O incidente ocorreu dez dias atrás, quando começou a estação chuvosa na Aldeia Doldia. Alguém tinha assassinado… err, espere, isso não é uma novel de detetive. Quero dizer, alguém roubou um pouco de carne seca de Lagarto da Floresta que a aldeia havia armazenado para consumo posterior. Naturalmente, os guerreiros conduziram uma investigação imediata. Havia apenas um suspeito: uma guerreira chamada Pursena Adoldia.
Pursena era filha do chefe da tribo Adoldia, e ela só havia retornado à aldeia há cerca de seis meses. Ela voltou como uma graduada talentosa da Universidade de Magia de Ranoa e prontamente anunciou a todos: “Como candidata a futura matriarca de nosso povo, voltei para cumprir meu dever! A propósito, Linia é uma grande perdedora.” E assim, ela entrou na milícia da Tribo Doldia.
A matriarca é a pessoa no ápice da hierarquia das tribos Doldia, que incluía a Dedoldia e a Adoldia. Não se ganha essa posição simplesmente por querer. Era necessária a força adequada e a confiança dos outros guerreiros, também era necessário conquistar a posição de chefe guerreiro antes que o patriarca reinante renunciasse.
Pursena possuía praticamente tudo para ascender à posição de chefe guerreira, exceto por um pequeno problema: ela havia deixado a aldeia antes que pudesse entrar nas fileiras da milícia e havia passado mais de uma década longe. Ela não estava acostumada a fazer parte da comunidade. Foi por isso que o atual chefe e patriarca, Gyes, concordou em deixá-la treinar para o cargo. Uma vez que fosse competente em seu trabalho na aldeia, e tivesse memorizado todos os cheiros e rostos dos outros membros, seria promovida a chefe guerreira. A partir daí, poderia um dia ganhar o título de matriarca. Pode chamar isso de curso de indução de elite.
Como Pursena conhecia magia de cura de alto nível, ganhou o respeito dos outros guerreiros em pouco tempo. Gyes estava satisfeito com seu progresso. Uma vez que a estação chuvosa acabasse, planejava que ela se casasse, então a promoveria a chefe guerreira.
Foi aí que, infelizmente, o incidente ocorreu.
Na noite em que a comida foi roubada, Pursena estava de plantão em frente ao armazém de mantimentos. Estava cheio em preparação para a próxima estação chuvosa, e à noite, sempre tinha uma dupla guardando o lugar.
A pessoa que vigiou ao lado de Pursena era outra guerreira Adoldiana chamada Kanaluna. Infelizmente, Kanaluna estava se sentindo mal naquele dia. No dia anterior, ela havia se machucado lutando contra uma das muitas bestas que apareciam por aqui, e a ferida havia infeccionado, sem tratamento adequado. Kanaluna afirmou que não era nada para se preocupar, mas a pessoa que trabalhou no turno antes dela atestou: “Durante a mudança de turno, seu rosto estava branco como papel.”
Como era apropriado para uma futura matriarca, Pursena disse a ela: “Vá para casa descansar. Vou cuidar das coisas por aqui.” Kanaluna fez o que lhe foi dito e foi tirar uma soneca. Ela só pretendia descansar os olhos por um tempo, mas teve um apagão… talvez porque seu corpo precisava de um sono extra para se curar.
Na manhã seguinte, um único guerreiro chegou ao armazém para a troca de turno. Mas quando chegou lá, notou que os guardas que deveriam estar presentes não estavam em lugar nenhum. Pensando que isso era suspeito, olhou para dentro do armazém, apenas para descobrir que alguém havia invadido e devastado o lugar, devorando coisas a torto e a direito. Mas isso não era tudo, Pursena estava lá com migalhas por todo o rosto, roncando alegremente, tendo enchido a barriga.
Pursena foi presa no local por seu crime. Na Aldeia Doldia, o roubo de comida durante a estação chuvosa era um crime grave. Qualquer confiança que ela construiu com os outros guerreiros evaporou, e suas chances de se tornar chefe guerreira, ou até mesmo matriarca, foram obliteradas.
De qualquer forma, foi assim que ela acabou na prisão.
— Alguém veio atrás de mim naquele dia e me acertou na cabeça, me nocauteando. Quando dei por mim, estava dentro do armazém — afirmou Pursena. — Alguém me incriminou, algum desgraçado doentio! Chefe, eu imploro. Procure o verdadeiro criminoso! Aposto que há alguém por aí que não quer que eu me torne a matriarca. Minitona e Tersena parecem as mais suspeitas, caso me pergunte!
Ela bufou, acrescentando:
— E, de qualquer forma, nada disso faz sentido. Eu nunca seria estúpida o suficiente para ser pega tão rápido se eu estivesse realmente por trás do roubo. Seria muito óbvio, especialmente depois que mandei Kanaluna para casa. Eu também não faria desse jeito, roubaria as coisas pouco a pouco para que ninguém me descobrisse!
Ela insistia em sua inocência. Eu poderia dizer pela minha primeira impressão deles, e por experiência pessoal, que o povo-fera era hábil em acusar erroneamente as pessoas. Se Pursena realmente era inocente, então eu queria ajudá-la.
Resolvi investigar um pouco.
A Aldeia Doldia era uma mistura de Dedoldianos e Adoldianos. Como seu principal dever era cuidar e proteger a Besta Sagrada, muitos de seus habitantes estavam na milícia, mas também havia muitos casais e crianças, já que criavam seus jovens por aqui. Era um assentamento muito grande com cerca de quinhentas pessoas, todas vivendo no topo das árvores.
Como a terra abaixo deles inundava completamente durante a estação chuvosa, agora parecia mais como uma ilha. Isso tornava extremamente improvável que o culpado fosse alguém de fora. Não poderia haver muitos por aí que poderiam navegar nessas águas tempestuosas como eu.
Presumindo que Pursena estava dizendo a verdade, então a explicação mais provável era que alguém a havia incriminado. Assim, com a ajuda do meu fiel assistente Watson e do inspetor de polícia Gyes, comecei a reunir evidências e depoimentos de testemunhas.
— Então, é isso — falei. — Vamos indo, Watson.
Linia inclinou a cabeça.
— Quem é esse Watson, miau?
— É você, Linia. Há um certo país por aí onde as pessoas chamam seu assistente de Watson — expliquei.
— Uh, certo…
Gyes parecia não ter problemas em receber o título de inspetor de polícia, mas, apesar dessa indulgência, ele suspirou como se pensasse que tudo isso era um exercício de futilidade.
Depoimento da Primeira Testemunha
NOME: Gimel
PROFISSÃO: Guerreiro
ASSOCIAÇÃO COM A ACUSADA: Primeiro a ver o local do crime
— Então você foi o primeiro a chegar na cena do crime? — esclareci.
— Sim.
Déjà vu me atingiu no momento em que vi o homem em questão. Eu tinha certeza de que o tinha visto em algum lugar antes.
Talvez eu devesse perguntar..
Seleção de Personagem: Gimel
Opção de Diálogo: Consultar sobre o passado
— Já te vi em algum lugar antes? — questionei.
O homem assentiu.
— Sim. Dez anos atrás, caí na água e você me salvou.
Oh, interessante. Pensando bem, há dez anos, Ruijerd e eu salvamos alguém durante a estação chuvosa. Lembrei-me do garotinho bonitinho balançando o rabo para mim em gratidão.
Cara, isso com certeza desperta umas memórias.
De qualquer forma, isso não importava agora. Tinha que me concentrar em resolver esse mistério.
— Quando você encontrou Pursena dez dias atrás, depois que ela roubou o armazém e comeu toda aquela comida, como estava o lugar? Pode descrever a cena para mim?
— Uh… vejamos… As caixas de carne seca de lagarto estavam abertas e Pursena estava enrolada diante delas, dormindo profundamente. Sua barriga estava toda inchada e tinha comida em suas mãos, um sorriso no rosto enquanto murmurava para si mesma: “Não aguento mais nenhuma mordida.”
Eu podia imaginar isso tão vividamente em minha mente. Talvez porque soasse quase exatamente como a cena que testemunhei alguns momentos atrás.
— Em outras palavras, ninguém realmente a viu comendo a carne seca, certo?
Ele concordou.
— Isso mesmo. Embora tenhamos encontrado um pouco da carne presa entre os dentes, e sua saliva cheirava a carne seca meio comida que ela havia descartado por perto no chão.
Huh. Os Doldianos tinham um jeito único de investigar. A inocência de uma pessoa ou a falta dela poderia ser estabelecida apenas pelo cheiro. Eles tinham absoluta confiança em seus focinhos. No que lhes dizia respeito, encontrar o cheiro dos bens roubados na saliva de alguém era toda a prova que precisavam. Mas isso não era infalível.
— Você diz que o estômago dela estava cheio de comida, mas será que estou certo em supor que realmente não sabe se era carne seca dentro dela? — questionei.
— Mas seu arroto também carregava o cheiro da carne de lagarto. Já comi antes, então sei exatamente como cheira — disse ele.
Ou talvez fosse infalível, ops.
Se podem detectar o cheiro do que quer que estivesse dentro de sua barriga, então era praticamente garantido que Pursena havia, de fato, devorado a carne seca. Supondo que ninguém a tivesse aberto com uma tesoura gigante e enchido o estômago de carne seca.
— Mais alguma coisa? — Eu o pressionei, esperando por algo. — Por exemplo… pegadas pertencentes a alguém que não seja Pursena?
— Não. Nenhuma outra pegada, nenhum outro cheiro, e nenhum outro cabelo encontrado na cena.
Interessante. Nesse caso, o verdadeiro culpado cometeu o crime perfeito.
Depoimento da Segunda Testemunha
NOME: Kanaluna
PROFISSÃO: Guerreira
ASSOCIAÇÃO COM A ACUSADA: Companheira do turno da noite
— Senhorita Kanaluna — falei —, como estava Pursena no dia do incidente?
— Ela ficava dizendo a mesma coisa várias vezes. “Não comi nada desde cedo. Estou morrendo de fome.”
Então Pursena estava faminta no dia do crime. Isso era terrivelmente estranho, dado que a Pursena que eu conhecia estava sempre mastigando algo, independentemente de ser hora da refeição ou não. Ela era como uma lata de lixo, comendo qualquer tipo de carne: seca, defumada ou crua.
Mas algo me parecia errado aqui.
— E você pode me dizer por que ela não tinha comido?
— Quando estávamos exterminando monstros no dia anterior, muitas pessoas se machucaram — explicou ela.
Isso também estava escrito no relatório; no dia anterior, um enorme grupo de monstros apareceu. Tiveram a sorte de não haver civis feridos, mas muitos de seus guerreiros ficaram gravemente feridos.
— Hm — falei.
— Pursena é a única na aldeia que pode usar magia de cura avançada. Ela estava correndo para lá e para cá, constantemente tentando curar todos aqueles que estavam seriamente feridos. No final, desmaiou por falta de mana.
Eu já tinha experimentado isso antes; quando fica sem nada, desmaia e não acorda por meio dia, ou mesmo um dia inteiro em alguns casos. Pursena não era exceção. Ela deve ter desmaiado, e quando acordou, era sua vez de ficar de guarda. Pelo que parecia, ela foi direto para o trabalho, sem comer ou beber nada.
— Vocês não poderiam tê-la alimentado ou algo assim? — questionei.
Kanaluna balançou a cabeça.
— Regras são regras.
Durante a estação chuvosa, qualquer lanche ou refeição fora dos horários regulares de refeição era proibido. Mantinham um controle rigoroso sobre suas provisões para garantir que não acabassem antes do período de três meses.
— Que tal deixá-la faltar ao serviço por um dia?
— Tantos monstros atacaram no dia anterior que boa parte de nossos guerreiros ainda estava acamada. Não tínhamos pessoas suficientes. Por mais que gostássemos de deixá-la descansar, até ela mesma disse: “É só um pouco de fome, nada sério.”
Fazia sentido. Ela provavelmente sentiu um senso de dever como a futura matriarca. Isso era admirável. Seria um exemplo brilhante para o meu eu preguiçoso do passado que usou todas as desculpas existentes para fugir de suas obrigações.
— E foi isso que levou ao incidente — supus.
— Correto. Fico pensando, se ao menos eu tivesse encontrado algo para ela comer naquela hora, isso poderia nunca ter acontecido.
As circunstâncias pareciam justificar uma exceção neste caso para o crime de Pursena, mas isso seria difícil, uma vez que a suspeita em questão ainda afirmava firmemente que não havia feito isso.
Entrada de Watson
— Watson… — balancei a cabeça. — Não, Linia. O que você acha, depois de ouvir tudo isso? — Achei que valia a pena perguntar à minha assistente, já que ela era amiga da Pursena, afinal.
— Pensei que ela era culpada desde o início, miau.
— Hm.
— Ela sempre teve o hábito de roubar qualquer coisa disponível e devorá-la quando seu estômago está vazio, miau. Ela até comeu alguns dos meus peixes secos antes, sabe.
Então ela já tem antecedente…
Tendo ouvido o que todos tinham a dizer, notei que havia apenas uma testemunha cuja declaração parecia inconsistente. Alguém tinha que estar mentindo. Mas quem poderia ser?
Seleção de Personagem: Pursena
Correto, era Pursena. Ela era a única que não admitia suas próprias ações, alegando que alguém a havia nocauteado por trás.
Voltei à prisão para questioná-la sobre isso mais uma vez.
Seleção de Ação: Mover para localização
Localização: Arredor da Aldeia → Prisão
Seleção de Personagem: Pursena
Opção de Diálogo: Perguntar sobre o incidente
— Pursena — falei. — Você tem certeza absoluta de que não é culpada? Olhe-me nos olhos e me diga.
— É sério, Chefe. Acredite em mim. — Ela olhou diretamente para mim, os olhos brilhando e as mãos entrelaçadas à sua frente. A única coisa que parecia suspeita era a maneira como seu rabo balançava.
Hora de induzi-la a dizer a verdade.
— Se eu advogar por você, há uma boa chance de conseguir tirá-la daqui — ofereci.
— Eu sabia que você conseguia, Chefe!
— Mas, se você sair desta cela e eu descobrir que está mentindo, não vou deixar você comer carne por um ano inteiro.
Pursena se encolheu.
— B-bem, é c-claro que eu n-não estou mentindo!
Eu a encarei.
— Você pode jurar por Deus?
— E-eu posso! — Seus olhos dispararam nervosamente para todos os lados.
Eu sabia que havia algo suspeito. É um olhar de culpa.
— Só para você saber, não mostro misericórdia para com aqueles que blasfemam contra meu Deus. — Estendi a mão pelas barras e agarrei a cabeça dela com as mãos, forçando-a a me olhar nos olhos enquanto falava com ela. — Você pode realmente jurar por Deus?
Pursena estava plenamente ciente da pessoa que eu reverenciava tanto. Seu rosto ficou mortalmente pálido e todo o seu corpo começou a tremer. Ela enrolou o rabo entre as pernas e agarrou a ponta com as duas mãos.
— Bem?
— F-fui eu. Eu fiz isso — finalmente confessou.
E com isso, o caso foi resolvido. A culpada era, como todos esperavam, Pursena Adoldia. Ela colocou a culpa em um terceiro não identificado porque não queria assumir a responsabilidade. Diabinho sorrateiro. Embora ela estivesse enfeitiçada pela carne, talvez fosse, de certa forma, uma vítima.
— Senhor Gyes, peço desculpas pelo incômodo extra — falei.
— Está tudo bem. Mais importante, você tem certeza de que está bem com Pursena?
Ele assistiu a coisa toda com um olhar exasperado, mas agora que tudo estava resolvido, parecia ansioso por algo que eu não conseguia identificar.
— Se está tudo bem com Pursena?
— Estou falando, é claro, sobre o outro guerreiro que você planeja levar para cuidar da Besta Sagrada.
Hm, o quê? Calma aí. Eu nunca disse uma palavra sobre querer Pursena para preencher esse papel.
Ele parecia muito animado com a ideia de eu levar Pursena. Embora, acho que eu criei essa concepção, em primeiro lugar. Fazia sentido que ele tivesse tido a ideia errada.
— Tem certeza de que a quer? — perguntou ele novamente.
— Não, não quero.
Claro que eu não queria! Eu seria suspeito de trair mais uma vez se a deixasse entrar na nossa casa diariamente. Sylphie e Roxy me deram lindas garotinhas, e eu não queria estragar minha família por causa dessa idiota. Eu já podia imaginá-la devorando toda a nossa carne, e quão amargas Aisha e Lilia ficariam depois. A única pessoa que a receberia de braços abertos seria Eris.
De qualquer forma, seria melhor ter alguém mais sério, que não me acusasse de traição. Como… sim, Gimel, por exemplo.
— Entendo, então você prefere outra pessoa. — Gyes assentiu pensativo. — Então você vai com Minitona ou Tersena?
— Não, essas duas também são candidatas a matriarca, certo? Deve ter alguém mais.
Começamos a ir em direção à saída enquanto discutíamos nossas opções.
— Ah, espera! Não me deixe aqui, Chefe! Me tira daqui. Quero que me leve com você! Não quero viver uma vida sem carne!
Nós dois ignoramos a voz que gritava atrás de nós.
— Mewhahaha! — Linia gargalhou ao passar pela porta, tendo esperado do lado de fora o tempo todo. Parecia que ela já tinha sido jogada nua ali antes, e entrar lá só serviria para reviver sua vergonha. Foi por isso que ela se recusou veementemente a adentrar até onde estava Pursena.
— Ei, Pursena. Parece que você foi abandonada, miau!
O queixo de Pursena caiu.
— L-Linia?! Achei que tinha sentido o seu cheiro. O que está fazendo aqui?!
Por alguma razão, Linia trajava óculos escuros. Eram os mesmos que usava enquanto trabalhava, os que escondiam a forma que seus olhos se transformavam em cifrões enquanto contava dinheiro.
— Por que pergunta? Mewhehe. Você realmente não sabe, miau? — Linia agarrou meu braço e pressionou seus seios contra ele.
Pare já com isso. Urgh, já sinto o cheiro de você entrando no cio.
— N-Não me diga que você e o Chefe estão…? — O nariz de Pursena se contraiu quando ela fungou o ar, seus lábios tremiam.
Os lábios de Linia formaram um sorriso verdadeiramente sinistro.
— Isso mesmo. Ah, isso me lembra da noite apaixonada que passamos juntos. O Chefe me pegou e me carregou, igual uma princesa, em seus braços. Ah não, não posso compartilhar mais do que isso, miau! Apenas saiba que o Chefe me-au fez chorar naquele dia.
— S-sem chances…! — Pursena balançou a cabeça em descrença. — O Chefe disse que Fitz e a Roxy achariam ruim, então nunca nos deu nenhuma bola!
— Mewhaha! Você não acha que a única razão pela qual ele nunca te deu atenção é porque você não era atraente o suficiente? No segundo em que ficou só ele e mi-eu, ele não se cansou. Cara, vou te dizer, o sangue nobre dos Greyrats flui nas veias dele. Nossa primeira noite juntos foi tão dura, pensei que poderia quebrar uma das minhas costelas, miau.
— Q-quebrar uma de suas costelas?! Quão violento foi o sexo que vocês fizeram?
Ela provavelmente estava se referindo à primeira noite que passou com Eris. Eris tinha o hábito de praticamente espremer sua colega de cama até a morte enquanto dormia. Eu já tinha sido vítima disso. Assim como Léo e, aparentemente, Linia. Na manhã seguinte, Linia estava à beira das lágrimas enquanto fazia Sylphie curar suas feridas. Ela não estava mentindo sobre os detalhes, pelo menos.
— L-Linia, agora você é esposa do Chefe?
— Nah, não exatamente sua esposa, miau… — Linia fez uma pausa para obter um efeito exagerado e então disse: — Mas basicamente, sou como sua escrava, mew.
— Escrava dele?! — O rosto de Pursena ficou vermelho quando ela bateu com as mãos na boca.
Bem, a parte de escrava também não era mentira.
— Você poderia dizer que esculpi um lugar muito bom para mim, miau. Posso ser sua escrava, mas ele me deixa trabalhar e tenho cinquenta subordinados abaixo de mim-au. Ao contrário de você, nunca vou ser jogada na cadeia, e posso desfrutar dos afetos do Chefe. Ah, mas tenho que admitir, seria muito mais grandioso ser a matriarca dos Doldia, miau. Mas você parece estar fora da corrida para isso. Mewhaha!
Sua risada desagradável encheu o cômodo.
— Liniaaaa! — O rosto de Pursena se enfurece enquanto agarrava as barras de metal e as sacudia. Lenta mas gradualmente, a força deixou seu corpo até que ela caiu de joelhos, fungando. — Isso não é justo… Naquele dia, eu realmente estava tão ocupada que não consegui encontrar tempo para dar uma única mordida o dia inteiro. Eu nem comi tanto assim do armazém, só o que comeria durante qualquer refeição normal. Poderíamos reabastecer isso matando e secando outra besta… — Ela caiu para frente e começou a chorar.
Linia finalmente se soltou de mim.
— Aaah, isso foi bom, miau. — Ela parecia realmente satisfeita.
Que pessoa terrível.
Com isto posto, achei que as circunstâncias excepcionais de Pursena mereciam alguma consideração. O ataque do monstro durou de meia-noite até o início da manhã. Quem estava de guarda naquele dia era o responsável pelo número de feridos, até onde eu sabia. O equívoco deles havia transferido o fardo para Pursena, como uma das curandeiras da tribo. Uma vez que todos os monstros foram eliminados, ela trabalhou incansavelmente para curar as pessoas, e foi provavelmente por isso que tantos foram salvos. Mas no final, ela desmaiou, tendo gasto toda a sua mana. Não lhe deram tempo para comer quando finalmente acordou e foi enviada diretamente para o serviço de guarda.
O que ela passou teria sido difícil para qualquer um. Havia algumas partes da situação que, realmente, ninguém poderia ser culpado. É verdade que ela roubou comida. Mesmo que tivesse sido designada para o serviço de guarda depois de não comer por um dia inteiro, isso não era uma desculpa para roubar. Lá no Japão, se descobrissem que um policial cometeu um crime, ele seria imediatamente retirado do serviço. Ela merecia alguma consideração por suas circunstâncias, mas um crime ainda era um crime. Ela havia quebrado uma das regras da aldeia. Não podia se queixar de que não estava mais concorrendo a chefe guerreira ou matriarca.
— Ei, Chefe, Pai… — Linia se virou para nós, sua expressão agora solene. — Tenho um favor para pedir, miau. — Ela abaixou toda a parte superior do corpo no arco perfeito de quarenta e cinco graus. — Eu gostaria que vocês nomeassem Pursena para cuidar da Besta Sagrada, miau.
Quando ela ergueu o rosto novamente, nos encarou com determinação nos olhos. Endireitei-me, pronto para ouvi-la.
— Nós duas fomos para aquelas terras estrangeiras distantes para que pudéssemos nos tornar o melhor que poderíamos ser como futuras matriarcas em potencial, miau. Estou confiante de que nos esforçamos mais do que qualquer outra pessoa. Ou nunca teríamos nos tornado líderes de classe, miau. Quando perdi para Pursena no final, desisti e a deixei seguir o caminho do nosso povo. Mas só fiz isso porque pensei que ela seria uma grande matriarca, miau. Não acho justo ela ter que voltar à estaca zero por um-iau único erro.
Linia fez uma pausa e respirou fundo antes de se virar para o pai.
— Quero que você dê uma chance a ela, miau. Se ela for capaz de cuidar da Besta Sagrada pelos próximos cinco anos, não, que sejam dez, como deveria e cumprir o papel que lhe foi atribuído, então deixe-a voltar aqui com a filha do Chefe e a perdoe por seu crime, miau. Não vou pedir que a faça a matriarca, mas gostaria que ela pelo menos tivesse uma posição igualmente respeitável, miau.
Seu pedido não era nem um pouco lógico. A própria Linia tinha abandonado seus deveres para se tornar uma comerciante. Não tinha o direito de fazer um pedido como este. Além disso, esse crime foi resultado da falta de autocontrole de Pursena. Eu podia admitir que ela merecia alguma clemência por causa das circunstâncias excepcionais. Verdadeiramente… mas um crime ainda era um crime. Pedir por pleno perdão simplesmente porque ela havia trabalhado duro por todo esse tempo era muito. Essa não era uma razão válida.
— Não posso fazer isso — disse Gyes, compartilhando meus sentimentos.
Erros que cometeu no passado não simplesmente desaparecem, e também não se pode apagá-los. Era assim que o mundo funcionava. Eu sabia disso tão bem quanto qualquer um. Ainda assim, queria que seus esforços fossem recompensados de alguma forma. Pursena havia trabalhado muito; ela assistiu às aulas com seriedade, comendo carne o tempo todo. Tivemos aulas de cura juntos, então eu sabia o quão dedicada ela era. Não tenho dúvidas de que havia trabalhado duas vezes mais do que a maioria das pessoas. Foi assim que liderou sua classe, apesar de a maioria do povo-fera não ter afinidade com a magia.
Eu queria que tudo isso valesse a pena para ela. Honestamente. Principalmente porque eu simpatizava com ela: se eu trabalhasse duro em alguma coisa, também gostaria que desse frutos para mim.
E se eu estivesse em posição de ajudar alguém a ser recompensado, queria fazer o meu melhor a esse respeito.
— Senhor Gyes — interrompi. — Espero que não se importe, mas também gostaria de pedir que concorde com o pedido de Linia.
— Huh? Chefe, tem certeza?
Gyes fez uma careta, baixando o queixo enquanto pensava no meu pedido. Depois de um momento, ele finalmente levantou a cabeça novamente e disse:
— Muito bem. Vou permitir isso.
O Gyes que eu conhecia teria teimosamente dito não até o fim. Cuidar da Besta Sagrada parecia um dever extremamente prestigioso, e não algo que confiaria a uma criminosa que havia roubado comida. Para não só deixar Pursena ter essa honra, mas para limpar sua ficha também? Isso era tolice. A única que se beneficiava era Pursena, e muito.
Honestamente, eu nem tinha certeza se meu julgamento sobre esse assunto estava correto. Provavelmente estava cometendo um erro, mas foi exatamente por isso que reconheci que estava sendo egoísta.
— Linia, Pursena — falei —, é melhor vocês se certificarem de cumprir seus deveres adequadamente. Entendido?
— Podeixar, miau.
— Com certeza!
As duas garotas abaixaram a cabeça ao mesmo tempo. Enquanto eu as observava, me peguei pensando: Essas duas realmente ficam no seu melhor quando estão juntas.
Usamos a jangada para retornar pelo caminho que viemos, indo em direção à Estrada da Espada Sagrada. Quando encontramos o monumento aos Sete Grandes Poderes, senti que era um momento tão bom quanto qualquer outro e puxei minha flauta. Consegui convocar Arumanfi, que nos levou de volta à fortaleza flutuante.
— Este lugar certamente desperta algumas memórias. Nunca pensei que voltaria para a cidade que uma vez governei. — Pursena falou nostalgicamente enquanto olhava para a Cidade Mágica de Sharia de onde estávamos na fortaleza flutuante.
Sim, ela realmente voltou para o lugar que poderia chamar de sua segunda casa.
— Ah, Pursena, há uma coisinha que esqueci de mencionar, miau — disse Linia.
— O que é? Estou ficando meio sentimental aqui, então agradeceria se você dissesse logo.
— Bem, eu te ajudei. Então, por um tempo, você vai ser minha subordinada, entendeu?
— Huh?!
E foi assim que Pursena se tornou a lacaia de Linia.
Tradução: Taipan
Revisão: Guilherme
QC: Delongas
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