Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 16 – Cap. 08 – O Rei Dragão Blindado e a Segunda Princesa

 

Doze espíritos foram reunidos na câmara de audiência da Destruidora do Caos: Sylvaril do Vazio, Arumanfi, o Brilho, Yuruzu da Expiação, Karowante da Visão, Scarecoat do Tempo, Clearnight do Trovão Rugidor, Dotbath da Destruição, Trophymus a Ondulação, Harkenmail da Vida, Gall do Grande Terremoto, Furiasfile da Fúria e Paltempt das Trevas.

O Rei Dragão Blindado Perugius Dola, dono desta fortaleza flutuante e mestre dos espíritos, estava sentado ao fundo da sala. Diante dele estava a segunda princesa do Reino Asura, Ariel Anemoi Asura. Mesmo estando cercada por esses espíritos intimidadores, não se acovardou.

Assim que saímos do labirinto e retornamos, Ariel sinalizou para Sylvaril, solicitando uma reunião com Perugius em sua câmara de audiência. Uma hora depois, ele convocou Ariel para uma reunião, e ela passou o tempo intermediário arrumando seu traje. Sylphie e Luke fizeram o mesmo, trocando seus trajes de aventureiros. As roupas que eles vestiam eram tão impressionantes quanto você esperaria para uma princesa e seus dois guarda-costas.

Quanto a mim, estava usando o manto que Orsted me deu. Não era atraente ou ostentoso, mas o Deus Dragão o havia concedido a mim, tornando-o como uma espécie de uniforme de trabalho. Com certeza Perugius não se importaria.

Ariel caminhou silenciosamente ao lado dos espíritos, com um sorriso ousado no rosto. Sem se preocupar com os olhares, ela parou na frente de Perugius e fez uma reverência. Sylphie e Luke se ajoelharam. Claro, desta vez segui o exemplo.

— Estou muito grata por você ter tomado um tempo para me conceder uma audiência — disse Ariel.

— Chega de cerimônia. O que você quer? Com base em suas roupas, presumo que isso não seja apenas um convite para um chá da tarde — disse Perugius, como se fingisse não ter noção. Certamente Sylvaril já o havia informado. Não havia como ele não saber do que se tratava. Sua recepção era irreverente e fria, mas concordou com a audiência, então talvez esse vai-e-vem fosse pouco mais do que formalidade.

— Lorde Perugius, vim aqui para buscar sua ajuda em minha tentativa de me tornar rainha do Reino Asura. — Ariel foi direto ao ponto, não se distraindo com seu pequeno ato.

— Oh? Então permita-me perguntar mais uma vez. — Perugius colocou o cotovelo no apoio de braço, apoiando a bochecha contra o punho enquanto inclinava a cabeça e dizia:

— Qual é a coisa mais importante que um rei deve possuir?

Ariel ergueu o queixo.

— A coisa mais importante que um rei deve possuir é…

Eu ainda não tinha ouvido a resposta dela. Ariel disse que sabia, mas não havia garantia de que era a resposta certa. Claro, mesmo que ela tivesse me dito o que era, eu também não saberia se era o correto. Ainda assim, gostaria que ela tivesse discutido isso comigo de antemão, só para garantir..

Não, não, vamos ter um pouco de fé nela. Ela tem tanta confiança em si mesma, então sua resposta não deve estar errada, com certeza.

— Determinação — disse Ariel. — Determinação de continuar a vontade daqueles que vieram antes deles.

Suas palavras ecoaram na câmara silenciosa. Estava tão quieto, tirando sua voz, que era difícil acreditar que dezessete pessoas estavam presentes.

— Oh? — Perugius exalou. Sua expressão ainda era ilegível, não dando nenhuma pista se ela acertou ou errou completamente.

 

 

 

Determinação de continuar a vontade daqueles que vieram antes deles…

Essa era a resposta que ela havia chegado, e eu podia entender o porquê. Seu caminho para a coroa começou com a morte. Derrick foi o primeiro a cair. Treze de seus outros retentores se juntaram a ele, empurrando-a para onde estava agora. Eu sabia que tipo de pessoas eram e que futuro esperavam, pois ela me disse. Através de suas palavras, Derrick comunicou sua vontade, da qual ela deveria cumprir. Mesmo depois de sua morte, Ariel tentou fazer jus ao que viu nela. Certamente havia inúmeros outros que depositaram suas esperanças nela. Esse era o fundamento sobre o qual ela se tornaria rainha.

Em seguida, havia Gaunis Freean Asura, amigo íntimo de Perugius e um homem que ganhou destaque durante um período de guerra. Nossa árdua pesquisa revelou que ele já foi belo de um cuzão. Um que era sociável, com vários companheiros próximos. Gaunis se aventurava na cidade quase todos os dias para beber e brigar com aventureiros e mercenários. No entanto, como qualquer outro ser humano, ele certamente tinha dias em que estava de bom humor. Dias em que bebia a quantidade certa que reduziria suas inibições o suficiente para reclamar sobre a realeza e os nobres para qualquer aventureiro ou mercenário que escutasse. Eles, sem dúvida, o agradariam enquanto sorriam desajeitadamente e ocasionalmente ajudavam quando ele precisava de ajuda. Da mesma forma, ele também ouviria seus pedidos.

Em tempos de guerra, aventureiros, mercenários e soldados de baixa patente eram considerados peões dispensáveis. Gaunis os encontrou e ouviu seus desejos finais, pelo menos, foi o que descobri. E então ele se tornou rei, não porque queria, mas porque não tinha outra escolha.

Deve ter havido nobres e cavaleiros que não gostaram de vê-lo subir ao trono, mas não entre os aventureiros e mercenários. Eles o apoiaram. Por isso que Perugius e os outros partiram em sua jornada para derrubar Laplace e, finalmente, conseguiram. Eles foram obrigados a ajudar alguém que honrou os últimos desejos dos soldados sem nome que lutaram e morreram em campos de batalha violentos.

Enquanto Perugius e seu grupo estavam fora, Gaunis conseguiu afastar os invasores. Claro, isso não foi apenas com a ajuda de aventureiros e mercenários. Seus esforços teriam falhado a menos que todos se unissem para deter o avanço implacável de Laplace. Em algum momento, os nobres e cavaleiros devem ter cedido e decidido apoiá-lo. Não porque ele tivesse herdado as vontades do falecido, provavelmente, mas porque ele estava carregando a vontade de seu pai e irmãos caídos, proteger Asura.

Com essa conexão com Gaunis, certamente tinha que ser a resposta certa… mas realmente é a certa? Pessoalmente, eu achava que o ponto era mais embaixo…

Depois de uma longa pausa, Perugius grunhiu.

— Hmph. Realizar a vontade do falecido, você diz? — Ele olhou para ela e riu. — Em outras palavras, seu desejo de se tornar rainha depende inteiramente da vontade de outras pessoas. Acha que alguém assim pode ser uma rainha de verdade? — Seu tom era condescendente e irrisório, o que provavelmente significava que lhe demos a resposta errada.

Ariel, no entanto, não perdeu a coragem.

— Sim, você está totalmente certo, Lorde Perugius. Meu desejo depende da vontade dos outros. Estou certa de que isso está muito longe do que o resto do mundo consideraria uma verdadeira rainha. Mas… — Ela respirou fundo e, com o rosto cheio de determinação, disse: — Se eu posso ser a rainha que aqueles que confiaram suas vontades a mim esperam, então não me importo se não for um ‘rei de verdade’.

— Ah? — Perugius fez uma careta, não parecendo muito satisfeito com sua resposta. — E você me pediria para ajudar uma rainha tão tola quanto você?

— Sim. Se sou tão tola, mais uma razão para esperar sua ajuda.

— Hah!

Ah, cara, não gosto para onde isso está indo.

Ariel lhe deu uma resposta pensativa. Em vez de ficar obcecada com o que é ser um verdadeiro rei, ela se concentraria em cumprir os desejos daqueles que morreram por ela. Esse era o tipo de líder que seria, um rei do povo, cujas políticas refletiam seus desejos. Fosse essa a resposta correta ou não, era um objetivo admirável. Infelizmente, parecia estar muito longe do que Perugius esperava.

— Você realmente acha que sua resposta é suficiente para me obrigar a ajudá-la? — Perugius perguntou.

Ariel balançou a cabeça.

— Não, não acho, meu senhor. Porém, esses são meus verdadeiros sentimentos. Sem mentiras, sem tramas, esta é a rainha que eu, Ariel Anemoi Asura, desejo me tornar. — Seu olhar se fixou intensamente em Perugius. — Se você rejeitar o que eu represento, então não preciso do seu poder.

Suas palavras foram desdenhosas. Até Perugius foi pego de surpresa, seus olhos se arregalaram. Uma onda de choque percorreu os doze espíritos reunidos. Sylphie e Luke ficaram surpresos, e eu também. Sabia que precisávamos da ajuda de Perugius para a vitória, estaríamos em apuros se ele realmente recusasse.

Perugius semicerrou os olhos.

— Você acha que pode alcançar o trono sem a minha ajuda?

— Se meus ideais são tão vastamente diferentes dos seus, então eu acho que seu auxílio seria mais um obstáculo do que uma ajuda.

Perugius baixou a mão da bochecha e lentamente se levantou. Suas feições estavam em fúria, a boca esticada em uma linha fina e os olhos arregalados. Ele não cerrou os punhos, mas seus ombros estavam quadrados.

De repente, ele levantou a mão. Momentaneamente, imaginei todos os doze espíritos avançando sobre Ariel. Mas não foi isso que aconteceu.

— Muito bem, Ariel Anemoi Asura! — A voz de Perugius explodiu. — Você deixou sua convicção clara.

Segurei meu cajado com mais força, concentrando a magia na ponta, com a intenção de defender Ariel se fosse preciso. As palavras de Perugius suspenderam minha ação.

— Eu, Rei Dragão Blindado Perugius Dola, juro pelo nome do meu falecido amigo, Gaunis Freean Asura, que vou ajudá-la em sua conquista! — Sua voz ficou ainda mais alta. — Vou preparar um círculo de teletransporte para você! Volte para o palácio assim que puder, arrume tudo e me chame quando estiver pronta!

— Obrigada. — disse Ariel.

Sylphie e Luke se curvaram ainda mais. Eu congelei, a mão ainda agarrando firmemente meu cajado. Eu estava confuso. A maneira como ele falou deixou claro que ela deu a resposta errada. Suas palavras obviamente o desagradaram, ou pelo menos foi essa a impressão que tive, e ainda assim decidiu ajudá-la. Ele viu uma faísca de potencial durante a conversa ou algo assim? O que estava passando pela cabeça dele? Não sei responder.

— Com sua permissão. — Ariel conduziu nosso grupo em direção à saída. Ela apresentava uma feição indecifrável enquanto Luke e Sylphie sorriam triunfantemente. E como não poderiam? Perugius estava agora oficialmente apoiando a candidatura de Ariel para o trono. Ele estava no acampamento dela agora. O que significava que eu tinha completado com sucesso minha primeira missão de Orsted.

Levantei-me e comecei a seguir o grupo, então parei e olhei de volta para o trono. Perugius estava cercado por seus doze seguidores, arrogantemente sentado em sua cadeira, olhando para nós. Ele estava nos observando sair, o que naturalmente significava que nossos olhos se encontraram quando me virei.

— O que é, Rudeus Greyrat? — Perugius perguntou.

— Nada não… — Eu estava prestes a me virar e a seguir Ariel, mas não consegui afastar minha curiosidade. Eu tinha que perguntar. — Então, no final, foi a resposta certa? Isso é realmente o que faz um verdadeiro rei?

Perugius suspirou e disse:

— Não era a resposta que eu desejava, não.

— Então por que concordou em ajudá-la?

Ele sorriu.

— Houve um tempo no passado em que todos nós pensávamos que Gaunis era a definição de um verdadeiro rei. Ele era flexível, mas cauteloso, generoso, mas sensível. Ele abraçou suas inadequações, sabendo que todos os humanos as tinham, e foi exatamente isso que o tornou adequado. Além disso, ele via as pessoas como pessoas, investia em seus pontos fortes e as ajudava a crescer. Ele, mais do que qualquer outro que eu conhecia, era o mais qualificado para liderar os humanos e seu mundo devastado pela guerra.

Perugius parecia se lembrar de Gaunis com carinho. O homem de quem ele falou parecia diferente do homem que eu havia lido, mas ele tinha visto Gaunis por si mesmo. Certamente seu relato era mais crível do que qualquer velho tomo empoeirado, embora ele pudesse estar vendo o passado através de óculos com tons de rosa.

— Ariel Anemoi Asura não tem a menor semelhança com Gaunis. No entanto, observando como ela se comportava, de repente me lembrei de algo. Este não era o ‘rei ideal’ de que Gaunis havia falado?

— Gaunis falou de um rei ideal? — Eu perguntei.

— Sim. Ele se considerava longe do ideal. Sempre falava sobre o que considerava o “rei ideal”, desde seus dias mais jovens em bares, até seu tempo em acampamentos no campo de batalha e mesmo depois de se tornar rei. — Perugius fez uma pausa, fixando o olhar em mim. — Ele disse: ‘Um rei ideal é aquele pelo qual outras pessoas estão dispostas a sacrificar suas vidas.’

Ah, agora entendi. Então é por isso.

Ariel havia dito a ele que um grande rei tinha “a determinação de continuar a vontade dos outros.”

— Uma dúzia ou mais de retentores já perderam a vida por ela. Morreram protegendo-a. Eles fizeram isso apesar de não saberem se ela poderia realmente ascender ao trono ou não. Na verdade, eles sabiam que as chances eram baixas, sabiam que seu sacrifício poderia nunca ser recompensado. Tudo porque acharam que ela era alguém em quem valia a pena arriscar a vida. Então, mesmo que ela não fosse o rei ideal que Perugius esperava, era o que Gaunis considerava o rei ideal. Havia tantos ideais lá fora quanto havia pessoas.

— Entendo. — eu disse. — Entendi agora. Sua capacidade de avaliar as pessoas é realmente impressionante. — Curvei-me mais uma vez antes de sair.

— Rudeus Greyrat. — Perugius chamou por mim.

Olhei para trás. Ele havia deixado a cadeira e começado a andar antes de me chamar.

— Eu tenho uma pergunta. — disse ele.

— Sim, pois não?

— Por que você não mencionou Orsted em tudo isso? Odeio aquele homem, mas a presença dele não é algo que eu possa ignorar. Você não considerou que as coisas poderiam ser mais tranquilas se você o citasse?

Orsted já havia me dito que Perugius o havia recusado. Sabendo disso, eu não conseguia ver como mencionar Orsted teria melhorado o resultado. Ele estava me testando?

Você quer uma resposta inteligente?

— Nem Orsted nem eu somos os que procuram a realeza. — eu disse.

— Mas Orsted deseja ver Ariel se tornar rainha, não é? E você se aliou a ele, ou estou enganado? Nesse caso, você não deveria ter aproveitado a influência dele para promover seus objetivos?

— Mesmo que isso acelerasse as coisas, a Princesa Ariel ainda seria a que assumiria o trono, e ela precisa da sua ajuda para isso. Não importa quanta ajuda nós fornecemos, ainda somos forasteiros. Usar desnecessariamente o nome de Orsted para forçar a conformidade só gerará inimizade.

Hehe, essa foi uma resposta bem foda, se me permite dizer.

Sim, no que me diz respeito, aqueles que se envolveram aqui precisavam contribuir por vontade própria. Uma vez que Ariel fosse rainha, ela teria que governar o país por conta própria. Embora eu não pudesse falar por Orsted, sem saber seus planos, não tinha exigências a fazer de Ariel depois que isso acabasse. Como eu não tinha nada a ver com isso, não deveria me envolver muito.

— Que maneira fraca de se pensar. — Perugius cuspiu, antes de sair da sala. Seus doze servos permaneceram para trás, e eu mal conseguia respirar sob o peso de todos os seus olhares. Corri em direção à porta, incapaz de suportar.

Puta merda, isso foi embaraçoso. Acho que isso significa que respostas mesquinhas são proibidas para ele.

 

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Depois de sair da câmara de audiências, fui direto para o quarto de Ariel. Eu não bati, em vez disso, abri a porta enquanto falava:

— Desculpe por me atrasar…

A primeira coisa que vi foi um par de ombros brancos como porcelana. Sylphie já havia tirado as roupas elegantes de Ariel e estava afrouxando o espartilho.

— Ah! Rudy, como se atreve! — Sylphie gritou para mim.

— Não há necessidade de discutir — disse Ariel. — Lorde Rudeus serviu bem a nossa causa. Não há necessidade de pedir permissão para entrar em meus aposentos. Se ele considera olhar meu corpo uma recompensa suficiente por seus serviços, então esse é um pequeno preço a pagar.

— O quê? — Sylphie ficou boquiaberta. — Mas, Princesa Ariel…

— Ah, vejo que não estava sendo atenciosa o suficiente. — Ariel fez uma pausa. — Lorde Rudeus, minhas desculpas, mas eu agradeceria se você saísse.

Eu já estava fora da porta quando ela disse isso e só peguei o que ela estava dizendo quando a fechei. Não tinha ideia de onde ela tirou suas falsas impressões, mas eu não estava descaradamente entrando para dar uma espiada  enquanto ela estava se despindo.

Mesmo que ela tenha um corpo bonito.

O mesmo poderia ser dito de Eris, mas o dela era um produto de treinamento intenso, enquanto a figura Ariel era algo com que ela nasceu naturalmente e não precisava lutar para alcançar. Ela tinha seus genes para agradecer. Se estivéssemos falando de equilíbrio entre o topo e o fundo, Sylphie não ficava para trás. Seu peito e sua bunda eram pequenos e planos. Era uma simetria perfeita. Eu adorava isso nela. Roxy, enquanto isso, era uma deusa, então ela não podia ser comparada a mais ninguém.

— Da próxima vez, vou ter certeza de bater, — murmurei para mim mesmo.

Além disso, não bater antes me levou a ver um pervertido abraçando sua estátua. Isso deveria ter sido uma lição suficiente para mim.

Devo ser uma pessoa que aprende devagar.

Espere um segundo. Luke estava no quarto com elas, certo? Então ele foi autorizado a olhar? Bem, não foi surpreendente. Ariel provavelmente se sentia mais confortável com ele do que qualquer outra pessoa.

— Tudo bem, Rudy, você pode entrar agora — disse Sylphie, espiando pela porta.

Quando tentei entrar, ela fez beicinho.

— Você a viu… sabe…

— Notei que ela usa calcinha branca.

As bochechas de Sylphie incharam com o ar enquanto ela fazia uma careta. Eu sabia que ela também estava usando calcinha branca, porque eu espiei enquanto ela estava se trocando ontem à noite. Cutuquei suas bochechas inchadas e entrei no quarto. Alguns passos depois, senti Sylphie beliscar minha bunda.

— Ah, querida, Srta. Sylphie…

— O que foi, Senhor Rudeus?

— Vamos guardar para quando chegarmos em casa, tá?

— Hmph! — Desta vez, ela deu um tapa na minha bunda antes de marchar para o canto da sala onde se jogou com força em uma cadeira. Suas bochechas brilhavam em vermelho, o que a tornava ainda mais adorável.

Enfim…

Ariel sentou-se em uma cadeira, tendo terminado de se trocar. Ela parecia uma princesa, mesmo em sua roupa casual. Era porque suas roupas eram caras, ou o fato de uma princesa de verdade usá-las? Não importava.

— Peço desculpas por ter entrado sem bater, quando você estava ocupada se trocando — eu disse.

— De jeito nenhum… Então, o que você achou?

— Achei sobre o quê? — Perguntei.

— Meu corpo.

Ela tem mesmo que me perguntar isso? Eu só sei que Sylphie vai ficar furiosa comigo mais tarde.

Não, isso provavelmente era um teste. Ótimo, todos querem me testar hoje. É melhor não escolher a resposta errada desta vez.

— Incrível… ou assim eu gostaria de dizer, mas sendo sincero, prefiro o de Sylphie.

— É assim mesmo que você se sente? Então devo me desculpar por mostrar algo tão desagradável. — Ariel riu.

O rosto de Sylphie ficou ainda mais brilhante enquanto resmungava:

— Não acredito que você disse isso…

Luke apenas deu de ombros. Como tínhamos convencido Perugius a nos ajudar com sucesso, todos estavam de bom humor.

— Por favor, sente-se, — disse Ariel.

Assim que me acomodei em frente a ela, seu rosto ficou solene.

Acho que eu deveria levar a sério também.

— Graças aos seus esforços, Lorde Rudeus, agora podemos passar para a próxima fase do nosso plano.

Eu balancei a cabeça.

— Não, eu não fiz nada.

— Não precisa ser humilde. Só consegui encontrar a resposta porque você nos levou àquela biblioteca.

Mas ela encontrou a resposta por conta própria, e foi quem convenceu Perugius. Com certeza, talvez eu pudesse levar algum crédito pelo resultado, já que Derrick não estava aqui para convencer Perugius em seu nome, e na linha do tempo do meu futuro, ela nunca conseguiu ganhar a confiança de Perugius por conta própria.

Acho que não há mal nenhum em me dar tapinhas nas costas por causa disso. Ainda assim, Orsted era responsável por mais da metade do plano.

— Agora vamos falar do que vem a seguir. Lorde Perugius nos aconselhou a voltar ao palácio o mais rápido possível e organizar as coisas. Planejo ouvir suas palavras e fazer exatamente isso.

— O que você quer dizer com ‘organizar as coisas’?

— Exatamente o que as palavras implicam.

Sim, olha, o problema é que eu não sei o que elas implicam. Espera, provavelmente deveria tentar pensar por mim mesmo antes de pedir uma explicação.

Para resumir, Perugius não iria pegar a estrada conosco e seguir o caminho todo até o Reino Asura. Assim, ele queria enviar Ariel à frente para que ela pudesse preparar o palco para sua entrada. Esta etapa poderia ser, por exemplo, uma festa com a presença de dezenas de nobres. Uma vez feito isso, poderíamos saudar sua entrada com seus doze espíritos, tocando alguns gongos extravagantes. Os nobres ficariam boquiabertos de surpresa, ofegantes: “Urk! É Perugius!” antes de prostrar-se prontamente. Ou algo assim, pelo menos.

— Então… não há nenhuma razão real para se apressar, não é? Não deveríamos passar um pouco mais de tempo nos preparando? — Perguntei.

— Não podemos nos dar ao luxo. Recebi a notícia de que meu pai ficou muito doente. — Apesar de entregar o que deveria ter sido uma notícia chocante, a expressão de Ariel não demonstrava nenhuma emoção.

Ah, então é isso. Ariel já descobriu. Fico imaginando se ela obteu essa informação através de canais normais ou se o Deus-Homem havia divulgado a notícia a Luke, que então a transmitiu a ela. Suspeitei do último.

Mas espere um minuto. Não seria possível que Ariel tenha obtido essa informação diretamente do Deus-Homem? O que significaria que ela poderia ser uma de suas apóstolas. Se assim for, isso vai atrapalhar nossos planos.

Era aterrorizante pensar nisso. Eu teria que consultar Orsted sobre a possibilidade de ela ser uma apóstola.

— A julgar pela expressão em seu rosto, acho que você já sabia — Ariel adivinhou.

— Hein?

— Já que você é um servo do Deus Dragão, acho que não deveria me surpreender que você não tenha se surpreendido.

Limpei a garganta.

— Ah… Bem, o pedido do Mestre Luke foi tão repentino, e você parecia bastante motivada a seguir em frente com seus planos. Suspeitei que algo estava acontecendo.

Satisfeita com a minha resposta, ela assentiu.

Ufa.

— Tenho certeza de que você deve ter seus próprios assuntos para cuidar… Nesse caso, catorze ou quinze dias devem ser suficientes para você organizar as coisas e se preparar para nossa jornada, né?

Ela planeja partir em duas semanas, não é?

Cerca de vinte e dois ou vinte e três dias já haviam se passado desde que recebi as ordens de Orsted. Isso significava que quase um mês se passou desde que tudo começou. Sua estimativa de quando a notícia da saúde do rei chegaria provou ser precisa.

— Felizmente, se pudermos ordenar a Lorde Perugius que prepare alguns círculos de teletransporte para nós, nossa jornada não levará muito tempo. Devemos ter tempo para trabalhar. Ainda assim, sabendo que meu pai está doente, gostaria de voltar o mais rápido possível, para que não seja tarde demais. Gostaria de chegar antes que meus irmãos tenham a chance de garantir sua posição.

A julgar por suas palavras, a doença do rei era terminal. Isso significaria a coroação de um novo rei. Se levássemos muito tempo, Ariel perderia a chance de competir pelo trono.

Só havia uma coisa que me preocupava. Orsted havia mencionado um espinho no Reino Asura com o qual teríamos que lidar: o Alto Ministro Darius Silva Ganius. De acordo com Orsted, precisávamos encontrar Tristina, já que ela era seu calcanhar de Aquiles. Poderíamos tirá-lo do cargo enquanto a tivéssemos do nosso lado. Era tentador pensar que ele não seria mais um fator adverso agora que garantimos a cooperação de Perugius. Mas Orsted não teria mencionado Darius se ele não fosse um obstáculo aos nossos planos.

Com Perugius apoiando-a, Ariel se igualou ao primeiro príncipe e sua facção em poder e influência. Livrar-se de Darius a colocaria na frente. Se nossa vitória fosse garantida, eu teria que agir novamente.

— Princesa Ariel, por falar em círculos de teletransporte… Não seria melhor ter um perto da fronteira com o Reino Asura do que dentro da própria nação? — Propus.

— Oh? E por quê?

— Se souberem que alguém tão proeminente quanto uma princesa capaz de entrar no reino sem passar pela fronteira, eles podem começar a suspeitar de algo. Especialmente porque círculos de teletransporte são proibidos. Se descobrissem que você os usou, provocaria perguntas desnecessárias. Acho que seria melhor irmos da fronteira para a capital. Dessa forma, as pessoas também podem te ver enquanto passamos.

— Hm, entendo. Bom ponto.

Legal! Agora tudo que tenho que fazer é arranjar uma desculpa para fazermos contato com a organização em que a Triss está. Ainda não pensei como vou fazer isso, mas a maioria das organizações do tipo fora-da-lei como essa estão dispostas a negociar enquanto o dinheiro estiver envolvido.

— Sou contra essa ideia — disse Luke, interrompendo nossa conversa. — Se Sua Majestade estiver realmente doente, o primeiro ou segundo príncipe pode ter servos ao longo da estrada para obstruir nosso retorno. Os círculos de teletransporte podem ser proibidos, mas enquanto os que usamos não forem descobertos, podemos inventar desculpas de como chegamos à capital despercebidos.

— Esse é um argumento razoável — Ariel reconheceu. — Continue.

— Desta vez, temos Rudeus nos acompanhando. Não deve haver preocupações quando se trata de nossa força na batalha. No entanto, rumores dizem que o primeiro príncipe alistou os serviços de um Imperador do Norte. Mesmo que o palácio possa conter seus próprios perigos, acho que estaríamos em perigo ainda maior se fôssemos pegos na estrada aberta por um espadachim experiente do estilo Deus do Norte. — Dava para perceber um pouco de medo em sua voz.

— É verdade, não queremos ser alvo desse tipo de oponente — Ariel concordou. Ela e Sylphie pareciam preferir a proposta de Luke à minha. Os três fugiram do reino e lutaram com unhas e dentes para chegar até aqui, perdendo inúmeros outros no processo. Era natural que temessem ser atacados na estrada.

Ainda assim… e agora? Devo dar alguma desculpa para ir na frente deles para que eu possa fazer contato com Triss?

Não, seria contra o propósito se algo acontecesse com Ariel e os outros nesse meio tempo. Eu ainda tinha que satisfazer todas as minhas suspeitas de que Luke era um dos apóstolos do Deus-Homem. Sua sugestão pode até estar a mando do Deus-Homem.

Ariel franziu a testa.

— Vocês dois trouxeram argumentos sólidos… Sylphie, o que você acha?

— Hm, pessoalmente, acho que devemos nos teletransportar diretamente para o reino. Não temos ideia de onde este círculo nos levará dentro do reino Asura. Além disso, não pode haver maior vantagem do que enganar o primeiro príncipe não passando pelo posto de controle da fronteira.

Então Sylphie apoia a ideia do Luke?

— Além disso, — continuou Sylphie, — conseguimos escapar do país sem causar muita agitação. Não vejo razão para não entrarmos secretamente. Levaria mais de um mês para viajar a pé da fronteira. Esse tempo poderia ser melhor gasto em outras coisas.

Como sempre, o raciocínio de Sylphie era sólido e bem articulado. Era fácil ver seu ponto de vista e difícil discordar dele.

— Muito bem… eu entendo seu ponto de vista — disse Ariel. — Nesse caso, procederemos como planejado e nos teletransportaremos para dentro do Reino Asura.

Ariel se decidiu enquanto eu estava ocupado avaliando as habilidades persuasivas de Sylphie. Em parte, a culpa foi minha por não compartilhar mais informações com Sylphie antes do tempo.

Ah, cara. O que eu faço agora?

Minhas opções eram trabalhar separadamente do grupo principal e entrar em contato com Triss, ou encontrar alguém para fazer isso em meu lugar. Ghislaine… não era realmente a pessoa certa para esse tipo de coisa. Elinalise estava grávida, e pela mesma razão, não posso arrastar Cliff. Em quem mais eu confiava que também tivesse talento para negociação?

Parece que Zanoba também estaria fora de questão, mas se eu o enviasse junto com Ginger… Não. Ordenar o príncipe de outro país assim pode causar problemas para mim mais tarde.

Enquanto eu estava perdido em pensamentos, uma batida de repente soou sobre a porta.

— Entre.

Sylvaril entrou. Ela olhou ao redor, balançando as asas antes de dizer: — Alguns minutos atrás, descobrimos que todos os círculos de teletransporte dentro do Reino Asura foram destruídos.

— Hein?!

A notícia veio do nada, nos surpreendendo.

— O que você quer dizer? — Ariel perguntou.

— Deixe-me explicar…

Sylvaril nos informou sobre os detalhes. Após nossa sessão de audiência, Perugius ordenou a Sylvaril que ativasse imediatamente um de seus círculos mágicos. Um em sua fortaleza flutuante levava diretamente a um local específico no Reino Asura. Quando ela tentou ativar, descobriu que não estava respondendo. Sylvaril sentiu que algo estava errado e enviou Arumanfi para investigar o círculo do outro lado, e foi assim que descobriram que havia sido destruído. Ele verificou os outros círculos dentro do Reino Asura e constatou-se que cada um deles também foram destruídos.

— E assim, não somos mais capazes de nos teletransportar dentro do Reino Asura.

O círculo de teletransporte mais próximo agora estava perto da fronteira da nação. Teríamos que caminhar o resto do caminho até lá.

Alguém deliberadamente sabotou os círculos. Não havia como ser uma coincidência. A única pergunta era quem? Deus-Homem ou Orsted? Poderia perguntar a este último amanhã. Então saberia a resposta.

Ainda assim, a situação desencadeou algo inesperado, suspeita em relação a mim. Logo depois que sugeri que não nos teletransportássemos para o reino, eles foram forçados pelas circunstâncias a fazer exatamente isso, como se fosse orquestrado. Luke me olhou com cautela, como se tivesse certeza de que eu sabia algo sobre isso e não estava compartilhando. Até Sylphie olhou nervosamente para mim. Eu tinha certeza que os dois achavam que era obra de Orsted.

Ariel foi a única que não ficou abalada com as notícias.

— Nesse caso, — disse ela, — acho que não temos outra opção. Seguiremos a sugestão de Lorde Rudeus.

— M-mas Princesa Ariel — Luke começou a protestar, boquiaberto pelo choque.

Ariel o interrompeu e disse: — Luke, informe Ellemoi e Cleane da situação e, por favor, ajude-os com os preparativos. Sylphie, venha comigo. Precisamos prestar nossos respeitos às senhoras e senhores do Reino de Ranoa. Vou deixá-lo com seus próprios afazeres, Lorde Rudeus. Certifique-se de se despedir de sua família e amigos por enquanto.

— Como você ordena — Luke disse calmamente, assentindo com a cabeça.

Apesar do desconforto que pairava no ar, nos separamos.

 


 

Tradução: Rlc

Revisão: Guilherme

 

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