A Rei Demônio Imortal Atoferatofe era extremamente famosa. Ela é filha de um dos Cinco Grandes Reis Demônios, Imortal Necross Lacross, e começou a ganhar notoriedade durante a segunda Grande Guerra Humano Demônio.
Atofe era usada como exemplo da raça dos demônios. Mesmo que não fosse muito inteligente, ela possuía destreza e resistência insanas em batalha. Era temida como uma rei demônio feroz. Seus subordinados compensavam suas deficiências intelectuais, mas quando tiveram sua rota de abastecimento cortada durante a guerra, foram todos eliminados. Graças a isso foi capturada pelos humanos e selada.
Não foi até a Guerra de Laplace que Atofe reviveu. Laplace foi quem deu a ela uma nova vida, e ela fez um nome para si como rei demônio, trabalhando ao lado dele. Quando o conflito terminou, foi derrotada pelo Deus do Norte Kalman e rendeu-se.
De acordo com uma história, o Deus do Norte Kalman deixou uma criança com a Rei Demônio Atofe, e foi esse herdeiro que se tornou o Deus do Norte Kalman II. Outra conta que o Deus do Norte Kalman transmitiu a sabedoria de sua técnica de espada à rei demônio. Uma outra afirmava que foi a Rei Demônio Atofe quem ensinou ao Deus do Norte Kalman II tudo o que ele sabia.
Se alguma dessas histórias fosse verdade, então Atofe era uma veterana das batalhas que havia transmitido as técnicas do Deus do Norte. Além disso, seu corpo também era imortal. Lutar com uma mulher assim seria idiotice.
Atofe estava diante de nós com seu séquito de soldados de armadura negra. Nossa rota de fuga foi bloqueada. Com base em sua expressão, estava ansiosa para partir para cima, sua lâmina estava em mão, pronta para a luta.
— Venham, podem vir os quatro de uma vez!
Atofe não fez movimento algum para começar a batalha, apenas ergueu a espada e nos examinou. Isso foi proposital. Com o poder à sua disposição, ela era perfeitamente capaz de nos dominar antes que pudéssemos reagir, mas não fez nada.
— Você não vai me pegar desprevenida desta vez — avisou. — Eu aprendo rápido. — Seus olhos brilhavam em chamas enquanto olhava entre Zanoba e eu. Desta vez, estava totalmente alerta, pronta para a força desumana dele e para minha magia elétrica.
Nossos ataques anteriores não fizeram nada. Zanoba tinha praticamente esmagado seu crânio, mas sua cabeça agora estava perfeitamente intacta. Porém, sua vigilância indicou que nossos esforços foram eficazes o suficiente.
— Continuem. Tentem de novo. Desta vez, vai ser diferente.
Ela parecia confiante.
Tive a sensação de que ela evadiria de nossos ataques. O estilo Deus da Água permitia que uma pessoa se opusesse a ataques mágicos. Eu não sabia muito sobre o estilo Deus do Norte, mas, bem, ela era uma rei demônio. Eu tinha certeza que minha magia não teria muito efeito dessa vez.
Ativei meu olho demoníaco, mas ver um segundo no futuro realmente me dará vantagem contra um oponente de tal calibre?
Enquanto eu refletia sobre como lidar com a situação, decidi que criar uma abertura seria minha melhor aposta.
Mas o que faço depois disso? E mesmo se criar uma abertura, minha magia funcionará contra ela?
Mesmo o Canhão de Pedra mais poderoso que consegui fazer não foi o suficiente para matar Badigadi. Além disso, Atofe estava preparada para o meu ataque. Se ela se defendesse, minha magia não…
— Rudeus. — Elinalise de repente sussurrou ao meu ouvido. — Vamos ao menos dar cobertura para o Cliff, para que ele possa se teletransportar para fora daqui.
Olhei para Cliff. Ele estava bravamente olhando para Atofe, mas suas pernas tremiam. Ele seria inútil na batalha.
— Se o enviarmos com as folhas de chá, as plantas e o memorando, ele terá o suficiente para salvar Nanahoshi — continuou Elinalise.
— Bom ponto.
Ela estava certa. Esta era a nossa melhor opção. Tínhamos que salvar Nanahoshi. Essa era a razão por trás de nossa jornada. Nada era mais importante do que alcançar nosso objetivo. Mesmo assim, eu ainda queria voltar para casa vivo.
Não, mesmo se eu for derrotado, provavelmente não vou morrer. Só não poderei ver minha família por pelo menos uma década, e tenho certeza que não quero isso.
— Também poderíamos chamar reforços. Tenho certeza de que Perugius já lutou com Atofe no passado. Ele com certeza nos ajudaria.
Perugius e seus doze familiares, essa era uma boa ideia. Talvez pudéssemos fazer com que ele nos apoiasse. Considerando a arrogância que demonstrava, ele certamente tinha poder suficiente para lutar contra Atofe.
— Tudo bem — falei —, vamos fazer isso. Acha que pode convencer o Cliff?
— Vou tentar. — Elinalise foi na direção dele.
Nós três, Zanoba, Elinalise e eu, poderíamos criar uma abertura para Cliff escapar e se teletransportar de volta para a fortaleza. Enquanto ele persuadia Perugius a nos salvar, teríamos que resistir a Atofe. Supondo que Cliff tivesse sucesso, Perugius surgiria ao nosso resgate.
Mas isso funcionaria? Podíamos mesmo aguentar por tanto tempo? E será que Cliff conseguiria convencer Perugius a nos ajudar? Se ele demorasse muito, poderíamos perder e ser forçados a assinar um contrato. Ainda assim, se Cliff voltasse, pelo menos Nanahoshi seria salva. Essa era a razão para os nossos esforços. Mas eu também queria ir para casa.
Ah, merda. Acho que estou pensando demais.
Respirei fundo e disse a mim mesmo: Acalme-se.
Primeiro, precisávamos imobilizar Atofe por alguns minutos. Durante esse intervalo, eu dispersaria os outros cavaleiros com minha magia para que Cliff pudesse escapar. Dependendo de como as coisas corressem, o restante poderia até ser capaz de fugir com ele.
Certo, vamos lá.
Podíamos não ser capazes de derrotar Atofe, mas podíamos derrotar seus guardas.
Vamos fazer isso. Vamos esmagá-los em pedaços, matar todos. Se for necessário para eu voltar para casa, farei isso. Beleza, você pode fazer isso, Rudeus! Desta vez, você não vai ser só conversa fiada. Pronto?
— Não tema, Mestre. Mesmo ao custo de minha vida, manterei a Rei Demônio Atofe aqui. — Zanoba tinha nervos de aço e estava perfeitamente calmo. Isso era tranquilizador. Por que ele sempre conseguia soar tão heroico nesses momentos? Era algum tipo de peça de teatro ou algo assim? Se eu fosse uma mulher, ele me teria aos seus pés.
Perto dali, Cliff e Elinalise estavam cochichando.
— O problema é que não sei se posso passar por eles. Minhas pernas não são rápidas, especialmente se eu tiver que carregar tudo isso comigo…
— Rudeus e eu não vamos deixar ninguém chegar até você — prometeu Elinalise, mantendo a voz baixa. — Só não olhe para trás e não pare para pensar. Conte seus passos e corra o mais rápido que puder. Tente não tropeçar.
— Mas eu deveria me juntar a vocês na batalha…
— Não podemos vencer, nem mesmo com nós quatro. Precisamos que você chame reforços. Esse é o seu dever nesta luta, e é extremamente importante.
— Certo… Beleza, entendi.
Faltavam trinta passos para o círculo de teletransportação. Não tão perto, mas também não tão longe. Se Cliff corresse com tudo o que tinha, seria capaz de sobreviver.
Depois de um ou dois minutos, Elinalise voltou e disse:
— Certo, eu o convenci.
Olhei para Cliff. Ele acenou com a cabeça, com o olhar determinado de um homem dedicado a cumprir o seu dever, e não o de um homem fugindo da batalha. Elinalise fez bem em dizer a ele que seu papel era uma parte fundamental da luta. Ela sempre foi boa em persuasão. Eu não teria sido capaz de convencê-lo tão facilmente.
— Zanoba e eu vamos distrair Atofe e criar uma abertura — disse Elinalise.
— Rudeus, você usará a oportunidade para incapacitar os guardas.
— Entendido.
Com isso, nosso caminho foi traçado. Viramos para Atofe.
Ela ainda estava com a espada em punho enquanto nos olhava com raiva.
— Acham que podem me vencer?
Não havia inimigos atrás dela, mas estávamos em uma encosta e o terreno era instável. Eu estava preocupado sobre Cliff conseguir correr com todas essas coisas sem cair. Tudo o que podíamos fazer era acreditar nele.
— Zanoba, Senhorita Elinalise, darei o ataque inicial com minha magia.
— Boa ideia.
Virei-me para Atofe e levantei meu cajado. Eu usaria meu velho e prático Canhão de Pedra. Talvez Raio fosse uma escolha melhor, já que era a magia de nível Rei com o melhor poder de fogo para se usar contra um único oponente, mas a esta distância, poderíamos ser pegos no feitiço. Eu queria evitar ser um idiota e nos exterminar com minha própria magia.
— Uff… — Exalei antes de concentrar minha mana no cajado.
Atofe ficou parada. Ela já sabia que eu poderia usar magia sem recitar nenhum encantamento, mas não fez nenhum movimento para me interromper. Isso era perfeito para mim.
Meu Olho da Previsão leu seus movimentos: Atofe irá desviar meu Canhão de Pedra com sua espada. As pessoas diziam que meu Canhão de Pedra estava em um nível incrivelmente alto de magia, mas mesmo isso não funcionaria contra ela.
Será que Eletricidade funcionaria melhor? Mas posso realmente usar um feitiço para o qual ela está mais alerta?
— Mestre, juro que acompanharei qualquer ataque que você desencadear, então, por favor, tenha fé em mim. — Zanoba olhou diretamente para mim, os olhos cheios de confiança.
— Certo… — Era tranquilizador ouvi-lo dizer isso. Claramente, tinha algum tipo de plano. Nesse caso, eu apenas seguiria seu comando. — Tudo bem, então vamos lá!
— Sim, Mestre!
Lancei meu Canhão de Pedra depois de juntar toda a mana que pude. Um som agudo cortou o ar enquanto voava em direção a Atofe.
— Eu consigo ver através do seu ataque!
Ela deixou uma imagem residual para trás enquanto reagia. Mesmo que chamar de imagem residual fosse um exagero; ela mal moveu o braço, mudando ligeiramente a direção da espada. Naquele instante, meu Canhão de Pedra acertou sua arma, enviando faíscas para todos os lados. Meu ataque foi desviado, passando rapidamente por Atofe e batendo em uma pedra na encosta. Enormes nuvens de areia subiram.
Eu sabia. Esse feitiço não é bom contra ela.
— Graaaaaaah!
Zanoba atirou algo em Atofe.
— Gwaaaahaa!
Ela alegremente preparou sua espada para cortar a coisa que ele atirou em sua direção enquanto gritava.
— Seus ataques são inú… hein?
Quando Atofe estava prestes a cortar o projétil, ela congelou. Um segundo depois, aquilo a acertou bem no rosto.
— Fwah?!
— Oof!
Kishirika estava colada ao rosto de Atofe. Ela estava montada no ombro de Zanoba alguns momentos antes.
— Nojenta! Você cheira a merda! Pelo menos tome um banho, sua idiota! — uivou Atofe.
— Com licença, não é como se eu quise… hyaaaah!
Atofe não deixou Kishirika terminar. Ela arrancou a imperador demônio fedida de seu rosto e a jogou para longe. Kishirika caiu fora do nosso raio de combate.
— Repugnante. O que você estava pensando, jogando algo assim no… quê?!
Enquanto Atofe gritava de exasperação, Zanoba cerrou o punho e investiu contra ela. Elinalise estava logo atrás dele, escondendo-se em sua sombra.
Merda.
Eu podia ver no que isso ia dar.
— Então você passou pelas minhas defesas. Gosto do seu espírito!
— Haaaaah! — Zanoba deu um soco. A força por trás era o suficiente para deixar meu cabelo em pé. Seu soco cortou o ar quando atingiu o rosto dela. Atofe tentou desviar o golpe com sua manopla…
— Gah?!
Mas falhou. O punho dele bateu em sua manopla, fazendo-a tropeçar enquanto sua armadura se deformava com a força do golpe.
— Haaah!
Zanoba continuou com outro golpe. Ele deu um grande passo e deu um soco em direção ao torso dela.
— Fraco! — resmungou Atofe.
Seus ataques não eram suficientes para forçá-la para trás. Mesmo com a postura estranha em que se encontrava, ainda conseguia balançar sua espada enorme. Um estalo alto ecoou quando suas pernas se dobraram e ela direcionou sua arma com toda a força para o torso de Zanoba.
— Guh… uuurgh! — O rosto dele se contorceu de dor quando caiu sobre um joelho. Mesmo meu Canhão de Pedra não era suficiente para fazê-lo cair, mas com um único ataque, ela o forçou ao chão.
Atofe olhou para ele e bufou.
— Você tem um corpo impressionante, mas não se esqueça: não existe defesa perfeita. Meu marido, Kal, foi quem… gah!
— Hah!
No meio de seu discurso, Elinalise apareceu por trás de Zanoba, usando suas costas como ponto de partida. Seu ataque, apoiado pela força centrífuga, cortou o ar quando ela acertou o pescoço de Atofe. Sua lâmina foi desviada com um estrondo alto. Nenhuma pele faria esse som. Atofe devia estar usando Aura de Batalha para se proteger.
— Eu ainda não terminei!
Assim que Elinalise percebeu que não funcionaria, recuou. Ela preparou seu escudo enquanto redobrava seus esforços, empurrando com sua arma. Ondas de choque invisíveis surgiram na direção de Atofe.
— Hmph!
Ela nem se mexeu, só franziu as sobrancelhas em desgosto, como se um pouco de areia tivesse entrado em seu olho.
— Sua espada é muito fraca! Olha, é assim que se faz! — Atofe balançou os quadris e direcionou sua enorme espada para Elinalise. A elfa deu um passo para trás na tentativa de se esquivar, mas…
— Khh?!
Ela ergueu seu escudo no último segundo. Logo em seguida, um som profundo ecoou e Elinalise saiu girando pelo ar. Ela rolou pelo chão coberto de pedras e se levantou igual um gato. O medo brilhou em seus olhos. Seu ataque foi ineficaz.
Atofe havia criado ondas de choque apenas balançando sua espada. Se Elinalise não tivesse bloqueado com seu escudo, poderia ter sido cortada ao meio.
— Seu trabalho com os pés é impressionante, admito — disse Atofe. — Se você treinar comigo, pode…
— Graaaaaah! — Zanoba saltou, abrindo os braços enquanto investia contra Atofe. — Aaaah! — Ele passou os braços ao redor dela, pela frente, prendendo-a, então a ergueu até que seus pés não tocassem mais o chão.
— Hmph, seu desgraçado, você não tem vergonha? Colocando seus braços em volta de mim como… guh!
Seus braços eram como uma prensa apertando-a. Sangue negro jorrou da boca de Atofe. Aparentemente, esse tipo de ataque era eficaz! Bem, ela ainda era uma rei demônio imortal. Qualquer dano que sofresse seria temporário.
— Mestre, agora!
— …!
Suas palavras me trouxeram de volta à realidade. Ele conteve Atofe. Essa era a nossa chance.
— Cliff, vai! Corre! — Derramei toda a minha mana em meu cajado. Usaria um ataque total na área e nocautearia todos os soldados inimigos.
— Certo!
Quando Cliff começou a correr, os cavaleiros próximos ficaram alertas e prepararam suas espadas. Para o azar deles, já era tarde demais.
— Nova Congelante!
Um vento gelado saiu do meu cajado. O solo estalou ao congelar e dedos de gelo dispararam em direção dos cavaleiros que nos cercavam.
— Ah!
— Guh?!
Meu feitiço prendeu seus pés no lugar. Nossa vitória estava assegurada. Eu os peguei desprevenidos; não tiveram oportunidade de fugir do meu ataque.
Ou assim pensei. Uma voz soou:
— Chamas violentas consumam meu corpo. Queima Local!
Uma onda de calor se espalhou de um homem, envolvendo os outros. Esse calor começou a combater minha Nova Congelante. O homem que lançou o feitiço tinha vapor saindo de seus braços enquanto descongelava o gelo.
Então era o Moore…
O velho capitão cavaleiro havia começado seu cântico no momento em que levantei meu cajado, permitindo-lhe contra-atacar meu feitiço poucos segundos depois. Fiquei chocado com a quantidade de poder mágico que ele possuía, e também com a rapidez com que terminou seu encantamento. Porém, sua magia só conseguiu libertar ele e os dois guardas mais próximos. Os outros estavam completamente envoltos em gelo. Ainda havia uma grande diferença entre nosso poder mágico, e neste ponto eu era vencedor.
E também matei pela primeira vez.
— Estou impressionado com a quantidade de poder mágico que você possui, sendo capaz de congelar todos nós. Todos, recitem o encantamento para Queima Local!
— Como desejar! Espírito do Fogo que preside sobre todas as coisas entre o céu e a terra…
Enquanto Moore gritava, os outros começaram a entoar o feitiço de dentro do gelo em que estavam presos.
Não estão mortos. Ninguém morreu.
Devia ser a armadura. Talvez tivesse dado a eles uma resistência natural à magia de água.
Bem, que merda.
— Grrr… — Atofe rosnou quando Cliff passou por ela. — Moore, não o deixe escapar!
— Entendido!
Ao comando de Atofe, Moore entrou em ação. Poucos segundos depois, os outros dois cavaleiros mais próximos a ele conseguiram descongelar e correr atrás dele.
— Como se eu fosse deixar vocês passarem! — Elinalise disparou na frente dos dois. — Rudeus! Você cuida dele!
Moore perseguiu Cliff sem nem olhar para trás. Ele se movia bem rápido para um homem de armadura. Enquanto isso, Cliff estava carregando um peso enorme. Havia apenas cerca de sete passos entre eles.
Virei meu cajado na direção de Moore.
— Canhão de Pedra!
Moore usará a Parede de Terra para tentar bloquear meu Canhão de Pedra.
Sem problemas. Eu ainda poderia fazer isso. Derramei toda a mana que pude em meu cajado e lancei meu feitiço.
— Parede de… gah!
Enquanto Moore continuava correndo, ele apontou a mão em minha direção enquanto tentava recitar seu encantamento, mas meu Canhão de Pedra atingiu seu braço igual uma espécie de laser. Sua apêndice, junto com a armadura que o cobria, girou pelo ar. A perda daquele membro o fez tropeçar, mas ele não desistiu de sua perseguição.
— Conceda-me o teu poder, Espíritos da Água! Névoa Profunda! — Moore recitou outro feitiço, criando uma névoa que o envolveu. Pelo visto, pretendia usar isso como uma cortina de fumaça para evitar meu Canhão de Pedra.
Ainda assim, ele pode lançar esses encantamentos muito rápido. Ele aprendeu a reduzir seus cantos consideravelmente, assim como Roxy.
— Rajada de Vento!
A rajada que desencadeei dispersou a névoa, mas Moore não se intimidou. Ele não deu sinais de perder o foco enquanto perseguia Cliff. Talvez aquela armadura negra dele também fornecesse resistência contra feitiços de vento.
E então? Havia apenas uma curta distância o separando de Cliff. Minhas escolhas estavam se estreitando nessas circunstâncias.
Enquanto pensava em ideias, meu Olho da Previsão me disse o que aconteceria logo depois.
Moore vai começar a entoar um feitiço enquanto continua correndo atrás de Cliff.
— Espíritos das terras estéreis, atendam ao meu chamado e entreguem-me…
— Atrapalhar Magia! — Pratiquei isso com Sylphie inúmeras vezes. A magia foi direto para Moore e interrompeu o feitiço que estava tentando lançar.
— Impossível! Atrapalhar Magia?! — Surpreso, Moore olhou para as mãos. Mesmo assim, continuou correndo. Estava a apenas cinco passos de Cliff.
— Atoleiro!
Logo depois lancei outro feitiço contra ele, usando minha mão esquerda para bloquear seu caminho. Usar a magia que estava mais acostumado a utilizar era uma boa escolha. Meu oponente podia ser um veterano, mas as habilidades de batalha que eu havia adquirido ao longo dos anos ainda funcionavam contra ele. Além disso, passei por simulações como essa quando estava praticando.
— Grrr!
O terreno entre Cliff e Moore ficou parecendo um pântano. A lama tinha consistência de cola, grudando nos pés de Moore. Isso parecia que iria detê-lo…
— Deus desconhecido, atenda ao meu chamado e levante a terra em direção aos céus! Lança de Terra! — Moore lançou um feitiço em seus pés. Um bloco de terra se ergueu e ele o usou como ponto de partida para voar sobre meu Atoleiro.
— Khh!
Ele não parava. Apenas continuava correndo. Tudo o que eu jogava nele, ele rebatia ou resistia.
Então, essas são as habilidades de um mago veterano…
— Rudeus, ajude Cliff! Rápido! — gritou Elinalise atrás de mim.
— Eu sei! — Lancei a ela um breve olhar. Ela estava travando uma batalha com os soldados que antes estavam ao lado de Moore. Eram dois contra um. Ela não era o alvo, mas estava fazendo o seu melhor para mantê-los ocupados.
— Liberte-me, droga! Agora mesmo! Você não tem vergonha? Pare de se agarrar a mim! Vamos pelo menos trocar socos! — rugiu Atofe.
Zanoba respondeu:
— Mesmo se você me matar, não vou te deixar ir!
Atofe já tinha dado uma cabeçada nele. Ele manteve um forte controle sobre ela, mesmo enquanto o sangue escorria de sua testa.
Enquanto isso, os outros cavaleiros estavam se descongelando lentamente. O vapor estava preenchendo a área.
— Khh…
Como eu poderia fazer Moore parar de segui-lo? Ele era forte e tinha muito mais experiência em lutar com magia. Feitiços normais não funcionam contra ele. Devo lançar algo mais poderoso?
Não. Mesmo se um feitiço poderoso parasse Moore, seria inútil se Cliff fosse pego pela explosão. Além disso, Moore era insanamente bom em responder a tudo o que eu jogava nele, e ele também tinha aquela armadura idiota…
— …!
Foi quando percebi que o chão embaixo de mim estava molhado, resultado da Nova Congelante que usei momentos atrás. Os soldados usaram Queima Local para derreter o gelo que eu fiz, e agora o solo estava encharcado. Moore não era exceção, tendo sido o primeiro a descongelar-se. Claro, Elinalise e eu também tínhamos água aos pés.
Se Atofe nunca viu aquele tipo de magia antes, então certamente Moore também não. Não importa o quão experiente ele fosse, não seria capaz de se opor a um feitiço que nunca tinha visto. Embora se eu o usasse, todos nós, Elinalise, Zanoba e eu, inclusive, seríamos atingidos por ele. Apenas Cliff permaneceria ileso, pois estava fora do alcance do meu feitiço. Ele ficaria bem.
Fiz minha escolha naquele momento. Sem hesitação.
— Eletricidade!
Derramei mana suficiente no feitiço para atordoar todos sem matá-los.
Eletricidade disparou da minha mão. Estalou no ar enquanto envolvia a área antes de atingir o solo. Conduzido através da água, todos ao redor foram atingidos.
— Gyaaaah!
— Aaaah!
— Oooooh…
Fumaça subia dos cavaleiros de armadura negra enquanto desmaiavam. Todos foram pegos pelo choque, incluindo Elinalise, Zanoba, Atofe, os outros soldados, Moore e eu.
— Ugh! Gahh!
Passou direto pelo meu corpo, atingindo minha espinha e minhas articulações. Cada parte de mim parecia dobrar na direção errada. Eu não tinha usado mana suficiente para matar, então sabia que sairia dessa com vida. Mas isso não impediu que a escuridão engolisse minha visão enquanto eu perdia a consciência.
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Quando acordei, estava jogado no chão. Lembrei de ter desmaiado, mas não durou mais que dois segundos. Meu corpo inteiro estava paralisado. Pelo menos consegui recuperar a visão.
O que aconteceu com Cliff?
Levantei minha cabeça.
Moore estava de joelhos, fumaça subia das rachaduras de sua armadura. Ele tinha uma mão estendida na direção de Cliff, e eu podia ouvi-lo murmurar o que achei ser um encantamento.
Preciso usar o Atrapalhar Magia… Não, não vou conseguir a tempo.
Concentrei mana em meu braço esquerdo. Mesmo que a minha mão direita estivesse dormente com o choque, minha mão protética ainda podia se mover. Soltei meus dedos e lancei um feitiço de minha palma.
— Amarração de Vento — grunhiu Moore.
— Braço, absorva!
O chicote de ar que Moore conjurou desapareceu na hora.
— O quê?! — A cabeça de Moore virou em minha direção. Não consegui ver sua expressão através do capacete, mas sua surpresa era nítida.
Cliff nunca olhou para trás. Ele estava a apenas três passos do círculo mágico. Ninguém poderia pegá-lo. Graças à minha magia, eles não podiam nem mesmo tentar, se quisessem.
Meu feitiço também paralisou Atofe. Seus olhos estavam bem abertos, olhando para mim igual um tigre.
— Desgraçado, você realmente nos pegou. Essa foi uma magia estranha.
Permaneci em silêncio.
— Ainda assim, eu devia ter esperado por isso. Mal posso esperar para você ser meu subordinado. Kehehe. Tenho desejado um mago como você. Vou te tratar muito bem, prometo. Kehehe… — Ela sorriu loucamente para mim.
Eu a encarei de volta, sem hesitar.
Sendo uma demônio imortal, eu tinha certeza que ela se recuperaria mais rápido do que eu. Não haveria mais fuga. Não conseguiríamos resistir a ela. Zanoba estava inconsciente. Mesmo que ele ainda estivesse com os braços em volta de Atofe, parecia preste a ceder a qualquer momento. Dada sua baixa tolerância à dor, provavelmente ficaria inconsciente por um tempo.
Este… era o fim.
— …
Olhei para Elinalise. Seu corpo inteiro tremia enquanto tentava se levantar. Ela provavelmente tinha sofrido a mesma quantidade de dano que eu, mas não ia deixar que isso a impedisse. Ela ainda não tinha desistido.
Depois de desistir, está tudo acabado. O treinador de cabelos brancos[1] de Slam Dunk também disse isso.
Com um pouco de esforço, eu poderia fazer o mesmo.
Vai, vamos lá. Vamos pra casa. Quero voltar. Eu tenho que voltar.
E quando eu chegasse em casa, hm… talvez tivesse um tempo gostoso com Sylphie. E Roxy também, é claro. Eu também queria abraçar a pequena Lucie. Além disso, prometi ensinar esgrima e magia para Norn, e estava ansioso para comer o arroz de Aisha. Lilia carregava um fardo enorme sobre os ombros, cuidando da minha mãe. Zenith com certeza poderia acabar recuperando a memória. Quando ela a recuperasse, poderíamos visitar o túmulo do Pai juntos.
Sim, isso mesmo. Continuaremos sorrindo juntos, como sempre fizemos.
Minha vida neste mundo era tão insanamente agradável. Eu tinha que protegê-la. Eu precisava.
Certo, eu posso fazer isso. Mova-se, Rudeus. Não me importo se é apenas o seu braço; você pode ao menos usar magia.
E o meu cajado? Para onde foi? Eu precisava dele para usar meus feitiços.
Ah, achei.
No final das contas, eu estava deitado em cima dele.
Desculpe, Aqua Heartia. Tenho certeza de que devo ser pesado.
Enfim, eu poderia fazer isso. Só teria que aguentar até a ajuda chegar. Isso era tudo. Não havia necessidade de vencer.
Por favor, Mestre Cliff. Eu sei que você provavelmente odeia Perugius, mas eu imploro a você, por favor, convença-o. Não me importo se você não puder fazer isso de imediato, mas se puder pelo menos trazer alguma ajuda dentro de um ano, seria incrível.
— Quê? — Elinalise deixou escapar um suspiro estrangulado.
Minha cabeça se ergueu e segui seu olhar. Cliff tinha acabado de chegar à entrada das ruínas subterrâneas, onde encontrou um dos soldados de armadura negra.
— Sem chances.
Um deles esteve o tempo todo lá dentro?
— Ah…
Por que não considerei essa possibilidade? Essa abertura era bastante óbvia. Não importa o quão estúpida Atofe fosse, é claro que ela investigaria as ruínas.
Uma escuridão se espalhou dentro de mim. A emoção que me dominou era uma com a qual eu estava muito familiarizado, desespero. Isso me fez querer gritar e cair de exaustão. Nunca mais veria Sylphie ou Roxy. Em vez disso, teria que treinar com a idiota da rei demônio até o dia em que morresse. Enquanto me resignava ao meu destino, toda a força do meu corpo me deixou.
Naquele momento, uma voz surpresa gritou.
— O quê…?!
Não fui eu. Não foi Elinalise ou Zanoba. Também não foi Moore.
Foi Atofe. Era ela quem ofegava enquanto olhava na direção de Cliff.
— Ah, Lady Atofe… — O cavaleiro de armadura empurrou Cliff que deu passagem manquejando. Algo nele estava… estranho. — O círculo mágico ali leva até Peru…
No instante seguinte, algo se partiu horizontalmente em seu corpo. Ele foi dividido em dois. O indivíduo brilhante que apareceu atrás dele tinha cabelos prateados, pequenas pupilas douradas e roupas brancas cobertas de manchas de sangue.
— Rei Demônio Imortal Atoferatofe, hein? — O homem que apareceu na entrada das ruínas falou fluentemente a Língua Demônio. — Eu nunca teria esperado que você estivesse aqui. Mesmo que eu tenha considerado que algo assim poderia acontecer quando conectei meu círculo de teletransportação a Rikarisu.
Várias pessoas estavam atrás dele. Reconheci dois: Arumanfi, o Brilho, e Sylvaril do Vazio. Eu ainda não sabia os nomes dos outros, mas eram seis no total.
— Seus soldados imundos mancharam minha fortaleza com sangue.
Ah, isso faz sentido. Atofe chegou aqui antes de nós. Ela deve ter encontrado a entrada para as ruínas e ordenou que seus soldados entrassem e vasculhassem. Aqueles que encontraram o círculo de teletransportação, sem dúvidas, entraram para ver o que havia do outro lado. Assim, demônios entraram na fortaleza flutuante de Perugius.
— Peeerugiuuuus! — uivou Atofe.
O próprio Rei Dragão Blindado estava diante de nós.
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No momento em que Atofe avistou Perugius, a atmosfera ao seu redor mudou. A hostilidade que exalava dela era diferente de tudo que tínhamos visto. A maneira como ela mostrava suas presas e seu olhar quase me fizeram pensar se ele assassinou os pais dela ou algo assim.
— Perugius, seu desgraçado!
Mesmo que seu corpo ainda estivesse dormente com o choque, Atofe se levantou e empurrou Zanoba para longe. O corpo dele caiu, completamente mole. Ela o ignorou enquanto mantinha seu olhar travado em Perugius. Suas asas começaram a bater rapidamente enquanto ela concentrava sua força nas pernas e tentava se lançar para frente, mas seus joelhos cederam.
— Hah hah!
Perugius a encarou de volta, os lábios rachados em um sorriso encantado.
— Ah? Esta é uma surpresa bastante agradável, Atoferatofe. Você baixou a guarda de novo? Isso parece ser algo que sua tribo de demônios imortais geralmente faz.
— Então essas pessoas, eram seus subordinados, hein?! Esse seu truque dissimulado… Tudo isso para que pudesse me matar? O que aconteceu com o juramento que você fez a Kal?!
Perugius riu enquanto olhava para ela.
Dominada pela raiva, Atofe gritou com ele. Moore tentou chegar até ela, porém seus pés instáveis impossibilitaram alcançá-la. Os únicos que saíram ilesos do meu feitiço foram Perugius e seus familiares, assim como Cliff.
Ele parecia considerar Atofe como um tigre de olho em sua presa.
— Não entenda mal — disse ele. — Essas pessoas queriam salvar uma amiga, então pediram minha ajuda. Isso é tudo.
— Não se atreva a mentir para mim! Graaaah!
— Vou manter a promessa que fiz a Kal. Ele era meu melhor amigo.
— Vocês dois eram amigos, mas eu ainda odeio sua raça!
Após uma longa pausa, Perugius respondeu:
— Eu também detesto pessoas como você. Você é uma idiota que não dá ouvidos à razão. — Ele ergueu os dois braços, as palmas das mãos abertas.
O rosto de Atofe ficou pálido.
— N-Não, você não iria…
Ele ignorou seus protestos e começou a entoar.
— Este dragão vive apenas para servir. Suas garras são tão longas e afiadas que ele nunca consegue fechar a mão…
Senti como se já tivesse ouvido isso em algum lugar.
— Quando a raiva o consome, ele não consegue fechar o punho. Mesmo que suas garras possam quebrar e suas presas caírem, logo perceberá que emoção consome este dragão fiel quando ele abandona sua devoção!
Perugius pronunciou cada palavra, uma por uma. Ao fazer isso, a mana circundante se agrupou ao seu redor.
— Ó dragão general, tu que foste o terceiro a morrer, cujos olhos eram os mais afiados, cujo corpo estava coberto de escamas brancas, eu, Rei Dragão Blindado Perugius, te invoco.
No momento em que percebi o que estava acontecendo, Atofe estava cercada por dois portões, bloqueando-a do resto de nós. Ambos tinham dragões minuciosamente esculpidos detalhadamente e eram bem ornamentados. Um era prateado, enquanto o outro era dourado. Eles surgiram do chão enquanto Perugius continuava seu encantamento.
— Abra, Portão da Retaguarda do Wyrm. Chame adiante, Portão da Vanguarda do Wyrm.
Como ordenou, eles se abriram. Algo estava derramando do direito e se infiltrou no esquerdo. Não era vento. Era algo que não podia ser visto a olho nu, algo que eu conhecia bem.
Mana. Ele convocou aqueles portões para absorver mana.
Meu próprio poder mágico estava sendo sugado de mim. Não era a mesma experiência que tive com Orsted. A drenagem desta vez estava mais rápida, mais intensa, já que minava minha resistência.
— Não, Lady Atofe, por favor, corra… — Moore, que estava rastejando em nossa direção, desabou completamente.
As pernas de Atofe ainda tremiam violentamente quando ela olhou fixamente para Perugius com um olhar feroz.
— Perugiuuuus!
O corpo dela parecia menor do que antes. Talvez aqueles portões estivessem absorvendo a Aura de Batalha que ela envolveu ao seu redor.
— Você realmente pretende quebrar seu juramento?!
— Não vou quebrá-lo. Porém, esta é uma oportunidade extremamente rara que não posso deixar passar. — Perugius ergueu a mão direita. Estava irradiando uma luz tão brilhante que banhava toda a área. — Ataque do Dragão Blindado, Primeiro Corte.
Quando abaixou a mão. Toda a luz penetrou direto em Atofe.
— Não vou me esquecer disso, Perugiuuuus! — Seu corpo inteiro congelou no lugar. O tempo pareceu parar por um segundo, e então ela foi arremessada no ar. Seu corpo se partiu ao meio quando ela saiu de vista.
— Hmph. Não é como se isso fosse te matar mesmo — murmurou Perugius para si mesmo. Tendo perdido o interesse, ele se virou para sair. — Sylvaril, reúna os quatro e cuide de seus ferimentos.
— E os outros soldados?
— Deixe eles.
— Vejo que a Grande Imperador Demônio do Mundo Demônio, Kishirika, também está entre eles.
No canto da minha visão, Kishirika estava caída no chão. No momento em que Sylvaril a mencionou, ela estremeceu. Aparentemente, também foi atingida pelo meu ataque elétrico.
Sinto muito por isso.
— Deixe-a também.
— À suas ordens.
Aparentemente, ele iria ignorar Kishirika. Ainda bem.
— Uff. — Quando Sylvaril e os outros se aproximaram, soltei um suspiro de alívio.
Estamos salvos.
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Depois disso, os familiares de Perugius nos ajudaram a voltar para o círculo de teletransportação. Todos tínhamos que usar seus ombros para nos apoiar enquanto caminhávamos, exceto Cliff, é claro. Ele falou com Kishirika enquanto os familiares cuidavam de nós. No momento em que olhei na direção deles, Kishirika estava gargalhando para si mesma enquanto desaparecia no horizonte, livre novamente. Na próxima vez que a víssemos, esperava que tivéssemos mais facilidade para encontrá-la… mas isso não era muito importante no momento.
Depois que todos nós estávamos de volta à fortaleza, Sylvaril cortou a conexão entre o círculo deles e o próximo a Rikarisu. Não havia mais um caminho de volta ao Continente Demônio.
Fomos encaminhados à enfermaria para tratamento de eletrocussão. Cliff cuidou de nós. Ele até mesmo se ofereceu.
— Nunca vi queimaduras como essas antes — murmurou enquanto usava sua magia para nos curar. Embora nossas feridas não apresentassem risco de vida, as queimaduras haviam penetrado fundo o suficiente para danificar permanentemente os nossos corpos caso não recebêssemos tratamento. Eu me senti culpado por ferir Elinalise e Zanoba tão gravemente, mas se não tivesse feito aquele ataque, não teríamos incapacitado aquela rei demônio imortal.
Cliff foi muito cuidadoso ao cuidar das feridas de Elinalise. Ele provavelmente estava preocupado com cicatrizes residuais. Da sua parte, Elinalise achou a preocupação dele tão cativante que, assim que ele terminou de tratá-la, ela o carregou para algum lugar.
Zanoba permaneceu inconsciente, mesmo depois de ser curado. Ele realmente salvou minha pele. Nenhuma quantidade de gratidão poderia retribuir totalmente por isso. Por mais inestimável que fosse a amizade, eu tinha que agradecê-lo por tudo o que fez. Eu teria a certeza de transmitir meu agradecimento quando ele acordasse.
Assim que fiquei totalmente curado e pude me mover novamente, fui ver Sylphie. Ela estava deitada na cama, lendo um livro, mas quando entrei, ela olhou para cima e inclinou a cabeça.
— Algum problema?
Sem resposta, eu silenciosamente deitei na cama e passei meus braços em volta dela. Ela soltou um grito de surpresa, que me apunhalou no coração. Parecia rejeição. Embora magoado, eu ainda a abracei com força.
A risada de Atofe ainda pairava em meus ouvidos, assim como o desespero que senti quando meu corpo inteiro ficou tão dormente que eu não conseguia me mover. Eu sabia que não morreria naquela luta. Atofe estava se segurando, e mesmo seus cavaleiros não tinham ido até nós com todo o seu poder. A magia que Moore usou não era perigosa o suficiente para matar, mas isso não a tornava menos assustadora. Se Perugius não tivesse chegado bem na hora, Atofe teria nos capturado e nos feito assinar aquele contrato. Eu nunca teria a chance de segurar Sylphie em meus braços assim novamente. Nem ver Lucie enquanto ela crescia. Ou Roxy, ou Norn, ou Aisha, nenhuma delas.
Só esse pensamento já me abalou profundamente. O suficiente para que todo o meu corpo tremesse de medo. Não havia nada mais precioso do que o calor que eu tinha em meus braços neste momento.
De repente, uma mão acariciou meu cabelo. Sylphie estava acariciando minha cabeça, passando seus dedos macios, delicados e quentes pelo meu cabelo. Ela felizmente retribuiu meu abraço. Nem mesmo pediu uma explicação; simplesmente me abraçou de volta. Era o suficiente para mim. Com meus braços em volta dela, adormeci, aliviado.
[1] Rudeus se refere a um personagem de mangá, Mitsuyoshi Anzai, o técnico do time de basquete da Escola Secundária Shohoku e um dos melhores técnicos do Japão.
Tradução: Rlc
Revisão: Guilherme
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