Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 08 – Cap. 07 – O Sequestro e o Confinamento das Garotas Feras (Parte 1)

 

Linia Dedoldia. A neta de Gustav, o líder dos Dedoldia, uma das tribos Doldia atuando como protetora da Grande Floresta. A filha do Guerreiro Líder Gyes, a próxima na sucessão para ser a Líder Tribal.

Pursena Adoldia. De outra tribo Doldia atuando como protetora da Grande Floresta. Neta do Bulldog Líder Tribal de Adoldia e filha do Líder Guerreiro, a próxima na sucessão a ser Líder Tribal de Tertelia.

A Tribo Doldia era uma raça especial entre o povo-fera. Suas raízes remontam a quase 5.500 anos atrás, após a primeira Grande Guerra Demônio-Humano. Os humanos haviam vencido a guerra e se tornado mais arrogantes após ela. Diante de uma invasão iminente, o povo-fera que vivia na vasta fonte de madeira que era a Grande Floresta foi forçado a tomar uma posição. Seu alfa na época, o Deus Fera Giger, comandou o povo-fera contra os humanos desprezíveis e lutou pessoalmente na linha de frente. Ele exerceu seu poder e sua inteligência para resgatar outro povo-fera enquanto defendia a Grande Floresta. Mesmo depois da morte de Giger, a Tribo Doldia foi reverenciada como chefe entre os povos-fera da Grande Floresta.

Nos dias atuais, o povo-fera não se limitava apenas à Grande Floresta, e estava se expandindo pelo Continente Central e pelo Continente Begaritt. Não eram tão numerosos quanto os humanos, mas eram comuns o suficiente para que não pudessem ser simplesmente ignorados e exerciam grande influência entre os elfos, anões e hobbits. Havia poder militar suficiente dentro da Grande Floresta para ir de igual para igual com o País Sagrado de Millis, caso o povo-fera assim desejasse.

Linia e Pursena eram as netas dos Líderes Tribais Doldia, descendentes diretas do Deus Fera. Em termos humanos, tinham a mesma posição que princesas.

Por que, então, essas garotas estavam tão longe de casa para estudar em uma terra tão distante? Porque o príncipe (Gyes) e a princesa (Ghislaine) da geração anterior bagunçaram tudo e, como eles, Linia e Pursena não eram muito inteligentes. O Líder Tribal Gustav ordenou que fossem estudar em uma terra longínqua na esperança de que encontrassem sabedoria, talvez pensando que estar em um lugar onde não poderiam exercer sua autoridade lhes ensinaria o significado disso.

No entanto, Gustav calculou mal. Ele enviou Linia e Pursena para a Universidade de Magia, assumindo que suas posições como netas de líderes tribais do povo-fera não teriam significado no lugar. As garotas também se prepararam para a discriminação, mas foram saudadas por professores que as trataram com grande cautela e por outros alunos que tentaram bajulá-las.

No momento em que Linia e Pursena entenderam que sua linhagem ainda tinha peso mesmo tão longe, isso subiu às suas cabeças. Quando se matricularam, tremeram de medo ao redor dos humanos, mas isso mudou no momento em que viram o quão tímidos aqueles humanos eram ao seu redor. Logo perceberam que a combinação da magia encantada que aprenderam em sala de aula, sua Magia Vocal (que era transmitida pela Tribo Doldia), destreza e força era o suficiente para colocar até mesmo o veterano mais forte de joelhos, e, com isso, seu comportamento foi ficando pior e pior. Extorsão, chantagem, intimidação – elas se tornaram completas delinquentes em bem pouco tempo e, em um ano, haviam se tornado as chefes de sua própria facção.

Seu avanço constante, entretanto, logo chegou ao fim. Quando chegaram ao segundo ano, uma princesa chegou do Reino Asura. A Segunda Princesa Ariel Anemoi Asura. Esta mulher, que recentemente criou sua própria facção e se envolveu em uma luta pelo poder em sua casa, tinha consigo dois guardas e valsou direto para o território de Linia e Pursena, como se fosse a dona do lugar. Até mesmo os professores que estavam à disposição de Linia e Pursena voltaram sua atenção para Ariel.

Frustradas e irritadas, Linia e Pursena toleraram Ariel – até que ela se juntou ao Conselho Estudantil, apesar de ser do primeiro ano. Enquanto Ariel recebia muitos elogios por ser uma estudante de honra, Linia e Pursena, que haviam sido rotuladas como delinquentes, ferviam com ressentimento. Começaram a mexer com a princesa e seu grupo. Tudo começou com simples assédio, como cuspir no chão na frente da princesa e de seus seguidores quando se cruzavam no corredor. Intencionalmente batiam seus ombros com ela, jogavam água nela, roubavam sua calcinha e jogavam na frente do dormitório masculino, entre outras coisas.

O assédio continuou aumentando – até que toda a multidão de delinquentes foi totalmente espancada por Mestre Fitz, agindo por conta própria. Corria o boato de que o confronto tinha sido uma armadilha preparada por Ariel, o que não mudava o fato de que Mestre Fitz havia derrotado quase vinte oponentes sozinho. Os professores se reuniram, e todos os subordinados de Linia e capangas de Pursena foram expulsos – exceto elas duas, mais uma vez protegidas por seu status.

Sua reputação foi arruinada. Seus lacaios se foram, então não tinham mais aliados. Sua posição social despencou, e a Princesa Asura e seu grupo se tornaram heróis aos olhos do corpo estudantil. Embora tecnicamente uma aluna especial, a princesa insistia que ela e seus guarda-costas fossem tratados da mesma forma que os alunos da admissão geral, o que só servia para aumentar a sua popularidade.

Linia e Pursena, é claro, não ficaram nada satisfeitas. Descarregaram sua raiva em dois outros alunos especiais que haviam se matriculado no ano anterior, Zanoba e Cliff, e uma vez que os derrotaram de forma sólida, passaram a usar Zanoba para reunir informações sobre a Princesa e sua laia. No momento, porém, não fizeram nenhum movimento rumo à vingança. Sua conduta ainda poderia ser melhorada, e atualmente estavam levando até as aulas a sério e as assistindo. As pessoas poderiam até dizer que foram reabilitadas.

 Sua guerra com Ariel estava acabada… ou assim parecia.

 

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Ponto de Vista do Zanoba

Um mês se passou desde que Julie se tornou a aprendiz de nosso mestre.

O Mestre estava usando um método peculiar de treinamento, afirmando: “Isso é um experimento.” No início de cada dia, Julie teria que lançar um feitiço usando um encantamento.               Depois disso, ele não ensinaria mais nenhum feitiço, mas faria com que ela conjurasse blocos de terra em silêncio. Não acho que ela aprenderia a usar magia não verbal dessa forma, mas para meu choque, a garota conseguiu após um mês.

Isso mesmo – em apenas um mês, Julie havia criado um pedaço de terra com sucesso. Sem qualquer encantamento. Uma realização surpreendente.

De acordo com o Mestre, entretanto, ela ainda tinha muito que aprender. Julie só conseguiu conjurar a terra sem um encantamento daquela vez, e também ficou sem mana bem rápido. Ainda assim, em comparação com alguém como eu, que não tinha nenhum talento para magia… Eu não podia acreditar.

— Tudo isso graças ao Mestre Fitz e seus conselhos — disse o Mestre, mas era ele quem a ensinava, o que significava que era ele quem deveria ser elogiado. Eu estava certo ao me tornar seu pupilo.

Junto com a magia, o Mestre ensinava a linguagem dos homens para Julie. Ela já conhecia algumas palavras, coisa que fazia sentido, visto que havia vivido com seus pais por alguns anos no Continente Central. Julie pegava e aprendia as coisas rapidamente. Se eu dissesse a ela para me trazer isso ou aquilo, selecionaria a coisa correta sem qualquer instrução detalhada. Sua intuição estava de acordo com o que eu queria. Isso me lembrava de Ginger.

Os escravos recém-comprados geralmente eram marcados com uma marca ou selo mágico, mas o Mestre não gostava desse tipo de coisa, então me contive. Afinal, pretendíamos que Julie fosse mais uma aprendiz do que uma escrava.

Então, um dia, ocorreu um incidente.

Era tarde da noite e eu estava instruindo Julie sobre a história e a magnificência das estatuetas. Ela não seria capaz de me ajudar em minha enorme empreitada se não tivesse paixão pelo ofício. Naquele dia em particular, decidi usar a estatueta de Ruijerd para ilustrar o brilho da obra do Mestre. A tirei de uma caixa de armazenamento trancada: a estatueta de um guerreiro que emanava uma sensação de poder e pavor, infinitamente fascinante para mim, não importa quantas vezes eu a visse.

O Mestre, que estava prestes a voltar para seu quarto, olhou para o objeto. Ele perguntou:

— A propósito, o que aconteceu com a estatueta da Roxy?

No momento em que ele perguntou isso, o suor frio cobriu todo o meu corpo. Quase respondi: “Deixei em Shirone”, mas seria mentira, então mordi meu lábio com força e me contive. Eu… não vou… contar uma mentira. Eu nunca, jamais, mentiria para o Mestre.

Finalmente, falei:

— A verdade é que… tecnicamente está aqui, mas… — Minha boca não se movia direito. Minhas mãos tremiam. Se ele soubesse o que aconteceu, o Mestre poderia renunciar a mim como seu pupilo. O simples pensamento fez meu corpo parecer pesado feito chumbo.

— Cadê? Gostaria de vê-la, já que faz tanto tempo. Pode pegar ela? — Sua voz estava cheia de expectativa. Isso fez meu coração doer.

Com grande dificuldade, peguei uma das caixas de armazenamento trancadas debaixo da minha cama. Virei a chave com as mãos trêmulas e peguei o conteúdo. Naquele momento, a expressão do Mestre congelou.

— Ei, mas que diabos é isso…? — Sua voz tremeu. Estava monótona, sem entonação, mas de alguma forma tremia.

Eu estava à beira de lágrimas. A obra-prima do Mestre, a estatueta de Roxy em escala 1:8, foi tragicamente quebrada em cinco pedaços. Sua cabeça foi decepada, as partes que compunham suas roupas foram quebradas, seu braço foi arrancado à altura do cotovelo e sua perna dobrada em um ângulo estranho.

Apenas seu cajado robusto havia escapado em segurança.

— Explique isso, Zanoba. Você… eu… vamos lá, o que diabos é isso, hein…?! — O Mestre estava com raiva. O Mestre, que normalmente falava em tons cuidadosamente modulados, usando um discurso educado e sem qualquer paixão, estava tropeçando em suas palavras. — Não te disse o quão grato sou à minha professora? O quanto eu a respeito? Não entendeu quantos sentimentos por ela coloquei nesta estatueta quando a fiz?

O Mestre estava realmente zangado. Quando foi alvo da zombaria de Linia e Pursena, respondeu de forma autodepreciativa, ficou desanimado quando Cliff o atacou, e quando Luke zombou dele, tudo que fez foi adotar uma expressão preocupada. Mas aquele mesmo homem, meu mestre, estava transbordando de intenções assassinas. Aterrorizada, Julie se escondeu atrás de mim. Eu também queria me esconder.

— Não me diga… você está tirando sarro da Roxy? Você por acaso é um inimigo?

— N-n-não é isso! — Balancei minha cabeça freneticamente.

O Mestre falava o tempo todo sobre Lady Roxy, sobre o quão incrível e merecedora de respeito ela era. Senti que não era apenas adoração, mas algo mais parecido com fanatismo religioso. Era a mesma vibração que recebi dos Cavaleiros do Templo. Para ser sincero, eu realmente não me importava nem um pouco com Lady Roxy, mas se falasse isso, o Mestre me acertaria com sua raiva. Se ele ficasse sério, não sobraria nada de mim além de cinzas. Eu tinha a força sobrenatural de uma Criança Abençoada, mas meu corpo não era tão resistente à magia.

— Não é nada disso! — gaguejei. — Este é o meu bem mais precioso, aquele que apostei quando duelei com Linia e Pursena! Depois que perdi aquele duelo, ele foi tragicamente destruído quando elas o pisotearam, mas eu com certeza não fiz nada para zombar de Lady Roxy!

— Duelo, você disse?

Contei a ele o resto da história, sendo sincero e falando apenas a verdade. Há um ano, Linia e Pursena me desafiaram para um duelo. O perdedor ofereceria o que havia de mais precioso para ele, que, para mim, era minha estatueta de Roxy. Eu não tinha dúvidas de que venceria, visto que era uma Criança Abençoada e nunca havia sido derrotado enquanto estava em Shirone. Mesmo se usassem magia de nível Avançado em mim, eu estava preparado para enfrentar isso e balançar meus punhos cerrados em direção delas.

Mas as duas usaram uma magia estranha em mim. Elas me paralisaram, então, como eu não conseguia me mover, acabaram comigo. Solucei sem parar enquanto entregava minha estatueta. Entretanto, isso precisava ser feito. Afinal, eu tinha perdido. A culpa por um item tão maravilhoso ser tirado de mim era minha. Qualquer um que o visse o desejaria.

Mas, de alguma forma – se é que pode acreditar – aquelas duas não apreciaram o valor do item! Disseram coisas com: “Que porra é essa?” e “Credo, mew”, antes de jogá-la no chão e pisoteá-la, quebrando-a em pedaços.

Depois de explicar tudo, a intenção assassina do Mestre diminuiu.

— Então foi isso que aconteceu. Entendo. — Ele me deu alguns tapinhas no ombro.

Ele entendeu! Com esse pensamento, levantei minha cabeça – apenas para guinchar pateticamente. A intenção assassina que emanava dele não havia diminuído em nada! Agora havia algo ainda mais sinistro na expressão no rosto do Mestre.

— Você deveria ter me contado isso antes. Se eu soubesse que foi isso que aconteceu, não teria sorrido como um idiota. — Suas palavras soaram quase gentis, mas eu podia ver através delas. O Mestre não falava muito sobre estatuetas. Nos últimos tempos, me peguei até pensando que ele não as amava tanto. Estava errado. Os sentimentos escondidos dentro do coração do meu Mestre queimavam com mais ferocidade do que os de qualquer outra pessoa. — Vamos dar uma lição àquelas garotas.

Linia e Pursena iam morrer nesta noite. Eu tinha certeza disso.

Tremi pelo que, a princípio, pensei ser medo, mas logo percebi que era alegria.

— Sim, Mestre!

Com este poderoso aliado ao meu lado, poderia finalmente me vingar por minha estatueta destruída.

 

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Ponto de Vista do Rudeus

Imperdoável.

Eu definitivamente odiava valentões. Poderia perdoar as garotas por mandarem em Zanoba como se fosse um servo após o derrotarem – afinal, elas se acalmaram quando Mestre Fitz fez o mesmo com elas. Mas eu nunca poderia, jamais, perdoá-las não apenas por pegar algo que outra pessoa havia feito, mas por pisar e destruir de propósito! Uma demonstração ultrajante de violência! Era o mesmo que alguém destruir o computador de outra pessoa! Ugh, droga. Eu não deixaria que saíssem impunes.

Podia até ser só uma estatueta, mas elas chutaram a Roxy. Ri dos registros históricos de oficiais do período Edo fazendo supostos cristãos pisarem em objetos que representavam Cristo para provar sua culpa, mas agora entendia os sentimentos daqueles cristãos. Entendi o insulto de ver alguém pisoteando algo em que você acreditava, bem diante de seus olhos. A verdade por trás da Rebelião de Shimabara. A Humilhação de Canossa. Os cruzados que fizeram suas jornadas impossivelmente longas para a Terra Santa.

Linia e Pursena não entendiam até que ponto minhas memórias de Roxy me confortavam desde que meu problema de disfunção erétil surgiu, é claro. Então, eu precisava fazer aquelas vira-latas perceberem a gravidade do que fizeram. Iria ensiná-las que, quando vivessem de acordo com seus próprios caprichos egoístas, colheriam as consequências.

— Você está ouvindo, Senhor Zanoba?

— S-sim?

— Vamos capturá-las com vida. Sem matá-las. Precisam ser punidas por desafiar Deus.

— Punidas? Sim, entendo.

— No momento, acho que seria melhor se pudéssemos capturar cada uma delas separadamente.

— Mas as duas estão sempre juntas.

— É mesmo. Não são estúpidas, e são fortes o suficiente para te derrotar, mesmo sendo duas contra um. Parece que esta será uma batalha formidável.

— Não! Acho que não são páreo para você, Mestre.

— Não vamos superestimar minhas habilidades. Afinal, a vitória cai nas mãos daqueles que permanecem humildes. — Eu estava mantendo minha compostura. Calmo e controlado. Quando eu era um aventureiro, ser sensato representava a diferença entre a vida e a morte. Se mantivesse a calma, poderia destruir as duas diabas. — Certo! Aqui está o meu plano!

— Certo!

— A força de batalha delas é uma variável desconhecida, mas já conheço o estilo de ataque que usam. Uma irá atacar rapidamente, usando magia e coisas similares para confundir seu oponente, enquanto a outra usará a distração para tornar seu inimigo impotente com Magia Vocal. Se forem atacadas pela retaguarda, podem trocar de função na mesma hora.

Como Mestre Fitz conseguiu romper a coordenação delas? Devia ter perguntado isso a ele.

— Mas, desta vez, será duas contra dois. Em uma partida mais igualitária, você, Zanoba, não deve ter problemas para acompanhá-las, já que é uma Criança Abençoada.

— Mestre, você nem mesmo precisa de mim. Poderia acabar com elas sozinho — disse ele.

— Zanoba, você me idolatra porque sou seu mestre. E embora eu aprecie isso, quando se trata de combate corpo a corpo, minha amiga de infância, que era dois anos mais velha do que eu, sempre me batia até eu perder os sentidos. Desde então treinei muito, mas não posso dizer com sinceridade que me sinto confiante a respeito disso.

— O quê?! Há alguém por aí que poderia te bater até você perder os sentidos, Mestre?!

— É claro. Pelo que eu saiba, pelo menos quatro pessoas. — Eris, Ruijerd, Ghislaine e Orsted. Esses eram apenas os que eu conhecia – certamente havia mais por aí, e nenhuma garantia de que Linia e Pursena pudessem não estar entre eles. Se usasse magia e meu olho demoníaco, seria capaz de derrotar Eris, mas nunca lutamos a sério um com o outro. Linia e Pursena tinham mais ou menos a mesma idade que ela. Provavelmente seria melhor presumir que ambas eram tão fortes quanto a garota.

— Você está sendo humilde demais, Mestre.

— Zanoba, a vitória deve ser absoluta. O passado não pode se repetir. Mestra Roxy nunca mais deve ser pisoteada. Para ser honesto, eu realmente gostaria de pedir a ajuda do Mestre Fitz e Elinalise, mas, infelizmente, os dois parecem estar ocupados.

Elinalise não se envolveria em uma briga pessoal, de qualquer maneira. Mesmo tendo passado um tempo com Roxy, ela provavelmente diria: “É só uma estatueta. Não é como se a Roxy real tivesse levado uma surra.” Que mulher sem coração.

— Muito bem. Vamos lançar o nosso desafio a elas. Na minha terra natal, enviar uma carta com uma faca e uma única flor é um costume antigo. Entre as tribos Doldia, atirar frutas podres na cabeça de seu oponente é, pelo visto, o método equivalente. Certo, eu nunca tinha ouvido falar desse costume antes, então pode ser mentira, mas é o que me disseram. O que acha, Mestre?

— Vamos lançar um ataque surpresa — falei.

— O quê? Mas isso não é baixo…?

— Zanoba.

— Sinto muito, falei algo que não devia!

Hmph. Não me importava se ele pensasse que eu era baixo. Não seria um duelo – seria uma guerra santa. Tudo que precisava ser feito era vencer!

 

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No final, entretanto, desisti de lançar um ataque surpresa porque não conseguia pensar em uma maneira de enganar seu olfato apurado. Decidimos simplesmente emboscá-las, de maneira justa.

Fomos a um prédio a alguma distância do prédio principal da escola, procuramos o caminho para os dormitórios e nos acomodamos em um local deserto. Havia um pedaço de floresta perto de nós, onde cruzamos os braços e ficamos com os pés firmemente plantados. Já estava de noite. O caminho estava praticamente deserto. Escolhemos este horário porque era quando as aulas de nossas oponentes acabavam e elas deixavam o prédio da escola. Além disso, podiam estar com pouca mana ao final do dia.

Tirando isso, estávamos esperando um pouco. As garotas ficavam até o final das aulas, em completo desacordo com sua imagem de delinquente. Deviam estar sendo dispensadas das aulas da tarde e se reunindo com o resto de sua laia na frente de uma loja de conveniência. A noite se aprofundou e a área ao nosso redor começou a escurecer, engolindo as sombras lançadas por nossos corpos. Comecei a pensar que seria constrangedor se alguém nos visse assim, juntos em nossas posturas ridículas, apenas esperando.

E então elas finalmente apareceram.

— O que é isso, mew?

— O que está acontecendo?

Linia olhou com desconfiança ao nos ver.

— Ei, vocês dois. Vocês estão no nosso caminho, mew. Afastem-se, mew.

Ela fez suas exigências, mas não nos movemos. Pursena contraiu o nariz, parecia estar cheirando algo. Ela lambeu as bordas dos lábios, mostrando um enorme sorriso.

— Linia, parece que eles querem continuar com isso.

Linia deu uma longa olhada em Zanoba, que estava parado atrás de mim. Então soltou um único suspiro.

— Zanoba, você não se sente envergonhado, mew? Não posso acreditar que trouxe este garotinho com você para a sua única chance de vingança.

— Hmph.

Em resposta ao desdém de Zanoba, uma veia azul pulsou na testa de Linia.

— Ora, seu! Não gosto da sua atitude, mew. Parece que você quer que quebremos aquela outra estatueta que você tem, mew.

— Grr… Mestre, deixe isso comigo. — Zanoba estava com um olhar indignado ao se aproximar, mas o contive. Eu compartilhava de sua raiva.

Ela provavelmente estava falando sobre a estatueta de Ruijerd – em outras palavras, ameaçando destruir a imagem de outra pessoa que salvou minha vida, alguém que eu respeitava e considerava um amigo.

— Não, não se preocupe com isso… — falei. — São elas que deveriam ter vergonha, sempre agarradas desse jeito. É quase como se quisessem que todos soubessem que não podem fazer nada sozinhas.

— O que você acabou de dizer, mew…?!

As meninas irradiavam ameaça e incredulidade, mas eu não estava com medo. Já conhecia pessoas muito mais intimidantes do que elas. Se eu dissesse algo ofensivo para Eris, ela não diria qualquer palavra. Apenas me atacaria.

— Novato! Não fique tão cheio de si, mew! Vou ser legal e deixar isso passar, já que você é conhecido do meu avô, mas continue latindo assim e eu vou te destruir!

— Se entendeu, então vá embora, saia daqui, mew! Estamos ocupadas, somos estudantes de honra, agora que desistimos de ser delinquentes, mew. Vão brigar em outro lugar, mew — disse Linia, acenando a mão em nossa direção, como se nos enxotando dali.

Havia um provérbio: “Se você não gosta de um homem, passará a odiar tudo o que ele representa.” Há muito tempo eu teria achado esse “mew, mew” muito excitante, mas agora, parecia que ela estava zombando de mim.

— Você é incapaz de falar de forma normal? As pessoas do povo-fera que conheço sabem conversar direito. Você não é mais um bebê, então pare de falar como um!

— Mew?!

Linia ficou de boca aberta. Então suas pupilas se estreitaram rapidamente. Um suspiro raivoso saiu de seus lábios, e sua cauda ficou reta e rígida.

— Seu desgraçado… Vou tirar sua roupa e jogar água em você, mew!

Já tinham feito isso comigo antes. Mas que ameaçazinha mais patética.

— Tsk. A Linia sempre perde a paciência rápido… porra. — Pursena murmurou para si mesma enquanto mostrava suas presas e colocava a mão na boca. Lembrei-me de quando Gustav fez a mesma coisa e me deixou impotente. Ela estava prestes a usar Magia Vocal.

— Fwah! — Como se chamada à ação pelos movimentos de Pursena, Linia deu o pontapé inicial. Houve um estrondo retumbante quando ela saltou para a esquerda e desapareceu.

Linia se moverá três passos para o lado e, de repente, mudará o curso e atacará.

Ela era rápida, mas eu já tinha ativado o meu olho da previsão.

— Zanoba! Você cuida da Pursena!

Enquanto eu seguia Linia com meus olhos, empurrei minha mão em direção a Pursena. Magia Vocal era difícil de rastrear com meu olho demoníaco. Era melhor pará-la antes que ela usasse, mas eu não tinha ideia de como o fluxo de mana funcionava para a Magia Vocal, então não fazia ideia se o Atrapalhar Magia funcionaria. Em vez disso, conjurei uma grande nuvem de poeira bem na frente dela.

— …! Geheh! Geheh! — Tendo aspirado uma grande quantidade de ar, Pursena tossiu violentamente toda a poeira que inalou.

— Shah!

Ao mesmo tempo, Linia entrou em ação. Eu conseguia ver. Seu ataque foi lento, desajeitado e apoiado por toda a força que ela conseguiu reunir. Eu provavelmente poderia lidar bem com isso, mesmo sem meu olho demoníaco. Ela não podia se comparar a Eris, cujos ataques eram mais rápidos, mais nítidos, mais fortes, mais resistentes e mais bestiais do que os do povo-fera real.

A contra-ataquei. A palma da minha mão bateu em seu queixo. Isso foi o suficiente para fazer suas pernas estremecerem. Bati meu punho contra sua têmpora, mandando-a para o chão, onde coloquei meu pé em seu peito e a acertei com um canhão de pedra. Uma explosão agradável ecoou ao nosso redor.

— Gyamew?! — Linia se apagou como uma luz.

Levantei meu pé de seu corpo, agora esparramado feito um sapo no chão. O impacto de nossa batalha levantou sua saia. Hm, então hoje ela está de branco.

Voltei meu olhar para Zanoba e Pursena. Tínhamos planejado que ele fosse atrás da atacante à retaguarda, aquela que usaria Magia Vocal, e ele estava fazendo exatamente como eu instruí. Pursena estava fugindo de quatro, e ela era rápida… na verdade, não. Zanoba que era lento. Ele realmente precisava melhorar sua velocidade de corrida.

Conjurei um atoleiro na frente de Pursena. Seus pés foram sugados de repente para a lama e ela plantou o rosto naquilo. Ao mesmo tempo, usei minha magia para endurecer a lama.

— O quê?! O que é isso?! — Pursena entrou em pânico, tentando puxar seu corpo para fora da terra sólida.

Usei minha mão esquerda para apontar um canhão de pedra para ela.

— Gyah?!

Houve outro estrondo satisfatório e Pursena desmaiou.

Estava tudo acabado.

 — Ufa… certo, venha aqui! — Assim que demos o sinal, Julie, que estava escondida em um arbusto próximo, correu até nós carregando um grande saco de juta. Ela e Zanoba trabalharam juntos para colocar as duas garotas fera rapidamente dentro dele.

 Que luta insatisfatória. Isso era realmente tudo que havia para ser feito? Se Eris fosse minha oponente, nunca teria feito um desvio e me atacado de lado. Seu punho sempre percorria a distância mais curta até o alvo. Ela nunca teria se permitido ser atingida pelo meu primeiro contra-ataque e, mesmo que o fizesse, teria recuado na mesma hora para evitar o que viria a seguir. Mesmo se de alguma forma fosse jogada no chão, voltaria a lutar comigo e lançaria seu próximo ataque. Eu nunca consegui colocar meu pé em seu peito. No momento em que tentasse isso, ela agarraria meu joelho ou tornozelo e quebraria meus ossos – é claro, isso não teria parado meu canhão de pedra.

E, claro, essas não eram coisas que Eris sabia desde o início. Foram coisas que aprendeu lutando comigo. Mas também havia Paul, que encontrara uma maneira semelhante de lidar com meus ataques, mesmo na primeira vez em que os viu. Um espadachim de nível Avançado com enorme experiência em batalha poderia facilmente evitar algo como o meu atoleiro. Quero dizer, nem mesmo as feras selvagens iriam – na verdade, o retardatário foi pego em meu atoleiro.

Espera aí. Será que Paul e Eris eram particularmente fortes? Já tinham me dito que eles eram talentosos, mas…

— Impressionante como sempre, Mestre. Você nem mesmo precisava de mim. — Zanoba voltou carregando o saco de juta.

Me virei para encará-lo.

— Também estou surpreso.

— Você está sendo humilde de novo. Venha agora, vamos voltar para o seu quarto.

— Certo. — Percorremos o caminho escuro, com cuidado para não sermos vistos. — Julie, olhe por onde anda.

— T-t-tá. — Por algum motivo, tive a impressão de que havia medo nos olhos de Julie enquanto ela olhava para mim.

 


 

Tradução: Dr. Pimpolho

Revisão: PcWolf

 

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