Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 18 – Cap. 06 – Começando um Negócio

 

Não posso deixar Linia em casa. A atmosfera piorou com sua presença, e se ela continuasse me tentando sexualmente, chegaria um ponto em que eu não poderia mais resistir.

Se eu não fizesse algo, nossa família ruiria. Se acabasse perdendo o controle sobre mim e traísse, Sylphie poderia pegar Lucie e ir embora. Até onde eu sabia, o futuro predito naquele diário ainda poderia acontecer, apesar do quanto trabalhei duro para mudar esses eventos. Eu tinha que impedir que as coisas chegassem a isso.

Foi por esse motivo que decidi encontrar outro emprego para Linia. Pensei em cancelar sua dívida e tirá-la de casa, mas mesmo sendo amigos, ainda havia limites. A quantidade de dinheiro que gastei para comprá-la era obscena para os padrões de qualquer um, e ela precisava devolvê-la. E esse seria um acordo que não me renderia nada.

Mas para que Linia servia? Eu não conseguia imaginar, francamente. Ela podia manipular magia e lutar, mas de cabeça não conseguia pensar em nenhum trabalho que a ajudasse a devolver o que devia.

Vasculhei meu cérebro em busca de ideias. Pensei em pagá-la para ajudar Cliff e Zanoba em suas pesquisas. Suas notas eram respeitáveis quando se formou, então era possível que pudesse ser de alguma utilidade. Mas então percebi que fazer pesquisa não combinava com a personalidade dela. Ela não seria capaz de se comprometer com o trabalho repetitivo de um escritório. Além disso, apesar da probabilidade de acontecer alguma coisa ser baixa, não parecia certo empurrar alguém tão sedutora quanto ela para cima de Cliff quando ele tinha acabado de ter um filho.

Também considerei confiar a ela a responsabilidade de supervisionar as vendas da estatueta de Ruijerd, mas rapidamente desisti da ideia. A garota ficou endividada no momento em que tentou ser uma comerciante. Como já havia se mostrado inapta, não vi motivos para confiar isso a ela.

Mandá-la para a universidade para ser criada pessoal de Norn era outra opção, mas imediatamente afastei esse pensamento. Norn não ficaria satisfeita com isso, e provavelmente causaria uma repetição do que estava acontecendo em casa.

Eu poderia fazê-la trabalhar como aventureira para ganhar algum dinheiro. Porém, enquanto alguns trabalhos pagavam bem, a maioria não pagava. Linia nem sequer era licenciada como aventureira. Levaria muito tempo para começar a ganhar um bom dinheiro com isso, e havia a possibilidade de que morresse no trabalho antes de conseguir.

Nenhuma das opções que considerei oferecia uma maneira de pagar as mil e quinhentas moedas de ouro Asuranas em um período razoável de tempo. Ainda assim, era muito cedo para jogar a toalha simplesmente porque eu não conseguia pensar em algo. Talvez ela fosse mais adequada a uma opção que eu sequer cheguei a considerar. Por essa razão, decidi trazê-la para a universidade comigo.

Linia usava sua roupa de criada enquanto passeávamos pelo terreno da escola. Ela caminhava na minha frente, agindo de forma altiva e poderosa enquanto ameaçava os outros alunos para abrir caminho.

— Xô, xô! O chefe está passando, miau! Abram caminho para ele se não quiserem ser pisoteados!

Era difícil vê-la como qualquer coisa além de uma arruaceira.

— Ei, quanto tempo!

— E aí!

Pensei em parar com suas palhaçadas, mas os homens-fera pelos quais passamos nos cumprimentaram alegremente, então decidi ficar de olho nas coisas por mais um tempo. Apenas dois anos se passaram desde que Linia se formou, então muitos alunos ainda a conheciam. Alguns daqueles prestes a se formar podiam até ter servido como um de seus subordinados quando ela mandava no pedaço. Talvez a resposta sobre qual trabalho eu poderia atribuir a ela estivesse em algum lugar nessa bagunça.

— Senhora Linia! Há quanto tempo não te vejo!

Enquanto eu estava perdido em pensamentos, um dos garotos caminhou até nós. Quem diabos é esse? Senti como se tivesse sido apresentado a essa pessoa antes, por volta da época em que eu era um segundanista. Não me lembrava do nome dele, mas lembrava que era o melhor cão da sua turma.

— Ah, ei, é você! Ainda tem algum espírito de luta, miau?

— Com certeza!

— Bom! Continue assim, miau.

— Com certeza!

Linia realmente agia como se fosse a dona do pedaço, apesar de usar uma roupa de criada enquanto se afogava em dívidas.

— De qualquer forma, Senhora Linia, tem certeza de que está tudo bem?

Linia inclinou a cabeça.

— Miau? O que quer dizer?

— Quero dizer, sua situação atual. Ouvi algumas coisas, sabe. Dizem que o irmão mais velho da presidente do conselho está te mantendo como escrava. É verdade?

— Acho que sim. Meio que estraguei tudo e me coloquei nessa situação, miau. Mesmo assim, o sonho do povo-fera é servir alguém mais forte, então não é tão ruim, miau — disse Linia com orgulho.

O aluno soltou um suspiro e, após uma longa pausa, disse:

— Sendo sincero, fico meio desapontado.

— Por quê, miau?

— Antes de se formar, você ainda tinha coragem, parecia realmente pretender retomar sua posição na universidade de Rudeus e Ariel. Mas agora é como… um animal de estimação insignificante.

Linia ficou em silêncio depois disso. Imaginei que ela mostraria as presas e atacaria com raiva, mas… só riu.

— Sim, acho que decaí bastante. Mas espera pra ver, miau. Vou abrir meu caminho de novo, miau!

— Abrir seu caminho?

— Você entendeu, miau. Se quiser voltar para o topo, primeiro precisa chegar ao fundo do poço, miau.

Os olhos do aluno se iluminaram com a compreensão do que ela estava dizendo, um sorriso surgindo em seu rosto.

— Senhora Linia, eu sabia que você era assim! Acho que não fui inteligente o suficiente para entender seu plano!

— Bem, meu cérebro é muito melhor do que o da maioria, miau — disse Linia com orgulho, batendo na testa.

Em um instante o aluno começou a olhá-la com respeito e enchê-la de elogios. Assim que terminou, ele finalmente fez seu caminho para sua sala de aula. Bem, acho ótimo que eles se dêem bem.

Permaneci em silêncio enquanto caminhávamos para o prédio de pesquisa. Durante todo o caminho, as pessoas continuaram prestando seus respeitos a Linia. Só quando chegamos ao prédio, onde não havia mais ninguém, que isso parou. Enquanto caminhávamos pelos corredores, banhados em silêncio, Linia olhou por cima do ombro para mim.

— Chefe, só para você saber, eu só estava dando uma de boa, miau.

— Está falando daquilo com seu subalterno?

Linia esfregou as mãos, aproximando-se de mim como se estivesse tentando se insinuar.

— A parte sobre mim abrindo caminho. Tenho que manter algum respeito na frente das crianças, mas não tenho intenção de me opor a você, Chefe. Você me-au entende, né?

— Aham.

Conhecendo-a, ela provavelmente quis dizer o que havia dito. Especialmente com a estranha vibração de sua última frase, eu suspeitava que estava apenas tentando me acalmar. Suas verdadeiras intenções eram provavelmente o que havia dito àquele aluno.

— Não há nada de errado com a ambição — falei. — Mas aconselharia a não cuspir nas mesmas pessoas a quem você deveria ser grata.

— Claro, miau. Se acha que estou mentindo, vamos para uma dessas salas vazias e provarei minha lealdade, miau. Só peço que seja gentil comigo. Mwehehe!

Hahaha… sim, não.

Será que sua conversa de abrir caminho era menos sobre tentar me superar e mais como tentar ser a minha primeira? Primeiro se tornando minha parceira sexual, depois ganhando afeto o bastante para ser minha esposa favorita, usurpando o triunvirato de Sylphie, Roxy e Eris. Que coisinha astuta! Talvez ela fosse até mesmo uma assassina enviada pelo Deus-Homem para separar minha família.

— Ei — falei em voz baixa. — Nestes últimos anos, você viu um cara alegando ser um deus aparecendo nos seus sonhos?

— O que é isso tão de repente, miau? Algum tipo de sonho profético? Não lembro de nada do tipo, miau.

— Tentar esconder isso não vai ajudar em nada — falei em tom de ameaça. Afinal, na corte do Deus Dragão, os suspeitos são submetidos à guilhotina. Não que eu fosse tão violento.

— O-o sonho que tive ontem foi sobre um monte de peixe caindo do céu, miau. Uh, o anterior a esse… erm, não lembro.

Deve ser bom ter sonhos tão agradáveis. Sem dúvida, ela ganharia um ponto por peixe e, quando chegasse aos cem, seria recompensada com uma vida extra. Claro, se não tivesse cuidado, poderia acabar pegando alguma coisa perigosa ou algo assim.

Deixando isso de lado, ela não parecia ser um dos apóstolos do Deus-Homem… pelo menos até onde eu sabia. Ele não era do tipo de empregar alguém tão selvagem e imprevisível quanto Linia.

— Então acho que chega disso. Mas se tiver algum sonho assim, é bom me dizer na mesma hora — falei.

— Podeixar, miau.

Suspirei e fui em direção ao nosso primeiro destino: a sala de pesquisa de Zanoba.

— Ah, Mestre… urk!

Zanoba fez uma careta no momento em que viu Linia comigo.

— Já faz… um tempo — disse ele.

— Ei, Zanoba. Com certeza faz, miau.

Suor frio desceu pela testa de Zanoba enquanto ele examinava seu quarto.

— Com licença, mas, por favor, um momento enquanto limpo um pouco.

Ele rapidamente começou a guardar cada boneca ou estatueta exibida em uma caixa. Não importava se eram frágeis ou não; não deixou nada à mostra. Julie estava no meio da pintura de uma estatueta de Ruijerd, mas parou de trabalhar para imitar seu mestre, limpando sua área de trabalho.

— Hm. Isso deve ser aceitável. Muito bem, vamos conversar ali. — Zanoba apontou para uma mesa que estava um pouco afastada de sua área de trabalho.

Julie se afastou de sua mesa e começou a cambalear, apenas para Zanoba levantar a mão.

— Julie, continue trabalhando — disse ele.

— Entendido, Mestre.

Linia, Zanoba e eu nos sentamos à mesa. Ele parecia inquieto e se virou para Ginger, que estava de pé no canto da sala.

— Ginger!

— Sim, Vossa Alteza!

Ele não emitiu nenhum comando explícito, mas ela se moveu para ficar entre a mesa e a área de trabalho, como se a protegesse.

— Pois bem, Mestre — disse Zanoba, virando o olhar para mim. — Que negócios lhe trazem aqui hoje?

Mesmo enquanto perguntava, mantinha olhares furtivos para Linia, não baixando a guarda. Ele não havia dito nada, mas provavelmente não estava satisfeito em permitir que ela entrasse em sua sala de pesquisa. Me senti mal por forçar isso.

— Nada de especial — falei.

— Hm.

A julgar por sua atitude em relação a ela, não havia como deixá-la ajudar em sua pesquisa. Como eu esperava – ou talvez até pior do que isso – os dois se chocaram demais. Linia intimidando-o e destruindo sua estatueta deixou uma impressão duradoura. Foi como com Aisha, exceto pela parte do bullying: Linia quebrando sua amada xícara de chá foi a última gota. Zanoba estava conseguindo manter a fachada, mas se eu pedisse para deixar Linia ajudar, essa mesma fachada provavelmente se quebraria.

— A propósito, Mestre, por que Linia está acompanhando você hoje? — perguntou Zanoba. — Ouvi dizer que você a mantinha como criada em sua casa, mas…

Dei de ombros.

— É uma história bastante longa, na verdade. Estou tentando encontrar um emprego para ela.

— Oh… entendo… — Seus olhos dispararam para frente e para trás. Talvez tivesse alguma ideia de que tipo de trabalho ela poderia fazer, mas ao mesmo tempo não queria ser vinculado a Linia.

Não se preocupe. Vou levá-la de volta comigo, prometo. Este era um bom exemplo de como os erros passados poderiam morder sua bunda no presente.

— Bem, já chega disso — falei. — Vamos discutir sua pesquisa.

— Ah, sim, uma ideia esplêndida!

Depois que indiretamente deixei claro que não iria empurrar nada para ele, Zanoba voltou ao seu estado habitual e alegre e começou a discutir a armadura mágica comigo.

Almoçamos no refeitório. Enquanto eu discretamente apreciava minha refeição em um canto sozinho, Linia estava sentada a uma curta distância, cercada por pessoas.

— Mewhaha! E foi quando eu disse a ela, miau. “Pursena, você não está um pouco gordinha?”

— Isso é a sua cara, Senhorita Linia!

— É preciso muita coragem para dizer esse tipo de coisa para a Senhorita Pursena!

Não percebi isso quando Ariel estava por perto, mas Linia também tinha seu próprio carisma, do tipo que apenas um delinquente possuiria. As pessoas que clamavam ao seu redor eram todas do tipo desagradável. Pensei que ela poderia usar essa habilidade para alguma coisa, mas o quê? Algum tipo de trabalho envolvendo reunir pessoas… hmmm.

Bem, por enquanto, vou tentar passar no laboratório do Cliff.

Em suma, as coisas por lá também não deram certo. Cliff tinha algumas coisas em que precisava de ajuda, mas assim como Zanoba, não gostava muito de Linia. Ele não parecia interessado em tê-la trabalhando consigo. Sinceramente, não mudaria muita coisa: trabalhar com ele não seria o suficiente para pagar seu débito logo. Não era como se Cliff tivesse grandes riquezas.

Com isso fora do caminho, e agora?

— Não poderia pedir que ela te ajudasse com o seu trabalho? — sugeriu Cliff quando pedi seu conselho.

Meu trabalho? Tipo fazer com que Orsted virasse o mestre das marionetes do mundo no lugar do Deus-Homem? É, mas tinha um probleminha nisso.

— Eu poderia fazer isso, caso o Senhor Orsted não tivesse aquela maldição irritante — falei.

— A maldição não é acionada a menos que ela entre em contato direto com a mana dele, então ficará tudo bem, desde que não os deixe se encontrar.

Ah, sim, isso é verdade. Bem, então talvez… não, definitivamente não.

— Se ambos estiverem trabalhando no mesmo lugar, ela acabará encontrando-o eventualmente — argumentei.

Cliff assentiu.

— Esse é um bom ponto, agora que você tocou no assunto. Além disso, também há o medo de que, como uma das pessoas-fera, ela possa ser atingida pela maldição apenas pelo cheiro dele.

A maldição poderia afetá-la pelo cheiro? Foi a primeira vez que ouvi falar disso. Que intrigante.

— Você está insinuando que o povo-fera pode sentir o cheiro da mana?

— Sim. Ainda não há evidências conclusivas, mas sinto que é uma possibilidade distinta. Já que Linia está com você, pode não ser má ideia fazer um teste. O que acha?

Talvez o cheiro fosse outra fonte da maldição de Orsted, o que significava que precisaríamos trabalhar em fazer algo sobre seu cheiro também. Se Cliff tivesse algo em mente, poderíamos usar algum tipo de desodorizador para suprimir completamente sua maldição. Isso significava testar para ver se perfumes e afins poderiam substituir seu cheiro natural. Uma pitada de perfume floral, e seu cheiro e a maldição poderiam ser neutralizados. Ele iria cheirar bem enquanto usasse aquele capacete enorme na cabeça. Mm, sim, isso acaba formando uma figura perturbadoramente bizarra.

— Nesse caso, vou fazer uma pequena pesquisa sobre isso — falei.

— Certo. Por falar nisso, provavelmente seria melhor se você conseguisse uma Adoldia para ajudar. Ouvi dizer que seus narizes são os mais sensíveis.

Então precisávamos de um cachorro para isso ao invés de um gato, hm? Imaginei como Pursena estava se saindo. Ela conseguiu se tornar a chefe da aldeia?

— Se estamos procurando por um olfato aguçado, hm… — Acariciei meu queixo. — Pode ser uma boa ideia testar isso com todos os tipos de raças, não apenas o povo-fera.

Dizia-se que os seres não humanos podiam perceber uma gama diferente de cores. A maioria das raças humanóides neste mundo não parecia tão diferente uma da outra, mas, mesmo assim, havia olhos demoníacos que podiam perceber mana. Se pesquisássemos as diferenças entre as raças, poderíamos ser capazes de identificar a causa da maldição, até mesmo a partícula específica responsável.

— Você tem um bom argumento, mas mesmo entre o povo-fera e os demônios, há um monte de sub-raças diferentes. Reunir todas elas seria uma tarefa difícil.

— Verdade — concordei.

A população de Sharia era bastante diversificada, em parte porque a Universidade de Magia aceitava todos os alunos, independentemente da raça. Embora isso não quisesse dizer que poderia encontrar alguém de qualquer raça aqui. As pessoas iam e vinham rapidamente. Teríamos que reunir indivíduos até mesmo das sub raças mais raras, testá-los um por um, e usar esses dados para identificar uma causa central, o que seria vertiginosamente complicado. Claro, essa era a natureza da pesquisa; testar uma variável após a outra até que reduzisse o número de possibilidades.

— De qualquer forma, não podemos fazer nenhum progresso antes de reunir os sujeitos do teste — falei.

Cliff concordou.

— Aham. Porém, realmente não posso ir a lugar algum, e também não sou bom atraindo as pessoas.

Isso era verdade: Cliff carecia de habilidades de comunicação. Não que eu fosse do tipo comunicativo.

— Precisamos de alguém popular. Alguém que consiga atrair as pessoas sem esforço…

Naturalmente, nossos olhares foram atraídos para Linia. É verdade que ela tinha o hábito de atrair gente estranha, mas pelo menos podia juntar as pessoas. Além disso, quanto mais pessoas ela atraísse, mais gente gostaria de participar. Em vez de coletar seletivamente apenas o que precisávamos, poderíamos ampliar nosso tamanho de amostra para começar, assim diminui o risco de deixar qualquer coisa passar.

Claro, ter mais pessoas levaria a mais problemas. Sempre haveria maçãs podres. Às vezes, pessoas que normalmente não fazem coisas perversas por conta própria podem se sentir encorajadas em uma multidão a cometer atos hediondos. Um grupo de pessoas sem ninguém para liderá-los não era melhor do que um bando de bandidos.

No passado, Linia havia conseguido domar os outros delinquentes na universidade e colocá-los sob seu poder. Para mim, isso mostrava potencial de liderança.

— O-o que foi, miau? V-Vocês dois estão planejando se voltar contra mim-au?! — guinchou Linia. Ela estava descansando no canto da sala, bocejando para si mesma, mas no momento em que sentiu nossos olhos nela, saltou.

Mas como faríamos isso? Claro, Linia poderia atrair as pessoas sem esforço, mas poderíamos atrair as pessoas com mais eficiência se tivéssemos algo para atraí-las. E o que geralmente fazia as pessoas se unirem? Dinheiro. Onde havia lucros a serem obtidos, as pessoas tendiam a se reunir.

Que tal um evento com prêmio em dinheiro? Não adianta, porque a multidão seria apenas temporária. Então, um negócio? No entanto, precisaríamos de fundos para começar. Eu poderia usar minhas próprias finanças para isso, mesmo que parecesse ir contra o propósito, mas se eu considerasse um investimento, não parecia tão ruim.

Ah! É isso! Então eu percebi. Poderíamos usar as pessoas que conseguíssemos para ajudar no trabalho de Orsted, ou melhor, no meu.

Pensando mais nisso, tinha sido exaustivo fazer tudo sozinho. Ter uma organização para fornecer suporte soou bastante promissor. E não apenas isso, também poderiam assumir os trabalhos mais simples para mim. Poderíamos ajudar três ou quatro pessoas de cada vez, em vez de apenas uma. Isso deixaria o futuro mais fácil para Orsted. Era possível que o Deus-Homem tentasse interferir manipulando um de nossos membros, então não poderíamos confiar nenhuma das tarefas verdadeiramente importantes a eles. Mas como eu estava sob o apoio de Orsted, não seria tão fácil para o Deus-Homem interferir em qualquer organização que eu comandasse das sombras.

Mas e quando eu não tivesse trabalho para fazer? Ter um monte de bocas a mais para alimentar geraria um grande prejuízo. Precisaria distribuir as tarefas de trabalho, uma a uma. Como devo fazer isso? Contratá-los como trabalhadores temporários para outros lugares quando não fossem necessários? Não, Orsted tinha muito dinheiro. Talvez fosse melhor operar como uma empresa de comércio geral; poderíamos investir em pessoas com talento e fazê-las cuidar de todos os tipos de trabalhos estranhos.

Imaginei se Linia seria capaz de gerenciar isso tudo. Meu palpite era “Pouco provável”. Alguém teria que ser contratado para apoiá-la. Alguém bom com números. Eu tinha a pessoa perfeita em mente… e tinha outra coisa para falar com ela enquanto estivesse nisso. Isso era perfeito.

— Linia — falei.

— O-O que foi, miau?

— A partir de agora, você vai recrutar pessoas para nós.

Linia inclinou a cabeça.

— Recrutar pra quê, miau?

— Boa pergunta. Vamos reunir pessoas que pensam da mesma forma para fazer todos os tipos de trabalhos estranhos; vendas, trabalho mercenário, o que você quiser.

— E como vamos financiar isso, miau?

Toquei no meu peito.

— Providenciarei os fundos iniciais. Aqueles que concluírem missões com sucesso terão um pouco de desconto nas taxas. Uma parte disso voltará para mim para pagar os custos iniciais.

Se isso não bastasse, eu poderia sempre explicar as circunstâncias a Orsted e pedir-lhe apoio. Dependendo de como as coisas corressem, poderíamos até mesmo procurar Ariel para assistência financeira.

Linia piscou para mim, incrédula.

— Uh? T-Tudo bem, então, miau. Então, onde vamos reunir essas pessoas?

— Planejo começar a preparar um local agora.

— Agora? Tem certeza de que isso vai acabar bem, partindo para isso sem qualquer tipo de plano, miau? — Linia fez uma careta, nem totalmente oposta à ideia nem convencida.

Não se engane, não achei que seria tudo tranquilo. Poderíamos começar recrutando cerca de dez pessoas, a maioria provavelmente do povo-fera. Se pudéssemos fazer bom uso deles, seríamos capazes de conseguir algum lucro decente. Podemos encontrar alguém com talento para negócios a fim de vender nossas estatuetas de Ruijerd no processo.

— Não há como saber se vai dar certo ou não até tentarmos — assegurei a ela.

— Pessoalmente, não quero aumentar a dívida ridícula que já tenho, miau… — Linia franziu a testa ansiosamente.

Não era surpresa que seu primeiro fracasso pesasse sobre ela, mas não poderia continuar ganhando o mínimo possível, vivendo o resto da vida como minha escrava. Se as coisas continuassem como estavam, minha família realmente desmoronaria. Eu teria que recorrer ao uso de magia para voltar no tempo se isso acontecesse.

— É melhor se esforçar para garantir que isso não aconteça — avisei.

— Urgh… — Linia ainda não parecia totalmente satisfeita, mas assentiu no final.

 

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Passamos por um corretor de imóveis no caminho de casa e compramos um prédio para usar como escritório. Era bem pequeno, e em um local ruim, mas agora tudo o que precisávamos era de um teto sobre nossas cabeças para servir como nosso quartel-general. O preço era conforme se esperaria, e eu planejava contar isso como uma despesa de negócios. Aisha estava atualmente limpando o lugar.

— Esta será nossa base de operações por enquanto — falei.

— Saquei, miau.

Eu realmente esperava recrutar alguns bons funcionários para o nosso novo negócio em breve. Precisávamos de alguém para organizar documentos e supervisionar a papelada. Infelizmente, havia uma chance de termos que demiti-los se fossem atingidos pela maldição de Orsted, então não tínhamos escolha a não ser contratar aqueles que seriam dispensáveis.

— Estes são nossos fundos atuais. — Entreguei para Linia o equivalente a dez moedas de ouro Asuranas, o que era mais do que suficiente para iniciar um negócio no Reino de Ranoa.

— U-Uau… Você realmente vai me dar isso, miau? — Os olhos de Linia se iluminaram enquanto se fixava no dinheiro.

Era como lançar pérolas diante de porcos, ou, neste caso, moedas de ouro diante de um gato. Elas tinham alto valor, mas dá-las a um animal alheio a esse valor era inútil. Talvez a conclusão fosse que tentar ensinar a uma criatura impulsiva o valor do dinheiro só as levaria a gastar impulsivamente, então seria melhor não entregar o dinheiro. Pelo menos, foi assim que eu interpretei.

— Heh… hehehehe. Chefe, conta comigo, miau. Com todo esse dinheiro na mão, juro que não vou falhar com você, miau. Desta vez não vou estragar as coisas, miau.

Ótimo. Os olhos de Linia se transformaram em sólidos cifrões. Agora eu era o único que se sentia ansioso. Entregá-la tal fortuna provavelmente foi uma má ideia, não foi? E eu teria que sair em uma missão para Orsted em breve. Quando voltasse, Linia poderia ter dobrado a dívida, de alguma forma, e sido rebaixada a correr em uma roda de hamster gigante no nosso porão. Ou talvez Eris decidisse fazer dela um animal de estimação de verdade e amarrar algum tipo de colar ou fita chique em seu pescoço.

Eu tinha uma ideia de como evitar que isso acontecesse.

— Grande Irmão, terminei a limpeza — disse Aisha.

Sim, de fato. Era a hora de Aisha brilhar.

— Aisha, tenho um favor a pedir a você.

Aisha franziu a testa. Depois de uma longa pausa, ela olhou para mim e perguntou:

— O quê? — Por causa de seu mau humor, parecia que ainda estava magoada com a conversa que tivemos no outro dia.

— Eu gostaria que você cuidasse de Linia por mim. Certifique-se de que ela não use o dinheiro que lhe dei em nada estúpido e, enquanto estiver nisso, forneça apoio para que ela não estrague nada.

— Mas tenho tarefas domésticas para fazer em casa…

Assenti com a cabeça.

— E é por isso que você não precisa fazer isso o tempo todo. Confira as coisas de vez em quando e será o suficiente.

Aisha lançou alguns olhares para Linia.

— Preciso mesmo?

Depois do que aconteceu no outro dia, ela provavelmente não estava interessada na ideia de trabalharem juntas de novo. Sua relutância me fez ficar preocupado com a capacidade de Linia de reunir pessoas, mas… ei, mesmo a flor de Rafflesia não tem problemas reunindo insetos ao seu redor.

Bem… enquanto Aisha relutava em atender o meu pedido, eu tinha uma boa razão para confiar isso a ela.

— Você não é obrigada a fazer isso — falei. — Mas acho que seria melhor se você fizesse.

— Por quê? Porque fui eu quem sugeriu tornar ela em uma criada? Ou é porque você acha que é minha culpa que o clima na casa esteja tão sombrio? — Aisha resmungou.

Me ajoelhei para ficar no nível do seu olhar. Ela normalmente me olhava nos olhos, mas hoje continuava se virando.

— Não é isso — falei.

Ela torceu os lábios.

— É só que… quando você percebeu que Linia era uma grande trapalhada, imediatamente tentou se livrar dela, não é?

— Sim, porque ela é completamente inútil. Achei que seria melhor se livrar dela antes que causasse mais danos.

Linia estava parada de canto, parecendo magoada com a conversa. A ignorei.

— Mas se invertermos isso, também poderíamos dizer que você não foi capaz de extrair adequadamente o verdadeiro talento de Linia — falei.

— Sim… Fui eu quem ensinou o trabalho a ela, então acho que sim.

— O que significa — continuei —, que foi seu fracasso.

Aisha arregalou os olhos por um momento, mas sua expressão logo se tornou indignada. O olhar dela parecia dizer: Eu não falhei em nada! Talvez eu não tenha usado a palavra correta.

Erm, vamos tentar de novo…

— Sabe, Aisha, não acho que seja certo descartar alguém na mesma hora só por ter feito algo errado.

Aisha deu de ombros.

— É, eu sei. Também acho essa parte incrível.

— Obrigado. E é por isso que, embora eu perceba que estou forçando essa ideologia em você ao dizer isso, não quero que você seja o tipo de pessoa que abandona as pessoas no futuro.

Aisha era uma garota capaz. Além disso, ela era um gênio, o que significava que poderia fazer qualquer coisa que colocasse em sua mente, e fazê-lo bem. Infelizmente, era por essa mesma razão que tinha dificuldade em entender pessoas que não eram tão competentes quanto ela.

O diário do meu eu do futuro me disse que Aisha ficou ao meu lado até o fim, mas o futuro já havia mudado no presente. Talvez ela eventualmente saísse e tentasse encontrar trabalho em outro lugar. Imaginei que ela não teria problemas com isso, mas não queria que ela fosse uma peça desagradável que cortasse todo mundo se não conseguissem fazer tudo perfeitamente. Ela acabaria sendo ostracizada, uma ovelha negra. Ou pior, poderia encorajar outra pessoa a tentar derrubá-la.

Eu queria que Aisha aprendesse a lição antes que isso acontecesse. Não sabia o que essa lição era, exatamente, mas definitivamente era algo que só ela podia aprender se associando aos outros.

— Não posso convencê-la a recomeçar do início com Linia mais uma vez, como iguais?

Aisha olhou entre mim e Linia. Então, fechou os olhos. Um segundo se passou, depois dois. Ela não disse uma palavra, como se estivesse perdida em pensamentos.

— Você está pedindo isso pelo meu bem? — Aisha finalmente perguntou.

— Essa é a intenção… Embora honestamente, acho que, com você apoiando Linia, podemos pelo menos evitar os piores resultados possíveis.

— Tudo bem. Obrigada por ser honesto. — Ela abriu os olhos, olhando para mim ansiosamente. — Diga, Irmãozão, se eu recusar… isso faria você me odiar?

Balancei a cabeça.

— Claro que não. Se você realmente não quer fazer isso, tudo bem se recusar.

Aisha timidamente estendeu a mão para mim. Quando abri meus braços, ela passou os braços em volta de mim e apertou com força.

— Tudo bem — disse ela. — Se realmente significa tanto para você, darei o meu melhor.

— Obrigado.

Apesar de quão arrogante devo ter soado, não achei que estava errado. Isso seria bom para ela; certamente aprenderia algo entrando em uma nova linha de trabalho com Linia. E isso, pensei, era maravilhoso. Ou eu quero acreditar que vai ser, de qualquer maneira.

Mudando completamente de assunto, mas cara, os seios de Aisha cresceram sem que eu percebesse. Ela já devia estar mais ou menos no tamanho D. Suas costas eram tão pequenas, mas seu peito era tão voluptuoso. Acho que ela é o que chamam de peituda. Com um pouco mais de volume, teriam o mesmo tamanho de Lilia. Não que isso importasse, é claro. Ela era minha irmãzinha.

— Obrigada — disse Aisha.

— Não, eu que deveria agradecer por você ouvir e me deixar explicar.

— Farei tudo o que você me disser. — Aisha sorriu maliciosamente e se afastou. Pelo menos seu sorriso ainda era o mesmo. Ela sorriu para Linia também e estendeu a mão. — Bem, então é isso. Vamos dar tudo de nós!

— Isso aí, miau!

As garotas deram um aperto de mão firme. As coisas não tinham corrido bem da última vez que foram chefe e subordinada, mas eu esperava que esquecessem o passado e fizessem as coisas funcionarem desta vez.

Antes de terminarmos, expliquei a essência do meu plano para Aisha, bem como minhas esperanças para o futuro. Então, encerramos.

Mas, nesse ínterim… só posso rezar para não voltar para casa e me deparar com algo horrível.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: Guilherme

QC: Delongas

 

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