Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 10 – Cap. 01 – Apoio

 

 

Vou jurar minha fidelidade a Sylphie, pensei enquanto olhava para a mancha vermelha deixada nos lençóis. Ela tinha me dado algo precioso, e agora era a minha vez. Faria tudo o que ela desejasse de mim. Prometi isso enquanto usava uma faca para cortar a mancha deixada no tecido.

O problema era que Sylphie raramente expressava os seus sentimentos. Eu poderia dizer que ela queria ficar comigo, mas era provável que não dissesse isso de forma explícita. Talvez tivesse algo a ver com ser guarda-costas da Princesa Ariel. Devia falar sobre isso com a Princesa?

Preocupado com esses pensamentos, peguei o pedaço de pano que havia retirado dos lençóis, coloquei em uma caixinha que criei com magia da terra e coloquei dentro do meu altar. Então juntei minhas mãos em oração.

Por fim, voltei a me sentir humano.

 

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O dia em que voltei a me tornar completo também foi o dia da nossa sessão mensal de aulas. Dando passos altos, me separei de Sylphie, que estava andando com as pernas ligeiramente tortas, e dei uma espiada na sala de aula. Dentro estavam Zanoba, Julie, Linia, Pursena e, por fim, Cliff. Nanahoshi, assim como de costume, não estava em lugar nenhum.

— Bom dia, Mestre.

— Bom dia, Grão-Mestre.

Zanoba e Julie me cumprimentaram assim que me viram. E então percebi o quão fofinha era a Julie. Ela já faria sete anos – ainda era só uma criança, mas já era fofa, com seu cabelo laranja e de pontas cacheadas. Afaguei a sua cabeça. Ela me olhou surpresa, mas baixou o olhar na mesma hora e estremeceu.

Parecia ainda ter medo de mim. Não era como se eu fosse devorá-la ou coisa do tipo…

— Bom dia, Zanoba. Julie.

Assim que os cumprimentei, Zanoba inclinou a cabeça com um audível “Hm?” Ele então perguntou:

— Mestre, aconteceu algo bom?

— O quê?

Então ele percebeu. Zanoba sempre demonstrou a sua preocupação por mim, então queria compartilhar as boas novas o quanto antes. Entretanto, embora fosse bom anunciar que minha impotência estava curada, eu estaria ferrado caso alguém me perguntasse como foi que isso aconteceu. Afinal, não poderia revelar a verdadeira identidade de Sylphie.

Me sentei enquanto refletia a respeito do assunto.

— Yo, Chefe. Bom dia, mew.

— Dia. Nom, nom…

Linia e Pursena sentaram-se como de costume, Linia colocando sua perna jovem e tonificada sobre a mesa, e Pursena com seu uniforme tão apertado contra as suas curvas que ameaçava estourar enquanto ela mastigava um pedaço de carne seca. Pensei em quando toquei a generosidade de seus peitos, tirei suas roupas de baixo encharcadas e espiei a terra prometida que ficava por baixo delas. As duas, de repente, pareciam mais bonitas.

— Mew?!

— Porra!

Elas cobriram seus narizes assim que me aproximei. Hein? Isso foi meio que um choque. Era provavelmente por causa daquele cheiro que estavam sempre falando – o cheiro da excitação. Eu estava, depois de longos anos, finalmente de volta aos negócios, então o cheiro devia ser mais intenso do que o normal.

— O que deveríamos fazer? — perguntou Pursena. — Parece que o Chefe não consegue mais se controlar.

— Ele não disse que não servia para mais nada, mew?

— Deve ser o meu charme irresistível. Sou uma garota que desperta os pecados.

— E-então você é a presa dele, Pursena, mew! Pode deixar a nossa aldeia comigo, mew.

— Não, não. Ele talvez esteja atrás de você, Linia.

— M-mas se você se tornar a mulher do Chefe, pode assumir o controle do mundo inteiro, sabe, mew? Você pode conseguir um buffet de carne diário, mew.

— A-acho que então não tenho escolha… Terei que fazer isso para te proteger. — Pursena se preparou após essa bizarra troca de palavras e se aproximou de mim. Ela piscou de forma adorável e apertou os seios, deixando-os mais proeminentes. — Hee hee… Eu quero que você me ame… ai!

Dei um golpe de mão na sua cabeça. O que diabos foi aquele “hee hee”? Ela estava tentando me fazer de idiota?

— Apenas sente-se. Não vou tocar em nenhuma de vocês duas.

Pursena ergueu as mãos de forma protetora sobre a cabeça e, com o rabo metido entre as pernas, sentou-se ao meu lado. Era raro que ela ficasse perto de mim. Linia, por outro lado, rastejou até um assento que ficasse fora do meu alcance. Ela estava sendo surpreendentemente cautelosa. Esse era o completo oposto do seu comportamento usual.

— Rudeus, qual é o problema? Você parece diferente do normal. — Cliff inclinou a cabeça.

Parecia ser verdade o que diziam sobre como o sexo mudava os homens. Embora não tivesse sido a minha primeira vez.

— Diferente de que maneira? — perguntei.

— Parece quase como… se você estivesse transbordando confiança? É assim que está parecendo, não?

Olhei para Zanoba, que acenou em concordância com a cabeça. Confiança, hein? Pensando bem, o Deus Homem disse algo sobre recuperar a minha confiança como homem. Então era disso que ele estava falando? Mas realmente não acho que estou me sentindo mais confiante do que o normal.

— Bem, todos vocês, obrigado por tudo o que fizeram por mim. Não posso entrar em detalhes, mas a minha doença finalmente foi curada.

Minha declaração atraiu alguns “oohs” da multidão. Zanoba balançou a cabeça com um olhar de satisfação, e Cliff me deu um tapinha no ombro. Linia e Pursena trocaram olhares, enquanto Julie apenas inclinou a cabeça, confusa.

— Bem, de qualquer forma, parabéns.

— De fato. Parabéns, Mestre.

— Parabéns.

— Parabéns, mew.

Estavam formando um círculo ao meu redor e, por algum motivo, aplaudindo. É verdade que se tratava de uma ocasião especial, mas ainda assim foi meio contrangedor. Era quase como o último episódio de um certo anime. A ordem em que me parabenizavam talvez fosse a ordem em que iriam morrer.

— Mas se o Chefe está curado, isso significa problemas, mew. Agora, a castidade de todas as alunas está em perigo, mew.

— Não se aproxime muito dele, a menos que queira ficar grávida. — Linia e Pursena estavam fazendo afirmações obscenas.

— Que falta de educação. Eu sou um cavalheiro. — E eu não colocaria as mãos em ninguém além de Sylphie, valeu.

 

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Assim que a aula acabou, fui até a sala dos professores para me inscrever em algumas aulas suplementares. Queria compensar o tempo que tirei para a viagem que fizemos no outro dia. Quando entrei, o ar parecia frio.

O Vice-Diretor Jenius me parou.

— Senhor Rudeus, aconteceu alguma coisa?

Acho que realmente parecia haver algo de diferente em mim. E, para ser sincero, foi um pouco constrangedor.

— Um problema que me preocupava há três anos foi finalmente resolvido. Agora me sinto aliviado, isso é tudo.

— Ah, sério? Fico feliz em saber. — Ele acenou com a cabeça e me revelou um sorriso tenso. — Nesse caso, está pensando em deixar a universidade?

— Hein? — Levantei a minha cabeça.

Pensando nisso, ele tinha razão. Me matriculei com o objetivo principal de curar a minha impotência. Agora que isso estava feito, ir a Begaritt e me reunir com a minha família parecia uma boa ideia. Mas…

Aconteceu muita coisa no ano anterior. Eu tinha me reunido com Zanoba e adotado a Julie. Me tornei amigo de Linia e Pursena, e criei um vínculo até com Cliff. Então havia Nanahoshi, a garota do meu mundo anterior que foi transportada para este. Eu tinha a sensação de que o nosso encontro não era só coincidência. O verdadeiro objetivo do Deus Homem podia até ter sido me enviar ao lugar só para que pudesse me encontrar com ela, com Sylphie sendo só a cereja no topo do bolo.

Claro, Sylphie era o que mais me importava. Enquanto ela estivesse presente, eu também estaria. Um guarda-costas da Princesa estava fadado a enfrentar o perigo e, embora eu não tivesse muito a oferecer, queria protegê-la com tudo o que eu tinha.

A Princesa Ariel estava atualmente no quinto ano. Ela devia ficar até a formatura, mas eu me perguntava o que havia planejado fazer após isso. Se pretendesse retornar ao Reino Asura, seria certo eu fazer companhia? Agora que a minha condição estava curada, senti que deveria entrar em contato com Paul antes de sair correndo por aí. Desde que me matriculei na Universidade estive periodicamente enviando cartas para ele. Eu não tinha como saber se alguma tinha chegado ao destino, mas se ao menos uma delas tivesse, e ele respondesse, eu perderia a sua resposta, caso abandonasse a universidade.

Então, no momento, continuaria esperando. Ficaria nesta cidade no mínimo até receber uma resposta de Paul.

— Não — falei a Jenius. — Não tenho certeza se vou ficar até me formar, mas por enquanto vou continuar estudando.

— Ah, sério? Fico feliz em saber — disse ele com um sorriso tenso. Eu não poderia dizer se o sorriso era de felicidade ou não.

 

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Embora a minha impotência estivesse curada, Nanahoshi nem deu bola para isso. Nós não conversávamos muito, então ela talvez só não prestasse muita atenção em mim.

Mesmo quando conversávamos, eu costumava sentir uma distância geracional entre nós. Certa vez, mencionei o assunto de uma certa garota do ensino médio que punia pessoas em nome da lua. Eu estava convencido de que Nanahoshi reconheceria a referência, mas ela só inclinou a cabeça, como se dissesse: Do que diabos você está falando? As crianças, pelo visto, não conheciam mais a Sailor Moon. E Nanahoshi era aparentemente uma ávida leitora de mangás e light novels. Perguntei se ela conhecia a série em que os personagens ficavam juntando sete esferas do dragão, e ela disse que já tinha ouvido falar disso.

Ela tinha, no nosso mundo anterior, dezessete anos, e eu trinta e quatro. Isso fazia eu ter o dobro da idade dela. Ela também chegou a este mundo dez anos depois de mim, então as nossas idades acumuladas estavam, agora, ainda mais distantes.

Não havia nada que eu pudesse fazer a respeito disso. Realmente havia uma distância geracional. Quanto a não conhecer a Sailor Moon, isso poderia ser algo já determinado, considerando as datas de exibição do programa televisivo. Ainda assim, isso me surpreendeu. Talvez fosse a falta de assuntos em comum que levou a pergunta seguinte a escapar da minha boca.

— Senhorita Nanahoshi, o que você gostaria em uma pessoa se fosse se encontrar com ela?

A mão dela escorregou feio. Ela amassou o papel que estava rabiscando e o sacudiu.

— O que é isso tão de repente? Falando sobre amor?

— Algo assim.

— Caso eu não tenha deixado isso claro, quero voltar para casa o quanto antes. Poderia levar isso a sério? Você fica sempre tagarelando. Se calasse a boca e movesse as suas mãos no lugar dela, faríamos mais avanço.

Apesar do que disse, Nanahoshi não odiava tanto essas besteiras. Ela, na verdade, estava perfeitamente aberta a uma conversinha aqui e outra ali enquanto trabalhávamos, desde que ela fosse mantida em um nível razoável. O fato de ter respondido assim só poderia significar uma coisa.

— Isso significa que você é uma daquelas pessoas? Uma sem experiências românticas?

— Tch! — Ela fez um clique com a língua. — Até eu já me apaixonei. Embora tenhamos brigado e terminado.

Pensando bem, ela não estava no meio de uma briga de amantes quando foi invocada? Eu não tinha certeza se a garota amava apenas um de seus pretendentes, ou se estava estrelando o seu próprio harém reverso, mas, independentemente de pretender se desculpar ou continuar com a briga, ela ainda tinha que ir para casa.

Na verdade, assim que pensei nisso, notei que havia uma grande possibilidade de que aqueles outros dois também tivessem sido transportados para este mundo. Mas eu não tinha ouvido rumores sobre pessoas assim, fora Nanahoshi, então era igualmente possível que nada houvesse acontecido. Então, mais uma vez, a probabilidade de sobrevivência após parar sozinho neste mundo, sem qualquer mana, seria… Não, eu não deveria dizer isso. Nanahoshi talvez já tivesse feito esses cálculos, com base na sorte que teve em chegar tão longe assim… e também devia saber o que aconteceria a alguém que não tivesse tanta sorte.

Seus lábios endureceram e formaram uma carranca enquanto ela murmurava:

— Se a pessoa de quem você gosta ficar ao seu lado, já é o suficiente.

Ela parecia estar passando por um momento difícil. Eu não deveria ter perguntado.

 

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Já era hora do almoço, mas não fui ao refeitório. Eu tinha negócios em um outro lugar – na sala do conselho estudantil, para ser específico. Se fosse ter um relacionamento real com Sylphie, precisava deixar Luke e a Princesa saberem sobre isso. Eles se esforçaram para juntar nós dois, então, de certa forma, já aprovavam o nosso relacionamento. Ainda assim, eu queria deixar as minhas intenções bem claras.

Fui até o último andar do prédio principal, onde havia uma porta um tanto extravagante e entalhada com as palavras Sala do Conselho Estudantil. Eu bati.

— Quem é? — Era a voz de Luke.

— Rudeus Greyrat. Há um certo assunto que eu gostaria de discutir.

Após um breve momento de silêncio, pude ouvir o clamor desorientado de passos. Bem, no final das contas, eu não tinha marcado um horário. O problema talvez fosse esse.

— E-entre!

Ao comando de um Luke meio confuso, abri a porta e entrei.

A Princesa Ariel estava sentada em uma cadeira que parecia cara, seu lindo cabelo loiro estava trançado para trás. Embora ela fosse obviamente linda, seu corpo era normal para a sua idade. Ela tinha a mesma quantidade de músculos que qualquer outra garota, com seios que não eram grandes nem pequenos. Sylphie, com seus óculos escuros, estava em posição de sentido ao lado da Princesa. Sempre que estava trabalhando ela parecia muito digna. E também elegante, quase como uma oficial militar. Aquela chorona tímida não estava em lugar nenhum, nem a doce e ligeiramente infantil garota com a qual eu era acostumado. Ela parecia quase fria, ou talvez legal.

Isso fazia sentido. Se essa era a imagem que queriam que “Fitz” projetasse, então seria melhor que Sylphie ficasse em silêncio.

— É um prazer conhecê-la. Meu nome é Rudeus Greyrat. — Fiz uma reverência de nobres, ajoelhei-me diante dela e abaixei a cabeça. Eu não tinha aprendido a etiqueta adequada para saudar a realeza, mas essa provavelmente servia.

— Este não é o palácio real. Aqui, somos ambos apenas estudantes. Por favor, levante a cabeça.

Levantei a minha cabeça ao seu pedido. Entretanto, eu não queria correr o risco de envergonhar Sylphie, então permaneci ajoelhado. Permanecer humilde perante a chefe da minha parceira parecia ser sensato.

— Então, o que traz alguém com tanto renome por toda a escola como você, Mestre Rudeus, à minha presença no dia de hoje?

 

 

 

Eu podia sentir o meu cérebro formigando enquanto ouvia a sua voz. Ela era agradável. Era isso que as pessoas chamavam de carisma, não era? Ou ela talvez fosse outra Criança Abençoada. Eu poderia facilmente acreditar que existia uma Criança Abençoada cuja voz era como mágica, capaz de hipnotizar o ouvinte.

— Tenho certeza de que a Sylphie… Digo, a Sylphiette, já mencionou. Vim aqui na esperança de discutir mais sobre o assunto com você.

A expressão da Princesa Ariel estava séria. Embora ela tivesse se isolado na universidade, parecia ainda não ter desistido do trono. Devia ser ao menos por isso que estava tomando tantas medidas para estabelecer conexões com pessoas poderosas enquanto passava o seu tempo no local.

— Sylphie curou a minha doença — continuei. — Ouvi dizer que você a ajudou, Vossa Alteza. Portanto, se precisar da minha ajuda, por favor, não hesite em pedir.

Ariel lentamente digeriu essas palavras. Então olhou para Luke, que acenou com a cabeça, antes de dizer:

— Você não estava evitando as lutas pelo poder dos nobres Asuranos?

— É verdade que não tenho vontade alguma de ser pego no meio de disputas políticas. Mas, se alguém de quem gosto está envolvido nisso, as coisas mudam. — Depois de dizer isso, olhei para Sylphie. Suas bochechas coraram. — Não posso ficar parado enquanto ela pode estar em perigo.

— Aha. — Ariel parecia surpresa. Luke também. Eu falei algo estranho?

Luke falou:

— Você não nutre nenhuma predisposição pelos Notos, a família da qual o seu pai fugiu? Ou pelos Boreas, que mandavam em você?

— Acho lamentável que Lorde Sauros tenha sido executado, mas, fora isso, nada.

Algo nesta conversa não parecia certo. Ah, espera! Eles presumiram que eu odiava a família Boreas? Mas não era esse o caso. Eles me trataram muito bem e eu tinha uma enorme dívida de gratidão. Bem, Eris havia me abandonado, mas esse era outro problema.

— Mas… Mestre Luke parece não gostar de mim — acrescentei.

Luke franziu as sobrancelhas.

— Isso é porque você é um idiota cabeça-dura que não percebe como as garotas se sentem.

— Não vou discutir isso. — Afinal, passou um ano inteiro e nem percebi que Sylphie era uma garota. Eu não tinha nada a dizer em defesa da minha cabeça-dura.

— E você é um pedaço de lixo que brinca com os sentimentos das garotas, Luke — ouvi Sylphie murmurar em um sussurro abafado.

Isso foi uma surpresa, e também inesperadamente duro da parte dela. Ou era só que ela agia de forma tímida perto de mim? Luke e Sylphie foram camaradas pelos últimos seis anos, o que significava que ele tinha passado mais tempo com ela do que eu. Podia ser por isso que ela se sentia confortável o suficiente para não pesar as suas palavras perto dele.

Para ser sincero, isso me deixou com um pouco de ciúme. Me perguntei se em algum momento ela teria esse nível de conforto comigo.

— O quê, mesmo que você não tenha nenhum apelo sexual, você vai ficar do lado das garotas? — demandou Luke.

— Eu também tenho apelo sexual. Afinal, o Rudy até me agradeceu. Certo, Rudy? — declarou ela, olhando para mim em busca de ajuda.

Eu não me importava de pular essa parte cômica para o final e dizer “E isso é tudo, pessoal!”, mas achei que seria um pouco estranho fazer isso na frente da Princesa Ariel. Olhei para ela, de repente percebendo que havia migalhas de pão em volta de seus lábios. Ela devia estar comendo quando cheguei.

— Por favor, vocês dois, fiquem quietos — disse a Princesa.

Sylphie e Luke ficaram em silêncio. Tive a sensação de que esse tipo de conversa era comum entre os dois.

— Rudeus Greyrat. Me confortaria muito saber que podemos contar com a sua ajuda.

— Fico feliz em ouvir isso — falei.

— Então. — Princesa Ariel olhou para Sylphie. Então sua expressão turvou-se, como se ela achasse difícil fazer a próxima pergunta. — O que você planeja fazer?

— “Fazer”? O que quer dizer com isso?

— Peço desculpas pela franqueza, mas ouvi sobre o seu objetivo para vir a esta escola. Fiquei surpresa ao saber que você estava aqui em busca de um tratamento médico, mas agora você já alcançou o seu objetivo, não é?

— Alcancei…

Em outras palavras, minha impotência foi curada. Não tenho quaisquer dúvidas a esse respeito. Alcancei o meu objetivo. O que significava que a minha próxima tarefa deveria ser me reunir com Paul. Era a isso que ela se referia, correto?

— Ainda preciso procurar meus parentes desaparecidos — acrescentei. — Portanto, se suas intenções são de partir para o Reino Asura de imediato e reivindicar poder político por lá, não posso ajudar.

— Sim, estou ciente disso. Não me importo se você adiar a ajuda até depois que os seus problemas familiares forem resolvidos.

Eu estava grato por isso, embora significava que no futuro eu deveria a ela. Com um pouco de sorte, quando ela se formasse, eu ao menos teria acertado as coisas com Paul, então restaria apenas encontrar Zenith, que Elinalise me garantiu que não estava em perigo.

— Então, o que planeja fazer?

— Perdão? — Inclinei um pouco a cabeça, sem saber do que ela estava falando. Eu tinha acabado de dizer a ela o que ia fazer, não tinha? Será que de alguma forma voltamos no tempo? Isso era algum tipo de comédia? — Como assim?

— Não me diga que agora que a sua impotência foi curada, vai apenas se despedir da Sylphie e partir ao encontro do seu pai?

— Claro que eu não faria algo assim! Eu vou ficar com ela! — Sem querer acabei levantando a minha voz diante a essa sugestão impensável. Não havia maldita forma alguma de eu me separar da Sylphie. De forma alguma; não eu!

Mas eu entendia porque Ariel estava perguntando isso. Viajar neste mundo exigia tanto tempo que poderia levar meses ou até anos para eu me reencontrar com Paul, e embora eu pudesse voltar antes que a Princesa começasse a levar a sua disputa pelo trono a sério, seria difícil levar Sylphie comigo. Afinal, ela já tinha seu próprio emprego de tempo integral como guarda-costas da Princesa Ariel.

— Pois bem, o que você pretende fazer?

— …

— Você não deixaria a Sylphie se tornar uma mercadoria usada sem assumir qualquer responsabilidade, deixaria?

— Claro que vou assumir a responsabilidade. — Minha resposta foi instantânea. Em parte porque ela provocou isso, em parte porque a minha mente já estava decidida. — Eu vou me casar com ela.

Sylphie levou as mãos à boca diante da minha declaração franca. Luke vacilou, quebrando a sua postura formal enquanto o choque se manifestava em seu rosto. Até Ariel parecia completamente pasma. Eu falei algo de estranho de novo? Talvez pensassem que eu estava indo rápido demais.

— Você vai se casar com a Sylphie?

— Sim.

Isso era rápido, é claro. Só recentemente percebi que o Mestre Fitz era, na verdade, a Sylphie. Parte de mim sentia que deveríamos namorar por vários meses, para primeiro nos conhecermos melhor. Além disso, se nos casássemos, eu não poderia partir de uma hora para outra, mesmo que recebesse uma carta urgente de Paul. Ainda assim, mesmo levando tudo isso em consideração, eu quis dizer o que disse.

Pensei em Eris. Sylphie poderia também me deixar, caso eu começasse a enrolar de novo, no lugar de ser claro e honesto a respeito dos meus sentimentos. Não achei que poderia suportar outro golpe como aquele. Desta vez não deixaria nada ao acaso.

— Casamento. Uma decisão magnífica. — A Princesa Ariel balançou a cabeça, satisfeita, e olhou para Sylphie. — Sylphiette Greyrat.

— Quê?! Hã!? Greyrat… O quê?! — Sylphie ficou confusa.

— Ele disse o que quer fazer, mas e quanto a você?

— S-sim! Eu, Fitz… digo, Sylphie; continuarei a servi-la como sempre fiz, Princesa, e também quero trabalhar duro como a esposa do Rudy… digo, Rudeus!

— Agora que Rudeus disse que a tomará como esposa, não se torna desnecessário me proteger?

— Princesa Ariel, por favor, não diga isso.

— Muito obrigada… — Após um significativo momento de silêncio, Ariel empurrou Sylphie com suavidade.

Sylphiette aproximou-se de mim, coçando a orelha, envergonhada. Que fofa. Isso me fez querer lamber a sua orelha. Por enquanto eu me conteria; afinal, estávamos diante da Princesa Ariel.

— Um, uh, um, R-Rudy, um, fico ansiosa pelo nosso futuro juntos.

— Sim, eu também. — Nos curvamos sem jeito.

Sylphie, por alguns minutos, se mexeu antes de olhar para trás. Ela e a Princesa se encararam. Então, de repente, a Princesa falou:

— Sylphie, já que você será a esposa de Rudeus, não precisa mais se vestir como homem. Volte a se vestir como uma mulher.

Eu interrompi.

— Mas sem o Mestre Fitz como disfarce, ela…

— Em troca, Rudeus, farei uso do seu nome. Não há qualquer pessoa por aqui que não tenha ouvido falar de você, e muitos podem inclusive tirar suas próprias conclusões quando souberem que te entreguei o meu braço direito.

Ela provavelmente queria dizer que, uma vez que Sylphie e eu ficaríamos juntos, as pessoas poderiam pensar que eu estava ligado à Princesa. Então, em vez de fazer uso dos meus poderes mágicos, ela faria uso da minha reputação. O resultado final era quase o mesmo, mas a forma como ela o enquadrou foi interessante.

— Eu também não veria mal em te servir de forma oficial. — Eu teria que, em algum momento, me reunir com Paul, mas isso era outro assunto. Eu não via problemas em ela fazendo uma declaração definitiva a respeito da minha lealdade – se não como um simpatizante da sua causa, mas sim como alguém comunicando com ela por meio de Sylphie.

— Desnecessário. Seu poder é grande demais para conter em minhas mãos.

Não tenho certeza se sou tão forte assim, pensei em dúvida. Ainda assim, ter que segui-la como um garoto de recados seria um saco. Decidi acreditar em sua palavra.

— E, claro, se algo te acontecer, você está livre para mencionar o meu nome, caso necessário. Apesar das minhas circunstâncias atuais, o nome da Segunda Princesa do Reino Asura pode ser útil.

— Agradeço por isso. — Ter mais conhecidos em cargos importantes nunca fazia mal. Não que eu estivesse recebendo isso tudo em troca de nada. Eu tinha poucas dúvidas de que ela hesitaria em pedir a minha ajuda quando estivesse pronta para agir, mas decidi ainda não me preocupar com essa parte.

Sylphie tirou os óculos escuros, baixou a cabeça e disse:

— Princesa Ariel, Luke… agradeço por tudo que fizeram por mim.

Segui o seu exemplo e também me curvei.

E, assim, entrei para o círculo íntimo de Ariel – e virei o noivo de Sylphie.

 


 

Tradução: Pimpolho

Revisão: PcWolf

 

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