Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 06 – Cap. 13.5 – Interlúdio – Os Dois Que Ela Encontrou

 

Roxy Migurdia chegou à cidade de Krasma, localizada na ponta noroeste do Continente Demônio. Era uma cidade próspera, embora não tão robusta quanto Rikarisu. Embora parecesse normal à primeira vista, toda esta área era governada por um Rei Demônio. Um com laços íntimos com os marinheiros, permitindo que a cidade negociasse com eles. Com o povo do mar vieram os frutos do mar, e com os demônios vieram especiarias fortes e perfumadas exclusivas do Continente Demônio, e era na cidade de Krasma que as pessoas podiam saborear a comida deliciosa que resultava da combinação. A cidade ostentava uma gastronomia tão saborosa que regularmente competia com Porto Vento pelo título de lugar no Continente Demônio com a comida mais deliciosa.

— Esta comida cai muito bem com um pouco de álcool!

Desde que chegaram a esta cidade, Talhand estava de bom humor. Krasma não tinha apenas o álcool amargo do Continente Demônio, mas também o álcool doce do povo do mar. Ele, sendo um anão, amava o álcool e, desde que a bebida resultasse em diversão, não parecia se importar com o gosto ruim. Quando ia ao bar, ele invariavelmente se dava bem com os rufiões de lá e bebia álcool suficiente para encher uma banheira inteira. Havia pubs por todas partes de Krasma, então juntando isso à boa comida, o anão estava no paraíso.

Quanto a Roxy, a maga ainda tinha gostos infantis, apesar de sua idade, então a culinária desta cidade não combinava com ela. A comida e temperos do Continente Demônio, em geral, não eram de seu grado. Ela gostava de coisas doces.

A graça salvadora era a especialidade do povo do mar, que era o álcool doce. Isso foi um choque e tanto para ela, que só associava o álcool com coisas amargas. O licor tinha uma fragrância delicada, semelhante ao mar, e se alguém tomasse um gole, sentiria um sabor indescritivelmente doce se espalhando pela boca. Aquilo deixava um gostinho salgado no final, que só resultava em vontade de comer alguns petiscos enquanto bebia.

— Mas que visão mais rara! Então você também está bebendo, hein, Roxy?!

— Sim, estou.

— Você está de bom humor hoje, hein? — Talhand observou Roxy beber e fazer seu próximo pedido com alegria. — Taverneiro, traga-nos um barril! Vou te ensinar a beber como um anão!

Em tempos como esses, Roxy pensava que tinham sorte de as coisas serem tão baratas no Continente Demônio. Poderiam beber e comer o quanto quisessem e todo o custo ainda seria coberto por uma moeda de cobre Asurano.

— Velhote, você está realmente tomando todas!

— Beba! Beba! Beba! Beba!

— Exatamente como se espera de um anão!

— Éé, vamos fazer uma disputa! Taberneiro, traga-me um barril também!

A propósito, Elinalise já tinha desaparecido na noitada com um homem com quem se deu bem. Este era normalmente o ponto em que Roxy começava a se sentir um pouco alienada, mas antes que percebesse, ela e a garota sentada ao seu lado estavam ambas ovacionando a bebedeira de Talhand.

— Bwahaha! Mas que belo anão que você é! Não importa o quanto os tempos mudem, os anões continuam os mesmos! Você concorda comigo, né? — perguntou a garota.

— Sim, com certeza — respondeu Roxy.

— Ah, vamos nessa! Vá em frente, gulp! Gulp! Gulp!

Gulp, gulp!

Talhand enfrentou seu parceiro de bebida descaradamente – um demônio gigantesco – enquanto mantinha os braços ao redor do barril e o virava. Seu corpo com certeza era grande, mas ninguém poderia deixar de se perguntar para onde estava indo todo aquele licor. Depois de esvaziar seu enorme barril, ele soltou um arroto gutural. Com a mesma rapidez, a próxima bebida foi servida.

— Você está demorando com esse álcool!

— Ah, cala a boca! Estou sem estoque!

— Nesse caso, compre no pub ao lado!

— Aah, essa é uma boa ideia! Certo, vá lá e compre!

— Deixa comigo! Passem as moedas, rapazes, passem todas! Esta noite vamos beber!

— Éééééééé!

Distribuíram uma bolsa para doações.

— Haha! Senhorita, você está sendo extremamente generosa com bêbados lamentáveis como nós!

— Sim, é a minha diversão de hoje! — Roxy jogou uma moeda de minério verde na bolsa enquanto fazia ela girar.

Vendo isso, o homem segurando as doações revelou um enorme sorriso e riu enquanto abaixava a cabeça para a maga.

— Impressionante, senhorita! Você deve ser rica!

— Claro que sou! — Roxy estava de bom humor, sentindo-se leve e solta enquanto acenava para ele de forma exagerada. Ela já estava, na verdade, bêbada.

— Hahaha! Hoje também estou rica, então aqui, pegue! E vamos fazer mais barulho! Hoje somos todos amigos! — A garota sentada ao lado dela tirou uma moeda de ferro bruto do bolso e também a jogou na bolsa de doações.

O homem que segurava a bolsa poderia ter latido para ela por ter doado apenas uma ninharia, mas ele também estava bêbado.

— Heh heh! Valeu, princesa! Vô usar isso pra ter certeza de que cês bebam até caí!

— Sim, vamos beber até vomitar tudo! — A garotinha acenou com a cabeça presunçosamente enquanto o homem continuava fazendo suas rondas, juntando o dinheiro das pessoas.

— Sim, é isso, isso é ótimo! Me faz lembrar dos velhos tempos!

Roxy não fazia ideia de quando foi que a garota sentou-se ao seu lado. Quando percebeu, ela já estava lá, mastigando a comida que Elinalise havia deixado para trás. Mas não se importou. Estava bêbada.

— Bem, aqui, pegue outra.

— Aah, obrigado. Fico feliz por ver esta atmosfera tão boa, me deixa feliz por ter vindo. Aqui, você, beba um pouco! — disse a garota.

— Já estou bebendo — respondeu Roxy.

— Beba um pouco mais!

— Mais? Suponho que não tenho escolha. — Roxy obedeceu e virou o copo. — Pwah!

— Tudo bem, mais um para a jovem senhorita aqui!

— Ah, obrigada.

Ela bateu o copo na mesa e algum cavalheiro jovial apareceu e o encheu para ela. A maga realmente poderia beber este licor doce para sempre.

— Você é incrível, uma verdadeira beberrona! Bem incrível para alguém tão jovem!

— Não quero ouvir isso de você — gracejou Roxy, examinando a garota. Ela usava botas que iam até os joelhos, shorts de couro apertados e uma blusa de couro. A pele pálida de sua clavícula, cintura, umbigo e coxas estava toda à mostra. Ela tinha cabelos roxos volumosos dispostos em ondas e chifres de cabra. Era óbvio, não importa como se olhasse para ela, que era mais jovem do que Roxy.

— Heh heh, não precisa de adulação. Sei bem a minha idade!

Roxy deveria ter suspeitado que algo estava acontecendo, mas ela não tinha os recursos para isso no momento. Já que estava bêbada.

— Eu também sei a minha idade — disse ela. — Bem, beba.

— Ahh, obrigada. O álcool daqui com certeza ficou mais saboroso nos últimos cem anos. Nos velhos tempos, o Continente Demônio não tinha álcool doce como este.

— Este é o álcool do povo do mar — disse Roxy para ela. — O Rei Demônio daqui fechou um acordo com eles.

— Nossa! Bagura Hagura, seu bastardo, você escondeu isso de mim! Eu não vou te perdoar por isso!

— Deixa pra lá — murmurou Roxy — hoje estamos todos em igualdade aqui, certo? Igualdade!

— Ahh, isso mesmo, aqui somos todos iguais!

O Rei Demônio Bagura Hagura era o governante desta região. Ele era um demônio corpulento com cara de porco, considerado a entidade com mais conhecimento no Continente Demônio quando se tratava de comida e álcool. Politicamente, era um moderado, mas ainda participou da linha de frente durante a Guerra de Laplace. Quando ele estava em terras humanas, roubou comida e bebida de casa após casa, ganhando o título de Rei Saqueador.

— Aah, ele caiu!

— Gwaaahah, quem é o próximo? Vou enfrentar qualquer um! Se quiserem, posso enfrentar até dois de uma vez!!

Em algum momento, Talhand tirou a camiseta e se empoleirou em cima de uma mesa. Ele estava com o cotovelo equilibrado em cima de um barril e exalava um ar de superioridade.

— Alguém? Ninguém?

A garota ao lado de Roxy falou:

— Certo, bora lá!

— Qual foi, garota, acha que consegue ganhar de mim? Talvez você devesse tentar daqui uns vinte anos.

— Ha ha ha! Anão tolo! Já vivi trezentos anos! Apenas vinte anos não mudariam nada!

— Ah, sério? Então foi mal. Siga em frente e venha até mim!

— Ah, mas… primeiro, gostaria que você dissesse seu nome! Vou me lembrar de quem foi tolo o suficiente para me desafiar!

— Talhand do Arrojado Grande Pico da Montanha!

— Então tudo bem! Quem vai derrotar você serei eu, o Imperador Demônio dos Olhos Demoníacos, Kishirika Kishirisu!

E então, a batalha de Kishirika e Talhand começou. O álcool extra que compraram logo acabou e tiveram que juntar mais fundos por uma segunda e uma terceira vez. Roxy assumiu a responsabilidade de doar cinco moedas de minério verde inteiras, fazendo com que o ajudante do pub corresse para conseguir mais bebida. Apareceram homens musculosos carregando grandes quantidades de bebida, que foi dividida entre todos do bar enquanto Talhand e Kishirika competiam. Roxy seria a mediadora. Ela não tinha ideia de como ou o que deveria mediar, mas sentou-se entre eles e tomou um gole de sua bebida enquanto aceitava o papel de contar o quanto tomavam.

— Este é o número quarenta — anunciou ela.

Deixando Talhand de lado, cujos hábitos de bebedeira combinavam com seu sangue de anão, onde Kishirika, a garotinha que se autoproclamou um Imperador Demônio, estava enfiando tanto álcool? Ninguém parecia se importar, já que estavam todos bêbados. E então chegou o momento decisivo.

— Mrgh… blegh… — Poucos segundos depois de Talhand soltar aqueles ruídos estranhos, o álcool disparou de dentro dele como uma fonte de água e com a pressão de um foguete. Então ele desabou, segurando o estômago, que agora parecia um dos barris dos quais esteve bebendo. O anão caiu do topo da mesa no chão com um baque ruidoso, com álcool escorrendo de sua boca.

— Eu ganhei!

— Whooooa! Incrível! Você derrotou um anão em uma bebedeira!

— Claro, afinal, meu nome é Kishirika. O Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu! Agora, digam meu nome!

— Kishirika! Kishirika! Kishirika!

— Quem é a maior do mundo?!

— Kishirika! Kishirika! Kishirika!

Um coro de cânticos eclodiu quando Kishirika foi anunciada a vitoriosa, melhorando ainda mais o seu humor.

— Ahahahahaha! Hahahaha!

— É isso, é isso!

— Tira! Tira!

Roxy não conseguiu se lembrar de muita coisa depois disso. Ela sabia que precisava vingar seu camarada caído, mas de repente ficou tonta e a inconsciência a dominou. A última coisa que viu foi Kishirika subindo no balcão e dançando nua.

Na manhã seguinte, Roxy abriu os olhos.

— Urgh…

Sua cabeça latejava e seu rosto formou uma careta quando sentiu o fedor de álcool em seu próprio hálito. Ela imediatamente usou um feitiço feito sob medida para ressacas e para remover as toxinas de seu corpo, então usou um feitiço de cura em sua cabeça. Quando olhou em volta, percebeu que estava em um pub. Parecia que tinha acontecido uma briga; a mesa estava quebrada e barris vazios e garrafas estilhaçadas estavam espalhados por todos cantos.

— Urgh, eu realmente bebi demais. — Sua memória estava confusa, mas ela se lembrava de ter bebido muito.

A maga olhou para o lado para ver um Talhand, seminu, deitado lá com apenas o branco dos olhos à mostra. Por um momento, Roxy pensou que ele poderia estar morto, mas um anão nunca conseguiria beber até morrer. Além disso, Talhand costumava dizer que seu sonho era se afogar até a morte no álcool, então, mesmo se tivesse morrido, teria sido a morte com que sonhou.

Roxy mais uma vez varreu o local com o olhar. Havia montes de corpos por toda parte, todos espalhados e gemendo. Entre eles estava o homem que havia solicitado dinheiro para mais bebidas. Todos tinham claramente se embriagado até esquecer de tudo, e agora estavam sofrendo com a ressaca.

É isso que vocês ganham por beber tanto, sendo que não conseguem nem usar magia de cura, pensou Roxy.

Entre o mar de formas inconscientes, apenas duas pessoas estavam de pé – um taberneiro zangado e uma Kishirika desanimada.

— Compensação, estou pedindo compensação. Não posso vender nada com toda a destruição que todos vocês causaram.

— Sim, uh, mas…

— O quê, você não pode pagar? Não foi você quem disse que cuidaria de todo mundo?

— Eu disse isso, mas pensei que o que eu já paguei seria suficiente…

— Então você não tem dinheiro, tem?

— Não, uh, desculpe, nem um tostão furado.

— Então não tenho escolha a não ser te vender no mercado de escravos.

— O quê? Você ousaria me vender…?! Espera, espera, vou entrar em contato com Hagura, apenas espere!

— Não vou esperar. Você só está dizendo isso para fugir.

Roxy deixou escapar um suspiro e enfiou a mão no bolso. Ela fez uma careta quando pegou sua bolsa de moedas e viu o estado dela. Tinha doado uma grande parte de seus fundos na noite anterior, completamente bêbada.

Não, quem realmente bebeu tudo isso foi Talhand, pensou ela. Roxy voltou-se para o anão inconsciente e pegou sua bolsa de moedas. Ela olhou para dentro, encontrou uma quantidade decente lá e colocou-se de pé. Havia um cheiro azedo vindo de seu ombro, fazendo que ela franzisse o rosto enquanto se aproximava do taberneiro.

— Aqui está o seu dinheiro.

— Hm?

Roxy pegou seis moedas de minério esmeralda e as colocou nas mãos do taverneiro.

— Isso não é o suficiente.

— Nós compramos toda a sua bebida antes de começarmos a pedir mais. Você já lucrou o suficiente, não acha?

— Ah… bem, acho que sim — disse ele enquanto girava nos calcanhares e voltava para a área da cozinha.

Roxy deixou escapar outro suspiro enquanto jogava a bolsa de moedas na barriga de Talhand.

— Ooh… ooooh… sinto muito, sinto muito! — Kishirika estava tremendo diante do olhar de Roxy.

A maga olhou para ela, lembrando-se do que tinha ouvido de seu antigo chefe de aldeia sobre o Grande Imperador do Mundo Demônio. Ela era um pouco diferente do que havia imaginado, mas suas peculiaridades se alinhavam. Se fosse de uma tribo de demônios com uma longa vida, fazia sentido que sua aparência física não combinasse com sua idade. E ela também parecia estar em boas relações com o Rei Demônio da área.

— Desculpe-me, apenas para confirmar; não estou enganada em presumir que você é o Grande Imperador do Mundo Demônio, a própria Kishirika Kishirisu, não é?

— Hm? Ah, isso mesmo! Nos últimos tempos parece que ninguém acredita em mim! E seu nome é?

— Perdão pela apresentação tardia — disse Roxy. — Sou Roxy, da tribo Migurd da Região de Biegoya.

Kishirika soltou um “Oooh” quando ouviu o nome de Roxy.

— Roxy? Ahh, eu te conheço! Você é a mestra do Rudeus!

— Você conhece o Rudy…?

— Acontece que me encontrei com ele em Porto Vento. Aquele garoto era bem interessante!

— N-não diga… — Roxy se perguntou, desconfiada, o que Rudeus havia dito sobre ela, mas estava com muito medo de questionar.

— Hm, Rudeus me ajudou em um problema, e você se mostrou uma ótima professora. Você também me ajudou, então vamos ver… por que não te dou uma recompensa?

O coração de Roxy saltou ao ouvir a palavra recompensa. O Grande Imperador do Mundo Demônio era famoso por conceder olhos demoníacos às pessoas. Foi precisamente por causa desse poder que ela foi chamada de Imperador em vez de Rei, e foi essa habilidade que a deu força militar para iniciar a Grande Guerra Demônio-Humano.

O que deu a Roxy uma ideia.

— Um, Sua Grandeza, você é capaz de procurar pessoas desaparecidas com seus olhos demoníacos?

— Sim, eu sou. Não há qualquer pessoa neste mundo que eu não consiga encontrar — gabou-se Kishirika.

— Tudo bem… então eu gostaria que você procurasse por Rudeus e sua família. Estão todos atualmente desaparecidos — disse Roxy sem qualquer hesitação. Renunciar um olho demoníaco de Kishirika era lamentável, mas ela ouviu que o Olho que Tudo Vê do Imperador Demônio poderia encontrar qualquer coisa e qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo.

— Oho, que admirável de sua parte, usar o seu único desejo pelo bem de outro! Se eu estivesse na minha posição de costume, poderia te conceder a posição de Rei Demônio!

— Não, eu não preciso disso.

— Ah, entendo, humilde demais para isso. Bem, então… — O olho de Kishirika girou, mudando de cor. Ela esticou o pescoço para um lado e para o outro, cantarolando para si mesma enquanto balançava a cabeça. — Rudeus está na parte norte do Continente Central. Ele está vestindo roupas leves e correndo. Talvez esteja treinando.

Roxy balançou a cabeça. Parecia que, assim como a mensagem deixada havia solicitado, ele iria fazer uma busca na parte norte do Continente Central. O garoto poderia ter ido direto de Millishion para Begaritt, mas provavelmente queria ver o estado de sua casa antes de partir.

— Seu pai está em Millishion, junto com uma empregada. Hmm, a empregada aparentemente se chama Lilia… e estão morando no mesmo prédio, com suas duas filhas.

— Oh — Roxy deixou escapar um suspiro. Ela tinha ouvido falar que Lilia e Aisha ainda estavam desaparecidas, mas aparentemente foram encontradas e estavam seguras. Talvez Rudeus as tivesse encontrado no Continente Demônio e as escoltado para casa.

— A mãe dele está… espera aí. — Kishirika cantarolou e contraiu o rosto, apertando os olhos. — Ela está no Continente Begaritt, na Cidade Labirinto de Rapan… pelo que parece.

O rosto de Roxy se iluminou. Ficava longe, mas pelo menos ela confirmou que estavam todos vivos. Como esperado da família Greyrat – a sorte deles era incrível.

— No entanto… algo está um pouco estranho. — O rosto de Kishirika se contraiu e seus olhos se abriram lentamente.

— Há algum tipo de problema?

— Não… hmm, não consigo ver.

— Você não consegue ver? Mesmo com o seu olho, Sua Grandeza?

— Ainda não estou com minhas forças totais — explicou Kishirika. — Bem, você vai entender se ver por si mesma.

 

 

 

— Isso é preocupante. Se algo estiver errado, eu preciso saber os detalhes. — Roxy a pressionou por uma explicação. Em suas últimas aventuras, ela viu tragédias que se abateram sobre os refugiados. Era desconcertante que até mesmo o Grande Imperador do Mundo Demônio estivesse tendo problemas para se concentrar em Zenith com seus olhos demoníacos.

— Bem… reclame se quiser, mas não consigo ver o que não consigo ver. Ahh, é mesmo. Isso pode ser uma surpresa, mas ela pode estar no meio de um labirinto. É uma cidade labirinto, e eu nunca estive lá, então não posso dizer com certeza.

— Você não pode ver dentro do labirinto? — perguntou Roxy.

— Não. O labirinto de Begaritt está transbordando com uma alta concentração de mana.

Roxy começou a pensar. No passado, Zenith chegou a entrar em masmorras com Paul, Elinalise e Talhand. Ao viajar com eles pôde ter uma noção de sua força. No entanto, por que ainda não havia entrado em contato? Passaram-se três anos desde o Incidente de Deslocamento.

— De qualquer forma, ela está viva, certo?

— De fato, não há dúvida quanto a isso — assegurou Kishirika.

Roxy decidiu acreditar nessas palavras. Seja qual fosse o motivo, teriam que mergulhar naquele labirinto.

Ela abaixou a cabeça.

— Entendo. Muito obrigada.

— Não se preocupe. É uma demonstração de gratidão pela ajuda que você forneceu. — Kishirika deu um aceno exagerado com a cabeça e, ainda um pouco instável em seus pés, se despediu do pub.

 

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Naquela tarde, Talhand acordou e voltou a beber como se nada tivesse acontecido, e Elinalise voltou com chupões no pescoço. Roxy convocou os dois para uma reunião.

— Foi boa sorte ter encontrado o Grande Imperador do Mundo Demônio. — Quando ela ouviu sobre Kishirika, Elinalise apenas riu baixinho. Roxy não achou que fosse um evento tão significativo, talvez porque se conheceram enquanto estavam bêbadas em um pub. Ou talvez fosse a falta de dignidade de Kishirika.

— Deixando isso de lado, significa que nossa jornada acabou, certo? — falou Talhand, parecendo um pouco relutante em ver o fim de sua missão.

Levariam um ano para chegar ao Continente Millis a partir de onde estavam, mas era verdade que seu objetivo havia sido cumprido. Confirmaram que toda a família de Paul estava viva, e até sabiam onde os dois últimos estavam localizados. Estava tudo acabado.

— O que você vai fazer, Roxy?

— Vou voltar para Millishion e falar com Paul sobre o que descobri — disse ela.

— Então vamos nos separar de você em algum lugar pelo caminho — respondeu Elinalise.

Parecia que ela e Talhand não queriam se encontrar com Paul. A razão aparentemente era a grande briga que tiveram quando ele partiu, mas não contariam a ela exatamente o que tinha acontecido. Roxy também não estava particularmente interessada, então não foi tão persistente em perguntar.

— Hmm, mas Rudeus está bem longe e sozinho — comentou Talhand, pressionando a mão no queixo.

Isso levou Roxy a repentinamente perceber algo. Ela partiria em direção a Millishion, e então, provavelmente, viajaria com Paul em direção ao Continente Begaritt. Se fizesse isso, Rudeus seria deixado sozinho, sem saber das circunstâncias, procurando sozinho na parte norte do Continente Central.

— Precisamos encontrar uma maneira de avisá-lo — disse Elinalise, preocupada.

Mas como? A parte norte do Continente Central parecia próxima em um mapa, mas na realidade ficava muito mais longe. Roxy começou a pensar. Rudeus era excepcional, mas ainda era jovem. Seria cruel deixá-lo lutar em vão durante um período tão vulnerável de sua vida. Quer ele se reencontrasse com sua família ou partisse sozinho, ela pelo menos queria dizer que não precisava mais procurar.

— E é aí que eu entro… du-du-du-dun!

— E eu! Dun-du-dun!

De repente, dois intrusos apareceram do nada.

— Ouvi a conversa toda!

— Pura espionagem!

O primeiro a irromper pela porta foi um homem de boa constituição. Um único olhar para ele foi o suficiente para indicar que se tratava de um demônio, já que tinha pele parecida com obsidiana e seis braços. Os de cima estavam dobrados sobre o peito, os do meio estavam fazendo revólveres de dedo apontados para Roxy, e os de baixo estavam descansando em sua cintura. Seu cabelo, que descia até a cintura, era roxo. Empoleirado em seu ombro, reclinada e descansando, estava o Grande Imperador do Mundo Demônio.

— Vamos lá! Eu sou Kishirika Kishirisu! As pessoas me chamam de… o Grande! Imperador! Do! Mundo! Demônio!

— E eu sou o noivo dela, o Rei Demônio Badigadi!

Os outros três olharam, estupefatos. A primeira a reagir foi Elinalise.

— Um, acho que nos vimos pela última vez nesta manhã, senhor.

— Ahahaha, tive uma noite incrível com você, senhorita! — Badi fechou o punho e inseriu o polegar entre o indicador e o dedo médio enquanto respondia.

Roxy sentiu que estava começando a suar frio quando perguntou:

— V-vocês dois se conhecem?

— Um, basicamente, acho que sim…?

Pelo visto, Elinalise havia saído do bar em que Roxy estava e ido com um homem para outro durante a noite anterior. Lá, o homem tinha deixado Elinalise bêbada, e ela toda feliz retribuiu o favor. A próxima coisa que soube foi que ela estava acordando nos braços negros do homem diante deles. Depois disso, os dois fizeram de novo e de novo durante a noite toda.

— Hã? Mas agora mesmo, você disse noivo… o quê? Ah, suponho que devemos nos apresentar primeiro? — Aturdida, os olhos de Roxy se moveram para frente e para trás, mas ela finalmente decidiu abaixar a cabeça.

— Hm, Roxy, levante a cabeça. Já que o Badi é tão popular, esta é uma ocorrência quase diária.

— Hm, parece que é fisicamente impossível para mim colocar em Kishirika, então não tenho outra escolha.

As palavras foram ditas de maneira tão despreocupada que o cérebro de Roxy lutou para digerir o significado. Por cortesia de Elinalise, ela ganhou um conhecimento superficial sobre esses assuntos, mas as relações adúlteras entre sua companheira e um homem que se chamava de Rei Demônio, o noivo da Grande Imperador do Mundo Demônio, iam além de sua compreensão.

— Contudo! Deixando tudo isso de lado!

— De fato; foi apenas uma aventura passageira, de qualquer forma!

Roxy conhecia o Rei Demônio Badigadi, ou o Rei Demônio Imortal Badigadi, como era conhecido. Ele era o Rei Demônio que governava a região de Biegoya, irmão mais novo do Rei Demônio Imortal Atofe. Atofe alinhou-se com os moderados durante a guerra e lutou contra o Deus Demônio Laplace no Castelo de Kishirika, onde foi derrotado. Seu paradeiro atual era desconhecido, mas ele era uma figura venerada.

— Roxy, tenho uma dívida com Rudeus. Se ele se perdeu, então vou lhe emprestar a minha força!

— Embora ela vá pedir emprestada minha força para fazer isso!

Antes que Roxy, tão confusa como estava, pudesse responder, Talhand se recuperou. Ele acariciou sua espessa barba, dirigindo um olhar interrogativo para Kishirika.

— Tem certeza disso?

— Ooh, você é o anão de ontem! Sim, tenho certeza, certo, Badi? — Kishirika bateu na cabeça dele e o Rei Demônio assentiu.

— Sim, estou curioso sobre esse pirralho chamado Rudeus, a quem Kishirika continua elogiando a cada chance que tem! Quero ver com meus próprios olhos o quão grande ele realmente é!

— O que é isso? Você está com ciúmes, querido? — murmurou Kishirika.

— Claro que estou, querida — respondeu Badi, por sua vez.

— Tsk, você ainda é uma criança. Eu amo você e só você.

— Heh, não vou deixar isso me tornar complacente. Vou esmagar qualquer rival que apareça.

E você esmagar Rudeus seria ruim, pensou Roxy consigo mesma, mas ela tinha a sensação de que não a ouviriam.

— Heh heh heh.

— Hahaha.

— Ahahahaha! Hahahah! Haha… urk!

— Hahahaha! Ahahaha! Ha… você está bem?

A conversa avançou rapidamente, antes que Roxy pudesse começar a entender.

 

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Era de conhecimento comum neste mundo que os mares eram governados pelo povo do mar, que por sua vez controlava a habilidade daqueles que viviam na terra de cruzá-los. Essa configuração foi resultado da discórdia que eclodiu no processo da Guerra de Laplace chegando ao fim, mas por enquanto vamos deixar isso de lado.

O Rei Demônio Bagura Hagura e o Rei do Povo do Mar eram amigos bem próximos, e o Rei do Povo do Mar permitia a passagem de seus amigos em segredo. Enquanto isso, o Rei Demônio Badigadi e o Rei Demônio Bagura Hagura também eram velhos conhecidos. Fazendo uso dessa conexão, seu grupo poderia contornar a rota que os levaria através do Continente Divino e seguir direto para o Continente Central.

No entanto, se Roxy fosse com eles, o relatório para Millishion seria adiado. Alguém teria que ir até Millishion para atualizar Paul, e Roxy não poderia fazer isso sozinha. O Continente Demônio era muito perigoso, mesmo para uma maga excepcional como ela. Seu julgamento era aguçado e seus encantamentos e feitiços rápidos, mas ela ainda tinha que dormir à noite.

— Definitivamente me recuso. Não quero ver o rosto de Paul — disse Elinalise.

— Sim, eu também — Talhand entrou na conversa.

— Tudo bem. Então eu vou. — Já que os dois estavam sendo egoístas, Roxy iria primeiro para Millishion. Pessoalmente, teria preferido ir até Rudeus, mas não tinha outra escolha.

Só precisava de mais uma pessoa para ir com ela. Os dois trocaram olhares e, logo, Talhand desistiu.

— Acho que serei eu. Para falar a verdade, não estou ansioso para voltar a andar em um desses navios.

— Minhas condolências — disse Elinalise.

Os ombros de Talhand cederam. Roxy não viu porque os dois não podiam simplesmente ir para Millishion e informar Paul por carta, mas aparentemente tinham seus motivos, então ela não pensou muito sobre isso.

E, assim, o grupo de Roxy se dividiu em dois. Roxy e Talhand traçariam seu caminho de volta a Millishion. Elinalise viajaria com o Grande Imperador do Mundo Demônio Kishirika Kishirisu e o Rei Demônio Badigadi para a parte norte do Continente Central. Iria demorar bastante até que o navio deles partisse, então Roxy decidiu partir primeiro.

— Senhorita Elinalise, obrigada por tudo.

— Digo o mesmo, Roxy. — As duas trocaram um aperto de mão firme. — Se você encontrar um bom homem, é melhor não deixá-lo escapar. Você tem que usar os lábios superiores e inferiores para segurá-lo com força.

— Você vai começar com isso de novo?

— Não, não, apenas me escute. Se há alguém de quem você realmente gosta, dê tudo para essa pessoa. O amor é algo que pode crescer com o tempo.

Talhand soltou um suspiro diante das palavras de Elinalise.

— Você disse a mesma coisa para Zenith, não foi?

— Sim. Foi assim que ela conseguiu o Paul. Meu ensino é perfeito.

Então é isso, pensou Roxy enquanto ouvia. Ao seu ver, Paul e Zenith pareciam ser o casal ideal. Se foi o conselho de Elinalise que os uniu, então era um conselho que valia a pena ouvir.

— Muito bem, Senhorita Elinalise. Se eu encontrar essa pessoa, vou “dar tudo para ela”.

— É claro. Com certeza direi a Rudeus como você se sentia infeliz à noite, se mexendo nos lençóis enquanto cuidava de tudo sozinha.

— Espera… por que você sabe sobre isso? E, por favor, não diga isso. Eu não estava pensando no Rudy enquanto fazia aquilo.

— É claro, é claro.

Naquele momento Roxy percebeu algo. Se Elinalise começasse sua busca, ela provavelmente encontraria Rudeus dentro de cerca de um ano. Ele já deveria ter uns treze ou quatorze anos. Nessa idade, não seria incomum pensar que Elinalise pudesse estar interessada nele. Isso meio que a incomodou.

— Você ficou quieta de repente. Qual é o problema?

— Não, é só que… Se Rudy tiver se tornado um bom homem, você irá atrás dele?

Roxy tentou soar o mais casual possível ao perguntar e, quando o fez, Elinalise soltou um suspiro de desgosto.

— Ha! Eu não tenho o menor desejo de me tornar a nora do Paul. — Ela parecia genuinamente enojada.

Sentindo-se mais tranquila, Roxy apenas disse:

— Ah, tá bom. — E em seguida:  — Bem, é melhor continuarmos.

— Até mais, Roxy. Tenha uma boa viagem.

— Sim, você também, Senhorita Elinalise.

Elinalise deu uma olhada em Talhand. Ela pairou sobre o anão baixo e atarracado, olhando-o como se ele fosse algum tipo de inseto.

— Talhand, por favor, vá embora e morra em uma vala por algum lugar.

Talhand parecia igualmente aborrecido ao vê-la e cuspiu no chão.

— Devolvo essas palavras para você

Assistindo isso, Roxy se lembrou mais uma vez de que os dois eram, de alguma forma, próximos.

Mais tarde, Elinalise embarcou em seu próprio navio. Era um navio que nos tempos antigos pertencia ao povo do mar. Ele era puxado por criaturas marinhas, fazendo com que os navios feitos por humanos parecessem miseráveis se comparados, mas os navios humanos eram, na verdade, mais rápidos e seguros.

Elinalise subiu a rampa ao lado de Badigadi. Atrás deles soou a risada ecoante de Kishirika.

— Hahahaha! Pois bem, vamos nos ver de novo, Badi! Quando você quiser me ver novamente, volte para o Continente Demônio!

— De fato, e mantenha sua boa saúde, minha prometida! Eventualmente vamos nos reencontrar! Ahahaha!

— Quem sabe quantos anos vai demorar até a próxima vez! Bwaahaha!

O Grande Imperador do Mundo Demônio, Kishirika Kishirisu, não embarcou no navio. Quando Elinalise viu isso, inclinou a cabeça.

— Hm? Ela não vai vir conosco?

— Mm. Kishirika não pode deixar o Continente Demônio.

— Ah, uma maldição?

— Algo desse tipo.

Se assim fosse, Elinalise teria preferido que Kishirika acompanhasse Roxy e Talhand. Sua segurança seria assegurada com o Grande Imperador do Mundo Demônio por perto. Então, novamente – ela pensou em como seria para Roxy ter alguém como Kishirika seguindo-a por aí e mudou de ideia.

Enquanto isso, a jornada de Roxy Migurdia continuou.

 


 

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