Acordei cedo e acompanhei Norn para uma corrida seguida de um pouco de treino com espada; voltei a tempo de abraçar Sylphie enquanto ela cuidava de Lucie; disse bom dia para Lilia e Aisha na sala de estar; penteei e trancei o cabelo de Roxy que lutava para acordar; encontrei Zenith no jardim observando silenciosamente nosso animal de estimação, Ente, e avisei que o café da manhã estava pronto; então fiz uma grande refeição com toda a família.
Em outras palavras, estava de volta à minha velha e pacífica rotina.
Claro, não era como se nada tivesse acontecido. Eu realmente tentei matar o Deus Dragão Orsted, e fui totalmente derrotado…, mas, de alguma forma, consegui sair vivo.
Olhei para as minhas mãos; elas eram uma prova desse fato. Quando as fechei, pude sentir meus dedos pressionando contra minha palma – tanto a direita, quanto a esquerda.
Naquele dia, depois que me curvei a Orsted e jurei minha lealdade, ele cumpriu sua promessa de usar magia de cura em mim. Meu braço direito decepado foi regenerado em instantes, junto com um bônus: a mão esquerda que a hidra tirou de mim há algum tempo.
Orsted não parou por aí e lançou outro feitiço em mim, me entregou um bracelete que estava usando em seu braço e partiu com estas exatas palavras: “Entrarei em contato assim que recuperar sua mana”.
Mesmo agora, estava usando a pulseira em questão no meu braço esquerdo. No entanto, não sabia sobre sua função. Talvez acelerasse minha regeneração de mana, ou de alguma forma impedisse o Deus-Homem de me espionar.
A última opção parecia plausível. Dez dias se passaram desde a batalha, mas o Deus-Homem ainda não apareceu em meus sonhos. Orsted também disse algo sobre me proteger da influência dele.
Então, até onde sabia, era simplesmente algo que ele dava a qualquer um sob seu comando, como algum tipo de distintivo oficial do Deus Dragão.
De qualquer forma… Orsted me derrotou, e agora eu era seu subordinado. Traí o Deus-Homem e uni forças com seu inimigo. Provavelmente usaria essa pulseira pelo resto da minha vida, mas não me arrependi da escolha que fiz.
Para ser honesto, foi bom ter traído aquele bastardo sem rosto. No momento, estava mais aliviado do que ansioso.
Não tinha como voltar atrás agora. Mesmo que Orsted tivesse mentido para mim, não poderia traí-lo. A sorte foi lançada. Sempre há a possibilidade de eu apenas estar fazendo exatamente o que o Deus-Homem quer…, mas era tarde demais para me preocupar com isso.
Porém, sendo sincero, tinha um pressentimento de que Orsted provaria ser mais confiável do que o Deus-Homem. De certa forma, algo sobre ele me lembrou Ruijerd. Ele não tinha o orgulho inabalável de Ruijerd, ou sua afeição por crianças. No entanto, ao contrário do Deus-Homem, que apenas observava os eventos passivamente à distância, ele parecia ser do tipo que tentava resolver seus problemas com as próprias mãos.
De um jeito ou de outro, um grande peso foi retirado dos meus ombros. Nos últimos dias, estava respirando muito mais facilmente do que em meses. A estrada à frente com certeza seria esburacada, mas não se compararia a montanha íngreme que atravessei.
Aliás, falei com Roxy e Sylphie depois que Orsted foi embora. Sylphie estava soluçando sem parar, e Roxy me repreendeu severamente. Ambas insistiram que teriam me parado se eu tivesse sido mais honesto sobre o quão perigoso Orsted era, e expressaram seus medos sobre minha nova aliança. No entanto, justifiquei que era a única opção que tinha a curto prazo, e elas aceitaram de má vontade esse argumento.
Depois disso, voltamos direto para casa, onde disse à minha família que estava bem e fui para a cama logo em seguida. Por estar fisicamente exausto e sem um pingo de mana, acabei dormindo por um dia inteiro.
Quando finalmente acordei, visitei todos os meus amigos e aliados para que soubessem que havia perdido para Orsted e me unido a ele. Dentre os que me encontrei, Perugius parecia o mais aliviado. O que era compreensível, afinal, mesmo com uma fortaleza flutuante, ninguém gostaria de fazer daquele cara um inimigo.
A propósito, todos pareciam meio chocados quando me viram. Eventualmente descobri que era porque meu cabelo tinha ficado branco. De acordo com Perugius, este era um efeito colateral comum de usar uma enorme quantidade de mana em um curto período de tempo. Nunca entendi o porquê do cabelo de Sylphie ter mudado de cor após o Incidente de Deslocamento, mas imagino que esta seja a resposta. No entanto, já estava vendo um pouco de marrom nas raízes de meu cabelo. Ao contrário de Sylphie, minha mudança provavelmente seria temporária. Não que realmente me importasse de qualquer forma, já que estávamos com um visual combinando no momento…
Era impossível dizer como o Deus-Homem responderia à minha traição, então, de início, fiquei conturbado. Porém, até agora, nada fora do comum havia acontecido, e estava me sentindo bem. Meu corpo estava se recuperando, e eu podia sentir meu suprimento de mana gradualmente se reabastecendo.
Falando nisso, parecia que Orsted sabia o segredo por trás do meu reservatório de mana incomumente grande. Mencionou algo chamado Fator Laplace, ou algo assim…
Bem, ele me contaria mais se fosse importante. Só teria que ser paciente por enquanto.
Deixando tudo isso de lado… tinha uma coisa na minha rotina diária que havia mudado consideravelmente.
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— Mais, por favor!
— Desculpe, Eris. Acabou a sopa.
— Sério? Não tinha muito!
Havia um rosto novo em nossa mesa de jantar: uma mulher alta, ruiva e com apetite. Naturalmente, a partir destas descrições, quero dizer Eris Greyrat. Ela nos seguiu de volta à Sharia, ocupou nosso quarto de hóspedes por iniciativa própria e começou a morar conosco.
Aliás, Ghislaine estava hospedada em uma pousada próxima. Eu não tinha certeza do porquê. Talvez ver Zenith em seu estado atual tenha sido um choque grande demais para ela, ou talvez estivesse tentando nos dar algum espaço. Seja o que for, apenas Eris se mudou.
Eris sumia de vez em quando, mas, em geral, passava a maior parte do tempo vagando pela casa. Assistia Sylphie cozinhar, Roxy se preparar para suas aulas, ou Aisha e Lilia realizar trabalhos domésticos; às vezes, até olhava para Zenith e Lucie sem motivo aparente. Quando não estava fora de casa, observar os membros da família parecia ser seu hobby.
Não deixei de notar que ela geralmente tinha uma expressão sutil e perturbada quando observava, em particular, Sylphie e Roxy.
Eris mudou muito desde a última vez que a vi. Não sei como explicar, mas… tinha uma presença imponente agora. Era alta para uma mulher e se portava com confiança.
Seu estilo também combinava com ela. Usava o mesmo tipo de jaqueta de couro que Ghislaine, calças pretas e um top branco sobre uma camiseta escura – era uma roupa com a qual poderia lutar, e que ainda ressaltava o quão em forma estava. No entanto, isso não quer dizer que tinha apenas músculos. Seu corpo, sem dúvida, era magro e flexível.
Para ser honesto, quando começava a olhá-la, era um verdadeiro desafio parar.
Seus seios grandes, cintura fina e bunda curvilínea já eram um problema. Porém, nos últimos cinco anos, seu rosto outrora infantil também adquiriu uma beleza nítida e marcante. Em todos os aspectos, havia se tornado uma mulher, e não era mais a garota que eu conhecia.
Talvez fosse por isso que estava achando tão difícil iniciar uma conversa com ela. Após o fim da batalha teria sido mais fácil, mas perdi essa oportunidade enquanto andava pela cidade contando a todos sobre a situação.
Contudo, o maior problema era que meu coração disparava toda vez que olhava para Eris por muito tempo.
Dizia a mim mesmo uma dúzia de vezes que precisava falar com ela. Porém, por algum motivo, simplesmente não conseguia encontrar o momento certo. Sempre que começava a dizer qualquer coisa, aquele olhar intenso se fixava em mim, meu coração batia mais rápido e eu acabava desviando os olhos. Depois disso, precisava de um tempo para me acalmar.
Que fenômeno misterioso. Será que era terror o que estava sentido?
Tá, vou parar de brincar. Eu sabia o que estava acontecendo.
Tinha me apaixonado por Eris – pela segunda vez, eu acho.
Ela me conquistou bem rápido, hein? Mas em minha defesa, ela correu para me salvar quando pensei que não havia mais esperança, segurou o próprio Deus Dragão Orsted e arriscou sua vida para proteger a minha. Além de parecer foda enquanto fazia tudo isso. Em suma, não tinha como me culpar.
Agora, eu era basicamente uma colegial apaixonada. Não era mais Rudeus – era Wooed-eus1Junção da palavra “Wooed” que significa “galanteador” + o final do nome do Rudeus.
Considerando a forma como me sentia em relação a Eris, o próximo passo estava claro. Sylphie e Roxy já me deram sua aprovação. Não havia motivo que me impedisse de simplesmente pedi-la em casamento.
Mas… talvez não fosse tão fácil assim.
Só entendi o motivo quando voltei para casa e Aisha me explicou. Eris passou os últimos anos sob um rígido regime de treinamento no Santuário da Espada apenas para que pudesse lutar contra Orsted ao meu lado. Nossa batalha contra ele na Mandíbula Superior do Wyrm Vermelho a marcou profundamente, e quando me viu praticando o feitiço Atrapalhar Magia, assumiu que eu estava planejando derrotá-lo algum dia no futuro.
Pessoalmente, achava que Eris e eu éramos muito parecidos naquela época. Mas ela decidiu que não era forte o suficiente para ficar ao meu lado de igual para igual e foi treinar com os melhores da arte da espada.
Da perspectiva dela, eu basicamente a traí. Ela saiu em uma longa “viagem de negócios ao exterior” e depois voltou para encontrar seu namorado infiel e babaca com outras duas mulheres.
Houve muitos mal-entendidos envolvidos, é claro, e expliquei tudo o que aconteceu em minha carta. Nunca se sabe ao certo com Eris, mas presumi que ela entendia a situação. Ainda assim, não significava que estava pronta para aceitar. Considerando sua personalidade, meio que esperava que me atacasse com uma faca de cozinha qualquer dia desses. De qualquer maneira, dadas as circunstâncias, parecia um pouco errado só… pedi-la para se casar comigo.
Além disso, ela estava se comportando de maneira um pouco estranha no geral. Para ser honesto, não conseguia descobrir o que estava pensando. Sem querer julgar, mas a Eris que conhecia era uma pirralha teimosa e desobediente, que costumava agir antes de pensar nas consequências. Meio que esperava algo assim: “Eu te amo, Rudeus! Isso significa que você pode se casar comigo! Venha para o meu quarto – vamos fazer amor a noite toda! Ficou bem claro a todos? Rudeus é meu! Tire essas outras mulheres daqui!”
Porém, para a minha surpresa, não disse nada do tipo. Na verdade, não estava… exigindo nada. Nunca a vi tão quieta e submissa.
Eu tinha uma teoria que explicava o motivo.
Duas semanas atrás, Eris arriscou sua vida para me proteger de Orsted. Porém, naquele momento, ainda estava iludida com algumas fantasias irreais sobre mim. Até aquele dia, provavelmente achava que eu havia passado os últimos cinco anos treinando rigorosamente como ela. Claro, isso não estava nem perto de ser verdade. Fiz algum esforço para ficar mais forte, mas nada comparado ao seu empenho. Orsted me derrotou impiedosamente, e Eris chegou bem a tempo de me ver rastejando pateticamente pelo chão. E como se não fosse o bastante, também me casei com outras duas mulheres, e havia alguns rumores nada lisonjeiros sobre mim circulando pela cidade. Não seria surpreendente se sentisse um pouco desiludida. Talvez não estivesse dizendo nada porque planejava partir em breve.
Quanto mais pensava nessa possibilidade, mais nervoso ficava em começar uma conversa. Sendo sincero, estava com medo de ser rejeitado. E se ela me olhasse firmemente nos olhos e dissesse: “Não dou a mínima para você!” ou algo do tipo? Só de pensar nisso já ficava deprimido. De certa forma, era o que eu provavelmente merecia, mas ainda seria como um soco no estômago.
Mas se ela quisesse dizer isso, não teria dito antes?
Sim, mas…. Hmm. Não sei… Argggh…
De um jeito ou de outro, obviamente precisávamos conversar. Eu tinha que criar coragem e perguntá-la quais eram seus planos. Foi o que fiquei repetindo para mim mesmo…, mas simplesmente não pude encontrar o momento certo. Não consegui dizer nada, e Eris também estava calada. E assim, os dias foram se passando sem nenhum progresso em nossa relação.
Se possível, queria esclarecer as coisas entre nós antes que Orsted entrasse em contato comigo. Mas não sabia como fazer isso. Estava começando a parecer que nós dois iríamos só… continuar vivendo separados na mesma casa sem nunca nos entendermos.
Como eu estava preocupado com esses pensamentos, Roxy veio até mim e fez uma pergunta inesperada.
— Então, quando planeja organizar a festa do seu casamento com Eris?
— A… festa de casamento?
— Sim. Quero dizer, você fez uma comigo, então presumo que fará o mesmo com ela. Vou tirar o dia de folga para ajudar, então esperava que pudesse me falar a data…
Fiquei sem palavras.
Depois de uma pausa estranha, Roxy me olhou nos olhos e franziu a testa.
— Não me diga que ainda nem falou com Eris? Discutimos sobre isso muito antes de ela aparecer, se lembra?
A expressão no meu rosto provavelmente era… uma que demonstrava desconforto, para dizer o mínimo.
Roxy estava certa, é claro. Eu já tinha resolvido o assunto com a minha família; todos estavam prontos para aceitar Eris. Aisha estava disposta desde o início, mas até Norn estava tratando-a como parte da família agora. Na verdade, vi ela e Eris conversando alegremente sobre Ruijerd algumas vezes. Elas pareciam estar se dando bem, muito mais do que o esperado.
Ninguém era contra este casamento. O único impeditivo era a minha covardia.
— Rudy, você não pode adiar isso para sempre — disse Roxy apontando o dedo para o nada em sua melhor pose de “irmã mais velha responsável”. — E não deveria deixar Eris esperando por mais tempo.
— Deixar esperando…?
— Claro. Ela está esperando que diga “Pule em meus braços!” ou algo do tipo.
Só para enfatizar seu argumento, Roxy abriu os braços para mim. Foi muito fofo.
— Hmm. Realmente acha que Eris quer ouvir isso de mim? Tem certeza de não é apenas uma de suas fantasias?
— Quê…?! Pare com isso, não me provoque! Você precisa levar isso a sério, Rudy!
Roxy cruzou os braços e estufou as bochechas irritada.
Eu a provoquei por reflexo, mas precisava pensar um pouco nisso. Eris realmente estava esperando que eu desse o primeiro passo? Isso não parecia ser de seu feitio…
Se bem que Roxy nunca esteve errada antes. Ela era o tipo de deus cujos conselhos eram sempre confiáveis. Agora que estava me incentivando, não tinha nenhuma razão justificável para hesitar. Era hora de mostrar um pouco de coragem. Eu me aproximarei de Eris, a direi como me sinto e verei o que ela tem a dizer sobre isso. Se risse na minha cara, teria que fazer com que Sylphie e Roxy me animassem.
No entanto, prioridades em primeiro lugar. Abrindo meus braços, declarei:
— Pule em meus braços, Roxy! — no tom mais entusiasmado que consegui.
— Você nem está ouvindo, está…
A voz de Roxy sumiu no final da frase. Ela me olhou no rosto, e então checou com cuidado os arredores, confirmando que não havia ninguém por perto. Logo em seguida, abaixou as mãos até a cintura e deu um pulinho adorável em meus braços. Podia sentir sua barriga ligeiramente conspícua pressionando contra meu estômago.
— Calma aí, princesa. Cuidado com o bebê.
— Não se preocupe — Roxy murmurou baixinho em meu ouvido. — Eles precisam se exercitar de vez em quando se quiserem ficar em forma.
Era realmente assim que funcionava? Bem, se a especialista disse, quem sou eu para duvidar?
Decidindo que esta era uma boa oportunidade para passar algum tempo íntimo com minha esposa, me sentei em uma cadeira e pus Roxy no meu colo. Porém, ao fazer isso… tive a estranha sensação de que estava sendo observado.
— Hum…?
Havia alguém à espreita na porta, meia escondida, abaixada como uma empregada bisbilhoteira. Alguém com olhos que brilhavam como os de um tigre furioso.
Era Eris.
— Gya!
— Q-Qual o problema, Rudy?!
Enquanto eu gritava e apertava Roxy com força em meus braços, Eris desviou os olhos dos meus e desapareceu nas sombras do corredor. Ela não disse uma palavra, mas ainda conseguia me aterrorizar horrores.
O-Ok, talvez eu fale com ela amanhã…
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No dia seguinte, perambulei pela casa em busca de Eris, esperando finalmente ter a conversa que vinha adiando há muito tempo.
Não demorou muito para encontrá-la. Ela estava no quintal, treinando movimentos de espada. Por alguma razão, Norn também estava praticando ao lado dela. A menina não deveria estar na escola? Hmm. De vez em quando, Eris fazia uma pausa para dizer algo como “não, não. Faça isso deste jeito”. Parecia que estava tentando ajudar minha irmãzinha com sua postura.
— Já te falei, não está certo! Por que não está conseguindo?
— Isso não me ajuda muito. O que exatamente estou fazendo de errado?
— O que exatamente? Uh…
Eris nunca foi muito boa em colocar essas coisas em palavras, então eu estava um pouco cético que Norn iria aprender algo com essa lição. Algumas pessoas com muito talento natural nem entendem por completo como fazem as coisas instintivamente.
Mas para a minha surpresa…
— Bem, você não está usando tanto a sua mão esquerda quanto deveria. Se balançar sua espada usando apenas o braço direito, a lâmina não vai acertar o alvo.
Hã? Espere, estou ouvindo coisas?
— Tente se concentrar nos movimentos da sua mão esquerda… finja que está usando só esse braço. Isso deve tornar seus balanços de espada mais suaves.
Espere, realmente é a Eris falando? Talvez esteja apenas gesticulando e Ghislaine dublando?
— Oh, certo. Acho que agora entendi!
— Ótimo, ótimo. Assim espero.
Sorrindo uma para a outra, as duas voltaram para o treino de espada. E a postura de Norn parecia um pouco melhor do que antes…
Bem, acho que ela é uma Rei da Espada agora.
Ghislaine me disse uma vez que não dá para alcançar esse nível apenas com instinto ou talento. Eris deve ter aprendido a pensar logicamente sobre sua técnica enquanto se aprimorava.
De qualquer forma… Os balanços de espada de Eris eram bem rápidos. Eu não conseguia nem ver um borrão além da base de sua lâmina.
Seus movimentos também eram muito… lindos. Sua lâmina era erguida aos poucos, e cortava silenciosamente o ar quando abaixada. Só quando parava, bem no fim de seu balanço, que dava para ouvir um suave assobio.
Era uma visão fascinante. Vê-la em ação me fez querer suspirar de admiração. Cara, aquele olhar totalmente concentrado em seu rosto… as gotas de suor em sua testa… seu corpo esguio e bem definido… seus músculos se contraindo com o esforço…
Oh! Oh, meu deus. Como pude ter esquecido isso?
Cada vez que Eris balançava sua espada para baixo, uma certa parte flexível de sua anatomia estremecia ligeiramente. Não estavam realizando movimentos bruscos. Para ser exato, estavam oscilando de maneira bastante sutil. Provavelmente porque seus golpes de espada eram tão eficientes que a parte superior do corpo nem estava se mexendo muito. Aquela camiseta que estava vestindo parecia fornecer algum apoio, mas, examinando mais de perto, tive a sensação de que não estava usando nenhuma “armadura peitoral” por baixo. A cada balanço, meus olhos ficavam um pouco mais vidrados nesse esplêndido fenômeno. Eu não conseguia escapar de seu campo gravitacional!
— Hum…?
De repente, os seios de Eris pararam de se mexer… ou seja, ela parou de balançar a espada.
Olhei para cima e descobri que estava olhando na minha direção. Suas pernas estavam abertas na largura dos ombros, seu queixo ereto, e uma expressão séria estampada no rosto. Tudo o que precisava fazer era cruzar os braços que sua pose intimidadora de antigamente ressurgia.
Assim que esse pensamento me ocorreu, notei o que ela estava segurando: aquela espada super afiada que usou contra Orsted.
Decidi fazer uma retirada tática imediata.
Ninguém gostaria de iniciar uma discussão importante com uma pessoa carregando uma arma mortal, certo? Não seria educado!
Duas horas depois, quando percebi que seu regime de treinamento deveria ter acabado, fui procurar Eris mais uma vez.
Ela não estava mais no jardim. Porém, quando verifiquei a entrada do nosso banheiro, vi apenas as roupas de Norn dobradas no vestiário. Naturalmente, não dei uma de bisbilhoteiro.
No entanto, depois de procurar pela casa inteira, não consegui encontrar Eris em lugar nenhum. Talvez ela tivesse trocado de roupa na hora e saído em alguma missão? Esperar seu retorno sempre era uma opção, é claro…, mas não havia motivo para falarmos sobre isso dentro de casa. Se ela saiu, eu deveria tentar alcançá-la.
Com esse pensamento em mente, fui ao banheiro para me aliviar antes de partir.
Contudo, quando estava prestes a encostar na maçaneta, a porta foi aberta rapidamente por dentro.
— Ah!
— Buh!
De repente, me encontrei a poucos centímetros de uma Eris muito assustada. À queima-roupa, suas características faciais marcantes eram ainda mais bonitas. Suas ondas de cabelo vermelho vivo, levemente úmido, fluíam sobre seus ombros e desciam em direção ao busto. Sua camiseta encharcada de suor grudava em seu corpo, oferecendo uma excelente visão de seu decote. Aquele vale profundo e escuro atraiu meu olhar com toda a força de um buraco negro. Como todos os vales, era ladeado por um par de colinas. E que colinas! Sua camisa suada revelava por completo seus belos contornos, até os pontinhos afiados em seus cumes.
Parecia que meus olhos tinham morrido e ido para o céu dos globos oculares.
— E-Está olhando o quê?
O olhar de Eris tornou-se incerto. Foi muito fofo. Por reflexo, estendi a mão e toquei os grandes montes diante de mim, explorando suas suaves encostas e picos um pouco mais duros.
Ooh. Que anjo macio…
Uma fração de segundos depois, o ombro de Eris fez um movimento e eu fiquei inconsciente.
Quando acordei, a parte de trás da minha cabeça estava apoiada em algo ligeiramente firme. Era mais duro do que meu travesseiro habitual, mas tinha um calor agradável, e parecia meio… flexível. Além disso, alguém parecia estar me acariciando na cabeça.
Por fim, percebi que esta era uma situação de “travesseiro de colo”. Infelizmente, ainda estava meio grogue neste momento.
— Hm… nom, nom… não consigo comer mais nada…
Fingindo estar completamente adormecido, me virei para enterrar meu rosto no espaço triangular onde as pernas do meu travesseiro humano encontravam seu corpo. Então, respirei fundo e comecei a apalpar sua bunda.
— Hyaaa!
Hmm? Esta não é a bunda de Sylphie. A dela é bem menor… quase do tamanho da palma da mão.
Também não parece ser da Roxy. A dela tem um cheiro agradável e reconfortante, mas este está um pouco suado… e por algum motivo, estava me deixando com um péssimo pressentimento….
Mas não é ruim. Me faz sentir um pouco nostálgico…
Neste exato momento, acordei por completo. Abri lentamente os olhos e virei-me a fim de olhar para a mulher em que estava deitado. Do outro lado de duas montanhas bem torneadas, um par de olhos intensos olhavam para mim. Eris se abaixou e agarrou firmemente minha cabeça com a mão.
Oh, Deus, este é o meu fim! Ela vai quebrar meu pescoço! Adeus, Sylphie! Adeus, Roxy! Desculpem-me por deixá-las tão cedo…
Porém, para minha surpresa, Eris não me matou. Em vez disso, começou a acariciar meu cabelo com movimentos fortes, mas suaves. Me encolhendo o máximo possível, a estudei cuidadosamente. Ela estava fazendo beicinho, seu rosto estava vermelho e não me olhava nos olhos. Mas não parecia estar muito brava.
— Uhm… Senhorita Eris?
— É apenas Eris.
— Certo… me desculpe, Eris.
Assim que me desculpei, seu aperto em minha cabeça ficou evidentemente mais forte. Adeus, minha amada família… nos encontraremos de novo algum dia…
— Está tudo bem — Eris disse depois de um momento. — Também sinto muito.
— Ah… Tudo bem então.
— Eu li sua carta e tudo mais. Não foi fácil para você depois que parti, não é?
Minha cabeça ainda estava sob o aperto firme de Eris, mesmo assim consegui assentir balançando-a. Eu não era maduro o suficiente para acrescentar “nada disso foi culpa sua”. Nós dois tínhamos nos entendido mal naquela época; eu estava magoado, e agora ela estava passando por algo semelhante.
— Ei, Rudeus…
— O que foi?
— …
Eris ficou em silêncio por um longo momento. Ela parecia insegura sobre como completar sua frase. Sabíamos que havia muito que precisava ser dito, mas não conseguíamos encontrar as palavras certas. Os cinco anos que passamos separados foram muito longos – para nós dois.
— Você, uhm… ama aquelas duas, não é?
— Sim, eu as amo.
Com minha clara e rápida resposta, o aperto de Eris na minha cabeça ficou um pouco mais firme.
— Você gosta mais delas do que de mim, certo?
— Sim.
O rosto de Eris se contorceu em tristeza.
Merda. Queria não ter dito isso. Não posso compará-las entre si. Eu amava muito Sylphie e Roxy, mas também me apaixonei por Eris. Não havia nenhum sentido em negar isso neste momento.
— Você me odeia?
— Claro que não! É que… faz muito tempo desde que nos vimos… Às vezes me sinto um pouco estranho perto de você, só isso…
— Sabe, ainda gosto muito de você, Rudeus. E quero que me ame, também.
O rosto de Eris ficou tão vermelho quanto seu cabelo.
Eu estava ouvindo coisas, ou ela acabou de confessar seu amor por mim? Sim. Certamente não havia outra maneira de interpretar isso…
A questão era como responder. Eu sabia qual era minha resposta final…, mas antes que pudesse dá-la, precisava ter certeza de que ela realmente entendia no que estava se metendo.
— Você sabe que já tenho duas esposas, certo?
— …
Carrancuda, Eris se levantou abruptamente. Rudemente expulso de seu colo, cai de cara no chão de madeira.
Parecia que estávamos na sala de estar. Não havia mais ninguém por perto. Sylphie e Norn estavam ambas em casa, mas talvez estivessem tentando nos dar algum espaço no momento.
Enquanto rastejava sobre minhas mãos e joelhos, Eris olhou para mim de cima. Seus braços estavam cruzados, suas pernas abertas na largura dos ombros e seu queixo ereto. Era exatamente a mesma pose que usou na primeira vez que nos conhecemos.
— Vamos para fora, Rudeus! Quero um duelo!
— Hã?! — gritei, me levantando enquanto limpava a poeira das minhas roupas. — Um duelo?!
— Isso mesmo! Se você ganhar, vou embora de vez! Mas se eu ganhar… — Eris fez uma pausa para apontar um dedo direto para o meu rosto. — Se eu ganhar, então você terá que me amar também!
As coisas tinham tomado um rumo estranho. Como resposta, só consegui assentir balançando a cabeça.
Tradução: Another
Revisão: Guilherme
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