Havia vastas extensões irrigadas de arrozais no Reino Sanakia. Uma carruagem seguia lentamente por um caminho que separava os campos, protegida por vários cavaleiros. Eles a acompanhavam com expressões despreocupadas, e a carruagem não parecia cara, então seria seguro assumir que ninguém importante estaria dentro dela.
E, de fato, havia apenas três mulheres dentro dela. Uma era a cavaleira do Reino Shirone, conhecida como Ginger York. Ela se sentou ao lado da entrada, ouvindo a conversa das outras duas.
— O Irmão Mestre do Canil é realmente encantador. — Quem falava com emoção era a jovem garota vestindo uma roupa de empregada grande demais para seu corpo, Aisha. — Se algum dia eu casar, definitivamente tem que ser com alguém daquele jeito. Certo, Mãe?
— S-sim, com certeza. — Sentada ao lado oposto estava uma mulher idêntica a Aisha, porém mais velha e usando óculos. Seu nome era Lilia. Qualquer um que olhasse além dos óculos veria um olhar indiferente, dando uma impressão fria e distante. Porém, seu olhar estava incerto e indeciso.
— Foi muito incrível quando ele me salvou, sabia? Ele apontou o dedo para o chão desse jeito, e vuuuushh, um buraco se abriu, e então nós voamos pelo ar. Será que aquilo também é uma magia? Foi incrível, o Irmão Mestre do Canil conseguia lançar tudo sem encantamento algum. Igualzinho à magia dos contos de fadas.
— Sim, de fato, é incrível… Ser capaz de lançar feitiços sem encantamentos.
Já fazia algum tempo que Aisha estava elogiando o Mestre do Canil. Lilia ficou um pouco perplexa. No começo, pensou que sua filha tinha percebido que aquele garoto era na verdade seu irmão mais velho, Rudeus, mas estava começando a parecer que ela estava usando o “Irmão” de uma maneira carinhosa para falar de alguém mais velho.
— Além do que, aquela foi minha primeira vez. Eu estava tão assustada que até me molhei, e mesmo assim, não fiquei envergonhada, já que ele era o único comigo. Não liguei quando ele teve que me ajudar a me trocar… Talvez isso seja… amor? — Aisha juntou suas mãos como se estivesse orando, seus olhos brilhavam.
Vendo sua filha desse jeito, Lilia hesitou. Ela deveria dizer que o Mestre do Canil na verdade era Rudeus? Apenas há alguns dias, Aisha havia dito que o odiava. Era necessário admitir, a abordagem de Lilia não era a melhor. Ela sempre dizia o quão incrível e maravilhoso Rudeus era, querendo que sua filha algum dia o servisse, mas Aisha era excepcionalmente inteligente, e, através das afirmações exageradas de sua mãe, viu que seu irmão era perfeito além da compreensão. A garota caçou as falhas que Lilia tentava encobrir, e então voltou sua atenção para elas.
Pessoas tendem a atribuir grande importância para coisas que descobrem, mais do que a coisas que escutam de outras pessoas. Em alguns anos, Aisha perceberia que aquilo que sua mãe tinha dito era tão crível quanto o que ela descobriu sozinha, mas ainda era muito jovem para isso. A garota pensava que sua mãe era uma mentirosa e que Rudeus era na verdade um inútil.
Lilia reconheceu que isso era parcialmente sua culpa. Ela poderia ter encontrado jeitos melhores de falar sobre Rudeus para Aisha, por exemplo, não falando continuamente sobre ele como um objeto de veneração. Mas admitir seus erros a esta altura não mudaria nada, a garota já tinha sua opinião sobre Rudeus formada. Em algum ponto em sua estadia no Reino Shirone, Lilia desistiu de mudar sua mente. Contudo, por alguma ironia do destino, Aisha agora se derretia em elogios ao seu irmão, o Mestre do Canil.
Lilia parou para pensar. Se ela revelasse para sua filha que seu amado Mestre do Canil era na verdade Rudeus, o ódio por seu irmão não desapareceria? Não iria obedientemente servi-lo, assim como Lilia desejava?
Então, novamente, Aisha sempre odiou mentiras e falsidades. E Rudeus tinha escondido sua verdadeira identidade dela o tempo inteiro. Lilia não tinha ideia do porque ele fez isso, mas ela era uma garota esperta que viu através dos esforços dos adultos de censurar as coisas. Revelar que o Mestre do Canil era na verdade Rudeus, a essa altura do campeonato, poderia servir apenas para que a garota o odiasse ainda mais. Aisha poderia concluir: “Viu, ele é um mentiroso” ou “Eu sabia, meu irmão é um pervertido” ou até mesmo “Ele queria tanto lavar minha calcinha que chegou ao ponto de mentir”. Lilia preferia evitar isso.
— Eiiii, Mãããããe. Se meu irmão estiver na verdade morto, eu gostaria de servir o Mestre do Canil!
— …
Normalmente, nessa situação, Lilia iria acertar a cabeça de Aisha e repreendê-la por dizer essas coisas sinistras. Mas, dessa vez, não poderia fazer nada além de revelar um amargo sorriso enquanto um suor frio escorria pelo seu rosto.
Ela deveria dizer para Aisha que o Mestre do Canil era Rudeus ou não? Se jogasse as cartas certas, Aisha começaria a amar seu irmão. Mas se ela falhasse, a garotinha iria odiá-lo ainda mais. A última opção era inaceitável, mas Lilia não tinha confiança de que poderia persuadir sua filha brilhante. O que deveria fazer?
Incapaz de chegar a uma resposta, forçou um sorriso enquanto ouvia Aisha falando.
— Eu faria meu melhor se fosse servir o Mestre do Canil. Mas então, um dia, quando eu estivesse com minha guarda baixa e me trocando, completamente indefesa, ele viria e me pressionaria contra a parede, completamente excitado, e me tornaria a sua amante. Aquilo iria marcar o começo de nossa rotina diária de obscenidade e amor. Para mim, ao menos no começo, não passaria de um relacionamento físico, mas então um dia ele viria pedir minha mão, dizendo: “Eu também quero seu coração”, e… Hee hee!
— …
Sem o conhecimento de Lilia, que agonizava com sua indecisão, Aisha estava rindo para si mesma. Ela já tinha percebido tudo, sabia que o Mestre do Canil era na verdade seu irmão, e mesmo que ele não fosse perfeito, era tão excepcional quanto sua mãe disse. Estava apenas usando essa oportunidade para perturbar Lilia.
Para ser bem sincero, Aisha não tinha o melhor dos relacionamentos com sua mãe. Lilia sempre esteve controlando-a, dizendo para fazer isso ou aquilo desde que era pequena, recusando-se a dar qualquer explicação quando questionada. E, pelo visto, o treinamento rigoroso que sua mãe a submetia era tudo para que um dia pudesse servir seu irmão mais velho. Não era de se admirar que a garota ficou de saco cheio com isso… Até ver seu irmão em pessoa. Ela testemunhou sua capacidade de reagir de forma inteligente ao ambiente usando magia não verbal para conduzir a fuga, assim como sua coragem de invadir o Palácio Real de Shirone para salvar sua mãe, e sua bondade após ela se urinar e ele ajudá-la sem nenhum nojo. Tudo isso foi o suficiente para deixá-la tonta, foi então que a garota percebeu: “Então é isso que as pessoas querem dizer quando falam ‘Encantador’!”
Seu irmão era excepcional, então se quisesse continuar com ele, também teria que ser excepcional. Quando entendeu isso, Aisha na verdade ficou grata por sua mãe ter feito o que fez. Sem todo aquele treinamento, poderia abrir mão da oferta de servir um irmão tão extraordinário.
— Ai ai, me pergunto se meu irmão está realmente morto… Então eu poderia ir diretamente para os braços do Mestre do Canil.
— S-se o Lorde Rudeus estiver bem, você ainda vai servi-lo, entendido?
— Claro, sei disso. — Foi a primeira vez que Aisha viu sua mãe tão agitada. — Mas só por um ano, tá bom? Depois disso quero gastar o resto do meu tempo com o Mestre do Canil!
— Não, isso é inaceitá… hmm…
Aisha continuou se divertindo por um tempo enquanto provocava Lilia.
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A mulher conhecida como Lilia nasceu em uma vila remota no Reino Asura. Mais tarde, foi a única garota treinando técnicas de espada no salão de treinamento de uma cidade de porte médio na Região de Donati. Ela não tinha sobrenome, não davam sobrenomes para plebeus no Reino Asura. Lilia nasceu apenas como Lilia, este nome foi dado por seu pai, que era o dono do salão, e ela empunhou uma espada ainda em tenra idade e logo começou a aprender.
Assim como seus pais, era terrível com palavras. Se comportava fria e silenciosamente e não tinha muito charme. Contudo, praticava muito, então todos ao seu redor a adoravam. Apesar de ser claro que não tinha talento para a espada, encantava os outros estudantes que observavam quão avidamente praticava. Os estudantes a amavam como se fosse sua irmã mais nova, e consequentemente acabou ganhando vários irmãos mais velhos. Sua vida era pacífica, assim como esperado para um pequeno salão de treinamento.
Os olhares dos estudantes começaram a mudar quando ela completou cerca de 13 anos. Como seu corpo estava chegando à puberdade, pararam de tomar banho com ela e começaram a evitar conversas cara a cara. Não estavam especificamente a evitando ou tentando excluí-la, mas Lilia podia vagamente sentir olhares quentes em sua direção.
Ela era uma garota muito realista. Não tinha irmãos, e a condição física de sua mãe piorou após dar à luz. Com nenhum filho para herdar o salão de treinamento, sua mãe ficava se culpando enquanto seu pai quebrava a cabeça pensando no que fazer. Por isso Lilia presumiu que acabaria casando com um dos estudantes para herdar o salão em seu lugar. A garota via todos os estudantes como irmãos, por isso nenhum deles se destacava como candidato a marido, mas sabia que eles se controlavam quando ela estava por perto.
A discussão sobre quem o mestre, seu pai, escolheria para ser seu parceiro de casamento e próximo mestre do salão de treinamento se tornou um tópico bem conhecido. Nos bastidores, os interessados em se tornar o mestre ou simplesmente em casar com Lilia começaram a competir entre si. O tempo foi passando e nada foi decidido, mas ela tinha certeza de que o futuro que já imaginava acabaria se tornando realidade.
Foi nessa época que Paul caiu de paraquedas em sua vida. Mesmo que ele não tivesse dinheiro ou lugar pra morar, o pai de Lilia o recebeu na mesma hora. Com sua personalidade brilhante e energética, se tornou popular com todos em um piscar de olhos. Ele também foi abençoado com talento para esgrima e logo aprendeu todas as técnicas do salão, parte dessa velocidade foi provavelmente porque já havia treinado com o estilo Deus da Espada. Lilia levou dez anos para chegar nesse ponto, mas ele a alcançou, e então a ultrapassou. Em pouco tempo, o rapaz se tornou tão hábil que nem seu pai conseguiria competir com ele.
Paul era talentoso com a espada e popular entre os estudantes. Por causa disso, logo se decidiu que seria o parceiro de Lilia. Embora ela tenha ficado perplexa com a rapidez, a velocidade em que as coisas aconteciam fez seu coração disparar. Paul era diferente de todas as pessoas que ela já conhecera. Ele tinha um espírito tão livre, não possuía nenhum pensamento rígido no que diz respeito à esgrima, nem crenças firmes sobre linhagem e herança. Seu estilo de vida despreocupado parecia deslumbrante aos seus olhos.
Mas ele era um pouco diferente dos demais do salão de treinamento, e não era apenas sua visão relaxada sobre a esgrima, deveres domésticos e linhagem, mas também sua aproximação com as mulheres. Embora os estudantes tivessem dado as boas-vindas a Paul no início, a discórdia começou a surgir entre eles. Não olharam muito bem para alguém que chegou do nada e roubou o assento de futuro mestre debaixo do nariz de todos. Mas estavam dispostos a aceitar a contragosto, já que era o Paul. No entanto, se ele fosse tratar como inútil algo pelo qual lutaram, algo que consideravam valioso, isso mudava as coisas.
Decidiram tentar se livrar dele. Durante o treinamento, focavam seus golpes nele, o pegavam por trás com chutes e propositalmente derramavam água em seu equipamento de treinamento. Lilia ficou ao lado dele e repreendeu todos os envolvidos. Os estudantes também não olharam muito bem para isso, e o comportamento deles só piorou.
Se Paul fosse um garoto normal, tudo teria terminado ali. Ele teria suportado e aberto caminho em meio aos outros, ou teria fugido do salão de treinamento após ser expulso pelos estudantes. No entanto, ele era um mala. Com seu humor azedo, recorreu à atuação.
Uma noite, entrou sorrateiramente nos aposentos de Lilia e a seduziu para entregar sua inocência para ele. Lilia não resistiu, foi tão rápido que ela ficou lá, no chão, atordoada. Quando sua mãe entrou no quarto para acordá-la na manhã seguinte, Paul já havia saído da cidade.
Lilia desenvolveu uma desconfiança por homens, foi uma consequência gerada pelo abandono de Paul. E manteve essa desconfiança mesmo após completar quinze anos e se tornar uma adulta. Seu pai mantinha a honra de cuidar da sobrevivência do salão de treinamento, que existia na família há gerações. Ele não tinha um filho, e o nascimento de Lilia arruinou o corpo de sua mãe. O homem teria que casá-la com um de seus alunos para ver seu legado continuando, mas não conseguiu forçá-la a isso.
Em vez disso, fez uso de suas conexões pessoais para recomendá-la para a Família Real de Asura como empregada e dama de companhia, cujas obrigações se estendiam a pegar em armas para proteger a família real quando necessário. Lilia gradualmente superou sua desconfiança por homens durante o tempo que serviu como guarda, mas depois sofreu um ferimento enquanto protegia a princesa. Dispensada do serviço, se dirigiu para a Região de Fittoa em vez de voltar para casa, onde, por alguma ironia do destino, encontrou um emprego como empregada para a nova família de Paul. Ela e ele reviveram o caso, ela engravidou dele e então se tornou sua segunda esposa.
Com toda a honestidade, Lilia, na época, não sabia se estava feliz ou não. Ela era basicamente uma amante, e Paul provavelmente amava mais Zenith do que ela. E Zenith era uma amiga querida, mas Lilia tinha sentimentos complexos por causa da culpa e remorso. Os Greyrats a aceitaram como parte de sua família, mas sua ansiedade e insegurança a perseguiam.
Rudeus, que a apoiou naquele momento de turbulência mental, foi o único que convenceu Zenith a deixar Lilia ficar. Criar a filha para um dia servi-lo era a única coisa que tinha certeza de que queria, embora se questionasse sobre o quanto amava Aisha. Seu próprio pai se importava mais com a felicidade dela do que com a continuação do salão de treinamento, e foi por isso que ele a ajudou a encontrar um novo caminho na vida. Não estaria Lilia atropelando os sentimentos de Aisha, sua própria filha, se a usasse para pagar sua dívida com Rudeus e comprar um pouco de paz de espírito? Essas preocupações só pioraram quando percebeu que sua filha não era uma criança comum, mas sim uma excepcionalmente inteligente.
As coisas mudaram com o misterioso Incidente de Deslocamento, no qual Aisha e Lilia foram teletransportadas para o Reino Shirone juntas. Em um momento, perderam a consciência, no próximo, estavam em um lugar de aparência cara, e logo foram completamente cercadas por guardas.
Diante de tantos homens hostis, assassinos dentro de armaduras, a mente de Lilia ficou em branco. Incapaz de compreender o que estava acontecendo, o único pensamento em sua mente foi: Tenho que proteger minha filha. Ela pegou o castiçal mais próximo, puxou sua filha para trás de seu corpo e lutou. No entanto, devido à sua abstinência de batalhas reais, seu corpo não se moveu como desejado e seu ferimento dificultou ainda mais a sua mobilidade. Incapaz de oferecer muita resistência, foram capturadas e Aisha foi arrastada pelos soldados, logo atrás de sua mãe.
— Por favor, poupe a garota! Por favor, poupe minha filha! Eu não me importo com o que acontecer comigo! Apenas não façam nada com minha filha! — Lilia gritou e chorou lamentavelmente, mas essas palavras saíram espontânea e inconscientemente. Aqueles eram seus verdadeiros sentimentos.
Seus verdadeiros sentimentos.
Após isso, Lilia foi confinada no castelo, impedida de fazer qualquer contato com o mundo exterior e forçada a trabalhar como empregada. No entanto, seu coração estava mais leve do que antes. As palavras que dissera foram apelos para salvar Aisha. Ela não duvidava mais de seu amor por sua filha, e estava satisfeita por seu desejo de tê-la servindo Rudeus não ser puramente egoísta.
Aisha tinha um espírito livre e independente, talvez tivesse puxado isso de Paul. Ela odiava ser contida e achava que sua mãe estava a sufocando. A garota não conseguia compreender porque deveria servir a Rudeus, e sendo tão inteligente, detestava trabalhar duro para atingir um objetivo sem significado.
Mesmo assim, Lilia não desistiu. Passou à filha teimosa todo o conhecimento que acumulou durante sua vida. Um dia, Aisha entenderia. Enquanto Rudeus continuasse a ser a mesma pessoa daquele dia, aquele que protegeu Lilia, sua filha entenderia, ou ao menos foi o que imaginou…
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— Ah, Irmão Mestre do Canil, ele é tudo em que consigo pensar agora, aqueles braços fortes que me levantaram, seu rosto galante, sua atitude confusa…
Aisha entendeu, ela viu Rudeus e entendeu o significado por trás do que Lilia estava fazendo, mas isso também era errado. Não era assim que a mulher imaginou que sua filha viria a entender a grandeza de Rudeus.
— Aisha. — Lilia gradualmente se levantou no meio da carruagem oscilante.
Aisha, que revelava um sorriso malicioso, tremeu de surpresa com o movimento de sua mãe. Lilia tinha o hábito de golpear a sua cabeça quando ela falava ou fazia algo de errado. Certo, a garota era inteligente. Poderia avaliar, até certo ponto, o que a faria levar ou não um safanão. E ela foi maliciosa o suficiente para atrair um tapa de Lilia, então colocou a língua pra fora e disse: “Descuulpa.”
Mas dessa vez não sabia por que sua mãe estava furiosa. Ela estava elogiando Rudeus, elogiando o irmão mais velho que sua mãe lhe disse para servir. Será que tinha deixado algo passar? Ou o Mestre do Canil não era seu irmão? Essas preocupações passaram pela sua cabeça quando a mão de Lilia se aproximou dela.
— Hã…?
Aisha congelou ao sentir algo macio passar por sua cabeça. Lilia estava a afagando. Momentos como esse, em que sua mãe acariciava seu cabelo, eram raros.
— Mãe?
Por algum motivo Lilia ficou sem graça quando sua filha a chamou. Sua mão, que estava acariciando a cabeça de Aisha, se dirigiu às costas da garota, agarrando seu corpinho.
— Aisha, o Mestre do Canil ou o Mestre Rudeus, seja quem for que você escolha, está bom pra mim.
Rudeus se recusou a levar Aisha com ele, mas ela tinha certeza de que, dentro de alguns anos, eles se reencontrariam.
— E quando o dia chegar, dê tudo de si para servi-lo. — Ao dizer essas palavras, Lilia prometeu para si mesma que criaria Aisha para ser uma mulher maravilhosa, e isso não seria por causa de Rudeus. Ou para si própria. Ela estava ciente de que seus próprios sentimentos egoístas estavam misturados com esses, mas realmente, do fundo do seu coração, queria que sua filha se tornasse uma mulher notável.
— Ahaha… Acho que você me pegou… hein? — Aisha ficou inquieta com a sensação suave em sua cabeça, e seus lábios se curvaram para cima. — E-eu sabia, é claro! Que o Mestre do Canil é o meu irmão… Então eu meio que queria te provocar, só um pouquinho…
Enquanto ela gaguejava sua desculpa incoerente. De repente percebeu que podia nunca ter sido abraçada daquela forma por sua mãe. Assim que pensou nisso, uma onda de felicidade a preencheu. Foi a primeira vez que a jovem experimentou a sensação de chorar de alegria. Confusa com as lágrimas que se recusavam a parar, colocou seus braços ao redor de sua mãe e encharcou o seu ombro.
Ginger, que estava observando as duas, desviou os olhos. Seu olhar se voltou para os arrozais cobertos com água enquanto ondulavam ao vento, estendendo-se até onde os olhos poderiam ver.
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