Meio ano se passou. Eris, que pensei que finalmente ficara mais calma, começou a retomar seus métodos violentos.
Por que, como, quem fez isso?! Entrei em pânico, até que percebi algo.
Ela não teve nenhum descanso.
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Foi após o jantar que chamei Ghislaine e a professora de etiqueta ao meu quarto. A professora de etiqueta na verdade não morava conosco; vivia na cidade, então o mordomo entrou em contato com ela.
— Primeiro, é um prazer conhecê-la. Sou Rudeus Greyrat — falei.
— Edna Leylune. Ensino normas de etiqueta para a Senhorita Eris.
Toquei minha mão no peito e fiz um ligeiro aceno com a cabeça. Ela me respondeu da mesma maneira, mas seus movimentos foram mais polidos. Nada surpreendente, já que vinha de uma professora de etiqueta.
Edna tinha o rosto de uma mulher de meia idade cujas rugas estavam apenas começando a surgir. Seus traços eram flexíveis, e seu sorriso emanava calor.
— Por favor, sente-se — disse, apontando para as cadeiras mais próximas. Depois que elas ficaram mais à vontade, ofereci o chá que pedi que o mordomo preparasse. — A razão pela qual as chamei é para falar sobre o horário de aulas de Eris.
— Horário de aulas? — perguntou Edna.
— Isso mesmo. Soube que atualmente ela tem prática de espadas pela manhã, bem pouco de tempo livre pela tarde e etiqueta à noite. Isso está correto?
— De fato.
Eris estava atualmente aprendendo seis disciplinas: Leitura e escrita, aritmética, magia, história, esgrima e etiqueta.
Nos tempos modernos, seria algo como linguagens, matemática, economia doméstica, estudos sociais, educação física e, bom, etiqueta. Como não havia nenhum relógio, as aulas eram bem prolongadas, separadas apenas pelo horário das refeições e lanches. Os tópicos estavam assim divididos, em três períodos:
Café da manhã → Estudos → Almoço → Estudos →Lanche → Estudos → Jantar → Tempo livre.
Não havia nenhum instrutor de história, então Philip aparentemente a ensinava pessoalmente em seu tempo livre.
— Desde que comecei a lecionar, ela também começou a ter aulas pela tarde, então seu dia ficou completamente cheio — falei.
— Correto — respondeu Edna. — Os estudos dela estão progredindo sem qualquer problema. Até mesmo o Mestre está bastante impressionado.
Ele sem dúvidas estava.
— Pode parecer que está indo tudo bem, mas há um problema.
Edna pareceu confusa.
— Um problema?
— Sim. Ela está acumulando estresse, já que estuda todos os dias, sem folgas. — Principalmente durante as aulas de aritmética. Ela ficava irritada o tempo todo. Se tivesse algum exercício difícil, simplesmente jogava a culpa para o meu lado. Isso era perigoso. Não havia como prever quando poderia voltar a correr atrás de mim. Era muito perigoso.
— Conseguimos suportar isso até agora, mas ela pode acabar voltando a fugir das lições.
— Ah, nossa… — Edna levou as mãos aos lábios. Sua expressão denunciava que ela reconhecia essa possibilidade. Eu nunca tinha visto suas aulas de etiqueta antes, mas Eris parecia levá-las a sério. Era um mistério para mim o motivo pelo qual a garota parecia gostar da mulher.
Então continuei:
— Gostaria de dar a ela um dia de folga a cada sete dias.
Havia um calendário neste mundo, então tinham um conceito para dia e mês. Não tinham, entretanto, o conceito de uma semana. Existiam dias de folga distribuídos ao longo do ano, mas não existia um domingo.
Sete. Eu usei esse número porque seria fácil lembrar. Além disso, parecia que esse número também era algo especial neste mundo. Dizia-se que era um bom presságio, razão pela qual também existiam sete níveis na esgrima.
— Nos seis dias restantes, continuaremos lecionando leitura e escrita, aritmética, magia, história, esgrima e etiqueta.
Edna levantou a voz:
— Posso perguntar uma coisa?
— Por favor, pergunte.
— Se for tudo reduzido desse tanto, minhas lições serão reduzidas. Então meu salário também…
Eu a interrompi antes que ela pudesse concluir.
— Não precisa se preocupar com isso. — Eu não poderia culpá-la por estar preocupada com dinheiro, seria inclusive estranho se não estivesse. Afinal, até mesmo eu estava nessa pelo dinheiro. Enfim, já tinha falado com Philip, isso não seria um problema. Recebíamos salários mensais, então seríamos pagos independentemente de dar aulas ou não.
Mas, claro, seríamos demitidos se não o fizéssemos. Mencionar isso parecia desnecessário. Se não fosse capaz de entender algo tão simples, uma demissão seria merecida.
— É claro que, com isso em mente, dividiremos as coisas de outra forma. Não deve haver qualquer problema em ter apenas duas ou três lições de leitura, escrita e aritmética durante o período de sete dias. A prática com espadas continuará sendo algo diário, já que isso não pode ser discutido. A magia também continuará sendo diariamente praticada, mas há um limite de mana para cada pessoa então as lições não demoram muito. Pretendo dedicar o tempo restante à leitura, escrita e aritmética.
Essa última parte já estava sendo feita desde o começo. Algo como: “Hoje você usou Bala da Água X vezes, e pode usar ela apenas Y vezes. Então, quantas vezes acha que ainda conseguirá usar esse feitiço hoje?” Eu mudava os valores de X e Y, de acordo com o número de vezes que Eris e Ghislaine poderiam lançar esses feitiços, respectivamente. Pelo visto, isso era mais fácil para Eris do que ficar sentada em uma sala olhando para os dígitos em um papel.
Era difícil descobrir uma resposta precisa para o motivo pelo qual o uso de mana não era algo tangível, mesmo para o praticante. A parte importante era realizar cálculos mentais, porque quanto mais fizesse isso, melhor ficaria. O ponto principal era fazer com que usassem a cabeça.
Eu queria dar lições de feitiços silenciosos e economia doméstica, mas isso poderia aguardar até que aprendessem a ler, escrever e calcular.
— Peço desculpas antecipadamente, Senhorita Edna, mas gostaria de reduzir suas aulas com Eris para algo como três ou quatro vezes por mês.
— Tudo bem. — Ela concordou rapidamente.
Seis dias, dezoito períodos. Dividindo-os assim: Etiqueta – cinco períodos; Esgrima – seis períodos; Leitura e Escrita – dois períodos; Aritmética – dois períodos; e magia – três períodos. Os períodos para lições pareciam um pouco curtos para o meu gosto, mas a maioria das coisas seriam apenas revisões, portanto, sem problemas.
— Além disso – falei —, caso em algum momento você não possa dar uma de suas lições, eu gostaria que me informasse.
— Para quais fins? — perguntou Edna.
— Estou sempre aqui na mansão, então posso encaixar algumas lições no seu horário. Então, se precisar de um período de folga prolongado, não haverá problema.
— Tudo bem então. — Edna sorriu o tempo todo. Ela realmente estava entendendo?
— Além disso, eu gostaria que tivéssemos uma reunião no começo de todos os meses.
— E qual o motivo para isso?
— Se trabalharmos juntos, poderemos obter respostas rápidas para qualquer problema que puder aparecer. Não é algo estritamente necessário, mas tornará nosso ensino mais eficaz e nos ajudará a lidar com qualquer emergência. Você vê algum problema nisso?
— Não. — E então Edna sorriu suavemente. — Você ainda é tão jovem, Lorde Rudeus, mas é tão atencioso com a Senhorita Eris. — Seus olhos brilhavam como se ela tivesse visto algo particularmente agradável.
Bem, tanto faz.
Foi assim que consegui um dia para folga.
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E, finalmente, meu primeiro dia de folga chegou.
Depois de um breve cumprimento para Philip, decidi ir para a cidade. Mas encontrei Ghislaine e Eris esperando por mim na saída.
— Onde pensa que está indo?! — Eris parecia inquieta, talvez porque fosse seu primeiro dia de folga. Seu primeiro dia com a agenda vazia. Não era de se admirar que estivesse curiosa para saber quais eram meus planos para o dia.
— Vou passear pelos arredores de Roa — falei, fazendo até pose.
— Vai passear… Mas então, você vai ver a cidade? Sozinho?
— Viu mais alguém comigo?
— Isso não é justo! Nunca pude sair sozinha, sequer uma vez! — Ela bateu os pés graças à frustração.
— Não é porque você pode ser sequestrada se sair sozinha?
— Bem, você também foi sequestrado — retrucou ela.
Ah, ela foi direto ao ponto. Fui sequestrado porque estava fazendo companhia a Eris, mas também era verdade que passei a ser visto como alguém da família Greyrat. Era possível que alguém tentasse algo parecido e tentasse exigir um resgate por mim.
— Mas, se eu for sequestrado, posso voltar para casa sozinho — declarei gargalhando em triunfo, apenas para ela erguer o punho, pronta para me bater. Rapidamente me movi para me proteger, mas o soco nunca foi desferido. Isso era incomum.
Eris cruzou os braços sobre o peito e olhou para mim.
— Eu também vou!
Ela costumava fazer esse tipo de declaração apenas após me bater, mas, aparentemente, decidiu que não faria uso da violência dessa vez. Isso indicava que havia amadurecido um pouco. Bem pouco, quase nada, mas pelo menos houve algum progresso.
— Tudo bem, então vamos!
— Sério?!
Claro, eu não tinha motivos para recusar. Além disso, números representariam maior segurança.
— Ghislaine também virá, não é? — perguntei.
— Sim. É meu dever proteger a Jovem Senhora.
Mesmo durante nossa reunião, Ghislaine parecia não entender o que era tirar um dia de folga. Eu sugeri que fizesse o mesmo de sempre e ficasse com Eris. Afinal, ela foi originalmente contratada para trabalhar de guarda-costas, então não devia haver qualquer problema nisso.
— Espera! Fico pronta em um segundo! Alphonse! Alphonse!!! — Fiquei vendo enquanto Eris saia correndo, fazendo barulho por toda a mansão. Sua voz soou tão alta quanto de costume.
— Rudeus — disse Ghislaine.
Virei a cabeça e a percebi bem ao meu lado. Tive que erguer o rosto para olhar para ela. A mulher tinha quase dois metros de altura, então, mesmo um adulto totalmente crescido provavelmente precisaria fazer isso.
— Não superestime suas habilidades — avisou. Isso provavelmente era sobre eu ter falado que poderia escapar de um sequestro sozinho.
— Eu sei. Só estava tentando motivá-la um pouco.
— Tudo bem, mas, se algo acontecer, me chame. Vou te ajudar.
— Certo. Se eu precisar de algo, vou fazer mais um daqueles shows com fogos de artifício. — Falar sobre isso despertou algumas de minhas memórias. — Você disse à Jovem Senhora para fazer a mesma coisa? Chamar por você?
— Mm? Sim, e daí?
— Da próxima vez, esclareça que ela só deve fazer isso quando estiver em algum lugar que você possa ouvi-la — falei.
— Certo, mas, por quê?
— Porque quando fomos sequestrados, ela quase foi assassinada porque começou a gritar seu nome.
— Se eu tivesse escutado, teria a resgatado.
Hmm. Bem, ela agiu ridiculamente rápido para nos salvar. Chegou em menos de um minuto após eu disparar aqueles fogos de artifício.
Enquanto estivéssemos ao alcance, eu tinha certeza de que ela apareceria, não importa onde fosse. Sua audição também parecia boa. Afinal, foi por Ghislaine que Eris chamou, e não por Philip ou Sauros. Ela era uma pessoa confiável.
— Você precisa ensiná-la que às vezes gritar não é uma boa ideia.
Eris voltou e acabamos a conversa nisso. Eu não tinha certeza se ela estava vestida para sair ou não, mas estava usando uma roupa que eu nunca tinha visto antes.
— Hoje você está adorável.
— Hmph! — Ela me deu um soco na cabeça após meu elogio. Mas que diabos foi isso?
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A Cidadela de Roa da Região de Fittoa era uma das maiores cidades da área, mas “grande” era um termo bem relativo. Ainda era menor do que a extensão dos campos de cultivo que constituía Buena Village. Se fosse para caminhar por todo o perímetro da muralha externa, provavelmente poderia finalizar o percurso em cerca de duas horas. Ainda assim, era de tamanho considerável, tratando-se de uma cidade. As próprias muralhas tinham cerca de sete a oito metros de altura e envolviam toda Roa.
Dito isso, a cidade não formava um círculo perfeito. Existiam curvas graças ao terreno. Então eu não tinha certeza de suas dimensões exatas, mas provavelmente cobria cerca de trinta quilômetros quadrados1Aqui há um erro de tradução na Light Novel, que declara que a cidade tem apenas trinta metros quadrados.. Na perspectiva de um japonês não seria algo tão grande, mas eu poderia dizer que fazer muralhas desse tamanho não seria uma tarefa simples.
Devia haver algum tipo de magia para construir muralhas assim. Provavelmente uma de nível Rei ou Imperial. Ou será que fizeram um enorme contorno de pedra e preencheram tudo com trabalho manual?
Considerei tudo isso enquanto caminhávamos pela área residencial de classe alta e entrávamos na praça lotada. Desse lugar, iríamos ao distrito mercantil. Todas as lojas próximas do distrito nobre eram chiques, e até mesmo as barracas de rua que estavam aqui e ali vendiam mercadorias caras.
— Ei, Jovem Mestre e Senhorita, olhem tudo e fiquem à vontade. — Um velho que cuidava de uma loja de produtos de segunda mão nos chamou usando uma fala que parecia tirada diretamente de um RPG.
Observei o que ele tinha em exposição, fazendo anotações sobre os produtos e preços. Francamente, o homem estava vendendo produtos bem questionáveis. Quem vai querer comprar isso? pensei. Espera, um afrodisíaco custa dez moedas de ouro. Preciso anotar isso.
— O que são essas letras estranhas?! Não consigo ler elas! — Meus tímpanos sofreram quando a voz de Eris chegou a eles.
Me virei e encontrei seu rosto terrivelmente perto do meu. Ela estava lendo por cima do meu ombro. De perto, percebi o quanto essa garota era fofa. Suas feições eram bem definidas.
Meu memorando, aliás estava escrito em japonês.
— Diga-me o que você está escrevendo!
Ela estava sendo autoritária, mas eu não tinha motivos para não responder.
— Estou anotando nomes e preços dos produtos.
— E o que vai fazer com essa informação?!
— Comparar os preços do mercado é algo essencial em jogos online — respondi.
— Online… o que diabos é isso?
Ela não conseguiria entender mesmo se eu explicasse, então apontei para um dos produtos em exibição. Era um acessório pequeno.
— Bem, olhe para isso. Na outra barraca custava cinco moedas de ouro, mas aqui está sendo vendido por quatro moedas de ouro e cinco de prata.
O proprietário me interrompeu:
— Ah, Jovem Mestre, você tem um bom olho! Nossas coisas são baratas, claro!
Ignorei o velho e voltei o olhar para Eris.
— Então, se você convencesse esse vendedor a te entregar isso por três moedas e tentasse vender na outra loja, quanto ganharia?
— Huh! Uh, cinco menos três mais quatro… Seis moedas de ouro!
Que tipo de cálculo foi esse?
— Bzzt, errado. A resposta correta é uma moeda de ouro.
— E-eu já sabia! — Ela se virou fazendo beicinho.
— Sério?
— E-então se você tivesse dez moedas de ouro desde o começo, ficaria com onze, certo?
Ah, ei! Ela realmente conseguiu pela primeira vez! Espera… não, ela só somou um. Ah, bem… Seria melhor apenas fazer um elogio e encorajá-la, especialmente com o tanto de orgulho que Eris tinha.
— Ah, dessa vez você acertou! Uau, como você é inteligente!
— Hmph, como se houvesse alguma dúvida sobre isso.
O velho ouviu nossa conversa com uma expressão amarga no rosto.
— Jovem Mestre, isso é chamado de revenda. Não é algo muito bem visto, então é melhor que não tente.
— Claro. Se eu quisesse ganhar dinheiro, iria até a outra loja e diria que você está vendendo isso por quatro moedas de ouro. Esse tipo de informação deve ser o suficiente para me render um cobre grande, não é?
E a expressão dele azedou. O homem olhou para trás, na direção de Ghislaine, pedindo por ajuda, mas ela estava ouvindo tudo com interesse. O velho recuou e suspirou, parecendo perceber que qualquer coisa que dissesse seria inútil.
Desculpa, falei, mas só na minha cabeça. Esperava que ele não ficasse muito tempo assim. Eu só estava brincando.
— De qualquer forma — falei —, mesmo se você não quiser comprar nada, ainda é importante saber o preço das coisas.
— E o que você vai fazer com esse conhecimento?!
— Você pode, por exemplo, calcular quanto vai gastar sem nem mesmo ir até uma loja.
— E como isso seria supostamente útil?!
Como isso seria supostamente… Bem, se você for revender, então pode descobrir quanto… Espera.
Não, em momentos assim é melhor deixar tudo com Ghislaine.
— Como isso seria supostamente útil, Ghislaine?
— Não faço ideia.
Espera, sério? Ela não sabe? Pensei que soubesse. Bem, tanto faz. De qualquer forma, não é como se isso fosse uma lição.
— Certo então, talvez, no final das contas não seja útil. — A informação era para uso próprio, de qualquer forma. Tudo bem se elas não entendiam. Sempre que estivesse em um mercado, a primeira coisa a se fazer seria comparar preços. Foi assim que sempre fiz as coisas nos jogos online, e não havia qualquer razão para mudar isso. Apesar do fato de que eu nunca tinha feito isso antes, ao menos nesta vida, e realmente não estava certo sobre a necessidade desse tipo de coisa.
— Se você não sabe se é útil ou não, por que faz?!
— Porque acho que pode ser útil.
Seu rosto deixou claro que não gostou da minha resposta.
Não é como se eu pudesse responder todas as suas perguntas. Tente pensar um pouco.
— Pense um pouco nisso — falei. — Se achar que é útil, faça o mesmo. Se achar que é inútil, então pode rir.
— Então escolho rir!
— Ahahahaha.
— E por que diabos você está rindo?!
Ela me deu um soco. Que merda…
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Demos uma volta pela área e acabei de fazer todas as minhas anotações. Dispensei as lojas chiques, já que sabia que seria tudo muito caro. Em vez disso, fomos para a parte externa da cidade. Depois de andar um pouco, os produtos das lojas mudaram completamente. Os preços também tiveram uma queda dramática, de cinco moedas de ouro para apenas uma.
Ainda está caro. Não posso comprar nada, pensei.
Havia mais pessoas nesse local, variando de nobres a aventureiras, de acordo com suas aparências. Até os donos das lojas pareciam mais animados enquanto faziam propagandas de seus produtos. Talvez porque uma moeda de ouro fosse algo mais acessível.
Uma loja chamou minha atenção enquanto eu fazia anotações; uma livraria, para ser mais exato. Decidi dar uma olhada.
Estava deserta, igual à seção voltada a adultos de uma livraria. Havia duas estantes de livros com vários volumes de mesmo título alinhados em grupos de dois ou três. Cada livro custava cerca de uma moeda de ouro.
No espaço restante havia uma caixa trancada com vários livros dentro. Eram cerca de oito peças de ouro por volume, sendo que o mais caro custava dez peças de ouro. São os destaques da loja, pensei.
— Hmpf. — O dono da loja olhou para mim e bufou, parecia ter descartado meu potencial como cliente. Seu olhar revelou suspeita quando comecei a anotar todos os títulos que vi em suas prateleiras. Provavelmente ficou preocupado comigo tentando copiar o conteúdo dos livros. Me afastei das estantes, esperando que isso passasse uma mensagem como: “Não se preocupe! Não estou tocando em seus livros! Não vou copiar nada!”
Olhei para dentro da caixa trancada e notei um livro que já tinha visto antes.
— Dicionário de Plantas, dez moedas de ouro — falei, lendo em voz alta.
Era o mesmo livro que Zenith me deu no meu quinto aniversário.
Caro, pensei. Se uma moeda de ouro fosse algo como dez mil ienes, isso significava que esse livro custaria mais de setenta mil ienes! Minha mãe devia ter exagerado ao pagar tanto por isso.
— Hm.
Parecia que dicionários eram coisas realmente caras. Eu adoraria ler Magia de Convocação de Sig, mas custava dez moedas de ouro. Com um salário de duas moedas de prata por mês, eu não teria como pagar por isso.
O livro mais caro era o Cerimônias da Corte Imperial do Palácio Real de Asura. Eu definitivamente não precisava disso.
— O que você está olhando com tanto interesse? — Era Eris falando. Aparentemente, em algum momento, ela me seguiu para dentro do local. Devia ter notado que fiquei olhando para os títulos dos livros sem tomar nenhuma nota.
— Ah, nada, só estava pensando que não há nada de muito interessante aqui.
— Ah, verdade, ouvi dizer que você gosta de livros, não é? — perguntou Eris.
— Quem te falou isso?
— Meu pai!
Philip, hein? Bem, era esperado, já que pedi até para me mostrar a biblioteca.
— S-se você realmente quer um, eu poderia comprar — disse ela.
— Você fala isso, mas tem algum dinheiro?
— Meu avô vai pagar!
É o que suspeitei. Ela só iria deixar que Sauros voltasse a mimá-la. Eu precisava fazer Eris entender que dinheiro era um recurso limitado.
Mas eu quero aquele livro… Realmente quero ele, pensei.
— Não preciso disso.
— E por que não?! — E voltou a fazer beicinho. Era a expressão que fazia sempre que ficava de mau humor. Se seu humor piorasse, seu rosto tomaria a feição de um demônio e ela me socaria. Justo agora, eu ainda estava seguro, já que ela não tinha razão nenhuma.
— Você não pode sair gastando dinheiro com qualquer coisa que quiser.
— Por que não posso? — Ela franziu as sobrancelhas. Estava ficando cada vez mais irritada, já que não entendia o que acontecia. Eu quase pude ver sua barra de raiva enchendo.
Qual seria a melhor forma de explicar isso? Haveria algum sentido em ensinar algo como o valor do dinheiro para a criança de uma família nobre? Bem, não custaria nada tentar.
— Você sabe quanto eu ganho por mês para te ensinar?
— Umas cinco peças de ouro?
— Duas peças de prata — falei.
— Mas isso é muito pouco! — gritou ela.
O dono da loja fechou a cara, aparentemente aborrecido com o barulho.
Desculpe, pensei.
— Não, esse é um pagamento justo, levando em conta que ainda sou jovem e não tenho nenhuma qualificação. —Além disso, também pagariam minhas despesas para estudar na Universidade de Magia.
— M-mas Ghislaine ganha cinco moedas de ouro! E você também está me ensinando muitas coisas!
— Mas Ghislaine tem qualificações, e também tem o título de Rei da Espada. E ela trabalha como sua guarda-costas. Faz sentido que receba mais. — Além disso, uma parte de seu salário elevado era graças às tradições desagradáveis da família Boreas Greyrat. Eles pareciam dar um tratamento especial para o tipo fera do sexo feminino.
— E-então, e eu?
— Você é ruim com magia e com esgrima, não tem nenhuma qualificação, não importa o quanto seu pagamento estivesse acima da média, uma moeda de ouro já seria um enorme exagero. — Bem, e ela também não tinha ganho nenhuma moeda de ouro para poder gastar.
— Grr…
— Se quiser comprar algo para alguém, faça isso assim que tiver dinheiro para pagar pelas coisas.
— Certo, entendi. — Ela tinha um olhar de derrota, algo incomum, no rosto. Esse tipo de lição geralmente entrava por um de seus ouvidos e saía pelo outro.
— Bom, vou ver se consigo convencer o Philip a, pelo menos, te dar algum dinheiro para gastar da próxima vez.
— Sério?! — Eris ergueu a cabeça. Eu podia quase sentir seu medidor de afeição aumentando.
Bem, comprar o que ela quisesse sem deixar que se virasse com dinheiro estava apenas fazendo mal à menina. Seria melhor dar um pouco de dinheiro para Eris e deixá-la aprender sobre como usá-lo.
Anotei o nome daquele livro que chamou minha atenção e saímos da loja. Depois desse dia, descobri o que queria comprar e qual era o preço das coisas.
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O céu estava com uma bela vista, uma mistura de vermelho e laranja, enquanto voltávamos para casa. Parecia que o pôr do sol não mudava, não importa em que mundo seja. Assim que pensei nisso, olhei para cima, só para ver um castelo flutuante. Ele pairava entre as nuvens, estava escondido, mas estava lá.
— Uau! — Surpreso, apontei para cima. Aqueles ao meu redor deram uma olhada para cima, só para demonstrar a falta de interesse na mesma hora.
Hã? Eles não podem ver isso? Só eu que consigo? Só eu estou vendo Laputa, o Castelo no Céu?
Mentiram para mim?
— É sua primeira vez vendo isso? É a fortaleza flutuante de Perugius, o Rei Dragão Blindado – explicou Ghislaine.
A informação chegou um pouco tarde, mas antes tarde do que nunca, Ryuji… digo, Ghislaine!
Enfim, uma fortaleza flutuante, hein? Incrível.
— E Perugius é…?
— Você deve saber disso, não?
Eu senti como se já tivesse visto esse nome antes, mas não lembrava onde.
— Quem que ele é mesmo?
Ghislaine parecia ligeiramente surpresa enquanto tentava encontrar as palavras adequadas para explicar. Mas Eris não perdeu a oportunidade. Ela disparou até a minha frente e cruzou os braços sobre os peitos, com as pernas bem firmes e os pés afastados.
— Permita-me ensinar!
— Por favor, ensine-me.
— Muito bem! — Ela inflou de orgulho. — Perugius é um dos três heróis lendários que derrotaram o Deus Demônio Laplace!
O Deus Demônio Laplace. Agora, onde eu tinha ouvido esse nome…?
— Ele é incrivelmente forte. Comandou doze homens e, com sua fortaleza flutuante, marchou em direção à fortaleza de Laplace!
— Ah, é? Que incrível — falei.
— Não é?!
— Você sabe muito sobre isso, Jovem Senhora. Obrigado.
— Eheheh. — Ela gargalhou. — Você ainda tem muito a aprender, Rudeus!
Eu sabia que se voltasse a questioná-la levaria outro soco.
Em vez disso, pesquisei sobre o assunto quando voltamos à mansão. Quando perguntei sobre essas coisas para Philip, ele disse que havia um livro falando sobre o assunto em algum lugar. Antes que eu pudesse pedir, o homem já tinha instruído o mordomo para pegar o volume para mim.
Lamentei por tê-lo feito passar por tantos problemas, já que o livro era um que eu tinha visto em minha casa, lá em Buena Village: A Lenda de Perugius. Pensei que não passava de um conto de fadas, mas, afinal, parecia ser um fato histórico.
Seu conteúdo poderia ser resumido da seguinte forma:
Perugius, o Rei Dragão Blindado. Ninguém sabia onde ele nasceu ou como foi criado. O registro mais antigo era sobre sua juventude, antes de ficar famoso, quando o Deus Dragão, Urupen, o arrastou para a Guilda dos Aventureiros.
Ele mostrou tanta força que, em algum momento, o Deus Dragão, Urupen, o Deus do Norte, Kalman, e os Imperadores Gêmeos, Migus e Gumis, formaram um grupo com ele. Esmagaram todos os oponentes que encontraram.
Em parte, graças ao seu vínculo fraterno com Urupen, Perugius entrou para a história como o Dragão Blindado, e também como um dos cinco comandantes do Deus Dragão.
Ele exibiu a magnificência de seus poderes na batalha contra Laplace. Perugius fez uso de toda sua força, usando magia de invocação para chamar doze familiares: Vazio, Escuridão, Brilho, Desastre, Vida, Terremoto Violento, Tempo, Trovão Estrondoso, Destruição, Compreensão, Insanidade e Redenção. Esses eram os nomes de seus familiares mais fortes, aqueles que manipulava pessoalmente. Com eles, Perugius restaurou a fortaleza flutuante Destruidora do Caos e partiu para a batalha final contra Laplace. Entretanto, mesmo todo esse poder não foi o suficiente para destruir o Deus Demônio, forçando Perugius a se contentar com seu selamento.
Mesmo assim, a força e aparência imponente da Destruidora do Caos no céu foi o bastante para que as pessoas o chamasse de Rei Dragão Blindado.
O Reino de Asura o agradeceu por suas realizações e, com o fim da guerra, proclamou o início de uma nova era. A era atual, a Era do Dragão Blindado. (Agora era o ano 414 da Era do Dragão Blindado.)
O Rei Dragão Blindado Perugius não governava ou reinava sobre nada, simplesmente pairava sobre o mundo em sua fortaleza flutuante Destruidora do Caos. Ninguém conhecia suas verdadeiras intenções.
Mas, mais importante, isso foi há 400 anos. O cara ainda estava vivo? Já não era apenas um castelo vazio flutuando no céu? Dito isso, se houvesse uma oportunidade de passar por lá, eu ficaria bastante animado.
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No dia seguinte, Eris estava com humor completamente horrendo. Talvez tenha sido por finalmente ter sentido o gostinho de um dia inteiro de liberdade, ou talvez por nunca ter tido permissão para ir além das lojas mais chiques, pelo menos até o momento. De qualquer forma, deixá-la ganhar um dia de folga definitivamente foi uma boa ideia.
— Exijo que me leve de novo! — Ela cruzou os braços e plantou as pernas firmemente, ligeiramente afastadas.
Era a mesma pose de sempre, mas, desta vez, suas bochechas estavam tingidas de vermelho. Que tipo de rubor era esse? Irritação ou vergonha…? Hum? Talvez ela estivesse demonstrando timidez? Não, sem chances. Era a Eris.
— Hum.. — Eu hesitei em responder.
Ela rangeu os dentes. Então pegou um punhado de cabelo com as duas mãos e jogou os quadris para trás.
— Por favor, me leve com você, meew…
— Sim, eu levo! Vou te levar comigo, então pare com isso! — Eu exigi em pânico. Com certeza foi algo fofo, admito, mas não era bom para o meu coração. Parecia que o carma ruim se acumulava sempre que ela fazia isso. Carma ruim que resultaria em um soco na minha cara.
— Hmph! Está bem se você entendeu! — Eris soltou o cabelo esvoaçante e voltou para seu assento antes que as mechas na altura de seu quadril tivessem voltado ao lugar. — Agora! Continue com a lição!
— Parece que hoje você está motivada.
— Porque eu sei que você vai dizer que não vai me levar se eu não me comportar!
D-desde quando ela ficou tão esperta?!
— I-isso mesmo, vou te levar, mas só se você se comportar! — Impressionado, comecei a última lição do dia.
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NOME: Eris Boreas Greyrat. | |
OCUPAÇÃO: Neta do lorde suserano de Fittoa. | |
PERSONALIDADE: Um pouco violenta. | |
FAZ: Escuta o que as pessoas têm a dizer. | |
LEITURA/ESCRITA: Boa na leitura. | |
ARITMÉTICA: Consegue fazer a subtração de números grandes. | |
MAGIA: Estudando o básico. | |
ESGRIMA: Estilo Deus da Espada – Nível Iniciante. | |
ETIQUETA: Pode fazer a saudação ao estilo Boreas. | |
PESSOAS DE QUEM GOSTA: Avô, Ghislaine. |
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