Para mim, como membro da geração Dragon Quest, as palavras “Continente Demônio” naturalmente traz à mente o conceito de um “Reino Demônio”. Sabe… uma terra sombria governada por um Rei Demônio todo-poderoso, com pequenas aldeias povoadas por monstros, santuários antigos há muito esquecidos e criaturas temíveis andando por todo o lugar.
Mas este mundo não era bem assim. Por um lado, aquele todo-poderoso Rei Demônio estava longe de ser encontrado.
O que não quer dizer que “Reis Demônios” não existissem. Na verdade, havia cerca de trinta deles no momento, e todos tinham pelo menos um pouco de território para dominar. Mas não eram governantes de verdade. Apenas se chamavam de reis e agiam como se fossem donos do pedaço.
Cada Rei Demônio tinha algo como um esquadrão de guarda ou um bando de cavaleiros, normalmente com nomes impressionantes. Os soldados de Rikarisu, tecnicamente, eram um desses. Eles complementam as atividades de aventureiros exterminando monstros perigosos na área, capturando criminosos na cidade e, de outra forma, tomando medidas independentes para proteger suas casas. Na verdade, estava mais para uma vigilância da cidade ou uma milícia local do que para um exército.
Eu não tinha entendido perfeitamente a relação exata entre o Rei Demônio local e aqueles caras. Ele realmente deu ordens a eles ou estavam apenas se chamando de seus soldados? Provavelmente seriam seu exército se ele fosse para a guerra, então acho que havia algum tipo de contrato em vigor.
No momento, ninguém estava lutando em nenhuma guerra e as coisas estavam relativamente pacíficas. Mas isso só se aplicava quando alguém estava na vizinhança de um Rei Demônio específico. A maioria do Continente Demônio vivia sem seguir qualquer lei.
As coisas podiam estar calmas em torno do Cruzeiro do Sul e do Mausoléu Sagrado do Imperador, mas tudo no meio disso vivia de um modo desenfreado como se fossem todos parte de uma gangue de motoqueiros punks.
Em qualquer caso, o Rei Demônio que controlava a área ao redor de Rikarisu se chamava Badigadi. Diziam que era um cara musculoso e machista com seis braços e pele negra. No momento, entretanto, partiu em uma jornada sem rumo, e ninguém tinha ideia de onde ele estava. Parecia ser um tipo de espírito livre.
De qualquer forma, o Continente Demônio estava cheio de criaturas poderosas. Havia uma razão para a Guilda dos Aventureiros colocar todos os empregos de caça a monstros no rank C ou superior; basicamente todo monstro que poderia encontrar pelas redondezas exigia ao menos esse nível de força. Os Entes de Pedra, talvez, fossem os únicos de rank D.
Dito isso, os demônios eram geralmente mais fortes do que os humanos. Também eram muito bons em combate em grupo, já que as habilidades únicas de várias sub-raças os ajudavam a desempenhar funções específicas. Alcançar o rank B ainda era um verdadeiro desafio para a maioria das pessoas, mas os aventureiros que chegavam lá eram mais fortes do que os de rank B que encontraria em outros lugares. Aqueles que não conseguiam ir tão longe geralmente acabavam como Nokopara ou Jalil.
Quanto mais eu pensava nisso, mais incrível Ruijerd parecia. O homem disse que poderia derrubar monstros de rank A sozinho, eu acreditei nele. Mesmo sozinho, ele era mais forte do que um grupo de seis ou sete aventureiros de rank B.
Qualquer um ficaria muito feliz ao conquistar a confiança de alguém assim, não?
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Três dias se passaram desde que deixamos a cidade de Rikarisu. Não tenho certeza se isso teve alguma coisa a ver com o fato de que estava me sentindo um pouco mais relaxado depois de conquistar a confiança de Ruijerd, mas meu apetite estava ficando cada vez mais feroz.
O problema era que não tínhamos nada de bom para usar. Estávamos vivendo principalmente de carne de Grande Tartaruga, e essa não era exatamente a carne de minha preferência. Decidi tentar melhorar um pouco a nossa situação culinária. A coisa ficava nojenta quanto assada, então podíamos tentar um método diferente.
Usando magia, preparei uma grande panela de barro, um fogão básico, mas poderoso, e um delicioso caldo artesanal da família Greyrat. Era tudo que precisávamos para fazer um ensopado básico. Água era um recurso precioso por aqui, mas eu poderia produzi-la em quantidades ilimitadas.
Inicialmente, queria usar uma panela de pressão para deixar a carne realmente bonita e macia… mas a primeira que tentei fazer quase explodiu, então decidi não seguir essa ideia. Cozinhar a carne dessa maneira exigiria muito mais tempo, mas não tínhamos que nos preocupar com a conta de gás ou água. Caso fosse necessário, eu estaria disposto a cuidar, com todo carinho do mundo, enquanto a panela fervesse tudo por horas. Era particularmente conveniente que eu pudesse fazer todos os utensílios de cozinha de que precisávamos usando a magia da Terra, tornando-os descartáveis.
Um dia, também quis tentar defumar a carne… mas a fumaça dos Entes de Pedra provavelmente não a deixariam com um sabor muito agradável.
Cozinhar a carne da Grande Tartaruga a tornou um pouco mais comestível. Em vez de mastigar uma carne dura nojenta, agora tínhamos carne macia e nojenta.
Sim, ainda era desagradável. Não dava para remover aquele cheiro pungente, e o sabor era o que era.
Para ser sincero, era estranho. Eu poderia jurar que esse produto tinha um gosto muito melhor naquele vilarejo Migurd. Será que faltava alguma coisa?
Depois de pensar por um momento, finalmente me dei conta.
Deviam ser aquelas plantas que eles cultivavam dentro do vilarejo. Achei que fossem hortaliças meio mortas, mas não era o caso. Aquela planta era provavelmente algum tipo de erva ou tempero… algo que usavam para esconder o fedor da carne e melhorar seu sabor. Fui totalmente enganado pela descrição de Roxy sobre como eram “amargas e desagradáveis”. Eram usadas como tempero; não se deveria comê-las puras.
Minha nossa. Até minha mestra podia ser meio estúpida de vez em quando.
Fiz uma nota mental para tentar comprar algumas especiarias desse tipo, caso houvesse alguma disponível na próxima cidade que visitássemos. Queria comprar alguns outros ingredientes também, apenas para variar, mas talvez fosse desperdício de dinheiro. A comida tendia a ser cara neste continente. Os vegetais eram particularmente caros, já que a região era inóspita para a vida vegetal. Poderia comprar cinco quilos de carne pelo custo de algo que se assemelha a uma raiz de ginseng desgrenhada.
E a carne de Grande Tartaruga era barata. Era meio que a comida padrão do lugar. Essas coisas eram maiores do que um caminhão de cinco toneladas, então matar um resultaria em carne suficiente para manter uma família saciada por um bom tempo.
Claro, não seria possível alimentar uma cidade inteira dessa maneira. Às vezes, as pessoas comiam Coiotes Pax, ou até mesmo as larvas de insetos que viviam dentro dos Entes. Por mais corajosa que fosse, Eris não estava muito interessada em experimentar essa última coisa.
Não é como se comigo fosse diferente. A cultura culinária deste continente não era exatamente do meu agrado. Dependendo de como cozinhasse, a carne de Grande Tartaruga poderia ao menos ser comestível. Pelos padrões do Continente Demônio, ela provavelmente se classificava como algo “saboroso”. Eu mal conseguia entender de onde Ruijerd estava vindo quando chamou aquilo de delicioso.
Ainda assim, realmente precisava colocar minhas mãos em um pouco de tempero.
Eris e Ruijerd pareciam contentes em comer sua carne grosseira. Em outras palavras, os temperos seriam unicamente de meu interesse.
Bem, isso não era bom. Afinal, éramos um time.
Provavelmente precisávamos adquirir o hábito de falar sobre nossas decisões em grupo.
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— Todos, juntem-se! — gritei.
Já era quase a hora em que sempre dormíamos. Eris estava procurando um bom local para colocar o monte de pano enrolado que usava como travesseiro, e Ruijerd estava começando a examinar a área em busca de inimigos, mantendo os olhos fechados. Mas, esta noite, precisávamos resolver algo antes.
— Eu gostaria de convocar uma reunião em grupo.
— Uma reunião em grupo? — disse Eris, inclinando a cabeça interrogativamente.
— Sim. Espero que nos deparemos com uma série de problemas em nossas viagens. Conversando sobre as coisas e tomando algumas decisões importantes com antecedência, podemos evitar entrar em discussões quando o tempo se provar essencial.
— Espera… — Havia uma expressão de dúvida no rosto de Eris. Será que não estava interessada em lidar com os detalhes? Ruijerd e eu provavelmente poderíamos tomar todas as decisões sozinhos, mas deixá-la de fora parecia uma má ideia. Ela não era algo como bagagem, era um membro do grupo. Eu precisava de sua participação.
— Isso não é o que você costumava fazer todos os meses lá em casa?
Todos os meses…? Ah, está falando sobre aquelas conferências que tive com seus outros instrutores, quando estava dando aulas para ela em Fittoa. Sério, esqueci tudo sobre aquilo.
— Isso mesmo. Esta é a versão do grupo de aventureiros.
Fechando a boca, Eris se deixou cair na minha frente com um baque. Ela estava claramente tentando parecer muito séria, mas havia um sorriso incontrolável em seu rosto. Parecia um pouco estranho. Não era como se estivéssemos fazendo algo de divertido, mas a garota pelo menos não estava reclamando.
— Também devo participar disso? — perguntou Ruijerd.
Não faria muito sentido se você não participasse, cara…
— Claro. Você não teve esse tipo de discussão em grupo com seu bando de guerreiros?
— Não. Eu tomava todas as decisões sozinho.
Era assim que as coisas geralmente funcionavam neste mundo, suponho: o líder dá as cartas e todos os outros apenas seguem as ordens. Mas aconteceu de eu crescer em uma democracia.
— A partir de hoje, quero conversar sobre as coisas entre nós três e tomar as decisões em grupo.
— Muito bem. — Com um aceno rápido, Ruijerd também se sentou. Nós três formamos um círculo ao lado de nossa fogueira.
— Então vamos lá. Venho por este meio convocar a primeira “Reunião de Equipe do Fim da Linha”. Aplausos, por favor!
Clap clap clap. Clap clap clap.
— Rudeus, por que estamos aplaudindo?
— É assim que essas coisas funcionam.
— Mas você não fez isso nas reuniões com Ghislaine.
Como ela sabia disso? Bem, tanto faz.
— Essa é a nossa primeira reunião, o que faz com que seja um momento que vale a pena comemorar, certo? É por isso que estamos aplaudindo.
Além disso, somos aventureiros, não tutores. É melhor manter as coisas animadas, certo?
— Ahem. Então, agora! Como todos sabemos, recentemente estraguei tudo.
— Não, aquilo não foi sua…
— Quieto, por favor! — gritei, dando minha melhor impressão de uma senhora nervosa usando óculos triangulares. — Ruijerd, se você quiser falar, levante a mão depois que eu terminar de falar.
— Entendido.
— Então vamos lá. — Agora que eu tinha feito Ruijerd ficar em silêncio, continuei: — Já identifiquei uma série de fatores que contribuíram para o meu fracasso.
Fui negligente ao reunir informações, fiquei muito focado em ganhar dinheiro rapidamente, ansioso demais para matar dois coelhos com uma cajadada só… etc., etc. Eu ia fazer um esforço pessoal para ter cuidado com tudo isso, mas também tinha uma solução mais sistemática em mente.
— Como medida de precaução, quero que todos nós nos certifiquemos de relatar quando algo acontecer, comunicar nossos pensamentos e consultar uns aos outros sobre nossas opções. Relatar, comunicar, consultar. É um breve ReCoCo. Lembrem-se disso, por favor! É importante!
— Uh… ReCoCo, é?
Uma excelente palavra da moda, se é que posso dizer. Parece quase francês!
— Isso mesmo, ReCoCo. Em primeiro lugar, quero que nós três nos consultemos constantemente!
— Hrm. Especificamente para quê?
— Quando algo estiver incomodando você, ou houver algo que queira fazer, fale para o grupo, em vez de guardar para si mesmo.
Para ser honesto, eu não tinha muita experiência prática com esse tipo de discussão… mas não tínhamos que tornar isso muito complicado. O importante seria se esforçar.
— Planejo também pedir a opinião de vocês dois. Quando alguém “consultar” vocês, ouçam com atenção e reflitam sobre o assunto. Perguntem a si mesmos se é uma boa ideia ou não, e por quê. Às vezes, vocês podem chegar a um plano ainda melhor ou algo assim.
Em retrospecto, tomei a maioria das minhas decisões sem pedir qualquer opinião de Ruijerd. Sempre disse que confiava nele, mas talvez no fundo isso não fosse verdade.
— Em segundo lugar, comuniquem-se! Quando perceberem ou notarem algo, façam um esforço para falarem e contarem uns aos outros sobre isso.
Eris estava balançando a cabeça, mas o olhar em seu rosto sugeria que estava pensando muito. Era difícil dizer se estava realmente me acompanhando.
— Por último, mas não menos importante, relatem! Os detalhes podem ser frequentemente importantes, mas vocês podem mantê-los simples se desejarem. Apenas certifiquem-se de me informar quando algo der errado… ou quando algo der certo.
Afinal de contas, eu ainda era tecnicamente o líder desse grupo. Precisava agir como tal.
— Pessoal, alguma pergunta?
— Nenhuma. Por favor, continue.
Ruijerd balançou a cabeça, mas Eris levantou a mão.
— Eu tenho!
— Sim, Eris?
— Então, nós três vamos consultar sobre as coisas, mas é você quem toma a decisão final, certo?
— Bem, no final das contas, acho que sim.
— Então por que simplesmente não toma todas as decisões por si só?
— Há um limite para o quanto posso pensar sozinho.
— Mas nunca terei ideias que você não possa imaginar, Rudeus!
Foi legal da parte dela dizer isso, mas para ser perfeitamente honesto, eu também estava em busca de alguma garantia. Queria a chance de passar meus planos por eles e ouvir algo como: “Isso deve funcionar bem” ou “Você vai conseguir, sem problemas”.
— Mesmo se isso for verdade, você pode dizer algo que me faça pensar de uma maneira diferente e me indicar uma ideia melhor.
— Acha mesmo…?
Eris não parecia entender muito bem o sentido disso. Mas, por enquanto, isso já era esperado. O importante era fazer com que nós três usássemos nossas cabeças.
— Bem, então… continuando. No momento, gostaria de discutir nosso curso de ação futuro.
Nossa jornada através do Continente Demônio começou abruptamente, sem tempo para planejarmos com antecedência ou nos prepararmos. Tínhamos que descobrir as coisas, na hora, da melhor maneira que pudéssemos.
— Em primeiro lugar, vamos discutir nosso destino. Nosso objetivo final é chegar ao Reino Asura, no lado oeste do Continente Central. Nenhuma objeção até aí, certo?
Os dois assentiram com a cabeça.
Claro, era mais fácil falar que chegaria ao Continente Central do que o fazer. Não podíamos cruzar direto do Continente Demônio para lá; não havia nenhuma rota de ligação marítima. Os povos-peixe governavam os mares neste mundo, e todos os outros só podiam viajar por eles em um número limitado de linhas predeterminadas.
— Ruijerd, como podemos alcançar o Continente Millis?
— Os barcos partem de Porto do Vento, a cidade mais ao sul do Continente Demoníaco.
Ou seja… precisávamos descer até o fim do Continente Demônio, cruzar para Millis, cortar para a costa oeste e pegar um barco de lá para o litoral leste do Continente Central.
Tecnicamente falando, não era nossa única opção. Havia também uma espécie de “rota alternativa”. Poderíamos viajar para o noroeste do Continente Demônio e, em seguida, cruzar para o Continente Divino. Isso permitia que chegássemos ao Continente Central sem passar por Millis. Isso, teoricamente, poderia diminuir o tempo de viagem necessário em vários meses.
No entanto, essa rota não era tão simples quanto parecia. O Continente Divino era totalmente cercado por paredes rochosas e íngremes. A menos que tivéssemos asas, seria essencialmente impossível fazer isso. Ou seja, precisaríamos basicamente rastejar pelos penhascos. Não havia estradas lá embaixo, e tampouco bases estáveis. Também havia muitos, muitos monstros. Supostamente, apenas um em cada vinte que se arriscavam naquela jornada sobrevivia para contar história.
Além de tudo isso, mesmo se conseguisse sobreviver no Continente Divino, a próxima rota marítima levaria ao norte do Continente Central – de longe a região mais inóspita do lugar. Apenas criminosos desesperados com caçadores de recompensas em seu encalço escolheriam essa opção.
O potencial ganho de tempo não passava de teoria. Se tentássemos isso, provavelmente gastaríamos muito mais tempo. Não havia muitos motivos para nos colocarmos em perigo mortal em troca de uma pequena diferença na duração de nossa viagem.
O que significava… que nossa única opção real era ir para o sul.
— Você sabe quanto vai custar a passagem?
— Não faço ideia.
— Quanto tempo vai levar para percorrer todo o caminho até lá?
— Um bom tempo, imagino. Se ficarmos sempre na estrada… quem sabe uns seis meses?
Seis meses, mesmo em marcha constante? Esta será uma verdadeira jornada…
— Existe alguma maneira de chegarmos mais rápido? Tipo um círculo de teletransporte ou coisa assim?
— O uso de círculos de teletransporte foi proibido após a Segunda Grande Guerra Humano-Demônio. Alguns podem permanecer intactos, mas usá-los provavelmente seria difícil.
Huh. Eu não estava falando sério, mas acho que realmente existem teleportais por aí.
— Então, estamos basicamente presos ao chão?
— Isso mesmo.
Pelo visto, não havia qualquer opção de transporte de alta velocidade para se considerar. Viajar por seis meses seguidos parecia… muito assustador.
Talvez eu só estivesse pensando nisso da maneira errada. Na verdade, não íamos ficar na estrada por meses a fio; íamos nos mover pouco a pouco, pulando de uma cidade para a outra. Lenta, mas constantemente. Uma jornada de mil milhas sempre começa com o primeiro passo.
— Certo. Bem, vamos pensar a curto prazo. Se começarmos a viajar em direção ao Porto do Vento agora, quanto tempo levaremos para chegar à próxima cidade?
— Devemos chegar a uma cidade de tamanho considerável em cerca de duas semanas.
Duas semanas, hein? Acho que era o esperado.
— Você sabe se tem uma Guilda dos Aventureiros lá?
— Imagino que sim.
De acordo com Ruijerd, nos velhos tempos, todas as sub-raças de Demônios criaram seus próprios pequenos vilarejos, e as cidades se desenvolveram como locais centrais para que comercializassem, se misturassem e trocassem informações entre si. Como resultado, “cidades” de tamanho modesto de fato não existiam neste continente, e se poderia esperar que qualquer cidade tivesse uma guilda que empregasse guerreiros dos povos locais.
Originalmente, antes da existência da guilda, as cidades eram protegidas por guerreiros escolhidos para representar as várias raças que viviam na área. Às vezes, um povo mais bélico despachava lutadores adicionais em nome de uma raça que raramente lutava; os Superds e os Migurds aparentemente tiveram um relacionamento assim em algum momento. Os casamentos entre povos diferentes também foram sempre comuns, como forma de fortalecer esses laços entre as aldeias. Não admira que houvesse uma variedade tão grande de Demônios… O continente inteiro provavelmente estava cheio de pessoas de raça mista.
Ops. Meio que escapei do assunto.
— Então vamos lá. Em geral, acho que devemos seguir para o sul, viajando entre as cidades com guildas.
Depois de chegar a cada nova cidade, ficávamos por uma ou duas semanas. A menos que perdêssemos nosso status de aventureiros, poderíamos assumir as tarefas da guilda e espalhar a palavra sobre o Fim da Linha. Assim que juntássemos dinheiro suficiente para comprar suprimentos para nossa jornada até a próxima cidade, voltaríamos direto para a estrada.
— Ao menos esse era o projeto que estabeleci em minha mente… Vocês dois têm alguma pergunta ou opinião sobre isso?
Ruijerd ergueu a mão.
— Você não precisa se preocupar a falar sobre mim para ninguém. É por isso que cortei o meu cabelo. No momento, não sou nem mesmo um Superd.
— Bem, não vamos sair do nosso caminho. Faremos apenas o que pudermos enquanto completamos nossas tarefas.
Depois de ver o que Jalil e Vizquel haviam conquistado, percebi que não precisávamos fazer nada muito sofisticado. Apenas faríamos o nosso trabalho educada e meticulosamente e apresentaríamos “Ruijerd Fim da Linha” ao cliente caso tudo corresse bem. E se algo desse errado, “Rudeus” seria o único a se levantar e assumir a culpa. Bom e simples. De agora em diante, eu seria o único associado aos erros e delitos do Fim da Linha.
Planejei manter essa última parte em segredo de Ruijerd.
O quê? “Você não decidiu que deveria conversar sobre tudo como um grupo?”
Não seja tão minucioso, amigo.
— Alguma pergunta específica sobre o que faremos enquanto estivermos nas cidades?
— Sim!
— Vá em frente, Eris. — Senti um pouco de nostalgia ao vê-la levantando a mão assim. Quase parecia que estávamos de volta à sala de aula.
— Vamos dar uma olhada para ver quanto as lojas estão cobrando pelas coisas, igual você costumava fazer?
— Ah, você fala sobre minha pesquisa de mercado…? — Hrm. Pensando bem, em Rikarisu relaxei nisso. Eu realmente fiquei correndo por aí sem pensar. Se tivesse me dado ao trabalho de estudar o mercado local com antecedência, poderia ter conseguido nosso lagarto para todos-terrenos por um preço um pouco melhor. — Sim, vamos fazer aquilo. Afinal, saber os preços locais é o primeiro passo para gastar dinheiro com sabedoria. Mais alguma coisa?
Ruijerd e Eris se entreolharam em silêncio. Parecia que a resposta era “não”.
Bem, isso provavelmente foi bom o suficiente para nossa primeira reunião. Sem dúvida, teríamos problemas mais complicados à medida que avançávamos. O importante era conversar com eles devagar, em vez de brigar um com o outro.
— Então vamos lá. Estou ansioso para trabalhar com vocês! — Com isso, inclinei minha cabeça e encerrei as coisas.
A partir daquele momento, nossa jornada finalmente começou para valer.
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Chegamos à próxima cidade sem ninguém perceber que Ruijerd era um Superd.
Para ser justo, ele raspou todo o cabelo, até mesmo as sobrancelhas – e no Continente Demônio, as pessoas geralmente não faziam nada muito dramático com seus cortes de cabelo. Tive a sensação de que a maioria deles tinha orgulho de suas aparências naturalmente distintas.
Os guardas no portão nos cumprimentaram calorosamente.
Para ser honesto, a essa altura, Ruijerd parecia nada mais do que um bandido da máfia ou um skinhead, mas… será que havia toneladas de caras com o rosto assustador no local? O fato de estarmos vestidos como aventureiros desta vez provavelmente também fez diferença. Pareciam genuinamente satisfeitos ao nos receber. Quando entramos na cidade, Ruijerd mencionou que nunca havia recebido uma recepção tão calorosa antes, mostrando um pequeno sorriso no rosto.
Embora nossas aparições não parecessem mais ser um problema, quando nos anunciamos como o “Fim da Linha” na guilda, alguns gritaram perguntas do tipo: “Tem certeza de que isso é uma boa ideia?”
Quando respondi que não havia problema, já que o próprio homem estava conosco, a maioria caiu na gargalhada. Foi bom ver que o truque ainda funcionava. Fiquei quase grato por quão infame o nome “Fim da Linha” era. Era um excelente quebra-gelo.
Depois de nos acomodarmos em uma pousada local, logo realizamos outra reunião de equipe. Eris deu o pontapé inicial desta vez, anunciando: “Rudeus estava cheirando minha calcinha enquanto lavava a roupa, e eu quero que ele pare”, com uma expressão perfeitamente séria no rosto.
Fui imediatamente proibido de voltar a tocar nas calcinhas de Eris. Isso era meio que um problema, já que significava que apenas Ruijerd seria capaz de lavar nossas roupas. Eu não pretendia entregar a calcinha da minha querida Eris para algum velho pervertido que não podia evitar dar um tapinha na cabeça de cada criança que via. Portanto, a ensinamos como lavar a roupa e isso se tornou uma de suas responsabilidades.
Em pouco tempo, no entanto, eu a vi furtivamente cheirando minha cueca. Claro, não apresentei nenhuma objeção. Um homem precisa ser mente aberta em relação a coisas assim, sabe?
Coletar informações não se mostrou muito difícil. Eu poderia descobrir quase tudo que precisava saber na Guilda dos Aventureiros. Tudo que precisava fazer era agir como uma criança e inocentemente sair perguntando tudo aos outros aventureiros. Foi tão fácil que quase me fez desejar poder ser uma criança para sempre.
Eventualmente, me empolguei um pouco e perguntei a uma aventureira com um corpo bonito quais eram suas medidas, e então Eris me derrubou e me imobilizou como uma praticante de jiu-jitsu.
Infelizmente, o conceito de “disfarçar” era desconhecido neste mundo.
Seguimos de cidade em cidade, seguindo o mesmo padrão geral, e seguimos em direção ao sul. Um mês se passou, depois dois…
Um dia, Eris decidiu que queria começar a aprender a Língua do Deus Demônio.
Sem o dicionário de Roxy, eu não poderia realmente montar aulas detalhadas ou coisa do tipo. Ainda assim, ela tinha Ruijerd e eu para ensinar, e parecia aprender o básico bem rápido. De volta ao Reino Asura, ela basicamente se recusou a aprender a ler e escrever em sua própria língua, mas acho que as circunstâncias podem mudar uma pessoa. Deve ter sido muito estressante ser a única que não tinha ideia do que as pessoas estavam dizendo na maior parte do tempo.
— Meu n-nome é… Eris Boreas Greyrat.
— Isso mesmo. É isso aí, senhorita.
— Jura?!
Bem, ela ainda não estava nem perto de estar pronta para ter uma conversa de verdade, mas…
Vamos relembrar as palavras de Yamamoto Isoroku: “Mostre-lhes, diga-lhes, peça-lhes que o façam e depois elogie-os; caso contrário, as pessoas não farão nada. Fale com eles, ouça-os, reconheça-os e atribua-lhes responsabilidades; caso contrário, nunca crescerão. Observe-os trabalhar com gratidão e mostre sua fé; caso contrário, nunca florescerão de verdade.”
Eram toneladas de instruções, mas, por enquanto, me concentrei na parte de “elogiá-los”.
— Verdadeiramente esplêndido, senhorita! Excelente trabalho! Você está me fazendo até formigar!
— Você está tirando sarro de mim…?
— Não, não! Nem pensar!
Sim, claro, posso ter exagerado um pouco… Acho que também é necessário saber como elogiar, hein?
— Hmm. Bem, em breve vamos deixar o Continente Demônio, né?
— Esse é o plano. Logo estaremos indo para Millis. — A palavra “logo” parecia até um pouco otimista. Ainda tínhamos um longo caminho pela frente.
— Então talvez não exista motivo para eu aprender a Língua do Deus Demônio…
— Bem, você pode acabar vindo aqui de novo algum dia, certo?
Embora neste caso ela tivesse sido levada a isso por necessidade, parecia claro que a menina ainda não gostava muito de estudar.
Enquanto ensinava a Língua do Deus Demônio para Eris, Ruijerd também a ensinava a lutar. No início, participei dos treinos, mas, sinceramente, não consegui acompanhar. O método de instrução dele era muito simples: uma constante troca de golpes. Em pouco tempo, qualquer um acabaria de bruços no chão ou com a ponta da lança contra o seu pescoço. Nesse ponto, ele simplesmente diria: “Você entendeu?”
Infelizmente, não entendi. Nada mesmo. Não importa quantas vezes tentei. No entanto, Eris era um caso diferente. De vez em quando, ela dizia: “Sim, agora entendi!” com uma expressão animada no rosto.
Teoricamente entendi o que ela estava aprendendo com essas aulas. Ruijerd, provavelmente, estava “apontando” nossos erros e fraquezas. O combate é algo fluído e dinâmico. É difícil descrever o passo ou finta perfeita em palavras, então, em vez disso, ele demonstrava com exemplos. Dito isso, nunca consegui nada com essas coisas, exceto alguns hematomas. Se eu fosse capaz de melhorar apenas levando pancadas, teria feito mais progressos há anos.
Eris, por outro lado, era provavelmente um prodígio. Quando se tratava de batalhas, estava em um nível totalmente diferente. Achei o estilo de combate de Ruijerd incompreensível. Mas, de alguma forma, fazia sentido para ela. A garota não estava apenas fingindo entender; estava realmente aprendendo com ele. Eu podia vê-la ficando cada vez mais forte, dia após dia. Acho que ainda não estava nem perto do nível de Ghislaine, mas, neste ponto, suspeitei que já poderia ser até mesmo um pouco melhor do que Paul.
Será que ela poderia me vencer mesmo enquanto eu usasse magia? Parecia plausível. Eu precisava pensar muito sobre como poderia melhorar. A ideia de me sentar sem fazer nada enquanto Eris ficava cada vez mais poderosa era simplesmente humilhante.
Em busca de uma maneira de ficar mais forte, acabei desafiando Ruijerd para uma luta enquanto Eris estava fora cumprindo uma missão. Eu fui até ele com tudo o que tinha, usando as táticas que desenvolvi para vencer lutadores de curta distância como Paul, mas…
Resumindo, fui derrotado. Humilhado. Nenhum dos meus truques, armadilhas ou estratégias foram remotamente eficazes contra ele.
— Não foi de todo mal. Você já é um mago poderoso e versado. — Por alguma razão, porém, ele me elogiou depois de tudo. Eu parecia me lembrar de ter ouvido algo semelhante de Ghislaine há muito tempo. — No entanto, sua abordagem estratégica foi ruim. Não há necessidade de tentar me vencer no combate corpo-a-corpo.
Ruijerd explicou que eu deveria ter iniciado a luta de uma distância muito maior. Era natural lutar quando se posicionava exatamente onde o inimigo queria.
Isso definitivamente fazia sentido, mas… nem sempre teria a chance de começar uma batalha a meia milha de distância, certo?
— Então, o que devo fazer quando alguém chegar na minha frente?
— É difícil para mim dizer. Feitiços não são bem meu campo de especialidade… Dizem que o povo-dragão é proficiente no uso de magia em combate próximo, mas minha única experiência em primeira mão foi observar Perugius em batalha. Não consigo falar muito sobre aquilo.
— Perugius? Não é aquele cara da fortaleza flutuante? Como ele lutou?
— Sim. Ele convocou seus Portais-Wyrm de Vanguarda e Retaguarda e atacou usando garras mágicas.
Oh, feitiços de convocação… Eu não sei nenhum deles…
— Que tipo de invocação são esses Portais-Wyrm?
— Não sei os detalhes específicos, mas acredito que o portal da vanguarda constantemente drena o poder mágico de seus inimigos, e o portal da retaguarda o alimenta com esse poder.
Como resultado, Perugius poderia ganhar uma vantagem cada vez maior conforme a luta se arrastasse. Pelo visto, não tinha sido tão eficaz contra Laplace, que tinha um suprimento verdadeiramente enorme de poder mágico bruto… mas um guerreiro comum seria sugado e perderia a consciência em menos de cinco minutos.
— Uau. Essa é uma forma dissimulada de vencer uma luta.
— É…?
Eu esperava que Ruijerd me apoiasse nisso, mas ele não pareceu concordar. Talvez pensasse em Perugius como um tipo de camarada, já que o ajudou a se vingar de seu inimigo mais odiado.
— Em qualquer caso, não se apresse. Você ainda é muito jovem. Ficará mais forte na hora certa.
No final, Ruijerd afagou minha cabeça e me ofereceu algum consolo. Ele parecia já me ver como um “guerreiro”, mas não parou com os tapinhas na cabeça. Para ser sincero, acho que o homem simplesmente gostava de fazer isso.
Enfim. Embora apreciasse o sentimento, não estava muito claro sobre como deveria ficar mais forte.
Enquanto eu lutava com essas preocupações, nosso grupo avançava lenta, mas firmemente para o sul. Quando chegamos a uma cidade, assumimos tarefas de guilda lá, construímos um nome para nós mesmos, economizamos algum dinheiro e partimos para nosso próximo destino.
Repetimos esses mesmos passos básicos uma e outra vez, nunca nos demorando muito em um só lugar.
Antes que eu percebesse, cinco meses se passaram… e então seis.
Um dia, encontramos alguém na estrada que imediatamente desafiou Ruijerd para uma luta.
— Meu nome é Rodriguez! Sou o terceiro aluno de Auber da Lâmina-Pavão, aluno do grande Deus do Norte Kalman!
A princípio, presumi que ele fosse algum tipo de caçador de recompensas, e que alguém havia colocado um preço pela cabeça de Ruijerd sem que soubéssemos.
— Seu comportamento sugere que você é um homem de algum renome! Desejo desafiá-lo para um duelo!
No entanto, não parecia ser o caso. O homem explicou que era um espadachim humano que tinha vindo ao Continente Demônio para se treinar.
— O que devemos fazer, Ruijerd?
— Hm. Já se passou muito tempo desde que tive que passar por algo assim…
De acordo com Ruijerd, o Continente Demônio realmente recebia muitos visitantes do tipo. Os monstros neste continente eram fortes, assim como os aventureiros que os caçavam. Isso o tornava um lugar ideal para os guerreiros aprimorarem suas habilidades.
Vaguear sem objetivo, exceto “ficar mais forte”, parecia inútil para mim, mas tanto faz.
— Eu não me importaria de aceitar, mas o que você acha?
— Acho que você tem todo o direito de recusar. O que quer fazer?
— Eu sou um guerreiro. Quando alguém me pede um duelo, prefiro aceitá-lo.
Cara, você podia ter dito isso desde o começo…
Decidi ao menos definir algumas regras básicas:
O espadachim consentiu alegremente, então o duelo começou na mesma hora.
Ruijerd venceu de forma justa, tendo defendido de forma limpa os ataques mais furiosos de seu oponente. Ele não pegou leve com o cara nem nada; apenas adotou uma abordagem calma e de baixo risco, se livrando de tudo o que o espadachim tentava, até encurralar o homem.
— Você me superou por completo, senhor. Nunca esperei encontrar um lutador tão incomparável por aqui… Este mundo é realmente cheio de maravilhas! Qual é o seu nome, se é que posso perguntar?
— Ruijerd Superdia. As pessoas também me chamam de Fim da Linha.
— O quê? Você é mesmo o Fim da Linha?! O temível guerreiro Superd?! Já ouvi falar muito sobre você enquanto vagava pelo continente!
O espadachim parecia totalmente surpreso com isso. Parecia que, neste momento, a maior parte dos humanos sabia surpreendentemente pouco sobre os Superds. Muitos não sabiam que lutavam com lanças de três pontas ou tinham uma “joia” vermelha na testa; seu cabelo verde-esmeralda era a única característica que parecia ser um conhecimento comum. Em outras palavras… mesmo quatro séculos após a guerra, ainda tinham um preconceito profundo contra todo um grupo de pessoas com base em nada além da cor do cabelo. Como alguém poderia pensar que essa era uma razão boa o suficiente para oprimir os outros?
— No entanto… percebi que você não tem cabelo, senhor.
— Sim. Recentemente vi a necessidade de o cortar.
— E-entendo. Bem, não quero me intrometer…
A essa altura, o homem sabia que estava cara a cara com o mais “temível” e “cruel” dos terríveis Superds, e experimentou a força dele em primeira mão. Eu teria esperado que ele se encolhesse de terror. Mas os dois eram guerreiros, e isso aparentemente foi o suficiente para formar um vínculo de respeito mútuo entre ambos. Para aqueles que viviam em busca de força, Ruijerd era alguém a ser admirado ao invés de temido.
— E pensar que tive a chance de lutar com uma figura lendária como você… Vou ter que me gabar disso para todos lá de casa!
Aquele homem, ao contrário da maioria dos outros que encontramos, ficou claramente feliz por ter conhecido Ruijerd. Era quase como se tivesse topado com um astro de Hollywood na calçada – e descoberto que, apesar de sua reputação de ser rude, ele era na verdade um cara caloroso e amigável.
— Você aí! Meu nome é…
Após aquele primeiro duelo, Ruijerd começou a receber um fluxo constante de desafiadores. Quanto mais para o sul íamos, mais deles apareciam.
Vários desses guerreiros em treinamento eram bem versados na história e apontaram que Ruijerd tinha o mesmo nome do líder do infame bando Superd dos dias da Guerra de Laplace. Quando ele explicava que era o mesmo homem, todos reagiam com espanto. E então passariam um dia e uma noite inteiros conversando sobre suas experiências de guerra.
O velho Ruijerd costumava tagarelar até cansar quando começava a falar do passado. Mas suas descrições simples e diretas do que realmente aconteceu eram aparentemente cativantes para outros guerreiros como ele. Em particular, adoravam a parte em que mencionava ter rompido um cerco de 1.000 soldados, começou a se esconder e, eventualmente, se vingou de Laplace. Foram derramadas mais do que algumas lágrimas masculinas.
Se transformássemos toda a história em um livro e de alguma forma a publicássemos, talvez pudéssemos realmente reabilitar um pouco da imagem dos Superds. “Guerra Injusta – O Combate Mortal no Continente Demônio!” soava muito bem, certo? Ou talvez “Verdades Não Contadas da História: A Verdadeira História dos Superds!”
Ei, eu provavelmente poderia os imprimir sozinho usando magia da Terra, não? E eu já conhecia todas as quatro principais línguas dos continentes. Claro, havia a possibilidade de quebrar alguma lei local no processo e ser jogado na cadeia de algum lugar, mas ao menos parecia uma ideia que valia a pena guardar para referência futura.
— Então adeus! Novamente, muito obrigado! Aprendi muito.
Os guerreiros em treinamento sempre se despediam com alegria. Não acho que nenhum deles tenha ficado zangado ou chateado.
E tudo isso só foi possível porque Ruijerd havia cortado seu cabelo.
Será que devíamos fazer todos os Superds rapar a cabeça?
Durante todo o tempo, continuamos nos movendo para o sul, nunca perdendo o nosso objetivo de vista. O oitavo e o nono mês de nossa jornada chegaram e passaram.
Claro, nem tudo foi tranquilo. Problemas surgiram inúmeras vezes. Eris agora podia entender o que as pessoas ao nosso redor estavam dizendo; como resultado, às vezes pirava e começava a brigar quando pessoas zombavam de nós ou nos insultavam. A identidade de Ruijerd foi exposta inúmeras vezes, o que resultou em nossa expulsão de várias cidades. E também tentei espiar Eris no banho várias vezes, apenas para que Ruijerd me arrastasse pela orelha.
Os mesmos problemas continuaram surgindo em uma frequência bastante estável. No início, isso me deixou ansioso. Tentei pensar em maneiras de consertar tudo ou, em primeiro lugar, evitar que coisas assim acontecessem.
Mas quando pensei nisso de verdade? Eris entrou em brigas, sim, mas nunca desembainhou sua espada diante de ninguém. E quando Ruijerd foi expulso da cidade, nunca foi algo tão violento e caótico quanto sua fuga de Rikarisu. Certa vez, um soldado que encontramos disse: “Desculpe. Algumas pessoas ficam assustadas quando sabem que há um Superd por perto”, em um tom de voz apologético.
Além disso, nunca tive sucesso em espiar Eris no banho.
Em outras palavras, todos os problemas foram consideravelmente pequenos. Nunca resultaram em uma enorme crise.
Então comecei a me preocupar um pouco menos. Eris era uma pessoa violenta; Ruijerd era um Superd; e eu era um pervertido. Nascemos todos assim, e não havia muita esperança de que mudássemos agora. Nós três estávamos fazendo o melhor que podíamos. Isso já era bom o bastante para mim. Uma bagunça de vez em quando não era o fim do mundo.
Não havia razão para se estressar com isso, certo?
Em algum momento, realmente comecei a pensar assim. Eu não estava tratando nossos erros levianamente, ou subestimando o que nos custaram. Acabei aprendendo a relaxar um pouco e manter as coisas em perspectiva. Isso pode parecer simples, e acho que é. Mas levou meses e meses na estrada com Ruijerd e Eris antes de finalmente pegar o jeito.
Cerca de um ano se passou desde que partimos de Rikarisu em nossa jornada. Antes que percebêssemos, nós três nos tornamos aventureiros de rank A…
E, finalmente, alcançamos a cidade de Porto do Vento, bem no extremo sul do Continente Demônio.
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