Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 02 – Cap. 07 – Promessa Definitiva

 

Depois de tanta coisa, finalmente fiz dez anos.

Dediquei a maior parte dos últimos dois anos aos estudos de novas línguas. Além da língua do Deus Fera e da língua do Deus Demônio, também aprendi a língua do Deus Lutador. Era extremamente parecida com a língua Humana, então foi fácil. Era algo parecido com a semelhança entre português e italiano. Os fundamentos gramaticais eram os mesmos da língua Humana; as únicas diferenças seriam as expressões próprias e o vocabulário.

As línguas deste mundo não eram tão difíceis. Depois de aprender uma, poderia usá-la como base para aprender as outras. Provavelmente era um efeito causado por todas as guerras entre as raças.

Entretanto, não existiam registros literários na língua do Deus do Céu ou do Deus do Mar, nem qualquer pessoa que falasse alguma das duas por perto, então não pude aprender. Bem, falar quatro idiomas já seria mais do que suficiente para mim.

Quanto à esgrima, minhas habilidades estavam quase no nível Intermediário. Em apenas dois anos, Eris saltou do nível Intermediário para o Avançado, então eu não era mais páreo para ela. A distância entre nossas habilidades tornou-se bem visível.

Bem, pensei. Parece que ela passou até seus dias de folga treinando duro, então isso é algo esperado. Enquanto passei meu tempo livre aprendendo outras línguas, Eris passou empunhando a espada. Existir diferença entre nós é algo natural.

Quanto à magia, só pratiquei enquanto fazia estatuetas. Consegui deixá-las cada vez mais detalhadas, o que provavelmente significava que estava melhorando. Mas era verdade que eu havia chegado a um ponto sem saída. Claro, isso seria resolvido assim que começasse a estudar na Universidade de Magia.

Não adiantava ficar impaciente.

Já passaram dez anos desde que vim a este mundo, hein? Pensar nisso me deixou até um pouco emocionado.

 

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Como meu aniversário seria em cerca de um mês, as pessoas da mansão começaram a ficar inquietas, principalmente Eris.

O que é isso? me perguntei. Será que alguém importante apareceria? Como outra pessoa da família Greyrat, ou talvez o noivo de Eris? De forma alguma, sem chances. Eris com um noivo? Senti que deixei uma gargalhada estranha escapar. Mas fiquei inquieto e ansioso, então decidi investigar um pouco.

Depois de fazer um trabalho magnífico a seguindo, a vi conversando alegremente com uma das empregadas da cozinha. Ghislaine também estava lá, mas não me notou. A espadachim musculosa e com orelhas de animal estava distraída com a carne que seria servida na próxima refeição.

— Mal posso esperar para ver a cara do Rudeus! Talvez ele até chore de alegria!

— Não tenho certeza disso. É de Lorde Rudeus que estamos falando. Mesmo se ele ficar surpreso, pode ser que não deixe transparecer.

— Mas você acha que ele ficará feliz, não acha? — perguntou Eris.

— Sim, claro. Como parte de um dos ramos da família, tenho certeza de que ele já passou por poucas e boas.

Eu realmente nunca passei por um momento complicado ou coisa do tipo. Mas exatamente do que elas estavam falando? Estavam fofocando sobre mim? Eu estava bem confiante de que tinha feito um bom trabalho, mas talvez fosse o único pensando assim, talvez as outras pessoas da casa me achassem desagradável.

Se fosse esse o caso, tinha certeza de que acabaria chorando. Estava confiante de que daria mais trabalho para as empregadas ao usar meu travesseiro como um lenço de papel ao enxugar todas minhas lágrimas.

— Tenho que ter certeza de que ficará pronto a tempo! — disse Eris.

— Ficar impaciente não ajudará em nada.

— Se eu não conseguir fazer direito, acha que ele não vai comer?

— Não, Lorde Rudeus comeria qualquer coisa que você fizesse para ele — respondeu a empregada.

— Sério?

— Sim, é só Lorde Sauros estar presente.

Ah. Já sei o que é. Preparativos para uma festa surpresa, hein?

— Se Rudeus ao menos não tivesse nascido naquela casa… — Pena transpareceu na voz de Eris assim que ela disse isso.

Agora eu sabia do que se tratava a conversa, então decidi me retirar.

Acontece que eu era alguém que precisava ser mantido longe dos olhos do público. No passado, poderia ter pensado que queriam me esconder por causa da reputação de meu pai, mas agora sabia que não era por isso.

Foi algo que entendi nos últimos dois anos. O nome verdadeiro de Paul era Paul Notos Greyrat. Notos era o nome da família nobre dele. Há muito, muito tempo, foi deserdado pela família Notos, e seu primo ou irmão mais novo acabou virando o chefe da família em seu lugar.

Mas isso era passado. Entretanto, havia quem não aprovasse essas coisas, ou melhor, não queria deixar essas coisas no passado. Os que estavam no poder pareciam paranoicos. Na pior das hipóteses, poderiam enviar até mesmo assassinos atrás de mim. Por isso era necessário me esconder.

Normalmente, eu deveria ser tratado como alguém mais importante do que Eris, já que era menino, mas, em vez disso, estava sendo tratado como um servo. Até a celebração do décimo aniversário, um dos costumes mais importantes para os nobres, teria que ser, no meu caso, limitado. É por isso que todos falavam: “Coitadinho, que triste.”

Foi por isso que Eris pediu a primeira coisa em muito tempo a seu avô: uma festa surpresa para mim. Uma apenas com as pessoas da mansão. Uma simples e modesta festa, dada especialmente para mim.

Ainda assim, era o bastante. Fiquei feliz por ter espiado o que estava acontecendo, já que, embora soubesse sobre os costumes, um décimo aniversário não significava muito para mim. Na verdade, minha própria ideia de festa era a de algo pequeno, não uma daquelas celebrações gigantescas igual ao aniversário de Eris. Se alguém me dissesse que daria uma festa daquelas, minha reação seria bastante chata. Algo tipo: “Ah, sério? Obrigado”, ou coisa parecida.

Mas isso foi ideia de Eris. Eu era o único com idade próxima à dela por aqui, então era sua primeira vez fazendo algo do tipo. Se eu não me comportasse cheio de ânimo, ela ficaria desapontada.

Decidi praticar a criação de lágrimas falsas usando magia de água.

Afinal, eu era um homem capaz de interpretar a situação.

 

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Meu aniversário.

Fingi não perceber que todos da mansão estavam ansiosos. Assim que as aulas da tarde acabaram e chegamos ao momento do intervalo, Ghislaine veio até o meu quarto. Ela estava estranhamente nervosa, com a cauda rígida e tremendo.

— H-há uma magia que quero que você me ensine. — Seu olhar, que normalmente era inabalável, de repente vacilou. Pelo visto, ela queria me manter no quarto.

Certo, certo. Vou prosseguir com isso.

— É? Qual? — perguntei, sabendo que qualquer resposta que ela fosse dar seria algo já planejado.

Ghislaine me direcionou um olhar mortalmente sério e respondeu:

— Pode me mostrar como é uma magia de nível Santo?

— Claro, mas vai danificar a cidade.

— O quê? Que tipo de magia é?

— As magias de água de nível Santo envolvem ventos poderosos e tempestades de raios. Se eu me esforçar um pouco, provavelmente posso fazer algo maior do que a cidade inteira.

— Isso é incrível… gostaria que você me mostrasse algo assim em outro momento. — Ela ficou estranhamente animada. Devia fazer parte do plano.

Tudo bem então, resolvi provocá-la um pouco.

— Se quiser, podemos fazer isso agora. Se cavalgarmos por cerca de duas horas, devemos ficar a uma distância segura. Vamos agora mesmo.

Sua bochecha tremeu.

— Duas horas?! N-não, espera. Se sairmos agora, voltaremos muito tarde. Vários monstros aparecem à noite. Nem mesmo as planícies serão seguras.

— Sério? Mas devemos ficar bem, contanto que você esteja junto. Você disse que o povo fera é sensível aos sons, então deve ficar tão alerta à noite quanto de dia, não é?

— Isso é verdade, mas nunca é bom se superestimar.

— Verdade. Além disso, eu preciso me esforçar muito para lançar magias de nível Santo. Então vamos fazer isso no nosso próximo dia de folga.

— Sim, tudo bem. Ótimo. Vamos fazer isso.

Achei que era um bom momento para encerrar essa conversa. Normalmente nada seria capaz de perturbar Ghislaine, então provocá-la assim foi muito divertido. Sua cauda também ficava rígida quando ela perdia a compostura. Uma simples palavra minha faria com que a mulher tremesse. Só isso foi o bastante para me divertir.

— Ah é, desculpa, não te servi nenhum chá. Vou buscar um pouco de água quente.

— Não, não precisa. Não se preocupe com isso. Não se mova. Não estou com sede.

— Então tudo bem.

Eu até poderia criar a água quente, mas ela não pareceu lembrar disso, então não mencionei.

Pude ver que a mulher faria qualquer coisa para me manter no quarto. Talvez fosse hora para se divertir mais um pouco.

— Aliás, esta é uma das estatuetas que fiz recentemente. — Da minha prateleira, peguei uma figure em escala 1:10 de Ghislaine, uma em que ainda estava trabalhando. Estava confiante de que havia melhorado muito desde que comecei a fazê-las. A definição da musculatura por si só já parecia um trabalho profissional.

Ghislaine deixou um breve suspiro escapar ao olhar para o objeto.

— Sou eu? Você ficou muito bom nisso. Também fez um bom trabalho antes, quando fez uma da Senhorita Eris, mas esta… Hm? Não tem cauda.

— Infelizmente, só tenho uma compreensão bem vaga sobre caudas. Geralmente crio isso usando a imaginação, mas desta vez estou sendo mais exigente, já que quero que seja o mais parecido possível da coisa real.

— Hm. — Sua cauda tremeu, parecia que ela estava perdida em pensamentos.

Heh, estou ansioso para ver a cara que você vai fazer, pensei.

— Posso ver a sua? A base da sua cauda.

— Sem problemas — falou. Ela se virou abaixou as calças. Sequer hesitou. Bem na minha frente estava seu traseiro firme e musculoso, além da base de onde sua cauda se prendia.

Surpreendente! Eu sabia que seria assim! Ela é tão confiante! Não tenho como vencer, percebi.

Não, não posso vacilar, não aqui. Ghislaine estava sempre com a guarda alta, mas agora eu estava dominado pela curiosidade.

— P-posso tocar por um momento?

— Claro. Vá em frente.

É dura, pensei. Hã?! Espera aí, isso é a bunda dela, não é? Não é?

Era tão dura quanto aço. Entretanto, ao mesmo tempo, era de certa forma macia. O equilíbrio ideal, tinha a quantidade de músculos perfeita. Um casamento ideal entre as propriedades musculares! Qualquer homem, não importa quem fosse, iria admirar isso. Mas seria meio difícil achar isso sexy.

Lorde dos Músculos, Deus do Sexo, estou grato por suas existências, por mais que não gostem de mim, pensei. Muito grato, muito grato mesmo. Por favor, abençoem-me com músculos como estes.

— Certo, basta. — Levantei minhas mãos e as afastei de sua bunda, me sentindo mentalmente exausto.

Ghislaine levantou as calças e se virou para me encarar.

— Uma vez vi um artista pintando um retrato da Senhorita Eris. Ver isso fez eu querer algo parecido, algo que pudesse retratar o atual estado do meu corpo. Estou ansiosa para ver o produto finalizado. — Ela parecia genuinamente feliz ao me confidenciar isso.

Parecia que eu, como homem, perdi em uma batalha de masculinidade. Não tinha como derrotar alguém com um corpo tão bom quanto Ghislaine?

— Já está na hora do jantar, não está?

— H-hm, acho que ainda vai demorar um pouco, não?

Fiz sua cauda tremer pela última vez antes de a empregada aparecer anunciando o jantar.

— Tudo bem, Rudeus. Está na hora de comer, vamos. — Ela se levantou rapidamente, parecia que queria me apressar. Pelo visto, o verdadeiro show estava prestes a começar.

 

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Entrei na sala de jantar sobre uma explosão de aplausos. Já havia visto todas as pessoas ali reunidas ao menos uma vez. Claro, Sauros, Philip e Hilda, cujas presenças eram normalmente raras, também estavam presentes.

A festa seria na mesma sala de jantar que sempre usávamos. Estava lindamente decorada para a ocasião, com uma variedade de comidas chiques que eu nunca tinha visto antes sobre as mesas. Claro, não era como na festa de Eris, mas, embora essa não fosse uma festa pretensiosa, emanava calor.

Fiz uma careta como se não tivesse entendido o que estava acontecendo e olhei ao redor da sala.

— O-o que é isso…? — Atrás de mim, até Ghislaine estava batendo palmas. — Eh? Huh? — Fingi estar confuso.

— Rudeus! Feliz aniversário! — Eris estava usando um vestido vermelho brilhante e segurava um enorme buquê de flores nos braços.

Mantive o olhar perplexo em meu rosto enquanto aceitava o buquê dela.

— Ah, é mesmo. Hoje eu faço dez anos. — Recitei exatamente o que havia praticado falar, como se tivesse acabado de lembrar que era meu aniversário.

Então, assim como planejado, franzi a testa e cobri os olhos com a manga. Ao mesmo tempo, usei magia de água para criar lágrimas nos meus olhos. Depois de algum tempo, até funguei.

— S-sinto muito. É… é só que, é a… é a primeira vez desde que vim para cá… Pensei que não devia estragar tudo, que não era bem-vindo aqui… Que se estragasse tudo, só iria causar problemas para o meu pai… Nunca pensei que vocês iriam comemorar meu aniversário. Sniff

Levantei minha manga e reparei nas reações de todos, apenas para ver Eris ficando pasma. Philip, Sauros e todos os outros pararam de bater palmas. Ficaram todos boquiabertos.

Merda. Minha atuação foi muito sentimental, percebi.

Não, não era isso. Pelo contrário. Foi muito boa.

Estraguei tudo, devia ter agido com mais moderação. Realmente fui um péssimo adulto ao pensar em um plano desses. Bem, tarde demais, seria melhor continuar com o planejado.

Perturbada, Eris virou-se para o mordomo, perguntando:

— O que devo fazer?

Minhas lágrimas eram tão importantes? Sua reação foi tão fofa que resolvi colocar meus braços em volta dela. Então, com uma voz chorosa, sussurrei palavras de gratidão em seu ouvido.

— Eris, obrigado.

— N-não foi grande coisa. Afinal, v-você é da família! É óbvio que eu faria isso! E-essas coisas não são nada para a família Greyrat, n-não é, pai! Vovô!

Normalmente, ela diria algo como: “É melhor você agradecer!”, mas, em vez disso, a garota começou a dar desculpas e olhou para Philip procurando por ajuda.

Foi então que Sauros levantou, rugindo:

— G-guerra! Iremos para a guerra com os Notos! Vamos matar Pilemon e instaurar Rudeus como o chefe da família! Philip! Alphoooooonse!! Ghislaaaaaaaine! Sigam-me! Vamos reunir as tropas!

E assim começou a guerra entre as famílias Boreas Greyrat e Notos Greyrat. Foi uma luta sangrenta que envolveu os dois ramos da família Greyrat, puxando todo o Reino Asura para o que se tornaria uma longa e prolongada guerra civil.

Não, é claro que não. Isso não aconteceu.

— P-pai, controle-se! Por favor, controle-se!

— Philiiiiip! Você planeja ficar no meu caminho?! Seu desgraçado! Você também deve saber que Rudeus seria um chefe de família mais adequado do que aquele palhaço ridículo!

— Sim, claro que sei, mas acalme-se! Hoje é um dia de festa! Além disso, a guerra não é algo bom, estaríamos transformando tanto os Zepiroth quanto os Euros em inimigos!

— Tolo! Vou acabar com todos sozinho! Solte-me, solte-meeeeeee! — Sauros saiu do cômodo, arrastando Philip consigo. Mesmo depois que ele se foi, eu ainda podia escutar sua voz.

Fiquei pasmo.

— A-ahem. — Eris pigarreou. — Deixando o Vovô de lado, por enquanto, preparei algo para hoje que com certeza vai te surpreender, Rudeus! — Ela ficou vermelha enquanto ria e estufava o peito, cheia de orgulho.

Foi adorável. Recentemente, ela começou a usar sutiãs, agora que seus seios começaram a crescer. No momento, eles eram algo simplesmente fofos, mas algum dia se tornariam incríveis. Ou assim disse o Velho Eremita Sábio. Obrigado, Velho Eremita Sábio.

— Algo que vai me surpreender? — falei de volta.

— O que acha que é?!

Algo que me surpreenderia… O que poderia ser? Algo que eu gostaria… Um computador ou um jogo erótico? Não, não. Eu tinha que pensar em algo que Eris poderia me dar.

Considerei minha situação atual. Estava longe dos meus pais e fiquei sozinho por vários anos. Ela provavelmente pensou que eu estava solitário, especialmente por ser meu aniversário.

Se fosse Eris, o que ela faria? Até Ghislaine e seu Avô apareceram para comemorar junto, certo? Se fosse assim, então…

— Não me diga, meus pais estão aqui…?

O rosto dela corou assim que eu disse isso. Não apenas o dela, mas também o de todas as empregadas e mordomos. Era uma expressão de pena. Meu palpite estava errado.

— S-Senhor Paul… não pôde vir porque os monstros ficaram mais ativos nas florestas ultimamente, disse. M-mas ele disse que, de qualquer forma, você não precisaria dele aqui. Quanto à Senhorita Zenith, ela disse que as duas crianças de repente ficaram doentes, então também não pôde vir. — Eris deu uma explicação agitada.

Ahh. Então eles foram convidados. Bem, não havia como evitar isso. A vila dependia muito de Paul e, se as duas garotas estivessem doentes, Zenith não poderia deixá-las aos cuidados apenas de Lilia. Seria bom vê-los novamente, já que fazia tanto tempo, mas tudo bem.

— U-uh, um, Rudeus. Você sabe, um… — Eris começou a gaguejar. Era algo fofo, parecido com um gato que se meteu em problemas depois de agir sem pensar.

Mas não se preocupe, pensei. É melhor se o Paul não aparecer.

— Ah, entendi. Então meu pai e minha mãe não vieram. — Eu queria que isso soasse como se não fizesse diferença, mas, como tinha acabado de parar de chorar, minha voz soou chorosa. Provavelmente pareceu como se estivesse abatido.

Uma das empregadas soltou uma fungada.

Estraguei tudo. Não pretendia deixar o clima tão pesado. Foi mal, pessoal, parece que no final das contas não consegui ler a atmosfera.

Assim que pensei isso, Hilda correu e me tomou nos braços. Deixei o buquê de flores que estava segurando cair por acidente.

— Argh!

Mal falei com Hilda desde que cheguei. Ela tinha o mesmo cabelo ruivo que Eris e também exalava a aura de uma jovem viúva, irradiando sensualidade. Era alguém que poderia aparecer em algum jogo erótico com o título de “jovem esposa” ou “viúva”. Claro, enquanto Philip estivesse vivo não seria uma viúva.

Ela gritou enquanto me agarrava com força.

— Está tudo bem, Rudeus, você pode ficar tranquilo. Agora você faz parte da nossa família!

Hã? Ela não me odiava?

— Não vou aceitar nenhuma reclamação! Nós te adotaremos… Não, case com Eris! Essa é uma ótima ideia! Faça isso!

— M-mãe?!

Hilda perdeu o juízo. Casamento, ela falou. Até Eris ficou surpresa.

— Eris! Você tem algum problema com o nosso Rudeus?!

— Ele só tem dez anos!

— Idade é só um número! Agora pare de inventar desculpas e comece a se preparar para ser uma dama!

— Eu já estou fazendo isso!

Hilda estava imparável, e Eris também. Disseram que Hilda foi casada com a família, mas acho que ainda era uma Greyrat até o fim. Tinha a mesma presença selvagem que Sauros.

— Certo, certo, vamos cuidar disso em outra hora.

— Argh! Querida! O que você está fazendo?! Me solte! Pobre criança, eu tenho que salvá-lo!

Philip graciosamente arrastou sua esposa para longe assim que conseguiu se livrar de Sauros. Sempre que alguma situação começava a se manifestar, ele a abordava com uma compostura inabalável e fria enquanto todos os outros ficavam perplexos. Ele era um cara legal, algo parecido com um mestre da magia. Um homem em quem poderia confiar, alguém com quem poderia falar sobre qualquer coisa.

— Então o que é? A surpresa que você mencionou — perguntei após pegar o buquê do chão.

Eris cruzou os braços, estufou o peito e ergueu o queixo. Já fazia um tempo desde a última vez que vi essa pose.

— Hmph! Alphonse! Traga aquilo aqui! — Ela estalou os dedos tentando fazer um som agudo e cortante, mas acabou soando maçante e baixo. Suas bochechas coraram, mas Alphonse pareceu imperturbável enquanto pegava um cajado das sombras de uma escultura.

Um cajado, igual ao que Roxy usava. O cajado de um mago. Um feito com madeira nodosa e cheia de protuberâncias. Em sua ponta estava um enorme cristal mágico aparentemente caro. No momento que vi, soube. Esse cajado era caro. Sabia porque eu mesmo fiz aquelas duas varinhas.

A classificação de um cajado era determinada pelo tipo de madeira e pela pedra em sua ponta. Cada tipo de magia tinha afinidade com diferentes tipos de madeira. Feitiços de fogo e terra combinavam melhor com madeira de caqui, enquanto os de vento e água combinavam melhor com madeira de pagode1Pagodes são aqueles templos xintoístas comuns na China, Japão e em outros países asiáticos..

Mas mesmo se as afinidades não fossem boas o suficiente, isso não significava que o poder do feitiço seria afetado. O importante não era a madeira, mas o cristal mágico. Canalizar magia através do cristal aumentaria a potência de um feitiço. Existiam muitos tipos de cristais, mas quanto maior e mais transparente, mais eficaz seria. O preço de um aumentava astronomicamente, de acordo com sua eficácia.

Os cristais que usei para fazer as varinhas de Eris e Ghislaine valiam uma moeda de prata cada um. Havia outros mais baratos, mas me lembrei do tamanho daquele que estava na varinha que Roxy me deu e selecionei algum parecido. Eles eram quase tão grandes quanto a ponta do dedo mindinho.

E o do cajado era tão grande quanto um punho e valeria facilmente mais de cem moedas de ouro. Especialmente com sua tonalidade ultramarina. Um cristal colorido aumentaria ainda mais a potência da magia.

Quanto gastaram nisso? me perguntei.

Aliás, os cristais impregnados de magia encontrados em labirintos não tinham nenhum efeito amplificador. Em vez disso, possuíam seu próprio poder mágico, então era usados em itens mágicos ou para suplementar a reserva de mana de uma pessoa ao usar um feitiço poderoso.

— Parece que você gostou! — disse Eris com um aceno satisfeito enquanto eu examinava o cajado. — Alphonse, fale!

— Sim, minha senhora. A madeira para este bastão veio de um galho de um ente ancião vivo da parte oriental da grande floresta do Continente Millis. Tenho certeza de que você já sabe disso graças ao seu grande conhecimento, Lorde Rudeus, mas dizem que um ente ancião é uma subespécie superior aos entes menores, nascido da nutrição da fonte das fadas. É uma criatura mágica de nível A que pode manipular magia de água. O cristal veio da parte norte do Continente Begaritt, de um dragão marinho rebelde. Outro item de nível A. O artesão é Chein Procyon, o maior artesão de cajados, o Diretor do Bastão da Guilda de Magos do Palácio Real Asurano.

Incrível. Parecia ser feito especificamente para magos de água. Mas custava caro, não?

— Por favor, aceite o cajado da Jovem Senhora. — O cajado foi passado para Eris, e ela o ofereceu para mim.

Eu não iria perguntar quanto custou. Disse a Eris para não gastar com qualquer coisa, mas essa era uma ocasião especial. Parece que ele foi encomendado especialmente para mim, então não tive coragem de recusar. Afinal, dinheiro só existe para coisas assim.

— Seu nome é Aqua Heartia – Arrogante Rei Dragão da Água. — Eu parei; senti como se tivesse acabado de ouvir um termo realmente nerd.

— Pegue! Este é um presente da família Greyrat! Meu pai e meu avô que pediram! Você é um grande mago, Rudeus, então é estranho que não tenha um cajado!

A voz de Eris me trouxe de volta aos sentidos e eu aceitei. Aqua Heartia.

Ao contrário de sua aparência, ele era bem leve. Eu o peguei com as duas mãos e o girei. Era fácil de levantar e virar. Apesar do enorme cristal em sua ponta, era bem equilibrado. Nenhuma surpresa, levando em conta seu preço. Embora o nome fosse um pouco… exótico.

— Obrigado. Pela festa e por me dar um presente tão caro.

— Não se preocupe com o preço! Agora, ande logo, vamos retomar a festa ou o banquete que preparamos vai esfriar! — Eris estava de bom humor enquanto me puxava, guiando-me para o assento de aniversariante que fora colocado diante de um bolo gigante. — Eu também ajudei a preparar!

Fora os primeiros pratos, preparados por Eris, que eram atrozes, toda a comida estava deliciosa.

 

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Assim que a festa começou, a boca de Eris começou a disparar como uma metralhadora, falando sobre a comida e o cajado. Eu dei respostas curtas enquanto ouvia, mas, no meio do caminho, suas palavras começaram a desacelerar. Talvez fosse cansaço. Ela falava cada vez menos, começando a resmungar e finalmente cochilando.

Eu não tinha certeza se estava exausta devido à excitação ou se era o nervosismo que a havia esgotado. De qualquer forma, Ghislaine a levou para o seu próprio quarto, carregando-a como se fosse uma princesa.

Durma bem, pensei.

Sauros e Hilda retornaram no meio da festa. Sauros ficou mal-humorado após Philip intervir quando ele tentou me dar álcool. Nesse momento, Hilda serviu um pouco mais ao velho, e o homem acabou ruindo. Se retirou para o seu próprio quarto enquanto um sorriso ébrio tomava seu rosto e suas bochechas ficavam vermelhas, rindo alegremente.

Hilda se inclinou e me deu um beijo de boa noite antes de se retirar para seus aposentos. Naquele momento, a maior parte da comida já havia acabado. As empregadas limparam os últimos pratos vazios enquanto revelavam olhares sonolentos.

Restavam apenas Philip e eu. Por um tempo, ele apenas tomou sua bebida calmamente. Vinho, imaginei. Aprendi durante a festa de aniversário de Eris que cada região do Reino Asura tinha seu próprio tipo de álcool. Nesta área, a maioria das coisas eram feitas com trigo, mas o vinho de uvas era servido em ocasiões especiais.

Philip não falou muito durante a festa. Ele havia advertido Sauros e Hilda, mas fora isso passou a maior parte do tempo nos observando enquanto sorria. Foi então, apenas quando ficamos sozinhos, que deixou suas palavras fluírem.

— Perdi a batalha para virar o chefe da família. Agora, Eris é minha única filha.

Então seria uma conversa séria. Ajustei minha postura e olhei fixamente para ele.

— Você não se pergunta por que Eris não tem irmãos ou irmãs?

Balancei a cabeça calmamente.

— De vez em quando. — Vivia curioso, mas nunca tive coragem de perguntar nada a respeito.

— A verdade é: não é que ela não tenha nenhum. Tem um irmão mais velho e outro mais novo. O mais novo deve ter sua idade, eu acho.

— Eles morreram na batalha para se tornar o chefe da família?

Philip olhou para mim, chocado; fui um pouco direto demais em minha pergunta.

— Não, claro que não. Não morreram. Foram levados para a capital imperial, por meu irmão mais velho, assim que nasceram.

— Levados? O que quer dizer com isso? — Pressionei.

— Para o público, os tomou como filhos adotivos para que pudessem estudar. Mas a verdade é que… é uma tradição, suponho.

Philip explicou a tradição da família Boreas, que estava ligada à batalha para ser o chefe da família.

Sauros teve dez filhos. Entre eles, apenas três eram excepcionais: Philip, Gordon e, finalmente, James. Parecia até o nome de uma certa locomotiva.

Para decidir quem dentre os três seria o chefe da família, foram criados para competir. O resultado foi que James se tornaria o próximo chefe da família. Philip e Gordon perderam.

Durante a primeira metade da luta pelo poder, James secretamente uniu Gordon à filha da família Euros Greyrat, ele manobrou tudo para que não suspeitassem do que estava fazendo, e então atiçou as chamas do amor. Gordon se concentrou demais em seu romance e, assim como planejado, casou-se com o ramo da família Euros. Isso foi efetivo para cortar seu caminho para se tornar o chefe da família Boreas.

Na última metade da luta, Philip e James estavam em pé de igualdade. Continuaram lutando, manipulando várias pessoas pelos bastidores.

Mas não era como se houvesse ocorrido qualquer desenvolvimento dramático. A batalha simplesmente acabou com a derrota de Philip. Foi uma questão de influência. James era seis anos mais velho do que Philip, também era muito conhecido em toda a capital e havia servido como ajudante de um ministro. Ele tinha contatos, dinheiro e, acima de tudo, poder político.

Philip era um excelente candidato, mas a diferença de seis anos de idade provou-se quase impossível de superar. Depois que James se tornou o chefe da família, nomeou Philip como o prefeito de Roa. Naquela época, o homem ainda não havia desistido. Tentou formular uma estratégia de retorno, mas as terras de Fittoa eram, na maior parte, rurais, então dificultou o desenvolvimento de seu poder político.

Enquanto Philip estava tentando se virar da forma que podia, James ficou na capital e construiu um nome sólido como uma rocha ao assumir uma posição de ministro. Isso tornou a distância entre os dois impossível de se superar. Então, quando seus filhos nasceram, James os reivindicou como filhos adotivos.

— Não foi um pouco tirano da parte dele tomar seus filhos?

— Não, faz parte. É tradição.

Na linhagem Boreas Greyrat, todos os filhos homens seriam criados sob os cuidados do chefe da família. Isso evitava que aqueles que perdessem nas lutas de poder anteriores participassem de lutas futuras. Isso garantiria que não se envolveriam ao tentar impulsionar a influência dos próprios filhos nas lutas vindouras.

Era um problema comum, um que ocorria em todo o Reino Asura. Pelo visto, a família Euros, com a qual Gordon se casou, tinha uma tradição diferente, mas Philip obedeceu à tradição dos Boreas e entregou todos seus filhos a James enquanto ainda eram jovens e não sabiam nada sobre o mundo. O único pai que eles reconheceriam seria James.

— A situação teria sido evitada se eu tivesse vencido. — A maneira como Philip aceitou a situação calmamente me fez pensar que não poderia ser um legítimo filho de Sauros, no final das contas.

O mesmo não poderia ser dito sobre sua esposa. Hilda era de uma família nobre comum. Ter seu bebê recém-nascido tomado era algo que não pôde aceitar com tanta calma. Depois de perder seu filho mais velho, ficou em depressão por um bom tempo. Depois que Eris nasceu, pareceu se recuperar, mas quando seu filho mais novo também foi levado, voltou a ficar instável.

— Ela te odiava. Afinal, por que o filho de um estranho pode desfilar por aqui, parecendo o dono do lugar, enquanto seus próprios filhos nunca puderam fazer isso?

Eu já tinha percebido que ela me odiava. Agora ao menos sabia quais eram suas razões.

— Além do mais, a única criança que nos resta, Eris, acabou sendo uma pirralha em vez de uma dama. Pensei que já tínhamos perdido todas as esperanças.

— O que quer dizer com isso?

— Seria difícil tentar usar Eris para derrotar James.

Por derrotar ele quis dizer que…? Ah, ainda não tinha desistido de se tornar o chefe da família.

— Mas, recentemente, depois de te ver, comecei a sentir alguma esperança.

— Hã?

— Sua atuação foi boa o bastante para enganar até Hilda e meu pai.

Então ele percebeu que eu só estava dando um show. Mas a palavra “enganar” não soou muito bem. Só tentei agir de uma forma que não fosse tornar as coisas desagradáveis.

Philp continuou:

— Você conhece o valor do dinheiro e sabe como agir com diplomacia. E não recua diante da necessidade de se colocar em perigo para conquistar o coração das pessoas.

Ele provavelmente estava se referindo ao incidente do sequestro. Ou do fato de eu ficar por perto mesmo quando alguém da minha idade (Eris) continuava me socando o tempo todo.

— Mas, acima de tudo, Eris amadureceu muito sob sua supervisão. — Philip parecia nunca ter imaginado isso.

Ele tinha ouvido Paul falar sobre como eu era excepcional, mas como filho de alguém que passava o tempo todo correndo atrás de saias enquanto tinha a minha idade, ele provavelmente pensou que eu seria o mesmo tipo de gente. Imaginou que algo interessante poderia acontecer ao jogar sua filha rebelde em mim, querendo fazer algo semelhante ao que um químico faria ao analisar novos experimentos científicos. Pelo visto, foi isso que planejou.

— Ainda lembro do dia em que Paul veio correndo até aqui aos prantos — murmurou Philip, parecendo que era apenas para si mesmo.

Pedi para ele explicar, então Philip disse que Paul apareceu chorando porque ia se casar, mas não tinha dinheiro para comprar uma casa e precisava de um emprego estável. Entretanto, ao mesmo tempo, não queria voltar para sua família. Pelo visto, ajoelhou-se por minha causa, algo que não fez mesmo naquele incidente com Lilia. Bem, de qualquer forma, isso já era passado.

— Eris não teria encontrado um rumo mesmo se eu não estivesse aqui?

— Encontrar um rumo? Claro que não. Até eu pensei que ela não tinha jeito. Achei que não teria futuro como membro de uma família nobre. Foi por isso que contratei Ghislaine para ensinar esgrima para Eris, para que pudesse ao menos se tornar uma aventureira. — Após falar isso, Philip contou vários episódios anteriores de sua filha, soou um pior do que outro. — Então, e aí? Você vai se casar com Eris e me ajudar a tomar o controle da família Boreas? Se for, posso amarrar as mãos dela e jogá-la na sua cama agora mesmo.

Foi uma oferta tentadora… Minha mente criou a imagem como a da tela do pop-up de um jogo, dizendo: “Tem certeza de que quer se livrar disso (sua virgindade)? Uma vez aceito, a perderá para sempre!”

Não, não, espera, espera, espera aí! Isso não era brincadeira. Parei para pensar e me colocar em ordem. Assumir o controle da família Boreas?

— O que está tentando falar para eu fazer? Só tenho dez anos!

— Você é filho do Paul, não é?

— Não estou falando sobre isso!

— Serei o único assumindo o controle da família. Tudo o que você precisa fazer é ficar sentado. Se quiser mulheres, eu as darei a você.

Ele realmente achou que eu escutaria qualquer coisa só por me oferecer mulheres? A má reputação de Paul era realmente doentia.

— Vou fingir que você só falou isso tudo por estar bêbado.

Philip riu baixinho assim que falei isso.

— Isso mesmo, vá em frente e faça isso. Deixando todas essas coisas sobre a família Boreas de lado, você é livre para tentar qualquer relacionamento que quiser com Eris, sabia? Não tenho responsabilidades por ela. Mesmo se eu a casasse, Eris certamente seria devolvida. Na verdade, preferia entregá-la a você. — E então voltou a soltar outra risadinha.

Se ele casasse Eris, ela provavelmente esmurraria o marido até a morte em poucos dias. Eu podia facilmente imaginar isso. Era tão fácil quanto me imaginar dançando ao som dos cantos de Philip caso eu aceitasse suas ofertas.

—Certo, está na hora de dormir.

— Sim, boa noite — respondi.

Assim acabou a festa de aniversário que Eris organizou para mim.

 

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Quando voltei ao meu quarto, Eris, que deveria estar dormindo, estava sentada na minha cama.

— Ah, b-b-em-vindo de volta! — ela estava usando um negligé vermelho. Extremamente sexy.

Eu tinha certeza de que ela nunca tinha vestido algo parecido antes. O que estava acontecendo? Além do mais, ela não deveria estar dormindo?

— O que está fazendo aqui a esta hora?

Quando perguntei, suas bochechas ficaram vermelhas e Eris desviou o olhar.

— E-eu pensei que você ficaria solitário, então resolvi dormir com você esta noite!

Pelo visto, ela ainda estava preocupada com o que eu disse durante a festa, sobre meus pais virem. Afinal, Eris, mesmo com doze anos, ainda era apegada aos pais. Talvez imaginar a hipótese de ficar afastada deles por três anos tenha servido como estímulo para aparecer em meu quarto.

Não. Por mais improvável que pareça, era possível que tenha sido ideia de Hilda.

Talvez ela tenha acordado Eris, a forçado a se trocar e a enviado ao meu quarto.

Tomei um segundo e fitei Eris. Seu corpo ainda não era completamente maduro, mas estava se desenvolvendo. Provavelmente por causa da prática com espadas, seus braços e pernas eram bem tonificados. Fosse por ser mais alta do que a maioria das garotas ou graças ao negligé que usava, também parecia mais adulta do que o normal.

No final das contas, Eris já tinha doze anos. Estava começando a se desenvolver.

Meu corpo ainda era imaturo. Eu ainda não tinha chegado à puberdade, embora isso certamente fosse acontecer muito em breve. Talvez então passasse a apreciar a oportunidade de me esfregar com essa loli tsundere.

No momento em que esse pensamento passou pela minha mente, me senti como aquele pervertido de trinta e quatro anos, sem-teto e desempregado. Vi uma imagem dele, seu rosto coberto de espinhas e com um sorriso nojento nos lábios, pulando em cima de Eris.

Retomei meus sentidos. Não, não podia. Eu não deveria tocar nela. Isso seria igual cair nas garras de Philip. Estaria pulando com os dois pés direto em uma intensa luta por poder. A mesma da qual Paul fugiu e que Philip perdeu.

Eu não queria me envolver em algo que parecia render tão poucas recompensas. Então, apenas orei para poder escapar pacificamente da situação.

Ela detestava avanços sexuais, então talvez eu pudesse dizer algo estranho para a assustar?

— I-isso mesmo! Estou me sentindo muito só, então, se você não for embora, posso fazer algo pervertido!

Ou foi o que pensei, mas recebi uma resposta inesperada.

— V-você pode fazer isso. M-mas só um pouquinho!

Sério?!

Hoje você realmente está ousada, Eris! Como posso resistir com você falando isso? O que eu…

Debati comigo mesmo e finalmente decidi aceitar sua oferta. Só um pouquinho.

Me sentei ao seu lado. A cama soltou um rangido baixo. Se ainda fosse o velho eu, o rangido de certo teria sido muito mais alto, destruiria qualquer clima.

Eu não conseguia mais pensar, não lembrava de nenhuma daquelas coisas complicadas. Isso estava correndo conforme planejado por Philip? Então tudo bem. Por três anos, Eris só foi tsun, mas agora estava finalmente revelando seu dere. Como eu poderia recusar quando isso estava sendo oferecido de boa vontade? Em momentos assim, seria melhor apenas aceitar os riscos e ir fundo, certo?

— Você está gaguejando — falei.

— I-isso é só sua imaginação.

— Sério?

Acariciei sua cabeça. Seu cabelo era tão fofo. Mesmo sendo de uma família nobre, não havia qualquer banho na mansão, então não era como se pudesse lavar o cabelo todos os dias. Seu cabelo era normalmente áspero e duro por ficar todos os dias ao ar livre praticando esgrima do amanhecer ao anoitecer. Devia ter lavado para mim. Só para mim.

— Você está tão fofa.

— O-o que você está falando assim, de repente?

Ela desviou o olhar, ficando vermelha até as orelhas. Passei meus braços ao redor de seus ombros e beijei sua bochecha.

— Hngh! — Seu corpo ficou rígido, mas ela não tentou fugir.

Ah, então ela realmente está bem com isso? pensei. Ela definitivamente era o tipo de pessoa que fugiria se não gostasse de algo.

— Agora vou te apalpar. — Toquei seu peito. Seus seios eram pequenos, estavam começando a crescer. Ser capaz de tocar nisso era a prova de que ela permitiu. Havia uma camada de roupas atrapalhando, mas não havia qualquer dúvida de que, agora, ela estava em minhas mãos.

— Mm…

Não foi o prazer que fez com que gemesse, disso eu tinha certeza. Ela estava apenas percebendo o quão embaraçoso era o que estávamos fazendo. Eu sabia. Eris estava me olhando, mordendo os lábios, com várias lágrimas se formando em seus olhos enquanto lutava para conter o embaraço e constrangimento.

Depois acariciei seu traseiro. Graças a todo seu treino com espadas, era firme e musculoso. Não tanto quanto o de Ghislaine, claro, mas ainda tonificado e macio.

Eris fechou os olhos e agarrou meus ombros, parecia que estava se agarrando a mim. Isso, talvez, significava que estava me dando um sinal de “ok”? Ela estava, certo? Nesse caso, eu iria até o fim. Na mesma hora.

C-certo, vamos f-fazer isso, pensei.

Estendi minha mão até o interior de sua coxa. Seria a minha primeira vez tocando aquele lugar de uma garota. Seria quente e macio, claro, mas ainda assim firme.

— Nãããão!

Ela me empurrou. Então me deu um tapa na bochecha, forte e barulhento. Caí no chão com um baque e então fui chutado. Ela continuou seu ataque, o quarto ficou repleto de sons de golpes.

Completamente indefeso e confuso, recebi seus ataques com toda a força. Assim que acabou, olhei para ela, de costas.

Eris estava parada bem perto de mim. Suas bochechas estavam vermelhas.

— Eu disse “só um pouquinho”, não disse?! Seu idiota! — Após isso, escancarou a porta com um chute e saiu marchando.

 

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Olhei fixamente para o teto. O calor febril que havia se instaurado se dissipou por completo.

— É por isso que você é um virgem.

Eu fiquei transbordando auto-repulsão. Interpretei mal a atmosfera. Avancei rápido demais. Na metade do caminho, esqueci que ela ainda era uma criança.

Esqueci por completo.

— Ah, droga, no que você estava pensando?!

Depois de jogar tantos jogos eróticos, pensei que talvez entendesse como as heroínas se sentiam. Na minha vida anterior, costumava ver protagonistas estúpidos e distraídos, e pensava comigo mesmo: apenas faça o que precisa, então estará tudo bem.

O que acabei de fazer foi um resultado desse modo de pensar. Como jogador, poderia ver os diálogos internos da heroína. O protagonista, entretanto, não fazia ideia do que estava acontecendo. É por isso que a maioria deles imaginava o que poderia acontecer, mesmo sabendo que a outra parte também gostava deles. Então gastavam o tempo necessário e desenvolviam os relacionamentos lentamente.

Fui um completo imbecil se comparado a eles.

Especialmente após toda aquela conversa que tive com Philip. O que estava pensando, falando que fingiria que ele só falou aquilo por estar bêbado? As coisas que falei e as que fiz foram completamente contraditórias.

Eu sabia o que aconteceria se acabasse fazendo sexo com Eris. Dormiríamos juntos, ela engravidaria, nos casaríamos. Uma enorme série de eventos que me tornariam um membro oficial da família Boreas. Ou, após tudo isso, eu odiaria tanto a cruel luta por poder que se seguiria que acabaria fugindo? Planejaria não tomar a responsabilidade por minhas ações? Iria tratar como um simples caso de uma noite?

Que tolice. Sem dúvidas acabaria indo atrás de Eris todas as noites. O impulso sexual que tive em minha vida anterior foi muito forte, e tive a sensação de que, mesmo sem tomar Paul como exemplo, poderia acabar acontecendo a mesma coisa desta vez. Ela poderia ter vindo até mim uma vez, mas da próxima vez poderia ser eu indo atrás dela.

Philip e Hilda certamente esperavam por isso. Ninguém iria me impedir. Eu morderia a isca, uma compensação temporária, e cairia na armadilha imunda que era a luta por poder da família Boreas.

— Ah! — O cajado encostado em um canto do quarto chamou a minha atenção.

Eu também não conseguia esquecer os sentimentos de Eris. O dinheiro poderia até ser de Philip ou Sauros, mas foi ela quem planejou a festa e teve a ideia de me dar um presente. Foi ela quem se preocupou com a conversa na festa e apareceu para me confortar durante a noite, antes que eu dormisse. Eris pensou em mim o tempo todo.

E há alguns instantes, estava a ponto de violá-la por pura luxúria. Havia uma garota que realmente considerava meus sentimentos pessoais e eu ainda tentei fazer tudo o que queria com ela.

Lembra do quanto ela parecia feliz enquanto conversava com aquela empregada? Você só tentou passar por cima disso tudo.

— Haha…

Eu era um monte de bosta. Não tinha o direito de julgar Paul. Não tinha direito de dar lições em ninguém. Era só um monte de bosta na minha vida anterior, e não mudou nada após acabar parando em outro mundo. No dia seguinte pegaria minhas coisas e iria embora. Iria viver na sarjeta, assim como esperado de um monte de lixo como eu.

— Ah!

De repente, percebi que Eris estava parada na porta. Apenas parte do seu corpo estava visível, seu rosto estava aparecendo no cantinho do portal.

Entrei em pânico e tentei me sentar, sem levantar… Não! Devia apenas me prostrar!

— S-sinto muito pelo que aconteceu. — Me enrolei feito uma tartaruga, me prostrando diante dela.

E dei uma espiada.

O olhar de Eris estava vago enquanto ela se remexia, suas pernas roçavam uma na outra. Então sussurrou bem baixinho:

— H-hoje é um dia especial, então vou abrir uma exceção e te perdoar.

E-ela me perdoou!

—Além disso, eu já sabia que você é um pervertido.

Quem diabos disse isso a ela?!

Não, era verdade. Eu era. Eu era um pervertido. Foi minha culpa. Olhem só. Eu, um pervertido.

— Mas, a-ainda é cedo demais para fazer isso, então… cinco anos! Em cinco anos, quando você tiver crescido, então… resmunga… m-mas até lá, se contenha!

— Hahah!  — Caí para a frente.

— B-bem, então, vou voltar para a cama. Tchau, Rudeus. Boa noite. Amanhã te vejo. — Depois daquela despedida apressada e desordenada, Eris sumiu de vista. Eu podia até mesmo ouvir o som de seus passos enquanto ela corria.

Esperei até que o som sumisse por completo e fechei a porta.

— Ufaaaaa. — Me apoiei contra a porta e deslizei até o chão. — Obrigado, Deus!

Eu fiquei feliz por ser meu aniversário. Fiquei feliz por ser um dia especial. Fiquei feliz por não ter feito algo pior do que aquilo.

— E siiiiiim!

Em cinco anos. Uma promessa definitiva! Com Eris! Uma promessa!

Tudo bem, sem mais avanços precipitados, jurei a mim mesmo.

Cinco anos. Eu teria quinze anos. Ainda iria demorar, mas eu poderia suportar. Se no final o prêmio fosse garantido, poderia aguentar. Até então, seria um cavalheiro. Não um pervertido, mas um cavalheiro. Iria parar com todos os avanços sexuais.

O vinho só ganha um sabor refinado após descansar por anos. Um ataque bem elaborado teria muito mais força conforme fosse planejado. Eu me tornaria o tipo de homem que não cederia, não importa que tipo de tentação aparecesse. Desta vez, pretendia virar aquele protagonista cabeça-dura. Seguraria o botão “A” e não soltaria até que tivessem passado cinco anos. Essa foi a promessa que fiz a mim mesmo.

Espera, em cinco anos…? Um protagonista cabeça-dura? Uma imagem do rosto pálido e angelical de Sylphie, assim como seu doce sorriso, de repente apareceu na minha cabeça.

 

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Na manhã seguinte, acordei com uma cueca melada. Pelo visto, acidentalmente soltei o botão “A”. Bem, poderia simplesmente começar de novo.

Troquei algumas palavras com a empregada que veio buscar minhas roupas e pedi para que ficasse quieta sobre isso, para que Eris não descobrisse. Ela riu com uma expressão alegre nos olhos. Foi meio constrangedor.

 

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NOME: Eris Boreas Greyrat.
OCUPAÇÃO: Neta do lorde suserano de Fittoa.
PERSONALIDADE: Às vezes violenta, às vezes mansa, tudo depende da situação.
FAZ: Escutar apropriadamente.
LEITURA/ESCRITA: Quase perfeita.
ARITMÉTICA: Capaz de fazer divisão.
MAGIA: Não consegue lançar nenhum feitiço sem um encantamento, feitiços de nível Intermediário também são um desafio.
ESGRIMA: Estilo Deus da Espada – Nível Avançado.
ETIQUETA: Atualmente estudando a difícil etiqueta da corte imperial.
PESSOAS DE QUEM GOSTA: Avô, Ghislaine
PESSOA QUE AMA: Rudeus.

 


 

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