Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 09 – Cap. 12 – História Paralela – Sylphiette – Parte 00

 

Naquela noite, sonhei com o passado – com a chegada de Rudy à Universidade.

Era o meu terceiro ano na Universidade de Magia de Ranoa. Linia e Pursena se acalmaram após a derrota, e a Princesa Ariel assegurou a posição de presidente do conselho estudantil. Esses sucessos atraíram vários novos apoiadores para o nosso lado; estava correndo tudo relativamente bem. A essa altura, havíamos recrutado o maior número de alunos e professores influentes na escola que era possível. Decidimos começar a atrair poderosos aliados em potencial para a Universidade de Magia, e então poderíamos tentar garantir a sua cooperação. E enquanto trabalhávamos nisso, nos deparamos com algo totalmente inesperado.

Nossa pesquisa nos levou a uma pessoa especificamente conhecida como “Rudeus Atoleiro”. Na mesma hora eu soube que só podia ser o Rudy. O Atoleiro era descrito como um jovem mago que rapidamente alcançou o rank A na Guilda dos Aventureiros. Ele só estava na região há alguns anos, mas as notícias sobre suas façanhas já haviam se espalhado por todas as Nações Mágicas. Sua especialidade era a magia de Terra. Pelos rumores era difícil julgar quão poderoso realmente era, mas a maioria dizia que o aventureiro poderia criar um pântano sem dizer qualquer palavra.

O feitiço não verbal era o detalhe que me convenceu de que só podia ser ele. E, parando para pensar, Rudy também usou um feitiço envolvendo lama quando nos conhecemos. E ele também poderia usar magia de Água de nível Santo, então as pessoas tendiam a esperar que ele confiasse só nisso. Mas ele preferia usar truques inteligentes como se arremessar com ondas de choque ou convocar pântanos para desacelerar os oponentes.

Contei à Princesa Ariel que o Rudeus Atoleiro era, quase que com certeza, o garoto que me ensinou magia – meu velho amigo que estava há muitos anos desaparecido.

— Bem, se ele é o verdadeiro, então com certeza seria bom se ficasse do nosso lado…

Na época, a Princesa Ariel estava evidentemente cética em relação ao Rudy. Isso era compreensível. Os rumores a seu respeito pareciam bem duvidosos. Eram mais ou menos assim:

Rudeus Greyrat nasceu em Buena Village, localizada na Região de Fittoa do Reino Asura. Com apenas três anos de idade, começou a estudar com a maga da Água, Roxy Migurdia (embora naquela época ela fosse apenas de nível Santo). Aos cinco anos, tornou-se um mago da Água de nível Santo em pleno direito. Aos sete, assumiu o cargo de tutor de Eris Boreas Greyrat, a filha do prefeito da Cidadela de Roa; nos anos seguintes, transformou essa criança selvagem e incontrolável em uma jovem respeitável. Depois disso, desapareceu no Incidente de Deslocamento.

No passado, eu provavelmente nem levantaria a sobrancelha diante dessas informações. Mas agora, depois do tempo que passei morando no Palácio Prata e estudando na Universidade de Magia… Eu tinha que admitir, parecia bizarro. Até mesmo fictício.

Claro, eu sabia que Rudy realmente havia estudado com Roxy e que a respeitava muito. Eu nunca tinha conhecido ela, mas sabia que havia passado algum tempo em Buena Village. Na verdade, a varinha que eu carregava era uma que ela deu ao Rudy. A parte sobre ele se tornar um tutor enquanto tinha sete anos também fazia sentido; isso só podia ser de quando ele foi enviado por seus pais para fora da aldeia.

— Confie em mim, Princesa Ariel, esta informação é precisa. É definitivamente ele.

— Talvez. Mas devo dizer, com toda a honestidade, que esses rumores são bem difíceis de se acreditar.

A Princesa Ariel e Luke não foram convencidos pelas minhas afirmações. Acreditaram que eu não estava mentindo para eles, mas também não acreditaram na história toda. Não poderia culpá-los. Eu conhecia o Rudy pessoalmente, e isso tudo parecia loucura até mesmo para mim.

— Em qualquer caso, um mago tão notável iria mesmo nos emprestar a sua ajuda? Ainda mais um com laços com os Boreas Greyrats?

Eu ainda não estava familiarizada com a teia emaranhada de alianças e rivalidades que definia as famílias nobres de Asura. Passei um ano inteiro na corte, e ainda havia muito a aprender. Mas eu sabia muito sobre os vários ramos dos Greyrats. A família Boreas era leal ao primeiro príncipe. Isso os tornava nossos inimigos. E se Rudy trabalhava para eles, existia uma boa chance de que também fosse nosso inimigo.

Dito isso, parecia óbvio que ele já havia cortado as suas relações com essa família há algum tempo. Caso contrário, não faria muito sentido que estivesse vagando pelos Territórios Nortenhos como um aventureiro.

— Tenho certeza que se eu pedir ele vai ajudar…

Minha voz não estava particularmente confiante. Eu não conseguia convencer nem a mim mesma de que isso era verdade.

Luke bufou, entretido.

— Com um peito tão plano, você não vai conseguir conquistar nenhum homem dos Notos.

Cobri o meu peito com o braço e lancei um olhar zangado a ele. Luke era sempre assim. Ele nunca perdia a chance de zombar de mim e do meu peito plano. Segundo Luke, mulheres sem “seios adequados” não eram nem mulheres, o que significava que eu era a definição de não atraente. Não tenho certeza do que ele queria que eu fizesse sobre isso. Eu tinha sangue élfico nas minhas veias, e elfos simplesmente não eram muito voluptuosos.

Para tentar parecer justo, no final ele costumava suavizar o golpe:

— Mas acho que é por isso que somos amigos.

Era bom saber que ele me considerava em termos amigáveis. Ainda assim, os constantes insultos sobre a minha aparência não estavam fazendo maravilhas à minha autoestima. Eu sabia que a minha aparência não era tão notável se comparada com a da Princesa Ariel, mas essa era uma barreira alta demais para superar.

— Não foi isso que eu quis dizer, Luke!

— Bem, então o que você quis dizer? Certamente não está pensando em revelar a sua verdadeira identidade a ele.

— Huh? Ah… é mesmo. — Eu devia ser o Fitz Silencioso. Não poderia sair por aí acabando com o meu disfarce… e agora?

— Ainda assim, fico muito feliz por você Sylphie — disse a Princesa Ariel com um sorriso — Encontrar alguém que está procurando por todo esse tempo deve ser maravilhoso.

Sério, a princesa era uma pessoa muito gentil. Às vezes conseguia ser bem severa e passava muito tempo planejando todos os tipos de tramas por baixo dos panos, mas lá no fundo tinha um bom coração. Eu já sabia disso. Mesmo assim, não esperava pelo que viria a seguir.

— Vou abrir uma exceção especial. Você pode revelar a sua identidade a este Rudeus.

— Huh? — O que? Ela está disposta a desmascarar o Fitz Silencioso?

— Mas, Princesa Ariel, o nosso plano todo pode desmoronar…

Eu estava consciente da importância do papel que desempenhava para a nossa estratégia geral. Fitz era a personificação viva do poder da Princesa Ariel. Ele era um homem de origens misteriosas e notáveis habilidades mágicas que ficava em silêncio ao lado dela, obedecendo todas as suas ordens. Isso aumentava muito o mistério ao redor dela, e fazia parecer muito mais intimidante.

Nos últimos anos, percebi que era poderoso o suficiente para derrotar um mago ou espadachim comum com bastante facilidade. Suponho que Rudy também tenha treinado muito. Eu ainda não estava no nível Rei ou Imperador, muito menos à altura dos sete Grandes Poderes, mas provavelmente poderia me defender diante de um Santo da Espada. Eu não era rival para os guerreiros de nível Rei que alguns dos outros candidatos ao trono tinham ao dispor, mas era, no momento, a arma mais poderosa no arsenal da facção da Princesa Ariel. Muitas pessoas na Universidade decidiram apoiá-la porque ela conquistou a lealdade de alguém tão forte quanto “Fitz”. Se o boato de que eu era na verdade só uma garota comum de uma aldeia do interior vazasse, essas pessoas poderiam muito bem abandonar o nosso lado.

Minhas habilidades, de qualquer forma, ainda eram reais, claro… mas as pessoas nem sempre pensam nessas coisas de forma lá muito lógica.

— Você já fez muito por mim, Sylphie. Devo a você, no mínimo, um reencontro emocionante com o seu amigo.

— Mas…

— Se isso de alguma forma resultar em todos os nossos planos indo por terra, estou disposta a aceitar o resultado — interrompeu Ariel, sua voz firme e decisiva. — E, em qualquer caso, se vamos convencer este jovem a ficar do nosso lado, quem seria melhor para recrutá-lo do que uma amiga de infância?

— Agradeço, Princesa Ariel… — Hesitei por um momento, mas acabei simplesmente expressando a minha gratidão. Era óbvio que a princesa também visava algum lucro pessoal, mas isso não me incomodou no momento.

O que Rudy pensaria quando me visse da forma atual, toda crescida? Eu já estava ansiosa por isso.

Nosso plano de atraí-lo para a Universidade correu muito bem. Passamos nossas informações sobre ele para a administração, sugerindo que recrutá-lo poderia ser uma boa ideia. O Vice-Diretor Jenius cuidou do resto sem nem pestanejar.

Alguns meses depois, o dia que eu tanto esperava finalmente chegou. Eu estava em uma aula de habilidades práticas na sala de treinamento, e então o vice-diretor entrou com alguém logo atrás dele. Quando vi quem era, quase gritei de alegria.

É o Rudy! É o Rudy mesmo!

Não podia haver qualquer dúvida a respeito disso. Seu rosto parecia um pouco mais sombrio do que antes, mas com certeza era o Rudy. Não havia como se enganar.

Ah, uau! Ele está tão lindo!

Ainda podia ver os vestígios do garoto que eu já conhecia, mas ele tinha crescido muito. Seus movimentos eram suaves e também estáveis – era óbvio que tinha treinado muito. O robe que usava estava um pouco esfarrapado, mas isso só acrescentava uma sensação de perigo. Seria possível que ele passou por muitas batalhas usando aquilo. E carregava um cajado como se fosse extensão do seu corpo.

Enquanto caminhava para a área de prática, Rudy olhou ao seu redor, estudando tudo com muito cuidado. Era algo que fazia sempre, desde que éramos crianças. Naquela época eu pensei que íamos nos casar, mas agora ele talvez esteja fora do meu alcance… Quanto mais eu olhava para ele, mais quente ficava o meu corpo.

Tomada por um impulso repentino, dei um passo brusco à frente, pronta para correr gritando o seu nome.

— Ru…

Mas assim que comecei a falar, congelei no local. Uma mulher muito bonita entrou logo atrás de Rudy.

Espera… aquela é a esposa do Rudy?

Ela parecia ser uma elfa. Algo nela meio que me lembrava o meu pai. Seu rosto era elegante e digno; parecia com uma rainha, ou talvez uma nobre abastada. E estava se prendendo ao Rudy. Ele parecia um pouco irritado com o comportamento dela, mas não reclamou ou a afastou.

Huh…? Huh?

Enquanto eu olhava, atordoada e desnorteada, perdi a minha chance de correr para cumprimentá-lo.

Poucos minutos depois, fui chamada para ajudar a administrar o seu “exame de admissão”. Acho que queria verificar se ele era mesmo capaz de lançar feitiços não verbais.

Nesse ponto, consegui me acalmar um pouco. Não era estranho que Rudy tivesse uma linda mulher em sua vida, dado o quão bonito ficou. Era isso o que eu disse a mim mesma. Não importava se ele já estava casado. Realmente não importava. Afinal, nós dois éramos apenas amigos. Por que isso seria um problema?

Eu teria que parabenizá-lo. Bem, não de imediato, é claro. Em primeiro lugar, poderíamos comemorar por estarmos ambos vivos. Mantendo esses pensamentos em mente, me preparei para a minha primeira conversa com Rudy em muitos anos.

— Muito prazer em conhecer. Meu nome é Rudeus Greyrat. — Eu congelei no lugar.

Um prazer… me conhecer? Huh? Uh… o quê? Sem chances. Espera aí. Ele… esqueceu de mim?

— Desde que corra tudo bem, estarei no primeiro ano a partir do próximo semestre. Se você achar que estou falhando em algum ponto, espero que me ajude e oriente enquanto me encoraja.

— Ah… huh?

Depois de alguns momentos totalmente perplexos, por fim lembrei que estava usando um enorme par de óculos escuro, tinha cabelos agora brancos e estava vestida como um garoto. Além disso tudo, passaram oito anos desde que nós dois nos separamos. Com o passar do tempo fiquei muito mais alta. Seria tolice esperar que me reconhecesse na mesma hora.

Dentro da minha cabeça, fui bem longe mesmo. Eu o reconheci, então presumi que ele me reconheceria. Não pensei direito nisso, e isso é tudo. Tudo que eu precisava fazer era tirar meus óculos escuros e falar quem eu realmente era. A Princesa Ariel já havia permitido. Eu não poderia fazer isso em público, mas depois poderia chamá-lo para algum lugar mais privado.

Mas enquanto pensava nisso, outro pensamento correu pela minha cabeça. Um bem horrível.

O Rudy não lembra mais de mim, não é…?

Assim que me permiti pensar isso, meu destino foi selado. Meus óculos escuros não iam a lugar algum. E se eu revelasse o meu rosto, dissesse o meu nome e ele ainda dissesse “Sinto muito, quem é você mesmo?”

Só pensar nisso já era doloroso demais.

— Ah… hm? As, s-sim! — gaguejei, sem jeito. Todas as coisas que planejei contar a Rudy caíram, espalhadas ao vento. Eu não sabia mais nem o que dizer. E antes que eu tivesse a chance de organizar os meus pensamentos, o exame começou.

Perdi o duelo. Rudy me esmagou.

Ele começou comprometendo a minha magia com um feitiço que eu nunca tinha visto. Enquanto eu ficava indefesa, ele disparou um Canhão de Pedra incrivelmente poderoso que passou roçando a minha bochecha. Se quisesse, ele poderia ter me acertado, é claro. Ele pegou leve comigo.

Todo o progresso que fiz como maga parecia completamente irrelevante. Rudy já estava muito, muito à minha frente.

— C-como você fez aquilo? — Foi a única coisa que consegui perguntar a ele.

— É chamado de Atrapalhar Magia. Não sabe fazer isso?

Nunca nem tinha ouvido falar. Devia ser algum feitiço secreto e obscuro, transmitido entre os membros de alguma tribo específica ou algo assim. Eu duvidava que alguém mais na Universidade reconheceria o nome.

Rudy é incrível…

Eu sabia disso desde o início, é claro. Mas ele realmente enfatizava isso. Não pude deixar de me sentir um pouco intimidada. Trabalhei muito, por anos, para chegar onde estava, mas ele de alguma forma evoluiu muito mais do que eu.

Enquanto eu olhava para Rudy, ele lentamente se curvou diante de mim.

— Obrigado, senhor! Por perder propositalmente para que eu pudesse me sair bem na frente de todos os outros!

— Hein?

E então fiquei ainda mais confusa do que antes. Rudy não estava fazendo sentido algum. Eu não tive chance contra ele, e ele devia saber disso. Mas do que é que estava falando? Totalmente perplexa, apertei a sua mão assim que a ofereceu para mim. Não parecia a mão de um mago – estava mais para a de um espadachim. Havia calos onde bolhas se formaram e se romperam. Rudy já devia ter passado mais tempo com uma espada na mão do que até mesmo o Luke. E não era nem um espadachim.

Mesmo em meu estado de confusão, senti meu coração bater mais forte do que antes. O calor de Rudy estava se espalhando pela minha mão e me deixou irracionalmente feliz.

Mas ele continuou falando coisas que não faziam muito sentido.

— Eu com certeza te agradecerei apropriadamente mais tarde.

Mas do que ele estava falando? Eu realmente não entendi. Sentindo que estava começando a corar, só balancei a cabeça.

Assim que ele saiu, mais uma vez lembrei que não fui reconhecida. Tive que me esconder um pouco para chorar.

Um mês depois, vi o Rudy na cerimônia de entrada. Ele parecia ainda mais afiado do que antes, agora que usava o nosso uniforme escolar. Quando nossos corações se encontraram, meu coração pulou uma batida.

Bem, ele se matriculou como um aluno especial. Provavelmente não havia muito que pudesse aprender, então imaginei que não nos encontraríamos com muita frequência. Depois do exame de entrada, discuti o assunto com os outros e decidimos que, se Rudy não se lembrasse de mim, não deveríamos abordá-lo de maneira muito agressiva. A Princesa Ariel e Luke disseram todo tipo de coisa para justificar a opinião que tinham, mas na maior parte do tempo só pareciam chateados por Rudy ter me esquecido. Isso me animou um pouco. Eu poderia dizer que se importavam comigo como amiga.

No final das contas, a princesa disse que deixaria o assunto por minha conta. Parecia que não o recrutaríamos para a nossa causa no mesmo instante, mas poderíamos sempre travar uma campanha mais tranquila para o conquistar, assim como fizemos com muitos outros. Ela acrescentou que “Fitz”, como um feiticeiro que dominava a magia não verbal, era o mais adequado para o trabalho de recrutamento. Parando para pensar nisso, acho que ela já sabia que eu sentia algo pelo Rudy.

Mas como devo começar a falar com ele…?

Após a cerimônia, passei o resto do dia pensando nisso enquanto assistia às aulas com a Princesa Ariel. Esperava-se que a princesa fosse um exemplo para todos os alunos, então ela tinha que manter as suas notas excelentes. Estar no topo poderia ser difícil.

E, na Universidade, por algum motivo ensinavam magia combinada de uma maneira muito diferente. Rudy tinha supostamente aprendido com a sua mestra Roxy, que também estudou nesta escola, então eu esperava que os métodos de ensino fossem semelhantes. Mas senti que estavam tornando tudo muito mais complicado. Ainda assim, eu ainda podia seguir os ensinamentos de Rudy, então geralmente acabava aprendendo as coisas em algum momento. A Princesa Ariel e Luke, por outro lado, estavam sofrendo. Fiz o possível para ajudar, mas quando tentei explicar as coisas do mesmo jeito que Rudy, isso muitas vezes os deixava ainda mais confusos.

— Fitz, você poderia me trazer algo que possa ajudar na próxima aula?

Quando as minhas explicações não eram o bastante, a Princesa Ariel costumava pedir para passar pela biblioteca e procurar material de referência útil. A biblioteca local tinha o seu próprio prédio, e não havia muito tempo entre o intervalo das aulas. Mesmo assim, já fazia três anos que eu a visitava, então tinha uma boa ideia de onde encontrar os livros de qualquer tópico em particular. Só precisei de um momento para imaginar onde encontraria o material de que ela precisava.

Assim que cheguei lá, me movi rapidamente pelos corredores, pegando um livro atrás do outro. Nesse ritmo, estaria de volta em um instante.

Mas então vi um certo alguém parado em frente a uma estante próxima e deixei um suspirinho de surpresa escapar.

— Ah!

Rudy também estava na biblioteca. Estive pensando em encontrar uma desculpa para ir vê-lo nos próximos dias, mas o encontrei por pura coincidência. O-o que eu falo?!

Conforme eu começava a entrar em pânico, Rudy olhou em minha direção e me notou. E um momento depois, ele abaixou a cabeça profundamente.

— Peço desculpas pelo outro dia. Minhas ações descuidadas fizeram você perder um pouco de prestígio. Eu planejava te dar uma caixa de doces, mas, infelizmente, como um aluno novo, tenho me ocupado com muitas coisas…

— Guh?! N-não, está tudo bem, por favor, não se curve.

Rudy parecia ter a impressão de que eu estava chateada com ele. Isso foi uma surpresa… mas explicava por que ele inventou aquele absurdo depois do exame. Pensando bem, ele meio que me envergonhou em público, não foi? Sim.

Isso talvez tivesse algo a ver com o motivo pelo qual a Princesa Ariel também parecia tão chateada… Eu tinha assumido que não tinha chance contra Rudy, embora não esperasse que ele me vencesse de forma tão avassaladora. Mas a Princesa Ariel e Luke provavelmente estavam um pouco abatidos com a minha derrota.

Entretanto, isso não era tão importante no momento. Eu teria que pensar nisso depois.

— Rudy… um, quero dizer, Rudeus, certo? O que está fazendo aqui?

— Só um pouco de pesquisa.

— Sobre o quê?

— O Incidente de Deslocamento.

Essas palavras me paralisaram por um momento. Havia alguma chance de ele estar em algo parecido com o que eu estava?

— O Incidente de Deslocamento? Por quê?

— Eu morava na Região de Fittoa do Reino Asura e fui teletransportado para o Continente Demônio após o incidente.

— O Continente Demônio?!

Mais uma vez, fiquei surpresa demais para encontrar palavras. Eu já tinha ouvido falar do Continente Demônio, é claro. Era um lugar supostamente árido, onde cada monstro era de rank D ou acima. Alguns espadachins mais dedicados às vezes viajavam para lá só para treinar, mas a maioria nunca voltava. As pessoas que acabaram parando lá por causa do Incidente de Deslocamento não teriam qualquer chance de sobrevivência. Mas Rudy retornou inteiro.

— Sim. Demorei três anos para voltar para casa. Toda a minha família já foi encontrada, mas ainda há uma pessoa que está perdida. Esta parece ser uma boa oportunidade para fazer algumas pesquisas.

— É por isso que você veio para esta escola?

— Isso mesmo.

Isso era incrível. Sinceramente incrível.

— Entendo. Afinal, você é incrível mesmo.

Ele passou três longos anos voltando do Continente Demônio. E então, em vez de dar um grande suspiro de alívio, foi em busca de outras pessoas, o que já era impressionante. Mas quando a Universidade o procurou, aceitou o convite como uma chance de aprender mais sobre o Incidente. Mas quanta determinação. Se eu estivesse no lugar dele, teria desmaiado de exaustão no mesmo momento que chegasse em casa e passaria dois anos inteiros em um campo de refugiados.

— E o que, se eu puder perguntar, você está fazendo aqui?

A pergunta me tirou do meu devaneio. Eu já tinha esquecido dos livros de referência que deveria estar reunindo para a Princesa Ariel. Eu queria continuar conversando com o Rudy, sério, mas não podia deixá-la esperando. A aula iria começar em breve.

— Ah, sim. Estou pegando alguns documentos. Preciso ir. Nos vemos por aí, Rudeus.

— Sim, claro, até mais.

Quando me virei para verificar o material que reuni, de repente pensei em algo. Esta biblioteca era grande demais e tinha uma tonelada de livros, mas aqueles com informações relevantes sobre o Incidente de Deslocamento eram bem poucos. Rudy podia até ser brilhante, mas rastrear as coisas que estava procurando devia exigir algum tempo.

— Ah, claro. Você deveria ler um livro escrito por Animus sobre teletransporte, chamado Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em Labirintos. É de não ficção criativa, mas é fácil de ler.

Para começar, recomendei um livro que me ajudou a entender um pouco sobre teletransporte. Era simples o suficiente para que até mesmo uma criança tivesse uma noção básica das coisas. E também mencionava alguns detalhes específicos que muitas vezes eram tirados de livros mais avançados no assunto.

Sentindo-me um pouco satisfeita comigo mesma, deixei a biblioteca.

Naquela noite, fui lavar algumas roupas íntimas. As roupas íntimas da Princesa Ariel, especificamente.

Havia um motivo para esse trabalho recair sobre mim. Primeiro de tudo, a roupa íntima da princesa era feita de um tecido extremamente caro. E o fato de serem usadas por uma princesa Asurana aumentava consideravelmente o valor. Em outras palavras, poderia conseguir muito dinheiro ao vendê-las no mercado negro. Bom, a verdade é que aconteceu um incidente não muito depois da nossa matrícula. Algumas das suas calcinhas foram roubadas depois que as enviamos para serem lavadas. Das cinco que foram enviadas, quatro sumiram; três foram posteriormente vendidas, e o aluno responsável ficou com uma para seus próprios fins particulares. Algumas das garotas mais inocentes do nosso dormitório gritaram de desgosto quando esse incidente foi à tona. Mas, para a Princesa Ariel – que cresceu na corte real de Asura – e eu, que servi como a sua assistente por um bom tempo, não foi tão chocante. Naquele lugar existiam muitas pessoas que costumavam fazer coisas muito mais depravadas com regularidade.

Isso não significava que a situação não era desagradável. Desde então, lavar as roupas da princesa se tornou uma das minhas funções oficiais. Ela hesitou a respeito de empurrar esse trabalho para mim, mas eu poderia lavar as minhas próprias roupas ao mesmo tempo, então não era um inconveniente tão grande.

A propósito, para disfarçar o meu gênero, passei a usar exatamente o mesmo tipo de calcinha da princesa – só que de outra cor.

Terminei de lavar as roupas do dia e me dirigi à varanda para colocar as roupas de baixo para secar. O resto podia esperar, mas queríamos tudo pronto para o dia seguinte. Mas assim que eu estava começando a prender tudo no varal…

— Huh?

Por acaso olhei para a estrada e vi algo que me fez piscar de surpresa. Havia um estudante do sexo masculino caminhando pela calçada, embora o sol já tivesse se posto.

As regras do dormitório eram bem rígidas a respeito disso: os homens não podiam andar por esse caminho depois de escurecer. Ninguém queria ter as calcinhas roubadas e, embora ainda não estivesse naquela época do ano, também era necessário levar a temporada de acasalamento em conta. O que aquele garoto estava pensando, aparecendo a esta hora? Talvez estivesse apenas pegando um atalho no retorno ao seu dormitório. Mas, mesmo se fosse esse o caso, ele provavelmente seria cercado pelo “comitê de autodefesa” do primeiro andar, não iria demorar muito.

Será que devo avisá-lo? A primeira pessoa que avistasse um garoto a esta hora faria um escândalo para que todo mundo ouvisse. Se eu pudesse evitar, não deveria falar em voz alta, mas…

E-espera aí, estou vendo coisas?

Quando o garoto se aproximou, percebi que tratava-se do Rudy. O que ele está fazendo aqui?!

Diante da surpresa, minhas mãos escorregaram. O par de calcinhas que eu estava segurando caiu… direto na direção do Rudy. No instante que passaram pelo seu rosto, ele pegou com um rápido movimento de mão.

Ele é tão rápido…!

Ele nunca baixa a guarda, não é? A velocidade daquela reação me entregou algo sobre o que foi preciso para atravessar o Continente Demônio com vida.

Depois de alguns segundos, ele pareceu perceber que o que estava segurando era uma roupa íntima. Ele olhou para cima, me viu e ergueu a calcinha como se dissesse “você deixou isso cair”. Foi um gesto lento e casual, muito diferente de seu anterior movimento por reflexo.

Ah, claro! Ele acabou de se matricular! Ele não sabe!

Rudy era um aluno especial, e todo aluno especial tinha um quarto só para si. Ouvi que eles também ficavam isentos de todos os tipos de deveres típicos dos dormitórios… incluindo a participação em reuniões nas quais explicávamos as regras locais.

Eu precisava avisar o quanto antes. Se ele ficasse do lado de fora do nosso dormitório enquanto segurava uma calcinha, alguém definitivamente iria entender tudo errado.

— Gyaaaah! Ladrão de calcinhas!

Quase na mesma hora os meus medos se tornaram realidade. Uma garota gritou, o comitê de autodefesa que morava no primeiro andar saiu correndo e Rudy foi rapidamente cercado. Bom, mas é o Rudy…  Ele deve conseguir se livrar disso.

Em vez de intervir de imediato, sucumbi a algum pensamento otimista.

Eu estava um tanto interessada em ver como Rudy iria lidar com a situação. Será que ele simplesmente derrotaria todas, igual derrotou aqueles valentões de Buena Village? Ou será que inventaria uma desculpa inteligente para se safar da situação? Também existia a possibilidade de “assustá-las com um pouco de magia”. E o clássico “sair correndo”.

Observei e esperei ansiosa… mas Rudy não fez muita coisa. Uma garota chamada Goliade o agarrou pelo braço e ele apenas olhou para ela com tristeza. Vê-lo assim me lembrou de quando eu sofria bullying em Buena Village. De repente, senti um frio na boca do estômago.

O que diabos eu estou fazendo?!

Amaldiçoando-me em silêncio, pulei da varanda e corri em direção ao grupo.

— Eh, o que foi? Está planejando resistir? Quanta coragem para um ladrão de calcinhas! Acha mesmo que pode lutar contra tantas pessoas?

Estava escuro, então as outras não pareciam perceber, mas Rudy fixou as pernas ao chão usando magia de Terra. Mas eu não entendi o motivo para isso. Será que não existia nenhum? Digo, era o Rudy. Era difícil imaginar que as suas pernas podiam estar tremendo…

Mas mesmo quando esse pensamento passou pela minha cabeça, lembrei de algo da minha infância. Quando Rudy perseguiu Somal e os outros valentões, suas pernas tremiam. E então, um pouco depois… após descobrir que eu era uma garota, quando as coisas ficaram estranhas por algum tempo… ele tremeu um pouco quando disse: “Sinto que você não gosta mais de mim, Sylphie.”

Sim. Ele estava assustado porque pensou que eu o odiava. Igual qualquer garoto normal.

Ah…

Naquele momento percebi uma coisa. Algo que já devia ter percebido. E eu estava agindo como se Rudy fosse especial só por ele ser talentoso. Sempre senti que ele era anos mais velho do que eu. Mas no final das contas tínhamos a mesma idade, não é? Me peguei lembrando de uma pergunta que certa vez fiz ao meu pai, e a promessa que fiz em resposta.

“Sylphie, você vai ficar sentada e deixá-lo te proteger para sempre?”

Não. Eu ia ajudar o Rudy. Seria forte o suficiente para ficar ao seu lado. Eu iria apoiá-lo, não importa o custo. Foi o que prometi para mim mesma. Essa era a razão para ter trabalhado tão duro por esse tempo todo, certo? Mas ele agora estava com problemas e eu não tinha feito nada. Pior ainda, a bagunça era toda por minha culpa!

— Espera! Não façam nada com ele!

Abri caminho até o meio do grupo e montei uma defesa vigorosa para Rudy. Podia até ser a primeira vez que eu falava na escola, exceto pelas minhas conversas com Ariel e Luke. Era desse tanto que eu me apegava ao papel de Fitz Silencioso.

Entretanto, a garota segurando o braço de Rudy – Goliade – se provou muito teimosa. Ela insistia que ele era um criminoso, embora não tivesse feito nada de errado.

— Hm, é surpreendente que você tenha ido tão longe para defender alguém. O que você diz deve ser verdade. Ainda assim, permanece o fato de que este garoto violou as regras do dormitório. Faremos dele um exemplo ao puni-lo… o quê?!

No instante em que ouvi a palavra arremetendo a uma punição, algo estalou dentro de mim. Eu não ia deixar que usassem alguém de quem eu gostava como exemplo só porque ele não teve sorte. Peguei a minha varinha, apontei para Goliade e comecei a canalizar mana.

— Não acabei de dizer que ele não fez nada de errado? Chega. Agora solte a mão dele.

— S-senhor… Fitz?

— Ou vocês gostariam de ser enviadas ao consultório médico?

Quando no Reino Asura, aprendi a fazer esse tipo de ameaça com o Luke. Ele sempre disse que a habilidade de blefar era importante, então trabalhei bem duro nela. Durante a nossa jornada de Asura a Ranoa, tentei fazer isso algumas vezes quando nos deparamos com grupos de bandidos. Luke sempre me provocava, dizendo que minha voz era infantil demais para fazer qualquer coisa.

Desta vez, porém, eu parecia ter conseguido o efeito desejado.

— Tch… certo, já entendi. — Goliade finalmente soltou o braço de Rudy e saiu, resmungando alto. Com a partida da líder da gangue, as outras garotas também se dispersaram.

— Uff… aquela garota. Se ela ao menos escutasse.

Eu já sabia como Goliade era, e ela não era uma pessoa má nem nada assim. Mas o povo-fera tendia a levar as regras muito a sério e aplicá-las a qualquer custo. Não eram flexíveis nessas questões.

Mas nada disso importava. Precisava me desculpar com Rudy. Afinal, foi tudo basicamente culpa minha.

— Desculpa. Se eu não tivesse deixado essa roupa de baixo cair, isso nunca teria acontecido.

— Você não fez nada de errado. Inclusive me ajudou. — A voz de Rudy soou de alguma forma estranha. A rigidez usual de seu tom havia desaparecido. Olhei para o rosto dele e percebi que ele estava me olhando de um jeito diferente. E então todas as peças se juntaram.

Ele ainda está desconfiando de mim, não está…?

Parando para pensar, desde o início a sua atitude pareceu um pouco estranha. Para começar, se curvou na minha frente. Mas finalmente entendi. Isso fazia sentido, é claro. Eu agora era o Fitz Silencioso, não a sua velha amiga. Por que não desconfiaria de mim?

Mas eu parecia ter ganho ao menos um pouco de confiança. Isso me deixa meio feliz.

Se eu não tivesse estragado tudo, nada disso teria acontecido, mas parecia que nós dois acabamos ficando um pouco mais próximos.

Aproveitei a oportunidade para explicar as regras do dormitório ao Rudy, avisando-o sobre a estrada ficar fora dos limites após o pôr do sol. Conforme eu suspeitava, parecia que ninguém havia lhe contado isso. Ele balançou a cabeça enquanto eu falava.

— Fico realmente grato, Mestre Fitz. — E, com essas palavras, voltou a curvar a cabeça.

Vê-lo agindo com tanta gratidão parecia um pouco estranho. Na época em que eu era intimidada, nossas posições eram completamente invertidas. Eu já o tinha agradecido com tanta educação? Achei algo a respeito disso estranhamente engraçado.

— Ahaha, é meio estranho ouvir você me agradecer.

— Eh? Por que seria?

Quase disse: Bem, porque na primeira vez que nos encontramos… No último momento, porém, hesitei. Eu queria mesmo revelar a minha identidade? Ao pensar nisso, a ansiedade dentro de mim aumentou. Se ele dissesse “Sinto muito, mas não lembro de você”, isso já machucaria demais.

De qualquer forma, me convenci de que isso não importava. E daí se ele não lembrava de mim? Poderíamos começar do zero, como um quadro em branco. Eu poderia deixar o passado de lado e conhecer quem ele era agora. Isso me parecia ser bom o suficiente.

E então, tudo que eu disse foi “Isso é segredo”. Rudy apenas piscou, confuso.

Depois disso voltei ao dormitório. Claro, primeiro pedi para Rudy devolver a calcinha. Ele a pegou no ar, e não estava suja nem nada, é claro, mas Rudy era um homem. Fiquei um pouco desconfortável em fazer a Princesa Ariel usar roupas íntimas que ele segurou nas mãos.

— Acho que preciso lavar de novo, huh…?

Segurando a calcinha sob a luz do corredor, congelei no lugar. Afinal, não era da Princesa Ariel. Era minha. Rudy ficou segurando por… um bom tempo, não foi?

Demorou um tempinho até eu conseguir parar de me contorcer de vergonha.

Levou pelo menos mais um mês até começarmos a estudar o Incidente de Deslocamento juntos.

 

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Quando acordei do meu sonho, encontrei Rudy ao meu lado.

— Wargh…

Não pude deixar de soltar um gritinho. Isso, felizmente, não o acordou. Ele estava profundamente adormecido e possuía uma expressão de paz no rosto. Eu já tinha o visto assim em Buena Village… mas foi a primeira vez que tive a chance de vê-lo, adulto, dormindo assim.

Um adulto, huh…?

A palavra me fez pensar no que havíamos feito na noite anterior. Quando olhei para o cobertor, descobri que estávamos sem roupa nenhuma. A agradável ebriez da sonolência deu lugar ao constrangimento, e de repente fiquei consciente da dor que existia entre as minhas pernas.

Nós realmente fizemos…

Era algo com que sonhei por anos, isso para não incluir os detalhes e cenários. Mas agora era realidade. Quanto mais eu me lembrava da noite anterior, mais queria apertar o travesseiro contra o meu peito e rolar na cama dando chutinhos, com uma mistura de vergonha e êxtase.

Gah…

Enquanto eu cobria o rosto com as duas mãos, acidentalmente bati com o cotovelo no ombro de Rudy. Por nenhuma razão em particular, pressionei minha bochecha contra aquele ombro. Rudy, de longe, parecia magro, mas na verdade tinha um corpo surpreendentemente musculoso. Ele era agora grande o suficiente para me envolver toda com os seus braços.

Agh! Pare!

Eu realmente precisava colocar esses pensamentos sob controle. Meu rosto iria colocar fogo em algo.

Me afastei do Rudy. Mas enquanto eu me movia, ele franziu a testa.

— Mm… — Ele estava fazendo careta enquanto dormia, parecia até que estava sentindo alguma dor. Quando segurei a sua mão com a minha, porém, a sua expressão se suavizou. Nesse ponto, ele finalmente abriu os olhos. E depois de olhar para o teto por alguns segundos, lentamente se virou para mim.

— Bom dia, Rudy. — Quando falei com ele, uma clara expressão de alívio se espalhou por seu rosto. Cerca de dois segundos depois, ele estendeu a mão para mim e agarrou os meus seios. — Hyaah! O q… Rudy!

Não dei um soco nele nem nada assim. Principalmente porque meio que gostei dessa sensação.

Depois de me apalpar um pouco, Rudy me abraçou com força e murmurou “Estou curado” com uma voz cheia de sentimentos. Eu não entendi o que ele quis dizer na mesma hora. Mas havia também uma outra coisa em minha mente.

— Uhm, Rudy…? O que você acha? Meu corpo é… bom, certo? — Fiz minha pergunta, toda tímida, meu coração disparando de ansiedade. Senti que agora estava provavelmente tudo bem. Mas ainda queria ouvir a sua resposta.

— Obrigado. — Isso foi tudo que o Rudy disse.

Na caverna eu não entendi por que ele me agradeceu, mas dessa vez entendi. Desta vez, fui capaz de ajudá-lo. Em alguns aspectos eu talvez não fosse igual a ele. Mas ainda conseguia apoiá-lo.

De nada.

O sonho que persegui por tantos anos por fim se realizou.

A partir de então, Rudy e eu éramos um time.

 


 

Tradução: Pimpolho

Revisão: PcWolf

 

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