Passaram-se seis meses desde o desaparecimento da Região de Fittoa. Roxy finalmente chegou ao local, apenas para ser saudada por nada além de planícies forradas de grama. Ela viu tal cenário com olhos arregalados e perplexos.
Ela estava na rota principal, uma estrada toda pavimentada com pedras. Nenhum outro país tinha uma estrada tão magnífica enquanto tão afastada da capital. O Reino Asura a desenvolveu e espalhou por todo o reino, estendendo-se de ponta a ponta.
Mas isso era quando passou pela estrada da última vez. Agora ela já não existia, sumiu abruptamente na sua frente. Não havia mais nada até onde os olhos poderiam ver. Nada além de grama, forrando toda parte.
Algo aconteceu. Ela sabia disso. Mas não tinha certeza do quê. Tudo o que sabia era que a Região de Fittoa desapareceu, Buena Village se foi, e Rudeus, assim como sua gentil família que a aceitou, apesar de sua raça, e todos os outros, sumiram.
Roxy ouviu várias histórias em sua jornada. Ela tinha certeza de que não podia ser verdade, certa de que as pessoas simplesmente queriam enganá-la. De qualquer forma, optou por não acreditar no que ouviu. Acreditava que Rudeus e sua família definitivamente estavam vivos. Que estavam bem e que não havia acontecido nada a eles. Apostou tudo nesse fio de esperança.
Pelo menos até então, quando finalmente viu a realidade logo à frente.
Os joelhos de Roxy cederam.
— Então você também perdeu alguém, hein? — disse o cocheiro da carruagem que pegou.
— Um aprendiz excepcional — respondeu Roxy.
— Um aprendiz, hein? Sendo um mago aprendiz, deveria estar preparado para a possibilidade de perder a vida a qualquer momento, não?
— Ele tinha apenas dez anos.
— Bem… partiu cedo demais. — Ele deu um tapinha no ombro dela como se quisesse acalmá-la.
Por um tempo, Roxy não pôde fazer nada além de olhar para a terra sob seus pés. Não queria pensar em nada; não podia. Sequer tinha certeza do que deveria começar a fazer.
O cocheiro a observou em silêncio antes de voltar a falar, tomando cuidado com suas palavras.
— Na verdade, há um campo de refugiados da Região de Fittoa. Quer dar uma olhada? Bem, seria difícil uma criança de dez anos sobreviver ao que aconteceu, mas nunca se sabe.
Roxy ergueu a cabeça.
— Eu quero! — Afinal, era Rudeus. Ele certamente estaria bem. Sem dúvidas tinha usado seu raciocínio rápido para poder sobreviver. Com certeza estaria gozando de perfeita saúde, morando no campo de refugiados.
Mais uma vez, ela agarrou-se firmemente a um fio de esperança.
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O campo de refugiados era composto por vários edifícios de madeira e era quase do tamanho de uma aldeia. Um enorme número de pessoas estava lá. Eles estavam tudo, menos despreocupados; uma atmosfera sombria e pesada pairava sobre todos.
Nunca imaginei que veria algo assim no Reino Asura, pensou Roxy.
O Reino Asura que ela conhecia era o país mais rico do mundo. Os moradores dele eram pessoas com rostos otimistas que sorriam o tempo todo. A comida era abundante e os monstros escassos. Era o lugar mais fácil para se viver.
Mas agora não havia nenhum sorriso para ser visto.
O acampamento parecia não sofrer com falta de comida. Era uma área muito abundante. Não morreriam de fome, não enquanto pudessem arrancar e comer a grama. Desde que não corressem o risco de morrer de fome, deveriam estar sorrindo. Mesmo tendo acontecido um desastre, as coisas não pareciam tão terríveis quanto no Continente Demônio. Ou então foi o que ela pensou, mas não pôde deixar de franzir a testa diante de tal visão.
O campo de refugiados tinha uma sede temporária da guilda de aventureiros. Era ali, em frente ao quadro de avisos, que normalmente teria vários pedidos, que se notava a verdadeira melancolia.
Um homem que perdeu tanto casa quanto família estava chorando logo ali.
— Mas que inferno! Seis meses inteiros, levei seis meses inteiros para chegar aqui, maldição! Laura, Francis, por que estão todas mortas?! — Ele perdeu sua família, e não bastando, perdeu também sua casa, sua terra, suas ferramentas de trabalho e tudo o que tinha. Seus gritos de partir o coração eram difíceis de suportar, mas ninguém tentou parar seu lamento.
— Deus! É tudo culpa sua?! — Um padre jogou as ferramentas de seu ofício no chão, era o símbolo de uma organização religiosa de Millis. — Não acredito mais! Vocês não são deuses – simplesmente nos matam e ridicularizam! Vocês são demônios cruéis! — Com o rosto repleto de ódio, ele olhou para o céu e praguejou. Havia outros crentes de Millis presentes, mas nenhum parecia estar orando para os deuses.
Um comerciante estava tentando cortar a própria garganta, apenas para ser interrompido pelas pessoas que passavam.
— Não me pare!
— Ei, pare! Do que adianta morrer? Coisas boas ainda podem acontecer se você viver!
— S-se eu viver?! Você acredita mesmo nisso? Droga, e-eu perdi coisas mais importantes do que… do que minha própria vida! Por favor, apenas… apenas me deixe morrer! Droga, droga, droga! — O homem se agachou e começou a chorar contorcendo seu rosto em desespero. Todo seu corpo tremia.
Era um lugar horrível. Os rostos de todos estavam cheios de tristeza.
Roxy nunca tinha visto um lugar tão dominado pelo pesar. Ela tinha visto muita gente morrendo, e até mesmo escapou por um fio várias vezes. Mas foi a primeira vez que viu um lugar de pura angústia.
Talvez qualquer esforço se prove inútil, pensou.
Puxada pela atmosfera pesada, sentiu que iria cair em lágrimas, mas continuou seguindo em frente e começou sua busca por informações.
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Passou uma hora.
Roxy descobriu o básico do acontecimento. Depois que o céu ficou estranho, uma calamidade causada por um enorme acúmulo de mana aconteceu na Região de Fittoa.
Não foi exatamente uma explosão, mas acabou se espalhando por toda a parte. Tudo na Região de Fittoa foi engolido e teletransportado para locais aleatórios de todo o mundo. Os prédios e as árvores sumiram, apenas as pessoas foram espalhadas. Alguns conseguiram voltar para a região, mas notaram que não restava nada de suas cidades e perderam todas as esperanças.
— Verdadeiramente terrível — murmurou Roxy enquanto olhava para o quadro de avisos. Havia listas e mais listas de pessoas falecidas ou perdidas. Postadas ao lado delas, estavam mensagens para familiares e solicitações como: Se vir essa pessoa enquanto estiver viajando, traga-a aqui.
A parte mais chamativa do quadro de avisos era um pedido que foi afixado sob o nome do lorde suserano de Fittoa, pedindo informações sobre os falecidos e desaparecidos, era um número de pessoas sem precedentes.
Como aventureira, Roxy fizera alguns trabalhos. Nunca em sua vida viu um quadro de avisos tão cheio de pedidos, nem como requisições tão desesperadas e comoventes. Ficou claro o quão extenso foi o dano da calamidade.
Talvez ela tivesse topado com algum dos perdidos enquanto caminhava até a concentração. Ouviu rumores sobre o reaparecimento repentino de algumas pessoas. Claro que não prestou atenção na hora; sempre havia a possibilidade de serem apenas fofocas sem sentido. Se pudesse lembrar de algo, poderia acabar sendo de alguma ajuda para as pessoas no local.
— Não… — Ela balançou a cabeça, parando de pensar nessas coisas na mesma hora. Roxy pegou a maior rodovia desde o continente Central. Qualquer informação que tivesse, com certeza já teria sido relatada.
Em vez disso, voltou seu olhar para a lista de falecidos e começou a examinar os nomes, um a um. Apesar da escala do desastre, a lista de mortos era relativamente pequena e ela não reconheceu nenhum deles.
Em comparação, a de pessoas desaparecidas era tão longa que chegava a doer só de olhar. Fazia sentido, já que todos foram transportados para outros lugares. Alguns certamente foram atacados e mortos por monstros, sem deixar qualquer vestígio para identificação. Havia um monte de lugares onde as pessoas poderiam morrer instantaneamente; topo de montanhas, meio do ar ou no oceano. O incrível seria confirmar todas as mortes.
— Ali está.
Roxy franziu as sobrancelhas. Ela encontrou os nomes de Rudeus e dos outros em uma lista de pessoas desaparecidas.
Rudeus Greyrat. Zenith Greyrat. Lilia Greyrat. Aisha Greyrat.
Ela sabia que Lilia se tornara uma das esposas de Paul; Rudeus havia escrito isso em uma de suas cartas. Os nomes de Paul e Norn estavam riscados. Roxy voltou a dar uma olhada na lista de mortos, só por garantia. Seus nomes não estavam lá; isso significava que deviam estar vivos. Então, mais uma vez, também poderia significar que não havia qualquer informação sobre eles. Foi um breve momento de alívio.
— Pelo menos posso me alegrar com o fato de que, ao menos por enquanto, não estão mortos.
Distraída, olhou mais uma vez para o quadro de avisos. O desespero de quem escreveu as mensagens era claro.
Roxy se perguntou se seus próprios pais estariam bem em sua casa. Muito tempo se passou desde que ela brigou com eles e partiu de seu vilarejo. Até recentemente, não tinha prestado muita atenção ao passar do tempo, em parte porque era da raça Migurd. Os meses passavam rápido. Talvez devesse enviar ao menos uma carta.
— Isso é…
E então encontrou uma mensagem no quadro de avisos. Foi escrita por Paul Greyrat.
Para Rudeus,
Zenith, Lilia e Aisha estão desaparecidas. Norn está segura e sob minha custódia. Não sei onde você está agora, mas tenho certeza que, mesmo se estiver sozinho, conseguirá retornar. Então, será o último que vou procurar.
Por enquanto, estou indo em direção ao Continente Millis. É onde Zenith nasceu e foi criada. Enviei uma mensagem para a cidade natal dela e também para a casa de Lilia. Quero que procure na parte norte do Continente Central. Se encontrar alguém, entre em contato comigo seguindo as informações abaixo.
Zenith, Lilia, se alguma de vocês acabar vendo isso, por favor, entrem em contato também. Para qualquer pessoa que possa me conhecer ou conhecer minha família, ou ex-membros do Grupo Presa do Lobo Negro, por favor, ajudem-me em minha busca. Tenho certeza que todos do Grupo Presa do Lobo Negra podem ter algum sentimento confuso a meu respeito. Não irei pedir para esquecerem o que aconteceu. Podem gritar comigo tanto quanto quiserem. Se me pedirem para lamber seus pés, farei isso. Perdi tudo o que tinha, então não posso pagar, mas, por favor, ajudem-me a encontrar minha família.
Informações para contato:
Continente Millis, Capital do País Sagrado de Millis – Millishion, Guilda dos Aventureiros. Nome do Grupo: Esquadrão de Busca dos Residentes de Buena Village. Nome do Clã: Associação de Busca por Pessoas Desaparecidas da Região de Roa.
De Paul Greyrat.
Paul estava vivo. Saber disso resultou em algum alívio. Rudeus sempre reclamava de seu pai em suas cartas, mas parecia que ele era extremamente confiável em situações assim.
Roxy parou para pensar. O melhor a se fazer seria ajudar na busca. Afinal, ela estava em dívida com essa família. Mesmo agora, por vários motivos, ainda pensava com carinho nos dois anos que passou com eles. Ela estava mais do que disposta a ajudar.
Certo, vamos fazer isso, decidiu. No momento em que tomou essa decisão, seus pensamentos começaram a se agitar. Mas quem devo procurar, e como?
Presa do Lobo Negro deveria ser o nome do grupo de aventureiros de Paul. Essas pessoas provavelmente não conheciam Rudeus ou Lilia. Mas como o homem mencionou que deixaria Rudeus para o final, ela decidiu partir em sua procura. Parecia que Paul acreditava que seu filho retornaria para Fittoa, mas aquele garoto se adaptava muito fácil. Era bem provável que resolvesse ficar em qualquer lugar para o qual fosse teletransportado. Se fosse esse o caso, precisava encontrá-lo e informar o que tinha acontecido, e então trazê-lo de volta.
Então vou procurar por Rudeus. Por onde devo começar?
Paul foi para a capital do País Sagrado de Millis. Isso significava que provavelmente deixou mensagens semelhantes ao longo do caminho, em três lugares específicos: nas fronteiras do Reino de Asura, no porto oriental do Reino do Rei Dragão e no porto ocidental do País Sagrado de Millis.
Nesse caso, deveria procurar em lugares diferentes. Isso seria a parte norte do Continente Central, o Continente Begaritt e o Continente Demônio. Precisava ser um desses lugares. Ela nunca foi a Begaritt antes, mas ouviu falar que era repleto de monstros e labirintos. E embora tivesse alguma familiaridade com a geografia do Continente Demônio, seria perigoso viajar para lá sozinha.
Se quisesse seguir uma rota segura, então seria melhor ir para a região norte. Mas era exatamente por isso que teria que ir para uma das outras duas opções. Poderia encontrar um grupo e viajar para uma das duas regiões.
Bom. Agora que tinha se decidido, não havia qualquer motivo para ficar onde estava. Ela iria para o porto oriental do Reino do Rei Dragão. Lá, procuraria por um grupo e iria para o Continente Begaritt ou para o Continente Demônio.
Assim que resolveu isso, Roxy agiu rápido. Ela terminou todos os preparativos para sua jornada e abandonou o campo de refugiados.
Estranhamente, o simples ato de começar a andar serviu para afastar o véu de tristeza. Não só isso, sua crença de que Rudeus ainda estaria bem e vivo fortalecia cada um de seus passos.
Quero me sentar à mesa com todos eles novamente, mesmo se for só mais uma vez, pensou enquanto marchava rumo ao sul.
Esse foi o início da longa jornada de Roxy Migurdia.
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