Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 17 – Cap. 07 – Ars, a Capital Real

 

Ars, a Capital de Asura, é também a maior cidade do mundo. Recebeu seu nome por conta do lendário herói que levou a humanidade à vitória na Grande Guerra Humano-Demônio.

Na primeira vez que um viajante observa esta metrópole, seu deslumbramento é impossível de não ser notado. O imponente castelo no centro, conhecido como Palácio de Prata, é cercado pelas grandes mansões dos altos nobres; além das paredes da fortaleza que circundam esta área, a cidade se estende em todas as direções, até onde a vista alcançava.

Aqui, você encontrará uma enorme arena, o esplêndido espaço de treinamento dos Cavaleiros Reais, e várias belas igrejas de Millis. Canais correm por toda a cidade, com incontáveis encantadoras pontes cruzando-os. Outras atrações notáveis incluem: as sedes das maiores lojas do mundo; os centros de treinamento originais do grande Estilo Deus da Água; as famosas salas do distrito dos teatros; as mulheres sensuais e sedutoras do quarteirão do prazer; e o grande portão construído para comemorar a vitória de Asura na Guerra de Laplace…

Esta é uma cidade que parece ser realmente infinita. Nenhum ponto consegue te oferecer uma vista completa dela. Vai muito além do rio Alteir, que deu vida à cidade. É tão vasta que nenhuma vista consegue enxergar seu fim.

Dizem que tudo no mundo pode ser encontrado em Ars, a mais antiga das cidades. E uma vez que você a viu com seus próprios olhos, torna-se difícil argumentar o contrário.

EXTRAÍDO DE “VAGANDO PELO MUNDO” DO AVENTUREIRO BLOODY KANT

 

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Observando a capital do topo de uma grande colina, Eris e eu ficamos boquiabertos quase simultaneamente.

— Uau.

A cidade de Ars se estendia logo à nossa frente, muito maior que qualquer outra cidade que eu já tivesse visto nesse mundo.

O castelo no centro me prendeu a vista, a princípio. Era tão grande quanto o de Perugius, se não maior, e brilhava como prata à luz do sol. Imponentes e grossas paredes de pelo menos vinte metros de altura circundavam essa estrutura central; eram tão grandiosas que era difícil imaginar que algo, até mesmo um Wyrm, pudesse derrubá-las.

As construções do lado de fora dessas paredes também eram impressionantes por si só. Por todo lado, o palácio era rodeado por belíssimas e adornadas mansões. Talvez fosse aí onde os aristocratas mais poderosos viviam? Metade das construções eram grandes o suficiente para serem chamadas de castelos, e a área era cercada por um segundo anel de muros.

Depois desse ponto, a cidade se espalhava em todas as direções, com muros adicionais em intervalos regulares. Parecia que eles continuavam a adicionar novos conforme o local se desenvolvia ao longo dos séculos. Contei cinco anéis externos, depois dos quais a cidade continuava em uma desordem contínua até o horizonte. Deve ter ficado muito caro fazê-los, e mantinham os Cavaleiros Reais regularmente mantendo a área protegida de quaisquer monstros nas redondezas. Não que Asura tivesse tantos assim, para começo de conversa.

Comparada às megacidades do meu mundo antigo, este lugar não era nada demais. Mas havia algo muito intrigante em uma cidade medieval grande o bastante para ocupar todo seu campo de visão.

— Bom, finalmente retornamos.

Os outros membros do nosso grupo estavam tocados pela vista também, mas de uma outra forma. Seus olhos estavam fixos no castelo no centro da cidade, e seus rostos estavam sérios. Até mesmo Ariel havia saído de sua carruagem para observar. Mas depois de um longo momento, ela se virou e disse:

— Vamos continuar andando, pessoal.

Então, nós finalmente chegamos às ruas da capital real.

Por mais impressionante que Ars parecesse vista de cima, não era tão especial quando se está dentro dela.

Todas as cidades nesse mundo eram bem parecidas, pelo menos nas suas entradas. Havia vendedores ambulantes, estábulos, e grupos de viajantes e aventureiros andando por aí. Havia um pouco menos de aventureiros, e eles costumavam ser jovens. Os poucos veteranos que encontrei, em sua maioria aparentavam estar um pouco abatidos e sujos.

Outra coisa que me impressionou foi quão larga a rua era. Podia-se colocar seis carruagens grandes, uma do lado da outra. Me lembrou das estradas do meu antigo mundo. Esta era aparentemente uma das principais ruas que iam em direção à praça central.

— Nós estamos indo em direção à minha residência na cidade agora. — Ariel anunciou, de dentro de sua carruagem. — Usaremos ela como nossa base inicial. Há preparações a serem feitas antes de entrarmos em campo.

Nos pusemos a caminho imediatamente. Nosso destino era o distrito das mansões imponentes pertencentes aos altos nobres de Asura. Dado o tamanho da cidade, só chegar lá nos tomaria metade do dia. Luke estava na liderança do nosso grupo, seguido por Sylphie, então Ghislaine, a carruagem, e finalmente Eris e eu. Estávamos organizados em fila única. A rua era larga o bastante para que nós formássemos uma linha horizontal, mas poderia haver complicações se encontrássemos com um nobre vindo na outra direção. Normalmente, esperava-se que o aristocrata de menor importância desse a passagem, mas a carruagem de Ariel não estava marcada, e fazer com que ela saísse da carruagem para resolver uma briga idiota seria uma grande perda de tempo.

Depois de um certo ponto, as ruas começaram a mudar ao nosso redor. As lojas direcionadas a viajantes e aventureiros deram lugar àquelas destinadas a residentes normais da cidade. Comecei a notar pessoas nas ruas apontando em nossa direção.

— Huh? Aquele não é… Sir Luke? E o Silencioso Fitz?

— Você tem razão… Veja, eles estão escoltando aquela carruagem! Você não acha que…?

— É a Princesa Ariel?!

— Ela deve ter voltado correndo quando ouviu sobre a doença do rei!

Uma olhada na direção de Luke e Sylphie foi o suficiente para as pessoas descobrirem quem é que estava dentro da carruagem. Mas não era mais necessário para nós escondermos a verdade a esse ponto. A verdade é que nunca foi realista pensar que conseguiríamos viajar por essa cidade imensa completamente indetectáveis. Mesmo se de alguma forma tivéssemos conseguido entrar na residência de Ariel sem sermos percebidos por Darius, as “preparações” que ela mencionou provavelmente o alertariam de nossa presença. E em todo caso, teríamos que nos apresentar alguma hora na corte. E não estávamos com pressa, também. Não seria o fim do mundo se causássemos um pouquinho de alvoroço.

Mas, uh, dito isso…

— Sir Luuuke! Olha pra cááá!

— Sir Fitz! Sir Fitz!

— Bem-vinda de volta, Princesa Ariel!

Uau. Eles são realmente bastante populares aqui, hein?

Vozes nos chamavam de todos os lados, e algumas pessoas até jogaram flores em nossa direção. É claro que nem todo mundo nas ruas estava reagindo dessa forma, mas eu diria que pelo menos um quinto, estava. Ariel e suas companhias eram claramente todas celebridades, e tinham mais fãs do que eu podia imaginar. Luke estava até acenando para seu público. Fazia quase uma década desde que eles deixaram a cidade, mas ainda mantinham sua popularidade… Isso era genuinamente impressionante.

Apesar da empolgação, percebi que ninguém correu para a rua a fim de nos perturbar. Provavelmente havia regras rígidas no âmbito de bloquear a passagem de um nobre. Talvez você pudesse até ser morto no próprio local, como no período Edo no Japão.

— Preparar, pronto… Sir Fiiiiiitz!

Quando Sylphie recebia uma salva de vivas, eu a via coçando atrás de suas orelhas. Esse era o gesto de embaraço dela. Fiz uma nota mental para provocá-la sem dó sobre isso mais tarde.

Os vivas só aumentavam quando passamos pela praça central. Tive a sensação de que as pessoas estavam espalhando as notícias sobre “O Retorno da Princesa Ariel”. As coisas estavam ficando tão tumultuadas que comecei a me preocupar que os guardas da cidade pudessem vir correndo para colocar as coisas sob controle. Esse tipo de caos seria uma oportunidade ideal para Auber aparecer e apunhalar alguém pelas costas.

Felizmente, nada tão dramático acabou acontecendo. Notei um grupo de homens armados na multidão em um certo ponto, mas eles estavam celebrando junto do resto do povo. O homem que parecia ser seu líder era o mais entusiástico dentre eles.

Ariel parecia ter os plebeus dessa cidade já do seu lado, incluindo os soldados de baixa patente. Eles não pareciam estar queimando com um sentimento anti-governista, mas ainda assim a cumprimentaram como uma heroína. Eu estava começando a me sentir um pouco estranho por acompanhar essa procissão.

— Isso é bom!

 Eris parecia estar tendo uma reação oposta à minha, no entanto.

 

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Uma vez que finalmente chegamos ao distrito dos nobres, as multidões que nos apoiavam rapidamente se diluíram. Talvez a popularidade de Ariel fosse mais limitada às pessoas comuns. Ou talvez os aristocratas não tivessem tanto orgulho a ponto de ir às ruas gritando e aplaudindo. Provavelmente um pouco dos dois.

Aqui, observei grupos ocasionais de pessoas armadas patrulhando as ruas em formação. Elas vestiam armaduras completas de prata grossa e capacetes que cobriam suas cabeças por completo. Algo em seus movimentos me dizia que eles se consideravam muito mais importantes do que os soldados tradicionais que observei mais cedo. Se aqueles caras eram a guarda da cidade, esses eram provavelmente algo mais próximo de unidades militares.

— Eu me pergunto quem são essas pessoas…

— São cavaleiros novatos — disse Eris.

Virei pra ela e pisquei, um pouco surpreso que ela soubesse a resposta.

— A não ser que você frequente uma academia de cavaleiros, tem que começar como novato até aprender todas as cerimônias, ou ritos, ou qualquer coisa assim.

— Sério?

— Sim. Patrulhar a cidade assim é uma das suas tarefas, também.

— Huh. Estou um pouco impressionado que você saiba disso tudo, Eris.

— Heh heh. Bom, eu só ouvi isso de um amigo meu.

Eris tinha… amigos? Isso foi realmente uma surpresa. Não parecia que ela estivesse falando sobre uma pessoa imaginária também.

— É alguém que você conheceu no Santuário da Espada?

— Exato.

Certo, então ela fez uma amizade com alguém por conta de seu amor por espadas. Amigos de espada! É, isso faz bastante sentido.

— Sabe, fico muito feliz em saber que você fez um amigo lá. Sei que você entra em algumas brigas, mas tente não ser tão cabeça-dura, certo? E mantenha contato!

— Claro, mas ela é…

Eris parou no meio da frase. Sua atenção se direcionou para algum outro lugar, e sua mão estava em sua espada.

Segui seu olhar. Um dos cavaleiros novatos estava nos encarando. Graças ao capacete que cobria todo o seu rosto, não podíamos ver sua expressão. Encontramos um inimigo? Eu não conseguia sentir hostilidade vindo dele, mas os movimentos dessa pessoa pareciam estranhamente… assertivos. Tive um pressentimento de que esse não era um cavaleiro novato qualquer com o qual estávamos lidando.

Depois de falar com alguém que parecia ser seu comandante, o novato se separou de seu grupo e começou a correr em nossa direção.

— Hm?!

Sylphie, Ghislaine e Luke todos sacaram suas armas. Sylphie na verdade pegou seu cajado antes de Ghislaine desembainhar sua espada. Ela devia estar em alerta.

— Ah, meu deus!

O novato armado, claramente surpreso, parou de repente. Após uma pausa incerta, ele colocou as mãos em seu capacete em forma de balde e o retirou… revelando uma mulher belíssima.

Quero dizer, ela era uma gatinha. Seu cabelo era longo e sedoso, até o suor brilhando em sua testa era atraente, de alguma forma.

Além disso, ela estava olhando na nossa direção. Na de Eris, especificamente.

— Eris! Ghislaine! Sou eu!

Huh. Acho que é alguém que elas conheceram na estrada.

Eris encarou a mulher de seu cavalo, mas não respondeu imediatamente.

 

 

 

— Estou tão feliz em ver que você está viva e bem, Eris! Meu mestre estava muito pessimista em relação a suas chances contra o Deus Dragão, eu assumi que você estava destinada a morrer… Mas em todo caso, o que está fazendo em Asura? Se tivesse mandado uma carta antes, eu…

— Quem é você?

A bela mulher na armadura respirou fundo, e eu pude notar um quê de tristeza em seu rosto. Mas ela não parecia particularmente surpresa. Acho que ela sabia como Eris era.

— Estou brincando — disse Eris, rapidamente descendo de seu cavalo. — É bom te ver de novo, Isolde. Não reconheci você com aquela armadura esquisita.

— Por que esquisita? Essa é a armadura oficial dos Cavaleiros Reais de Asura… Acho ela bastante impressionante.

— Parece difícil andar nela.

— Com o estilo do Deus da Água, você não precisa se mover tanto. Então ela me serve perfeitamente.

Agora que estava óbvio que Eris conhecia Isolde, Luke guardou sua espada. Sylphie também se mostrou aliviada, mas ainda manteve seu bastão em mãos. Ghislaine deixou sua adaga balançar solta conforme examinava os arredores. Eles provavelmente tinham razão em se manter alerta; o momento em que todo mundo relaxa é o melhor momento para os inimigos iniciarem um ataque surpresa.

— Você está a serviço de quem quer que seja o dono dessa carruagem agora? Bom, é claro que está. Sabe, há rumores pela cidade dizendo que a Segunda Princesa retornou… É ela aí, por acaso? Mas por que você estaria acompanhando… ah, é claro! A Princesa estava estudando na Cidade Mágica de Sharia, não estava? Você deve ter conhecido ela lá. Correto? E então ela te contratou como sua guarda-costas, talvez?

Essa Isolde parecia o tipo quietinho, mas estava se mostrando uma matraca.

Eris não teve a oportunidade de responder enquanto ela falava. Só ficou parada, com os braços cruzados, deixando as palavras baterem nela como uma rajada de balas de metralhadora. Mesmo quando Isolde já havia parado de falar, ela levou alguns segundos até responder.

—  É, alguma coisa assim.

Tive a sensação de que ela parou de ouvir pela metade do monólogo de Isolde. Provavelmente era assim que suas conversas sempre aconteciam.

— Depois da minha chegada à cidade, acabei me juntando aos Cavaleiros Reais por recomendação de meu mestre. Uma vez que eu seja formalmente nomeada como uma cavaleira, devo receber o posto de Imperador da Água também.

— Ah, é? Parabéns, Isolde.

— Obrigada.

Nesse momento, Luke virou seu cavalo e veio trotando em nossa direção. Depois de desmontar dele, se aproximou de Eris e Isolde com um gentil sorriso em seu rosto.

— Sinto muito em interromper a conversa… Eris, acredito que esta mulher seja uma conhecida sua?

— Sim, exatamente.

— Entendo. Tenho certeza de que vocês têm muito o que colocar em dia, mas seria melhor que vocês concluíssem essa conversa o quanto antes.

— Claro.

Luke se virou para Isolde e se curvou, graciosa e educadamente e disse:

— Minhas desculpas, senhorita. Temo que estejamos em serviço no momento. Talvez você possa passar por aqui mais tarde, em uma situação mais oportuna? Como pedido de perdão, ficaríamos gratos em…

— Não há necessidade disso, obrigada. — Isolde o interrompeu friamente.

— Compreendo. Muito bem, então, senhorita. Bom dia para você.

De alguma forma, mantendo seu amigável sorriso de pedido de desculpas, Luke rapidamente subiu em seu cavalo e retornou para a frente de nossa procissão.

Isolde o observou com a testa franzida. Eu olhei isso com uma leve surpresa. Não era todo dia que se via uma mulher reagir a Luke tão negativamente.

— Então esse é o famoso Rudeus, eu suponho — disse ela, diminuindo o tom de sua voz para quase o de um sussurro. — Ele é exatamente tão irritante quanto eu imaginava… E o que um mago está fazendo carregando uma espada, para começo de conversa? Ele acha que o faz parecer admirável? Eu espero que você não tenha se casado com este homem, Eris.

— Uhm… Eu me casei com Rudeus, sim.

Sério? Ele é bem bonito, eu assumo… Mas que tipo de pessoa flerta com outra mulher bem na cara da esposa? Você tem um dedo podre para homens, Eris.

— Hm…?

Eris estava confusa.

Parecia que Isolde tinha confundido Luke comigo. Não era nada legal ouvir alguém me insultar em minha presença, mesmo que acidentalmente. E eu realmente pratico com a espada um pouco, ainda que o intuito não fosse me mostrar ou algo do tipo…

— De qualquer forma, nós temos que ir, Isolde.

— Claro. Me desculpe por te atrasar no curso de seus deveres. Você vai ficar na cidade por um tempinho, então?

Eris olhou para mim incerta. Eu assenti com a cabeça, como resposta. Nós ficaríamos até que a Princesa Ariel conseguisse pelo menos subir ao trono.

Pela primeira vez desde sua chegada, Isolde me notou. Ela parecia um pouco desconcertada.

— Er… e quem seria este cavalheiro?

Bom, isso é constrangedor. Eu admito ser Rudeus?

Não tinha nenhum motivo para usar um nome falso… Mas ela provavelmente ficaria bastante envergonhada ao perceber que estava me insultando e que eu podia ouvi-la.

— Neeeigh!

Enquanto eu considerava minhas opções, Matsukaze andou para frente por conta própria e empurrou Eris nas costas com sua cabeça.

Whoa, calma… Eu vou te dar um pouco de repolho depois, garoto…

— Oh, me desculpe. Vocês têm pressa, claro.

Hmm. Isolde parecia ter interpretado isso como um sinal de que estávamos querendo ir embora logo.

— Tudo bem, então, Eris — ela continuou. — Terei que te mostrar os arredores da cidade quando você tiver um tempo livre… Você pode me apresentar para o seu amigo também, talvez.

Ela olhou na minha direção de novo, mas eu optei por não dizer nada. Talvez a situação não ficasse tão esquisita se ela descobrisse que eu sou Rudeus daqui a alguns dias.

— Não sei se entendi, mas tudo bem. — Eris respondeu.

— O que há a se entender? Você não muda nunca, Eris… Bom, que a benção do Santo Millis esteja sobre todos vocês.

Com uma limpa e suave reverência, Isolde trotou de volta à sua unidade. Ela parecia ser um membro fiel da Igreja Millis. Isso explicaria o motivo de ela não pensar muito bem de mim.

Eris a viu ir embora, então se virou abruptamente e pulou de volta em seu cavalo. Assim que Luke a viu montada, imediatamente voltou à nossa procissão.

— Essa Isolde. Ela é uma Rei da Água. Nós nos conhecemos no Santuário da Espada.

Isolde era provavelmente a amiga de espada de quem estávamos falando mais cedo. Uma baita coincidência.

— Vocês duas realmente se dão bem, né? Isso é legal.

— É, acho que sim. Mas… — Eris parou por um momento e olhou na direção de Isolde. Seu grupo de cavaleiros com armaduras de prata estavam desaparecendo conforme virávamos em uma curva acentuada. — Ela pode acabar do outro lado dessa vez.

Oh. Certo.

Orsted havia listado a Rei da Água Isolde Cluel como uma das mestres de espada que pode lutar pelo outro lado. Eris já sabia que a Deus da Água Reida provavelmente estava entre nossos inimigos. Baseado nisso, ela deve ter suposto que Isolde poderia estar com eles também.

Era difícil descobrir o quanto um cavaleiro novato poderia influenciar os eventos… mas mesmo com sua atual patente, ainda era uma espadachim assustadoramente poderosa. Havia uma grande chance de que ela poderia aparecer no campo de batalha em algum momento.

— Você conseguiria lidar com isso, Eris? Se isso acontecesse?

— Ela seria um bom desafio. Talvez nós conseguíssemos por fim descobrir qual de nós é a mais forte.

— Certo…

Eris disse isso sem hesitação. Parecia estranho para mim, mas aqueles eram obviamente sentimentos genuínos. As duas eram rivais. Isso fazia sentido. Mas se ambas estavam confortáveis com a ideia de matar uma à outra, esse não é o tipo de rivalidade que eu acho que um dia seria capaz de compreender.

Eu esperava que não chegasse a este ponto, e que pudessem continuar competindo entre si por muitos anos ainda.

A morte tende a ser o fim, sabe?

 

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Descendo um pouco a rua, nossa procissão virou à direita e começamos a subir. Logo chegamos a uma grossa e imponente muralha guardada por soldados, mas Luke mostrou a eles algum tipo de emblema que carregava, e nos deixaram passar imediatamente. Depois de atravessar o distrito onde viviam nobres de classe média, passamos por outra muralha… e emergimos em uma área onde as casas são tão grandes quanto as fortalezas das nações menores.

Esse era o distrito dos altos nobres.

A residência de Ariel estava a uma distância razoável do Palácio de Prata. Embora ficasse em um quarteirão comum, aquela coisa era umas cinco vezes maior que minha casa em Ranoa. Não era tão grande quanto a mansão que Eris e sua família viveram, mas grande demais para ser uma casa prática para qualquer pessoa.

Já era noite quando chegamos ao portão. Entramos em Ars um pouco depois do meio-dia, então levamos metade de um dia só para nos locomovermos pelas ruas da cidade.

Quando entramos no terreno da mansão, um homem que parecia ser um mordomo apareceu de dentro dela. Depois de perceber a presença de Luke, ele correu e reuniu todas as empregadas para nos receber.

Havia apenas cinco delas. Aparentemente, esta pequena equipe de cuidados domésticos estava mantendo a mansão bem-cuidada durante os anos de ausência de Ariel. Após algumas formalidades, nos mostraram o imóvel.

O interior era luxuoso. Não chegava no nível do castelo de Perugius com tamanho esplendor, mas todo ponto de importância estava ocupado com obras de arte bastante caras. A decoração era somente um pouco mais chique do que eu me lembrava de ver na casa de infância de Eris. Parecia estar de acordo para a segunda residência de uma princesa Asurana.

Uma vez que nos foram atribuídos nossos quartos individuais, fomos em direção ao banheiro para nos lavar da poeira da estrada. Até mesmo os baldes que usamos para nos lavar eram ricamente ornamentados. A mansão aparentemente tinha um banheiro maior com uma banheira, mas era presumidamente reservado à Princesa Ariel.

Depois de todos estarmos mais limpinhos, era hora do jantar. Jantei com Ariel, Eris e Sylphie naquela noite. Os subordinados oficiais de Ariel aparentemente comem em uma sala separada.

— Agora escute, Sir Rudeus…

— Sim, Vossa Alteza?

— Primeiramente, deixe-me expressar minha gratidão. Graças à sua tremenda ajuda, chegamos sãos e salvos ao nosso destino.

Tínhamos acabado de terminar nossa refeição, mas parecia que a princesa estava pronta para falar dos próximos planos.

— Vou começar a fazer meus preparativos amanhã. Vou preparar um cenário adequado para a chegada de Lorde Perugius, e a queda do Alto Ministro Darius. Isso envolverá sondar os nobres que mudaram de lado na minha ausência, reunir informações, contatar os aliados que deixei esperando na cidade, e tomar algumas outras medidas também. Estarei bastante ocupada.

— Certo.

— Eu pretendo organizar esse palco logo, antes que Darius possa fazer algo contra nós. Felizmente, as notícias da doença de meu pai já trouxeram os nobres mais poderosos do Reino à cidade.

Então não levará muito tempo até a hora do show.

— Quanto tempo você pretende gastar com esses preparativos?

— Deve levar em torno de dez dias.

— Beleza. — Isso foi honestamente mais rápido do que eu imaginava.

— Já garantimos as cartas que precisamos para jogar — Ariel continuou. — Tomarei outras ações também, mas na essência, acredito que nossa vitória já esteja garantida, desde que tenhamos nosso palco montado. Por conta disso, me parece possível que o inimigo tente destruir nossa peça à força.

Fazia sentido. Em vez de competir em uma partida de xadrez sem expectativa de vitória, Darius podia tentar simplesmente virar a mesa. Nossos inimigos estavam segurando suas armas até então; este parecia um momento bastante plausível para eles usarem-nas.

— Reunimos uma força competente, mas eu gostaria de aumentar as chances em nosso favor. Seria melhor desgastar as ameaças do inimigo de antemão.

— Faz sentido…

— Eu gostaria de pedir a você, Eris e Sylphie, para tomar conta disto.

— Você quer que nós caçemos o inimigo?

— Não. Eu imagino que isso seria extremamente difícil. A capital é gigantesca, e se vocês passarem muito tempo circulando pelas ruas, podem lançar um ataque em mim primeiro.

Ariel tinha aliados nesta cidade, mas nenhum deles era poderoso o suficiente para lutar de igual para igual com algo como um Imperador do Norte. Em outras palavras, sua real força de combate estava limitada ao pequeno grupo que havia trazido consigo. E se ela não pudesse contar com Sylphie, Eris e eu, isso deixaria somente Luke e Ghislaine para protegê-la. Ghislaine era uma ótima lutadora, mas provavelmente ficaria sobrecarregada se o inimigo enviasse múltiplos mestres de espada no nível de um Rei do Norte.

— Em vez disso — Ariel continuou —, acho que podemos atraí-los para o campo aberto.

— Como assim?

— Vamos deliberadamente presenteá-los com uma oportunidade de ouro de forma que caiam em cima dela. Tenho um item mágico que deve fazer isso possível.

Ela estava falando sobre aquele anel que alterava a aparência, talvez? Com aquela coisa, podíamos disfarçar alguém como Ariel, e colocá-lo em uma situação na qual ela estaria vulnerável. Então podíamos atacar o inimigo quando aparecesse.

Armar a “oportunidade” não seria tão difícil. Ariel poderia até organizar isso no cronograma que ela tinha em mente. Daríamos chances ao inimigo de atacá-la na volta de suas reuniões com os nobres. Se não viessem nesta manhã, tentaríamos novamente à noite, e mudaríamos um pouco as coisas. Fazendo com que viessem até nós, não precisaríamos perder tempo procurando por eles, e seria mais fácil manter Ariel segura durante a operação. A princesa verdadeira estaria por perto, afinal de contas.

— Isso envolveria te colocar em um certo grau de perigo, Sylphie. Entretanto…

— Isso não será um problema — Sylphie interrompeu. — Este é o momento da verdade, certo? Vamos fazer tudo que for possível.

Parecia que ela estaria agindo como a isca. O que me preocupava um pouco… mas não é como se ela fosse estar “a salvo” em nenhum lugar no campo de batalha, na verdade. Chegamos longe demais para recuar. Contanto que estivesse disposta, eu só precisava dar o meu melhor para protegê-la ao máximo possível.

— Você acha que vão realmente cair na armadilha? — perguntei calmamente.

— Eu diria que é… uma chance de 50 por cento. — Ariel respondeu.

Honestamente, não tínhamos sido atacados uma única vez desde que passamos por Auber e entramos em território Asurano. Estávamos cautelosos e alertas, claro, mas a jornada até aqui já tinha levado quase um mês. Certamente houve momentos em que podiam ter nos atacado. Para mim, isso sugeria que previram o plano de Ariel de uma batalha dramática, e escolheram reunir suas forças para nos esmagar no momento crucial. Neste caso, era bastante possível que tivessem poder de fogo mais que suficiente para realizar o trabalho. Afinal, o Deus-Homem deu a eles uma boa ideia do tamanho da nossa equipe e da nossa força. Era o tipo de estratégia firme e sangrenta que podia levar a complicações bastante feias. Mas com o trono de Asura em jogo, isso provavelmente é um risco que estavam dispostos a tomar.

— Se morderem a isca, estaremos em vantagem — disse Ariel. — Mas se não morderem…

— Acho que teremos que definir as coisas em uma grande batalha.

— De fato. Acho que dependeríamos bastante de você neste cenário, Sir Rudeus.

É, acho que sim. Não é um pensamento muito reconfortante.

— Podemos chamar algum tipo de reforço?

— Nós temos alguns aliados que eu encontrei em Ranoa e mandei para cá previamente, mas até mesmo os melhores deles são só magos ou espadachins de classe avançada. Pretendo utilizá-los no dia da nossa performance, mas não seriam de muito uso contra um Rei do Norte, muito menos contra um Imperador.

Ah, sim. Não custa nada perguntar, eu acho…

— Se for absolutamente necessário, podemos talvez chamar nosso… outro aliado para assistência.

— Nosso outro aliado…

Isso se referia a Orsted. A esse ponto, eu nem tinha mais certeza se ele ainda estava na cidade. Eu mantinha meus relatórios regulares, mas não havia muito o que contar ultimamente, e ele não falava muito também. Ariel não o via face a face desde aquele primeiro encontro. Luke estava cauteloso demais comigo para me deixar vagar sozinho com ela.

— Acho que tem razão. Vamos tentar isso se tudo falhar.

Sylphie parecia um pouco intrigada com esse diálogo, mas espero que não se atente profundamente a isso.

— Muito bem, então. Vamos proceder com o plano inicial por ora.

— Certo.

Tínhamos nossa estratégia geral para os próximos dez dias elaborada.

A batalha pelo controle de Asura começaria no dia seguinte.

 


 

Tradução: Bucksius

Revisão: NERO_SL

 

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