Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 04 – Cap. 11 – Capítulo Extra – Guardião Fitz

 

Quando percebeu o que estava acontecendo, ele estava no meio do ar.

— Hein?!

O vento imediatamente engoliu seu grito de descrença.

Ele estava bem lá no alto. Podia sentir que estava caindo rapidamente. A força do vento tornava o ato de respirar mais difícil. Ele estava perfurando as nuvens enquanto o vento o perfurava.

— Eek!

Mas podia ouvir o grito saindo do fundo de sua garganta. Era o seu grito, mas parecia tão distante que parecia que era outra pessoa que estava gritando. O grito o lembrou de que isso era a realidade. Não sabia porque, mas estava no ar e caindo.

— Ah… ah!

Precisava fazer alguma coisa. Tinha que fazer algo ou iria morrer. Sim, morrer. Não havia dúvida de que morreria. Se alguém caísse de algum lugar tão alto, então morreria. Ele já sabia disso. Também sabia que estava se aproximando do solo rapidamente.

— Waaaaaah!

Então sucumbiu ao medo e liberou toda a sua mana. E vento. Ele começou a liberar vento. Parecia que isso estava atingindo-o por baixo. Quem foi que lhe ensinou que um pássaro surfa pelo vento para voar no céu? Não conseguia se lembrar.

A velocidade de sua queda diminuiu por um momento, depois voltou rapidamente ao ritmo anterior. A magia do vento não iria cortá-lo. Pássaros podem até usar o vento para voar no céu, mas não importa quanto vento se coloque sob os humanos, eles não poderiam voar. Alguém o ensinou isso. Quem? Também não conseguia se lembrar disso.

O que deveria fazer em uma situação como essa? Seu professor havia lhe contado algo. Seu professor lhe ensinou muitas coisas. O que foi que ele disse mesmo?

Pense, pense, murmurou para si mesmo.

Seu professor disse algo sobre… como voar? Isso mesmo, sobre como era impossível. Não era possível voar – humanos não podem voar. Seria necessário usar algo para fazer isso. Seu professor já havia tentado voar antes. Tentou, falhou e colocou algo macio no chão, algo macio onde pudesse cair.

Era isso! Algo para suavizar a queda. Algo macio. Algo macio para o segurar. Mas quão macio deveria ser? Como deveria fazer isso?

Não sei, não sei, não sei! gritou em sua cabeça. O que eu faço, o que eu faço, o que eu faço?!

Ele conjurou água e tentou envolvê-la em torno de si. Não funcionou. Ela logo se espalhou. Conjurou o vento e tentou se fortalecer novamente. Isso falhou. Não iria funcionar. Conjurou a terra… mas não tinha certeza de como usá-la! Conjurou fogo e… vento… e água? Terra? Não sabia. Simplesmente não sabia de mais nada!

— Aaah!

Caiu de cabeça.

 

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— Waaaah! — Um menino de cabelo prateado gritou enquanto puxava seu corpo para cima e para fora da cama.

Ele tinha cerca de dez anos de idade e suas feições juvenis estavam contorcidas de medo.

— Hah, hah, hah… — Respirou fundo e começou a dar tapinhas em seu corpo. Suas mãos agarraram punhados de cabelo prateado, com força suficiente para arrancá-los. Ele estava verificando se seu corpo ainda estava inteiro. — Ah…? Hein? — Quando olhou em volta, percebeu que não estava mais no céu. Estava em uma cama macia. — Hah… — O menino cobriu o rosto com as mãos e soltou um suspiro de alívio.

— Ei, Fitz, tudo bem? — Uma voz o chamou de cima. Outro garoto estava pendurado de cabeça para baixo, olhando para Fitz da cama acima. Esse outro jovem estava no auge da idade adulta. Era bonito o suficiente para cativar qualquer pessoa que olhasse para ele, ou assim afirmava. Seu nome era Luke. — Você estava fazendo muito barulho enquanto dormia. Teve aquele sonho de novo?

— Ah, sim… — O menino, conhecido como Fitz, balançou a cabeça vagamente em resposta. De repente, percebeu que a área de sua virilha parecia estranha. Curioso, olhou para baixo para descobrir que estava molhado.

Quando investigou mais, descobriu que encharcou não apenas a parte inferior de sua roupa de dormir, mas também seus lençóis. Conseguia ver até o vapor subindo.

— Ah…! — Aturdido, Fitz tentou puxar as cobertas para esconder a bagunça de Luke, mas já era tarde demais. Com o cenho franzido, o jovem viu o que ele fez. — Wah… waah… —Seu estado estava lamentável, com lágrimas nos olhos, enquanto olhava para Luke. — E-eu sinto… muito…

— Não me peça desculpas. — Luke desceu da cama e soltou um suspiro enquanto coçava a cabeça. — Ninguém vai te culpar.

— M-mas, eu já sou velho o suficiente… e ainda estou… ainda, bem, me molhando assim…

— Você não é o único que teve uma experiência terrível naquele dia. — Luke encolheu os ombros ao dizer isso, mas tinha uma expressão séria no rosto. Seu tom era totalmente sincero. — Além disso, há muitos caras aqui que sujam os lençóis à noite. As empregadas estão acostumadas. Agora se apresse, troque de roupa e entregue as camisas ao encarregado da lavagem. Lady Ariel está esperando por nós. — Assim que Luke terminou de falar, saiu do quarto.

Fitz enxugou as lágrimas e rastejou para fora da cama, pegando os óculos escuros da mesa próxima e os colocando no rosto.

 

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Ele foi vítima do incidente que dizimou a Região de Fittoa. Foi transportado para o ar, cem metros acima do solo. Como qualquer outra pessoa, Fitz não era exceção à lei da gravidade, então caiu.

A única coisa incomum nele era que era um mago. E não apenas um mago qualquer. Ele podia ter apenas dez anos, mas teve um professor excepcional e estava pelo menos no nível intermediário em todas as escolas de magia, avançado em várias e podia lançar feitiços não verbais.

Ele lutou enquanto estava no ar. Antes de chegar ao solo, conseguiu diminuir a velocidade de sua queda e milagrosamente só quebrou as duas pernas ao pousar no chão (colidir, na verdade). Sua mana foi completamente drenada e acabou inconsciente.

Fitz acordou e descobriu que havia perdido tudo. Sua cidade natal, sua casa, sua família. Ele ainda era tão jovem e em um instante se tornou um ninguém. Não tinha para onde ir e ninguém em quem confiar, exceto a mulher cujo olhar ele capturou, Ariel Anemoi Asura. Ela viu a maneira como Fitz usava magia livremente sem quaisquer encantamentos, então o empregou. Depois disso, começou sua vida no palácio real como guardião da segunda princesa.

— Mmmmhh… Ah, Luke e Fitz, bom dia.

Seu trabalho como guardião começava despertando Ariel. Ele a acordava em um horário específico todas as manhãs. Normalmente, esse seria o trabalho de uma dama de companhia, mas a princesa havia enfrentado tantas tentativas de assassinato desde que era criança que a responsabilidade agora cabia a um de seus guardiões, Luke ou Fitz. Ele só foi incumbido do dever quando ela soube que se tratava de um residente de fora do palácio e não estava envolvido com nenhum dos nobres que considerava inimigos.

— Bom dia, Lady Ariel.

Acordar mais tarde do que a princesa seria o suficiente para justificar uma punição severa. Ou pelo menos deveria, mas Fitz tinha acordado depois de Ariel várias vezes e nunca foi disciplinado.

— É uma bela manhã, não é? Luke, quais são os planos para hoje? — Ariel esticou o corpo e saiu da cama, sentando-se à sua mesinha de maquiagem. Fitz ficou atrás dela para lavar seu rosto e pentear seu cabelo.

— Depois do café da manhã, você tem uma reunião com os Lordes Datian e Klein para conversar sobre… — Enquanto Luke traçava seu itinerário com calma, Fitz desamarrou o cabelo dela de maneira rápida e cuidadosa. — À tarde, terá uma reunião com Lorde Pilemon, e então o jantar será…

— “Lorde Pilemon”? Como se você não o conhecesse. Luke, esse é o seu pai, não é?

— Disseram-me para manter os negócios e os assuntos privados separados.

Assim que Fitz terminou de arrumar seu cabelo, Ariel se levantou de sua cadeira e ergueu os braços até a altura dos ombros. Fitz imediatamente começou a despi-la. Normalmente, trocar as roupas da princesa seria um trabalho para uma de suas damas de companhia, mas esse era outro costume que ela praticava desde que era criança.

Fitz ficou confuso ao tirar as belas sedas que envolviam a vibrante pele branca de Ariel, trocando-as por roupas que uma dama de companhia preparara com antecedência. A roupa era complexa, com uma estrutura bizarra que ele nem sabia como vestir. Mesmo assim, conseguiu colocá-la rapidamente em seu corpo.

Ele não sabia nem como vestir alguém e mesmo assim foi designado a esse trabalho. Mas acabou ficando bastante hábil nisso. Mesmo um caipira como Fitz poderia aprender isso depois de ser forçado a fazer a mesma coisa várias vezes.

— Fitz… você esqueceu um dos botões.

— Hã? Ah, sim, sinto muito. — Mas às vezes ele se distraía, e a princesa apontava seu erro. Fitz correu para tentar ajustar tudo, mas não sabia ao certo qual botão havia esquecido. Com roupas como essa, se confundisse uma única etapa do processo, seria impossível descobrir por onde começar a arrumar.

— Qual é o problema? — perguntou a princesa. — Se você não se apressar e me vestir, posso pegar um resfriado.

— S-sim, você está certa, por favor, espere um momento!

— Ou você quer ver meu corpo? — Ariel brincou.

— N-não!

Seu rosto ficou vermelho de pânico quando ele negou essa acusação. Ariel soltou uma risadinha. Ela gostava de como o garoto era inocente, tanto que frequentemente o provocava desse jeito.

— Acho que você está linda. — Luke era sempre aquele que pulava ao socorro durante essas interações. Ele sorriu e apontou para a casa do botão que Fitz estava procurando

— Ah, Luke, isso significa que está se apaixonando por sua mestra? — murmurou Ariel. — Nesse caso, isso é equivalente a blasfêmia. Você não será capaz de escapar da punição por isso.

— Que aterrorizante. De que tipo de punição estamos falando?

— O tipo em que confisco todos os seus lanches de hoje — disse ela.

— Ah cara… Bem, isso é bastante grave. Mas se é isso que minha mestra deseja, então que seja.

Enquanto os dois continuavam sua interação, Fitz finalmente terminou de arrumar as roupas. Ariel deu uma volta para confirmar que não havia imperfeições em sua vestimenta, então balançou a cabeça com satisfação.

— Bom trabalho. Agora então, vamos comer nossa refeição.

— Sim, senhora!

Luke seguiu Ariel quando ela saiu. Fitz moveu-se para o seguir, mas parou abruptamente para ver seu reflexo no espelho da mesinha de maquiagem. Ele mostrava um jovem com uma aparência sombria e óculos escuros sobre os olhos. O jovem permaneceu lá e torceu uma mecha do cabelo branco cortado curto em torno de um de seus dedos. Durou apenas um momento. Então se virou e foi atrás de Ariel.

 

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Os nobres foram bastante críticos sobre o jovem guardião Fitz depois de sua aparição abrupta no palácio real.

— Mas há tantos entre a Guilda dos Magos que nasceram em famílias mais nobres…

Sua família e origem eram completos mistérios. As únicas coisas que as pessoas sabiam eram sua raça e a cor de seu cabelo. Por suas maneiras e modo de falar, estava claro que não era nobre. Apesar disso, Ariel o havia nomeado como seu novo guardião. Ela deu a ele equipamento de guardião de qualidade e o manteve ao seu lado o tempo todo. Esse tratamento especial só inflamou a desaprovação dos nobres.

— Não dá para fazer nada ao menos com esses óculos de sol?

— Concordo. É quase como se o menino nem mesmo entendesse o conceito de respeito.

Ele sempre usava óculos de sol. Na corte imperial, esconder o rosto sem propósito era considerado falta de educação.

Entretanto, as palavras dos nobres transpareciam desconhecimento. Ariel havia recebido permissão do próprio rei para o uso dos óculos de sol. Na verdade, eram um item mágico que poderia indicar quando a princesa estava em apuros, não importando onde o usuário estivesse. O item foi considerado necessário após seu “incidente” anterior, então o rei o permitiu.

— Graças a esses óculos de sol, as empregadas do palácio imperial continuam gritando com suas vozes estridentes.

— Sim, ouvi dizer que “ficam tão felizes” só de ver Fitz e Luke caminhando juntos.

— Na verdade, nada parece deixá-las mais felizes do que ver um mulherengo como Luke intervindo com tanta coragem para cuidar do menino.

— Estão corrompendo a moral da corte imperial.

— Não é como se a corte tivesse alguma.

Hahaha, os nobres riram.

Fitz estava sempre seguindo Ariel, e qualquer um poderia dizer que o menino era bonito sob aqueles óculos escuros. Portanto, vê-lo com ela e Luke juntos encorajou muitos a sonharem com fantasias selvagens.

— Sei que são meninos, mas há algo estranho.

— Eh? O que é estranho?

— Luke professa, sem hesitar, que ama as mulheres e odeia os homens, mas está sendo excepcionalmente gentil com aquele menino.

— Ahh, entendo o que diz. É verdade.

— Sim, mas não há nada de “estranho” nisso. Tenho certeza de que só indica que Luke finalmente notou a beleza dos homens também, não?

— Sem dúvida, ha ha!

A homossexualidade não era considerada algo incomum para os nobres Asuranos. Havia pessoas com preferências sexuais muito mais estranhas, então garotos que se apaixonavam por outros garotos bonitos não representavam nenhuma surpresa.

— Mas onde no mundo a princesa encontrou aquele menino?

— E quem sabe? Mas o fato de a Princesa Ariel oferecer tanto apoio me faz pensar. Talvez seja o filho ilegítimo de algum nobre de alto escalão.

— Ah, então faz alguma ideia sobre de onde ele é?

— De fato. Vários anos atrás, fui visitar meu primo na Região de Fittoa. Aquele primo compareceu à cerimônia de aniversário da neta de dez anos de Lorde Sauros.

— Ah, a neta do Lorde Sauros… Quer dizer a princesa macaca ruiva dos Boreas?

— Sim, aquela com a reputação de que vai à escola só para bater em outras crianças de sua idade. Aquela que negligenciou tanto os estudos que não conseguia nem cumprimentar as pessoas direito. Aquela princesa macaca.

— E o que uma coisa tem a ver com a outra?

— Sim, bem, de acordo com a história do meu primo, aquela princesa macaca mudou bastante. Ela cumprimentou as pessoas com educação, comportou-se de uma maneira elegante e dançou magnificamente.

— Tenho certeza de que não passam de rumores embelezados. Isso não é só por a princesa macaca não ter se comportado como um macaco pela primeira vez?

— Não, não é o caso. De acordo com meu primo, quando ele cumprimentou o lorde suserano, Sauros gabou-se disso.

— Disso o quê?

— Que aquele que ensinou a sua neta era um menino dois anos mais novo que ela.

— Ah… então a idade bate.

— O lorde o elogiou tanto que meu primo começou a suspeitar e até perguntou: “Esse menino é seu parente?”

— Minha nossa.

— Claro que o lorde não disse muito, mas ouvi que ele também não negou que fosse verdade.

— Então essa é a história… Será que aquele jovem impressionante poderia ser o garoto que Ariel reivindicou como seu guardião?

— Talvez.

— Então essa é a razão pela qual o menino tem tanta etiqueta, apesar de ser um plebeu.

Foi então que outro nobre de repente pensou em voz alta:

— Mas ele é realmente tão forte?

De acordo com Ariel, Fitz era ágil o suficiente para envergonhar os cavaleiros em treinamento da corte. Ele também era versado em leitura, escrita e aritmética, e tinha um conhecimento mais íntimo de magia do que até mesmo os professores da Universidade de Magia. Sem mencionar que podia usar magia de nível avançado sem quaisquer encantamentos, com apenas dez anos de idade!

— Deve ser só baboseira.

— No entanto, depois do que a Princesa Ariel passou, é difícil acreditar que manteria alguém que não fosse forte ao seu lado.

— Hmm, por que não conferimos por nós mesmos? Tiremos a máscara daquele garoto e vejamos quem ele realmente é…

— Eu não aconselharia isso. Se ele realmente for tão poderoso, você só estará causando problemas para si mesmo.

— Verdade. No entanto, como ele é um guardião, pelo menos gostaria que aprendesse algumas das tradições da corte.

— Concordo. Estou farto dele sendo um caipira vulgar do meio do nada.

Era assim que os nobres criticavam Fitz, fofocando maliciosamente sobre ele enquanto assistiam, sem qualquer intenção de deixar suas hostilidades claras. Por sorte, era justo isso que Ariel esperava que fizessem.

 

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— Então, devemos fazer o filho de Lorde Tink entrar na Guilda dos Cavaleiros?

— Sim, ele é habilidoso em aritmética. Faça-o entrar na guilda e aprender pessoalmente com o contador deles.

Era o início da tarde. Ariel estava se encontrando com o pai de Luke, Pilemon Notos Greyrat. Pilemon liderava a lista de apoiadores dela. Embora não fosse bom em julgamentos, ele era um jovem agindo como o Lorde Soberano da Região de Milbotts. Cada vez que algo acontecia, fazia uma visita para discutir o futuro.

Ariel atualmente não tinha muitos apoiadores. Ainda não era adulta e, embora fosse popular com o público em geral, não gozava do mesmo nível de aclamação entre os nobres. Era por isso que ainda estavam estabelecendo as bases.

Os nobres poderosos e de alto escalão que apoiavam o primeiro ou segundo príncipe não os trairiam simplesmente para apoiar Ariel. As posições dentro de suas facções já eram sólidas.

Foi por isso que Pilemon sugeriu capturar aqueles que permaneciam indecisos. Isso significava conquistar nobres do interior que não se envolviam nas disputas políticas do continente, bem como nobres de escalão médio e inferior que não tinham muito poder. Então usaria seu poder para nomeá-los como oficiais do governo, colocando aqueles que eram excepcionais em posições inferiores (embora importantes).

A estratégia deles era para o futuro, para algo dentro de dez ou vinte anos. Dentro de uma década, aqueles que apoiassem Ariel graças ao trabalho de Pilemon estariam em várias posições-chave (mesmo que não estivessem no topo) e forneceriam um grande apoio para ela.

— A Guilda dos Cavaleiros, a Guilda dos Magos, a Guarda Imperial e a Guarda da Cidade… Com isso, lançamos as bases para todas as posições-chave.

— É muito cedo para dizer se as sementes que plantamos darão frutos. É possível que alguém veja nosso plano e o arranque pela raiz.

Primeiro, trabalharam para suprimir a força dos militares e torná-la sua. Nesta era de paz, soldados e cavaleiros não eram tão valorizados quanto antes. Seu trabalho consistia em eliminar monstros e ladrões, no máximo. Pode-se dizer que não tinham poder político, razão pela qual as outras facções não tentaram obter seu apoio. Ainda assim, se algo acontecesse, os militares seriam os únicos a agir.

O Reino Asura não via uma guerra civil há muito tempo. Enquanto não houvesse nenhuma prova sólida deixada para trás, até mesmo assassinato na corte seria permitido. Consequentemente, os nobres esqueceram o poder dos militares. Ariel e Pilemon, por outro lado, trabalharam primeiro e principalmente para obter o apoio militar.

— Ter que tomar esses tipos de medidas indiretas é irritante.

— De fato. — Pilemon era o chefe da família Notos Greyrat, mas era mais jovem que os outros Greyrat e não tinha muita popularidade ou dinheiro.

Ariel estava na mesma. Fazia parte da família real, então podia usar o dinheiro livremente, mas ficava claro à primeira vista que havia uma enorme lacuna entre ela e os outros candidatos. Sua única vantagem era sua popularidade com o povo, e isso seria fácil de perder. Os outros príncipes não fizeram muito para mudar o coração das pessoas. A popularidade era muito instável para ser usada como base.

Mas exatamente contra quem ela estava lutando, e com que propósito?

— Mas, Alteza, um caminho sólido e estável é o mais rápido.

— Sim, mas é claro. Eu sei disso. Para obter a coroa, é necessário seguir por uma estrada sinuosa.

Foi por isso que Ariel decidiu se tornar a rainha. Ela havia começado a trilhar o caminho que a levaria ao trono.

Enquanto os que estavam na corte tinham sua atenção voltada para Fitz, Ariel trabalhava nos bastidores para fortalecer seus laços com os nobres influentes que a apoiavam, silenciosamente travando uma guerra política própria.

Ela vestiu o manto de princesa apavorada, tentando de tudo para se proteger. Era como uma capa de invisibilidade que escondia seus dentes de leão enquanto avançava. Exatamente como seu falecido ex-guardião Derek Redbat desejava.

Duas pessoas ficavam de guarda enquanto Pilemon e Ariel trabalhavam em assuntos pessoais. Luke e Fitz assistiam em silêncio, sem se envolver na conversa.

Se um comerciante ou aventureiro com um olho aguçado visse o equipamento que os dois usavam, ficariam boquiabertos de surpresa. Ambos estavam completamente equipados com itens mágicos. Fitz e Luke usavam Botas da Rapidez que lhes permitiam correr com o dobro da velocidade normal, uma Capa de Captura de Chamas que os mantinha em uma temperatura corporal constante sem deixar o calor passar por ela e Luvas de Superação que reduziam qualquer impacto na palma da mão do usuário pela metade. Além disso, na cintura de Luke estava uma Espada Corta-Aço que poderia facilmente rasgar um escudo de aço.

De armas a armaduras, o equipamento era perfeito. Ariel havia obtido tudo logo após seu incidente anterior. Apenas a varinha que Fitz segurava era diferente. Era uma pequena, do mesmo tipo que seria dado a um aprendiz que estava começando a aprender magia. Não era um item mágico nem um instrumento mágico.

— Bem, então, Lorde Pilemon, obrigada pelo seu tempo.

— Sim. E Princesa Ariel, esta pode ser a abertura perfeita para alguém descobrir o que estamos planejando, então não deixe nenhuma lacuna transparecer.

— De fato.

Enquanto Luke e Fitz os protegiam, Ariel e Pilemon concluíram seu encontro. Ambos pareciam satisfeitos enquanto atravessavam a sala e se dirigiam para a porta. Em resposta, Luke acompanhou o ritmo de Ariel e ficou exatamente atrás dela. Fitz foi um pouco mais lento, mas seguiu o exemplo de Luke.

— Luke, certifique-se de proteger sua senhoria.

— Ha ha.

Pilemon falou apenas isso ao seu filho antes de partir. Enquanto observava o pai ir embora, Luke se curvou conforme o costume exigia.

— Ufa… isso demorou um pouco. E aí, vamos comer?

— Sim, Princesa. — Luke tocou a campainha para chamar os criados. Soou três vezes. Quando uma dama de companhia apareceu, ele a instruiu a preparar a comida e depois voltou para seu lugar atrás de Ariel.

Fitz assistiu a toda a interação com grande interesse.

— Existe algum tipo de sistema com esse sino? Tipo, você bate um certo número de vezes para pedir comida?

— Claro que não. É apenas um sino normal — disse Luke exasperado.

Fitz empurrou os lábios em um beicinho e acenou com a cabeça.

— Ah, tudo bem. Acho que faz sentido.

Ultimamente, ele fazia perguntas desse tipo a Luke o tempo todo, inclusive sobre modos na hora das refeições e etiqueta de saudação. O próprio Fitz tinha pouco mais do que um vago conhecimento dessas coisas, razão pela qual outros nobres riam de cada um de seus passos. Cada vez, ficava vermelho de vergonha e então perguntava a Luke a etiqueta apropriada para que pudesse acertar perfeitamente na próxima vez.

— Hee hee. — Ariel riu diante da conversa. — Fitz, você finalmente começou a se acostumar com a etiqueta da corte, não é?

— De forma alguma. Eu tenho um longo caminho a percorrer.

— Ver o quão duro você está trabalhando aqueceria o coração de qualquer pessoa.

— Não tenho certeza disso. Bem, os outros nobres parecem me odiar. — Fitz apertou os lábios em outro beicinho e se virou para olhar para Luke. O último apenas desviou o olhar como se o assunto não tivesse nada a ver com ele.

— A fofoca da ralé não é nada para se preocupar. Eu gosto de você — disse a princesa.

— Obrigado… — Fitz não parecia particularmente feliz com isso, mas curvou a cabeça para Ariel. — Outra coisa, Princesa, você já encontrou minha família ou meu mestre?

Ariel balançou a cabeça fracamente.

— Não…

Fitz concordou em se tornar o guardião dela, mas só com algumas condições. A primeira delas era que perdoaria seu crime de entrar no palácio sem autorização. Ele apareceu de repente no dia do Incidente de Deslocamento. Mesmo que não tenha sido por sua própria vontade, entrou no lugar sem permissão, o que era uma ofensa punível, ao menos de acordo com as leis do Reino Asura. A critério de Ariel, foi poupado da punição, embora isso certamente teria acontecido de qualquer maneira, visto que salvou a vida dela no processo.

A outra condição era que procurasse os amigos e familiares de quem ele se separou. Dado que o incidente ocorreu na Região de Fittoa, o lorde suserano daquela região (Boreas) deveria fiscalizar isso. Mas a família Boreas havia perdido todas as suas terras e as pessoas sob seu comando junto com elas.

Os nobres que consideravam a família Boreas sua inimiga viram uma oportunidade perfeita e lançaram seu ataque impiedoso. Tudo o que a família pôde fazer foi tentar preservar sua posição. Não tinham o luxo para procurar os residentes desaparecidos. Eles haviam organizado algo parecido com uma equipe de busca, mais ou menos, mas era uma coisa só para dizer que existia. Então Ariel usou o dinheiro de seu próprio bolso para montar uma equipe e ordenou que fizessem uma busca.

A propósito, Dario, o ministro de alto escalão que apoiava o primeiro príncipe, mais tarde colocaria a família Boreas sob sua proteção e investiria em um grupo de busca. Um grupo de busca que aumentaria de tamanho, mas… Bem, isso é uma história para outra hora.

Com essas duas condições, Fitz se tornou o guardião e protetor de Ariel.

— Eu não sei o paradeiro de sua família. Como você sabe, estão espalhados por todo o mundo.

— Sim… entendo. — O rosto de Fitz ruiu, o suficiente para que qualquer um que visse sentisse pena dele.

Ariel percebeu e demonstrou uma rara expressão de angústia no rosto.

— Fitz… peço desculpas. No momento, não tenho muito poder.

— Não, eu não seria capaz de fazer nada sozinho, então estou grato pelo que você fez.

A expressão de Ariel ficou pensativa ao ver como Fitz reagiu com bravura. Então, de repente, ela bateu palmas.

— Isso mesmo! Fitz, venha ao meu quarto esta noite.

— Hã?! — Sua proposta repentina fez Fitz soltar um grito estridente.

— Ouvi dizer que você tem tido pesadelos ultimamente, fazendo muito barulho durante o sono. Se dormir ao lado de alguém, isso pode aliviar um pouco o problema, não?

— M-mas eu sou apenas seu guarda-costas, um caipira do interior, e você é uma princesa… Luke, por favor, diga algo!

Quando a conversa mudou de repente para Luke, ele deu um sorriso afetado e apropriado e disse:

— Por que não aceitar a oferta dela? Pense nisso como uma recompensa.

— Uma recompensa…?

— Bem, tenho certeza de que vai despertar alguns rumores estranhos, mas você deve ficar bem. Você suportou a fofoca deles até agora, certo?

Fitz não tinha aliados na corte. Assim que percebeu isso, soltou um suspiro.

 

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Enquanto Ariel e Pilemon conspiravam um com o outro, em algum outro lugar do palácio imperial, outra conspiração estava tomando forma.

— Como estão os movimentos recentes de Ariel?

Dois homens conversavam em uma sala. Um deles era um jovem de cabelos loiros macios, com cerca de vinte e poucos anos. Em uma das mãos, segurava uma taça de vinho feita de vidro Begaritt, que continha vinho fresco da Região Milbotts.

O outro homem era um sujeito corpulento que parecia ter cinquenta e poucos anos. Uma garota seminua estava sentada em seu colo, e sua mão estava estendida em direção ao seu traseiro.

— Um pouco suspeitos, eu diria. — Sua voz estava fria e seus olhos ardiam de luxúria enquanto observava a garota. Ela corou e olhou para baixo enquanto ele esfregava sua bunda.

O homem mais jovem não pareceu se importar. Apenas apreciou o gosto de seu vinho, movimentando o líquido dentro de sua taça.

— Isso não diz nada.

— Recebi relatos de que ela inseriu seus próprios homens na Guilda dos Cavaleiros e na Guarda Imperial.

— A Guilda dos Cavaleiros e a Guarda Imperial? Droga, aquela Ariel. Ela pretende dar um golpe de estado?

O homem mais velho enfiou a mão na calcinha da garota e balançou a cabeça.

— Impossível. Ela não é tão impaciente. Tenho certeza de que pretende apenas aumentar seus aliados.

— Mas a Guilda dos Cavaleiros e a Guarda Imperial não têm nenhuma influência política.

— Sim, de fato. Mas existem muitas pessoas comuns entre a Guilda dos Cavaleiros e a Guarda Imperial. São as mais simples com quem ela pode trabalhar. Tenho certeza que isso é apenas o começo de seus planos.

— Hm…

O homem mais velho continuou:

— Além disso, Ariel não tem seu próprio exército particular.

O jovem começou a pensar. A Guilda dos Cavaleiros e a Guarda Imperial não tinham poder político. O Reino Asura, sem dúvidas, tinha a maior força militar do mundo, mas metade de seus soldados eram pessoas comuns. Os que estavam no topo eram nobres e seguidores dele, então substituí-los não seria fácil.

Mesmo assim, a guilda e a guarda seriam os primeiros a se mover se algo acontecesse na capital imperial. Se os capitães e oficiais comandantes fossem substituídos por pessoas que apoiassem Ariel, os soldados e cavaleiros sob seu comando também se aliariam a ela, já que seria a mais popular. Nesse caso, ele não poderia descartar a possibilidade de um golpe de estado.

— Acabei deixando isso passar em branco. Parece que minha irmã mais nova é muito inteligente. — Havia admiração em sua voz enquanto falava.

O gordo apenas bufou de tanto rir enquanto brincava com o corpo da garota.

— Mas que absurdo. É apenas um ato desesperado, tenho certeza. — Um sorriso cruzou seus lábios enquanto os gemidos abafados da garota começaram a aumentar. — No entanto, por mais desesperada que seja, é uma boa jogada. Achei que aquele rapaz neófito do Notos não passava de um rato dissimulado, mas parece que ele tem alguma visão, afinal.

— O que deveríamos fazer? — perguntou o jovem.

O gordo tirou a mão do corpo da garota. Ele mergulhou a ponta do dedo em uma taça de vinho e o enfiou, com um líquido roxo pingando, na boca dela. A garota não tentou impedir, apenas lambeu.

— Não há nada a ser feito — disse. — Passei o último ano os observando em silêncio. Se vão ser inimigos de Vossa Majestade, Príncipe Grabel, então, naturalmente, devemos nos livrar deles.

— Por qual meio?

O gordo levou o dedo, que a jovem estava lambendo, aos lábios e o envolveu com a língua.

— Em vez de arrancar as mudas, vamos nos livrar de quem está lançando as sementes.

— Tudo bem, Darius. Vou deixar isso para você.

— Como ordenar, meu príncipe.

O Primeiro Príncipe Grabel e o alto Ministro Darius pareciam dois funcionários corruptos do período Edo enquanto conspiravam para a reclusão em algum lugar privado. A única pessoa que ouviu sua conversa foi a escrava descansando em cima do colo de Darius. E aquela garota aconteceu de ser…

 

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Era tarde da noite, hora de todos estarem descansando em suas camas, quando Fitz chegou ao quarto de Ariel. O vapor estava visivelmente subindo de seu rosto.

— Um, Princesa Ariel, estou aqui como você pediu.

Antes de ele chegar, as damas de companhia de Ariel o levaram ao banho, banharam seu corpo com óleos perfumados e o envolveram em uma roupa de dormir de alta qualidade tecida em tecido macio.

— Fico feliz que você veio. Já podem sair — disse ela às duas damas de companhia. Cada uma delas fez uma reverência antes de passar pela porta. Fitz e Ariel ficaram subitamente sozinhos em seu quarto mal iluminado. — Algo de errado? Venha aqui e sente-se ao meu lado.

— C-certo. — Fitz obedeceu, sentando-se com bastante nervosismo ao lado da princesa.

Ariel aproximou seu corpo do dele.

Fitz moveu seu corpo para mais longe. Então, ligeiramente em pânico, ergueu a mão para detê-la.

— Uh, um… só vamos dormir juntos, certo?

— Sim, com certeza.

— Um… uh… você diz isso, mas seu olhar está assustador.

Ariel gradualmente se aproximou mais e Fitz logo colocou mais distância entre eles.

— Não precisa se assustar com isso. É verdade, estou empolgada com o brilho da sua pele, mas está tudo bem. Eu não vou fazer nada. Agora, deite-se na cama.

— Não, isso é assustador. Você está me assustando, Princesa!

— Não há nada a temer — murmurou Ariel em resposta.

— Não, estou dizendo… Eu sou, você sabe. Você sabe disso, né? Que na verdade eu sou…

— Eu sei — disse. — Claro que eu sei.

Por fim, ela encurralou Fitz na beirada da cama. Ariel colocou a mão em seu ombro e o forçou contra o colchão.

— É por isso que gostaria que você também soubesse mais sobre mim.

Fitz fechou os olhos com força, como se fosse um virgem. Foi demais para ele, então cedeu, entregando seu corpo às mãos dela. Afinal, ele não tinha parentes a quem recorrer, então não podia ir contra a vontade da princesa.

— Brincadeirinha. Vou parar por aqui — disse a Ariel. Ela se afastou dele e se jogou ao seu lado, deitada de costas.

Surpreso com isso, Fitz virou a cabeça e seus olhos se encontraram.

— Um…

— Eu te disse, não disse? Que só vamos dormir juntos. Você entendeu algo errado? Pensou que eu iria me forçar sobre você?

Fitz ficou com uma tonalidade vermelho brilhante até as orelhas. Ariel riu quando viu isso.

— É verdade, ver a cara que você está fazendo agora me dá vontade de fazer isso, mas hoje eu realmente vou apenas dormir ao seu lado. — Ela olhou para cima e exalou.

Fitz permaneceu confuso, sem saber o que fazer. Seu corpo ficou rígido.

Por um momento, o silêncio caiu entre os dois. Quem finalmente o quebrou foi Ariel.

— Eu também — disse ela. — Eu também andei sonhando.

— Sonhando?

— Sim, sobre aquele dia. Sobre Derek sendo assassinado por aquele monstro, e aquilo se virando para me devorar em seguida. Aquele pesadelo. — Fitz voltou a olhar para o rosto de Ariel. Seu sorriso gentil usual se foi, deixando uma expressão vazia e transparente. — Eu tenho esse sonho o tempo todo. Luto em meu sono e finalmente acordo quando tudo acaba. Já faz dias.

— Com você também? — perguntou Fitz.

— Sim. — Ariel assentiu e apertou a mão dele com a sua. Seus dedos eram delicados e finos, tanto que pareciam poder quebrar a qualquer momento. No entanto, a força de seu aperto assegurou-lhe que ela estava cheia de vida. — Fitz, não consigo entender sua dor, mas você não foi o único que sentiu dor naquele dia. Se está passando por um momento difícil, pode confiar em alguém.

— Obrigado…

— É por isso que não hesitei em me apoiar em você. Talvez se eu dormir ao lado da pessoa que me salvou naquele dia, não terei mais aquele pesadelo.

Essas palavras soaram estranhamente relaxantes para Fitz. Era como se ela soubesse que ele não conseguia relaxar desde o Incidente de Deslocamento. A princesa percebeu como o garoto lutou para ganhar sua aprovação, blefando para que não pensasse que era inútil, trabalhando duro para que não o dispensasse de imediato.

— Agora eu entendo…

Nada daquilo foi necessário. Ariel certamente o teria mantido ao seu lado, mesmo se não pudesse usar magia, porque ele era alguém que podia entender sua dor.

— Princesa Ariel?

— O que foi?

— Vou fazer o melhor que puder como seu guardião — disse.

— É bom que faça. Mas, por enquanto, espero que faça isso em meus sonhos. — Ela riu.

Como se encorajado por sua risada, Fitz sentiu um sorriso aparecendo também nos seus lábios. Foi o primeiro desde o incidente, há um ano.

— Tudo bem, então vamos dormir.

— Sim, Princesa. Boa noite.

Ariel manteve os dedos em volta da mão de Fitz enquanto fechava os olhos.

Fitz também fechou os olhos, antecipando o conforto do sono. Mas então, quando estava prestes a deixar sua consciência ir, percebeu algo.

— Hã…?

Havia uma presença no quarto. Apenas alguns momentos atrás, as únicas que sentiu eram a sua e de Ariel, mas havia alguém de pé ao lado da cama. Uma jovem garota. Ela estava pairando ao lado da cama deles, usando roupas que mal escondiam suas regiões inferiores, e em sua mão carregava uma enorme faca.

A garota se moveu no momento em que os olhos de Fitz encontraram os dela. Ela se jogou em Ariel na tentativa de atacar.

Fitz percebeu que era uma assassina, mas antes que pudesse gritar qualquer coisa, seu corpo já estava se movendo. No mesmo instante em que saltou para proteger o corpo da princesa, estendeu as duas mãos em direção à garota e lançou sua magia.

— Explosão de Ar!

— Gah! — A magia, que havia sido lançada sem nenhum encantamento, atingiu a garota em cheio, jogando-a para longe de onde Ariel estava deitada.

— O que está acontecendo?! — gritou a princesa.

— Princesa! É uma assassina! Por favor, fique atrás de mim! Luke, é um ataque inimigo! — A voz de Fitz ecoou. O quarto dos guardiões ficava bem ao lado do quarto da princesa, então Luke deveria aparecer logo.

— Uff…

A assassina se levantou. Seus olhos se voltaram para Fitz e Ariel, passando rapidamente pelos dois antes de finalmente se fixar em Fitz. Parecia que planejava acabar com o guarda-costas antes de lidar com seu alvo.

Encontrando-se sob o domínio do olhar do intruso, Fitz se abaixou e assumiu uma postura de batalha. Ele ainda estava vestido com suas roupas de cama, sem uma única peça de seu extravagante equipamento, mas isso não impactou em seu espírito de luta.

— Hssh…! — A assassina correu para frente, indo direto para ele.

Fitz virou as palmas das mãos para fora e liberou sua magia.

— Hah! — A mana fluindo de suas mãos não tinha nenhuma forma. O som de uma explosão foi acompanhado pelo da cama dossel sendo destruída, deixando um buraco na parede.

Este era um feitiço de nível avançado, Estrondo Sônico. Não havia muitos que poderiam enfrentar uma explosão como aquela e sobreviver. No entanto, a assassina ainda estava viva. Ela fez parecer que estava correndo em direção a ele antes de pular para o lado. Uma finta. Intencional ou por coincidência, a assassina conseguiu escapar do ataque de Fitz. Então chicoteou sua faca no ar. E voou direto para Ariel.

Fitz instantaneamente esticou a mão no ar como se tentando pegá-la. Claro, pegar uma faca voando pelo ar não era uma tarefa fácil. Felizmente, aquilo pegou apenas nas pontas de seus dedos, cortando sua pele e interrompendo sua trajetória.

Tendo falhado em sua técnica de execução, a assassina mudou para a defesa, quase como um gato tentando manter a distância.

— Ah…!

Em segundos, ela foi enviada voando pelo ar pela segunda vez graças à magia de Fitz. O impacto direto cortou todos os quatro membros da assassina, e ela ficou cambaleando no ar, caindo pelo buraco na parede para a escuridão da noite.

— Hah… hah…

A mudança repentina da defesa para o ataque deixou Fitz sem fôlego enquanto olhava para fora do buraco. Era uma noite sem lua, então estava excepcionalmente escuro lá fora. Ele não tinha certeza do que viu abaixo, mas a assassina havia caído com os membros decepados. Não havia como ainda estar viva.

— Uff…

A sensação de que havia matado alguém ainda não havia aparecido.

— Ah… Princesa Ariel, você está bem? — Ele correu de volta para o quarto para confirmar que ela estava segura. No meio do caminho, suas pernas se ficaram moles. — H-hein? — As pontas dos dedos de seus pés ficaram dormentes e ele desabou no local, com seu corpo cedendo ao peso.

Veneno…! Já era tarde demais quando ele percebeu, e todo o seu corpo começou a tremer enquanto sua consciência ficava nublada. Magia de Desintoxicação…! Se Fitz fosse um mago comum, ou se não fosse capaz de executar um feitiço não verbal, provavelmente teria morrido na mesma hora.

Mesmo com sua consciência sendo consumida pela escuridão, conseguiu lançar a magia de desintoxicação. Então olhou para os lados. Ariel estava segura e, embora tivesse chegado tarde, Luke também estava lá.

— Luke, a assassina! Fitz a derrotou, mas foi envenenado! Chame um médico agora! E a Guarda Imperial. Acho que o corpo da assassina caiu.

— Entendido! — Luke acenou com a cabeça e desceu as escadas correndo enquanto chamava os guardas.

Fitz observou, ainda sentindo-se tonto, e só perdeu a consciência quando Luke sumiu de vista.

 

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Assim, a tentativa de assassinato de Ariel foi frustrada.

Fitz havia sido infectado pelo veneno, mas o corte em seu dedo era tão pequeno que apenas um pouco dele entrou em seu sistema. Graças à sua resposta rápida ao usar magia de desintoxicação, escapou com vida por muito pouco e não houve efeitos prolongados do veneno.

Quando ele voltou ao palácio, as impressões dos nobres sobre Fitz haviam mudado. Foi por causa da assassina que derrotou naquele dia. Seus restos mortais haviam caído no pátio, onde os guardas acabaram encontrando. Ela foi identificada como uma assassina famosa que trabalhou no Reino Asura pelos últimos dez anos, conhecida como Corvo do Olho Noturno.

Vários nobres já tinham sido vítimas de sua lâmina. O fato de que Fitz a derrotou demonstrou que sua força era genuína. Como usava magia não verbal e normalmente não falava muito, foi apelidado de “Fitz Silencioso” e reconhecido por todos os nobres como digno de sua posição como guardião de Ariel.

Com isso, o assunto foi resolvido e a paz prosperou em torno da princesa… ou assim parecia. Nenhuma história jamais teve suas cortinas fechadas com tanta facilidade. Daquele dia em diante, mais assassinos apareceram para reivindicar a vida de Ariel, foi um ataque após o outro.

Cada um deles foi despachado pelas mãos competentes de Fitz, mas nunca pararam e nenhum culpado foi identificado. A Guilda dos Cavaleiros conduziu suas investigações, mas alguém estava pressionando-os, deixando os casos sem solução.

Ariel estava mentalmente encurralada e exausta pelo fato de que, embora pudesse ter relativa certeza de quem estava enviando os assassinos, não poderia expôr sua identidade. Como resultado, Pilemon concluiu que era muito arriscado para ela ficar e propôs um plano para deixar o país sob o pretexto de estudar no exterior. Mas essa é uma história para outro dia.

 

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O Guardião Fitz havia perdido aqueles mais próximos a ele no Incidente de Deslocamento, interrompendo toda a sua vida. Embora não tenha sido por sua própria vontade, se viu sendo arrastado para as profundezas da sangrenta batalha política do Reino Asura.

No entanto, havia uma coisa boa. Após o dia da tentativa de assassinato de Ariel, ele parou de ter pesadelos – aqueles em que foi lançado voando pelo ar, lutando inutilmente até se espatifar no chão. Isso, pelo menos, poderia ser considerado como sua única misericórdia.

Ainda resta algum tempo em nossa história até que os destinos desse jovem e de Rudeus Greyrat se entrelacem.

 


 

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Bravo

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