Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 03 – Cap. 15 – História Paralela – A Princesa de Asura e o Anjo

 

Ars, a capital do Reino Asura, era a maior e mais populosa cidade do mundo. Bem no seu meio, havia um castelo com paredes brancas – naturalmente, um que diziam ser o maior e mais bonito do mundo. Era conhecido como Palácio Prata e era a residência da família real.

Dentro de suas paredes, havia uma luta cruel, feia e perpétua pelo poder que desmentia sua aparência imaculada. Os nobres do reino nunca se cansavam de conspirar, enganar e trair uns aos outros. Travavam batalhas dia e noite.

O mundo deste palácio era pequeno e infernal – um lugar onde se dizia que absolutamente ninguém era confiável.

Acontece que o “Incidente de Deslocamento” que ocorreu na região de Fittoa teve um grande impacto no curso das guerras travadas dentro deste castelo.

Esta é a história de como esses eventos foram colocados em movimento…

 

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Além das residências da família real, o Palácio Prata continha vários jardins esplêndidos.

Lá estava o Jardim das Rosas, cheio de plantas com flores vermelhas; o Jardim das Peônias, repleto de plantas com flores negras; o Jardim de Hortênsias, repleto de plantas com flores azuis; e, finalmente, um lugar onde floresciam apenas flores brancas – o Jardim de Lírios.

Este último era o particularmente favorito de certa pessoa.

O nome dela era Ariel Anemoi Asura, a segunda princesa do Reino Asura. De sua mãe, a rainha consorte, uma beleza famosa, herdou traços adoráveis e cabelos dourados brilhantes; de seu pai, o rei, herdou uma voz incomparavelmente bela. E embora ainda não tivesse muita idade, seu carisma era irresistível. A maioria dos moradores da capital já falava dela como a princesa mais linda que já existiu.

Uma vez a cada três dias, essa jovem visitava os Jardim de Lírios. Ela se sentava a uma mesa de branco puro, acompanhada apenas por seu cavaleiro guardião e seu mago, e calmamente tomava seu chá.

Nesses momentos, vê-la era encantador o suficiente para fazer qualquer mulher suspirar de saudade, e tão cativante que nenhum homem conseguiria evitar de olhar. Sua beleza, como a de uma fada de algum conto popular, era tal que parecia rude até mesmo se aproximar dela. Assim, ninguém aparecia para falar com a princesa quando ela visitava o Jardim de Lírios. Nem uma única alma se atrevia a tentar beber chá com ela.

Sentada sozinha à mesa, aproveitava sua pausa momentânea sozinha, trocando apenas algumas breves palavras com seus dois guardiões.

Seu cavaleiro guardião era um garoto de enorme beleza própria. Ele tinha lindos cabelos castanhos brilhantes e fortes traços faciais; seu nariz era bem torneado, sua mandíbula bem definida.

Seu nome era Luke Notos Greyrat. Segundo filho da família Greyrat, uma das quatro grandes casas provinciais do reino, era um jovem e talentoso cavaleiro que já havia alcançado o nível Intermediário no estilo Deus da Espada. Não havia uma única garota dentro do castelo que não soubesse sobre ele. Embora ainda no início da adolescência, já possuía uma língua de prata e nunca perdeu o interesse de nenhuma senhora com quem conversou. Com sua aparência arrojada e mente inteligente, dizia-se que conquistava todas as jovens nobres que cruzavam seu caminho. Para não falar mais, nenhum outro homem no castelo era tão admirado pelas garotas de sua idade.

O mago guardião da princesa era um pouco mais velho, talvez com dezesseis ou dezessete – estava mais para um jovem do que um garoto.

Embora não fosse tão incrivelmente belo quanto Luke, ainda era bonito para todos os padrões comuns; seu rosto um tanto esguio possuía uma atratividade amável. Sua presença adicionava uma pitada de charme lúdico que complementava muito bem a beleza dos outros dois, tornando ainda mais difícil para qualquer um pensar em se aproximar deles.

Seu nome era Derrick Redbat, terceiro filho da conhecida casa Redbat, e era um mago de nível Avançado que se formou no ilustre Instituto Mágico de Asura.

Sobre o que esses três conversavam quando ficavam sozinhos? Era um assunto de grande interesse para todos os jovens que viviam no Palácio Prata, mas ninguém sabia a resposta. Nesse dia, como em muitos outros, estavam conversando baixinho no Jardim de Lírios.

— Bem, então de que cor eram? — As palavras de Ariel ecoaram fracamente pelo jardim silencioso. Sua voz era real e extraordinariamente bela; o som levava à mente o tilintar de sinos.

— Um adorável tom de rosa… Ah, mas com um toque de laranja também — respondeu o jovem cavaleiro Luke, do outro lado da mesa, onde estava disposto. Sua própria voz era um tanto aguda, como se poderia esperar de um garoto de sua idade, mas tinha clareza e confiança.

Derrick, o mago guardião da princesa, ouvia em silêncio. A expressão sombria em seu rosto sugeria que estava ruminando as palavras dos dois.

— Pessoalmente, prefiro botões de flor de cerejeira em um campo de porcelana branca…

— Com todo o respeito, Lady Ariel, sinto que aqueles que se voltam para dentro também têm um certo apelo.

— Pela deusa! Você gosta dos invertidos?

O tom de Ariel estava um tanto chocado, mas Luke respondeu calmamente:

— Bem, admito que não sou especialmente meticuloso quando se trata de tais detalhes. No final das contas, o tamanho é tudo o que realmente importa para mim.

Ariel suspirou e balançou a cabeça.

— Sinceramente. Seu gosto é péssimo, Luke.

Em resposta, o garoto simplesmente encolheu os ombros.

Do que exatamente os dois estavam falando, pode-se perguntar?

— Em qualquer caso, o que achou desta nova empregada? Sarisha, não é?

— Seu corpo era muito sensível e sua inocência encantadora. Foi uma noite bastante agradável.

A resposta foi bem simples: Luke estava descrevendo os mamilos da garota com quem se deitou no outro dia.

— É mesmo? Hmm. Agora você me fez querer de alguma forma a contrabandear para o meu quarto.

— Ficaria perfeitamente feliz em ajudar, milady.

— Ah? Você já está preparado para jogá-la de lado, depois de dormir com ela apenas uma vez?

— Receio que os seios de Sarisha não eram grandes o suficiente para o meu gosto.

Ariel e Luke, em contraste com sua aparência, eram na verdade um par de jovens namoradores lascivos. Já fazia algum tempo que atacavam indiscriminadamente as empregadas do palácio e as filhas de nobres de classe média.

— Nada é mais excitante do que provocar garotas tão lindas, caso queira saber minha opinião. Imagino que Sarisha soltaria maravilhosos gritinhos…

Apenas um número limitado de pessoas no palácio sabia disso, mas a princesa Ariel era bissexual e sádica. Muitos entre a nobreza Asurana possuíam inclinações sexuais extraordinárias, e ela certamente não era exceção. Luke não era um caso tão extremo, mas seu amor por mulheres de seios grandes não conhecia limites.

Escondidos na sombra de sua aparência externa e reputação, os dois viveram vidas despreocupadas de prazer – indiferentes à trama e intriga que definia a corte real de Asura.

Nisto, não eram incomuns para aqueles de seu tipo. A maioria da nobreza se entregava a um comportamento igualmente escandaloso ou ainda pior. Asura era um reino com uma história de 400 anos que nunca conheceu a guerra ou a fome. Para muitos de sua classe alta, um exibido gosto pelo que é decadente parecia até mesmo um símbolo de status. Ariel e Luke ainda eram jovens, mas já estavam imersos nas diversões de seu tipo.

Contudo…

— Luke. Lady Ariel. Acho que seria melhor vocês se comportarem… um pouco mais discretamente.

Derrick era um homem com uma mentalidade mais convencional. Em grande parte, isso acontecia porque os Redbats eram apenas nobres provinciais de classe média. Viviam em um mundo totalmente diferente daquele decadente da capital.

Alguém poderia se perguntar por que um homem tão jovem recebeu o prestigioso papel de mago guardião da segunda princesa, mas a resposta era bastante simples: seus resultados no Instituto foram excelentes. Magos de nível Avançado e berço nobre eram uma mercadoria rara.

— Ah, Derrick… você realmente deveria aprender o que significa ser um nobre Asurano.

— Milady está certa, Derrick. Você é sempre assim. Se não descobrir como ler o clima, nunca será popular entre as mulheres.

Quando Ariel e Luke encolheram os ombros, Derrick soltou um suspiro pesado.

— Não foi isso que eu quis dizer, Lady Ariel. Você pode muito bem governar este reino algum dia, por isso não parece sensato se expor a fofocas e intrigas. Você corre o risco de fazer inimigos.

E então, foi a vez da Princesa Ariel soltar um longo suspiro.

— Olha, Derrick. Você está sempre dizendo coisas assim, mas lembra que eu sou a segunda princesa, correto?

— É claro. O que significa que está no topo da linha de sucessão e é uma candidata em potencial para suceder ao trono.

— Tenho dois irmãos mais velhos e uma irmã mais velha. Parece que encontraram um marido para minha irmã, mas meus irmãos estão lutando implacavelmente pelo trono. Com eles por perto, não há a menor chance de me tornar rainha.

— Isso não é verdade. Você é a filha da rainha consorte. Isso a torna a única herdeira legítima do trono, e…

— Pare com isso, Derrick. — Interrompeu Ariel, bruscamente. — E se essas palavras alcançassem os ouvidos dos meus irmãos? Você quer que mandem assassinos atrás de mim? Já é ruim o suficiente ter todos esses nobres jurando fidelidade a mim por interesse próprio…

— Se você escolher lutar, Lady Ariel, eu felizmente daria minha vida para protegê-la de qualquer um que possam enviar.

— Você poderia, por favor, parar de dizer coisas tão alarmantes? De qualquer forma, isso não foi muito convincente. Sei o que você realmente pensa sobre Luke e eu… Provavelmente gostaria de me envolver em uma luta pelo poder apenas para que possa me abandonar quando tudo começar, não é?

— O qu… — Derrick arregalou os olhos diante do choque. Depois de um momento, seu corpo começou a tremer, seu rosto ficou mais feroz e ele cerrou os punhos.

— Olhe aqui, Derrick. Não me importo se nunca tomar o trono. Ainda posso tomar chá em um lindo jardim e viver minha vida da maneira que quiser, e isso é o suficiente para mim. De qualquer forma, eu não teria chances contra os meus irmãos. A ideia de me jogar por vontade própria nessa bagunça é simplesmente absurda.

O pessimismo de Ariel era totalmente justificável. Não importa quão alto fosse seu lugar na ordem de sucessão, ela era mais jovem do que seus rivais e tinha muito menos aliados. Suas chances de vitória eram quase nulas. Então, de certo, era mais sábio não lutar pelo trono e simplesmente viver uma vida de prazer indulgente. Ela ainda era uma princesa do maior país do mundo, então essa opção era uma possibilidade disponível.

— Então esqueça… — O coração de Derrick estava nublado de frustração, mas ele não conseguia encontrar outras palavras para dizer.

Quando o jovem se virou e saiu do jardim, Ariel e Luke encolheram os ombros e retomaram o debate sobre os mamilos das mulheres do palácio.

 

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Não era que Derrick tivesse abandonado suas responsabilidades como mago guardião da princesa. Ele estava indo ao banheiro.

Ele e Luke tinham a tarefa de proteger Ariel o tempo todo, mas eram apenas humanos, então seus corpos tinham certas necessidades. Quando um deles sentia o chamado da natureza, geralmente informavam ao outro e faziam seus negócios o mais rápido possível. Neste mundo, como em qualquer outro, as pessoas nunca ficavam tão vulneráveis quanto quando faziam suas necessidades.

O ar docemente perfumado do Jardim de Lírios nunca tinha combinado com Derrick. No início, ele informara a Luke toda vez que sentia a necessidade de ir para a instalação mais próxima, mas com o tempo, isso se tornou tão rotineiro que Ariel e Luke começaram a esperar por isso. Eventualmente, a princesa ordenou que não se preocupasse mais em anunciar suas intenções. Por mais extremos que fossem seus gostos em alguns aspectos, ela não gostava de ser lembrada de questões escatológicas no meio da hora do chá.

Enquanto se fechava dentro do banheiro, Derrick soltou um longo suspiro. Ele estava repassando mentalmente a conversa que acabara de ter com a Princesa Ariel. Ela insistiu que não tinha nenhum interesse em se tornar rainha, mas o jovem queria muito que a princesa tomasse o trono.

Não que pensasse que seus irmãos, o primeiro príncipe e o segundo príncipe, fossem candidatos indignos. Se algum deles assumisse o trono, sem dúvida amadureceriam e se tornariam um rei respeitável e comum se comparado aos que vieram antes.

Mas do jeito que Derrick via, isso não era bom o suficiente. Com qualquer um dos príncipes no trono, Asura continuaria em seu caminho atual – podre até o âmago, mas mesmo assim se expandindo. As disputas feias e sem sentido da nobreza continuariam sem controle, desperdiçando dinheiro e energia que poderiam ser designados para o progresso. E com o tempo, o reino poderia ficar vulnerável à influência estrangeira.

Esta terra nunca conheceu a fome. Não importa quão corrupta fosse a nobreza, não importa quão severos fossem seus impostos, o povo nunca passava fome. Assim, seu descontentamento raramente se transformava em fúria; poucos surgiram para desafiar o status quo. Não houve grandes rebeliões ou guerras civis.

Como resultado disso, o reino estagnou.

Claro, ainda estava fazendo um progresso constante nas áreas de magia e tecnologia. Mas o Reino do Rei Dragão, ao sul, o havia superado no desenvolvimento tecnológico, e as Nações Mágicas ao norte estavam fazendo grandes avanços na pesquisa arcana.

Embora Asura ainda tivesse vantagens esmagadoras em outros aspectos, nesse ritmo era difícil dizer como as coisas estariam depois de outro século… ou mesmo em meio século. O Reino do Rei Dragão, em particular, estava observando Asura como um falcão em busca de qualquer sinal de fraqueza, ansioso para reivindicar alguma parte de suas abundantes terras.

Asura atualmente acreditava que as montanhas ao longo de suas fronteiras indicavam que estava seguro de invasões estrangeiras, mas como se sairia contra um exército do Reino do Rei Dragão ainda mais avançado tecnologicamente dentro de cinquenta anos? E se as Nações Mágicas aproveitassem a chance para invadir pelo norte…?

— Lady Ariel poderia mudar tudo, e ainda…

Derrick acreditava genuinamente que a segunda princesa era capaz de empurrar Asura para um caminho diferente.

Ele ainda se lembrava claramente da primeira vez que a viu. Foi apenas alguns anos antes, em uma celebração da maioridade realizada pelo reino. Na época, Derrick tinha acabado de se formar no Instituto de Magia. Apesar de não ter sido o melhor aluno de sua classe, se classificou muito bem e já havia garantido um posto com os Magos Reais Asuranos, com quem se juntaria dentro de alguns meses.

Ele sabia que era um mago capaz, mas também normal. Não tinha grandes expectativas para si mesmo. Mas naquele dia, encontrou uma certa jovem encantadora. Embora Ariel ainda não fosse maior de idade, foi convidada para a festa, uma convidada de honra. Apesar de sua juventude, fez seu discurso de congratulações em um estilo claro e confiante; aos olhos de Derrick, sua sagacidade e inteligência ofuscaram o melhor aluno que falara em sua formatura do Instituto.

Algum tempo depois, após se juntar aos Magos Reais, seu pai disse a ele que a posição de mago guardião para a segunda princesa estava livre, e se ofereceu para recomendá-lo para o posto – embora advertindo que seria uma chance pequena. Ele aceitou entusiasmado.

Ariel era uma pessoa competente e dinâmica. No momento ela passava os dias tomando chá e as noites pulando nas empregadas, sim… mas, por natureza, era diligente, sociável e estava disposta a trabalhar duro para melhorar a si mesma. Se assumisse o trono e se dedicasse ao fortalecimento de seu país, Derrick tinha certeza de que Asura passaria por grandes avanços em uma única geração. Poderia ser possível até mesmo conquistar todo o Continente Central.

Por um lado, ela era extremamente carismática. Tanto o Instituto de Magia quanto os Magos Reais estavam cheios do que se poderia chamar de pessoas insatisfeitas. Muitos sussurravam palavras de crítica aos ministros que atualmente dominavam o governo, ou à nobreza e à família real.

No entanto, em todos os anos que passou nesses lugares, Derrick nunca tinha ouvido ninguém falar mal de Ariel.

Ele tinha toda a confiança de que ela poderia se tornar uma governante como Gaunis Freean Asura, que liderou a humanidade nos últimos estágios da Guerra de Laplace e consequentemente assumiu o trono – um governante amado por todo o seu povo. Já havia até mesmo algumas pessoas que morreriam por Ariel, cheias de alegria. O próprio Derrick era um deles; tinha sido doloroso e enfurecedor ouvi-la recusar aquela lealdade com tanta casualidade.

— Para ter certeza, sua vida corre pouco risco se continuar agindo dessa maneira… mas ela está se rebaixando ao nível de um nobre corrupto…

Será que a princesa apenas não queria suportar as expectativas de seus compatriotas? Ele tinha sido escolhido como mago guardião especificamente porque ela pensava que o jovem não a empurraria para um caminho mais difícil? A princesa nunca disse isso, mas talvez o detestasse…

Derrick soltou outro suspiro.

Mas assim que estava afundando ainda mais na melancolia, ouviu o som fraco de uma voz humana.

— Hm?

Evidentemente, alguém estava conversando atrás do banheiro.

— Princesa Ariel…

— Matar…

Tendo escutado algumas palavras alarmantes, Derrick prendeu a respiração e pressionou o ouvido contra a parede.

— Então Sir Gabrel vê Lady Ariel como uma ameaça?

— Isso mesmo. Afinal, sua popularidade com o povo é notável. Ele está bastante chateado por ela ser mais conhecida do que ele, embora ela quase nunca se mostre em público.

— Parando para pensar, isso é um pouco estranho… Qualquer que seja o papel que ela esteja desempenhando no momento, pode estar trabalhando em alianças pelos bastidores.

— Sim. Quando você não consegue vencer uma luta frontal, tem que se esconder nas sombras, eu suponho.

Derrick franziu a testa diante disso. A popularidade de Ariel com os cidadãos era em parte devido ao seu carisma natural, mas ela também se mostrava a eles com muito mais frequência do que o Primeiro Príncipe Grabel. Seu irmão obedientemente comparecia a cerimônias internas do palácio, mas raramente se aventurava a eventos realizados fora de suas paredes; em contraste, a princesa passava muito tempo em várias funções externas. Por exemplo, recentemente compareceu à cerimônia de inauguração de uma nova ponte sobre o rio Alteir, tornando-se uma das primeiras pessoas a cruzá-la. Não muito antes, tinha sido a convidada de honra no maior torneio de combate mágico do Instituto, entregando ao vencedor seus prêmios com um buquê de flores, e permitindo-lhe a honra de beijar sua mão. Foi precisamente porque investiu tempo em tais eventos, totalmente alheios às lutas pelo poder dentro da corte real, que se tornou popular entre as pessoas comuns.

— Se esse for realmente o caso…

— De fato. A garota vai se tornar um obstáculo.

— Suponho que seja melhor tomar precauções contra problemas futuros…

— Sinto o mesmo. E então, devido à profunda preocupação com os interesses do Príncipe Grabel e do Reino Asura como um todo, já fiz alguns… arranjos.

— Hahaha. Suponho que já devia esperar isso de você.

Derrick ficou tentado a sair do banheiro e matar os homens do lado de fora, mas rapidamente descartou o pensamento. Esses dois eram provavelmente nobres da facção do primeiro príncipe. Eram homens que gastavam suas fortunas livremente – e recorriam aos atos mais vis que se possa imaginar – para moldar os eventos a seu gosto; quando encurralados, ofereciam todas as desculpas covardes que podiam para salvar suas próprias peles. Havia muitos de sua laia dentro do palácio.

O jovem poderia matá-los na mesma hora com sua magia, mas isso seria um ato sem sentido. Todo mundo presumiria que Ariel ordenou que seu mago guardião matasse dois nobres leais ao primeiro príncipe. Isso seria interpretado como um ato de hostilidade aberta contra o próprio Grabel e levaria a um fluxo constante de ataques de seus seguidores.

Por um momento, Derrick se perguntou se tal resultado poderia forçar Ariel a afinal lutar pelo trono… mas se a princesa não tivesse motivação real para lutar, seriam colocados na defensiva, encurralados e, finalmente, massacrados como animais.

Abandonando a ideia de matar os homens, saiu do banheiro sem dizer uma palavra. De uma forma ou de outra, teria que agir contra a nova ameaça.

Um dos nobres disse que já foram feitos “arranjos”. Nesse caso, provavelmente aconteceria algo em breve – talvez até nos próximos dias. Seu objetivo era provavelmente a própria Ariel, mas como seus guardas mais leais, ele e Luke também eram alvos em potencial.

Seria um assassino? Ou usariam algum tipo de veneno?

Precisava contar a Ariel sobre isso imediatamente… e exortá-la, mais uma vez, a enfrentar essa batalha de frente.

Com esses pensamentos passando por sua mente, Derrick caminhou rapidamente de volta para o Jardim de Lírios, segurando seu cajado sob o robe para que pudesse se proteger contra qualquer emboscada repentina.

— Quanto tempo passou desde a última vez que lutei…?

De volta ao Instituto de Magia, ele participou de regulares batalhas simuladas – às vezes contra outros jovens magos, às vezes contra alunos de uma academia de cavaleiros. Às vezes, eram partidas de grupos em grande escala, eliminando equipes de três a cinco membros. Várias vezes por ano, os alunos também eram escoltados até uma floresta local por seus instrutores e aventureiros contratados, a fim de ganhar experiência em combate a monstros.

Não era como se Derrick nunca tivesse tirado uma vida antes. Em uma batalha simulada, acidentalmente matou seu oponente com um feitiço que acabou por acertar sua cabeça. E durante o processo de seleção para o papel de mago guardião, foi obrigado a lutar e matar um sujeito previamente condenado à morte – como um teste de sua disposição para fazer o que fosse necessário.

No entanto, se alguém estava enviando um assassino para enfrentar tanto ele quanto Luke, sem dúvida escolheriam um experiente e eficiente. Seria uma luta de vida ou morte. O pensamento enviou um pequeno estremecimento ao braço de Derrick.

— Posso protegê-la…?

Ele expressou sua ansiedade… então balançou a cabeça para tirar isso de sua mente.

Isso era algo que ele não tinha como saber, mas…

O Incidente de Deslocamento de Fittoa estava ocorrendo no mesmo instante.

 

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— Lady Arie… O quê…?!

No momento em que Derrick voltou para o Jardim de Lírios, seu queixo caiu diante do choque.

Seus olhos estavam fixos em uma área na parte de trás do jardim – uma seção conhecida como Floresta de Hibiscos.

Uma besta enorme que se apoiava em duas pernas acabara de aparecer trotando por entre as árvores.

Era um Javali Exterminador.

Por si só, eram monstros de rank D, mas eram frequentemente acompanhados por bandos leais de Cães de Assalto que podiam elevar seu nível de ameaça para rank C ou até mesmo B. Normalmente, só eram encontrados nas profundezas das florestas, mas seus números eram grandes, e às vezes um emergia para atacar uma cidade próxima – comumente tomando gado ou crianças humanas para consumo.

Muitos anos atrás, um Javali Exterminador acompanhado por vinte Cães de Assalto matou todas as almas que viviam em um pequeno vilarejo Asurano. Como resultado, se tornaram alguns dos monstros mais infames que viviam dentro das fronteiras do Reino. Em assentamentos próximos às florestas, as crianças costumavam ouvir que um javali as carregaria e comeria, a menos que fossem para a cama na hora certa, e as outras pessoas poderiam ser ameaçadas com histórias dos Superds.

Derrick, como a maioria de seus compatriotas, estava familiarizado com o nome e a aparência desses monstros, e também com sua reputação como uma fera temível.

— Como…?

Por que havia um Javali Exterminador ali? Este era o palácio real, lar da família governante da maior nação do mundo. De forma alguma era um local seguro, mas certamente era o último lugar que alguém esperaria encontrar um monstro selvagem. Como aquilo poderia aparecer no local?

A mente dele se voltou para a conversa que acabara de ouvir. Foi aquele nobre quem planejou isso? Não, não podia ser. Nenhum simples nobre poderia ter contrabandeado uma besta tão selvagem e enorme para o coração do palácio. Mesmo os ministros mais poderosos do reino não seriam capazes de tal coisa.

Embora não tivesse como saber disso, o Javali Exterminador tinha de fato sido teletransportado para este local apenas alguns momentos atrás, como resultado do Incidente do Deslocamento de Fittoa.

Enquanto a mente de Derrick lutava para processar a situação, seu olhar encontrou o de princesa Ariel, e ele soltou um suspiro involuntário.

Ela ainda estava em sua mesa, conversando alegremente com Luke sobre algum assunto vulgar. Os dois não tinham notado o Javali Exterminador – embora aquilo estivesse olhando diretamente para eles, seus olhos brilhando como um caçador avaliando sua presa.

Derrick começou a correr. E enquanto corria, começou a entoar um encantamento mágico.

No entanto, o Javali Exterminador também estava em movimento. Talvez tenha notado Derrick ou sentido uma ameaça; de qualquer maneira, avançou pela vegetação do jardim, indo direto para a Princesa Ariel.

Não vou chegar a tempo!

Derrick abandonou seu encantamento no meio e gritou: “Corra, Lady Ariel!” a plenos pulmões.

Com uma exclamação de surpresa, a princesa se levantou – bem a tempo de notar o enorme borrão marrom correndo para o seu lado. Ela saltou para fora de seu caminho.

Quando Ariel caiu no chão, o Javali Exterminador abriu caminho através de uma série de árvores delicadas do jardim, então voltou em direção ao seu alvo.

Nesse ponto, Derrick havia se colocado entre a princesa e o monstro. O enorme javali apareceu diante do mago, com baba escorrendo de sua boca. Seus olhos brilhantes e bestiais estavam fixos nele.

O que um mago poderia fazer nesta situação? O que poderia fazer ao estar tão perto de um monstro tão grande? Não havia a menor chance de concluir um encantamento a tempo.

Então Derrick nem se incomodou. Simplesmente abriu os braços e gritou com tudo o que tinha:

— Luke! Deixo o resto com você!

Uma fração de segundo depois, o golpe do Javali Exterminador o fez voar.

O golpe quebrou todas as suas costelas e esmagou vários órgãos vitais. Sangue jorrou de sua boca enquanto ele voava pelo ar. Quando finalmente bateu em uma parede a cerca de cinco metros de distância, sentiu sua espinha também se estilhaçando.

— Ghaagh!

Ele teve a sorte de não perder a consciência na mesma hora. Mas talvez isso não fosse lá uma grande bênção.

Ah… Estou morrendo.

A mente de Derrick estava estranhamente clara. Ele sabia que estava perdido. Podia sentir o cheiro de sua própria morte no ar. Os ferimentos que sofreu eram, sem dúvidas, fatais. Já vi alguém morrendo graças a ferimentos bem parecidos, não vi…?

Ele não sentiu medo. Talvez tudo tivesse acontecido tão de repente que seu cérebro ainda não tivesse entendido.

Olhando para o jardim, Derrick observou Luke desembainhando sua espada e partindo para atacar o Javali Exterminador. Luke, não seja tolo… Você não pode vencer essa coisa sozinho… Ah, certo. A porta fica para esse lado… Então você não pode simplesmente fugir, pode…?

Derrick tentou olhar para os lados movendo apenas os olhos. E quanto a Lady Ariel? Está segura?

Ele logo a encontrou. Ela estava correndo em sua direção – seu rosto cheio de choque e confusão, mas não de terror.

— Derrick! Ah, isso não pode estar acontecendo… Precisamos de um curandeiro aqui agora mesmo!

Quando a princesa gritou alarmada, ele reuniu a pouca força que lhe restava para falar:

— Ungh… Deixe-me… Você tem que… fugir… — E tossiu.

— Derrick, não tente falar! Alguém ajude! Não tem ninguém aqui?!

— Khh… Isso é… inútil, Lady Ariel… Já não posso mais ser salvo…

— Não… não! Não seja ridículo! Derrick, você precisa aguentar firme!

O jovem olhou para a princesa, agora claramente à beira das lágrimas, com alguma surpresa. Ele estava convencido de que Ariel e Luke odiavam tê-lo por perto, mas talvez isso não fosse de todo verdade. Apesar de tudo, sentiu um pequeno impulso malicioso crescendo dentro de seu peito.

— Bem, Princesa? Eu não… te abandonei… abandonei?

Ariel recuou, aparentemente assustada com suas palavras. E depois de um momento, começou a olhar para seu guardião profundamente leal de uma maneira que nunca tinha olhado antes.

— Derrick…

— Lady Ariel, este é… meu último pedido. Por favor, eu imploro… assuma o trono… e faça de Asura… um país melhor! Gggh!

Uma costela quebrada perfurou o pulmão de Derrick e ele tossiu uma grande quantidade de sangue.

Ariel observou em silêncio por um momento, então acenou com a cabeça e se virou.

Um enorme javali estava diante dela.

Luke, jogado de lado algum tempo antes, estava olhando do chão para a princesa com uma expressão de puro desespero.

Ela olhou ferozmente para a criatura por um momento, então começou a gritar.

— Eu não sei de onde você veio ou por quê, mas está diante da futura Rainha de Asura! Não vou morrer hoje. Vá embora!

Naturalmente, as palavras não significavam nada para um Javali Exterminador. A besta apenas fungou, suas narinas tremendo diante de uma provável refeição saborosa.

Aquilo deu um passo à frente, depois outro.

Assistindo impotente do chão, Derrick fez uma oração silenciosa. Como seguidor da Igreja Millis, voltou-se para o céu em busca de ajuda.

Por favor, Deus… por favor nos ajude. Você pode tirar minha vida, mas ajude a Princesa Ariel. Este mundo ainda precisa dela…

Ele orou em vão, é claro. Ele sabia disso melhor do que ninguém. Santo Millis foi um homem verdadeiramente grande e o salvador da humanidade… mas não se podia esperar que concedesse um milagre conveniente toda vez que alguém precisasse de um. As coisas eram simplesmente desse jeito. Mesmo assim, Derrick não pôde deixar de implorar.

Por fim, a besta se aproximou da Princesa Ariel.

Sua pata maciça se ergueu no ar.

Mas então – a oração foi atendida.

— Aaaaaaaaaaaaah!

Com um grito ensurdecedor, um anjo caiu do céu.

Era um anjo jovem de cabelos brancos – vestindo roupas de péssima qualidade.

— Aah! Aaaaaah!

Com um grito de guerra encantador e meio enlouquecido, estendeu as duas mãos em direção ao enorme javali… e, de alguma forma, explodiu a metade superior de seu corpo.

Obrigado, Deus… Muito obrigado. Testemunhando isso, Derrick derramou sua última lágrima. Por favor… cuide de Lady Ariel.

E com o coração cheio de paz, o mago guardião soltou seu último suspiro…

 

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O Incidente do Deslocamento de Fittoa custou a vida de um jovem mago – e forneceu a Ariel Anemoi Asura um propósito novo e diferente.

Que caminho ela seguiu após esses eventos? Como mudaram Luke Greyrat?

E o que foi feito do anjo que caiu do céu?

São histórias para outra hora…

 


 

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