Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 09 – Cap. 13 – Capítulo Extra – A Ira do Cão Louco

 

O lugar conhecido apenas como Santuário da Espada ficava no extremo norte, em uma região dura e implacável, coberta de neve durante o ano todo. Era o lugar onde o primeiro Deus da Espada escolheu estabelecer a sua escola, e onde passou seus últimos anos treinando os seus alunos. Nos tempos modernos, era o destino preferido de muitos espadachins, homens e mulheres, e um lugar de onde saíam muitos novos talentos. Qualquer pessoa que realmente desejasse estudar o caminho da espada era encorajada a fazer ao menos uma peregrinação a tal destino.

Um enorme número de jovens mestres em formação se reunia continuamente no local. Muitos deles eram jovens que revelaram os seus talentos com a lâmina ainda na adolescência. No momento, existiam três verdadeiros prodígios hospedados no Santuário da Espada, cujos talentos superavam todos os seus outros iguais.

Em primeiro lugar, estava a filha do atual Deus da Espada – Nina Falion. Ela tinha dezoito anos, mas, mesmo aos dezesseis, era chamada de um talento incomparável. Ela já havia alcançado o rank de Santa da Espada. A maioria das pessoas acreditava que ela com certeza se tornaria uma Rei da Espada antes dos vinte, e aos vinte e cinco, uma Imperador da Espada. Nenhum outro aluno do Santuário era tão estimado.

Em segundo lugar, havia o primo de Nina, Gino Britz. Gino era o segundo filho da família Britz, um ramo do clã Falion, que liderava a Escola do Deus da Espada. No momento, ele tinha quatorze anos. Ganhou seu título de Santo da Espada na tenra idade de doze anos, e se tornou o aluno mais jovem a realizar tal feito. Enquanto ainda estava um passo atrás da sua prima, não havia como dizer qual dos dois acabaria se revelando superior.

E, finalmente, havia Eris Greyrat.

Eris era uma jovem de dezessete anos que causava terror nos corações de todos que encontrava – um cachorro louco conhecido por ferir cruelmente qualquer um que a irritasse. Ela tinha chegado ao lugar há dois anos, acompanhada por sua professora, a Rei da Espada Ghislaine.

Essa garota era, em todos os aspectos, absolutamente inflexível. Ela, todo santo dia, se submetia a uma rotina de treinamento brutal, que desafiava a morte, torturando o próprio corpo sem qualquer piedade. Sua chegada ao Santuário da Espada foi memorável. Isso é tão verdade que continuou sendo um tópico de discussão bem popular, mesmo após anos do acontecido.

 

Aproximadamente Dois Anos Atrás

Quando entraram no Salão Efêmero do Santuário da Espada, indo à audiência com o Deus da Espada, Eris seguiu os passos de Ghislaine. O salão estava cheio de alunos de alto nível do Estilo Deus da Espada, todos Santos da Espada ou até acima. Nina e Gino estavam entre eles. Ignorando todos que a cercavam, Eris não abaixou a cabeça enquanto se aproximava do Deus da Espada – tampouco se ajoelhou.

— Não tenho interesse em um peso leve feito você!

E as primeiras palavras que ela disse a Gall Falion, conhecido por ser o mais forte espadachim vivo, foram impensavelmente rudes.

— O quê?! Como você ousa insultar o mestre!

— De joelhos, garota! Você não conhece os nossos princípios?

— O que você está ensinando a esta desmiolada, Senhorita Ghislaine?!

Os Santos da Espada começaram a se mover, seus rostos contorcidos de tanta raiva. Mas então o Deus da Espada disse “Sentem”, e ficaram todos em silêncio. Gall Falion iria matar aquele vira-lata insolente. Estavam todos acreditando nisso. Ninguém jamais havia falado com ele de forma tão arrogante e partido do lugar com vida. Até mesmo Ghislaine, que era famosa pela sua insolência, estava olhando para Eris com uma expressão de choque. Suas orelhas e cauda estavam eretas.

Mas, por alguma razão, o Deus da Espada estava simplesmente sorrindo.

Só ele entendia o que a pequena besta à sua frente estava procurando neste lugar. Só ele entendia por que ela insultaria um homem que acabara de conhecer. Isso era por que ela estava tentando provocá-lo.

E então, um sorriso apareceu em seu rosto ao falar com ela.

— Aah, eu gosto desse olhar em seus olhos, garota. Diga-me… quem é que você quer matar?

Eris respondeu na mesma hora, decidida:

— O Deus Dragão. O Deus Dragão Orsted!

Todos no salão reconheceram as palavras Deus Dragão. Mas nenhum deles havia, jamais, escutado o nome Orsted – com uma, e não mais do que isso, exceção.

— Haaahahahaha! — Batendo nos joelhos, o Deus da Espada riu sem parar — Bem, cacete. Comparado com Orsted, acho que sou um peso leve mesmo! Você quer matar aquele velho bastardo, hein? E eu aqui pensando que era o único!

Os outros espadachins presentes assistiram ao espetáculo bizarro com a respiração presa. O Deus Espada estava rindo. Ele havia sido insultado, provocado por uma garotinha, e estava rindo. Isso era incompreensível.

Mas o Deus da Espada entendeu algo que eles não entenderam. Esta garota queria matar o Deus Dragão Orsted. Isso significava que queria se tornar no mínimo a pessoa mais forte do mundo.

— Mas, sabe… — De repente, sua risada parou. Por um momento, o silêncio caiu sobre o Salão Efêmero. — Falar é fácil, garota. Você consegue fazer isso?

— Conseguirei — respondeu Eris de uma só vez. Não havia nenhum indício de hesitação ou dúvida em sua voz ou em seus olhos.

Os cantos da boca do Deus da Espada se curvaram para cima.

— Bom. Então vejamos a sua espada. Gino, dance com ela.

— Hein?! S-sim, senhor! — Gino Britz pôs-se de pé ao chamado do tio, com o coração batendo forte. A garota não era muito mais velha do que ele, mas, de alguma forma, fez seu tio rir com as suas piadas insolentes. Ele agora tinha a chance de humilhá-la.

— Esse garoto é meu aluno mais jovem — disse o Deus Espada. — Você é um pouco mais velha do que ele, e ele ainda é um molenga, mas não é nada ruim com uma espada.

Sem dizer qualquer palavra, outros dois Santos da Espada jogaram espadas de madeira para Gino e Eris.

— Muito bem. Começaremos em…

— Raaaaah!

No instante em que pegou a sua espada, Eris golpeou Gino com violência. Pego totalmente desprevenido, ele não teve tempo para se defender. A espada de madeira atingiu seu pulso direito e a espada caiu das suas mãos. Antes que ele pudesse entender qualquer coisa, ou até se render, Eris o derrubou com um segundo golpe. A absoluta violência do seu avanço foi tanta que Gino sentiu que havia sido atacado com uma espada de verdade. Ele perdeu a consciência na mesma hora.

— O qu…?!

A maioria dos presentes no Salão Efêmero ficou chocada demais até mesmo para falar. Isso era um absurdo. Inimaginável. Um duelo só deveria começar quando ambos os combatentes estivessem se encarando bem no centro do salão. Gino não tinha nem olhado na direção de Eris. Os Santos da Espada consideraram seu ataque repentino um ato de covardia sem igual. Nina estava entre eles, é claro. Ficou enraivecida ao ver o seu primo e colega abatido por um ataque tão furtivo e cruel.

Havia quatro presentes, entretanto, que viam a situação de uma forma diferente: um Rei da Espada, dois Imperadores da Espada e o próprio Deus da Espada.

— Ah, sim. Viu o que eu quero dizer? O garoto é um molenga, não é?

— Pois é.

Eris balançou a cabeça com desdém, deixando seu cabelo curto balançar para frente e para trás. Mas seus olhos observavam os movimentos de todos os outros presentes com cuidado. A garota estava pronta e esperando pelo ataque de qualquer um. Estava totalmente ciente do seu entorno, e seu corpo estava tenso, preparado para se mover a qualquer momento.

O Deus da Espada não condenou as suas ações. Simplesmente chamou o seu aluno caído de “molenga”. Se alguém abaixava a guarda enquanto segurava uma espada na mão, não poderia culpar ninguém além de si mesmo pelas consequências. Só um tolo iria desconsiderar a possibilidade de um ataque repentino. Esta era a mensagem não citada.

— Certo. Você é a próxima, Nina. Desta vez, comecem quando estiverem no centro do salão. Não há nada de errado com ataques furtivos, garota, mas eu gostaria de ver como você lida com alguém que já se preparou.

Enquanto o Deus Espada falava, Nina se levantou e um dos Santos da Espada jogou uma espada de madeira para ela. Quando a pegou, olhou de volta para o homem que a havia jogado. A espada era estranhamente pesada. Possuía um cerne de metal.

O Santo da Espada que jogou a arma acenou com a cabeça, quase imperceptivelmente. Mate essa forasteira atrevida.

Tremendo um pouco, Nina acenou de volta.

Ela era uma Santa da Espada de pleno direito. Já tinha tirado outras vidas. Usar uma espada de madeira com o cerne de metal era covardia, talvez, mas a garota foi a primeira a violar as regras locais. Dada a humilhação que Gino acabara de sofrer, ela merecia esse destino.

As duas ficaram algum tempo se encarando no centro do salão e assumiram as suas posições.

— Comecem!

Ao sinal de um Santo da Espada próximo, Nina balançou a sua lâmina. Ela praticou as formas do estilo Deus da Espada por dezenas de milhares de vezes. Sua execução era perfeita. Iria derrubar aquela garota ruiva e atrevida com o mesmo estilo que ela ousou insultar de forma tão descarada. Sua raiva e determinação a tornaram ainda mais rápida do que de costume.

As espadas se encontraram.

Com um estalo seco, a espada de madeira de Eris foi reduzida a pedaços.

A vitória de Nina estava próxima. Tudo o que precisava fazer era acertar um golpe cruel na cabeça da garota enquanto ela ficava estupefata.

Mas assim que começou a se deleitar com a sua vitória, um punho acertou o seu rosto.

E depois foi um soco no queixo. E quando começou a cambalear para trás, levou um chute que a fez voar para o chão. A garota de repente estava em cima dela. Antes mesmo de Nina entender o que estava acontecendo, seus braços foram presos sob as pernas de Eris. Olhando para cima, ela viu um demônio com sede de sangue, cujos braços eram brandidos em sua direção.

— P-pare! Pare! Já chega!

No momento em que os Santos da Espada finalizaram a luta, Nina já havia levado pelo menos uma dúzia de socos na cara. Seu nariz estava sangrando sem parar, vários dos seus dentes tinham quebrado e ela estava completamente inconsciente. Uma poça de um líquido quente espalhou-se no chão, bem na parte inferior do seu corpo.

Eris se levantou sem pressa e pegou a espada de madeira suspeitosamente pesada de Nina.

— Hmph. — Bufando, chutou a sua inimiga inconsciente para onde Gino estava deitado. — Você tem alguém aqui que não seja um molenga?

— Como… Como você ousa! — Desta vez, os Santos da Espada perderam a paciência. Gritos de “Covarde!” chegaram de todo o salão. Aqueles classificados como Rei da Espada e acima, entretanto, friamente desprezaram seus alunos furiosos. Eles compreenderam quem é que estava correto. Eris estava, mais uma vez, justificada. Um verdadeiro duelo não termina quando uma espada é quebrada. Termina quando o espadachim está quebrado.

— Desculpe garota. Acho que te subestimei um pouco. Vou eu mesmo brincar com você.

Mas quando o próprio Deus da Espada se levantou, os dois Imperadores da Espada no salão olharam para ele com surpresa em seus rostos.

— Com certeza não há necessidade de você lidar com isso pessoalmente, Mestre.

— Ghislaine poderia… Ah, mas suponho que a garota seja sua aluna. Então eu deveria?

Ignorando essas palavras, o Deus da Espada pegou a sua arma. Sua lâmina era real.

Ao ver isso, Eris deu um pontapé no chão, pulando para trás, para onde, havia deixado a sua própria espada. Ela agarrou a parceira que a acompanhou por toda a viagem e rapidamente a tirou de sua bainha.

— Não fique muito nervosa, garota. Vou te dar uma vantagem… Ah, ei. Bela espada essa que você tem aí. Não é de Julian?

— Eu não sei. Ganhei de um membro da tribo Migurd.

— Ah, certo. Bem… esta aqui também é de Julian, na verdade.

O Deus da Espada deliberadamente desembainhou a sua arma. Sua lâmina brilhou com uma luz dourada misteriosa. Esta era uma das Sete Lâminas do Deus da Espada. Era também uma das 48 espadas mágicas criada por Julian Harisco, um artesão lendário do Reino Demônio, feita com ossos do Rei Dragão Kajakut. Era conhecida como Corta-Vento.

O Deus da Espada a segurou em sua mão, relaxado, deixando pender para baixo. Os Santos da Espada assistiam com a respiração presa. Gal Falion quase nunca empunhava uma espada nua, exceto em seus duelos de simulação com os Imperadores da Espada.

Depois de um momento, ele casualmente murmurou três palavras:

— Certo, vamos lá!

Quase na mesma hora, Eris foi enviada voando pelo ar. Seu corpo bateu nas portas de entrada do Salão Efêmero e continuou voando, caindo em uma enorme pilha de neve lá do lado de fora.

O Deus Espada ficou onde ela estava antes, perfeitamente imóvel, sua espada toda estendida. Nenhum dos presentes viu o seu movimento.

— Esplêndido!

— Surpreendente!

— Esplêndido, Mestre!

Os Santos da Espada ao seu redor elogiaram a sua habilidade fervorosamente. Este não era o poder da espada. Foi a sua própria aura de batalha esmagadora que fez Eris sair voando. Todos acreditavam que a intrusa descarada devia estar morta.

— Ugh… guh…!

Mas então ouviram gemidos do lado de fora do salão e também os sinais de algo debilmente se movendo na neve. Ela tinha de alguma forma sobrevivido a um ataque do Deus da Espada? Não, não era isso. Ele só pegou leve com ela. Mas, claro, não havia necessidade de Gall Falion levar aquela vira-latas a sério. Agora simplesmente a baniriam do Santuário e a atirariam na neve.

Porém, as próximas palavras do Deus da Espada traíram todas as expectativas.

— Ghislaine, cuide dos ferimentos de Eris. A partir deste momento, ela é uma Santa da Espada. A partir de amanhã irei treiná-la.

Os sorrisos desapareceram dos rostos dos Santos da Espada. Isso significava que a garota se tornaria uma estudante pessoal do Deus da Espada. Não aparecera nenhum estudante tão honrado desde a própria Ghislaine.

— Mas que absurdo! Santo da Espada é um título especial, concedido apenas àqueles que dominam a técnica Espada de Luz! Aquela garota não é nada mais do que uma selvagem viciosa…

Um homem levantou a voz em objeção, apenas para ficar em silêncio quando o Deus da Espada virou a lâmina em sua direção.

— Ela derrubou duas crianças que sabem a Espada de Luz. Para mim isso é bom o bastante.

— Mas Mestre…

— Olha, você não consegue ser um Deus da Espada memorizando uma coisa ou outra, certo? Sou um cara especial, mas não há nada de especial no meu título. Por que o seu deveria ser diferente?

— Minhas desculpas, Mestre Falion… — O Santo da Espada ficou em silêncio. Ele percebeu que estava falando por puro ciúme. Todos aqueles na sua posição sabiam que tais emoções só serviam para diminuir a velocidade das suas lâminas.

No entanto, isso foi um mal-entendido da parte deles. O estilo de combate do Deus da Espada era alimentado por emoções e desejos crus. Quando usado da forma correta, até mesmo a mais horrível das motivações poderia tornar a sua espada mais rápida e mortal.

Mas é claro, Gall Falion não tinha intenção de revelar essas verdades cruciais para cada aluno que vagasse por seus salões. Aqueles que precisavam ouvir essas coisas não lucrariam em nada com esse conhecimento.

E, assim, de uma forma bastante memorável, Eris alcançou o rank de Santo da Espada.

 

Dias Atuais

Nina, desde o início, odiava Eris. Compreensível, talvez, considerando que a garota a espancou tanto que ela se mijou na frente de todos os seus colegas estudantes. Ela foi envergonhada. Humilhada.

Eris não era nada além de um cão selvagem vagando pelas ruas. Quando sua espada não estava à altura da tarefa, ela atacava com os punhos, feito uma criança birrenta. Tal comportamento era indigno de qualquer aluno de seu estilo, que dirá então de um Santo da Espada. Essa era a verdadeira opinião de Nina a respeito do assunto, e ela a compartilhava livremente com quem quisesse ouvir.

Por quase dois anos, mal tinha conversado com Eris. Na verdade, havia trabalhado com Gino para garantir que nenhum dos alunos mais jovens lhe desse algum tempo livre.

Entretanto, Eris passava a maior parte de seu tempo em um treino obstinado com a Rei da Espada Ghislaine. As duas compartilhavam até mesmo o quarto. Ela não tinha nenhuma conexão com Nina ou os outros, e não precisava conversar com eles. E com certeza não fazia nenhum esforço para mudar isso. As únicas palavras que trocavam eram insultos sarcásticos, sempre que se enfrentavam nos treinos mensais aos quais todos os alunos internos eram obrigados a comparecer.

As duas estavam empatadas nessas competições. Nina, ao menos, acreditava que mais ganhava do que perdia. Contanto que existissem regras adequadas em vigor, onde uma espada caída ou danificava indicava o fim do duelo, ela se considerava superior a Eris.

Levaria um pouco mais de tempo para que ela percebesse que esses mesmos pensamentos eram o que definiam um “molenga”, de acordo com as palavras de Gal Falion. Nesse momento, ainda carecia de experiência real.

Aos olhos dos outros, Eris e Nina eram rivais. Mas, no que dizia respeito a Eris, Nina não valia nem o pensamento.

Um dia, no final do verão, Nina estava conversando com algumas garotas da sua idade. O assunto acabou se encaminhando para romances – quais alunos elas achavam bonito e quais garotas já haviam passado a primeira noite na cama com alguém.

Nina, desde sempre, devotou a sua vida à espada; era difícil se imaginar buscando um relacionamento com alguém. Ela sempre achava essas conversas estranhas. O único garoto de quem era próxima era o seu primo mais novo, Gino, mas tinham sido criados como irmãos. A ideia de tomá-lo como um parceiro romântico só servia para deixá-la desconfortável. Ela iria continuar vivendo pela espada. Se acabasse se distraindo, Eris com certeza a deixaria para trás – e não havia nada que ela odiasse mais do que perder para aquela garota.

Eris, por pura coincidência, passou enquanto a conversa continuava. Havia fumaça saindo do seu corpo. Ela obviamente estava treinando duro enquanto todas as outras conversavam.

Nina sentiu uma pontada de ansiedade em relação a isso. E então, chamou por ela por puro reflexo.

— Hmph. Você já fez alguma coisa fora treinar? Desse jeito vai continuar virgem até morrer, tenho certeza. É uma pena que a sua espada não possa te aquecer à noite!

Essas eram as grandes palavras de alguém que não tinha experiência nenhuma. Mas Nina as escolheu com cuidado, já que com certeza teriam a magoado. Ela assumiu que teriam os mesmos efeitos sobre Eris.

— Heh! — Para a sua surpresa, no entanto, Eris simplesmente se engasgou de tanto rir. O olhar presunçoso em seu rosto fez Nina empalidecer.

— O-o que?

— Desculpe, mas eu não sou virgem. — Sua voz estava ligeiramente orgulhosa e havia um toque de rubor em seu rosto. Nina e as outras, na mesma hora, souberam que a garota não estava blefando.

— O quê?! Você não pode estar falando sério! Quem foi? Quem é que dormiria com você?! — Incapaz de disfarçar o seu choque, Nina pressionou Eris por detalhes, seu tom de voz perturbado.

— Um cara que conheci quando éramos jovens.

Normalmente, Eris mal trocava palavras com as outras pessoas. Mas, quando se tratando desse jovem, poderia tagarelar um pouco. Ela falou sobre como cresceram juntos, como viajaram pelo Continente Demônio e voltara à sua terra natal. Falou sobre como se encontraram com o Deus Dragão, em quem ele conseguira acertar um golpe. E falou sobre como passaram uma noite juntos.

Explicou que queria ficar mais forte por causa dele.

Foi uma história sincera, contada com a paixão de uma garota completamente apaixonada. Isso deixou Nina atordoada. Ela foi derrotada. Totalmente derrotada. Na habilidade com a espada talvez fossem equiparadas. Mas ela era mais velha do que Eris. E Eris tinha um namorado.

A única defesa que lhe restava era negar toda a existência desse sujeito.

— Você… Você está muito cheia de si, Eris! O Pai diz que o Deus Dragão é protegido por algum tipo de Aura Dracônica Sagrada. Um feitiço comum não iria sequer arranhá-lo! Você inventou isso. Este homem nem existe, não é? Admita agora, antes que você realmente se envergonhe!

— Eu não estou mentindo, e Rudeus não é comum. É por isso que não estou apta a ficar com ele, sabe? Tenho que ficar muito mais forte…

Enquanto falava, Eris cerrou os punhos. Havia um fogo queimando dentro de seus olhos. Ela de repente deu as costas para Nina e as outras e caminhou de volta ao Salão de Treinamento, onde esteve até então treinando.

Nina observou a sua partida em silêncio, espantada. Eris era a última pessoa que ela esperava estar à sua frente neste departamento. A notícia a respeito da existência desse namorado a deixou tonta.

Aquele cão selvagem tinha um parceiro, e Nina não. Isso soava completamente ridículo. Só podia ser mentira. Este Rudeus não devia nem existir.

Com base nessa suposição, Nina usou o seu próximo dia de folga para viajar até a cidade mais próxima, onde pagou para um corretor de informações procurar informações sobre esse Rudeus Greyrat. Ela esperava – ou imaginava, pelo menos – que ele não encontrasse nada, visto que Rudeus só podia ser fictício. Mas, para a sua surpresa, não demorou muito para que ele apresentasse um relatório.

Rudeus Greyrat: nascido em Buena Village, Região de Fittoa, Reino Asura. Aos três, começou a estudar com a maga de nível Rei Roxy Migurdia. Aos cinco, se tornou um mago da Água de nível Santo. Aos sete, assumiu o cargo de tutor de Eris Boreas Greyrat, filha do prefeito da Cidadela de Roa. Depois disso, desapareceu no Incidente de Deslocamento. No entanto, mais tarde reapareceu na parte norte do Continente Central, ganhando um nome para si mesmo como o aventureiro “Rudeus Atoleiro”. Ele estava atualmente residindo na Cidade Mágica de Sharia. A Universidade de Magia de Ranoa o convidou para se matricular como um aluno especial. Além disso, ele era respeitado por muitos de seus companheiros aventureiros. Rumores diziam que até mesmo tinha matado um dragão errante com uma só mão.

O resultado final era bem simples: tratava-se de uma pessoa real, não um príncipe fantasioso criado pela imaginação de Eris. Nina achou esse fato deprimente. Mas, ao mesmo tempo, não ficou tão impressionada. Suas conquistas até a idade de sete anos eram incríveis, sim, mas no final elas não serviram de muita coisa. Não houve qualquer menção sobre ter passado do nível de Santo, e ganhava a vida como um aventureiro comum. O apelido “Atoleiro” também não lhe parecia nenhum elogio. Seus talentos evidentemente desapareceram após deixar a infância.

Essa linha de pensamento a levou a uma ideia deliciosamente perversa.

Como Eris reagiria se ela rastreasse este Rudeus, o espancasse em um duelo e o arrastasse até o Santuário como o seu prisioneiro? O olhar em seu rosto deveria ser impagável.

O plano a atraiu muito, então o colocou em ação. Nina era tão impetuosa quanto seu pai costumava ser. Naquele mesmo dia preparou as malas para a viagem, subiu em um cavalo e partiu para o Reino de Ranoa.

Seu destino felizmente não estava tão distante. No inverno a viagem poderia ser um desafio, mas nesta época do ano era bem tranquila. Com um dos melhores cavalos do Santuário da Espada à sua disposição, poderia fazer a viagem de ida e volta em menos de três meses.

A jornada de seis semanas de Nina até Sharia transcorreu sem contratempos, e ela chegou à Universidade de Magia dentro do prazo. O que encontrou por lá a surpreendeu um pouco.

Nina, com toda a honestidade, sempre desprezou os magos. Pensava neles como fracotes arrogantes que sentiam que resmungar alguns encantamentos os tornava fortes. Mas dentro da Universidade de Magia, muitas das pessoas que vagavam eram homens musculosos. Parecia haver um número estranhamente alto do povo-fera, e a maioria estava vestida como guerreiros.

Ela viu alguns pedestres menores que usavam robes ou algum tipo de uniforme bonito. No geral, entretanto, havia muito mais pessoas musculosas do que o imaginado. Obviamente treinavam os seus corpos com tanta seriedade quanto as suas mentes.

Nina se sentiu um pouco envergonhada por sua própria ignorância. Durante todos os seus dezoito anos, aparentemente criou preconceitos injustos em relação aos magos.

Depois de passar algum tempo olhando em volta, ela se aproximou de um homem que por acaso estava passando. Ele era um jovem homem-fera musculoso que se vestia de um jeito bem parecido com um guerreiro. Quando ela perguntou onde poderia encontrar o Rudeus, o homem-fera disse que estava à procura da mesma pessoa – e tinha uma boa ideia de onde encontrá-lo.

Que conveniente, pensou Nina, e seguiu com ele.

Em pouco tempo, o homem-fera avistou um garoto de uniforme. Rudeus parecia mais ou menos como Nina havia imaginado. Ele não era tão magro nem parecia tão fraco quanto esperava, mas com certeza não era intimidante. E, embora o seu rosto não fosse feio, a sua linguagem corporal insegura o tornava muito desagradável. Um bom par para aquela sarnenta da Eris.

Então, tudo bem, hora de dar um pau nele…

Mas antes que ela pudesse falar, o jovem homem-fera caminhou até Rudeus e começou a gritar.

— Acho que você é o Rudeus Atoleiro, o aventureiro de rank A que matou um Wyrm errante sozinho! Eu o desafio para um duelo matrimonial, senhor!

Nina ficou, para não dizer muito, surpresa. O homem-fera não mencionou nada sobre desafiar Rudeus para um combate individual.

— Sabe, na verdade, hoje eu tenho aula de piano. — Rudeus, por sua vez, recusou o duelo da maneira menos masculina possível. Mas o jovem homem-fera lançou algumas justificativas confusas, pulou bem na frente dele e atacou instantaneamente.

Nina presumiu que Rudeus seria dilacerado em questão de segundos. O homem-fera era um lutador claramente competente, embora talvez não no nível dela, e Rudeus era um mago. Cada espadachim pelo mundo sabia que essa era uma classe indefesa a ataques próximos. Não havia nada que um mago pudesse fazer quando alguém pulasse nele.

E, ainda, as coisas de alguma forma acabaram de uma forma bem inesperada. Rudeus derrotou o jovem homem-fera em um piscar de olhos. A luta durou, pelas contas de Nina, três segundos. Se piscasse os olhos, poderia não ter visto. Sem nem mesmo olhar para trás, Rudeus afastou-se, deixando seu inimigo inconsciente jogado no chão.

Demorou alguns minutos para Nina se recuperar dessa surpreendente sequência de eventos. Ela precisou gastar algum tempo perguntando por aí de novo, mas eventualmente soube que Rudeus estava agora na biblioteca.

No momento em que conseguiu a localização e se dirigiu para lá, deparou-se com um grande grupo de gente-fera fazendo uma fila ordenada do lado de fora do prédio. Nina achou isso curioso, mas claramente não tinha nada a ver com ela. Marchou direto para a entrada.

Mas quando passou pela multidão, um homem-fera a chamou.

— Você também deseja desafiar Rudeus para um duelo?

— Uh, sim… isso mesmo — respondeu ela sem nem pensar.

— Então vá para o final da fila! — gritou o homem. — Você não pode chegar cortando!

Parecia que toda a fila de pessoas desejava desafiar Rudeus para um duelo. Confusa e surpresa, Nina se virou e foi para a parte de trás… Parecia haver pelo menos trinta pessoas à sua frente.

Enquanto ela ia para o seu lugar, um homem-fera perto do começo da fila gritou:

— Foi mal, criança. Isso é uma pena.

Ela não sabia o que isso queria dizer.

Em qualquer caso, esperar parecia ser sua única opção, então esperou. A manhã deu lugar à tarde, mas Rudeus não deu nenhum sinal de que sairia.

E então ele apareceu.

Um demônio com pele obsidiana e músculos proeminentes de repente apareceu ao lado deles, olhando para o grupo com um sorriso arrogante no rosto

— Hoho! Para que é que serve essa fila, amigos? Por acaso é algum festival?!

— Esta é a fila para aqueles que desejam desafiar Rudeus Greyrat para um duelo!

— É mesmo?! E vocês são tantos! Bwahahaha! Pelo que vejo o garoto é bem requisitado! Sou um homem paciente, é claro, mas existe alguma forma de eu conseguir ser o primeiro da fila?!

O povo-fera não gostou muito dessa pergunta. Gritos de “Entre na fila!” e vários outros insultos choveram de todas as direções. Nina também ficou furiosa. Ela percorreu um longo caminho e estava pacientemente esperando. E aproveitou e também gritou para o demônio esperar pela sua vez, assim como todos os outros.

Mas então, em meio a toda a algazarra… um idiota disse algo que definitivamente não deveria.

— Você quer ser o primeiro, grandão? Então é melhor derrotar todos os que chegaram aqui primeiro!

— Bwahahahaha! Que adorável! Gosto de como isso soa! Então venham todos de uma vez. Como recompensa pela ousadia, vou deixar que me ataquem uma vez antes de eu sair esmagando todos!

A inacreditável arrogância contida nessa observação deixou todos loucos de fúria.

— O que você pensa que acabou de dizer?!

— Você vai se arrepender disso, seu cabeça de merda!

Movendo-se quase ao mesmo tempo, todos do povo-fera partiram ao ataque, ansiosos para ensinar uma lição ao idiota pomposo. Antes que ela começasse a entender o que estava acontecendo, Nina se viu entrando no meio da multidão.

Resumindo: ela foi derrotada. Humilhada.

Conseguiu acertar o demônio com a Espada da Luz, e tinha intenção de matá-lo. Mas ele só deu de ombros. A lâmina sequer penetrou a sua pele. Ela fez um corte superficial, mas a ferida cicatrizou bem diante dos seus olhos.

— Sou o Rei Demônio imortal, Badigadi! Bwahahaha! Vou conceder o título de Herói a qualquer um que me derrotar!

Comparado com muitos dos outros, o esforço de Nina foi bastante respeitável. Mas o Rei Demônio estava em um nível completamente diferente. Antes que ela pudesse sequer pensar em algum tipo de plano, ele a pegou, jogou-a brutalmente no chão e quebrou a sua amada espada.

Enquanto ela ficava deitada e gemia de dor, sua mente ficou repleta de terror e perplexidade. Por que estava lutando com um Rei Demônio no pátio de uma escola de magos? O que um governante do Continente Demônio estava fazendo nesse lugar?

É claro, estava todo mundo pensando exatamente a mesma coisa.

Poucos momentos após a derrota de Nina, Badigadi acabou com todo o restante do povo-fera. De alguma forma, embora a maioria estivesse gravemente ferida, ninguém morreu. Ele tinha pego leve com todos.

No momento em que percebeu isso, Nina derramou lágrimas amargas que pingaram em seus punhos trêmulos. Mas não importava o quão profunda fosse a sua frustração, ela não podia fazer nada agora que sua espada fora perdida.

— Que merda é essa…?

Naquele exato instante, Rudeus saiu da biblioteca. Ele passou algum tempo conversando com o Rei Demônio, depois foram para outro lugar.

Fazendo uma careta, Nina se forçou a se levantar e arrastou seu corpo machucado atrás deles. Rudeus e o Rei Demônio estavam parados no centro de um enorme pátio aberto, avaliando um ao outro. Eles pareciam estar conversando sobre algo. Ela às vezes conseguia ouvir algumas risadas estrondosas, mas era impossível compreender a discussão.

O duelo por fim começou depois que um garoto estranhamente rápido levou um cajado para Rudeus.

Nina viu tudo, do início ao fim. Não era como se tivesse demorado muito. Rudeus pegou o cajado, tirou o pano que o cobria, murmurou algumas palavras e o apontou para o inimigo. E uma fração de segundos depois, toda a parte superior do corpo do Rei Demônio explodiu de uma só vez.

O homem havia derrotado um oponente com o qual Nina não conseguia sequer competir. O homem amado por sua odiada rival, o homem que ela assumiu ser um inútil, destruiu um Rei Demônio com um único golpe. E Eris estava tentando chegar ao seu nível.

Diante desses fatos, sua mente ficou vazia graças ao choque. Ela não se lembrava do que aconteceu depois. Antes que percebesse, estava de volta ao lombo de seu cavalo, retornando ao Santuário da Espada.

Mas quando chegou lá, e viu Eris brandindo sua espada, sempre focada, Nina sentiu algo. Algo que nunca antes tinha sentido.

 

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Depois daquele fatídico dia em Sharia, Nina Falion virou a página de sua vida.

Começou a se dedicar ao treinamento com ainda mais vigor do que antes e passou a carregar uma segunda espada, para o caso de a primeira ser quebrada. E também parou de zombar de Eris por sua tendência de partir para a briga com os punhos. Ela ficou mais distante das outras garotas da sua idade, de quem nunca tinha sido muito próxima.

E quando viu Eris, cuja determinação parecia nunca enfraquecer, seu olhar não era mais tão duro quanto antes.

Com o tempo, as duas se tornariam verdadeiras rivais. Mas, bem, isso é uma história para outra hora.

Aliás…

Rumores dizem que o Deus da Espada, que estava afiando sua espada com entusiasmo depois de ouvir sobre a chegada do Rei Demônio, a embainhou com uma expressão desapontada depois que Nina relatou o que tinha acontecido.

 


 

Tradução: Pimpolho

Revisão: PcWolf

 

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Bravo

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