Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 04 – Cap. 07 – Apartamento Grátis

 

Olá. Meu nome é Rudeus e eu costumava ser um recluso.

Atualmente, estou verificando um apartamento novo e gratuito que é o principal papo da cidade. Sem depósito de segurança, sem pagamento pela chave, sem aluguel. Um monoambiente com direito a duas refeições e tempo livre para um cochilo. A cama é feita de palha infestada de insetos, o que é uma desvantagem, mas o preço é excelente. Afinal, o aluguel é grátis!

O banheiro é um grande jarro que fica no canto do quarto. Depois de fazer os seus negócios e o jarro ficar cheio de excrementos, é só jogar tudo em um buraco no lado oposto do cômodo. Não há água corrente, por isso é um pouco anti-higiênico, mas dá para se virar usando magia. Se for um mago como eu, que sabe fazer água quente, seus problemas serão completamente resolvidos!

Servem apenas duas refeições. Para o povo moderno, isso pode ser muito pouco. Ainda assim, a comida é incrível, uma exuberante especialidade regional com frutas e legumes. E carne. O tempero é leve, ressaltando o sabor natural dos ingredientes, o suficiente para fazer qualquer pessoa acostumada com a vida no Continente Demônio estalar a língua com o sabor maravilhoso.

Agora, a principal característica do apartamento: sua segurança. Por favor, dá uma olhadinha nessas barras de ferro resistentes. Pode bater nelas o quanto quiser, puxá-las o quanto quiser, mas não cederão em um centímetro. Sua única fraqueza é que podem ser abertas com magia.

Mas de certo não existe nenhum ladrão que olharia para elas e pensaria: Ei! Acho que dá para passar! Entretanto, irão sempre dar uma olhadinha, já que este apartamento gratuito é uma cela de prisão.

 

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Com a cabeça pendurada nas costas de Gyes, continuei minha cavalgada pela floresta. Incapaz de me mover, não tive escolha a não ser me permitir ser carregado. Enquanto viajávamos pelas sombras da floresta em uma velocidade vertiginosa, vi algo pelo canto do meu olho. Lá, entre o borrão de árvores que passavam voando, havia um monte de cabelo prateado nos seguindo.

Ainda era um filhote, mas o cão tinha bastante resistência. Já estávamos em movimento há provavelmente duas ou três horas. O guerreiro fera conhecido como Gyes já estava correndo há muito tempo. Ele só parou quando finalmente chegamos onde quer que fosse.

— Fera Sagrada, por favor, volte para a casa.

— Woof! — A bola de pelo prateado latiu uma vez antes de cambalear em direção à escuridão.

Examinei os arredores usando apenas meus olhos. As árvores estavam agrupadas e não senti nenhuma outra pessoa nas proximidades. No entanto, vi luzes aqui e ali acima de nós no meio das árvores. Gyes continuou caminhando um pouco, aproximando-se de uma das árvores.

Comigo ainda pendurado em seu ombro, ele enganchou as mãos em uma escada que eu não podia ver e subiu rapidamente. Parecia que estava me levando para as copas das árvores.

De lá, entramos em um prédio. Não havia ninguém presente. Era uma cabana deserta e feita de madeira. Foi aí que Gyes tirou todas as minhas roupas.

O que diabos estava fazendo comigo? Eu não conseguia nem mover meu corpo!

Ele me suspendeu pela nuca e me jogou dentro de… alguma coisa. Um momento depois, ouvi o rangido de ferro e um tinido quando algo caiu. Então Gyes se foi, sem qualquer explicação. Ele nem mesmo me interrogou.

Depois de um tempo, consegui voltar a mover meu corpo. Produzi uma pequena chama na ponta do meu dedo e a usei para verificar o que estava ao meu redor. Vi aquelas barras firmes e percebi que se tratava de uma cela. Fui jogado em uma cela.

Tudo bem. A julgar pela conversa que tiveram, eu sabia que isso iria acontecer. Me confundiram com um contrabandista. É por isso que não entrei em pânico. Esse mal-entendido logo seria resolvido. Ainda assim, qual era a necessidade de me despir? Pensando bem, aquelas crianças também tinham sido despojadas de todas as suas roupas.

Talvez isso fosse algum costume local. Talvez o povo-fera se sentisse humilhado ao ficar totalmente exposto. Embora sentir vergonha ao ser exposto não fosse uma qualidade exclusiva de sua raça. Despir um prisioneiro para destruí-lo mentalmente era uma prática usada desde tempos imemoriais. Podia até ser um mundo de fantasia, mas mesmo em meu novo livro favorito, uma cavaleira era privada de suas roupas quando feita prisioneira. Parecia que todos os mundos tinham isso em comum.

— Então… — Envolto pela escuridão, comecei a pensar.

Por enquanto, guardaria minhas palavras para o dia seguinte. Mesmo se não acreditassem em mim, eu ainda ficaria bem. O homem mais velho aparentemente saiu atrás de Ruijerd, então já devia ter encontrado as crianças. O Superd era uma pessoa fácil de interpretar mal, mas as crianças certamente não abandonariam o guerreiro que surgira em seu auxílio. Elas voltariam em segurança e eu não seria mais confundido com um contrabandista.

Mas seria melhor não citar que, apesar de não ser um contrabandista, tinha uma relação de negócios com eles. Ruijerd também nunca quis trabalhar com os bandidos, então não diria nada que nos colocaria em apuros. Por enquanto, a principal preocupação era a minha própria segurança. O guerreiro mais velho disse para não colocar a mão em mim até o seu retorno. Isso significava que eu estava seguro. Provavelmente não jogariam nenhum monstro cheio de tentáculos em mim… certo?

De qualquer forma, senti que finalmente entendi o significado por trás das palavras de Gallus. Se isso fosse o que iria acontecer com eles, certamente estariam em grandes problemas.

 

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Enquanto eu pensava nessas coisas, um dia inteiro se passou. O tempo estava voando. Na manhã do dia seguinte ao que fui jogado na cela, uma guarda apareceu. Era uma mulher. Ela tinha a constituição de uma guerreira, mas era mais magra do que Ghislaine. Porém seu peito também era enorme.

Eu disse:

— Fui falsamente acusado, não fiz nada. — Prossegui explicando que não estava associado à organização de contrabando, que apenas descobri que aquelas crianças estavam detidas naquele prédio e que, movido por uma justa indignação, comecei a libertá-las.

A mulher não ouviu sequer uma palavra do que eu disse. Em vez disso, levou um balde de água para minha cela e jogou-o sobre minha cabeça enquanto eu protestava. Aquilo estava congelante, então fiquei parecendo um ratinho assustado. Ela então olhou para mim como se eu fosse nada mais do que lixo.

— Pervertido…!

Senti um tremor me atravessando. Lá estava eu, nu, com esta bela mulher mais velha com orelhas de animal me devastando com os olhos. Ela não apenas me molhou, como também abusou verbalmente de mim. Era assim que se fazia para destruir o psicológico de alguém.

Parecia que não tinham intenção de seguir o comando do guerreiro mais velho. Então o que aconteceria comigo…? Ahh, Deusa (Roxy), dê-me sua proteção! E não, Deus Homem, não me refiro a você!

— Achoo!

Brincadeiras à parte, eu realmente queria algumas roupas. Por enquanto, usaria o feitiço de fogo, Queima Local, para me manter aquecido e não pegar um resfriado.

Dia dois.

Ruijerd ainda não tinha aparecido para me resgatar. Depois de ficar nu por dois dias inteiros, minha ansiedade estava começando a transparecer. Me perguntei se havia acontecido algo de ruim com o Superd. Ele acabou lutando contra aquele guerreiro mais velho? Ou as coisas com Gallus azedaram? Ou talvez algo tivesse acontecido com Eris e ele estava cuidando disso?

Fiquei ansioso. Incrivelmente ansioso. Era por isso que estava bolando um plano de fuga. No início da tarde, quando terminei de comer, comecei a usar minha magia não verbal. Misturei fogo e vento, criando uma corrente de ar quente que fustigou o cômodo e tornou toda a área agradável e quentinha. A guarda bem dotada ficou sonolenta e começou a adormecer. Que fácil.

Destranquei a porta da cela e verifiquei se não havia ninguém por perto enquanto saía do prédio.

— Ooh…

A visão que se espalhou diante de mim foi como algo saído de um sonho. Era um assentamento construído acima das árvores. Os edifícios foram colocados entre as copas das árvores, tendo tablados em torno de cada árvore para dar espaço para caminhar. Também havia pontes que conectavam as árvores para que se pudesse entrar e sair sem ter que subir e descer as escadas.

Não havia realmente nada no solo abaixo. Eu podia ver o que parecia ser um simples barraco e os vestígios de um campo, mas não pareciam estar em uso. Pelo visto, não havia ninguém morando lá.

Não havia tantas pessoas assim. Eu podia ver alguns homens-fera aqui e ali, movimentando-se nos tablados. Se uma pessoa atravessasse uma ponte, ficaria totalmente exposta a qualquer um que estivesse abaixo, e qualquer um que se movesse abaixo estaria totalmente exposto àqueles de cima.

Agora eu estava, em todos os sentidos da palavra, totalmente exposto. Seria difícil escapar sem ser visto. Mas se fosse pego, ainda poderia fugir. Se não pensasse nas consequências, poderia simplesmente colocar fogo em uma árvore próxima e escapar para a floresta no meio do caos que se seguiria.

Ah, a floresta. Eu não sabia como sair dela. Gyes havia corrido em alta velocidade por muito tempo, então devíamos estar bem longe da cidade. Mesmo se eu corresse com todas as minhas forças, indo sempre para frente, provavelmente precisaria de cerca de seis horas. E eu tinha certeza de que me perderia no meio do caminho.

Poderia usar magia da terra para construir uma torre, dando-me um ponto de vista elevado para olhar para o horizonte. Essa era uma opção. Claro, se fizesse algo que chamasse a atenção, Gyes ficaria na minha cola de imediato.

Ainda não sabia o que estava por trás da magia que ele usou. Se não conseguisse encontrar uma maneira de contra-atacar em uma luta, poderia perder. Além disso, da próxima vez o homem poderia cortar minhas pernas para que eu não pudesse correr. Talvez fosse melhor esperar um pouco mais para que minhas circunstâncias mudassem.

Só tinham passado alguns dias. Aquele guerreiro mais velho ainda não havia retornado. Ruijerd poderia ainda estar procurando pelos pais das crianças. Não havia necessidade de ficar impaciente, decidi, e voltei para minha cela.

Dia três.

A comida que a guarda me levou estava deliciosa. Foi como esperado – a terra do local era tão rica e natural. Havia uma diferença notável se comparado ao Continente Demônio. As refeições consistiam em uma sopa de grama selvagem ou pedaços de carne grelhada que eram difíceis de rasgar, mas era tudo delicioso. Talvez fosse assim por eu ter me acostumado com a comida do Continente Demônio. Se esta era a comida que ofereciam a alguém em uma cela, então o resto do assentamento deveria desfrutar, sem dúvidas, de um banquete.

Quando elogiei a comida, a guarda balançou a cauda e me deu algo para repetir. Com base em sua reação, provavelmente era ela quem preparava tudo. Mas continuava sem falar nada para mim, assim como de costume.

Dia quatro.

Fiquei entediado. Não havia mais nada para fazer. Talvez pudesse criar algo com minha magia, mas se o fizesse, poderiam me amordaçar ou amarrar meus pulsos. Então realmente não haveria nada que eu pudesse fazer. Não havia razão para correr o risco de perder a pouca liberdade que possuía.

Dia cinco.

Recebi um colega de cela. Ele foi carregado por dois homens do povo-fera de cada lado. O jogaram para o lugar sem rodeios, isso fez com que o homem caísse dando uma cambalhota para trás.

— Porra! Vocês deviam me tratar melhor do que isso! — O povo-fera ignorou seus gritos e saiu.

O homem esfregou seu traseiro cuidadosamente, sibilando de dor enquanto virava o corpo sem pressa. Eu o cumprimentei em uma pose de Buda reclinado, deitado de lado com a cabeça apoiada na mão.

— Bem-vindo ao destino final da vida. — Claro, eu estava completamente nu.

O homem ficou me olhando, boquiaberto. Ele parecia um aventureiro. Suas roupas eram todas pretas, com protetores de couro presos nas juntas. Também estava desarmado, é claro. Ele tinha costeletas compridas e uma cara de macaco como a do Lupin Terceiro. Mas chamar a cara dele de cara de macaco não era uma metáfora. Ele era um demônio.

— Qual é o problema, novato? Viu algo inesperado? — perguntei.

— N-não, não é exatamente assim que eu descreveria. — Ele olhou para mim confuso.

Vamos, vou ficar com vergonha se você ficar olhando assim, pensei.

 

 

 

— Você está nu, mas age terrivelmente cheio de si.

— Ei, novato, é melhor tomar cuidado com o que fala. Estou aqui há mais tempo do que você. Isso significa que sou o mestre desta cela, seu ancião. Mostre algum respeito — ordenei.

— S-sim.

— Você devia responder: “Sim senhor”!

— Sim senhor.

Por que, pergunta, eu estava agindo tão cheio de mim mesmo na frente de alguém que acabei de ver pela primeira vez? Porque estava entediado, é claro.

— Infelizmente não há nenhum tapete para você se sentar, então sente-se aqui em algum lugar.

— S-sim senhor.

— Então, novato. Por que você foi jogado aqui? — Tentei soar o mais hostil possível quando perguntei.

Esperava que minha impertinência, apesar de ser mais jovem, pudesse enfurecê-lo, mas ele apenas respondeu com um olhar estupefato:

— Me pegaram tentando enganá-los.

— Oho, andou trapaceando, foi? Pedra, Papel ou Tesoura com restrições? Atravessando a Corda Bamba?

— Que diabos é isso? Não, dados.

— Dados, hein? — Ele provavelmente usou dados viciados que só cairiam no número quatro, cinco ou seis. — É bem chato ser pego em algo assim.

— E quanto a você? — perguntou.

— Dá para falar só por olhar, não dá? Atentado ao pudor.

— Que diabos é isso?

— Enquanto estava nu, coloquei meus braços em volta de um cachorrinho prateado e me jogaram aqui — expliquei.

— Ah! Eu ouvi os rumores. Algum demônio tarado atacou a Fera Sagrada de Doldia!

Alguém do lado de fora com certeza estava usando palavras bem atrevidas. Mas, para começo de conversa, era uma falsa acusação. Porém eu não iria ganhar nada falando sobre isso.

— Novato, se você é um homem, então entende, certo? A luxúria que se sente por uma criatura adorável.

— Não mesmo. — Seus olhos mudaram e ele começou a olhar para mim com certa suspeita. Bem, seu olhar na verdade não mudou. Seus olhos eram os mesmos desde o começo.

— Então, novato, qual é o seu nome?

— Geese — respondeu.

— Você é um militar? Comeu mais refeições enquanto soldado do que existem estrelas no céu?

— Militar? Não, sou só um aventureiro, acho. Já faz um tempo.

Geese. Vejamos, eu pensei já ter ouvido esse nome antes. Mas onde? Não conseguia lembrar. Parecia que havia muitas pessoas com esse nome, então ele provavelmente não era o Geese que eu conhecia.

— Eu sou Rudeus. Sou mais jovem que você, mas aqui sou seu chefe.

— Tá, tá. — Geese encolheu os ombros, caiu sobre onde estava e apoiou a cabeça. — Hm? Rudeus… Já ouvi esse nome antes.

— Tenho certeza de que muitas pessoas têm esse nome.

— Eh, provavelmente, verdade.

Agora estávamos ambos fazendo a pose de Buda deitado enquanto nos encarávamos, embora um de nós estivesse nu. Isso não era meio estranho? Por que eu, a grande pessoa ocupando esta cela, era o único nu enquanto o novato estava vestido? Estranho. Muito estranho mesmo.

— Ei, novato.

— O que foi, chefe? — perguntou.

— Esse seu colete parece quente. Entregue.

— O qu…? — Geese parecia aborrecido quando disse: — Tudo bem, tome — e então tirou o colete antes de jogá-lo para mim. Talvez gostasse de cuidar das pessoas, indo contra a minha primeira impressão.

— Ah, muito obrigado — falei, parecendo muito educado.

— Então você pode mostrar gratidão. — Observou ele.

— É claro. Agora já faz dias que eu estou meio largadão. Pela primeira vez em muito tempo sinto como se tivesse voltado a ser alguém.

— Chefe, você não precisa falar de um jeito tão polido.

Assim, conquistei a imagem de um pirralho melequento direto do período Edo.

Nossa guarda nos observou com uma expressão sombria no rosto, mas não disse nada.

— Agora posso sentir seu calor irradiando deste colete.

— Ei, você também gosta de homens, sério? — perguntou Geese.

— Claro que não — respondi. — Gosto das mulheres de até quarenta anos e, a menos que pareça com uma mulher, não tenho interesse em homens.

— Então você não vê problema se parecerem com mulheres… — Geese olhou para mim sem acreditar. Mas se ele conhecesse uma mulher que fosse do seu tipo, uma que tivesse uma Excalibur de Arthur, então também se tornaria um Merlin. No sentido sexual, é claro.

— A propósito, novato, há uma coisa que eu quero te perguntar.

— O que foi?

— Que lugar é esse? — perguntei.

— Uma cela na aldeia de Doldia na Grande Floresta.

— E quem sou eu?

— Rudeus. O pervertido que colocou as mãos em um filhote — respondeu ele.

Aha! Mas eu não estava mais nu! Além disso, era uma acusação falsa. Eu não era um pervertido.

— E o que um demônio como você está fazendo na aldeia de Doldia, gastando a vida à toa enquanto aposta?

Geese explicou:

— Ahh, bem, uma das minhas conhecidas de muito tempo atrás era uma Doldia, então eu vim pensando em encontrá-la.

— E encontrou?

— Não — disse ele.

— Então, mesmo ela não estando aqui, você resolveu fazer algumas apostas? E ainda por cima trapacear? — Eu pressionei.

— Não achei que seria pego.

Esse cara não tinha esperanças. Mas talvez ele não fosse inútil.

— Novato. O que você consegue fazer além de trapacear?

— Eu posso fazer qualquer coisa — disse ele.

— Oho, então pode segurar um dragão com uma mão e derrubar outra pessoa usando ele?

— Não, isso é impossível — respondeu. — Sou péssimo lutando.

— Então aguenta cem mulheres de uma só vez? — perguntei.

— Uma já é suficiente, duas, no máximo.

Para minha última pergunta, abaixei minha voz o suficiente para que a guarda não pudesse nos ouvir e disse:

— Você poderia ir para a cidade se saísse daqui?

Ele se ergueu, olhou rapidamente para a guarda e coçou a cabeça. Colocou o seu rosto bem perto do meu e falou com um sussurro abafado:

— Você está tentando fugir?

— Meu companheiro não está vindo, então sim.

— Ahh, sim, é isso… Bem, isso é uma merda.

Ei, você, pare com isso, pensei. Se colocar dessa forma, faz parecer que meus amigos me abandonaram.

Ruijerd nunca me abandonaria assim. Eu tinha certeza de que ele estava procurando pelos pais daquelas crianças por todos os lugares. Era isso ou algo tinha acontecido e o homem estava em apuros. Talvez estivesse esperando minha ajuda.

— Então se vire por conta própria. Não tem nada a ver comigo — disse Geese.

Expliquei:

— Não sei o caminho para a cidade mais próxima daqui.

— E como é que chegou aqui?

— Salvei algumas crianças que foram sequestradas por contrabandistas — respondi.

— Salvou?

— E enquanto estávamos lá, tirei a coleira que tinha sido colocada naquele filhote, e quando a tirei aquele cara apareceu de repente e gritou comigo. Então não consegui mais me mover e me trouxeram aqui.

Perplexo, Geese voltou a coçar a cabeça. Talvez eu não tivesse explicado bem o suficiente.

— Ahh, então foi isso que aconteceu. Você sofreu uma acusação falsa?

— Exatamente.

— Entendi. Sim, então é claro que você gostaria de fugir.

— É por isso que gostaria que você me ajudasse — falei.

— Não quero — respondeu. — Se quer tanto, então fuja sozinho.

Ele pôde dizer tudo o que quisesse, mas ainda assim não quis me ajudar a encontrar um caminho. Se eu me perdesse na floresta enquanto tentava ir ajudar Ruijerd, isso não seria motivo para rir.

— Mas se for realmente uma acusação falsa, você deve ficar bem. Vão entender.

— Espero que você esteja certo — falei.

Do meu ponto de vista, Gyes não era do tipo que dava ouvidos às pessoas. Mas ainda assim era verdade que ajudei aquelas crianças a escaparem. Se voltassem, a acusação contra mim seria retirada.

— Então, acho melhor esperar um pouco mais.

— Sim, você deveria — ele concordou. — Fugir não vai resolver nada. — Geese virou para o outro lado.

Decidi esperar, assim como sugerido. Eu, felizmente, ainda tinha algumas opções restando. Se fosse necessário, poderia envolver toda essa área em um mar de chamas e escapar. Me senti mal pela tribo Doldia, mas foram eles que me prenderam sob falsas acusações, então estávamos quites.

Mesmo assim, Ruijerd com certeza estava demorando muito. Presumi que estava demorando muito para encontrar os pais das crianças, mas ainda assim, isso era demais.

Dia seis.

O apartamento era realmente bom para se morar. Nos forneciam comida. Estava equipado com um bom ar condicionado (embora fosse uma gambiarra), e apesar de que no início eu achasse chato porque não havia nada para fazer, agora tinha um parceiro de conversa.

A cama estava infestada de insetos, mas graças ao ar quente que criei com minha magia, todos foram erradicados. O banheiro estava em seu estado normal e lamentável, mas era meio excitante pensar naquela mulher bonita e mais velha com orelhas de animal limpando tudo depois.

Mesmo assim, fiquei ansioso com o fato de não estar recebendo notícias. Já fazia quase uma semana desde que fui capturado. Ruijerd não estava atrasado demais? Não era normal presumir que algo devia ter acontecido? Será que apareceu algum tipo de problema com o qual o Superd não poderia lidar sozinho?

Eu não fazia ideia de que tipo de coisa seria. Talvez já fosse tarde demais. Mesmo assim, precisava partir. No dia seguinte. Não, em dois dias. Esperaria por dois dias.

Uma vez que esse tempo passasse, iria reduzir o vilarejo a um campo em chamas. Ou não, porque me sentiria mal ao fazer isso. Em vez disso, tomaria a guarda como minha prisioneira e fugiria.

Dia sete.

Seria meu último dia na cela. No fundo da minha mente, estava cuidadosamente elaborando um plano, enquanto, externamente, apenas comia e dormia despreocupado. Eu não conseguia continuar com isso – a mentalidade de recluso da minha vida anterior retornaria. No dia seguinte, precisaria me animar.

— Yo, novato… — Chamei Geese usando meu estilo usual de bandido enquanto me acomodava no chão.

— O quê?

— Esta é a única cela do vilarejo?

— Por que quer saber? — respondeu

— Bem, é que normalmente não colocam duas pessoas na mesma cela sem motivo, certo? — Apresentei meu pensamento.

— Normalmente não usam esta cela. Os criminosos quase sempre são despachados para Porto Zant.

Então eram enviados para Porto Zant, hein? Então a Tribo Doldia só jogava criminosos especiais nesta cela? Fui confundido com um contrabandista e também falsamente acusado de tentativa de bestialidade à sua Fera Sagrada. Isso devia ser muito impactante, o suficiente para me dar algum tipo de título especial. Isso me tornava um criminoso ainda mais extraordinário.

Mas espere.

— Então por que você foi colocado aqui? Foi preso por trapaça, certo?

— Não me questione. Provavelmente porque aconteceu na aldeia e não foi grande coisa, certo?

— Então é essa a razão?

— Essa é a razão — respondeu.

Algo me parecia meio estranho. Cocei minhas costelas e depois a barriga. Enquanto fazia isso, cocei as costas. Por algum motivo, estava com coceira. Assim que percebi isso, olhei para baixo e vi algo saltitando. Era uma única pulga.

— Gaaah! Tem insetos neste colete!

— Hm? Ah, sim, faz um tempo que não lavo — disse Geese.

— Então lave! — Eu o arranquei e joguei longe. Aquilo girou enquanto voava, soltando um monte de insetos no chão. Imediatamente exterminei todos eles com o calor da minha magia. Pestes malditas…!

— Ei, eu tenho observado você fazer isso há um tempo. Claro, é incrível. Mas como faz isso?

— São feitiços não verbais, uso magias sem encantamento — respondi.

— Huh… Sem encantamentos. Isso é realmente incrível.

Sim, e agora que estava pensando em como aqueles insetos estavam fervilhando dentro daquele colete, meu corpo inteiro de repente começou a coçar muito mais. Teria que curar todas as mordidas, uma por uma. Talvez fosse porque eu não usava nada sob o colete, mas minhas costas pareciam ter uma quantidade absurda de mordidas. Isso mesmo, minhas costas. Bem onde a mão não conseguia alcançar. Gaah!

— Yo, novato.

— O quê?

— Venha aqui e coçe minhas costas — ordenei —, está coçando virado no diabo.

— Tá, tá.

Sentei-me com as pernas cruzadas e Geese ficou atrás de mim. Ele começou a coçar.

— Sim, aí, bem aí. Ah, sim, você é muito bom nisso.

— Eu falei, não falei? — disse. — Não posso fazer nada. Se quiser, depois também posso massagear seus ombros. — Quando Geese disse isso, moveu suas mãos para meus ombros. Droga. Ele realmente era bom nisso.

Instintivamente endireitei minhas costas.

— Ooh, você é realmente bom. Isso é tão bom. Ahh, um pouco mais pra baixo. Mm, sim, bem aí… hm?

Só então percebi que algo estava muito errado. Mas, o quê? Algo estava diferente do normal.

— Ei, novato…

— O que foi agora? Quer que eu vá mais para baixo? Quer que eu coce a sua bunda também?

— Não, você não sente que algo está estranho?

— Sim, chefe, você é ruim da cabeça — respondeu ele.

— Algo além disso! — Falei. Que falta de educação.

— Bem, sim… aquela guarda ainda não apareceu.

Sim, isso mesmo. Normalmente seria hora da nossa refeição do meio-dia. Um momento em que comeríamos nossa comida deliciosa e saborosa antes de colocar as mãos juntas em agradecimento. Mas não tínhamos relógio, então era possível que eu estivesse apenas errando a hora. Mas minha barriga vazia parecia pensar que era hora do almoço.

— Além disso, parece que está muito barulhento lá do lado de fora.

— Sério? — Escutei com atenção e, com certeza, ouvi os sons de alguma briga. Mas também parecia que podia ser apenas minha imaginação.

— E também está esquentando.

— Agora que você mencionou, é verdade, hoje está muito quente. — Percebi.

— Além disso, não está meio enfumaçado por aqui?

— Agora que você mencionou isso…

Ele tinha razão. Havia um fino véu de fumaça infiltrado no local. A fumaça estava saindo da claraboia e da entrada da frente.

— Novato, empreste-me seu ombro.

— Acho que não tenho escolha. Aí vai.

Geese me colocou em seus ombros e, da vista ligeiramente mais elevada da clarabóia, olhei para fora.

A floresta estava queimando.

 


 

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