Meu nome é Gustaf. Sou um humilde corretor de informações que mora na cidade de Ars, capital do Reino Asura.
Quando digo “humilde”, isso não significa que não tenha uma opinião negativa de mim mesmo. É justo dizer que sou muito bom no que faço, na verdade. Pelo preço certo, posso descobrir qualquer coisa que queiram saber sobre qualquer coisa que aconteceu dentro das fronteiras de Asura.
Um dia, não muito tempo atrás, ouvi um certo boato.
Era mais ou menos assim: A Segunda Princesa, Ariel Asura, foi assassinada por assaltantes desconhecidos enquanto ia se matricular na Universidade de Magia de Ranoa.
Sendo o cara inteligente que sou, rapidamente percebi que essa “notícia” estava sendo deliberadamente espalhada pela cidade pelo Príncipe Grabel, o rival mais acirrado de Ariel.
Há cerca de um mês, a princesa havia deixado Ars, aparentemente para estudar no exterior. Sua partida foi tranquila. Dada sua popularidade com os cidadãos da capital, qualquer tentativa de um grande desfile de despedida poderia ter ficado totalmente fora de controle. Supostamente, foi por isso que escapou da cidade em segredo. Sua comitiva, incluindo guardas e assistentes, contava apenas com dezessete indivíduos. Era uma comitiva bem pequena para uma princesa real. Mas como incluía o infame playboy Luke Notos Greyrat e o guarda-costas altamente conspícuo conhecido como “Fitz Silencioso”, minha rede de informações logo me trouxe a notícia de sua partida.
A essa altura, é claro, já proliferavam os rumores de que Ariel fora mandada para um exílio após perder a luta pelo poder na corte real. E agora, poucas semanas depois, tínhamos esse novo boato circulando.
Se a princesa realmente tivesse sido assassinada, a notícia se espalharia muito rapidamente. Se houvesse alguma testemunha que pudesse nomear os responsáveis, seria uma coisa, mas, em vez disso, tínhamos “agressores desconhecidos” e uma fonte anônima. O fato de um boato tão frágil estar se espalhando pela cidade tão rápido parecia prova suficiente de que estava sendo espalhado de propósito.
Como provedor profissional de informações precisas, fiquei tentado a vasculhar e descobrir a verdade. No entanto, a última coisa que queria era chamar a atenção de qualquer nobre ardiloso responsável por esta situação, então decidi me manter no escuro sobre isso.
Porém… um pouco depois que o boato sobre a morte de Ariel começou a se espalhar, um certo indivíduo me fez uma visita.
Este homem sabia sobre mim e minha reputação como um corretor de informações de primeira linha. E eu o reconheci como um servo de Pilemon Notos Greyrat, líder da facção da Princesa Ariel entre a nobreza. Seu papel principal era fornecer a seu senhor informações atualizadas. Claro, ele veio me ver disfarçado e deu um nome falso, mas poderia muito bem não ter se incomodado com essas coisas.
O sujeito parecia me considerar alguém suspeito e falou comigo de uma maneira bastante condescendente. Quando finalmente disse que sabia exatamente quem ele era, o homem abaixou a cabeça e me apresentou uma oferta de trabalho.
Especificamente, queria que eu descobrisse se a Princesa Ariel estava mesmo morta.
Isso foi uma grande surpresa, sério. Eu nunca teria imaginado que os próprios aliados de Ariel haviam perdido todo o contato com sua facção e nem mesmo sabiam se ela estava segura. Até mesmo um cara inteligente como eu pode ficar um pouco confuso de vez em quando. Inicialmente escolhi ficar longe de toda essa bagunça… mas acabei decidindo aceitar o trabalho.
Por quê, me pergunta?
Bem, porque o dinheiro oferecido era muito bom, é claro.
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Comecei refazendo os passos da Princesa Ariel.
Depois de deixar a capital, seu grupo viajou direto para o norte, em direção a Ranoa. Considerei a possibilidade de ela ter fugido para uma direção totalmente diferente depois de espalhar mentiras sobre a matrícula na Universidade de Magia, mas não parecia ser o caso.
Enquanto seguia a trilha dela e reunia informações, logo ficou claro que um grupo de perseguidores estava em seu encalço. Algumas pessoas relataram ter visto pessoas suspeitas vestidas de preto bem na época em que o grupo da princesa estava passando por sua cidade, e Ariel parecia ter perdido uma escolta ou duas quando chegou à próxima cidade ao longo de sua rota.
Mas isso não foi inesperado. Se a viagem tivesse corrido bem, seus aliados não teriam procurado freneticamente por notícias de sua segurança.
Apesar de perder um guarda após o outro, Ariel, no entanto, continuou seguindo para o norte. Com sua comitiva reduzida a dez, finalmente alcançou o posto de controle na fronteira norte. Era uma instalação sólida e bem protegida que pressionava contra uma grande floresta ao sul do vale conhecido como Mandíbula Superior do Wyrm Vermelho.
Neste lugar, consegui obter um testemunho útil de um homem que se lembrava muito bem da chegada de Ariel.
Oficial de Controle da Fronteira
Depoimento de Smily Gatlin
Eu estava de péssimo humor naquele dia. Não que nos outros dias meu humor fosse melhor. Afinal, na época, sentia que estava sendo completamente desperdiçado em meu posto.
Hmm? Exatamente no quê eu trabalhava? Bem, meu trabalho era na maior parte do tempo tedioso e chato. Eu verificava os passes de viajantes que procuravam deixar o território Asurano. Às vezes, poderia revistar as pessoas ou seus pertences enquanto procurava por contrabando. Mas, é claro, a grande maioria dos que passavam por este posto de controle eram aventureiros, mercenários ou mercadores que queriam fazer negócios no norte por algum motivo estranho. A maioria dos mercadores tinham passes válidos, e os aventureiros tinham permissão por simplesmente usar seus cartões da Guilda.
Bandos mercenárias e viajantes de primeira viagem precisavam passar por um processo de inspeção formal antes que seus passes pudessem ser emitidos, mas esse não era o meu trabalho. Eu simplesmente os encaminho para um oficial diferente. E, a menos que fosse algum tipo de criminoso notório ou algo assim, os documentos logo ficariam prontos. Não somos muito rígidos com essas coisas deste lado do posto de controle. Afinal, muito mais pessoas querem entrar em Asura do que sair.
Tecnicamente, também sou responsável por impedir criminosos que tentam cruzar a fronteira usando documentos falsificados, mas o trabalho bruto também não é meu departamento. Os soldados é que lidam com problemas dessa natureza.
Como falei antes, no entanto, normalmente não é muito difícil conseguir um passe, a menos que seja um grande criminoso. Pessoas desse tipo geralmente estão na lista de procurados. Em vez de correr o risco de visitar um posto de controle, recorrem a contrabandistas para fazer a travessia. E, claro, caçar e erradicar redes de contrabando também não estava na minha descrição de trabalho.
Eu achava meu trabalho muito enfadonho e completamente inútil. Não importa o quanto tentasse, sabia que nunca ganharia nenhum reconhecimento. A ideia de envelhecer neste lugar me deixava totalmente infeliz.
O fato de eu não ser muito amigável com os soldados, que eram essencialmente meus colegas de trabalho, também não ajudava muito. Os considerava imbecis e eles pensavam em mim como um viadinho patético com um ego enorme. O fato de nossas cadeias de comando estarem separadas só piorava as coisas.
Eu era um homem formado em uma prestigiosa academia aristocrática da capital. Meus talentos estavam claramente sendo desperdiçados neste fim de mundo… ou assim acreditava.
O grupo da Princesa Ariel chegou por volta do meio-dia, se bem me lembro.
A princípio, tudo que vi foi uma luxuosa carruagem de dois lugares acompanhada por sete guardas a pé. Contando o motorista na frente e os dois passageiros em potencial dentro, parecia ser um grupo de dez.
Meu pensamento inicial foi que um aristocrata estava se envolvendo em algum tipo de expedição turística. No entanto, essa era a fronteira do Reino. Além desse posto de controle, ficavam apenas as perigosas terras estrangeiras conhecidas como Territórios Nortenhos, infestadas por neve e monstros. Os nobres às vezes passavam a caminho de lugares distantes, mas sempre traziam pelo menos três carruagens e vinte guardas ou mais. Talvez pudessem se contentar com menos se contratassem um bando de aventureiros de elite, mas esse grupo não me pareceu um de guerreiros endurecidos pela batalha. Todos estavam vestidos para pegar a estrada, mas alguns claramente não estavam acostumados a longas viagens, e outros pareciam um tanto quanto magros para serem guarda-costas.
Então talvez não fosse uma viagem turística. Seria possível que tivessem algum negócio neste próprio posto de controle? Não seria bom descartar a possibilidade de uma inspeção surpresa de algum lorde de alto escalão.
Por enquanto, decidi proceder como de costume.
— Posso ver seu passe, por favor?
— Aqui está.
A resposta à minha pergunta veio de um jovem que estava à frente do grupo. Ele era incrivelmente bonito, até mesmo aos meus olhos, mas havia sinais claros de exaustão em seu rosto. Os círculos escuros sob seus olhos se destacavam muito.
Foi neste momento que senti, pela primeira vez, que poderia haver algo estranho acontecendo.
Não havia problemas com o próprio passe. Era um documento genuíno emitido pelo Reino Asura, carimbado com uma marca válida da família Notos. Tudo estava em perfeita ordem. Eu normalmente teria acenado para eles passarem através do portão sem nem pensar duas vezes.
Mas algo no rosto do jovem bonito me fez hesitar. Eu poderia jurar que já tinha o visto em algum lugar. Em retrospecto, isso acontecia porque se tratava de Luke Notos Greyrat, o famoso cavaleiro guardião da Princesa Ariel. Suponho que não poderia o reconhecer, já que nunca tinha o visto de tão perto.
Em todo caso, criei o hábito profissional de deter qualquer pessoa que me parecesse vagamente familiar. Afinal, a maioria dos rostos que eu memorizava eram de representações de criminosos procurados.
— Minhas desculpas, mas posso dar uma olhada no interior de sua carruagem?
Com minhas palavras, vários soldados que estavam parados ao redor do posto de controle se moveram para bloquear as saídas. Não éramos muito amigáveis, é verdade, mas sempre cumpriam seus deveres em momentos assim. Vários dos guardas ao redor da carruagem ficaram visivelmente tensos com esse desenvolvimento. Eu me enrijeci um pouco, me perguntando se realmente estava lidando com alguma gangue perigosa.
O belo jovem balançou a cabeça lentamente.
— Devido a certas circunstâncias extraordinárias, o passageiro deve seguir com total privacidade.
Não havia nenhuma maneira de que isso funcionasse, é claro.
Quando repeti minha exigência em termos um tanto mais duros, o rosto do jovem se contorceu em uma careta amarga. Vários de seus companheiros – aqueles que pareciam mais acostumados a viajar, especificamente – também olharam para mim e colocaram as mãos nas espadas que carregavam. Seus movimentos não eram tão rápidos quanto os de guerreiros mestres, mas tive a sensação de que haviam experimentado sua porção de combates.
Principalmente o garoto de cabelo branco e estatura baixa que estava bem atrás do belo líder. Ele, na verdade, era bastante intimidante. A única arma que carregava era uma varinha do tipo que os iniciantes usavam para praticar magia básica, mas algo sobre a maneira como se portava sugeria que era um lutador verdadeiramente letal e com a cautela de um veterano experiente. Suponho que devia ser o tal de “Fitz Silencioso”. Acho que nunca senti tanto medo de um menino com menos da metade da minha idade.
Minha experiência me disse que um grupo como esse poderia causar danos significativos à nossa guarnição. Deveria ordenar aos soldados que os prendessem, ou havia alguma outra opção?
Enquanto eu hesitava, alguém falou de dentro da carruagem.
— Pare com isso, Luke.
Era uma voz de ouro. O som disso transformou meu cérebro em mingau. Havia algo quase hipnótico nela, acredito. Naquele momento, realmente desejei ouvir aquilo para sempre.
Era uma voz que já tinha ouvido antes – uma que reconheci.
Tinha ouvido isso dez anos antes, na cerimônia de formatura da minha academia na capital, quando certa pessoa fez um discurso congratulatório ao nosso orador. Por mais breve que tenha sido o discurso, nunca o esqueci. Nunca. Naquela época, acho que quase todos os graduados do local se amaldiçoaram por não terem estudado mais.
— Esses homens estão simplesmente sendo diligentes em seus deveres.
Quando a porta daquela carruagem foi aberta, senti um enorme arrepio correr pela minha espinha.
Não poderia a esquecer, mesmo se tentasse.
Eu me lembrava claramente, mesmo agora, da jovem princesa que compareceu à nossa cerimônia de formatura como uma convidada de honra. Lembrei-me da alegria que senti com a perspectiva de servi-la e servir a este reino. Lembrei-me de como me senti privilegiado por ingressar nas tropas deste país orgulhoso.
Vou me lembrar dela até o dia da minha morte.
— M-minhas desculpas, Vossa Alteza…
Mesmo quando criança, aquela princesa de cabelos dourados era deslumbrantemente linda, e agora estava diante de mim, muito mais linda do que antes. Caí sobre um joelho na mesma hora, incapaz de pensar em qualquer coisa.
Não podia haver dúvidas a este respeito. Esta era a Segunda Princesa do Reino Asura, Ariel Anemoi Asura – a mais amada da família real, que regularmente aparecia em eventos ao redor da capital e defendia seus cidadãos. Muitos dos soldados presentes já deviam ter ao menos a vislumbrado em algum momento do passado. Mas com certeza foi a primeira vez que qualquer um de nós a viu de tão perto.
— Não há necessidade disso. Pelo que me lembro, existe uma lei que determina que ninguém servindo em um posto de fronteira precisa se ajoelhar no desempenho de suas funções normais.
Com essas palavras, a princesa saiu de sua carruagem.
Quase todos os soldados ao nosso redor seguiram meu exemplo e se ajoelharam. Mas, como a Princesa Ariel apontou, salvo algum tipo de circunstâncias especiais, ninguém em serviço deveria se ajoelhar. Não sei o motivo exato, mas há muitos e muitos anos já era assim. Desde que comecei a trabalhar neste lugar, nunca me ajoelhei diante de ninguém, não importa sua posição. Esta também foi a primeira vez que vi algum dos soldados fazer isso. E ninguém jamais nos repreendeu ou desafiou por essas questões.
Mas é claro que o fato de não ser obrigatório não significava que fosse proibido. Ficamos como estávamos e inclinamos nossas cabeças para Ariel. Simplesmente parecia ser o que deveríamos fazer.
— P-Princesa Ariel, eu… sinto que é meu dever perguntar… por que você veio para uma travessia de fronteira como esta com um séquito tão pequeno?
— Não consegue dizer só de olhar?
Eu sabia que algo estranho estava acontecendo, é claro, e quando procurei minha memória com base no que Ariel disse, um evento de cerca de um mês antes da ocasião passou pela minha mente.
O indivíduo no comando geral deste posto de controle não era eu, é claro, nem meu superior direto, o Oficial Sênior de Controle de Fronteira. Era um nobre que também servia como prefeito de uma cidade próxima, o lugar mais próximo onde os viajantes podiam encontrar hospedagem. O homem poderia passar meses sem dar as caras, mas aparecia para nos dar algumas ordens quando sentia necessidade.
Em sua última visita, ele nos disse: “Nos próximos meses, alguém muito nobre pode acabar fazendo uma visita.” Com base na frase “alguém muito nobre”, imaginei que isso envolveria dezenas de carruagens cercadas por enxames de atendentes, então nem me lembrei do incidente até que realmente vi a princesa.
— Disseram-me que alguém muito nobre poderia estar chegando, sim…
— E foi só isso que lhe disseram?
Sua pergunta fez minhas memórias daquele momento ficarem ainda mais claras. O homem havia, de fato, continuado: “Esta pessoa provavelmente tentará cruzar a fronteira e fugir para o norte. No entanto, você não deve permitir isso. Encontre um motivo para atrasar o grupo e manter todos esperando na cidade por vários dias.”
Recebi ordens para não permitir a travessia. Para detê-la aqui.
Em outras palavras, para garantir sua morte.
Não era a primeira vez que recebíamos um pedido do tipo. Era relativamente comum que nobres que cometeram erros graves na capital tentassem fugir para o norte e, em tais casos, o comandante nos daria instruções semelhantes. Às vezes, diziam-nos para deixá-los passar, e chegariam em segurança ao norte. Mas, às vezes nos diziam para atrasá-los um pouco e, inevitavelmente, “desapareceriam” na floresta logo além da fronteira.
Nasci e fui criado na capital, mas sou plebeu de nascimento. Sei muito pouco sobre a corte real e suas facções. Claro, estava ciente de que a nobreza como um todo estava constantemente envolvida em violentas lutas pelo poder. Percebi que meu superior não estava condenando certos fugitivos em troca de dinheiro, muito menos ao acaso. Aqueles que sobreviviam sem dúvida pertenciam à sua facção da aristocracia, enquanto aqueles que morriam eram leais aos seus inimigos.
Essa adorável jovem princesa havia perdido uma luta contra os aliados de meu supervisor e agora estava fugindo. Essa parecia, de longe, a possibilidade mais provável.
— Qual o problema? Me responda.
Por um momento, fiquei perdido em pensamentos.
Seria fácil sorrir abertamente e responder “Não. Disseram-me simplesmente para tratá-la com a maior cortesia. No entanto, parece haver algumas pequenas irregularidades no seu passe. Pode demorar um pouco para resolver isso, então poderia voltar amanhã?” No passado, fiz sempre assim. Encontrar algum pequeno detalhe para justificar um atraso não me representaria nenhuma dificuldade.
Mas, ao mesmo tempo, me perguntei se isso era o que deveria fazer.
Qual era o propósito do meu trabalho, preso a este ponto de fronteira monótono?
Certamente não estava “servindo ao meu país” de maneira apreciável. A própria ideia era absurda. Tal pensamento nunca passou pela minha cabeça, sequer uma vez, mesmo em todo o tempo que já desempenhava o cargo.
E, ainda assim, apesar de todo o meu cinismo, houve um momento solitário em minha vida em que senti um verdadeiro dever patriótico. Como mencionei antes, foi na minha cerimônia de formatura, quando vi a Princesa Ariel pela primeira vez. Naquele dia, realmente me considerei uma pequena parte de um grande e orgulhoso país. A ideia de servir a minha nação e a ela me deu alegria.
Agora que me lembrava desses sentimentos, tinha que me perguntar: Será que estava realmente disposto a recuar e deixar essa jovem princesa ser entregue ao seu destino?
A resposta decisiva surgiu de imediato. Não senti necessidade de hesitar.
— Disseram-me para parar aquele nobre aqui e garantir que passasse vários dias à espera na cidade vizinha.
Todos os guardas da princesa reagiram a essas palavras, mas a própria Ariel permaneceu totalmente calma e imperturbável.
— Entendi. Então, o que pretende fazer?
— Nada em especial.
— Você não vai cumprir suas ordens? Não importa o quão estranhas possam ser, ignorá-las pode te fazer perder a cabeça.
Eu não pude deixar de rir suavemente com a franqueza de suas palavras.
— Minhas ordens, senhorita? Não tenho certeza do que você está falando. Nunca ouvi falar de qualquer “pessoa muito nobre” indo para um país estrangeiro com uma única carruagem surrada e menos de dez guardas.
— Oh?
— No momento, estou lidando com uma jovem bastante pomposa cujo nome eu nem sei. Se importaria de me dizer quem você é, aliás?
A Princesa Ariel riu com o que parecia ser uma diversão genuína. Talvez estivesse gostando dessa farsa quase tanto quanto eu.
— Sou Ariel Canalusa. A única filha de um nobre de baixo escalão, na verdade.
— Muito bem então, Senhorita Canalusa. O que a traz para o norte?
— Estou viajando para Ranoa para me matricular na Universidade da Magia.
— É mesmo? Bem, não vejo problemas com o seu passe, por favor, prossiga. Que tenha uma viagem segura.
— Obrigada.
Com uma pequena reverência graciosa e inconfundivelmente real, a princesa Ariel voltou para a carruagem. O cocheiro pôs os cavalos em movimento na mesma hora, e seus guardas correram ao lado, parecendo um tanto perplexos.
— Então. Quem é o próximo da fila?
Quando essas palavras saíram da minha boca, percebi que vários olhos estavam fixos em mim. Na verdade, praticamente todos os soldados da área estavam olhando na minha direção.
Me peguei me perguntando se tinha sido muito precipitado quanto a isso.
Todos esses homens eram fiéis aos seus deveres. Eles não eram como eu – eram lutadores estúpidos que foram treinados na capital para acatar ordens como algo absoluto, sem nunca pensar duas vezes. Enquanto estavam tecnicamente sob meu comando neste posto de controle, no final das contas eu pertencia a um departamento completamente diferente. Era perfeitamente possível que seus próprios superiores tivessem ordenado para que não deixassem Ariel passar. Nesse caso, minha desobediência resultaria em consequências para todos. Já que a Princesa era um alvo de alta prioridade, não seria nenhuma surpresa se seus oficiais tivessem mandado um recado para os soldados rasos, falando que ela poderia estar chegando.
Me preparei da melhor forma possível. Parecia plausível que esses homens me espancariam até ficar azul para só depois expor o que eu havia feito. Afinal, permitir a travessia foi uma decisão unilateralmente minha.
Enquanto mordia meu lábio, um dos homens se aproximou de mim sem pressa.
Era o capitão de todos os soldados no pátio. Seus ombros eram, aliás, quase três vezes mais largos que os meus.
Ele ergueu a mão, larga e pesada como uma frigideira… e então bateu nas minhas costas.
Cambaleei para frente, mas, para minha surpresa, quase não senti dor.
— Bom trabalho, amigo.
No momento em que seu capitão falou essas palavras, os outros soldados ergueram os punhos no ar e rugiram em aprovação. Alguns até mesmo piscaram para mim.
Embora eu só tenha descoberto isso mais tarde, praticamente todos os soldados que trabalhavam neste posto de controle eram fãs leais da Princesa Ariel. Parece que ela também tinha o hábito de frequentemente aparecer nas cerimônias de formatura do exército. A maioria deles só a tinham ouvido falar algumas breves palavras, mas eu não estava em uma situação diferente. Conseguia compreender muito bem como se sentiam.
— Permissão para falar livremente, Oficial Gatlin? Todos nós acabamos perdendo a cabeça com a frustração por sermos abandonados aqui, mas, pela primeira vez em anos, você nos deixou de bom humor! Não é mesmo, rapazes?
— Isso aí!
— Apareça na taverna da cidade nesta noite, certo? Eu pago!
Quando o capitão me deu mais um tapinha nas costas, senti uma sensação muito peculiar tomando conta de mim. Até alguns minutos atrás, pensava nessas pessoas como… diferentes de mim em um nível fundamental, sabe? Me convenci de que eram um bando de bandidos caipiras e burros, e não súditos leais da família real. Mas não era o caso. Assim como eu, foram jogados no meio do nada e orientados a obedecer algum bastardo maldito. Assim como eu, também estavam de saco cheio.
E, depois que percebi isso… estranhamente, comecei a sentir algum orgulho do meu trabalho.
Desde aquele dia, tenho me dado bem com os soldados, e meu trabalho me trouxe um verdadeiro prazer.
Tudo graças à Princesa Ariel, sem dúvida. Simplesmente por agraciar este posto de controle com sua presença, ela o tornou um lugar muito mais feliz.
Depois disso, o Oficial Gatlin fez um longo discurso sobre a profundidade de sua adoração pela Princesa Ariel, que optei por omitir.
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Bem. Por mais que eu gostasse de ouvir o Oficial Gatlin elogiando a Princesa Ariel e a elevando aos céus, não era esse o motivo exato pelo qual estava falando com ele.
— Será que um grupo de homens vestidos de preto passou por este posto de controle em sua perseguição?
Com essa pergunta, a expressão do homem mudou repentinamente para uma mais sombria.
— Eles não estavam… exatamente em busca dela, eu acho.
— Como assim?
— Um grupo de pessoas suspeitas passou pelo posto de controle talvez três dias antes da chegada da Princesa Ariel. Naquele dia eu não estava em serviço, então só fiquei sabendo disso algum tempo depois.
Isso foi interessante. Se os inimigos de Ariel tinham cruzado a fronteira primeiro, provavelmente estavam esperando para emboscá-la quando deixasse o país.
— Se eu soubesse, poderia pelo menos ter avisado… mas, neste momento, só posso orar por sua segurança.
— Entendi. Muito obrigado.
O Oficial Gatlin claramente não tinha ouvido o boato de que a princesa já estava morta. Parecia que a história nasceu na capital.
No entanto, isso por si só não era suficiente para me dizer se Ariel estava viva ou morta.
Decidi continuar coletando informações. O que eu tinha no momento estava aquém do que precisava para concluir este trabalho.
Conversei com os demais oficiais no posto de controle e tentei dialogar até mesmo com alguns soldados. Em seguida, fui até a cidade vizinha e tentei encontrar pessoas que pareciam cruzar a fronteira regularmente.
Precisava saber o que aconteceu com Ariel. Ela conseguiu ficar inteira após atravessar a floresta? Ou tinha morrido, assim como diziam os rumores? Corri pela cidade inteira em busca de alguém que pudesse me dar a resposta… e finalmente encontrei um certo jovem comerciante com uma história para contar.
Depoimento de Bruno, o Mercador
Naquele dia, eu estava ocupado trazendo minhas mercadorias para o sul, para Asura, assim como sempre. Desci pela Mandíbula Superior do Wyrm Vermelho e estava seguindo a única estrada que passa pelas Patilhas Wyrm… Hein? Ah, certo. Sim, é assim que todos daqui chamam a floresta ao norte. Mas não sei quem foi que inventou isso.
De qualquer forma, eu estava transportando uma carga de… hmm. Não consigo me lembrar direito o que era. Provavelmente algumas peles que você só consegue pegar lá nos Territórios Nortenhos, eu acho.
O quê? Não, era só eu.
Guardas? Pareço ter dinheiro para contratar guardas? Sou bastante bom em uma luta, sabe. Aliás, já passei até algum tempo treinando no Santuário da Espada. Err, do que estávamos falando mesmo?
Certo, certo. Eu estava descendo pelas Patilhas Wyrm. Estava sozinho com meu amigo Robinson.
Hm? Você quer saber onde ele está? Heh. Nos estábulos. Infelizmente não aceitam burros aqui. De qualquer forma, nós dois estávamos tendo um desempenho decente. Eu estava de bom humor, pelo que me lembro. Os negócios estavam indo bem e quase economizei dinheiro suficiente para comprar uma carroça. Até uma daquelas pequenas que usam em burros servem para mover muito mais coisas de uma vez, sabe? Essa era uma perspectiva realmente excitante.
Mas então ouvi o som de metal batendo vindo de algum lugar à frente, e meu humor piorou na hora.
Não era só o som. Eu podia sentir um cheiro suspeito no ar. Já ganhei a vida como comerciante por um bom tempo, sabe? Por isso tenho um olfato excelente para o perigo.
Evitar problemas é sempre bom, claro. Mas, como disse, só há um caminho através das Patilhas, e eu não poderia simplesmente voltar atrás. Decidi ir para a floresta com Robinson e seguir pela borda. Sabia que seria mais inteligente simplesmente deixar o burro para trás, mas ele é meu amado parceiro de negócios, certo? Não podia arriscar que fosse devorado por um monstro ou algo assim.
De qualquer forma, eu e ele começamos a nos mover pela floresta, garantindo que ficaríamos escondidos. O som de metal colidindo ficava mais alto à medida que avançávamos, e comecei a ouvir até o grito das pessoas. Robinson estava um pouco assustado, mas nós estávamos juntos, então ele ficou manso e quieto. Já passamos por altos e baixos juntos, sabe?
O que foi?
— Chega de falar sobre o burro, diga-me, o que você viu?
Cara, você é bem impaciente… Mas, tá bom, tanto faz.
Quando espiei a cena por trás da vegetação rasteira, a primeira coisa que notei foi uma carruagem. Bem, não era tão grande assim para uma carruagem. Provavelmente estava carregando três pessoas, isso se formos contar com o cocheiro. A maioria das desse tamanho usa só um cavalo, mas naquela estavam usando dois, então provavelmente era uma personalizada.
Hmm? Ah, quer saber por que sei tanto sobre isso? Bem, estou tentando decidir qual carroça comprar para o meu burro, certo? O vendedor de carruagens me explicou um pouco sobre toda a linha dele, e… Tá, tá, tá bom. Você não tem que ficar olhando pra mim desse jeito, cara! Vou voltar ao assunto.
De qualquer forma, logo percebi que a carruagem foi atacada. Digo, ela estava tombada, e alguns caras que pareciam guardas estavam lutando com um monte de outros caras usando roupas pretas. Quando cheguei lá, eram sete caras de preto enfrentando quatro guardas. Dois guardas, ou talvez servos, já estavam caídos no chão. Ah, e também havia quatro garotas escondidas perto da carruagem, tremendo muito. Provavelmente estavam sendo vítimas de um ataque.
Os caras das roupas pretas tinham maiores números, mas não parecia que estavam na vantagem nem nada do tipo. Afinal, muitos deles estavam caídos no chão. Já devia ter uns doze deles caídos. Eu fiquei meio pasmo, na verdade. Fiquei pensando no tipo de gente idiota que enviou um bando de amadores desajeitados para cuidar de um trabalho desses.
Entretanto, entendi tudo errado. Quando olhei com um pouco mais de atenção, percebi que os caras de preto não eram nada ruins. Eram, no mínimo, mais habilidosos que os guardas. Em uma luta justa, no mano-a-mano, com certeza ganhariam.
Hein? Quer saber como sou capaz de dizer isso? Presta atenção. Como eu disse, sou um espadachim melhor do que você imagina. Quando vejo alguém lutando, posso dizer o quão forte é.
De qualquer forma, tudo aquilo me pareceu muito estranho, então acabei parando para assistir a batalha. E depois de alguns segundos, percebi que um cara do lado dos guardas era habilidoso demais. Era uma criança de cabelo branco, sabe? Bem magrinha, e só usava uma varinha mágica de iniciante. Mas, por alguma razão, estava em um nível totalmente diferente do resto.
De volta ao Santuário da Espada, vi alguns caras que estavam se tornando Santos ou Reis da Espada. E, deixe-me dizer, parecia que o tempo passava dez vezes mais devagar para eles. Não tinham apenas um trabalho de pés rápido; podiam fazer julgamentos adequados em um piscar de olhos. O menino não era tão bom assim, mas eu posso dizer que ele tinha uma consciência absoluta e excelente do campo de batalha. Sempre que um de seus amigos estava em perigo, lançava um feitiço no momento perfeito e salvava o traseiro de todos.
Ah, e ele também só estava usando feitiços de nível Iniciante. Acho que estava tentando preservar mana. E estava fazendo um trabalho divino, sério. Um mago comum não conseguiria fazer uma coisa daquelas nem em um milhão de anos. Sabe, a pessoa precisa ser muito bem treinada, de uma forma bem específica, para fazer as coisas daquele jeito.
Bem, e de onde eu estava, não conseguia ouvir nem os encantamentos. Acho bem possível que fossem feitiços não verbais… sabe, aquelas magias sem encantamentos. Nunca vi aquilo antes, mas acho que tem gente por aí que consegue fazer isso.
De qualquer forma, foi impressionante. Mas acho que os caras de preto se adaptaram ao estilo depois de vê-lo derrubar metade do time. E, além disso, parecia que os guardas estavam muito cansados. Em outras palavras, a luta estava mais equilibrada do que pensei. Senti que, assim que um único homem de qualquer um dos lados caísse, estaria tudo decidido.
Mas, no geral, acho que os caras de preto estavam mais organizados. De repente, mudaram toda a estratégia. Deviam ter se comunicado com sinais, mas eu com certeza não percebi.
Até aquele ponto, estavam adotando uma abordagem direta de dois contra um, contra os três guardas da linha de frente, com um outro cara ajudando quem parecia precisar. Do nada, os sete se retiraram e foram na direção do garoto de cabelo branco.
Os três espadachins não conseguiram reagir a tempo. Mas a criança sim. De alguma forma, mantendo seu foco, imediatamente lançou um feitiço em área que matou dois inimigos de uma só vez.
Nesse ponto, os caras de preto se espalharam. Dois deles seguiram em direção ao menino de cabelo branco, e os outros três correram direto para as garotas perto da carruagem. Acharam a oportunidade que queriam para romper a defesa dos guardas.
Mas o mago de cabelo branco ainda conseguiu reagir. Sem nem mesmo olhar para os dois assassinos caindo sobre ele, o garoto apontou sua varinha para os que estavam indo até as mulheres. Inacreditável, né? Normalmente, qualquer um ficaria mais preocupado com a própria vida.
No instante seguinte, aconteceram várias coisas de uma só vez.
Primeiro, o garoto de cabelo branco lançou um feitiço desagradável que matou dois dos assassinos que estavam atacando as garotas.
Em segundo lugar, dois dos guardas correram para interceptar os dois caras de preto que foram atrás do garoto. Os quatro foram abaixo de uma só vez.
E, finalmente, o último dos homens de preto puxou uma das garotas assustadas e trêmulas do grupo e cortou sua linda cabecinha fora.
Um instante tarde demais, o último dos espadachins o apunhalou pelas costas. Orgulhosamente segurando a cabeça decepada de sua vítima, o homem morreu com uma expressão satisfeita no rosto.
Suponho que ela era a jovem que os guardas lutaram tanto para proteger.
Os cinco sobreviventes ficaram lá, parados, em silêncio, completamente atordoados. Compreensível, né? Digo, perderam a maioria de seus companheiros e também a garota que queriam proteger.
Quando o show acabou, silenciosamente me movi pela floresta. Para começo de conversa, existia a possibilidade de alguns monstros serem atraídos para a área graças ao cheiro de sangue. E eu realmente não queria lidar com eles me pedindo ajuda. Robinson e eu demos no pé na mesma hora.
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E essa foi toda a história de Bruno.
Em combinação com o que eu descobri com o Oficial Gatlin, parecia que a Princesa Ariel havia passado em segurança pelo posto de controle, apenas para ser emboscada na floresta ao norte, onde os assassinos tiraram sua vida durante uma batalha violenta.
Afinal, os rumores eram verdadeiros. Assim como os nobres de sua facção temiam, Ariel estava morta.
Ainda assim, havia alguns mistérios restantes.
Por exemplo, o que aconteceu com os sobreviventes? Pelo que Bruno me contou, cinco membros do grupo conseguiram superar a batalha. O estado de Luke Notos Greyrat continuava desconhecido, mas ao menos o Fitz Silencioso ainda estava vivo. Esse cara realmente se destacava na multidão, e eu não tinha ouvido uma única palavra sobre ele voltando para sua casa na capital.
Havia uma chance de que tivesse seguido alguma rota secundária em vez da que eu segui aqui, mas isso ainda implicaria em uma passagem pela fronteira. Ninguém no posto de controle havia mencionado que ele voltou, então eu tinha que pensar que continuou se movendo para o norte.
Mas isso não me parecia tão estranho assim. Seria preciso alguma coragem para voltar para casa, em desgraça, após deixar a Princesa Ariel ser assassinada. Talvez tenha decidido que seria mais inteligente fugir para os Territórios Nortenhos.
Se cruzasse a fronteira, não seria difícil descobrir se isso aconteceu mesmo, só precisaria passar um tempo por lá, é claro… mas, infelizmente, meu campo de especialização é “qualquer coisa dentro das fronteiras de Asura”. Não trabalho com assuntos internacionais.
Além disso, meu trabalho era determinar o paradeiro da Segunda Princesa Ariel Anemoi Asura. Seus guardas estavam fora do escopo dessa missão, então decidi voltar para a capital real. Meu coração pertence à cidade, sabe? Não consigo ficar confortável quando estou longe de casa.
Mesmo assim, consegui comprar uma bebida rara dos Territórios Nortenhos com meu parceiro Bruno. Depois de terminar todo o trabalho, iria me presentear com uma festinha particular.
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Sério, mais alguém precisava ter visto a expressão de Pilemon quando relatei minhas descobertas. Foi bom ver um homem que lidava com informações muito acima do meu escopo ficar branco feito um fantasma por causa de alguns fatos que relatei.
De qualquer forma, o caso foi oficialmente encerrado e recebi meu pagamento integral.
Decidi fazer um bom jantar de comemoração para saborear minha pilha de dinheiro, a bebida que comprei de Bruno e a lembrança do rosto do meu cliente.
Fui até meu bar favorito, pedi uma comida leve e me sentei para relaxar no meu lugar de sempre. Sabe, ali de onde eu ficava, dava para ter uma boa visão do ambiente todo; era basicamente a minha mesa pessoal.
Quando me concentrava o suficiente, conseguia ouvir todas as conversas aos arredores. Esta era uma das minhas habilidades mais úteis. Quem quisesse ser um corretor de informações de primeira categoria não poderia deixar nenhuma notícia passar despercebida.
— Ouvi dizer que apareceu um boato de que a Princesa Ariel foi morta no norte, hein?
— Sim. É uma pena. Eu era um grande fã…
— Vamos lá, não me diga que você acredita nessa merda.
— Bem, não é como se eu quisesse, mas…
Alguém estava falando sobre o assunto do momento, então olhei naquela direção. Um cara de aparência robusta estava bebendo com um homem significativamente mais velho. Claro, nenhum deles conhecia a verdade. Eram apenas fantoches sem noção, dançando da maneira que os últimos rumores desejavam.
O pensamento me deixou com um humor ainda melhor. Às vezes, é muito bom ser um homem que está por dentro do assunto.
— Olha, estou estacionado no posto de controle perto da fronteira, sabe?
— É claro que eu sei disso, Tio. Você acabou de completar 20 anos de trabalho, não foi? É por isso que te deram uma licença estendida.
— Que sabe-tudo. Também sabe o que eu faço naquele posto de controle? Hm?
— Uh, não…
O assunto parecia estar se afastando de Ariel, então me vi perdendo o interesse. Eu podia ver o barman dando os toques finais no meu pedido. Mas, o caso foi encerrado, certo? Meu próximo trabalho seria encontrar a melhor maneira de aproveitar essa bebida.
— Eu trabalho na torre de vigia.
Bem, assim fiquei interessado de novo.
— Bem no topo do posto de controle, temos um implemento mágico que nos permite ver muito longe. Nós o usamos para ficar de olho no outro lado da floresta ao norte, sabe? Eu sou o responsável por isso.
— Não brinca.
— De qualquer forma, a notícia se espalhou bem rápido depois que a Princesa Ariel passou pelos portões lá embaixo. Todos os meus garotos da equipe de vigia estavam morrendo de vontade de pelo menos dar uma olhada nela, então ficamos olhando até ficarmos cansados.
— E-então o que houve? Você a viu saindo da floresta?
— Com certeza. Era a Princesa Ariel, sem dúvida.
Isso não pode estar certo, pensei comigo mesmo. Este velho soldado estava mentindo? Ou será que Bruno tinha, por algum motivo, mentido?
Não parecia provável… mas era possível que Bruno tivesse entendido tudo errado. Talvez a garota que o último assassino matou não fosse realmente a Princesa Ariel. Pelo que eu ouvi, a família real Asurana possuía alguns instrumentos mágicos extravagantes que podiam transformar alguém em um substituto perfeito. Ela provavelmente usou um desses para sobreviver ao ataque.
Tirei a conclusão errada. Entreguei informações erradas. Isso não era bom. Precisava obter uma confirmação desta história, então contar a verdade ao meu cliente…
— Aproveite, parceiro. — O barman deixou minha comida na mesa.
Havia um prato de comida fumegante na minha frente e, ao lado, uma garrafa de bebida rara que quase nunca se via em Ars.
— Ah, para o inferno com isso… — Eu meio que me levantei da minha cadeira, mas optei por me jogar de volta nela. Se a princesa estivesse realmente viva e matriculada na Universidade de Magia de Ranoa, a verdade iria se espalhar mais cedo ou mais tarde. A última coisa que eu precisava era de algum nobre arrogante me pedindo um reembolso, então simplesmente teria que deixar a capital em breve.
Mas, sério… Quem teria pensado que os vigias daquela torre poderiam tê-la visto daquela distância? Até mesmo um cara inteligente como eu às vezes acaba deixando alguma coisa passar, acho.
No final, o corretor de informações conhecido como Gustaf forneceu a seu cliente informações enganosas.
Como resultado, Pilemon Notos Greyrat, o principal membro da facção Ariel, foi compelido a fazer uma escolha dolorosa que o deixou em uma situação difícil… mas essa é uma história para outra hora.
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