto, ainda sou obrigado a ir.
— …Mas por que?
A resposta de Zanoba foi rápida e firme: — Recebi uma ordem real formal para retornar.
É verdade que a ordem era legítima, em certo sentido. Tinha o selo do rei e tudo. No que diz respeito ao reino de Shirone, Zanoba agora tinha obrigação de retornar…
— Mas essa ordem veio do Pax, lembra? Você realmente precisa obedecê-lo?
— Com todo o respeito, Mestre… se deixássemos de reconhecer a autoridade do rei toda vez que um novo assumisse o trono, nosso reino teria vida curta.
— Não é como se ele tivesse herdado formalmente o trono. O homem é basicamente um usurpador, certo?
— Independentemente dos meios que usou para tomar o poder, Pax é agora o rei de Shirone. Isso é simplesmente um fato.
Não parecia tão simples para mim. Sabia que não era incomum um rei tomar seu trono violentamente. Era bastante comum no meu velho mundo também. Mas todos os vassalos e ministros do rei deveriam simplesmente dar de ombros e fingir que nada havia acontecido? Se você pudesse escolher, realmente gostaria de servir a um assassino assim?
— Você quer trabalhar para Pax, Zanoba?
— Não seria minha preferência pessoal —, respondeu Zanoba, balançando a cabeça lentamente.
— Então por que você está fazendo isso? — perguntei, mais bruscamente do que pretendia. Nada do que eu dizia parecia atingi-lo. Nesse ponto, estava começando a me afetar. — Você sabe que ele vai te matar. Você não quer obedecê-lo. Então por que você tem que ir? Por que você está sendo firme sobre isso?
Ele estava preocupado sobre como eles poderiam responder? Havia uma chance de Shirone retaliar se Zanoba optasse por ignorar suas ordens. Ainda assim, Ranoa estava muito longe de Shirone. Não importa o quão rápido você viajasse, a jornada levaria pelo menos seis meses. Era tempo suficiente para traçarmos um plano. Poderíamos até ir a Ariel e pedir para Asura proteger Zanoba. Eu não tinha certeza se fugir de um golpe o qualificaria para asilo, mas não custava tentar.
— Bem, vou tentar explicar.
Zanoba parou por um momento e fez uma tentativa rígida e antinatural de sorrir. Foi uma visão chocante. Normalmente, seu rosto se iluminava com pura alegria toda vez que ele sorria.
— Como você sabe, Mestre, eu sempre fui… uma espécie de fardo para o Reino de Shirone.
— Isso não é verdade. Quero dizer, você é uma Criança Abençoada…
— Uma Criança Abençoada tão incapaz de controlar sua força que assassinou um membro da família real.
Era fácil esquecer esses dias, mas em Shirone, Zanoba tinha um apelido: o Príncipe Rasgador (Arrancador) de Cabeças. Ele acidentalmente decapitou de seu próprio meio-irmão, o filho pequeno da rainha coroada. Obviamente, matar um membro de sua própria família sem um bom motivo era considerado um pecado terrível em Shirone — o tipo de crime pelo qual até mesmo um príncipe real seria punido severamente. Mas, de acordo com Zanoba, ele essencialmente saiu impune. Foi sua mãe que foi exilada.
— Só fui perdoado por causa da minha condição de Criança Abençoada. Eles simplesmente acreditavam que eu seria útil algum dia.
— Espere — disse Cliff, olhando para mim com uma expressão perturbada. — Essa história é verdadeira, Rudeus?
— É verdade. — Zanoba interveio. — E esse não foi o último dos meus erros. Mais tarde, arranquei a cabeça de minha própria esposa, o que causou diretamente uma rebelião.
Por mais que eu quisesse negar tudo isso, era verdade. Zanoba havia se casado por motivos políticos anos atrás. E o assassinato impulsivo de sua noiva na noite de núpcias desencadeou uma insurreição em larga escala.
— A mulher disse algumas coisas realmente vis para mim e senti que minhas ações eram justificadas. Ainda assim, fui responsável pela turbulência que se seguiu. Em circunstâncias normais, eu teria pago por isso com a minha vida. — Zanoba me olhou diretamente nos olhos. — E, no entanto, fui poupado.
Após um momento de silêncio, ele suspirou e continuou em um tom prosaico. — Diga-me, Mestre: por que você acha que não fui executado no local?
Eu não queria responder a essa pergunta. Eu realmente não queria.
— Algum tempo depois, eu te conheci e causei outro incidente escandaloso, finalmente ganhando a punição do exílio. Eu mereci minha morte muitas vezes, mas no final fui apenas banido. E apesar de todos os meus crimes, recebi amplos fundos para construir uma nova vida para mim aqui em Sharia. Por que você acha que foi assim?
Eu sabia onde ele queria chegar, é claro. Eu entendi por que eles o deixaram viver.
— É simples: para que eu possa lutar pelo meu país quando ele realmente precisar de mim. (aqui ele usa “she truly”… acredito que country, nesse momento, esteja se referindo a pátria)
O tom de Zanoba era tão forte que nem consegui responder. Até Cliff congelou em seu assento, com os olhos bem abertos. Ginger era a única que não parecia atordoada, na verdade. A expressão em seu rosto era de tristeza e resignação.
— É meu dever proteger Shirone contra seus inimigos. Essa é a razão pela qual estou vivo e me foi dado o perdão por todos esses anos. Não tenho escolha a não ser voltar imediatamente, entende? Se eu fosse esperar pela notícia da invasão em si, seria tarde demais para agir. Pelo que sei, a luta já começou.
Eu tinha que admitir que ele montou um argumento coerente. Ele devia muito ao seu país, e não havia nada de louco em querer pagar suas dívidas. No fundo, talvez Zanoba estivesse ansioso para voltar a Shirone desde o momento em que soube do golpe de estado de Pax.
Mas não havia como desfazer esses eventos agora. Se lançasse sua própria rebelião contra o novo rei, isso deixaria o país fatalmente enfraquecido e uma presa fácil para seus inimigos. Sendo assim, tinha que obedecer a Pax. Era a única maneira de salvar o reino.
Eu entendia. Eu realmente entendia. Mas ainda parecia estranho ouvir isso de Zanoba. Desde que o conheço, o cara vive em seu próprio mundinho, indiferente a qualquer coisa que aconteça fora dele. Você esperaria que a opinião dele sobre isso fosse algo como… “Uma guerra em casa, você disse? Bem, isso não é da minha conta. Venha aqui e dê uma olhada na minha última estatueta! A cintura dela não é lindamente esculpida?!”
… Claro, eu não poderia dizer nada disso para ele. Agora não. Não seria certo.
Eu queria que ele encolhesse os ombros e ignorasse aquela carta, honestamente. Mas não era isso que ele precisava fazer.
Depois de um longo e doloroso momento, consegui forçar algumas palavras: — Você sabe que eles vão te matar, certo?
— Se meu país me diz para morrer, suponho que terei que morrer. — Zanoba respondeu calmamente.
Foi uma resposta firme e estóica, digna de um samurai medieval ou de um soldado imperial. Eu me encontrei sem palavras.
Precisava parar Zanoba de alguma forma. Não queria que ele morresse.
E, no entanto, não consegui dizer que estava cometendo um erro. Talvez fosse por causa da calma determinação em seus olhos. Talvez fosse porque mudei minha própria maneira de pensar ao longo dos anos. Mas eu simplesmente não podia dizer a ele que tudo isso era ridículo.
Eu não sabia o que dizer.
— Vamos, Mestre, Cliff! Não há necessidade de vocês parecerem tão tristes.
Zanoba nos ofereceu um sorriso surpreendentemente alegre. Era o seu sorriso habitual desta vez.
— Devo admitir, não passei muito tempo pensando em questões de dever cívico quando ainda estava em Shirone. Mas então eu conheci você, Mestre, e você, Cliff e a Srta. Nanahoshi… e conforme o tempo foi passando, comecei a reconsiderar minhas ações. Tirei um tempo para pensar sobre o que deveria fazer.
E então ele decidiu proteger sua terra natal como propósito de vida? Agora que eu realmente estava perdido. Não é como se o resto de nós fôssemos um bando de patriotas fanáticos.
— Suponho que estou sendo bastante pretensioso sobre isso, não estou? — Zanoba continuou, com outro sorriso. — Para ser sincero, nem sei por que cheguei às conclusões que cheguei! Hahaha!
Eu não conseguia rir. Não me pareceu engraçado.
Não tinha o direito de dizer a Zanoba como viver sua vida. Neste ponto, era impossível dizer com certeza se ele estava cometendo um erro. A decisão era dele.
Mas havia uma coisa que eu poderia dizer com certeza: se Zanoba morresse por causa da escolha que fez hoje, isso me machucaria muito.
Zanoba era um dos meus amigos mais próximos. Ele me ajudou de mais maneiras do que eu poderia contar. Ele me tirou de uma situação difícil em Shirone, é claro… mas eu também devia a ele pelos amigos que fiz nesta cidade. Por meio de suas estatuetas, conheci Pursena e Linia, e não tenho certeza se Cliff teria se aproximado de mim sem a ajuda dele. Além disso, em nossa expedição ao Continente Demoníaco, ele deu conta de Atofe com as próprias mãos. E sem a ajuda dele, eu nunca teria concluído o projeto da Armadura Mágica.
Quanto mais pensava sobre isso, mais percebia o quanto eu devia a esse cara.
Deixando tudo isso de lado, eu sinceramente gostei do tempo que passei fazendo estatuetas para ele. Foi divertido tê-lo por perto. Por um lado, ele elogiava a mim e ao meu trabalho em todas as oportunidades. Isso não era ruim para minha auto-estima. Acho que algumas pessoas podem reagir de maneira diferente a esse tipo de coisa, mas definitivamente achei agradável.
Além disso, de acordo com meu diário do futuro, ele ficou comigo até o amargo fim, permanecendo leal até o momento de sua morte. Não podia simplesmente dar de ombros quando um amigo como aquele estava marchando para a morte. Não seria certo. Eu estaria traindo a mim mesmo, assim como a ele.
…Hmm?
Espera aí. O diário…
Senti algo se encaixar abruptamente dentro da minha mente.
— Zanoba.
— Sim, mestre?
— Eu vou também.
As palavras saíram da minha boca bem suavemente, para minha surpresa. Eu nunca esqueceria a estranha mistura de alegria e ansiedade que passou pelo rosto de Zanoba naquele momento.
Depois de encerrar nossa conferência, fui direto informar Orsted. No caminho, refleti sobre essa estranha série de eventos de um ângulo diferente.
Na narrativa do meu (diário do futuro), Zanoba nunca voltou para sua terra natal. Eu não tinha certeza se ele permaneceu em Sharia por toda a sua vida, mas pelo menos ele passou a maior parte do tempo ao meu lado. Naquela linha do tempo, parecia provável que ele nunca tivesse recebido uma ordem para voltar para casa. Talvez o golpe de Pax tenha falhado. Talvez nunca tenha acontecido.
De qualquer maneira, os eventos estavam divergindo daqueles registrados no diário. Isso significava que havia uma chance de que o Deus-Homem estivesse tramando algo.
Agora que pensei sobre isso, não tivemos todos os três discípulos do Deus-Homem em ação ao mesmo tempo, pelo último ano e meio ou mais. Talvez Pax fosse o terceiro, e ele passou esse tempo silenciosamente preparando o terreno para esses eventos? Parecia uma possibilidade real.
Orsted me alertou para ser paciente, sim. Mas talvez a hora de agir finalmente tivesse chegado.
Sim, deve ser isso. Este é o momento que eu esperei todo esse tempo. Eu vou salvar Zanoba, droga!
— Senhor Orsted!
Quando irrompi pela porta, encontrei meu chefe em seu lugar habitual atrás de sua mesa, aparentemente cuidando de alguma papelada.
— Ah, Rudeus. Há algo de errado?
O rosto de Orsted estava mais intimidador do que nunca, mas eu estava muito nervoso para hesitar. Expliquei toda a situação da maneira mais clara e concisa possível, concentrando-me na discrepância entre esses eventos e meu diário do futuro.
— Isso tem que ser o Deus-Homem trabalhando, certo?
— …
Apresentei minha conclusão com confiança, mas a única resposta imediata de Orsted foi olhar furioso para mim em silêncio. Para constar, eu não acho que ele estava tentando me dar esse tipo de olhar. Era assim que seu rosto era.
Hm, isso é estranho. Havia algum buraco na minha lógica?
— Na história que conheço, o Reino de Shirone entra em colapso após um golpe organizado por Pax Shirone daqui a aproximadamente trinta anos.
Eu pisquei, surpreso. — Você disse daqui a trinta anos?
— Eu disse.
Orsted começou a descrever alguns detalhes do fluxo normal de eventos como ele os conhecia. Nesta versão da história, o Incidente de Teletransporte nunca aconteceu, e eu não estava por perto para mexer com a política interna de Shirone. Nessas circunstâncias, Pax esperaria seu tempo, acumulando grandes riquezas por meio de seu controle dos mercados de escravos do reino. Ao longo das décadas, ele atraiu um grupo de co-conspiradores e aleijou seus inimigos por meio de tomada de reféns estratégicos, antes de finalmente lançar um golpe contra o rei reinante. Seu golpe teria sucesso, dando-lhe o trono. Mas, uma vez estabelecido com segurança, finalmente livre para fazer exatamente o que quisesse, Pax começaria a questionar o valor da própria monarquia.
Com o tempo, ele aboliria sua própria posição e estabeleceria Shirone como uma república. Após esses desenvolvimentos, Shirone rapidamente se tornaria uma nação mais forte, expandindo seu território até controlar firmemente metade do atual território disputado em suas fronteiras. E esse novo país, a quarta grande potência mundial, acabaria por produzir um cidadão que daria muitas dores de cabeça ao Deus-Homem.
— Eu presumi que o Deus-Homem o guiou a Shirone todos aqueles anos atrás porque ele queria expulsar Pax de suas fronteiras, impedindo que esses eventos ocorressem — explicou Orsted.
Fazia sentido. O conselho do Deus-Homem me trouxe a Shirone, e eu mudei o curso da história lá. Zanoba e Pax foram exilados de sua terra natal, custando a Pax sua chance no trono. A República de Shirone nunca viria a existir.
— Veja, uma vez que Pax assume o trono, a transição para uma república se torna inevitável.
Orsted parou por um momento, franzindo a testa em pensamento. Basicamente, ele achava que esse golpe era o contrário do que o Deus-Homem queria.
— Bem, a situação é um pouco diferente — falei, incerto. — O Reino do Rei Dragão está do lado de Pax, certo? Talvez ele não faça de Shirone uma república desta vez.
— Ele vai. Já me intrometi em acontecimentos lá de forma parecida, mas independente das circunstâncias, ele sempre acaba abolindo a monarquia.
Ah. Certo. Estávamos entrando em todas aquelas coisas de destino novamente. Depois de passar do ponto em que Pax se tornou rei, aparentemente os eventos basicamente se organizariam para que Shirone acabasse como uma república. Da mesma forma, o futuro de Asura foi determinado a partir do momento em que Ariel assumiu o trono.
— Ei, espera. Então, o que aconteceu na linha do tempo do meu diário?
— Imagino que Pax nunca lançou seu golpe. Shirone permaneceu um poder menor como o Deus-Homem inicialmente desejava.
OK, então…
Na linha do tempo normal, Pax lançou um golpe e tornou-se rei, depois estabeleceu uma república.
Na linha do tempo do diário, a trama do Deus-Homem manteve Pax fora do trono, e Shirone permaneceu um reino.
Nessa linha do tempo, Pax lançou um golpe bem-sucedido e tínhamos certeza de que ele acabaria estabelecendo uma república eventualmente.
Isso parecia estranho. Então o Deus-Homem interveio uma segunda vez apenas para redefinir os eventos de volta ao status quo?
— Eu não entendo. Por que ele faria isso?
— É uma armadilha — disse Orsted, seu tom escurecendo. — Ele quer você morto, Rudeus. Mesmo que isso signifique devolver a história de Shirone ao seu devido curso.
Em outras palavras… ele estava sacrificando voluntariamente uma de suas vitórias táticas por uma chance de me atrair para o perigo. Como um cara que quebra uma boa mão no mahjong só para mexer com seus oponentes.
— Se você morder a isca e aparecer em Shirone para investigar, acredito que cairá nas garras de uma armadilha letal e cuidadosamente montada — concluiu Orsted.
— Temos certeza de que ele não está atrás de você?
— Suponho que seja possível, mas Zanoba Shirone é seu amigo, não meu. Ele é a isca dessa armadilha, o que significa que você é o alvo mais provável.
Pax pediu a Zanoba que voltasse para casa. E apesar do perigo óbvio, Zanoba insistiu que tinha que voltar. O Deus-Homem não sabia se eu iria junto, mas como o risco à vida de Zanoba era tão claro, provavelmente achou que havia uma boa chance de que eu o fizesse. Afinal, ele entendia muito bem a minha personalidade.
…Droga. Aquele bastardo podia ser esperto às vezes.
— Além disso, Zanoba desempenhou um papel crucial na construção de seu equipamento. Mesmo que você não morda a isca, ele pode considerar se desfazer de seu aliado por mérito próprio.
Dois pássaros com uma cajadada, hein? Se eu aparecesse, ele acabaria com nós dois. Caso contrário, ainda ganharia um prêmio de consolação.
— Você vê alguma chance de Zanoba ser um discípulo? — perguntei baixinho.
— Neste caso específico, parece improvável. Ele é um homem sem grande importância para o futuro de Shirone.
Ei! Grosseiro. Não sei sobre Shirone, mas ele é importante para mim, ok? Importante o suficiente para que eu caia direto em uma armadilha feita para ele… Ugh.
— Tudo bem então. Como você acha que devemos abordar isso?
— Da mesma forma que sempre fazemos. Esmagar os esquemas do Deus-Homem com força bruta.
— …Parece bom. (“Parece bom”, acho que fica melhor)
Com Orsted acompanhando, isso não deve ser muito difícil de lidar. Nós derrotaríamos qualquer um que viesse atrás de nós, assim como fizemos em Asura. O que importava se isso era uma armadilha? Eu atrairia nossos inimigos para fora, e se eles fossem demais para mim, ele poderia intervir para cuidar do resto. Ele seria o tamboril*, e eu seria aquele pedacinho brilhante pendurado em sua cabeça.
*tamboril: peixe que possui uma ramificação em sua cabeça, onde a ponta se ilumina. Procure imagens no google para melhor compreensão. (É aquele peixe que atrai outro com a luzinha que aparece em Procurando Nemo)
Aparentemente, algumas pessoas recentemente começaram a se referir a mim como um “seguidor” ou “agente” do Deus Dragão, mas quando você parava para analisar, eu era basicamente sua isca de pesca.
— No entanto, há uma chance de que ele não esteja completamente envolvido com esses eventos.
— … Você poderia elaborar?
— Não há garantia de que esses eventos estejam sempre destinados a acontecer.
Hum. Não tinha considerado esse ângulo.
— As teorias que apresentei anteriormente são essencialmente pura especulação. Esse diário não contém muitos detalhes sobre esse período. É possível que Zanoba Shirone tenha ido brevemente para sua terra natal, apenas para retornar ileso.
Ou seja, o golpe aconteceu sozinho, sem a intervenção do Deus-Homem. Zanoba foi convocado para Shirone, cumpriu seu dever para com sua terra natal e voltou para a Sharia imediatamente depois.
Agora que ele mencionou, acho que não era… impossível?
— …Hmmm.
— Naquela linha do tempo, Zanoba também era um homem procurado com a cabeça a prêmio. Isso pode ter mudado as coisas também. Talvez Shirone não o tenha chamado de volta por medo de irritar Millis, ou ele optou por ignorar a convocação, ou Ginger escondeu a carta dele…
Sim. Isso estava começando a parecer um pouco mais plausível agora. Nossa linha do tempo já havia divergido da do diário em muitos aspectos importantes. Mesmo que Pax assumisse o trono, ele poderia ter hesitado em pedir ajuda a um criminoso notório como Zanoba. O País Sagrado tinha um bando de cavaleiros que serviam essencialmente como mercenários; talvez temesse que eles se juntassem a seus inimigos no campo.
Claro, não havia como saber com certeza. Poderíamos perder o dia todo pensando nas possibilidades.
— Mas o Deus-Homem me usou para mudar o curso da história de Shirone, certo? Por que ele simplesmente sentaria e deixaria Pax terminar no trono sem um bom motivo?
— É possível que o destino de Shirone estivesse simplesmente além de sua capacidade de mudar. Seu destino é bastante forte, mas não pode desviar tudo do curso.
Justo. Obviamente, havia algumas coisas que eu não poderia mudar, mesmo que quisesse.
— Hm…
Nesse ponto, Orsted fez uma pausa para acariciar o queixo pensativamente. Claramente, algo lhe ocorreu.
— Uh… O que é, senhor? — perguntei hesitante.
— Pax foi exilado para o Reino do Rei Dragão, correto?
— Isso mesmo.
— Há uma boa chance de que eles fossem o verdadeiro poder por trás desse golpe, em outras palavras.
— Sim, eu imagino que sim.
Oh, eu vejo onde ele quer chegar com isso.
Pax passou anos no Reino do Rei Dragão. Ele pode ter sido incitado a agir por alguém que mora lá. Em outras palavras, havia uma chance de ele não ser o discípulo que procurávamos. O verdadeiro vilão pode estar escondido em um país totalmente diferente.
— Muito bem — disse Orsted —, Eu irei para o Reino do Rei Dragão e verei se consigo encontrar alguma evidência deste discípulo que você acredita existir.
Huh? Você não vem comigo, chefe? — Uh, mas… pode haver uma armadilha esperando por mim em Shirone, certo?
— … Se você teme essa possibilidade, você deveria permanecer aqui.
O que significaria deixar Zanoba entregue ao seu destino.
Orsted havia prometido proteger minha família, mas não meus amigos. Eu não poderia esperar que ele priorizasse a segurança de Zanoba acima de tudo. A menos que eu… o case com uma de minhas irmãs?!
Não. Ele provavelmente as trataria bem, mas… nah. Vamos tentar manter o foco, Rudeus…
— Devo muito a Zanoba. E de acordo com esse diário, ele foi leal a mim até o dia em que morreu.
— …
— Não posso simplesmente deixá-lo morrer.
O único problema era se eu poderia salvar a vida dele sozinho. Embora… não houvesse nenhuma necessidade de fazer a viagem sozinho. Talvez eu possa chamar alguns reforços. Eris parecia conhecer muitos Santos da Espada… Se escrevêssemos uma carta para o Santuário, poderíamos recrutar um guarda-costas decente.
O principal problema com essa ideia era que eu realmente não deveria contar a um monte de gente que mal conhecia sobre os Círculos de Teletransporte. Provavelmente era prematuro tentar algo assim agora, então…
— Nesse caso — disse Orsted calmamente —, você vai para Shirone, e eu irei para o Reino do Rei Dragão. Vamos esmagar os esquemas do Deus-Homem onde os encontrarmos. Entendido?
— Sim senhor.
No geral, havia muito que não sabíamos no momento. Teríamos que investigar o melhor que pudéssemos durante a jornada.
— Ah sim. Eu quase esqueci. Há uma coisa que quero que você me prometa antes de partir para Shirone.
— O que seria?
Ele iria me fazer jurar que não morreria com ele? Aww, estava me fazendo corar só de pensar nisso.
— Não mate Pax Shirone, mesmo se tiver certeza de que ele é um discípulo.
— …O quê?
— Não mate Pax Shirone.
Bem, ele disse isso duas vezes seguidas, então acho que ele realmente quis dizer isso. Faz sentido, no entanto. Matar Pax pode impedir que Shirone se torne uma república, certo? Sem problemas, chefe! Vou deixá-lo inteiro.
— Tudo bem. Eu entendo.
Ainda assim, isso tornaria minha tarefa um pouco mais difícil. Pax pode tentar nos matar, mas eu não poderia retribuir o favor. Eu tinha que me manter vivo em primeiro lugar e também cuidar das costas de Zanoba até que pudesse arrastá-lo para casa. Isso seria complicado.
Hum… hum. Pensando bem, como vou convencê-lo a voltar para a Sharia?
Eu não tinha certeza do objetivo de Zanoba aqui. Ele queria ajudar seu país a vencer a guerra? Isso seria suficiente para satisfazê-lo?
Bem, tanto faz. De qualquer maneira, eu teria que acompanhá-lo e mantê-lo vivo por enquanto. Quando chegasse o momento certo, eu o convenceria a voltar comigo para Sharia. Nesse ínterim (meio tempo), também procuraria pistas sobre a armadilha do Deus-Homem e seu objetivo geral.
— Obrigado por sua ajuda, Sir Orsted.
— Não precisa me agradecer.
Depois de me curvar profundamente a Orsted, virei-me e saí de seu escritório.
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Hum. Então agora, estou indo direto para a armadilha do Deus-Homem, hein?
Zanoba não se opôs muito quando eu disse a ele que estava indo. Mas se soubesse das minhas suspeitas, tinha a sensação de que isso poderia mudar.
Então, novamente… talvez pudesse usar isso como uma forma de convencê-lo? Se soubesse que o Deus-Homem o estava usando para me atrair para a morte, ele reconsideraria sua decisão de voltar para casa…?
Pensei um pouco, depois abandonei a ideia. Ele provavelmente acabaria dizendo algo como “Talvez você esteja certo. É melhor eu ir sozinho então”. Seria mais simples para nós dois se mantivesse minhas suspeitas para mim por enquanto.
Mais uma vez, estaria escondendo coisas dele. Eu não poderia culpar o homem se ele acabasse se ressentindo de mim.
Tradução: Bucksius
Revisão: B.Lotus
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Primeiro, Cliff apressou-se para os leitos dos enfermos. — Observar a condição do paciente…
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