Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 07 – Cap. 08 – Extra – A Governante da Universidade de Magia de Ranoa

 

Entre as Três Nações Mágicas, o Reino de Ranoa em particular era famoso por sua educação mágica, tendo produzido uma série de magos excepcionais. Cem anos antes, como líder da aliança entre as Três Nações, Ranoa havia estabelecido a Cidade Mágica da Sharia.

Três prestigiosas organizações, uma de cada país, estavam sediadas nesta cidade: a Oficina de Implementos Mágicos do Ducado de Neris, a Guilda dos Magos do Ducado de Basherant e, finalmente, a Universidade de Magia de Ranoa.

A universidade era a mais famosa das três. Havia lendas sobre seus participantes, que incluíam os magos da corte das Três Nações, o corpo docente das academias mágicas no Reino Asura e alguns aventureiros que deixaram sua marca no mundo. Havia até canções sobre aventureiros como Roxy Migurdia, uma ex-aluna da universidade. Atualmente, seu corpo discente chegava a mais de dez mil pessoas, e esta distinta escola colossal oferecia um currículo variado que ia além da magia.

Uma certa estudante havia se matriculado nesta instituição de prestígio – uma chamada Ariel Anemoi Asura.

 

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— Ah, Presidente Ariel! Bom dia!

— Bom dia!

Era uma bela manhã de primavera. As vozes ecoaram pelos caminhos arborizados que se estendiam dos dormitórios dos alunos ao prédio principal.

— Senhorita Sarria, Senhorita Misha, bom dia para vocês. — A mulher que respondeu aos cumprimentos era uma beldade carismática com cabelo loiro sedoso, brilhante o suficiente para fazer com que todas as cabeças virassem enquanto ela passava. — Eh? — Ela de repente se virou com um sorriso e uma mão estendida. — Senhorita Sarria, seu colarinho precisa ser endireitado.

— Hã? Ah…

— Pronto, está consertado. Você é linda, então devia prestar mais atenção à sua aparência.

— A-ah sim! — As bochechas da garota ficaram vermelhas.

Ariel assentiu com satisfação.

— Tenham um dia maravilhoso, garotas — disse ela, e continuou a descer a passarela.

A garota deixada para trás passou alguns momentos pasma antes de se virar para sua amiga, pulando de excitação.

— A Presidente Ariel me tocou!! E ainda disse que sou linda! Linda!!

— Isso é tão incrível! Sério!

Ariel ouviu o som agradável de seus gritinhos barulhentos enquanto continuava seu caminho para a escola. As pessoas explodiram em murmúrios quando a viram.

— Olha, é a Presidente Ariel! Ela está sempre tão bonita.

— Acho que eu devia tentar falar com ela…

— Idiota, como se ela fosse desperdiçar tempo com você.

Homens e mulheres exclamavam sua admiração ao vê-la. Mesmo com todos usando o mesmo uniforme, Ariel ainda brilhava como uma luz na escuridão.

— Olha, é o Mestre Luke e o Mestre Fitz!

— Eles são tão lindos…

— Olhar para os três juntos é quase como ver uma pintura ganhando vida!

Não era apenas Ariel que chamava a atenção – os dois protetores que a acompanhavam também eram alvos de inveja. Um era o belo Luke Greyrat, com seu cabelo castanho vibrante penteado para trás. O outro era o jovem Fitz, com seu cabelo branco curto e óculos de sol grossos. Os dois – o cavaleiro dos sonhos e o garoto bonito – serviam à mulher mais bonita da escola. A visão deles era o suficiente para excitar a imaginação dos outros alunos, fomentando a ideia de que esses três indivíduos existiam em alguma dimensão mais elevada do que o resto.

— Ei, você ouviu? Lady Ariel está procurando pessoas excepcionais.

— Para quê?

— Para serem seus retentores de confiança quando ela retornar ao seu reino. Ao menos foi o que ouvi.

— Isso é sério? Sensacional. Será que posso me voluntariar?

— Com suas notas? Até parece.

— Sim, é melhor continuar trabalhando nisso!

Aqueles três indivíduos invejados eram o centro das atenções da escola. Banhados pelo sol quente da primavera, pareciam ainda mais lindos do que no inverno. Todos acreditavam, sem sombra de dúvidas, que eles tinham um futuro deslumbrante pela frente.

Por que eram tão amados pelos alunos? Era por causa de sua aparência? Suas habilidades impressionantes? Esses eram fatores que contribuíam, é claro, mas não o motivo real.

Para entender como Ariel se estabeleceu em sua posição atual, teremos que retroceder alguns anos.

 

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Vários anos antes, Ariel Anemoi Asura havia perdido a batalha política no Reino Asura e fugiu do país. Alguns teorizaram que ela morreu no processo, mas embora fosse verdade que foi perseguida por assassinos, de alguma forma conseguiu escapar para o Reino de Ranoa. Ariel recebeu proteção do reino e então, como originalmente pretendido, matriculou-se com sucesso na Universidade de Magia.

Claro, ela não desistiu de recuperar o poder no Reino Asura. Ariel sabia que deveria retornar o mais rápido possível, por causa de Philemon Notos Greyrat, que ainda a apoiava de dentro do reino. Mas estava claro que a história se repetiria se ela voltasse como estava, e então a princesa concebeu a ideia de procurar talentos excepcionais na Universidade de Ranoa para mandá-los para Asura antes dela. Para cumprir esse objetivo, decidiu fortalecer sua influência na escola.

O conselho estudantil da universidade não possuía autonomia completa nem autoridade forte, mas era visto como o ápice de uma escola frequentada por dez mil alunos e muito influente entre esses alunos. Ariel, que estava procurando recrutar talentos antes mesmo de começarem a florescer, achou a organização excepcionalmente útil. Concentrada em seu objetivo e já extremamente talentosa, logo se destacou, e seu pedido para ingressar no conselho estudantil foi aprovado, apesar do fato de ser apenas uma primeiranista.

Após passarem alguns meses e Ariel ficar certa de que tinha uma base sólida para trabalhar, reuniu todos os seus assistentes em seu quarto para uma reunião estratégica.

— Conseguimos entrar no conselho estudantil, mas não devemos ser complacentes. Este é apenas o primeiro passo.

— Entendido.

Quase vinte de seus assistentes foram mortos na estrada por assassinos, então seu número havia diminuído. Agora ela tinha apenas quatro: Luke Notos Greyrat, Ellemoi Bluewolf, Cleane Elrond e Fitz.

— Tudo o que precisamos fazer é utilizar a reputação do conselho estudantil para recrutar boas pessoas — disse Fitz.

— Isso não será suficiente. — Ariel balançou a cabeça. — Antes que isso acabe, gostaria de conseguir o apoio dos líderes deste país e da Guilda dos Magos. — Os líderes do Reino de Ranoa e a Guilda dos Magos eram ambos extremamente influentes em Asura, cujos próprios ensinamentos de magia eram provenientes da própria Ranoa. — Para isso, teremos que impressioná-los se quisermos sua ajuda nesta luta pelo poder político.

— Impressioná-los… Tipo com dinheiro?

— Não, com poder. — Ariel riu quando Fitz inclinou a cabeça. — Estou tentando me tornar a governante do Reino Asura. Apenas ser parte do conselho estudantil não os convencerá a apoiar minha causa. Devo me tornar alguém que move o conselho. Em outras palavras, tenho que me tornar a presidente.

Ela continuou:

— O vice-presidente se forma no ano que vem e o presidente neste. Assim, pretendo almejar primeiro o cargo de vice-presidente e depois o de presidente.

— Sim, acho que é uma boa ideia. Aqueles com a mesma mente e habilidades excepcionais certamente irão procurar alguém do seu calibre. E são essas mesmas pessoas que procuramos — disse Luke com aprovação. Os outros três concordaram.

Passaram-se seis meses desde que se matricularam, e ainda não haviam recrutado aliados. As únicas coisas que Ariel tinha à sua disposição eram seu carisma natural, o fato de que havia sido aceita no conselho estudantil mesmo sendo uma primeiranista, e a adoração dos outros alunos. Havia indivíduos excepcionais que chamaram sua atenção, mas ela ainda não tinha alcançado um nível em que poderia ganhar seu favor, desvendar toda a verdade de sua situação e convencê-los a lutar ao lado dela no Reino Asura. O jeito de sua preferência – na verdade, o jeito que as coisas realmente deveriam ser – era com eles se aproximando dela primeiro.

— Se a ordem natural das coisas é você se tornar a presidente, o ideal é que ganhe a votação com uma maioria esmagadora — disse Ellemoi, com a mão pressionada no queixo.

O presidente em exercício estava encarregado de selecionar e indicar os candidatos apropriados para o conselho. Quando um presidente se aposentava, todos os membros restantes se tornavam candidatos ao cargo, e o presidente seria determinado por votação em toda a escola. Essa foi a regra estabelecida pela primeira diretora da escola, tradição que se manteve desde então.

Mesmo assim, Ariel era apenas uma primeiranista. No ano seguinte, o atual vice-presidente provavelmente chegaria à presidência. Assim que se graduassem e fosse realizada uma eleição, os outros membros atuais – todos no sexto e sétimo anos, com inúmeras realizações próprias – sem dúvida ficariam no seu caminho. Mesmo se pudesse vencê-los, provavelmente seria por uma margem mínima. Certo, tornar-se presidente do conselho estudantil como terceiranista ainda seria um feito impressionante. Mas não seria excepcional, a menos que também dominasse a votação com uma vitória esmagadora.

Esse era o caminho que Ariel imaginou. Poderiam até dizer que era um pré-requisito essencial para o seu futuro. Se não pudesse fazer nem mesmo isso, então retornar ao Reino Asura permaneceria sendo nada mais do que um sonho dentro de um sonho.

Na verdade, ela poderia precisar mirar ainda mais alto.

— Pode ser necessário que você assuma a presidência no ano que vem — murmurou Fitz. O garoto de cabelos brancos tinha uma expressão sombria no rosto e seus braços estavam cruzados sobre o peito.

— Minha nossa, você diz algumas coisas terríveis, Fitz. Você está propondo que superemos o atual vice-presidente?

Embora Ariel fosse uma primeiranista, não havia dúvida de que tinha quatro subordinados excepcionais; o carisma que ganhou sua grande adoração entre os calouros; e habilidades práticas, como vantagens. E então, fez um acordo com o atual vice-presidente: iria apoiá-lo para o cargo de presidente na próxima eleição e, em troca, ele a indicaria para o cargo livre. Isso significava desistir de sua chance de ocupar a presidência neste ano, mas se fosse diligente em plantar sementes durante o segundo ano, então poderia ficar bastante confiante de que colheria os resultados no terceiro.

— Esse plano é bom, com certeza, mas não deveríamos tentar algo ainda mais impressionante?

Fitz estava absolutamente certo. Se desvendasse os fios da longa história da universidade, não encontraria uma única alma que tenha ascendido ao posto de presidente em seu segundo ano. A única exceção foi o primeiro presidente do conselho estudantil, mas isso não contava, já que na época havia apenas alunos do primeiro ano. Além disso, se Ariel derrotasse o favorito na eleição de forma esmagadora, com certeza falariam sobre isso na cidade de Sharia. A notícia de sua realização poderia chegar até os líderes das Três Nações Mágicas.

Podiam até pensar na universidade como uma simples escola, mas muitos ex-alunos se tornaram líderes das Três Nações e da Guilda dos Magos. Se algo extraordinário acontecesse na universidade pela primeira vez desde que foi fundada, havia boas chances de que chegasse ao seu conhecimento.

— Verdade. Mas não seremos capazes de derrotar o vice-presidente sem um plano.

— Bem, sobre isso… Na verdade, tenho um plano muito bom.

— Vamos ouvir isso. — Embora apanhada de surpresa pela proposta de Fitz, Ariel se mexeu na cadeira e ouviu com atenção.

— Um… bem, princesa, você percebeu que tem sido alvo de algum assédio ultimamente?

— De fato.

Tudo começou logo após ela se juntar ao conselho estudantil. Aconteceram vários incidentes sucessivos: pessoas cuspindo na frente dela enquanto ela passava, pessoas trombando com ela, pessoas propositalmente jogando uma bola d’água nela durante a prática de magia. No final tudo passava como coincidências, mas Ariel sabia que era tudo intencional. Afinal, a gravidade de tudo estava gradualmente piorando. O pior foi quando algumas de suas roupas íntimas, que pendurou para secar à noite, foram roubadas e jogadas na frente do dormitório masculino. Isso foi indiscutivelmente longe demais, e ela pediu a Fitz e Ellemoi para que investigassem o assunto. Como resultado…

— Descobri quem foi — anunciou Fitz. — Linia e Pursena.

— Então foram aquelas duas.

Eram descendentes dos líderes da Tribo Doldia, que reinava com soberania entre o povo-fera. As duas garotas haviam viajado meio mundo desde a Grande Floresta. Como membros da Tribo Doldia, foram mimadas e deixaram seu talento com magia subir às suas cabeças. O ambiente leniente da escola só piorou as suas atitudes, e as duas tornaram-se completas delinquentes, temidas por todo o corpo discente. Com sua comitiva de mais de vinte homens-fera de aparência feroz ao encalço, as pessoas abriam caminho aonde quer que fossem. O simples contato visual faria qualquer pessoa ser cercada por toda aquela gangue.

Os administradores da escola ficaram preocupados com sua conduta inadequada, mas as garotas eram, em essência, princesas da Tribo Doldia. Repreendê-las representava o risco de tornar todos os homens-fera frequentando a universidade em inimigos – e eles eram bem numerosos, embora ainda fossem minoria se comparado aos humanos.

Assim sendo, a escola ainda não havia se intrometido, e muitos alunos choravam em suas camas até a hora de dormir.

— O que isso tem a ver com o seu plano?

— Podemos esmagá-las. — Fitz fechou a mão em um punho. — Os alunos têm medo daquelas valentonas. Se acabarmos com elas, todos ficarão do seu lado, Princesa.

Um fogo ardeu nos olhos de Fitz. O que elas fizeram era imperdoável. Fitz respeitava e adorava Ariel, e haviam roubado a calcinha dela e jogado na frente do dormitório masculino, dentre todos os lugares, com a coragem de acrescentar um bilhete dizendo: Esta calcinha pertence à Princesa Asurana. Desde então, muitos dos homens-fera observavam Ariel com olhares famintos. A princesa provavelmente não se incomodava com isso, mas Fitz não suportava.

— Se criarmos problemas com elas na escola, nossa reputação é que despencará –  disse Ariel.

— Se pudermos provocá-las a nos atacar primeiro, será legítima defesa. Em um cenário assim, a escola nos apoiaria. Além disso, se é isso que iremos enfrentar, tenho certeza de que posso lidar com tudo.

Ariel considerou brevemente as suas palavras, então olhou para os rostos dos presentes. Sempre que ela se sentia insegura, buscava a opinião de seus outros atendentes.

— Acho que é uma boa ideia. O que fizeram foi imperdoável. Se acabar virando uma briga, eu ajudo.

— Não posso oferecer muito, mas ajudarei onde puder.

— Concordo.

Suas palavras foram tranquilizadoras, e Ariel ofereceu-lhes um sorriso encorajador.

— Muito bem. Embora eu tenha certeza de que o que estamos prestes a tentar é arriscado, uma vez que todos vocês concordam, vamos tentar.

E assim, a missão de coroar Ariel como presidente do conselho estudantil entrou em andamento.

 

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O plano foi colocado em prática dentro de cerca de uma semana.

Era meio-dia e todos os alunos estavam indo para o refeitório da escola. Linia estava com as mãos enfiadas nos bolsos e Pursena tinha algo parecido com um cigarro saindo de sua boca. Seus uniformes pareciam desleixados, suas posturas terríveis. Pareciam tanto com delinquentes que, se Rudeus as visse, teria se aproximado da parede e mantido a cabeça baixa para evitar de cruzarem os olhares. Valentões desse tipo também existiam neste mundo.

As garotas-fera desfilavam à frente de sua matilha como se fossem as donas do lugar. Em comparação, o grupo de Ariel tinha apenas três pessoas: Ariel, Luke e Fitz. Fizeram parecer que se depararam com Lilia e Pursena na frente do refeitório por puro acaso.

A princípio, Linia e Ariel trocaram olhares que exigiam que a outra pessoa abrisse caminho, mas foi Ariel quem finalmente fingiu indiferença e se afastou. Os do povo-fera soltaram risadinhas enquanto assistiam.

— Que patético.

— Uma “princesa”. Hmph.

— Ah é, não era a calcinha dela que foi jogada na frente do dormitório recentemente?

— Ela está tentando fisgar os homens desse jeito, hein? Afinal, humanos vivem acasalando.

Eles gargalharam.

— Chega, mew — disse Linia.

— Sim, você está me fazendo sentir pena dela — concordou Pursena.

Quando fizeram reprimendas e se dirigiram ao refeitório, ambas pareciam presunçosas. Era bom ridicularizar os privilegiados. Ganhar alguma posição moral elevada por acabar com isso parecia ainda melhor. E também não havia nada que Ariel pudesse fazer sobre isso. Afinal, Linia e Pursena tinham vinte homens-fera ao encalço. A maioria deles era meio humano, e nunca haviam lutado de verdade. Mas havia força nos números, que usavam para zombar da amplamente popular princesa de um grande país.

— Desfilar por aí com vinte homens a reboque, como uma espécie de rebanho. Parece que os Doldia realmente não são melhores do que animais — murmurou Ariel. Sua voz foi pouco mais que um sussurro. Seus lábios mal haviam se movido, então nenhum dos outros alunos podia ouvi-la.

— Ei, o que você acabou de dizer?

No entanto, o povo-fera tinha uma audição muito melhor do que os humanos e conseguia captar até os sons mais baixos. Assim, Linia e Pursena captaram aquela declaração fraca. O resto do bando não tinha uma audição tão aguçada, mas vários deles também escutaram.

— Hein, eu disse alguma coisa? — respondeu Ariel inocentemente.

— Não, tenho certeza que ouvi, mew. Você estava falando mal da gente, mew. Não é, Pursena?

— Sério. Que se foda.

O pelo de Linia estava arrepiado e Pursena cuspiu o que quer que tivesse na boca. Um osso de galinha, no fim das contas. Assim que tiveram certeza de que Ariel estava começando uma briga, marcharam até ela e a encararam fixamente.

— E então? Vamos lá, tente falar aquilo de novo, mew. Desta vez, faça isso na nossa cara.

— Ou você pode se prostrar — ofereceu Pursena. — Fique de costas e nos mostre sua barriga.

— Já te disse, não falei nada. — Ariel falou com confiança, mesmo quando as duas a ameaçaram. Para um observador externo, parecia que Linia e Pursena estavam antagonizando Ariel sem qualquer motivo.

Linia semicerrou os olhos.

— Você por acaso é uma franga, mew?

— Franga? Eu como frangas — rosnou Pursena.

— O que diabos é isso…? — Ariel, por outro lado, parecia totalmente indiferente. Parecia tão ousada quanto um rei.

E então, quase inaudivelmente, disse:

— Assim que a temporada de acasalamento deste ano terminar, você terá filhos de homens cujos nomes nem sabe. Exatamente como os vira-latas de rua.

Ninguém podia ver os lábios de Ariel se movendo. Como nobre Asurana, ela foi treinada para falar sem ser percebida. Portanto, seu sussurro só foi alto o suficiente para Linia e Pursena, que estavam bem perto, escutarem.

— Sua puta! Parece que você tem alguma coragem. Tudo bem, vamos lutar com você, mew!

— Vamos acabar com você, deixá-la nua e jogar água em cima de você!

Para quem estava vendo, parecia que Linia e Pursena tinham perdido a paciência de repente porque não gostaram da atitude de Ariel. Na verdade, ninguém duvidava que fosse isso. As duas quase sempre tinham exatamente essa reação quando pensavam que alguém estava sendo muito arrogante com elas.

E assim que entravam em ação, seus vinte lacaios as seguiam.

— Você vai ver as estrelas daqui a pouco!

— Faça suas preces!

— Nós vamos te socar tanto que vai afundar até o chão!

O enxame as acompanhando voou para frente, estendendo os braços na direção de Ariel. Eles não a alcançariam.

— Gwah!

— Gah!

Antes que percebessem o que estava acontecendo, foram enviados voando pelo ar. Em uma fração de segundo, acabaram espalhados e caindo pelo chão. Linia e Pursena instantaneamente ficaram de pé, examinando os arredores.

— O-o que foi isso, mew?!

— É o Fitz! Aquele pau mandado da Ariel fez algo…!

Fitz – o garoto de cabelos brancos que sempre ficava atrás de Ariel com um olhar de indiferença – estava na frente da princesa. Assim que o povo-fera se moveu, ele deu um passo à frente dela e usou seu feitiço silencioso para criar uma onda de choque que os atingiu em cheio.

O único que se moveu foi Fitz. Ariel manteve sua postura afetada e adequada e, embora a mão de Luke repousasse no cabo de sua lâmina, não se moveu. Fitz estava completamente sozinho. E, ainda assim, parecia confiante de que poderia lidar com todos.

Fitz não disse nada; raramente falava. Apenas alguns alunos já tinham ouvido sua voz.

Agora que ele estava em seu caminho, Linia e Pursena fizeram dele seu alvo.

— Hyaah!

— Grrrr!

Os vinte homens-fera caíram sobre Fitz em uma só leva.

Fitz permaneceu em silêncio. Seu corpo nem mesmo se moveu – apenas suas mãos. Cada vez que suas mãos eram movidas, uma explosão de fogo acontecia ou um projétil de gelo era disparado do solo. Esses ataques golpearam o povo-fera implacavelmente e, em segundos, todos os vinte deles foram lançados pelo ar. Eles gritaram como cachorrinhos quando foram atingidos pela magia de Fitz, inconscientes ou lutando para recuar. Vinte oponentes eram muito, mas não estavam acostumados a lutar, mal assistiam às aulas e contavam principalmente com a vantagem numérica para manter sua aparência ameaçadora.

— Eu vou te despedaçar, mew!

— É, caralho, bora!

Apenas Linia e Pursena eram diferentes. Seus espíritos de luta não foram abatidos, nem mesmo enquanto testemunhavam a magia de Fitz por si mesmas. Na verdade, se esquivaram de cada feitiço com enorme agilidade. Linia então avançou enquanto Pursena colocava a mão nos lábios.

— Awoooo!

Elas tinham cordas vocais únicas que podiam fazer sons infundidos com magia para paralisar instantaneamente o oponente. Este tipo de magia era própria do povo-fera.

Uma gota de sangue escorreu do nariz de Fitz e a parte superior de seu corpo pendeu para frente. Assim que Linia teve certeza de que ele foi atingido, golpeou seu rosto com as garras.

— Hyah!

Uma delas usaria magia vocal para selar o movimento do inimigo enquanto a outra partiria para a matança. Essa era a estratégia de vitória certa de Linia e Pursena.

No entanto, no momento seguinte, Fitz fez um movimento desconcertante. Ele ergueu as mãos e deu um tapa nas orelhas. E sangue jorrou.

Ao mesmo tempo, Linia atacou.

— Te peguei, mew! — Suas garras cortaram para frente, mas assim que ela teve certeza de que acertou o alvo, Fitz afundou.

Linia pegou algumas mechas de seu cabelo, mas agora ele havia escapado de seu alcance.

— Urgh…!

O punho dele atingiu a boca de seu estômago, emitindo uma onda de choque que a enviou voando pelo ar com faíscas de uma explosão.

— Po-por quê?! — Pursena se engasgou.

Fitz não perdeu o ritmo. Ele foi direto para Pursena, que estava visivelmente abalada pelo fato de que sua magia vocal não tinha atingido seu alvo. Ela tentou se preparar, mas já era tarde demais.

— Ha! — Ele a enviou pelo ar com uma onda invisível de seu punho estendido. Ela bateu contra a parede do refeitório e perdeu a consciência.

— Ackcof

Fitz ficou diante de Linia, que estava sofrendo com a falta de ar. O garoto expôs sua ira enquanto permanecia em silêncio durante o tempo todo. Linia ficou em choque quando ele se moveu sobre ela. Olhou ao redor, mas nem uma única pessoa de seu grupo continuava de pé. Até mesmo sua parceira confiável estava caída indefesa no chão, completamente inconsciente.

Linia percebeu que seu grupo havia sido dizimado e perdeu a vontade de lutar.

— V-você venceu, mew.

Mesmo enquanto Linia admitia a derrota, Fitz permaneceu estranhamente quieto. Seus olhos estavam escondidos atrás de óculos escuros, mas a raiva ainda estava lá, uma verdadeira intenção de matar que não poderia ser sanada com essa luta estúpida. Fitz sabia exatamente o que eles fizeram – que jogaram água em Ariel, roubaram sua calcinha e a jogaram em outro lugar.

Linia podia ter seu orgulho, mas não o valorizava mais do que sua vida.

— S-sentimos muito, mew. Também pediremos desculpas pelo incidente com a calcinha. Vou fazer até isso, mew. — Linia não teve escolha a não ser assumir uma postura submissa, expondo sua barriga em arrependimento. Essa era a coisa mais humilhante para o povo-fera.

Fitz jogou uma bola d’água sobre Linia, que estava prostrada, e Pursena, que estava inconsciente e não muito longe. Havia pouco poder de ataque por trás daquilo, mas era o equivalente a ter um balde virado sobre elas. As duas garotas-fera ficaram encharcadas, parecendo bastante lamentáveis com o pelo achatado contra a pele.

— Se você realmente aprendeu sua lição, nunca levante sua mão contra a Princesa Ariel de novo.

Fitz se afastou com essas palavras. Ele raramente dizia alguma coisa. Foi a primeira vez que Linia, Pursena e o resto dos alunos no refeitório – na verdade, qualquer um deles, exceto Ariel e Luke – o ouviram falar. Sua voz era aguda, quase feminina.

— S-sim, entendido. — Linia acenou com a cabeça, seu rosto vermelho e brilhante de vergonha.

— Fitz, muito bem. Vamos embora. — Quando ele retornou, Ariel ofereceu-lhe um sorriso, e seu grupo partiu como se nada tivesse acontecido. Apenas Linia e Pursena foram deixadas para trás, parecendo um casal de ratos afogados. Elas logo recuaram, incapazes de suportar a atenção que acabou ficando focada nelas.

Todos os alunos que testemunharam o acontecimento espontaneamente explodiram em aplausos. Foi nesse momento que as delinquentes que agiam como se estivessem no comando da escola foram derrotadas.

Depois disso, por cortesia do trabalho de Ellemoi e Cleane, espalhou-se o boato de que, na verdade, Linia e Pursena haviam enviado seus subordinados para espancar Ariel. A maioria dos homens-fera envolvidos foi expulsa após o incidente.

 

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E foi assim que Ariel garantiu sua posição. Ao expulsar os delinquentes da escola e levar a paz de volta ao campus, conquistou a gratidão dos alunos, que votaram nela na eleição seguinte. Ela se tornou a presidente do conselho estudantil em seu segundo ano, e muitos a consideravam com grande admiração.

Essa situação, é claro, não agradou o vice-presidente. Ele passou o restante do ano fazendo comentários maldosos, mas não teve coragem de enfrentar Fitz – o homem que enfrentou as indomáveis Linia e Pursena sozinho – e se formou calado.

Quanto ao grupo das duas humilhadas…

— Urgh.

— Porra.

De alguma forma, conseguiram evitar a expulsão. O comportamento delas não melhorou muito e ainda eram hostis com Ariel, mas estavam frequentando as aulas com mais seriedade. Rosnariam e latiriam como perdedoras sempre que colocassem os olhos nela, mesmo enquanto enfiavam o rabo entre as pernas para abrir caminho para ela passar.

— Hmph! Não vamos esquecer o que você fez conosco, mew!

— Pft! É melhor não sair sozinha à noite!

Ariel não disse nada. Apenas riu.

Isso só aumentava a admiração dirigida a Ariel e seus dois guarda-costas. Não havia mais ninguém na escola que pudesse enfrentar a princesa.

 

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Essa mesma princesa era agora uma aluna do terceiro ano. Assim como planejou, se tornar a presidente do conselho estudantil em seu segundo ano permitiu que fizesse contato com a Guilda dos Magos e com os governantes do Reino de Ranoa. Aqueles de mentalidade semelhante uniram-se ao conselho estudantil, e Ariel escolheu o mais excepcional e confiável para ir ao Reino Asura e prosseguir com seus planos. O que considerava sua vanguarda partiria para o reino no ano seguinte.

Tudo tinha corrido surpreendentemente bem no último ano, desde que se tornara presidente. E neste dia estavam conduzindo outra de suas reuniões de estratégia, embora tivessem feito a transição de sua suíte pessoal para a sala do conselho estudantil.

— Agora, então, Cleane, há algum candidato promissor entre os primeiranistas? — perguntou ela.

— Existe. Zanoba Shirone e Cliff Grimor, em particular. O primeiro é uma Criança Abençoada, enquanto o último era capaz de realizar magia de nível Avançado antes mesmo de se matricular.

— Muito bem. Vamos procurar meios de gradualmente atraí-los. Existem outros que se destacam?

— Entre os primeiranistas? Não, creio que não. — Cleane balançou a cabeça. — No entanto, pode haver alguns que serão promissores no futuro.

— Ainda preciso de muito mais peças para o meu tabuleiro de xadrez. Talvez devêssemos procurar alcançar aqueles que estão fora da escola.

Enquanto Ariel agonizava sobre o que fazer, Ellemoi olhou para cima.

— Princesa, suspeitei que você diria isso. Já localizei alguns indivíduos particularmente impressionantes além dos muros da universidade.

— Eu não esperava menos. Deixe-me ver quais informações você tem sobre eles.

— Sim, Princesa. — Ellemoi tirou um maço de papéis de um dos armários da sala do conselho estudantil e a entregou. — Gostaria de sugerir que escolha alguns deles, convide-os para a escola e depois avalie o caráter antes de abordá-los com um convite. O que você acha?

— Parece uma boa ideia. Vá em frente e comece o processo de seleção. Quanto a convidá-los… Podemos pedir ajuda do Vice-Diretor Jenius com isso, tenho certeza.

— Sim, Princesa.

Fitz e Luke começaram a examinar a lista a pedido de Ariel. Havia vários indivíduos diferentes na lista: daqueles que já viviam na Cidade Mágica de Sharia; até aventureiros ativos nas Três Nações; e inclusive o protetor do Santuário da Espada, o próprio Deus da Espada Gal Farion.

Foi enquanto analisava a lista que Fitz de repente engasgou. Sua mão parou quando viu um nome que reconheceu. Seus olhos se arregalaram e seus lábios se fecharam. Sua mão trêmula apertou o papel, amassando-o.

— Fitz, alguém aí chamou sua atenção?

O garoto fez um aceno de cabeça rápido. Sua expressão era uma mistura de surpresa, perplexidade e deleite.

— Princesa Ariel… Eu conheço essa pessoa.

O papel em sua mão tinha o nome Rudeus Greyrat escrito nele.

 


 

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