Vários dias após a cerimônia de formatura, voltei ao trabalho.
Havia um grande círculo mágico espalhado diante dos meus olhos. À primeira vista, quase parecia que estava impresso em uma placa de pedra.
A “placa”, no entanto, era na verdade composta por mais de cem folhas de papel superdimensionado empilhadas umas sobre as outras. Cada página foi coberta com outra parte do design geral. Uma moldura de madeira mantinha tudo bem fixo no lugar. Também havia círculos mágicos esculpidos em sua superfície.
Não era exagero chamar essa coisa de instrumento mágico completo. Obviamente, sua criação demorou bastante. Eu ajudei quando pude, mas na maior parte foi trabalho exclusivamente da Nanahoshi.
— Então tá bom. Por favor, comece.
Nanahoshi estava agachada na minha frente, olhando para sua criação. Cliff e Zanoba a flanqueavam de cada lado.
Eles têm nos ajudando com essa pesquisa há algum tempo, então eu pedi que observassem sempre que estivéssemos à beira de um grande avanço.
Nanahoshi não gostou da ideia, mas acabou cedendo quando argumentei que eles ganharam o direito de estar presentes.
Claro, a presença deles não era realmente uma recompensa. Eles estavam ali no caso de o experimento falhar e Nanahoshi começar a se debater novamente. Eu queria alguém ali para contê-la… e me ajudar a consolá-la depois, por falar nisso.
Ter alguém de um gênero diferente para confortá-la era muito eficaz. Pode não ser uma regra universal, mas era verdade na minha experiência, pelo menos. Poderíamos levá-la a uma boa taverna e dar-lhe muita atenção. Pagar um champanhe caro, esse tipo de coisa. Nós três não fazíamos exatamente o perfil de atendentes de um host club, mas é a intenção que conta, certo?
Dito isso, eu estava me sentindo confiante sobre isso.
Cliff deu aos esboços do projeto seu selo de aprovação. E graças à Prótese Zaliff, Zanoba estava se tornando cada vez melhor na execução desse tipo de trabalho de detalhe. Não vi nenhuma razão para fracassar.
É tudo ou nada…
— Estou começando a alimentar com mana… agora.
Coloquei minha mão na borda do círculo mágico de várias camadas.
— …
Assim que coloquei um pouco de mana nele, senti que a coisa começou a sugar cada vez mais de mim.
Não foi nenhuma surpresa real, mas essa coisa era seriamente ávida por poder. Eu não tinha certeza se outra pessoa além de mim poderia satisfazê-la.
Mas isso fazia sentido. Sylphie uma vez me disse que ativar um único círculo mágico consome tanta mana quanto lançar um feitiço avançado. Essa coisa era composta por mais de uma centena desses círculos.
Graças à ajuda de Cliff, conseguimos tornar nosso design significativamente mais eficiente, então não estava tão sedento quanto poderia ser…, mas ainda estava devorando pelo menos vinte vezes mais mana do que um círculo mágico normal.
— Certamente leva um tempo — murmurou Cliff. — Talvez possamos encontrar uma maneira de acelerar o…
— Shh! — sibilou Nanahoshi.
Minha mana pulsava continuamente no “tablete”, como o sangue bombeado de um coração. E conforme eu o alimentava mais, ele começou a emitir um brilho perceptível.
Nada parecia estranho. A mana estava fluindo suavemente em nossa criação. Lentamente, os círculos brilhantes e intrincados começaram a mudar de cor. Amarelo, laranja, azul, branco… o padrão era distinto. E familiar.
Eu tinha visto flashes de luz exatamente como estes antes do Incidente de Deslocamento.
Droga, devo parar? Essa coisa pode nos teletransportar para o meio do nada.
E se for um efeito de grande escala? Sylphie e Norn estão no campus hoje, não estão? Espere, pode até levar a cidade inteira… e Lucie junto com ela…
Por outro lado, não parecia que algo muito dramático estivesse para acontecer. E os círculos mágicos que criamos não eram capazes de produzir tais efeitos, de qualquer maneira.
Tínhamos feito nosso dever de casa. Eu tinha certeza de que não erramos tanto assim. Simplesmente não era possível.
Tudo ia ficar bem. Isso iria funcionar!
— …!
A luz ficou cada vez mais forte… e então desmoronou em um único ponto.
Naquele momento, ouvi um pequeno baque.
Minha mana parou abruptamente de fluir para o círculo mágico e ele também parou de brilhar.
— …
Havia algo verde bem no centro do círculo. Algo verde, preto e redondo – do tamanho de um globo, mas de aparência muito mais suculenta.
Era uma melancia.
— Parece que funcionou.
— Siiiiim!!!
Nanahoshi levantou-se em um salto e cerrou os punhos em triunfo.
— Parabéns, Mestre Rudeus!
— Muito bem, Nanahoshi!
Zanoba e Cliff aplaudiram. Eles pareciam quase tão jubilosos quanto ela.
— Devo dizer, entretanto…
Zanoba se aproximou da melancia com curiosidade e deu algumas cutucadas.
— Este padrão verde e preto me parece bastante ameaçador. Seria seguro para mim segurar essa coisa? Não vai morder, vai?
— Você vai ficar bem, Zanoba. Só não deixe cair, por favor. Elas quebram mais facilmente do que você imagina.
— Tudo bem… Oh! É bastante pesado, pelo que vejo.
Pegando a melancia, ele começou a estudá-la de muitos ângulos diferentes.
Pessoalmente, não vi nada de “sinistro” nisso. Talvez verde e preto simplesmente não fossem uma combinação de cores apetitosa para os nativos deste mundo. Seria vermelho brilhante por dentro, mas isso pode parecer assustadora à sua maneira.
Pensando nisso, no entanto… este mundo tinha muitos vegetais de cores e formatos estranhos por si só. Poderia encontrar uma variedade de cabaças em qualquer mercado. Não me surpreenderia se houvesse melancias em algum lugar por aí.
— Ei, Nanahoshi, acabei de pensar…
— Sim?
— Eu sei que já é um pouco tarde, mas não deveríamos ter convocado algo como um melão Yubari em vez disso? Tiveram que produzir essas coisas seletivamente, então definitivamente não existem neste mundo.
— Diga-me uma coisa, Rudeus… Você poderia realmente dizer a diferença entre um melão normal e um especial?
Certo, ela tinha um ponto. Eu diferenciaria um melão Prince de um melão almiscarado, mas essa era a extensão da minha experiência.
— De toda forma, ainda não podemos ser tão seletivos — continuou Nanahoshi com uma ligeira carranca. — Na verdade, eu estava tentando invocar um repolho desta vez.
Este mundo tinha um vegetal folhoso muito semelhante ao repolho. Me pergunto se poderíamos ter diferenciado um repolho invocado daquele que já tem aqui. Eu não era um fazendeiro nem nada, nem Nanahoshi. Talvez o conceito de invocar um vegetal fosse falho desde o início.
— …
Nah, está tudo bem. Fizemos um experimento com base em um desenho teórico e obtivemos o resultado que esperávamos. Essa coisa é uma melancia autêntica. Não podemos provar exatamente de onde veio, mas está aqui porque nós a invocamos. Uma melancia é uma melancia, certo? Estou disposto a considerar isso um sucesso.
— Hrm. Bem, dado que o experimento foi bem-sucedido, acho que devemos comemorar esta noite.
Zanoba já parecia ter perdido o interesse na melancia. Nenhuma surpresa nisso, uma vez que não era uma estatueta.
— Sim, parece bom.
Badigadi, Linia e Pursena não estavam mais por perto. Nossas festas tinham ficado um pouco menos animadas com a ausência deles. No entanto, não podia deixar que isso nos impedisse de nos divertir.
Naquela noite, realizamos uma pequena celebração agradável. Perdemos Linia e Pursena desde a última vez, mas desta vez Roxy e Norn se juntaram a nós. Em termos de números líquidos, faltava apenas um Rei Demônio de seis braços.
Não era exatamente a mesma coisa, é claro. Havia menos pessoas gritando alto e mais membros da minha família. Não que isso fosse realmente um problema.
Nanahoshi estava bebendo aos montes. Em pouco tempo, ela começou a apertar Julie em seus braços como uma boneca, enquanto conversava com Elinalise sobre uma coisa ou outra. Pela primeira vez, sua expressão estava alegre e falava alto.
Isso era definitivamente incomum. O modo padrão de comunicação da garota era um murmúrio taciturno, afinal. O sucesso da experiência do dia a deixou de muito bom humor.
Elinalise a ouviu tagarelar com um sorriso benevolente no rosto. Zanoba e Cliff iniciaram uma conversa separada com Roxy. A julgar por suas expressões sérias, provavelmente era sobre suas pesquisas. Afinal, aqueles três eram viciados em trabalho.
— Aqui está, Rudy.
— Ah. Obrigado.
Sylphie tinha parado ao meu lado e enchia meu copo toda vez que ele baixava de volume.
— Você não vai beber esta noite, Sylphie?
— Bem, eu fico um pouco boba quando estou bêbada, sabe? Eu estava pensando em me abster.
— Ah… Saquei.
— E esta noite não vamos ficar fora. Quero ter certeza de que posso colocar Lucie na cama.
— Sim, entendo perfeitamente.
Mas isso era uma pena. Sylphie fica muito fofa quando bebe. Ela se torna incrivelmente afetuosa quando suas inibições diminuíam. Por outro lado, toda a coisa de “ser responsável” era atraente à sua maneira. Eu tinha uma boa esposa em minhas mãos.
Nós dois começamos a nos envolver em algumas demonstrações públicas moderadas de afeto. E depois de um tempo, Roxy resolveu se juntar a nós.
— Você se importaria de me deixar participar também, Rudy?
— De quê?
— Puxe a cadeira um pouco para trás, por favor.
Quando eu fiz isso, ela pulou direto no meu colo. De repente, eu tinha a nuca de Roxy bem diante dos meus olhos e sua bunda pressionando minhas coxas. Que esplêndido! Que benção!
Parecia um pouco… além dos limites, no entanto.
— Você está bêbada, Roxy? — perguntou Sylphie com um pequeno sorriso entretido.
— Só um pouco.
Com um olhar mais atento, vi o rosto de Roxy um pouco corado. Isso era estranho. Como regra geral, ela não bebia muito álcool. Hmm… esta é a minha chance de vê-la perder o autocontrole?
— Uff…
Roxy se recostou para descansar no meu peito. Eu podia sentir o peso de seu corpo, e ouvir as batidas de seu coração.
Ah, uau. Poderia ver totalmente por baixo de seu manto se puxasse um pouco…
Certo, realmente quero isso. Devo ir em frente? Espere, talvez deva esperar até que ela fique ainda mais bêbada.
— Ah, isso parece bom… Hmm. Rudy, deixe-me tentar mais tarde, tá?
— Claro, Sylphie.
Na verdade, eu estava mais do que disposto a deixá-las no meu colo ao mesmo tempo. Vamos ver… eu poderia dar meu joelho esquerdo para Roxy e meu direito para Sylphie. Esses foram os lados que elas tomaram na cama na outra noite, pelo que me lembro.
Foi tão bom quando coloquei meus braços em volta das duas ao mesmo tempo. Me fez sentir como se estivesse me afogando em felicidade.
— Rudeus…?
Hmm. Norn parecia estar me encarando do outro lado da mesa.
Certo, certo. Não deveria tê-la negligenciado assim. Ela não conhecia muito bem a maioria das pessoas neste grupo. Nenhum deles era estranho para ela, mas manter uma conversa provavelmente seria difícil. A garota estava sentada em silêncio na minha frente há algum tempo.
— Desculpe, Norn. Isso é muito estranho para você?
— Não, estou bem. Mas há algo que gostaria de discutir com você. Se não se importar.
— Certo. O que é?
Coloquei Roxy na cadeira vazia ao meu lado e voltei minha atenção para minha irmãzinha.
— Bem… é sobre o Conselho Estudantil.
— Ah, certo. Estava me perguntando sobre isso.
No dia da cerimônia de formatura, Norn estava sentada na última cadeira da seção do Conselho. E quando nossos olhos se encontraram, desviou o olhar desconfortavelmente.
— A Senhorita Ariel me convidou para entrar. Ela sabe que minhas notas não são particularmente boas, mas acha que tenho “carisma natural”, suponho.
— Não brinca… Você sabia sobre isso, Sylphie?
— Sim, ouvi alguma coisa — disse Sylphie com um pequeno aceno de cabeça.
Também olhei para Roxy, mas ela evitou meu olhar. Aparentemente, eu era o único que ainda não tinha ouvido falar disso.
— Desculpe por isso. Norn disse que queria te contar pessoalmente, então mantivemos isso para nós mesmas.
— Ah, certo.
Não era grande coisa, mas Sylphie parecia genuinamente arrependida. Talvez parte do motivo pelo qual ela permaneceu sóbria foi para ajudar Norn com essa conversa.
Com a expressão um pouco incerta, Norn continuou de onde havia parado:
— Hm, Rudeus? Estaria tudo bem se eu oficialmente ingressasse no Conselho Estudantil?
Por reflexo, quis dizer “Claro”, mas me contive no último segundo. No momento, Norn tinha dois grandes projetos em suas mãos: nosso treinamento com a espada e seu trabalho naquele livro.
Este último não era uma prioridade urgente. Era o tipo de coisa que ela poderia trabalhar uma vez por semana ou algo assim, e eu não me importaria se ela decidisse apenas colocá-lo em espera por alguns anos, mas seu treinamento era algo que precisava manter todos os dias.
Precisava, no mínimo, fazer suas tarefas escolares e praticar com a espada diariamente. Se adicionássemos as atividades do Conselho Estudantil a essa lista, ela seria capaz de acompanhar os afazeres?
Norn não era uma má aluna, de forma alguma, mas também não era particularmente talentosa. Eu não tinha certeza se ela se sairia bem com três ou quatro responsabilidades distintas.
— Diga-me uma coisa, Norn.
— Sim?
— Você acha que consegue fazer todas essas coisas diferentes de uma só vez?
Ela mordeu o lábio e ficou em silêncio. Provavelmente era algo com que estava se preocupando.
— Não me oponho a você se juntar ao Conselho Estudantil ou algo assim. Só estou me perguntando se você será capaz de dar atenção suficiente a isso.
— Vou ficar bem.
— Tudo bem, mas você tem sua prática de espada e seu livro para trabalhar também, certo? E essas eram as duas coisas que você queria fazer. Quer dizer, o livro era originalmente meu trabalho, então não é tão importante… mas e quanto ao seu treinamento? Suas aulas também ficarão mais difíceis no terceiro ano.
— Vou acompanhar minhas aulas. E meu treinamento. Eu prometo.
Bem, ela estava decidida, pelo menos. Mas eu sabia, por experiência própria, que era difícil se concentrar em muitas coisas ao mesmo tempo. Quando alguém tenta fazer duas tarefas simultaneamente, uma delas inevitavelmente acaba sendo negligenciada.
Nesse ponto, Sylphie interveio, parecendo um pouco preocupada.
— Hm, Rudy… Norn tem lidado com as coisas muito bem até agora.
Isso foi definitivamente bom de ouvir, mas o que aconteceria se ela continuasse assim por meses? E se a pressão fosse demais?
— Há quanto tempo ela tem ajudado no Conselho?
— Já faz… mais de um ano, na verdade. Acho que começou enquanto você estava viajando.
— Espera, sério? Huh. Isso é muito tempo… — Isso significa que ela começou isso antes mesmo de começarmos nosso treinamento de espada juntos.
— Vai ficar tudo bem, Rudy. Vou garantir isso. Norn ficará bem como membro do Conselho Estudantil e não negligenciará nenhuma de suas outras responsabilidades.
Fiquei surpreso com a firmeza do tom de Sylphie. Mas, bem, ela tinha uma boa justificativa para sua confiança. Norn já estava conseguindo fazer tudo isso de uma vez. Não vi nenhuma razão para continuar bancando o advogado do diabo.
— Bem, uau… Claro, parece que você tem trabalhado muito, Norn.
Fiquei muito feliz em saber que ela estava lá, tentando o seu melhor, mesmo quando eu não estava por perto para ficar de olho nela. Havia esse… sentimento em meu peito que eu não conseguia encontrar palavras para descrever. Quente e confuso, talvez?
— Então tudo bem. Não tenho certeza se você realmente precisava da minha permissão em primeiro lugar, mas, ainda assim, você conseguiu. Boa sorte com o Conselho Estudantil, Norn.
— Obrigada, Rudeus! — disse Norn alegremente. — Eu realmente aprecio isso!
No final, como isso acabaria dependia apenas dela. Ainda assim, os adultos em sua vida tinham a responsabilidade de apoiá-la e incentivá-la. Eu estava mais do que disposto a torcer por ela.
Assim que nossa conversa chegou ao fim, Nanahoshi ergueu a voz do outro lado da mesa:
— Vamos cortar a melancia!
Começamos a dividir a melancia que havíamos convocado e servimos uma grande fatia para cada um dos presentes. Era um pouco menos doce e suculenta do que as que me lembrava da minha vida anterior. Provavelmente uma daqueles da Califórnia.
Deixando o sabor de lado, descobrimos algo interessante no processo de divisão: era uma variedade sem sementes.
As técnicas agrícolas neste mundo não eram sofisticadas o suficiente para produzir algo assim. Em outras palavras, o experimento foi um sucesso, sem sombra de dúvida.
A festa havia chegado ao clímax… ou talvez passado dele, na verdade.
Nanahoshi estava cantando. Norn estava dançando. Zanoba estava tagarelando com Julie sobre estatuetas. Sylphie estava cuidando de Roxy, que ficou muito bêbada. E Cliff estava flertando com Elinalise em um canto.
Todos estavam se sentindo um pouco cansados, mas era do tipo agradável que se chega perto do fim de uma noitada divertida. Eu estava recostado na cadeira e sorrindo bêbado para os outros.
— Ei, Rudeus…
Nanahoshi se aproximou de mim, depois de terminar sua música. Ela começou a me dizer algo, mas logo começou a tossir.
A garota não parecia quente o suficiente. Provavelmente porque bebeu muito enquanto sentia um forte resfriado.
— Quer que eu te desintoxique?
— Sim, por favor…
Depois que lancei alguns feitiços de Desintoxicação e Cura nela, Nanahoshi ficou com suas bochechas um pouco coradas de novo. Parecendo um pouco aliviada, ela soltou um pequeno suspiro.
— De qualquer forma, queria te agradecer novamente. Agora podemos finalmente passar para a próxima fase.
— Sim, acho que sim.
Nanahoshi e eu começamos com este projeto por uns bons três anos atrás, pensando bem. Mas parecia que foi ontem.
Em comparação com a fase um, avançamos pelas fases dois e três com relativa facilidade.
Em parte, porque Zanoba e Cliff estavam ajudando. Mesmo assim, as coisas estavam indo muito melhor do que eu esperava no início.
— A fase quatro era… convocar uma coisa viva que atende a critérios específicos, certo?
— Correto. Conheço alguém que tem muito conhecimento sobre essa parte, então estou planejando pedir orientação a ele.
Ah, certo. Tinha que ser aquela “autoridade” em magia de Invocação que ela menciona de vez em quando…
— Não é o Orsted, é?
— Não, não é. Ele também pode usar magia de invocação, mas é outra pessoa totalmente diferente.
Isso era um alívio.
Mas descobri que Orsted poderia usar magia de invocação. Havia algo que aquele cara não pudesse fazer?
Ah, certo. O Deus-Homem disse que era capaz de usar todas as técnicas conhecidas no mundo, não disse…?
Ainda assim, presumivelmente havia uma diferença entre ser “capaz” de usar um feitiço e ser um especialista em todo o campo da magia. Para inventar coisas novas, é necessário um conjunto diferente de habilidades.
— Por falar nisso, tenho uma proposta para você.
— Oh? Qual seria?
— Bem… eu ainda não te dei uma recompensa por ajudar com o experimento da tampa de garrafa, certo?
— Sim, acho que não.
Na verdade, tinha me esquecido de pedir algo a ela. Estava muito ocupado cuidando de Lucie naquela época.
Acho que as pessoas ficam um pouco menos gananciosas quando estão se sentindo satisfeitas com a vida.
— Estava pensando que poderia apresentá-lo ao homem de quem estou falando, como uma recompensa combinada para ambas as fases.
— Oh. Hmm…
— Eu sei que você quer aprender um tipo diferente de magia de Invocação. Para ser honesta, acho que é melhor aprender diretamente com alguém como ele.
Bem, sim. Eu não precisava aprender a convocar coisas de outro mundo, que era o foco da pesquisa de Nanahoshi.
Pode ser conveniente às vezes, é claro. Não me importaria de convocar uma mamadeira ou um carrinho para minha filha, mas coisas assim eram mais um luxo do que algo de que eu realmente precisava. Estou satisfeito com a minha vida do jeito que ela está.
Tinha algum interesse em aprender mais feitiços de Invocação convencionais, eu não conseguia me imaginar precisando deles com frequência, então era principalmente uma questão de curiosidade pessoal.
Eu também estava interessado em descobrir o porquê do Incidente de Deslocamento ter ocorrido, mas, bem, não senti uma necessidade urgente de encontrar essas respostas.
— Mas isso contaria como duas recompensas? Esse cara é tão incrível no que faz?
— Definitivamente. Ele pode até ser capaz de consertar a memória de sua mãe, por falar nisso.
— Espere, o quê? — Reflexivamente me inclinei para frente na minha cadeira naquele momento.
Norn também se aproximou. Ela devia ter ouvido.
— Isso é verdade, Nanahoshi? — perguntei.
— Não posso dizer com certeza, mas o homem está vivo há muito tempo. Há uma boa chance de que ele saiba algo útil.
Eu sentia que a condição de Zenith estava melhorando constantemente, mas era muito difícil dizer se todas suas memórias voltariam.
Eu não queria ter esperanças de uma solução rápida. Ainda assim, havia uma chance desse homem nos dar um nome para sua condição ou descrever alguns casos semelhantes. Em combinação com meu conhecimento da minha vida anterior, poderia nos apontar para algumas novas possibilidades.
Não é como se eu tivesse aprendido muito sobre esse tipo de coisa no meu antigo mundo, mas ainda havia uma chance de me lembrar de algo útil.
— Ah, vocês estão discutindo sobre o mestre da Lady Nanahoshi?
— Eu adoraria conhecer o homem pessoalmente, se você estiver aberta à ideia…
Em algum momento, Cliff e Zanoba também se aproximaram para ouvir nossa conversa.
Elinalise também estava parada atrás de Cliff. No entanto, ela estava ocupada brincando com as orelhas dele. Eu não tinha certeza de qual era o apelo, mas ela parecia estar se divertindo.
— Bem… vocês dois também ajudaram, então acho que está tudo bem.
Nanahoshi parecia um pouco confusa com esse desenrolar. Eu me lembrei de que ela não se sentia muito confortável nem mesmo de dizer o nome do homem, então fazia sentido.
— Ah, também estou meio interessada — disse Sylphie, inclinando-se para participar.
Roxy não a seguiu, mas apenas porque estava deitada em algumas cadeiras e roncando.
Norn estava sentada ao lado dela, um pouco longe do resto de nós, mas estava olhando em nossa direção. Era difícil dizer se ela estava interessada nisso ou não.
Se todos decidissem se juntar, seria um grupo de sete, incluindo Nanahoshi.
— Está tudo bem para nós aparecer com um grande grupo, Nanahoshi? Não seremos um incômodo?
— Eu não me preocuparia com isso — respondeu ela em um tom de voz resignado. — O velho disse que pode acomodar até doze convidados a qualquer momento. Não deve ser um problema que todos visitem juntos.
No mínimo, parecia que Cliff e Zanoba estavam dentro. Nanahoshi estava obviamente disposta, mas eu ainda não tinha tanta certeza sobre a ideia.
— Mas não vai demorar algum tempo para ir ver esse cara?
De quantos meses de viagem estávamos falando? Talvez pudéssemos economizar algum tempo na jornada com aqueles antigos círculos de teletransporte… mas até chegar ao mais próximo exigia cinco dias na estrada.
No mínimo, era uma viagem de ida e volta de dez dias, e provavelmente havia mais viagens esperando do outro lado, então tive que presumir que seria mais ou menos um mês. Eu não queria deixar Lucie sozinha por tanto tempo.
— Não muito. Não vai demorar mais do que um único dia de viagem, na verdade.
— Uau, ele está bem perto, hein? Você aparece lá às vezes ou o quê?
Então era uma viagem de ida e volta de dois dias. Poderíamos ficar alguns dias e ainda estar de volta em uma semana. Considerando o quão curta a viagem era, talvez pudéssemos até levar Lucie junto.
— Ele não está na vizinhança, e eu não o vejo há algum tempo, mas há uma maneira de chegarmos até ele.
Interessante. Ela se comunicava com ele usando um item mágico ou algo assim? Eu nunca tinha visto o equivalente mágico de um telefone, mas dado que existiam teletransportadores, provavelmente havia algum método de comunicação de longa distância também.
Tive a sensação de que enviar mensagens levaria um bom tempo, mas talvez tivessem elaborado algum tipo de sistema de sinalização básica com antecedência – algo como um sinalizador mágico.
— Então tudo bem. A propósito, qual é o nome do homem, afinal?
Nanahoshi franziu a testa e olhou ao redor da taverna. Havia muitos outros clientes no local, então ela sinalizou para que levássemos nossas cabeças para perto. Todos nós nos reunimos em um pequeno círculo e nos inclinamos curiosamente para ouvir.
— Gostaria que todos guardassem segredo, por favor. Tudo bem?
Nanahoshi esperou até que todos nós assentíssemos e então continuou bem baixinho:
— É Perugius. O Rei Dragão Blindado.
Ela falou o nome de um herói lendário – um dos três Matadores de Deuses, e o homem que guiou a humanidade à vitória na Guerra de Laplace, quatrocentos anos atrás.
Tradução: Nero
Revisão: Guilherme
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