Cheguei aos três anos de idade.
Recentemente tinha aprendido o nome dos meus pais. Meu pai chamava Paul Greyrat. Minha mãe, Zenith Greyrat. E o meu nome era Rudeus Greyrat, o primogênito da família.
Meus pais não se referiam um ao outro pelo primeiro nome, e me chamavam de “Rudy”, então levou algum tempo para descobrir quais eram nossos reais nomes.
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— Nossa, o Rudy realmente ama esse livro, não é? — disse Zenith sorrindo enquanto eu andava com Um Livro de Magia na mão, como já costumava fazer.
Meus pais não pareciam incomodados com a maneira que sempre carregava o livro. Mesmo quando estava comendo, mantinha ele debaixo do braço. Entretanto, fiz questão de nunca ler na frente deles – não porque queria manter meus talentos em segredo, mas simplesmente porque não tinha certeza de quais eram as visões deste mundo a respeito da magia. De volta ao meu velho mundo, por exemplo, a caça às bruxas foi uma coisa – bem, todos sabem, queimaram qualquer suspeito de bruxaria por heresia.
Claro, considerando que meu livro de magia era um guia prático, a magia provavelmente não era considerada heresia neste mundo, mas isso não significava que as pessoas ainda não pudessem ter uma versão distorcida disso. Talvez fosse algo que só era praticado por adultos, já que os magos se arriscavam a desmaiar por esgotamento; as pessoas podiam pensar que isso viria a atrapalhar o crescimento de uma criança.
Com isso em mente, decidi manter minha aptidão mágica em segredo da minha família. Ainda assim, tinha que praticar lançando feitiços pela janela, então havia uma chance de ser descoberto, de qualquer maneira. Entretanto, eu não tinha escolhas. Não se quisesse testar logo a prática dos meus feitiços.
Nossa empregada (que pelo visto se chamava Lilia), ocasionalmente me olhava com uma expressão severa, mas meus pais continuavam blasé1Que exprime completa indiferença pela novidade, pelo que deve comover, chocar etc como sempre, então eu tinha certeza de que estava tudo bem. Se as pessoas tentassem me impedir, não resistiria, mas não queria desperdiçar minha infância enquanto ainda a tivesse. Precisava aproveitar todos os meus talentos, antes que enferrujassem e acabassem. Agora era a hora para aproveitar tudo ao máximo.
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Então, uma tarde, meu treinamento secreto de magia chegou ao fim.
Minhas reservas mágicas tinham se desenvolvido bastante, então passei para o próximo encantamento, um feitiço de nível Intermediário. O Canhão de Água: Tamanho 1, Velocidade 0. Imaginei que, como sempre, meu balde seria o bastante para toda a água. Talvez acabasse transbordando, mas não tanto.
Então, lancei o feitiço… e surgiu uma impressionante quantidade de água, suficiente para criar um enorme buraco na parede. Fiquei lá, boquiaberto, vendo a água pingando pelas bordas de madeira do buraco. Fiquei muito confuso para pensar no que fazer. Dado o tamanho do estrago, as pessoas saberiam que tinha sido feito por meios mágicos.
Não tinha nada que eu pudesse fazer para contornar isso.
Sempre desisti tão rápido.
Paul foi o primeiro a entrar no cômodo.
— O que houve? — gritou. — Uau! — E ficou de boca aberta. — Mas que diabos? Espera aí, Rudy! Você está bem?
O Paul era um cara legal. Era óbvio que fui eu quem fez isso, mas tudo o que importava a ele era meu bem-estar. Ele estava em guarda, verificando cuidadosamente o estrago.
— Apareceu um monstro? — murmurou baixinho. — Não, por aqui não…
— Minha deusa — disse Zenith quando entrou no cômodo. Ela sempre foi muito mais calma do que meu pai. Primeiro olhou para a parede destruída, depois para a piscina de água no chão. — Hã? — Seu olhar congelou no meu livro de magia e se fixou na página na qual ele estava aberto.
Minha mãe olhou de mim para o livro e do livro para mim, depois se agachou na minha frente. Olhou-me nos olhos, sua boca estava curvada em um sorriso caloroso.
Mas o sorriso não chegava aos seus olhos. Foi algo bem assustador.
Eu queria desviar o olhar, mas tentei ao máximo possível manter meu olhar fixo no dela. Se eu aprendi alguma coisa no meu tempo de estorvo desempregado, foi que ser arrogante e desafiar os outros após fazer algo ruim só iria piorar a situação. Então, não desviaria os meus olhos dos dela, não importa o quê. Agora, precisava mostrar sinceridade. E a maneira mais simples de fazer isso era com o contato visual – pelo menos pareceria sincero, independente de como me sentisse.
— Rudy, você falou algumas das palavras desse livro em voz alta? – perguntou Zenith.
— Desculpa — respondi balançando um pouquinho a cabeça. Um pedido de desculpas direto era o melhor a se fazer após cometer algum erro. Eu era o único que poderia ter feito isso, então mentir só iria prejudicar a confiança de meus pais em mim.
De volta à minha velha vida, contei mentiras atrás de mentiras até que todos perdessem a confiança em mim. Eu não voltaria a cometer esse erro.
— Desculpa? — perguntou Paul. — Isso foi um feitiço de nível Interme…
— Ah, querido, você ouviu isso?! — Zenith interrompeu, praticamente cantando. — Ah, eu já sabia que nosso garoto era um gênio! — Ela fechou as mãos em dois punhos minúsculos e começou a pular em êxtase.
Bem, ela parecia de bom humor. Acho que isso significava que o pedido de desculpas foi aceito, não?
Zenith estava claramente emocionada com o acontecimento, mas Paul ainda parecia meio desnorteado.
— Espera, espera aí — disse olhando para mim. — Nós ainda nem te ensinamos a ler ou…
— Precisamos contratar um tutor para ele agora mesmo! Ah, ele vai crescer e virar um mago incrível, eu sei!
A reação de Zenith à minha capacidade de usar magia foi uma explosão de alegria incontrolável. Evidentemente, meus medos de que crianças não deveriam usar magia provaram-se infundados.
Enquanto isso, Lilia começou a casualmente limpar tudo sem falar nada. Ou ela já sabia de minhas capacidades ou ao menos suspeitava. Deve que não se importou tanto, já que isso não parecia ruim. Ou talvez só quisesse ver meus pais felizes.
— Querido, vamos para Roa amanhã mesmo, temos que postar um emprego de tutor particular! — disse Zenith. — Precisamos garantir que o Rudy possa aprimorar seus talentos!
Zenith estava nas nuvens, divagando sobre como seu filho era um gênio por, de repente, demonstrar um talento especial em magia. Eu não sabia dizer se ela só estava se comportando como uma mãe orgulhosa ou se a capacidade de lançar um feitiço de nível Intermediário era algo impressionante. Tinha que ser a primeira opção, não? Ela nunca me viu praticando magia, então dizer que “já sabia” que eu era um gênio indicava que já tinha decidido isso por si mesma, sem qualquer base para tal.
Não, isso não era bem verdade. Ela claramente tinha algum tipo de intuição. Eu falava comigo mesmo o tempo todo. Mesmo quando estava lendo, murmurava palavras ou frases de meu interesse em voz alta. Desde que vim a este mundo, passei a subvocalizar as coisas enquanto lia; no começo só em japonês, mas depois de aprender a língua local, subconscientemente, comecei a usá-la. Quando Zenith me ouviu proferindo algumas palavras, começou a me ensinar o que significavam. Também foi assim que aprendi muitos dos substantivos próprios deste mundo, mas isso não é algo realmente relevante no momento.
Ninguém tinha dito nada enquanto eu aprendia a língua deste mundo sozinho. Ninguém me ensinou as palavras que queria ler também. Da perspectiva de meus pais, estavam vendo seu filho ler algo que ainda não tinha aprendido, e até proferindo o conteúdo dos livros em voz alta. Claro que pensariam que eu era um gênio.
Digo, se fosse meu filho, pensaria assim.
Foi isso o que aconteceu na minha velha vida, após meu irmão mais novo nascer. Ele amadureceu mais rápido – tinha mais facilidade em aprender as coisas se comparado comigo e meus irmãos mais velhos, incluindo até mesmo coisas básicas como falar ou andar. Meus pais eram do tipo descontraído e descarado que falavam: “Ah, me pergunto se ele vai ser um gênio”, mesmo quando o que estava fazendo não era nada de impressionante.
Eu tinha que ter em mente que, embora pudesse ter sido um desistente do ensino médio e um pária social, também tinha a idade mental de uma pessoa na casa dos trinta anos. Eu podia fazer isso.
— Querido, temos que arranjar um tutor agora mesmo! — disse Zenith. — Tenho certeza de que podemos encontrar um ótimo instrutor de magia em Roa! — Pelo visto, os pais eram iguais em todos lugares, não importa onde fosse: sempre que uma criança mostra um pouco de talento, é fácil garantir que receberá educação especial e adequada de presente. Na minha outra vida, meus pais elogiavam meu irmão mais novo por ser um gênio e deram a ele um monte de chances para aprender.
Paul não ficou tão entusiasmado com a sugestão de Zenith de contratar um tutor particular.
— Espera aí. Você não prometeu que se fosse um menino ele seria um cavaleiro? — Então, se fosse uma garota seria uma maga, mas um garoto seria um cavaleiro? Deviam ter concordado com isso antes do meu nascimento.
— Mas ele já pode usar magia Intermediária nessa idade! — Zenith refutou. — Com o treinamento adequado, vai ser um mago incrível!
— Promessa é promessa!
— Não fale comigo sobre promessas! Você quebra elas o tempo todo!
— O assunto aqui não sou eu!
E então meus pais começaram a brigar enquanto Lilia continuava calmamente cumprindo com seus deveres. A discussão se arrastou por um tempo, até que, quando a empregada terminou de limpar tudo, disse suspirando:
— E se ele estudar magia pelas manhãs e praticar com as espadas pela tarde?
Essa sugestão colocou fim à discussão, e meus tolos pais decidiram educar o filho sem sequer levar em consideração sua vontade ou sentimentos.
Bem, não seria grande coisa. Eu prometi dar tudo de mim nesta nova vida.
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E então foi decidido que um tutor particular seria contratado.
Concluí que a posição de instrutor pessoal de um jovem nobre era bem remunerada. Paul era um dos poucos cavaleiros da região, o que o tornava um nobre de escalão relativamente baixo, então me perguntei se seria capaz de oferecer uma remuneração decente. Entretanto, estávamos nos extremos da fronteira mais distante do reino, e na fronteira, o talento de alto nível (especialmente para algo como magia) era escasso. Se fizéssemos um pedido para algo como uma Guilda dos Magos ou uma Associação de Aventureiros, será que alguém responderia?
Meus pais também pareciam preocupados com isso, mas aparentemente encontraram alguém quase na mesma hora, já que minhas aulas começariam no dia seguinte.
E como não havia qualquer pousada em nossa aldeia, meu professor iria morar conosco.
Meus pais tinham certeza de que meu professor seria um aventureiro aposentado. Os jovens não iriam até a roça, não existia escassez de empregos para aqueles de níveis elevados na capital. Pelo que entendi, neste mundo, apenas os magos de nível Avançado ensinavam as artes arcanas. Portanto, quem quer que tivesse sido chamado seria ao menos um aventureiro de nível Intermediário ou Avançado, possivelmente algo até acima disso.
Em minha mente, imaginei um sujeito de meia-idade para idoso com muitos anos de estudo diligente, uma longa barba seria necessária para completar sua caracterização de feiticeiro.
— Meu nome é Roxy. É um prazer os conhecer.
Minhas expectativas provaram-se completamente equivocadas. A pessoa que apareceu era uma jovem garota, talvez com idade para estar no colegial.
Ela estava vestida com uma capa de mago marrom, seu cabelo azul penteado em tranças, sua postura pronta e pomposa. Sua pele branca parecia intocada pelo sol, e seu olhar estava ligeiramente sonolento. Sua expressão não irradiava sociabilidade, exatamente, e, apesar de não usar óculos, parecia o tipo de garota que gostava de se esconder atrás de um livro em uma biblioteca.
Em uma mão carregava uma mala e, na outra, segurava um cajado adequado a um mago. Toda a família apareceu para cumprimentá-la, minha mãe me levou no colo.
Meus pais olharam para ela, totalmente sem palavras. Não era de se admirar, sério. Isso não poderia ser o que estavam esperando. Ao contratar alguém para ser um tutor domiciliado, imaginaria que seria alguém ao menos um pouco mais velho. E, em vez disso, aqui estava essa coisinha.
Com todos os jogos que já joguei, a ideia de uma maga loli não me parecia tão incomum assim.
Menores de idade. Com olhos desdenhosos. Socialmente afastadas. Esta era a tríade das características.
Ela era perfeita.
Queria que fosse minha noiva.
— Ah, hã, você é… é a tutora particular? — perguntou Zenith, finalmente.
— Você não é um pouco, hã… — murmurou Paul.
Meus pais estavam ficando atrapalhados com suas palavras, então decidi ir direto ao ponto e finalizar a frase de meu pai.
— Você é pequena.
— Ei, olha quem fala — retrucou Roxy. Ela com certeza parecia sensível ao assunto. E eu nem estava falando sobre seus peitos.
Roxy soltou um suspiro.
— Então, cadê o meu aluno? — perguntou olhando para os lados.
— Ah, é esse garoto aqui — respondeu Zenith, me balançando de leve em seus braços.
Dei uma piscadinha atrevida para Roxy. Ela arregalou os olhos e voltou a suspirar.
— Ugh, isso acontece direto — murmurou baixinho. — A criança mostra sinais de que cresceu um pouco rápido e os malditos pais pensam que ela tem algum tipo de talento especial.
Ei! Eu ouvi isso, Roxy!
Digo, concordo plenamente com ela, mas mesmo assim.
— Você disse alguma coisa? — perguntou Paul.
— Ah, não — respondeu. — Só não tenho certeza sobre seu filho ser capaz de entender os princípios da magia.
— Ah, não precisa se preocupar — disse Zenith, transbordando orgulho maternal. — Nosso pequeno Rudy é brilhante!
E mais uma vez Roxy suspirou.
— Tudo certo então. Suponho que vou ter que fazer o possível. — Ela parecia já ter decidido que seria inútil.
E então, esse foi o primeiro dia de aulas com Roxy pela manhã, e também com a prática de espadas com Paul pela tarde.
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— Certo, então este livro de magia aqui… Na verdade, antes de chegarmos a isso, que tal vermos quanta magia você consegue usar, hein Rudy?
Em nossa primeira lição fomos para o quintal. Eu deduzi que a magia era algo normalmente praticado em locais abertos. Caramba, já tinha descoberto em primeira mão o que poderia acontecer ao lançar magias dentro de casa. As pessoas não iriam querer sair por aí fazendo buracos nas paredes ou coisas do tipo.
— Primeiro vou fazer uma demonstração. Que as vastas e abençoadas águas convirjam para onde queres e emita uma única corrente pura de si – Bola de Água! — Enquanto Roxy entoava seu encantamento, uma esfera do tamanho de uma bola de basquete se formou na palma de sua mão. Então, atirou isso em alta velocidade na direção de uma das árvores do nosso quintal.
A Bola de Água quebrou a árvore bem no meio, parecia até que era só um graveto, e encharcou a cerca que estava por trás. Deve que foi uma de Tamanho 3, Velocidade 4, se fosse para tentar adivinhar.
— Viu? — perguntou Roxy. — O que achou?
— Minha mãe sempre amou aquela árvore e passa um montão de tempo cuidando dela, então acho que vai ficar com muita raiva.
— Oi? Sério?!
— Sem dúvida. — Uma vez, quando Paul estava praticando com a espada, acidentalmente cortou um dos galhos da árvore, mas Zenith não ficou terrivelmente brava com isso.
— Ah não, nada bom — Roxy estava quase gaguejando, correndo na direção da árvore em completo pânico. — Tenho que fazer algo a respeito disso.
Grunhindo, levantou o tronco caído e colocou de volta no lugar. Então, com o rosto chega vermelho de tanto fazer força, começou outro cântico.
— Nngh… Que esse poder divino seja de nutrição satisfatória, dando a quem perdeu suas forças a força para se reerguer – Cura!
Lenta e seguramente, o tronco da árvore voltou à posição original. Certo, o que merece créditos deve receber créditos: isso foi incrível.
— Uff! — Roxy chegou até mesmo a bufar.
— Você consegue usar até magia de cura, Senhorita?!
— Hum? Ah, sim. Qualquer coisa acima de feitiços de nível Intermediário.
— Nossa, uau! Isso é incrível!
— Ah, não mesmo! Com o treinamento adequado, qualquer um pode conseguir fazer isso. — O tom de Roxy continuava um pouco seco, mas os cantos de sua boca suavizaram e seu nariz ficou orgulhosamente empinado.
Claro, ela ficou feliz, certo. Só foi preciso elogiar.
Cara, ela era fácil de agradar.
— Certo, Rudy, sua vez.
— Tá bom! — Estendi minha mão e…
Merda. Fazia quase um ano desde que eu pratiquei a Bola de Água usando o encantamento e não conseguia lembrar dele. Roxy acabou de falar ele, mas… Hmm. Lá vamos nós…
— Hmm… como era mesmo?
— Que as vastas e abençoadas águas convirjam para onde queres e emita uma única corrente pura de si — disse Roxy com naturalidade. Ela aparentemente percebeu que isso estava ao alcance de minhas capacidades.
E disse com tanta naturalidade que eu não consegui me lembrar mesmo depois de ouvir mais uma vez.
— Que as águas abençoadas e vastas… — Comecei, antes de tentar lembrar do resto, então encurtei o encantamento. Conjurei uma Bola de Água um pouco menor e mais lenta que a dela; afinal, se eu a superasse, poderia acabar ficando irritada.
Claro, eu gosto de ser legal com jovenzinhas.
A Bola de Água quase do tamanho de uma bola de basquete acertou o alvo fazendo um splash, a árvore rangeu e se quebrou toda ao cair. Roxy ficou com os olhos vidrados, sua expressão mudou.
— Você encurtou seu encantamento, não foi? — perguntou.
— Sim.. — Opa. Estaria com problemas?
Isso aí: o livro de magia não falou nada sobre lançar feitiços sem encantamentos. Eu fiz como se não fosse nada de demais, mas será que isso era um tabu? Ou talvez ela estivesse com raiva por eu ter feito algo que deveria exigir muito mais treinamento? Por sorte, ela só me advertiu por ser desleixado demais com o meu cântico ou coisa do tipo.
— Você costuma sempre encurtar os encantamentos assim? — perguntou.
Eu não tinha certeza de como responder a isso e, depois de algum tempo, resolvi ser honesto.
— Normalmente, uh… não falo nada. — Afinal, eu seria o aluno dela, então eventualmente descobriria sobre isso.
— Nada? — Roxy arregalou os olhos com o choque, descrente disso enquanto me encarava. Mas logo recuperou a compostura. — Ah, certo, agora entendi. Isso até que faz sentido. Agora você está bem cansado, não é?
— Um pouquinho, acho que estou bem.
— Entendi. Certo, o tamanho e a força da sua Bola de Água estavam excelentes.
— Obrigado.
Por fim, Roxy abriu um sorriso – um de verdade. E então murmurou para si mesma:
— Talvez valha a pena treinar essa criança.
De novo, eu ainda continuo te ouvindo.
— Certo, vamos para o próximo feitiço — disse toda animada, folheando um pouco o livro de magia.
— Aaaahh! — Um grito cortou o ar atrás de nós. Zenith tinha saído para ver como as coisas estavam indo. Ela deixou a bandeja de bebidas que estava carregando cair e levou as duas mãos à boca enquanto olhava para a árvore caída e destruída. Tristeza preencheu seu rosto.
Um momento depois, a tristeza foi substituída por evidente raiva. Ela caminhou até Roxy, ficando bem na frente dela.
— Senhorita Roxy, sinceramente! Você poderia, por favor, não usar minhas árvores como alvo?
— Ei! Foi o Rudy quem fez isso!
— Se o Rudy fez, foi porque você deixou!
O branco dos olhos de Roxy aumentou, seu corpo ficou tenso como se tivesse acabado de ser atingida por um raio. Então abaixou a cabeça. Ei, é isso que você ganha ao tentar jogar a culpa em uma criança de três anos.
— Não, você está absolutamente correta — murmurou.
— Por favor, não deixe que isso aconteça novamente, jovenzinha!
— Não vai, senhora. Sinto muito.
Zenith foi até a árvore e a recuperou à sua antiga beleza com sua magia de cura antes de voltar para dentro de casa.
— Bem, pelo visto estraguei tudo bem rápido — murmurou Roxy.
— Senhorita…
— Heh. Suponho que serei demitida amanhã. — Ela sentou no chão e começou a desenhar pequenos círculos na terra.
Uau. Ela realmente não aguentava nem a menor das repreensões, aguentava? Eu fiquei ao seu lado e dei um tapinha no seu ombro, mas não falei nada.
— Rudy?
Eu não tinha certeza do que fazer depois de dar um tapinha no ombro dela. Realmente não conversei com ninguém por quase vinte anos, então não consegui encontrar as palavras certas para confortá-la. Sinceramente, não sabia o que devia dizer nesse tipo de situação.
Não. Eu só precisava pensar e me acalmar. O que diria o protagonista de um jogo de encontros adulto quando quisesse confortar alguém em um momento desses?
Certo. Eu tinha certeza de que seria algo tipo:
— Você não fracassou aqui, Senhorita.
— Rudy…?
— Você acabou de obter mais experiência, isso foi tudo.
Roxy ficou surpresa.
— Sim, você está… você está certo. Obrigada.
— Sim. Então, podemos continuar com a lição?
E assim, desde o primeiro dia, formei um breve vínculo com Roxy.
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As tardes eram passadas praticando o manuseio de espadas com Paul.
Não tínhamos uma espada de treino, de madeira, adequada para uma criança com a minha estatura; portanto, nosso foco ficou no treinamento físico: corrida, flexões, abdominais, coisas do tipo. Segundo Paul, acostumar meu corpo com a frequente movimentação era uma prioridade. Nos dias em que ele estava muito ocupado para treinar comigo, falava para eu trabalhar nos meus fundamentos.
Acho que pais são iguais em qualquer lugar. Só tive que sorrir e suportar.
Uma criancinha não tem resistência para passar uma tarde inteira se exercitando, então parávamos no meio da tarde. Sendo esse o caso, decidi passar meu tempo entre esse momento e o jantar trabalhando nos meus feitiços.
Ajustar o tamanho de um feitiço aumentava a quantidade de poder mágico necessária para alimentá-lo. Havia a quantidade padrão de poder que um feitiço exigiria para ser lançado, caso não fizesse nenhum esforço consciente ao terminar o encantamento, e fazer um feitiço maior consumia uma quantidade maior de poder mágico. Seria algo mais ou menos como a lei da conservação das massas.
Curiosamente, porém, fazer um feitiço menor também consumia mais poder mágico. Eu não tinha certeza a respeito do princípio que era usado, mas criar uma Bola de Água do tamanho de um punho exigia menos energia mágica do que criar uma do tamanho de uma gota de chuva. Era estranho.
Perguntei a Roxy sobre isso, mas ela só disse:
— É, é assim mesmo que funciona. — Pelo visto isso ainda não tinha sido explicado.
Eu não conhecia os mecanismos de funcionamento da magia, mas, através da prática, controlar os métodos não seria tão complicado. Minhas reservas mágicas tinham aumentado tanto que eu não ficaria esgotado a menos que lançasse grandes feitiços. Se meu objetivo fosse simplesmente usar meu poder mágico, poderia continuar lançando feitiços mais poderosos até que ficasse esgotado.
Depois de um tempo, entretanto, queria passar para aplicações reais de magia, então decidi me concentrar mais na arte da prática dos feitiços. Queria tornar os efeitos menores, mais restritos, mais complexos: por exemplo, criando esculturas de gelo, fazendo a ponta do meu dedo brilhar com fogo para escrever em pranchas de madeira, tirando a sujeira do quintal e separando-a em diferentes coisas, trancando e destrancando portas e assim por diante.
Remodelar algo que já era sólido e robusto era obviamente mais difícil. Trabalhar na remodelagem do metal, por exemplo, exigia mais poder mágico. Trabalhar com magia em algo menor, em algo mais complexo, ou tentar trabalhar com velocidade e precisão ao mesmo tempo, também gastava muito mais energia. A concentração e o esforço necessários pareciam com jogar bola e colocar a linha em uma agulha ao mesmo tempo.
Também experimentei usar feitiços de diferentes ramos mágicos ao mesmo tempo. Isso exigia mais de três vezes o gasto mágico do que usar dois feitiços do mesmo ramo. Em outras palavras, tentar ser rápido e preciso com feitiços de duas escolas diferentes ao mesmo tempo era uma ótima maneira de esgotar todas suas reservas de energia de uma só vez.
E meu treinamento continuou assim, dia após dia, até chegar a um ponto em que não conseguia mais ver o fim de minhas reservas, mesmo após passar mais da metade do dia usando magia. Tive a sensação de que já havia conseguido o suficiente. Especialmente quando considerava o preguiçoso que costumava ser.
Mas fui rápido em me advertir. O corpo fica flácido quando alguém relaxa em seu treinamento físico. Pelo que eu sabia, a magia podia funcionar da mesma forma e, agora que já tinha minhas reservas, queria continuar treinando para garantir que continuassem assim.
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Uma noite, enquanto praticava um pouco de magia, ouvi sons lascivos de uma cama e gemidos escandalosos vindos de algum lugar. Bem, não “de algum lugar”, na verdade… estava vindo do quarto de Paul e Zenith. E nossa, eram sons vigorosos. Em um futuro não muito distante, poderia ganhar um irmão ou irmã menor.
Espero que seja uma irmã. Não suportava a ideia de ter outro irmão mais novo. Na minha mente, ainda podia ver o irmão mais novo do velho eu seguindo adiante a todo vapor, destruindo meu amado PC até ficar aos frangalhos. Não precisava de um irmão mais novo. Mas uma irmã mais nova seria legal.
— Ah, cara…
Na minha vida passada, ficava batendo nas paredes ou no chão direto, buscando calar as pessoas que acabavam me perturbando com sons parecidos. Graças a isso, minha irmã mais velha parou de levar homens para casa. Cara, isso me fez lembrar de várias coisas.
Ao mesmo tempo, sempre pensei que as pessoas fazendo esse tipo de coisa era um tipo de maldição para o mundo. Isso me lembrava das pessoas que costumavam me intimidar, zombando de mim enquanto fora do meu alcance, me enchendo da mais pura raiva da qual não conseguia fugir. Mesmo se o agressor fosse rebaixado ao meu nível, ainda me olhava e perguntava: “O que acha que ainda está fazendo aqui?”
Era horrível.
Mas as coisas não eram mais assim. Talvez porque agora eu era criança, ou porque eram meus pais, ou apenas porque estava focado no meu futuro, ouvi-los fazendo suas coisas realmente melhorou meu humor. Eu poderia dizer, a grosso modo, o que estavam fazendo, só pelos sons.
Parecia que Paul também era muito bom de cama. Embora Zenith estivesse sem fôlego, ouvia ele dizer: “Só estou me aquecendo”, antes de voltar a meter. Parecia até o personagem principal de um simulador de encontros bastante explícito, com virilidade ilimitada e tudo mais.
Hmm. Como o filho de Paul, talvez eu tivesse herdado alguma dessas proezas sexuais, não? E um dia despertaria meus poderes, encontraria minha heroína e mandaria ver.
Esse tipo de coisa me excitava bem rápido, mas recentemente virou algo chato e eu casualmente andava pelos corredores indo até o banheiro, mesmo com o som de rangidos ressoando pelas paredes. Além do mais, os rangidos e gemidos paravam assim que eu me aproximava do quarto deles, isso era bem divertido.
E nesta noite estava acontecendo mais do mesmo. Pensei em ir até o banheiro, perguntando-me se deveria deixar que soubessem que o filho deles, agora capaz de andar, estava lá. Talvez devesse aproveitar para falar alguma coisa. Algo tipo: “Mamãããe? Papaaaai? O que vocês estão fazendo pelados?”
Seria divertido ouvir as desculpas que dariam. Heheheheh.
Com isso em mente, saí do meu quarto fazendo o máximo de silêncio possível – mas alguém já tinha tomado a dianteira. A garota de cabelos azuis estava curvada no corredor escuro, espiando para dentro do quarto através de uma abertura da porta. Suas bochechas estavam brilhando de tão vermelhas, e sua respiração tinha chegado ao ponto de breves ofegos, baixa e áspera, com o olhar fixo no interior do quarto.
Uma de suas mãos estava dentro de suas roupas, movendo-se de forma bem sugestiva. Silenciosamente voltei para o meu quarto. Afinal, Roxy estava na adolescência e eu ainda tinha a decência para fingir que não tinha visto nada.
Ou, bem, algo do tipo. Definitivamente gostei do que tinha visto, de qualquer forma.
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Quatro meses depois, fui capaz de lançar os feitiços de nível Intermediário. Nesse ponto, Roxy começou a me dar aulas teóricas no início das noites.
Ela era uma boa professora. Era exigente ao aderir uma grade específica, mas também complementava o conteúdo de nossas lições levando em conta o quão bem eu entendia as coisas. Ela era boa em intuitivamente responder o aluno. Tinha um livro que atuava como um complemento de Livro didático, e me fazia perguntas que ali estavam. Se eu acertasse uma, passaríamos para a próxima e, se não soubesse de nada, ela me explicaria calmamente.
Pode até não parecer muito, mas eu podia sentir meu mundo se expandindo.
Na minha outra vida, nossa família contratou um tutor pessoal quando meu irmão mais velho começou a fazer exames de admissão. Uma vez, por capricho, escutei uma de suas aulas, mas não parecia ter nada de diferente do que era ensinado nas escolas. Em comparação, as lições de Roxy eram muito mais fáceis de entender e também muito mais divertidas. Seu estilo de vida ressoou comigo e consegui obter resultados rápidos.
Claro, minha professora sendo uma garotinha linda com idade de colegial também não era ruim. Essa era uma situação incrível. Na minha velha vida, estaria completamente excitado.
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— Senhorita Roxy, por que só existem feitiços que podem ser usados em combate? — perguntei do nada.
— Ah, bom, esse não é o caso, na verdade — respondeu Roxy. — Vejamos. Qual é a melhor maneira de explicar isso? Certo, primeiro, é dito que a magia foi originalmente criada pelos Altos Elfos.
Uau, elfos?! Aha! Então eles existem!
Eu já podia imaginá-los, com seus cabelos loiros e roupas esverdeadas, arcos presos nas costas, sendo segurados por tentáculos.
Ahem. Certo, tenho que me acalmar.
Com base nos caracteres ideográficos usados para escrever a palavra “elfo”, parecia que tinham orelhas compridas.
— Senhorita Roxy, o que são elfos? — perguntei.
— Permita-me explicar. Os elfos são uma raça de pessoas que atualmente vivem na parte norte do Continente Millis.
Segundo Roxy, muito antes da Grande Guerra Demônio-Humano, quando o mundo estava envolvido na incessante espiral de batalhas e caos, os Altos Elfos, a fim de combater seus inimigos, rogaram aos espíritos das florestas pelo controle do vento e da terra. Assim, os primeiros feitiços surgiram.
— Uau, então tem uma história inteira sobre isso? — perguntei.
— Claro que sim! — Roxy bufou, repreendendo-me com um aceno de cabeça. — A magia moderna dos humanos é uma imitação dos feitiços que os elfos usaram nas batalhas, um retrabalho. Afinal, os seres humanos são bons nesse tipo de coisa.
— Somos?
— Bom, sim. Quem pressiona em busca de inovação quase sempre são os humanos. Existem apenas feitiços de combate porque as pessoas usaram a magia apenas para batalhas; para qualquer outra coisa, é possível usar algo manual no lugar de confiar em magia — explicou Roxy.
— Algo manual? Como assim?
— Bem, por exemplo, se precisar de uma fonte de luz, pode usar só uma vela ou um lampião, certo?
Ah, entendi. Então estávamos em um lugar assim, onde as ferramentas e dispositivos eram mais simples de se usar do que a magia. Isso fez bastante sentido.
Assim, os feitiços silenciosos seriam ainda mais úteis.
— Além disso — continuou Roxy —, nem toda magia é usada apenas em batalhas. Por exemplo, magia de Convocação permite que você evoque demônios ou espíritos poderosos.
— Magia de Convocação! Você acha que vai poder me ensinar isso?
— Receio que não. Não posso fazer isso — respondeu Roxy. — Mas, voltando ao meu argumento anterior, também existem instrumentos mágicos.
Instrumentos mágicos? Eu tinha certeza de que fazia alguma ideia do que ela queria dizer, mas isso ainda era meio vago.
— Pode me explicar isso? — Pedi.
— Instrumentos mágicos são dispositivos com efeitos mágicos especiais. Eles têm um círculo mágico inscrito em algum lugar dentro deles, então, mesmo se alguém não for um mago, ainda pode usar. Alguns, porém, utilizam grandes quantidades de poder mágico.
Certo, isso estava alinhado aos meus pensamentos. Ainda assim, era uma pena que Roxy não pudesse usar magia de Invocação. Eu entendi bem os princípios da magia de Ataque e de Cura, mas não sabia como a magia de Invocação realmente funcionava.
Mas, ei, fui apresentado a alguns termos novos que nunca tinha ouvido antes: Grande Guerra Humano-Demônio, demônios, espíritos… Eu meio que entendi tudo, mas achei que não faria mal pedir explicação.
— Senhorita Roxy, qual é a diferença entre um demônio e um monstro?
— Demônios e monstros não são muito diferentes um do outro.
Ela explicou que os monstros eram o resultado de mutações repentinas em animais normais. Se tivessem a sorte de aumentar seus números, estabelecer-se como uma nova espécie e desenvolver o intelecto ao longo de gerações, virariam demônios. Mas, pelo visto, muitas criaturas que possuíam inteligência, mas atacavam os humanos, eram chamadas de monstros; também surgiram casos de demônios cada vez mais selvagens e brutais ao longo de gerações, transformando-se em monstros.
Portanto, não havia um delineamento exatamente concreto entre os dois. Em geral, entretanto, monstros atacavam humanos e demônios não.
— Então, os demônios são só uma versão mais evoluída de espíritos malignos? — perguntei.
— Não, os demônios são algo completamente diferente. O nome “demônio” surgiu algum tempo atrás, quando as raças de homens e demônios se enfrentaram.
— Na Grande Guerra Demônio-Humano que você mencionou?
— Isso mesmo — disse Roxy. — O primeiro conflito aconteceu cerca de sete mil anos atrás.
— Uau, isso faz tanto tempo que é quase difícil de imaginar. — Este mundo evidentemente tinha uma história bastante longa.
— Ah, não faz tanto tempo assim. Humanos e demônios ainda estavam em guerra um com o outro há quatrocentos anos. Tudo começou há sete mil anos e os dois lados ficaram em conflito desde então.
Quatrocentos anos parecia bastante longe ainda, mas sete mil anos de guerra contínua? Humanos e demônios realmente não devem se dar bem.
— Ah, certo, entendi — falei. — Então, o que são os demônios?
— Bem, é um pouco difícil de definir — disse Roxy. O jeito mais fácil de falar isso, de acordo com ela, era que os “demônios” incluíam quem lutou ao lado dos demônios no conflito mais recente. Mas isso também tinha algumas exceções.
— Na verdade eu sou um demônio — disse.
— Ah. Você… você é?
Eu tinha um demônio como tutor particular. Isso fez supor que não havia qualquer conflito no momento. Dar uma chance à paz era realmente o caminho certo a seguir, não?
— Isso mesmo — disse Roxy. — Mais formalmente, sou parte dos Migurd, da região de Biegoya do Continente Demônio. Você deve ter notado a surpresa de seus pais quando me viram pela primeira vez, não?
— Achei que era porque você é pequena.
— Eu não sou pequena. — Roxy bufou. Esse era claramente um de seus pontos fracos. — Eles ficaram surpresos com a cor do meu cabelo.
— Seu cabelo? — Na verdade, pessoalmente, achei que era um tom muito bonito de azul.
— Dizem que, para as raças demoníacas, quanto mais perto nosso cabelo for do verde, mais selvagens tendemos a ser. Dependendo da iluminação, meu cabelo pode ficar até meio verde.
Verde, hein? Então essa era a cor do perigo neste mundo?
O cabelo de Roxy era de uma cor azul celeste impressionante, e ela ficava girando um dedo na franja enquanto explicava. Seus maneirismos eram adoráveis.
No Japão, o cabelo azul era algo associado a punks ou mulheres velhas. Quando eu via pessoas assim, sempre pensavam que era estranho – mas não havia nada de incomum ou estranho nas mechas azuis de Roxy. De qualquer forma, pensei que seus olhos ligeiramente sonolentos ajudavam a construir sua imagem. Ela parecia ser a primeira personagem de uma rota que eu tentaria seguir em um simulador de encontros adulto.
— Acho o seu cabelo bonito — falei.
— Ah, muito obrigada. Mas esse é o tipo de coisa que você só precisa falar para a garota de quem gostar depois de crescer.
Não perdi minha chance.
— Eu gosto de você, Senhorita! — Não pude evitar; capturar garotas bonitas é o que eu faço de melhor.
— Entendo. Bem, daqui dez ou vinte anos, se seus sentimentos não tiverem mudado, fique à vontade para me dizer isso de novo. — Ela claramente me rejeitou, mas ainda notei o olhar feliz que cruzou seu rosto.
Eu não tinha certeza do quanto as habilidades que aperfeiçoei enquanto jogava simuladores de encontros me ajudariam neste mundo, mas a resposta claramente não estava em lugar algum. Piadas e cantadas antigas e batidas pelo Japão poderiam muito bem ser maneiras únicas e apaixonadas de conquistar o coração de alguém por aqui.
Certo, isso, eu também não tenho certeza do que estava tentando fazer. O ponto é que Roxy era fofa e travessa, e eu queria atentar ela. A considerável diferença de idade entre nós era definitivamente um problema. Talvez fosse algo para se pensar no futuro.
— Voltando ao assunto — disse Roxy —, a ideia de que cabelos com cores mais brilhantes significam perigo não passa de uma superstição.
— Ah. É mesmo? — Agora eu me senti bobo por ter levado toda aquela coisa de “cor do perigo” a sério.
— Sim. Durante a guerra, quatrocentos anos atrás, os Superd, uma raça de demônios de cabelos verdes da região de Babynos, comandou um massacre. É daí que saiu isso; a cor do cabelo de alguém não tem nada a ver com isso.
—Um massacre?
— De fato. Depois de apenas uma década e mudanças na guerra, tornaram-se temidos por amigos e inimigos, tornando-se tão violentos quanto desprezados. Eles eram tão perigosos que, após a guerra, a perseguição os expulsou quase que completamente do Continente Demônio.
Seus próprios aliados os afastaram após a guerra? Uau.
— O povo realmente odeia eles desse tanto? — perguntei.
— Sim.
— O que fizeram foi tão ruim?
— Bem, só posso contar o que escutei. Coisas como atacar assentamentos de demônios aliados e massacrar mulheres e crianças, ou acabar com todos os inimigos do campo de batalha e depois se virar para fazer o mesmo com os aliados. Quando eu era criança, ouvia histórias assim o tempo todo. “Não fique acordada até tarde, ou um Superd vai vir te comer!” Coisas assim, sabe.
Parecia até que ela estava falando do Homem Fique-Longe, o bicho-papão de um anime antigo.
Roxy continuou:
— Os povos Migurd e Superd estão intimamente relacionados, e ouvi dizer que costumávamos ser tratados igual a eles. — Ela fez uma pausa para ter certeza de que eu estava prestando atenção. — Imagino que seus pais provavelmente falarão sobre isso em breve, mas se você vir alguém com cabelo verde-esmeralda e o que parece ser uma joia vermelha na testa, certifique-se de não chegar perto. E se for inevitável interagir com alguém assim, faça o que fizer, tenha certeza de não o irritar.
Cabelo verde-esmeralda e uma joia vermelha na testa? Ela devia ter descrito um Superd.
— O que acontece quando se irritam?
— Eles podem matar toda a sua família.
— Você disse verde-esmeralda, com uma joia vermelha na testa, certo?
— Isso mesmo. A coisa na testa é o terceiro olho, o que permite que vejam o fluxo da magia.
— Todos os Superd são mulheres? — perguntei.
— Er, não. Também existem homens, assim como seria esperado.
— Se eles fizerem alguma coisa com a joia na cabeça, ela fica azul ou coisa do tipo?
Roxy inclinou a cabeça, confusa.
— Hum, não…? Pelo menos não que eu saiba.
Bom, fiquei feliz por ter perguntado o que queria.
— Parece que eles se destacam e são fáceis de reconhecer, ao menos — falei.
— Isso aí. Se você vir um, apenas se comporte de maneira casual, como se tivesse alguma coisa para fazer, e saia de perto. Se fugir de repente, pode acabar provocando-o.
Detectar um punk e fugir resultaria em uma perseguição, hein? Sim, eu já tinha experiências assim.
— Então, se eu tiver que falar com algum, se falar com bastante educação vou ficar bem?
— Desde que não diga nada notavelmente degradante, não haverá qualquer problema; entretanto, existem muitas diferenças entre o que é comumente aceito na cultura humana e na demoníaca; portanto, você pode não saber quais palavras resultarão em algum tipo de explosão. É mais seguro evitar qualquer sombra de sarcasmo ou coisa do tipo.
Hmm. Esses caras deviam ter um temperamento horrível. Roxy disse que foram vítimas de opressão, mas parecia que esses medos tinham algum motivo. Digo, se a raiva deles era assustadora o suficiente para alertar os outros a ficarem longe… caramba.
Se eu morresse, duvidava que teria a sorte de conseguir uma terceira vida, então achei que seria melhor fazer tudo o que pudesse para evitar isso. Esses Superd eram realmente péssimas notícias.
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Aproximadamente mais um ano se passou. Minhas lições de magia estavam progredindo rapidamente. Agora já podia lançar feitiços de nível Avançado de todos os diferentes ramos da magia.
Tudo sem usar qualquer encantamento também, é claro.
Comparado ao treinamento comum, a magia Avançada era como morder o próprio nariz. Quero dizer, havia muitos ataques à distância e eles eram bem difíceis de usar. Tipo, o que ia fazer com a capacidade de fazer chover em uma área enorme?
Mas então lembrei de que, depois de um período de seca prolongado, Roxy fez chover sobre os campos de trigo, para a alegria de todos os aldeões. Eu estava em casa naquela hora, então ouvi isso do Paul.
Claro, Roxy tinha atendido a vários pedidos dos habitantes da cidade e estava resolvendo vários problemas. Eu quase podia escutar:
— Eu estava lavrando o solo e bati em uma pedrona enterrada no chão, Ajude-me Roxyemon!
— Deixa comigo!
— Uau! Que tipo de magia é essa?
— Usei magia de água para umedecer o solo ao redor da rocha e depois usei uma de terra para transformá-la em lama!
— Uau, que incrível! A pedra está afundando!
— Heeheehee!
Eu estava supondo que (provavelmente) fosse assim.
— Eu sabia que você era o tipo de pessoa que gosta de ajudar os outros, Senhorita Roxy! — falei.
— Não é exatamente assim. Estou fazendo isso para levantar um dinheiro extra.
— Você é paga para fazer coisas assim?
— Claro.
Meu primeiro instinto foi considerá-la gananciosa, mas as pessoas da cidade pareciam aceitar seus termos. Nunca tiveram alguém que pudesse fazer esse tipo de coisa antes, então agradeceram a Roxy por isso. Imaginei que era o que chamavam de dar e receber.
Estava pensando nisso da maneira errada. A ideia de ajudar alguém em problemas, sem pedir nada em troca, era algo muito japonês. Era normal ser recompensado por esse tipo de coisa. Isso simplesmente fazia sentido.
É verdade que, sendo a pessoa que fui em minha outra vida, não só nunca ajudei ninguém a sair de uma situação complicada, como era a situação complicada para toda a minha família.
Hahaha…
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Um dia, do nada, decidi perguntar para Roxy:
— Seria melhor se eu te chamasse de “Mestra” no lugar de “Senhorita”?
Roxy torceu o rosto parecendo sem jeito.
— Não, provavelmente é melhor que não. Tenho certeza de que você vai facilmente me superar em breve.
Eu tinha talento para ser melhor do que Roxy? Foi o suficiente para me deixar corado.
— Afinal, seria estranho chamar alguém com poderes inferiores aos seus de “Mestra” — acrescentou Roxy.
— Eu não acho isso estranho.
— Bem, seria estranho para mim. Nunca suportaria a vergonha de ter alguém que é claramente melhor do que eu me chamando de “Mestra”.
Ah. Era disso que se tratava?
— Você está dizendo isso porque ficou mais forte do que seu mestre, Senhorita Roxy?
— Rudy, escuta: um mestre é alguém que diz que não tem mais nada que possa ensinar, mas que ainda assim dá seus conselhos sobre toda e qualquer coisa que você faz.
— Você não faz coisas assim, Senhorita Roxy.
— Mas devia.
— Mesmo assim, eu ficaria honrado. — Roxy sempre parecia bem satisfeita consigo mesma quando me aconselhava sobre algo; Eu provavelmente estava sempre sorrindo ao falar com ela.
— Ah, não. Se eu me ressentir com os talentos dos meus alunos, não teria como dizer o que eu deixaria escapar.
— Como o que?
— Coisas como eu ser apenas um demônio imundo, ou como você é só um caipira do interior.
Uau, Roxy disso isso para mim com seriedade? Eu me senti um pouco mal por ela. Ser discriminado não é legal, afinal. Mas acho que é isso que se ganha quando há algum tipo de hierarquia no relacionamento com alguém.
— Vai ficar tudo bem — falei. — Apenas aja como se você fosse melhor do que eu!
— Não vou agir de maneira altiva ou superior só porque sou mais velha! É só que não me sinto confortável em ter uma relação de mestre e aluno quando existe tanta diferença de talento!
Ela me derrotou bem rápido; parecia que meu vínculo com minha mestra tinha piorado. Em minha mente, decidi que ainda pensaria nela como minha mestra, independentemente de qualquer coisa. Afinal, ela era uma garota que ainda tinha alguns traços de jovialidade e que poderia me ensinar direitinho tudo que não poderia aprender apenas lendo.
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