Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 08 – Cap. 03.5 – História Paralela: Sylphiette (Parte 1)

 

Durante a manhã, acordei com o som dos pássaros. Ainda estava bastante escuro quando olhei da janela para o lado de fora.

— Mm… Aaah…

Me endireitei tentando me livrar da sonolência enquanto ela se agarrava a mim. Então escorreguei para fora da cama, que não era luxuosa nem rude, e me espreguicei.

De debaixo da minha cama, tirei um balde, enchi-o com magia e lavei o rosto. Então comecei a me aquecer para meus exercícios matinais. Sentei e estiquei os pés, depois girei os braços em círculos para soltar as articulações e os músculos dos ombros e, por fim, respirei fundo.

Meu corpo parecia estar em boas condições. Devia ser graças ao sonho bom que tive. A estrela dele foi o Rudy. Ele fez amor comigo. Não lembro do motivo, mas lembrava de como aquilo me deixou feliz. Quando acordei e descobri que foi tudo um sonho, fiquei desapontada.

Troquei meu pijama por roupas que serviam para se mover com facilidade; um top marrom-claro e calças, feitas de material macio. Nada sexy. Antes de sair, coloquei um chapéu gigante que cobria completamente o meu cabelo e orelhas.

O quarto ao lado do meu era uma suíte luxuosa. Continha uma cama com dossel, na qual estava a Princesa com seus lindos cabelos dourados. Seu rosto parecia angelical enquanto ela dormia, e não havia indicação de que acordaria logo. Ainda era muito cedo para isso.

Me arrastei em silêncio para não acordá-la e fui para o quarto ao lado do dela. Sentado em uma cadeira, parecendo um pouco sonolento, estava um jovem. Usava uma camisa comum, mas suas calças eram feitas de couro e ele tinha uma espada pendurada na cintura. Seu cabelo era branco e um grande par de óculos de sol escondia seu rosto.

Na mesa ao lado dele havia um sino. Se ele o tocasse, o sino do quarto vizinho também tocaria. Um sinal para os dois que aguardavam nas proximidades – o Cavaleiro da Princesa e a Assistente da Princesa – disparassem em sua direção.

— Bom dia, Fitz.

— Mm… dia, Sylphie.

Quando o cumprimentei, Fitz sorriu suavemente e retribuiu o gesto. Este Fitz era um dos Assistentes da Princesa e meu amigo. Seus deveres de assistente o mantinham ocupado, mas quando tínhamos folga, ele estudava magia não verbal comigo. Se tratava de uma pessoa muito estudiosa. Suponho que poderia dizer que eu era sua mestra, embora, é claro, nunca me chamasse assim.

Fitz não se moveria de sua posição até que a Princesa acordasse. Afinal, ele era muito dedicado ao trabalho.

— Hoje você vai sair para correr de novo?

— Sim. É importante manter uma rotina de exercícios.

— Certo. Divirta-se.

Saí, deslizando para o corredor mortalmente quieto. Eu amava esse tipo de silêncio. Este lugar era sempre agitado e barulhento, mas durante esse horário em particular, ficava quieto. Durante a noite também ficava silencioso, mas parecia estranho, como se tivesse algo se escondendo em algum lugar.

Me movi furtivamente pelo corredor para não acordar ninguém, descendo a escada central até o primeiro andar e escorregando até a entrada. Após alguns passos na escuridão tênue, me virei. Um enorme edifício com telhado vermelho preenchia o horizonte. O dormitório estudantil da Universidade de Magia de Ranoa.

 

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Correr fazia parte da minha rotina matinal diária. Era algo que eu fazia desde que Rudy e eu nos separamos. Correr era importante. Eu não tinha entendido isso logo após ele partir, mas passei a entender. Poder continuar correndo quando estava no limite, convencida de que não poderia ir mais longe, tornava-se a diferença entre a vida e a morte. Não importa o quão bom alguém seja em magia ou esgrima, no final, o mais importante era a resistência.

Deixando isso de lado, eu também adorava correr. Só podia ouvir duas coisas durante uma corrida matinal – o som de meus pés e da minha respiração. Essas duas coisas baniam os meus pensamentos e limpavam a minha mente. Eu ficava ainda mais focada enquanto corria.

— Huff… huff…

Um dos meus objetivos para o início de cada dia era continuar correndo na Cidade Mágica de Sharia até não aguentar mais. Ao fazer isso, não apenas me familiarizava com a disposição da cidade, como também aprendia os meus limites físicos. Ninguém havia me ensinado isso, mas era algo que pensei que Rudy faria se estivesse no meu lugar.

Corri pelo Distrito de Oficinas. O centro fervilhava com o comércio e com pessoas descarregando suas mercadorias ao fazer barulho, mas essa parte ficava silenciosa. Corri por uma loja de esquina com um nome estranho e decidi virar em um beco estreito desconhecido. A disposição da Cidade Mágica da Sharia não era particularmente complexa, mas era repleta de pequenas vielas que eu não conhecia. Pretendia memorizar todas elas. Rudy, no meu lugar, sem dúvidas faria o mesmo.

— Ah, então é até aqui que isso leva?

O beco dava para uma rua que eu conhecia. Passava de uma área no Distrito das Oficinas, cheia de oficinas e moradias de artesãos, para uma parte do Distrito do Comércio, onde as lojas estavam alinhadas lado a lado, separadas por uma grande e sinuosa estrada principal. Eu não tinha percebido que havia uma rua menor conectando os locais. Provavelmente era um caminho que os artesãos usavam todos os dias. Agora que eu sabia, poderia pegar um pequeno atalho da escola para o Distrito do Comércio sempre que fosse às compras.

A conquista me deu alegria. Continuei correndo.

Depois de correr um pouco pela cidade, o céu ficou claro. Assistir ao nascer do sol era uma das recompensas por acordar cedo. Eu gostava do nascer do sol. A visão permanecia a mesma, não importa em que país estivesse, e isso me trazia conforto. Nunca me cansava de ver.

Assim sendo, devo ter ganhado um pouco de resistência nos últimos tempos, porque o sol estava começando a nascer antes mesmo de eu me cansar. Poderia precisar acordar um pouco mais cedo na manhã seguinte. Ainda assim, no momento voltei para a escola.

Quando retornei ao dormitório, a Princesa tinha acabado de acordar.

Ainda meio adormecida, se sentou na cama, arrastando-se lentamente para fora dela.

— Sylphie… dia.

— Sim, bom dia.

Foi essa a deixa para meu amigo sonolento do quarto ao lado, e comecei a vestir a Princesa. Eu tinha lutado com o dever no começo; suas roupas eram fundamentalmente diferentes daquelas com as quais eu estava familiarizada, com montes de botões e rendas. Mas no ano passado, a universidade instituiu uniformes que eram bem desenhados, mas de alguma forma simples de usar, então vestir a Princesa se tornou fácil. Tudo que precisava fazer era desabotoar seus pijamas, tirá-lo, colocar suas roupas de baixo e…

— Sylphie, hoje não estou com vontade de usar sutiã.

Às vezes ela fazia pedidos egoístas, mas eu não reclamava. Do jeito que as coisas estavam, eu era essencialmente sua serva. Escutava o que era dito e agia de acordo com seus desejos. Não me importava – afinal, ela me salvou após o Incidente de Deslocamento, quando eu não sabia o que era cima ou baixo – mas percebi que só fizera isso por seu benefício próprio. Ela se aproveitava de quem e do que podia. Ainda assim, foi por sua causa que sobrevivi, e queria ajudá-la o máximo que pudesse, considerando o quão doloroso foi para ela ser exilada de sua terra natal.

Sinceramente, não sabia o que ela realmente pensava de mim. Eu admirava seu comportamento gentil, mas comecei a entender as suas verdadeiras cores. Seu sorriso enfeitiçava qualquer um que o visse, mas era quase sempre falso. Era um sorriso com a intenção de tranquilizar a outra parte e mover todos de forma que lhe fosse benéfica. Ela usava aquele sorriso com frequência. Talvez todos seus sorrisos que cheguei a ver fossem mentiras. Os vi tantas vezes que cheguei a me perguntar.

Ainda assim, ela me salvou. Me tratou como uma igual e esteve lá para mim quando eu estava dolorosamente sozinha. Como tal, era como uma amiga para mim. A segunda que eu fiz. Talvez pudesse dizer até que era a minha melhor amiga. Ver suas verdadeiras cores não me fez odiá-la. Agora ela também estava sozinha, e lutando em um país desconhecido, e era minha vez de ajudá-la.

— Sylphie, o que há de errado?

— Você parece mais natural quando não sorri, Princesa.

— Minha nossa… você é a única pessoa que diria isso para mim — disse ela com uma risada. Esta também era falsa?

Por outro lado, a pele da Princesa era linda e macia. Eu não conseguia me comparar a ela, especialmente no momento atual, toda suada e coberta de manchas de sujeira por causa da minha corrida.

— Certo. Terminei, Princesa.

— Obrigada. Agora vá tomar banho antes de irmos comer.

Voltei para o meu quarto como me foi dito, pegando o balde e usando magia para enchê-lo com água morna. O país inteiro era frio nesta época do ano, então era bom que pudesse usar magia para coisas como esta.

— Uff…

Um sutiã, hein? A Princesa tinha uma variedade enorme, e eram todos realmente fofos. A maioria havia trazido consigo, mas alguns foram comprados com desconto do Reino Asura, por meio de um lugar chamado Loja Recompanhia, em Sharia, que tinha uma grande variedade de roupas íntimas entre outras coisas.

Enquanto isso, meu peito continuava plano mesmo para alguém com sangue de elfo. Depressivamente plano. Rudy havia me apresentado ao conceito de um efeito genético, mas sério, eu não poderia ter tido um ancestral bem dotado? Meu cabelo originalmente verde indicava que havia sangue de demônio em minha linhagem familiar, e minha mãe era meio-fera, então era abençoada na parte do peito.

No passado o meu corpo nada feminino não me incomodava, mas podia fazer alguma diferença no meu futuro. Seria devastador se me deparasse com alguém de quem gostasse e fosse confundida com um homem.

— Hmm — suspirei enquanto enxugava meu corpo e me vestia. Eu estava usando sutiã, é claro. Não achava isso necessário, mas a Princesa me ordenou que usasse um.

Joguei a água suja em um balde no canto do quarto; o usaria para depois lavar a roupa.

— Muito bem, hoje vamos com tudo de novo.

Dei uns tapinhas em minhas bochechas antes de sair do quarto.

 

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As aulas eram chatas. A maioria era sobre coisas que Rudy já havia me ensinado, e acompanhá-las me deixava bem ciente do quanto ele sabia sobre magia. Mesmo quando eu perguntava sobre coisas que não estavam no livro de magia, ele respondia na mesma hora.

Em certo momento tive muitas complicações com magia combinada, mas a maioria delas se resumia a: “Se você combinar esta magia e aquela, esse fenômeno ocorre, mas não temos certeza do motivo.” Pelo visto, ninguém tinha decifrado os códigos por trás de como a magia combinada funcionava. Mas Rudy o conhecia. Talvez fossem apenas as suas teorias, mas ele explicava de maneira que eu podia entender, e a maioria delas me fazia mais sentido do que as da professora.

— Ei, Sylphie, qual é o princípio operacional por trás dessa magia?

— Ah, isso… se você pegar uma pedra que ficou vermelha em uma fogueira e colocar em uma panela, a água também esquenta, certo? É o mesmo conceito.

Enquanto eu ouvia as palestras enfadonhas e lembrava dos ensinamentos de Rudy, a Princesa ocasionalmente me fazia perguntas e eu respondia. Ela era apaixonada pelos estudos, mesmo com essas coisas podendo não ser muito úteis quando voltasse para casa. Ela não estava apenas tentando tirar boas notas, estava tentando entender a magia.

Magia combinada era difícil, mas apesar do fato de que muitos em nosso ano estavam sendo reprovados nesta matéria, a Princesa estava se esforçando muito. Ver a sua paixão era cativante. Eu gostava de pessoas otimistas e apaixonadas pelos estudos. Rudy era assim, e eu gostava de pessoas que me lembravam dele.

Estava satisfeita com minha posição atual em parte porque considerava a Princesa uma amiga, mas também porque não me importava em servir a alguém. Para simplificar, gostava mais de fazer as coisas para as outras pessoas do que para mim mesma. A Princesa e meu amigo às vezes pareciam frustrados com isso, dizendo-me para formar minhas próprias opiniões, recomendando que eu encontrasse coisas que gostasse de fazer por mim mesma. Mas não havia nada que eu quisesse fazer. Meus pais desapareceram durante o Incidente de Deslocamento, mas já tinham sido encontrados. Ou melhor, descobri que eles morreram. Se encontrasse algo que queria fazer, voltaria minha atenção para isso. Até então, ficaria contente em ajudar alguém como a Princesa, que tinha grandes planos e grandes ambições.

— Sylphie, Sylphie!

— Pois não, Princesa?

— A próxima aula é de habilidades práticas. Com o que você está sonhando aí?

— Ah, sim. Entendo.

O corpo discente da universidade era diversificado. Muitos eram do Reino de Ranoa, do Ducado de Basherant e do Ducado de Neris, mas também havia aqueles humanos, como a Princesa, que saíram de seus países distantes do Continente Central para estudar no exterior. Havia gente-fera e elfos da distante Grande Floresta e demônios do Continente Demônio. Além dos humanos, muitos dos alunos eram mestiços, então me misturei bem.

O dormitório era totalmente mobiliado e, contanto que a taxa de matrícula fosse paga, garantiriam as necessidades diárias dos alunos. Além disso, as pessoas poderiam entrar na Guilda dos Magos após se formarem. Se alguém fosse membro da Guilda dos Magos e tivesse um diploma da Universidade de Magia, se tornar um professor em escolas de outros países seria fácil.

A aula de habilidades práticas era sobre como realmente usar a magia que aprendia nas aulas, mas focava principalmente em batalhas simuladas. Fazer essa aula com ex-aventureiros era particularmente interessante. Podiam não melhorar as notas nas matérias teóricas, mas nelas todas as pessoas poderiam mostrar suas verdadeiras habilidades no campo de batalha. Elas eram duras, diretas e práticas.

— Você está forte como sempre, Mestre Frict. Se não for muito incômodo, se importaria em me dar alguns conselhos?

— Você estava meio passo lenta demais para tomar a iniciativa. Não pode pressionar o seu oponente caso seu ataque não o alcance. Fique mais perto — instruiu ele.

Frict era o mais velho da nossa classe. Ele tinha cerca de 46 anos, eu acho. Usava um longo cajado reforçado com aço, e durante as batalhas simuladas entoava feitiços enquanto avançava rapidamente, às vezes parando os encantamentos para golpear o oponente com seu cajado ou chutá-lo. Os outros alunos se ressentiam dele por usar ataques corporais, embora devêssemos estar praticando magia, e o evitavam em batalhas simuladas.

Eu, pessoalmente, não via problemas. Frict era o único que levava as batalhas simuladas a sério. Elas eram conduzidas dentro de círculos mágicos, que eram bem grandes, mas ainda apresentavam uma limitação. Dadas as circunstâncias, fazia mais sentido avançar contra o oponente e acertá-lo do que parar de se mover e ficar trocando ataques mágicos.

Quando éramos mais jovens, Rudy treinava como se cada batalha fosse real. Eu estava convencida de que essa era a abordagem certa. Queria seguir o exemplo de Frict e, portanto, o procurava ativamente como oponente durante batalhas simuladas.

A propósito, o objetivo do Mestre Frict era se tornar um professor universitário. Eu admirava pessoas que sabiam o que queriam da vida.

 

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Assim que a aula terminou, voltei a cuidar da Princesa. Ela e os outros estavam constantemente trabalhando para alcançar suas ambições e, embora eu não entendesse tudo o que estava acontecendo, ajudava no que podia.

— Hoje vamos fazer compras.

— Entendido.

Pelo visto ela não tinha planejado nada de demais para o dia. Às vezes, tirávamos um dia para relaxar após uma grande discussão em grupo, embora esses dias fossem poucos e raros, dependendo inteiramente dos caprichos da Princesa. Bem, chamar isso de capricho não era completamente correto – era algo que ela decidia após levar nossos estados mentais em consideração.

Viajar para um país tão distante e desconhecido tinha afetado seus seguidores. A Assistente da Princesa teve algo parecido com um colapso nervoso, e eu fiquei terrivelmente triste quando descobri que meus pais estavam mortos. Essas pausas visavam uma mudança de ritmo, para garantir que não fôssemos tão oprimidos pela tristeza a ponto de nos tornarmos inúteis.

— Você vai sair vestida assim?

— Não há propósito em usar roupas elegantes quando é exatamente isso que vamos comprar.

Normalmente, a Princesa e sua Assistente se vestiam com esmero, mas por algum motivo ficavam indiferentes a respeito de suas roupas quando iam às compras. Enquanto isso, apenas entrar na loja favorita da Princesa me deixava incrivelmente constrangida sobre como parecíamos aos olhos dos outros.

— Vamos, por favor, se apresse.

Um punhado do nosso pessoal a acompanhava enquanto saíamos da universidade e caminhávamos pela estrada principal. Quando a Princesa, seu Cavaleiro e sua Assistente se moviam em grupo acabavam chamando a atenção de todos ao redor. A Princesa era linda, o Cavaleiro arrojado e a Assistente estonteante.

Eu seguia atrás, mas poderia dizer que os olhares de todos ficavam colados na Princesa. Ela se tornou conhecida na cidade. Assim como planejado. Fiquei meio feliz em pensar em como ajudei para que isso acontecesse.

— Ah. — De repente, lembrei do meu percurso de corrida durante a manhã. — Se vamos até a loja de roupas, sei um bom caminho para tomarmos. Deve ser um atalho.

— Verdade? Bem, então, por favor, nos guie.

O sorriso da Princesa era brilhante. Percebi isso enquanto a guiava pelo caminho que acabara de descobrir naquela manhã.

— Ahh, então realmente havia uma estrada aqui… Não é muito conveniente considerando o quão complexa e estreita é, mas tem seu charme.

— Considerando a idade dos edifícios, deve ser um resquício da cidade de quando foi construída — comentou o Cavaleiro enquanto olhava ao redor.

Sharia era uma cidade antiga. Nos dias atuais, com a universidade em seu centro, desenvolveu distritos comerciais fáceis de localizar. Mas quando foi construída, não era tão bem dividida. Há muito tempo, quando a Guilda dos Magos tinha uma fortaleza no local, suas ruas eram intrincadas e complexas. Enquanto fazia parte de Ranoa, Sharia se situava bem na fronteira com Basherant e Neris, e sua disposição labiríntica foi projetada para impedir a possibilidade de invasão de outros países.

— E eu aqui tinha certeza de que você não estava prestando atenção nas aulas, Luke.

— Não, isso só é algo que aprendi com uma garota com quem saí no outro dia. Algumas delas são bem informadas.

O Cavaleiro estava coletando informações sobre a cidade de uma maneira diferente da minha. Eu não pensava muito em seus métodos, mas os encontros constantes com garotas provavelmente faziam parte de seus próprios cuidados.

— Tente não brincar tanto a ponto de ser esfaqueado pelas costas.

— Sou um homem da casa Notos. Me certifico de sempre me manter longe de qualquer criadora de problemas.

Um homem da casa Notos, hein? Pensando bem, o sangue Notos também corria em Rudy, certo? Ele provavelmente também era um mulherengo. Lembrei de como sua atitude em minha relação mudou no momento em que descobriu que eu era uma garota. Ele provavelmente continuaria correndo atrás de saias mesmo depois de se casar com alguém. Seu pai certamente o fez.

Eu não era fiel da crença Millis, mas se fosse me casar, queria que meu parceiro se concentrasse em mim e apenas em mim. Mas Rudy provavelmente não gostaria disso, então eu teria que manter a mente aberta no caso de nos casarmos. Se ele levasse outra garota para casa, o melhor que eu poderia fazer, como sua esposa, seria reconhecê-la e me dar bem com ela. Se houvesse mais de três de nós, eu agiria como a mediadora para impedir que todas brigassem – espera, não, não, não. Esposa? Para começar, por que eu estava presumindo que me casaria com o Rudy?

— Sylphie, o que há de errado?

— Nada, não foi nada. Uh, por aqui. — Abandonei minhas ilusões selvagens quando a Princesa me fez uma pergunta. Não conseguia acreditar no quanto eu era idiota, sonhando com um futuro impossível. Um suspiro fez meus lábios tremerem.

— Ah, então é até aqui que isso leva. Com certeza é um atalho — disse a Assistente, surpresa ao sairmos do beco. Nosso destino, a loja de roupas, estava diante de nossos olhos.

— De fato. Esta é uma grande conquista, Sylphie.

— Ehehe. — Cocei minha bochecha quando a Princesa me elogiou e entramos na loja.

 

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Depois do jantar voltei para o meu quarto. Quando deu a hora de dormir, olhei para a roupa de baixo estendida acima da minha cama. Um sutiã e uma calcinha combinando.

— Hmm…

Mais cedo, na loja, a Princesa foi direto para a seção de roupas íntimas. Então, depois de uma intensa discussão com a Assistente, compraram roupas íntimas para mim. Isso mesmo. Para mim.

— Você precisa ter uma roupa íntima mais sexy, Sylphie, para se sentir confiante e assumir o controle quando chegar a hora certa — disse ela. Talvez tivesse me escutado resmungando comigo mesma durante a manhã. Ainda assim, o que diabos quis dizer com “quando chegar a hora certa”?

Me forçaram a experimentar os itens da loja. Falar isso pode parecer arrogância, mas achei que o conjunto, com seu tecido verde-claro e flores de renda, me caía muito bem. Meu corpo ainda estava tão esbelto que poderia ser confundido com o de um garoto, então não poderia dizer que eu ficava sexy, mas… talvez, se Rudy visse, poderia pensar ao menos que eu ficava bonita.

— Rudy, hein?

Talvez eu quisesse me dar bem com ele. Era graças a ele que minha vida estava como estava. Queria ser amiga dele e retribuir o favor – não, não era exatamente isso. Não era só isso. Esses sentimentos com certeza não eram derivados só de gratidão. Eu provavelmente… sim, acho que queria mesmo…

— …

Meu rosto esquentou quando cheguei a uma conclusão. Mergulhei na cama como se estivesse tentando me livrar dela e abracei o cobertor. Me enrolei em forma de bola, resistindo à vontade de rolar para lá e para cá.

Eu já sabia o que fazer. Finalmente descobri. Mas então, de repente, percebi algo. Quando isso aconteceu, fechei a mandíbula com força.

— O que eu faço…?

Fechei meus olhos após deixar essas palavras escaparem.

Naquela noite não dormi muito bem.

 


 

Tradução: Taipan

Revisão: PcWolf

 

 

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