Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado

Mushoku Tensei: Reencarnação do Desempregado – Vol. 01 – Cap. 08 – Distraído

 


 

Completei seis anos. Minha vida cotidiana não mudou muito. Durante as manhãs, me esforçava com meu treinamento na arte da espada. À tarde, se tivesse algum tempo, fazia algum trabalho de campo ou praticava magia debaixo da árvore na colina.

Recentemente, estava experimentando maneiras de incrementar minha arte da espada com magia. Usava uma rajada de vento para acelerar meu balanço, transformava o chão sob os pés do oponente em lama e deixava-o atolado, e assim por diante.

Algumas pessoas podem até pensar que meu manejo de espada não estava melhorando, já que passava o tempo todo fazendo esses pequenos truques, mas eu discordo. Havia duas maneiras de melhorar em batalhas: continuar praticando até melhorar ou encontrar variadas maneiras de derrotar o oponente, mesmo com habilidades inferiores.

Agora, estava pensando apenas na segunda opção. Derrotar Paul era o desafio em que estava focado. Ele era um cara durão. Poderia até estar longe de ser um excelente pai, mas quando se tratando de ser um espadachim, era de primeira classe. Se focasse naquela primeira opção e aperfeiçoasse meu físico de uma maneira absurda, tinha certeza de que algum dia poderia derrotá-lo.

Entretanto, eu tinha só seis anos. Em dez anos, teria dezesseis e Paul teria trinta e cinco. Cinco anos após isso, eu teria vinte e um e ele quarenta. Então, sim, algum dia poderia derrotá-lo, mas a essa altura já teria perdido todo o significado. Derrotar alguém muito mais velho do que você acabaria sendo rebatido com coisas como: “Ah, se isso fosse nos meus velhos tempos…”

Derrotar Paul enquanto ele ainda estava no seu auge – isso sim significaria algo. Agora, ele tinha vinte e cinco anos. Podia até ter se aposentado das linhas de frente, mas atualmente tinha o melhor dos físicos. Queria vencê-lo ao menos uma vez nos próximos cinco anos. Com a espada, se possível, mas se isso se provasse inviável, que fosse ao menos em uma situação de combate corpo-a-corpo onde pudesse usar minha magia como uma opção.

Era isso que estava na minha mente quando fui treinar naquele dia.

 

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Debaixo da árvore no topo da colina, Sylph apareceu, assim como costumava fazer

— Desculpe — disse ele —, espero não ter feito você esperar.

— Nem um pouco — respondi. — Acabei de chegar. — É assim que começamos: parecendo até um casal, onde um esperaria pelo outro até começarmos.

Quando começávamos a treinar, Somal e aqueles outros punkzinhos locais sempre apareciam. Às vezes, crianças mais velhas – com uma idade próxima do início da adolescência – apareceriam juntas, mas eu as expulsava. Sempre que fazia isso, a mãe de Somal passava por minha casa para gritar comigo.

Foi então que descobri que a mãe de Somal não se importava tanto com brigas de crianças quanto Paul. Ela usava as discussões entre as crianças pequenas para ir vê-lo. Que absurdo. Uma vez até foi onde estávamos, puxando Somal pela orelha, e ele não parecia muito satisfeito com aquilo. Então, sim, ele não estava fingindo se machucar. Sinto muito por ter duvidado.

Acho que vieram até onde estávamos umas cinco vezes. Então, um dia, pararam de aparecer na nossa vista. De vez em quando, nós os avistávamos brincando bem longe, ou passávamos um pelo outro, mas ninguém falava nada. Pelo visto, chegamos ao acordo de que um ignoraria o outro.

Com isso, o problema parecia estar resolvido, e a árvore no topo da colina virou nosso território

 

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Enfim, vamos falar menos sobre os punkzinhos e mais sobre Sylph.

O que chamamos de “brincar” era, de fato, treinamento mágico. Se Sylph melhorasse seus feitiços, poderia se defender dos valentões mesmo sozinho.

No começo, só conseguia lançar cinco ou seis feitiços básicos antes de ficar esgotado, mas um ano se passou e suas reservas mágicas aumentaram significativamente. Agora, poderia treinar por metade do dia sem qualquer problema.

Eu já tinha perdido a fé naquela história de que as reservas mágicas das pessoas possuíam limites.

Ainda assim, os feitiços por si só exigiam esforço. Sylph era especialmente ruim naqueles de fogo. Ele era capaz de lidar com magia de água e vento, mas a de fogo era seu ponto fraco. Eu me perguntava o porquê. Era por ter sangue élfico?

Não, isso não fazia sentido Durante minhas aulas com Roxy, aprendi sobre as “escolas de afinidade” e “escolas de oposição”. Como sugerido pelos nomes, algumas pessoas tinham mais afinidade por certas escolas de magia, enquanto outras sofriam com elas.

Uma vez perguntei ao Sylph se ele tinha medo de fogo. Ele balançou a cabeça afirmando que não, mas me mostrou a palma da mão, onde tinha uma enorme cicatriz de queimadura. Quando tinha cerca de três anos, pegou em um espeto de metal na lareira enquanto seus pais não estavam olhando.

— Não tenho mais medo — disse, mas aposto que ainda tinha algum tipo de medo instintivo.

Experiências assim tinham um impacto e fortificavam a escola de oposição. Para os anões, por exemplo, a água normalmente se manifestava como escola de oposição. Eles viviam perto das montanhas e passavam a infância toda brincando na terra antes de seguir os passos de seus pais e aprenderem ferraria, mineração e coisas do tipo, o que os tornava naturalmente mais adeptos às magias de terra e fogo. Nas montanhas, havia também o risco de gêiseres de vapor repentinamente irromperem, causando queimaduras, ou enormes chuvas passando e levando consigo enormes enchentes, por isso era fácil para a água se tornar uma escola de oposição. Então, sim, não havia relação direta entre magia e sua raça; era mais algo ligado ao ambiente.

Aliás, eu não tinha escolas de oposição, já que fui criado com muito conforto.

Realmente não seria necessário fogo para criar água morna ou uma brisa quente, mas como tentar explicar esse conceito seria um pé no saco, tentei ajudar Sylph na prática com fogo. Ele não tinha nada a perder se pudesse usar isso sempre que necessário. Por exemplo, o calor poderia ser usado para erradicar a Salmonella, portanto, se não quisesse morrer de intoxicação alimentar, precisaria de ao menos um pouco de fogo. Embora eu imagine que até a magia de desintoxicação de nível Iniciante seria o bastante para neutralizar a maioria dos venenos.

Apesar de seu sofrimento, Sylph nunca se queixou durante o treinamento, provavelmente porque queria reforçar suas alegações de não ter medo. Parecia tão fofo segurando a minha varinha (a que ganhei de Roxy) em uma mão e meu livro de mágica (que trouxe de casa) na outra, seu rosto ficava rígido de tanta concentração enquanto entoava cânticos. E se um garoto como eu parasse para pensar nisso, sim, ele seria um garanhão quando crescesse.

O coração de um pai é um coração ciumento…

Essas palavras soaram claramente na minha cabeça, foi como se tivessem sido ditas em voz alta, mas logo balancei a cabeça e expulsei esse pensamento. Não era ciúme.

— Ei, Rudy? — chamou Sylph. — Que palavra é essa?

Sua voz baniu todos os sons na minha cabeça. Ele estava olhando para mim, apontando para uma das páginas de Um Livro de Magia. E aquele olhar que estava me dando era poderoso. Eu só queria abraçá-lo e puxá-lo para um beijo. Mas consegui resistir a esse desejo.

— Isso é “avalanche”.

— E o que significa?

— É quando enormes quantidades de neve se acumulam em uma montanha, ela não suporta o próprio peso e tudo desmorona. Sabe quando a neve cai do telhado? É como uma versão bem maior daquilo.

— Ah, uau. Parece incrível. Você já viu uma?

— Uma avalanche? Claro que… não. — Pelo menos não em outro lugar além da televisão.

Sylph me fez ler o que estava no Um Livro de Magia. Isso também fazia parte de suas aulas de leitura e escrita. Não faria mal um pouco de aprendizagem na área da alfabetização. Não havia feitiço neste mundo que poderia cuidar disso por você. Quanto menor a taxa de alfabetização, mais valiosa é a capacidade de ler.

— Eu consegui! — gritou Sylph enquanto aplaudia. Ele conseguiu lançar o feitiço de água de nível Intermediário, Coluna de Gelo. Isso fazia que um mastro de água brotasse do chão, brilhando intensamente à luz do sol.

— Ei, você está melhorando bastante — disse.

— Uhum! — respondeu Sylph, e então inclinou a cabeça. — Mas você também faz coisas que não estão escritas aqui, né?

— Hã? — Levei alguns momentos para perceber que ele estava falando sobre o que eu tinha feito para criar a água morna. Folheei o Um Livro de Magia e então apontei para dois parágrafos. — Não, está escrito aqui. Cachoeira e Mão Quente.

— Hm?

— Usei os dois ao mesmo tempo.

— Hein? — Sylph inclinou ainda mais a cabeça. — Como você pode entoar dois encantamentos ao mesmo tempo?

Merda. Eu me entreguei. Ele estava certo, claro, seria impossível entoar dois encantamentos ao mesmo tempo.

— Uh, bom, primeiro cria a Cachoeira sem fazer o encantamento e usa a Mão Quente para aquecê-la. Acho que você pode entoar um dos feitiços, se quiser, e também pode colocar a água em um balde e aquecer ela depois.

Então demonstrei como seria lançar os dois feitiços sem encantamentos. Sylph me observou com os olhos arregalados. Lançar feitiços silenciosos era claramente uma técnica de alto nível neste mundo. Roxy não era capaz de fazer isso, e ouvi dizer que apenas um dos instrutores da Universidade de Magia conseguia algo assim. Sylph se daria melhor tentando usar a Magia Combinada do que tentando a rota de ocultar os encantamentos. Achei que isso permitiria que obtivesse efeitos bem semelhantes, mesmo sem ter que fazer algo tão difícil.

— Ei, me ensina a fazer isso — disse Sylph.

— Fazer o que?

— Como fazer magia em falar nada.

Pelo visto, Sylph tinha uma opinião bem diferente da minha. Talvez tenha visto a capacidade de fazer duas coisas ao mesmo tempo como algo melhor do que alternar entre dois feitiços?

Hmm. Bem, se ensinar isso acabasse se provando inútil, ele sempre poderia usar a Magia Combinada, de qualquer forma.

— Certo. Então, sabe a sensação de quando está entoando um feitiço? Essa sensação que passa por todo o seu corpo e se acumula na ponta dos dedos? Tente fazer isso sem falar o encantamento. Depois que sentir que reuniu a energia mágica, deixe que o feitiço que quer lançar vá à sua mente e depois force-o pelas mãos. Tente fazer algo assim. Comece com algo tipo a Bola de Água. — Eu esperava que isso fosse o suficiente, já que não era exatamente bom em explicar as coisas.

Sylph fechou os olhos e começou a murmurar e balbuciar enquanto fazia uma dança estranha e se contorcia. Tentar transmitir algo que só tinha sentido era realmente difícil. Encantamentos silenciosos eram algo que se fazia na cabeça; pessoas diferentes provavelmente tinham métodos diferentes para alcançar o objetivo.

Achando que os fundamentos eram importantes, Sylph treinou os mesmos feitiços durante um ano inteiro. Talvez quanto mais usasse eles, mais difícil fosse fazer sem nenhum cântico. Seria como tentar usar a mão esquerda para algo que sempre fez com a direita; de repente, pedindo para trocar, seria mais fácil falar do que fazer.

— Eu consegui! Rudy, eu consegui!

Certo. Talvez não, então.

Sylph sorriu com orgulho após conseguir conjurar uma série de Bolas de Água. Ele já usava esse encantamento antes, mas por apenas um ano, suponho. Imaginei que foi como tirar as rodinhas da bicicleta. Talvez fosse uma questão de perspicácia infantil? Ou será que Sylph tinha talento inato?

— Boa! Agora, tente lançar os feitiços que já aprendeu até agora, mas sem usar encantamentos.

— Certo!

Além disso, se ele pudesse pular a parte do encantamento, seria mais fácil ensiná-lo. Eu seria capaz de explicar como fazia as coisas.

E então senti algumas gotas de chuva caindo.

— Hum? — Olhei para cima e vi que, em algum momento, o céu tinha ficado todo escuro, cheio de nuvens de chuva. Um momento depois, ela começou a cair. Normalmente, eu olhava para o céu para garantir que chegaríamos em casa antes da chuva, mas dessa vez fiquei distraído com o aprendizado de Sylph e seu uso de feitiços silenciosos, e acabei esquecendo disso.

— Ah, uau. Está chovendo bastante — falei.

— Rudy, eu sei que você pode fazer chover, mas também consegue fazer isso parar?

— Consigo, mas já estamos encharcados, e também, sem chuva, as plantas não vão crescer. Faço questão de não influenciar no clima, a menos que isso fosse causar problemas. — Nós já estávamos correndo nesse momento; Como a casa de Sylph ficava muito longe, fomos para a propriedade dos Greyrat.

 

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— Estou em casa — gritei.

— Uh, o-olá. — Acrescentou Sylph.

Nossa empregada, Lilia, estava parada do lado de dentro, esperando com um pano bem grande em mãos

— Bem-vindo de volta, jovem Mestre Rudeus, e seu… amigo — disse. — Já esquentei um pouco de água para vocês. Banhem e se sequem no segundo andar, para não pegarem um resfriado. O senhor e a dama da casa voltarão em breve, então vou me preparar para recebê-los. Vocês ficarão bem por conta própria?

— Sim, vou ficar bem — disse. Lilia devia ter visto a chuva e esperava que eu voltasse para casa encharcado. Ela era uma mulher de poucas palavras e não conversava muito comigo, mas era uma ótima empregada. Não precisava explicar nada; ela deu uma olhada no rosto de Sylph, foi para dentro de casa e voltou com outro pano grande para ele.

Nós tiramos nossos sapatos, depois secamos a cabeça e os pés descalços antes de subir as escadas. Ao entrar no meu quarto, vi que um balde cheio de água morna fora preparado. Neste mundo, não tínhamos chuveiros ou banheiras, então era assim que nos limpávamos. De acordo com Roxy, existiam fontes termais onde as pessoas podiam tomar banho, mas como alguém que não era muito chegado em banhos, esse método era perfeito para mim.

Tirei tudo, até ficar completamente nu, e então vi Sylph se remexendo sem jeito, seu rosto estava brilhando de tão vermelho.

— Qual é o problema? — perguntei. — Você precisa tirar a roupa ou vai ficar resfriado.

— Hã? Ah, s-sim… — Mas ainda assim ele não se moveu.

Ele era tímido demais para ficar pelado na frente de alguém? Ou será que nunca tinha se despido sozinho antes? Digo, ele tinha só seis anos.

— Aqui — falei —, levanta as duas mãos.

— Hum, certo. — Ajudei Sylph a erguer as mãos acima da cabeça, depois tirei seu casaco ensopado, expondo sua pele branca e a falta de definição muscular.

Depois avancei para suas calças, mas ele agarrou meu braço.

— N-não, isso não — murmurou. Ele estava com vergonha? Quando pequeno eu também era assim. No jardim de infância, tínhamos que ficar nus e tomar banho antes de entrar na piscina, mas sempre era um pouco constrangedor ficar exposto a outras pessoas, mesmo se fossem da mesma faixa etária.

De qualquer forma, a mão de Sylph estava congelando. Ele realmente ficaria resfriado se não nos apressássemos. Peguei suas calças e puxei para baixo com força.

— E-ei, para com isso… — murmurou, batendo na minha cabeça enquanto segurava suas roupas de baixo folgadas.

Olhei para cima e ele estava me encarando fixamente, com lágrimas nos olhos.

— Prometo que não vou rir. — Afirmei.

— N-não é isso…!

Ele estava sendo bastante obstinado. Durante todo o tempo que nos conhecemos, Sylph nunca se recusou tão firmemente a fazer alguma coisa. Fiquei até um pouco chocado. Será que os elfos tinham alguma regra sobre não serem vistos nus? Se fosse esse o caso, tentar tirar suas roupas à força seria uma péssima decisão.

— Certo, certo — falei. — Apenas certifique-se de se trocar quando terminarmos. Cuecas molhadas são bem nojentas e, quando esfriar, você pode ficar com dor de barriga.

Tirei minhas mãos e Sylph balançou a cabeça enquanto lacrimejava.

— Mmf… — Ele era tão fofo. Queria me aproximar ainda mais desse garoto adorável.

E enquanto pensava nisso, meu lado travesso subitamente veio à tona. Afinal, não era justo que eu fosse o único pelado.

— Te peguei! — Agarrei sua roupa de baixo com as mãos e puxei de uma só vez. Venha a mim, Pêndulo Zenra!

 

 

 

Sylph soltou um grito. Um momento depois ele se agachou e tentou esconder seu corpo de vista – mas, naquele momento, o que brilhou diante de meus olhos não era a espada curta e pura com a qual sonhei; nem, naturalmente, uma espada escura e ameaçadora.

Não, o que estava lá – bem, o que não estava lá – foi, bom, substituído por algo que não devia estar lá. Era algo que já vi diversas vezes na minha vida passada, sempre pela tela do meu computador. Às vezes aparecia coberto por um mosaico pixelado, outras vezes era sem censura. Eu sempre ficava olhando e pensando no quanto queria tocar na coisa real algum dia, e inevitavelmente acabava precisando de um punhado de lenços de papel.

Era uma daquelas coisa. Era o que Sylph tinha.

Ele… era ela.

Minha visão ficou turva. O que eu acabei de fazer não foi correto.

— Rudeus, o que você está fazendo?

Retomando os sentidos vi Paul parado ali. Quando foi que chegou em casa? Entrou no quarto porque ouviu Sylph gritando?

Fiquei petrificado; o mesmo aconteceu com Paul. E lá estava Sylph, curvada e encolhida, nua e chorando. E lá estava eu também, igualmente nu, com a roupa de baixo dela na mão. Não tinha como escapar dessa.

Estava chovendo lá fora, mas o som parecia muito distante.

 

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Ponto de Vista do Paul

Cheguei em casa após o trabalho e encontrei meu filho atacando a garotinha com quem sempre gostou de passar o tempo.

Eu queria bater nele ali mesmo, mas consegui me conter. Talvez fosse mais uma ocasião com circunstâncias desconhecidas. Não queria repetir a falha de antes. Então decidi colocar a garota, que chorava sem parar, sob os cuidados de minha esposa e da empregada, enquanto ajudava meu filho a se limpar e a se secar.

— Por que você estava fazendo aquilo? — perguntei.

— Sinto muito.

Quando o repreendi no passado, parecia completamente contra se desculpar, mas agora as palavras vieram à tona e ele ficou manso, encolhendo-se como se fosse espinafre refogado.

— Eu perguntei o motivo — falei.

— Bem, ela estava encharcada. Achei que precisava tirar tudo.

— Mas ela não estava gostando, não é?

— Não…

— Eu disse para você ser legal com as garotas, não disse?

— Disse. Sinto muito.

Rudeus não tinha nenhuma desculpa para dar. Gostaria de saber se fui igual na sua idade. Senti que tudo que eu poderia ter dito seriam coisas como: “mas” e “veja só”. Eu dava desculpas para tudo quando era criança. Meu filho era muito mais honesto.

— Bem, suponho que, na sua idade, é natural querer agarrar algumas garotas, mas não pode fazer isso.

— Eu sei. Sinto muito. Não voltarei a fazer isso.

Vendo meu garoto tão abatido fez eu me sentir culpado. Esse gosto por mulheres foi herdado de mim. Quando era pequeno, cheio de vigor em com aquela virilidade juvenil, perseguia as garotas bonitas que chamavam a minha atenção sem parar. Nos dias atuais conseguia ser mais contido, mas realmente nunca consegui me segurar no passado.

Talvez meu filho tenha herdado essa característica.

Claro que um garoto intelectual como ele lutaria contra esses instintos. Como não percebi isso? Mas não – não era hora para simpatia. Precisava orientá-lo de forma adequado com base em minhas experiências.

— Não peça desculpas para mim — falei. — Você precisa pedir desculpas para Sylphiette. Certo?

— Sylph… iette vai me perdoar?

— Você nem sempre é perdoado na mesma hora que pede desculpas. — Com isso, meu garoto pareceu ficar ainda mais desanimado. Pensando bem, ficou claro que ele estava apaixonado pela garota desde o começo. Toda aquela confusão no passado foi por Rudeus decidir protegê-la. E tudo o que ganhou foi um tapa de um velho.

Mesmo depois disso, ficaram brincando juntos quase todos os dias, e meu filho a protegia das outras crianças. Ele tinha que manter tanto seu treinamento com magia quanto com espadas, mas ainda fazia tudo que podia para passar tanto tempo quanto possível com ela. Eram tão próximos que acho que ele até deu a varinha e aquele livro que valorizava mais do que tudo para ela.

Entendi por que ficou tão triste com a possibilidade de que ela pudesse agora odiá-lo.

— Ei, vai ficar tudo bem — falei. — Se até hoje você nunca foi mal com ela, e seu pedido de desculpas for sincero, tenho certeza de que será perdoado.

O rosto do meu filho se iluminou um pouco com isso, mesmo que tenha sido bem pouco mesmo. Ele era um garoto inteligente; estragou tudo dessa vez, mas logo se recuperaria. Mas que inferno, talvez até encontrasse um jeito de contornar isso e conquistar o coração dela. Era uma perspectiva bem promissora e realista.

Rudeus levantou de onde estava, olhou para Sylphiette e disse:

— Sinto muito, Sylphie. Seu cabelo é curto, então o tempo todo pensei que era um garoto!

Sempre pensei em Rudeus como a criança perfeita, mas talvez ele fosse muito mais burro do que imaginei. E foi a primeira vez que pensei em algo assim.

 

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Ponto de vista do Rudeus

Depois de várias desculpas e promessas, fiz com que ela de alguma forma me perdoasse.

Como Sylph era uma garota, pensei em começar a chamá-la de “Sylphie”. Aliás, o nome dela era Sylphiette? Paul olhou para mim, pasmem, indignado por eu confundir uma coisinha tão fofa com um garoto. Mas nunca esperei que ela fosse uma garota.

Suponho que realmente não tive culpa. Quando nos conhecemos, o cabelo dela era mais curto que o meu. Tipo, não era um corte “da moda” ou algo assim, mas também não tão curto para parecer com um monge ou coisa do tipo. E também nunca usava nada que parecesse roupa de garota – só uma camisa simples e uma calça. Se usasse saia, eu não teria cometido um erro desses.

Certo. Eu precisava me acalmar e pensar. Ela sofria bullying por causa da cor do seu cabelo. Talvez fosse por isso que cortou ele tão curto – para não se destacar muito. E se os valentões a perseguissem, sua única opção seria correr tão rápido quanto possível, o que explicaria usar calças, e não saias. A família de Sylphie não parecia particularmente rica, então, depois de conseguir um par de calças para ela, provavelmente não conseguiriam comprar saias também.

Se eu a conhecesse desde os três anos até agora, provavelmente não a confundiria com um garoto. Só pensei que era um garoto bonito por causa de meus próprios preconceitos, não porque ela era um andrógino ou coisa do tipo. Assim…

Não, já chega. Qualquer coisa que eu falasse agora não passaria de desculpas.

Saber que Sylphie era uma garota mudou toda a minha atitude. Vê-la com suas roupas de garoto fazia eu me sentir meio estranho.

— Você é realmente fofa, Sylphie — falei. — Por que não deixa seu cabelo crescer?

— Hã?

Imaginei que seria mais fácil vê-la de forma diferente se ela mudasse a aparência, por isso da sugestão. Sylphie podia odiar seus cabelos, mas essa cor verde-esmeralda ficaria deslumbrante à luz do sol. Definitivamente queria que ela tentasse deixá-lo crescer – e, se possível, gostaria que amarrasse em tranças ou rabo de cavalo.

— Não… — disse ela.

Desde aquele incidente, Sylphie ficou desconfiada de mim. Em particular, evitava todo e qualquer contato físico. Como sempre concordava com tudo que eu propunha, fiquei meio chocado.

— Tudo bem — falei. — Quer praticar um pouco mais de feitiços silenciosos hoje?

— Claro.

Forcei um sorriso para mascarar meus sentimentos. Sylphie era minha única amiga. Pelo menos ainda podíamos brincar juntos. Poderia haver algum constrangimento remanescente, mas pelo menos ainda estávamos juntos.

Por enquanto, disse a mim mesmo, já seria o bastante.

 

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Minhas habilidades, de acordo com os padrões deste mundo, eram as seguintes:

Arte da Espada.

Estilo Deus da Espada: Iniciante, Estilo Deus da Água: Iniciante.

Ataque Mágico.

Fogo: Avançado; Água: Santo; Vento: Avançado; Terra: Avançado.

Magia de Cura.

Cura: Intermediária; Desintoxicação: Iniciante.

A magia de Cura era dividida nos mesmos sete níveis, como de costume, e compreendia quatro escolas: Cura, Proteção, Desintoxicação e Ataque Divino. Mas essas escolas não tinham títulos legais, como Santo do Fogo ou Santo da Água; era simplesmente chamado de mago de Cura do nível Santo, ou mago de Desintoxicação do nível Santo.

Magia de Cura, como indicado pelo nome, era usada para curar ferimentos. Os iniciantes gastariam a maior parte dos esforços para simplesmente fechar alguma ferida, mas era dito que as pessoas no nível Imperial eram capazes de recuperar até membros perdidos. Mas nem mesmo alguém no nível Divino poderia trazer uma criatura morta de volta à vida.

Magia de Desintoxicação ajudava a se livrar de venenos e doenças. Em níveis mais altos, seria possível criar toxinas, antídotos e coisas do tipo. Os feitiços que lidavam com efeitos de estado anormal eram todos de nível Santo ou superior, e aparentemente eram bastante complicados.

A magia de Proteção incluía feitiços para aumentar as defesas e criar barreiras. Em termos simples, era uma forma de magia de apoio. Eu não tinha entendido os detalhes muito bem, mas compreendi que isso incluía coisas como aumentar a velocidade do metabolismo para curar pequenas feridas ou liberar produtos químicos no cérebro para entorpecer a dor. Roxy não podia usar magia desse tipo.

Pelo visto, os feitiços da escola do Ataque Divino eram muito eficazes em causar dano a monstros do tipo fantasma e demônios perversos, mas eram feitiços limitados aos Guerreiros Sacerdotes humanos. Nem a Universidade de Magia ensinava isso. E Roxy também não era capaz de usar magia desse tipo.

Eu nunca tinha visto um fantasma antes, mas pelo visto eles existiam neste mundo, não?

Seria bastante inconveniente não poder lançar um feitiço silencioso sem entender a teoria por trás dele. A magia de Ataque Elemental, por exemplo, era baseada em princípios científicos. Não tinha certeza de quais, se existentes, seriam aplicados a outros tipos de feitiços. Sabia que a magia era como algum tipo de elemento todo-poderoso, mas não sabia como moldá-la para fazer qualquer coisa.

Veja só a psicocinese, por exemplo: a capacidade de fazer objetos flutuarem até sua mão e coisas do tipo. Mesmo que eu achasse que isso fosse possível com magia, não tinha como descobrir a forma para reproduzir tal efeito, já que nunca tive poderes psíquicos.

Ao mesmo tempo, lembrava muito, muito pouco, sobre como as feridas eram curadas, então não achei que seria capaz de fazer magia de cura sem encantamentos. Se tivesse o conhecimento de um médico, aposto que a história seria outra.

Além disso, ao mesmo tempo, tinha certeza de que poderia reproduzir a maioria dos efeitos através de feitiços. Ei, talvez, se tivesse praticado esportes, tivesse me saído melhor com a arte da espada.

Parando para pensar, talvez eu tivesse meio que desperdiçado minha vida passada.

Não. Não foi um total desperdício. Claro, nunca tive um emprego e também não frequentei a escola direito, mas não passava todo o tempo hibernando. Mergulhei em todos os tipos de videogames e hobbies, enquanto todo mundo se ocupava em coisas como estudar ou trabalhar. E todo o conhecimento, experiência e perspectivas que adquiri com aqueles jogos seriam úteis neste mundo.

Ou, bem, ao menos deveriam ser. Mas não estavam sendo, não ainda.

 

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Um dia, estava fora de casa treinando com Paul. Sem querer, acabei soltando um suspiro audível.

Pensei que meu pai ficou bravo por eu estar tão obviamente cansado, mas ele sorriu.

— Hehehe. Qual é o problema, Rudy? — perguntou. — Sentindo-se triste porque Sylphiette não gosta mais de você?

Não era nisso que eu estava pensando. Mas é verdade que Sylphie também estava na minha mente.

— Bem, sim. O treino com espadas não está indo bem e Sylphie está com raiva de mim… é.

Paul sorriu de novo e jogou sua espada de madeira no chão. Ele se inclinou contra ela e olhou direto para mim. Ah, por favor, não me diga que ele está tirando onda com a minha cara…

— Quer alguns conselhos do seu pai?

Não esperava por isso. Pensei um pouco. Paul – meu pai – era um cara popular entre as mulheres. Zenith era definitivamente o que se chamaria de bonita, além disso, havia toda aquela coisa com a Senhora Eto. Às vezes, ele flertava até com Lilia, e o olhos no rosto dela mostravam que não se importava com isso. Ele tinha que ter alguma coisa: alguma maneira de impedir que as garotas o odiassem.

É verdade que Paul fazia mais o tipo de pessoa que agia por intuição, então eu não tinha certeza se o entenderia, mas, bem, talvez pudesse refletir.

— Sim, por favor — falei.

— Hmm. Como devo explicar isso…?

— Devo ir e lamber os pés dela?

— Não, isso… uau, de repente você ficou servil.

— Se você não me disser, vou contar para a minha Mãe que você estava dando em cima da Lilia.

— Esta é uma situação complicada… ei, ei! Você viu aquilo? — balbuciou Paul. — Tá bom, tá bom. Sinto muito por ter agido como o todo poderoso.

Eu só mencionei Lilia para fazer a conversa fluir mais rápido, mas… eles estavam mesmo tendo um caso?

— Ouça, Rudy — disse. — Então, sobre as mulheres…

— Sim?

— Elas gostam de coisas que mostram os homens como fortes, mas também gostam de alguns aspectos mais sensíveis.

— Ahh. — Eu já tinha ouvido isso antes. Tinha algo a ver com instintos maternais ou coisa assim?

— Até agora, você só mostrou seu lado forte para Sylphiette, não foi?

— Foi? Eu não prestei atenção…

— Pense nisso — falou Paul. — Se alguém claramente mais forte do que você viesse com segundas intenções claras, como se sentiria?

— Assustado, não é?

— Isso mesmo. —- Eu só podia supor que ele estava falando sobre o que aconteceu naquele dia – aquele dia que descobri que “ele” era ela. — É por isso que você precisa mostrar seu lado mais fraco também. Use seus pontos fortes ao protegê-la, e ela irá proteger suas fraquezas. É assim que se mantém um relacionamento.

— Ahh! — Isso foi bem simples de entender! Não achei que um cara tão vago quanto Paul fosse capaz de dar uma explicação dessas!

Não podia ser apenas forte, mas também não precisava ser fraco. Somente sendo um pouco de cada coisa é que conseguiria atrair as meninas.

— Mas como mostro meu lado fraco? — perguntei.

— Isso é simples. Você está preocupado agora, não é?

— É.

— Pegue o que está escondendo e compartilhe com Sylphiette. Diga: “Tenho um monte de coisas me desgastando, e você me evitando está me deixando preocupado”, ou então algo do tipo. — Paul mostrou um sorriso largo. Seu olhar foi perturbador. — Se as coisas correrem bem, ela vai entender. Pode até resolver te consolar. Então, anime-se. Você tem uma amiga que fará tudo com você. Alguém que ficaria até feliz com isso.

— Aha! — Agora tinha entendido! — M-mas, espera, e se as coisas não derem certo?

— Se isso acontecer, venha a mim. Vou te ensinar o que fazer depois. — Espera, espera aí, esse era um plano de vários estágios? Que trapaceiro!

— Ah, certo. Entendi. De qualquer forma, eu voltarei!

— Boa sorte — disse Paul, acenando com a mão.

Incapaz de esperar mais, saí correndo. Quando saí, podia jurar que ouvi ele falando mais alguma coisa.

— O que diabos acabei de ensinar para o meu filho de seis anos?

 

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Cheguei ao lugar onde sempre ficávamos, debaixo da árvore, mais cedo do que o normal, já que Sylphie ainda não tinha aparecido. Estava com minha espada de treino, como sempre, mas dessa vez não tinha limpado ela antes de sair, então estava toda suada.

O que devia fazer? Realmente não tinha nada que pudesse ser feito. Em tempos assim, só tinha que fazer alguns exercícios mentais. Girei minha espada enquanto traçava algumas simulações em minha cabeça. Ela já conhecia meus pontos fortes. Agora tinha que mostrar minhas fraquezas. Fraquezas. Como devia fazer isso? Ah, certo – podia deixá-la ver como eu estava me sentindo mal. Mas como? Quando seria a hora certa? Devia apenas falar desde o começo? Pareceria estranho. Devia tentar trabalhar nisso conforme conversássemos? Realmente conseguiria? Não – eu conseguiria.

Pensando nisso enquanto balançava a espada vagamente, devo ter afrouxado o aperto na mão, já que ela acabou escorregando.

— Opa! — Segui o caminho dela enquanto deslizava pelo chão, aterrissando bem aos pés de Sylphie.

Minha mente ficou completamente em branco. Merda! O que devia fazer? O que devia fazer?!

— Qual é o problema, Rudy? — Sylphie estava olhando para mim de olhos arregalados. Mas o que isso significava? Foi porque cheguei perto demais?

— Uhh… hmm… bem… V-você… Você é realmente fofa, e eu, err… queria te ver, mas, uh…

— Não, não isso. O suor.

— Hmff. Ahh… S-suor? O que você quer dizer? — Me aproximei fazendo ela recuar. Como sempre, criou uma distância entre nós dois. Era como se fôssemos os mesmos polos de imãs diferentes.

Suor escorria pela minha testa. Minha respiração começou a se acalmar. Bom.

Abaixei para pegar a espada de madeira, desanimado, depois, fiz uma pose de arrependimento, olhando para longe dela. Deixei meus ombros caírem e soltei um longo suspiro.

— Cara. Sinto que você não gosta mais de mim, Sylphie.

Por alguns minutos o silêncio reinou.

Eu fiz bem? Fiz direito, Paul? Ou devia ter parecido mais vulnerável? Ou fui óbvio demais?

— Ah!

De repente, algo segurou minha mão. A sensação foi quente e suave, e quando olhei, vi que era Sylphie.

Oho! Ela se aproximou. E fazia muito tempo que não se aproximava de mim. Paul! Eu consegui!

— Sabe, Rudy, você tem agido meio estranho ultimamente — disse, com o rosto um pouco triste enquanto falava.

Isso me fez voltar aos sentidos. Digo, ela estava certa. Não precisava disso para eu saber que não estava tratando-a da mesma forma que antes. Do ponto de vista de Sylphie, essa mudança aconteceu completamente do nada. Uma mudança tão repentina quanto aquelas de jovens mulheres que descobriam que o cara com quem se casariam era um ricaço.

Eu não estava agindo assim por gostar. Mas de que outra forma deveria lidar com ela? Não poderia tratá-la da mesma maneira que antes. Não tinha como não ficar nervoso quando perto de uma garota tão bonita assim.

Uma garota jovem e bonita, e ainda por cima com a minha idade. Eu não tinha a menor ideia de como ser amigo de alguém assim.

Se ela fosse um garoto, poderia ter feito proveito das experiências de minha vida passada, de como lidava com meu irmão quando ele era mais novo. Se eu fosse adulto, e Sylphie um pouco mais velha, poderia ter me dado bem usando meu conhecimento sobre simuladores de encontros para adultos. Mas ela era uma garota da minha idade. Além disso, esse não era o tipo de relacionamento que queria com ela. Nós dois éramos jovens demais.

Bem, ao menos por enquanto. Eu definitivamente tinha grandes esperanças para o futuro!

Deixando tudo isso de lado, era uma garota que foi intimidada. Quando sofri bullying, não tive ninguém do meu lado. Então queria estar lá para ela. Menino ou menina – isso não importava. Isso não tinha mudado. Ainda assim, tratá-la da mesma forma era muito difícil. Eu era um garoto e queria estabelecer um bom relacionamento com uma garota bonita.

Mas, tipo, só mais tarde!

Ugh. Simplesmente não sabia o que fazer. Talvez devesse ter perguntado sobre isso para o Paul.

— Sinto muito — disse Sylphie. — Mas, Rudy, eu não te odeio.

— S-Sylphie… — Eu devia estar com um olhar patético no rosto, já que ela até deu uns tapinhas na minha cabeça. Então, Sylphie me mostrou um sorriso lindo e despreocupado. Foi tão maravilhoso.

Fiquei comovido, quase à beira de lágrimas.

Estive claramente errado, mas foi ela quem pediu desculpas. Peguei na mão dela e a segurei firme. O rosto de Sylphie ficou vermelho de surpresa, mesmo enquanto ela olhava para mim e falava:

— Então, você poderia, por favor, agir normalmente? — Aqueles olhos revirados acrescentaram muito peso às suas palavras.

Escondido dentro de mim estava o poder que precisava para tomar essa decisão. E assim fiz.

Isso mesmo. O que ela queria era normalidade. Um relacionamento igual ao que sempre tivemos. Assim, da melhor maneira possível, iria tratá-la normalmente e faria o possível para não a deixar assustada ou perturbada.

Em outras palavras… me tornaria um deles. Bem, supunha que sim.

Era hora de virar um protagonista distraído.

 


 

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Bravo

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