Roxy estava do mesmo jeito que eu me lembrava. Ela parecia e se comportava da mesma forma, mesmo que ficar presa no labirinto durante um mês a tivesse enfraquecido consideravelmente. Suas bochechas estavam magras e havia olheiras. Suas tranças estavam soltas e todo o seu corpo estava coberto de sujeira, fazendo-a parecer uma mendiga. Apesar de tudo isso, ela não tinha perdido seu espírito.
Depois de ver sua condição, Geese mandou que nos retirássemos. Uma decisão prudente. Talhand carregou Roxy nas costas e fomos para a superfície. Eu, é claro, sugeri carregar Sua Santidade, mas não passaríamos pelo segundo andar sem minhas habilidades ofensivas, então tive que desistir da ideia. Debati internamente se era aceitável deixar um bruto tão rude carregar Roxy, mas ninguém mais protestou, Roxy incluído.
— Sinto muito, senhor Talhand, por causar tantos problemas, — disse ela.
— Não se preocupe. Eu também preciso ajudar às vezes.
— Eu não estou fedendo, não é? Acho que estava muito ruim para o Rudy vomitar daquele jeito.
— Ha ha! — O anão gargalhou. — Se eu não aguentasse, não poderia me chamar de aventureiro!
Eu escutei enquanto caminhávamos. Os dois viajaram juntos por muito tempo, me disseram. A julgar pela maneira como conversam, poderia dizer que eles confiavam profundamente um no outro. Uma pontada de ciúme começou dentro de mim. Estimulado por aquele ciúme, falei.
— Professora, você sabe que não foi por causa do seu cheiro que vomitei.— Roxy olhou para mim antes de rapidamente desviar os olhos.
— E-então por que você vomitou? — perguntou.
— Eu estava entre a felicidade por finalmente ver você de novo e o desespero por você não ter se lembrado de mim, assim meu estômago deu um nó.
— Não é como se eu tivesse esquecido de você. Simplesmente não conseguia fazer a conexão entre o adorável Rudy de muito tempo atrás e o você de agora, — murmurou em resposta antes de ficar em silêncio.
Foi uma conversa curta, mas estar ouvindo sua voz pela primeira vez em muito tempo me encheu de tanta alegria que eu poderia ter voado direto para o céu.
Nosso grupo alegrou-se com o retorno da Roxy, provavelmente porque esta era a primeira notícia feliz que eles tiveram desde que começaram a procura no labirinto. Certo, nós só tínhamos preenchido o buraco que eles próprios cavaram, mas eu não ia dizer isso. Independentemente das circunstâncias, esta era uma ocasião feliz.
Lilia imediatamente persuadiu Roxy a ir para o banho. Esperando que pudesse haver algo que conseguisse fazer por ela enquanto isso, eu pairava fora de seu quarto, mas então Vierra me enxotou. Ela disse que era rude aproximar-se do quarto de uma garota enquanto ela tomava banho. Claro, eu não tinha segundas intenções. Só queria fazer o que pudesse por ela.
Quero dizer. Sério.
Tá bom, sim, eu fiz algo assim anteriormente. Mas desta vez era completamente inocente!
Pensei em defender meu caso, mas decidi desistir. Isso foi ótimo. Afinal, era eu. Se eu de repente olhasse para o meu lado e visse suas roupas ali, não havia garantia de que minha mão não escorregaria e pegaria o pequeno tecido branco. Não poderia dar oportunidade ao meu lado pervertido. Agora, meus sentimentos ainda eram inocentes. Então, realmente, foi bom.
Íamos descansar alguns dias para dar a Roxy tempo para recuperar as forças. Ela era uma aventureira. Não teve ferimentos graves, ainda era forte o suficiente para andar sem ajuda e jurou que com comida boa e uma cama macia para dormir profundamente, ela voltaria ao normal em pouco tempo. Tudo parecia estar indo bem.
Mas eu não conseguia superar o fato de que eu estraguei tudo e me comportei vergonhosamente na frente dela. Esperava que ela não estivesse desiludida comigo. O vômito foi desrespeitoso, mas eu fiquei tão chocado. Nunca parei de pensar nela durante todo o tempo em que estivemos separados. E pensar que ela pôde ter se esquecido de mim… foi esmagador.
Pensando bem, Sylphie disse que também ficou chocada quando agi como se estivéssemos nos encontrando pela primeira vez. Fiquei pensando se ela se sentia da mesma forma naquela época. Eu teria que me desculpar com ela quando voltasse para casa.
Roxy dormiu um dia inteiro. Realmente não poderia culpá-la por isso, já que ela passou um mês em um labirinto infestado de monstros. Eu queria ser o primeiro a lhe dar bom dia quando acordasse, então fiquei parado na frente de sua porta, mas Lilia me enxotou. Olhei para trás e pude ver seu rosto enquanto dormia pacificamente. Decidi deixar por isso mesmo, esperando que ela se recuperasse logo.
No segundo dia, Roxy pulou da cama. Foi bem na hora do almoço. Ela andou até nossa mesa enquanto comíamos, movendo-se tão rígida quanto um robô.
— Bom dia, Professora.
— Sim. Bom dia, Rudy, quero dizer, Senhor Rudeus.
Éramos quatro, incluindo eu à mesa. Os outros eram Elinalise, Paul e Talhand. Geese e os três restantes estavam fazendo compras. Nosso grupo era dividido em dois, os que entravam no labirinto ficava descansando enquanto os que não iam, ficavam esperando e dando recados. Geese fazia parte do grupo do labirinto, mas por algum motivo, ele estava assumindo o comando do outro grupo. Ele com certeza se esforçava. Talvez devesse deixar de ser um aventureiro e se tornar um gerente.
— Pessoal…
Todos os presentes olharam para Roxy.
Humildemente, ela passou o olhar sobre cada um de nós, então baixou a cabeça.
— Desculpe por causar tantos problemas, mas eu realmente estou bem agora.
As reações das pessoas variavam. Houve um que passou um braço em volta do ombro dela e disse:
— Não precisa se preocupar com isso.
Outro que acenou com a cabeça e disse:
— Sem problemas.
Outro que tomou um gole de álcool antes de empurrar uma garrafa em sua direção. E, finalmente, havia eu, que estava dominado pela emoção quando ela voltou.
— Bem, se você quiser agradecer a alguém, agradeça a Rudy. Se ele não tivesse começado a balbuciar: ‘Pai, posso sentir Deus por perto’, e corresse, esmurrando as paredes, não teríamos encontrado você.
Paul me fez soar como um completo maluco quando disse isso, mas de alguma forma eu sabia exatamente onde Roxy estava enquanto caminhávamos pelo terceiro andar. Também tive a sensação de que ela estava em apuros. Sabendo que a situação exigia rapidez, fui direto para o som de sua voz, sem me importar com o perigo dos túneis desabarem. Sempre que eu batia em uma parede, eu a quebrava sem hesitação.
Não tinha ideia de como sabia que ela estava em apuros. Apenas sabia. Era meu vínculo com Roxy, aproximando-nos; eu tinha certeza disso. Havia uma pequena chance de que o Deus-Homem tivesse intervindo, mas desconsideraria isso. Havia apenas um deus em que acreditava.
Espera, isso significa que Deus me guiou até lá? Nesse caso, não havia nada de estranho nisso!
Como eu estava preocupado com esses pensamentos, Roxy se virou para mim e baixou a cabeça novamente.
— Hmm, senhor Rudeus, o que quero dizer é, uh… obrigada.
Por que eu senti que Roxy estava sendo fria e distante? Não, conhecia essa sensação. Descobri sobre isso na escola.
Era meu nome. A maneira como ela chamou meu nome. Ela estava me chamando de “senhor”, como se eu fosse uma espécie de estranho.
— Não se preocupe com isso, — disse. — Eu só fiz o que qualquer um faria. Mais importante, por favor, apenas me chame de Rudy.
Roxy olhou para baixo e murmurou:
— M-mas não soa que estou sendo excessivamente íntimo se eu te chamar assim?
— O quê? Mas somos íntimos. Se vou ter minha professora me chamando de ‘Senhor Rudeus’, então posso muito bem fazer meu pai também me chamar assim.
— Ei, por que diabos eu faria isso?
Eu ignorei o protesto de Paul. — Gostaria que você me chamasse de ‘Rudy’, tão afetuosamente quanto fazia antes. Não importa quantos anos se passem… Sempre vou reverenciá-la, Roxy Migurdia, como minha professora.
Roxy piscou várias vezes. Por algum motivo, suas bochechas estavam vermelhas. Ela estava com febre ou algo assim? De repente, ela deu um tapa no rosto. — Sim. Você está certo… Rudy.
— Pronto, perfeito.
Ela deu um sorriso autodepreciativo enquanto olhava para mim. Suas bochechas ainda estavam um pouco rosadas. — Fora isso, você realmente cresceu.
— Eu sou um humano, afinal, — eu a lembrei. — Mas você não parece ter mudado.
— Sim, pequena como sempre.
— Eu não acho que você seja tão pequena quanto pensa que é.
— Sério?
Isso estava trazendo de volta tantas memórias. Se fechasse os olhos, poderia me lembrar de todas: o primeiro dia em que ela me ensinou magia, o dia em que obtive meu objeto de adoração, o dia em que ela me ensinou magia de nível Santo, o dia em que nos despedimos e os dias que trocamos cartas. Cada memória era preciosa para mim.
— De qualquer forma, foi uma magia espetacular, — disse Roxy. — Parece que você continuou muito bem seu treinamento na minha ausência. Aquilo era magia da água de nível Imperador?
—Qual feitiço você está se referindo? — Perguntei, mesmo que eu tivesse certeza de que não tinha usado nada de nível Imperador.
— A magia que você usou quando me salvou. Aquele poder, velocidade e o alcance. Foi uma magia incrível. Magia do nível Imperador da qual ouvi falar, Zero Absoluto, né?
Não. Foi uma simples Nova Congelante. Estávamos atravessando o segundo andar quando Talhand me contou sobre a magia que Roxy estava usando e como era eficaz. Só imitei.
Mas agora Roxy tinha uma expressão no rosto que parecia dizer: …? Estou certa, não estou? Hesitei se iria corrigi-la ou não. Ela era uma especialista em magia de água. Podia ficar envergonhada ao descobrir que interpretou mal meu feitiço. Talvez uma mentirinha seria bom?
Eu seria exposto imediatamente. Talvez a opção mais sábia fosse dizer sim e depois contar a verdade, em segredo. Mas e se eu fizesse isso e ela reagisse negativamente? Meu Canhão de Pedra aparentemente tinha o mesmo nível de poder de um feitiço de nível Imperador, mas era magia de um nível muito inferior.
Hmm, como devo responder?
— Nah, era uma Nova Congelante. Só tinha mais poder do que aquele que você usa. — Enquanto eu hesitava, Talhand aproveitou a oportunidade para responder em meu lugar. Que injusto. É melhor eu continuar ou…
— Ah sim, então é isso. Me desculpe.
— Honestamente, Roxy, você não mudou nada. Embora eu concorde com você, não me pareceria nem um pouco estranho que Rudeus usasse magia de nível Imperador. — Elinalise entrou sem demora para apoiar Roxy. — Afinal, ele é considerado o mago mais poderoso da Universidade de Magia.
Embora esse último comentário fosse desnecessário.
Todos olharam para mim. Tá, essa era minha chance!
— Tudo graças à orientação da minha professora, — disse com confiança.
Roxy semicerrou os olhos com suspeita.
— Rudy, eu continuo ouvindo você afirmando isso, mas honestamente acha que isso é verdade?
— Claro que sim.
Os ensinamentos de Roxy eram minha base. “Saia e converse com as pessoas”, “Tente se dar bem com os outros sem preconceitos” e “Sempre dê o seu melhor”. Essas palavras se enraizaram dentro de mim. Graças a eles que pude estabelecer a relação que tinha com Ruijerd, por exemplo.
Claro, houve momentos em que eu não conseguia viver de acordo com esses ensinamentos, mas isso é outros 500. Os humanos não eram capazes de atingir todo o seu potencial sempre. O que importava não era se você sempre vivia de acordo com seus ideais, mas se fazia deles a chave de como você via o mundo.
— Você melhorou por conta própria. Sem o meu ensino. — Roxy deu um sorriso autodepreciativo. — Você se tornou um homem incrível. O completo oposto de uma desajeitada como eu, que ficou presa em um labirinto.
Ela caiu para frente na mesa com um baque. Eu pude ver o ponto em seu couro cabeludo, o redemoinho do seu cabelo, que era meio fofo.
— A mestre é incrível, e o aluno também. O que poderia ser melhor? — Disse Paul.
Bem colocado. Era exatamente isso. Eu não era particularmente especial, mas Roxy era uma pessoa incrível. E daí se ela perdesse para o aluno em algumas categorias? Isso não era um indicador de seu valor como pessoa.
— Se você não estivesse conosco, não estaríamos aqui. Tenha um pouco de confiança. — As palavras de Paul pareceram animar Roxy. Ela se sentou e acenou com a cabeça.
Geese voltou depois disso e prosseguimos com o nosso encontro. Sentamos com o segundo grupo.
— Eu disse que íamos esperar para observar a condição da Roxy, mas acho que voltaremos lá em três dias, — anunciou Geese.
— Não é um pouco rápido? — Perguntou Paul.
Embora possa não parecer, entrar em um labirinto realmente cansa uma pessoa. Especialmente um como o labirinto de teletransportação, que estava cheio de armadilhas, forçando a observar constantemente onde pisa, mesmo quando estava em uma batalha. Era exaustivo o suficiente para alguém como eu na retaguarda, mas a vanguarda carregava um fardo ainda mais pesado.
— É melhor para Roxy voltar o mais rápido possível.
— Hm? Ah, sim, entendi o que quis dizer. Você tem razão. — Paul acenou com a cabeça, mas eu não conseguia concordar. Não seria difícil para ela ter que entrar novamente no lugar onde ela quase perdeu a vida?
— Não acha que seria melhor um pouco mais de descanso para ela? — Perguntei.
— Hmm? Ah. Você pode não saber disso, chefe, — Geese explicou, — mas quando você quase morre em um labirinto, tem que voltar rápido ou será amaldiçoado e nunca mais poderá entrar.
— Uma maldição? Isso existe? — Perguntei, em dúvida.
— Sim. Não tenho ideia do porquê, mas quando você tenta entrar em um labirinto depois disso, seu coração fica tão cheio de medo que você não consegue fazer nada.
Ah, eu já li sobre algo assim em um mangá uma vez. Tipo ataque de pânico. Também tinha ouvido falar que um tratamento eficaz era repetir imediatamente o que quer que você tenha falhado. Aparentemente, o mesmo acontecia neste mundo.
— Além disso, você é um iniciante, chefe. Indo em um ritmo lento e entrando repetidamente será uma boa experiência para você.
— Entendi. Você tem razão.
Depois dessa conversa, os outros começaram a entrar na discussão também.
— Posso lhe dar algumas dicas sobre como ser um mago curador e ofensivo, — disse Roxy.
— Não devemos repetir o método de Rudy de quebrar paredes. O risco de desmoronamento é muito alto, — disse Paul.
— Se você quiser, posso ir na sua frente, — disse Talhand.
— Estive pensando… Que tal Paul e eu trocarmos de posição? — Elinalise sugeriu.
Geese nos manteve organizados enquanto compartilhamos nossos pensamentos sobre a entrada no labirinto, bem como devemos fazer na próxima vez. Todo mundo parecia mortalmente sério. Pensei que eles poderiam ser um pouco mais tranquilos sobre isso, mas aparentemente não. Mesmo que estejam enfraquecidos, ainda eram um grupo de rank S.
Tive pouca contribuição para dar nesta reunião, exceto responder quando me perguntaram o que eu achava do meu primeiro labirinto. Eles eram profissionais. Eu era um amador. Não importa o quão bom eu fosse com magia, não conseguia esquecer essas duas coisas. Nossa última viagem deu tudo certo, mas isso não significava que esta também daria.
— Por enquanto, vamos nos concentrar em mapear o resto do terceiro piso. Dependendo de como as coisas andem, podemos pelo menos ir fundo o suficiente para encontrar o círculo para o quarto piso, — disse Geese. — O que acham?
— Concordo, — dissemos em uníssono.
Geralmente, uma vez que um grupo descobrisse as escadas para o próximo piso, eles decidiriam se iriam mais fundo ou retornariam temporariamente à superfície. Se optassem pela segunda opção, tomariam um caminho direto para baixo a fim de retomar do ponto em que pararam quando retornassem. O mesmo aconteceu conosco; tínhamos descido direto para o terceiro piso. Se você não fosse rápido, havia a possibilidade do número de armadilhas aumentar. A velocidade era crucial.
— Ah, sim, o livro diz que o quarto piso é completamente diferente do que vimos até agora, — disse Geese. — Algum tipo de ruína ou algo assim.
— Nesse caso, pode haver dois níveis inferiores, — disse Paul.
—Hmm. Bem, vamos deixar de pensar no quarto piso para a próxima vez. Por enquanto, estamos nos concentrando no terceiro piso.
— De boa.
Houve casos de labirintos de longa existência combinando-se com outros, formando um único labirinto com dois centros, dois corações com cristais imbuídos magicamente. Diz-se que esses tipos mudam a estrutura no meio do caminho. O labirinto de teletransportação tinha esse tipo de layout, mas isso não significava necessariamente que tinha dois centros. Era uma possibilidade, nada mais que isso.
Na verdade, de acordo com o livro, o labirinto de teletransportação tinha apenas um cristal mágico. Porém, ainda havia a possibilidade de que tivesse sido originalmente um labirinto comum que mais tarde se fundiu com essas antigas ruínas para tomar sua forma atual. Falando em ruínas, também havia aquelas contendo os círculos de teletransporte que usamos para chegar aqui.
— De que livro você está falando? — Roxy perguntou, desconfiada.
— Rudy trouxe com ele. Tem anotações de um cara que entrou quase até as profundezas do labirinto de teletransportação. Você também deveria ler. — Geese passou o livro em questão para ela.
— Eu não sabia que tal coisa existia. Entendo. Vou repassar isso com cuidado amanhã.
Então Roxy planejou passar amanhã lendo. Nesse caso, eu ficaria na pousada. Gostaria de falar com ela um pouco mais, embora não tivesse certeza do que dizer. Se ela fosse ler o livro, talvez pudéssemos discutir sobre? Ela poderia me fazer perguntas, e eu faria o meu melhor para respondê-las.
Sim, parece bom. Ótimo. Absolutamente perfeito!
— Agora então, sobre a nossa formação, — Geese começou. — Vamos agitar um pouco as coisas. Talhand?
Como eu estava preocupado com meus pensamentos, a conversa mudou para o próximo tópico. Talhand pigarreou. Como ele era o homem que frequentemente ficava na retaguarda, onde observava mais, era o encarregado de decidir a nossa formação.
— Hmph, deixe comigo.
Mas ele cheirava a álcool. Sempre cheirava a álcool. Geese também tomava banho de licor à noite, mas Talhand estava virando canecas ao meio-dia. Pelo menos ficou completamente sóbrio no momento em que começamos a entrar no labirinto. Ele tinha uma capacidade impressionante de ligar e desligar a “opção” de ficar bêbado.
— Vai ser quase o mesmo de antes. — Sobre a mesa havia um papel com duas linhas desenhadas, junto com pequenas pedras de cores diferentes. Talhand colocou a pedra azul primeiro. — Primeiro, como antes, Roxy ficará na retaguarda.
— Entendido. — Roxy acenou com a cabeça.
Em seguida, ele colocou uma pedra cinza ao lado da anterior. — Rudeus atuará como suporte de Roxy. Ela é o tipo que comete um deslize quando algo inesperado acontece, mas Rudeus tem aquele Olho da Previsão. Ele também é bem calmo para sua idade, então talvez possa parar alguma coisa antes que dê errado.
— Beleza.
Ele fez soar como se Roxy não tivesse compostura. Eu queria protestar, mas era verdade que ela escorregou e pisou em uma armadilha de teletransporte. Só estaria criando problemas se falasse algo. Apesar de, se você pensar sobre isso, o Olho da Previsão só poderia prever coisas que eu poderia ver. Isso significava que eu teria uma boa desculpa para manter meus olhos em Roxy o tempo todo que estivermos no labirinto.
Colocado dessa forma, não parecia tão ruim. Eu estava feliz por poder olhar para ela.
— Vamos tentar trocar Elinalise e Paul. Paul, você vai na frente. Elinalise, vá atrás dele, — disse Talhand enquanto movia a pedra vermelha representando Paul para frente e a amarela que representava Elinalise para trás. Eles ainda estavam basicamente lado a lado. Provavelmente apenas uma mudança de funções. Antes, Elinalise era a tanque enquanto Paul era o suporte, mas dessa vez seria o contrário. Paul seria nosso tanque principal e Elinalise daria suporte.
— Geese, você estará onde estava antes. — Ele colocou a pedra marrom bem na frente do resto. Finalmente, ele colocou sua própria pedra no meio. — Duvido que vamos precisar, mas haverá mais monstros no terceiro piso. Vou servir de escudo para os que estão atrás.
EXPLORADOR: Geese
VANGUARDA: Paul, Elinalise
MEIO: Talhand
RETAGUARDA: Rudeus, Roxy
Essa era a nossa nova formação. Excluindo Geese, parecíamos um tabuleiro de mah-jongg de cinco pontos.
— Alguém tem alguma sugestão? — perguntou o anão.
Eu imediatamente levantei minha mão. — Devo interpretar isso como se minha função basicamente não mudasse?
— Sim. Você pode conversar com Roxy sobre os detalhes de como vão trabalhar em equipe.
Ao ouvir isso, olhei para Roxy. Ela retornou meu olhar, parecendo nervosa enquanto engolia em seco.
— Tudo bem então. Estou ansioso para trabalhar com você, professora.
— Eu também. Vou fazer o meu melhor para não te atrapalhar.
Exatamente o oposto. Era mais provável que eu lhe atrapalhasse.
Eu gostaria que ela estivesse mais confiante.
Verdade, eu poderia vencê-la quando se tratava de capacidade de mana e uso de feitiço, mas a força das estatísticas de uma pessoa não era a soma de seu valor. Apenas com a experiência que se ganha verdadeiro poder, e eu senti que Roxy estava à minha frente nesse aspecto. Ela passou um mês inteiro presa e lutando no labirinto. E poucos dias depois de ser resgatada, ela se recuperou o suficiente para voltar como se nada tivesse acontecido.
Se fosse eu, se tivesse de experimentar algo tão horrível, provavelmente juraria a mim mesmo que nunca mais entraria naquele labirinto. Como afirma o provérbio japonês, um homem sábio fica longe do perigo. Você poderia me chamar de franguinho, se quisesse; eu sabia que era um covarde.
— Beleza então. O próximo é o grupo dois, grupo de espera. — Depois disso, Geese prontamente deu suas ordens ao grupo de espera. Entregou a Vierra uma lista de suprimentos para comprar e depois consultou Shierra sobre o estado de Roxy. Ele também a aconselhou a preparar todos os suprimentos médicos que considerasse necessários para o resgate de Zenith. Finalmente, ele confiou a Lilia a supervisão dessas tarefas.
Se Geese era o líder do grupo do labirinto, então Lilia era a líder do grupo de espera. E Paul era o líder geral do nosso grupo. Ele supervisionava todas as decisões finais e acompanhava todas.
— Beleza então, pessoal, vamos nos preparar para três dias a partir de agora. Dispensados. — Por ordem de Paul, a reunião terminou.
No dia seguinte, passei meu tempo vagando pelo primeiro andar da pousada, ficando nas proximidades de Roxy enquanto ela lia. Queria que ela me consultasse se houvesse algo que não entendesse. Eu, especificamente, ninguém mais.
— Hmm, Rudy?
— Sim?! O que é, professora?!
— Você se mexendo assim é uma distração, — ela disse com um sorriso forçado.
— Me desculpe. — Abaixei minha cabeça e decidi ir embora.
Então é isso. Estou distraindo ela. Isso faz sentido. Estou atrapalhando sua leitura.
Não queria causar problemas a ela. Essa não era minha intenção, só queria ajudar. Mas se era uma distração, não poderia ajudá-la. Talvez eu deva ir para outro lugar. Sim, talvez fosse para alguma taverna deserta em algum lugar. Era bom beber sozinho de vez em quando.
É isso que vou fazer.
— Rudy, — uma voz me chamou por trás. — Se você tiver tempo suficiente, há algumas coisas neste livro que não tenho certeza que eu gostaria que você…
— Beleza! — Imediatamente sentei ao lado dela. Acho que bati o recorde de sentar mais rápido. Se eu fosse um cachorro e tivesse um rabo, ele estaria chicoteando no ar como uma hélice agora. — Cadê? Por favor, sinta-se à vontade para me perguntar qualquer coisa.
Ahh, Roxy com certeza era pequena, apesar que eu tivesse certeza que era em parte porque eu tinha crescido muito. Se a colocasse no meu colo, poderia facilmente abraçá-la. Embora tivesse certeza de que ela ficaria chateada comigo se tentasse.
Enquanto eu olhava para ela, Roxy olhou para mim de lado.
— Tem alguma coisa de errado? — Perguntei.
Ela rapidamente mudou seu olhar de volta para o livro. — Não é nada. É esta parte bem aqui…
Nos anos que se passaram, minha altura ultrapassou muito a dela. Talvez tenha se sentido desencorajada por isso. Ela parecia estar constrangida por ser tão baixinha.
Esses foram meus pensamentos enquanto passamos o dia juntos, lendo.
Eu estava contente.
Tradução: Rlc
Revisão: Guilherme
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