Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 05.3 – Matador de Goblins em um País de Areia

 

Quando abriu a porta da sala da guarda, parecia estar cheia de cadáveres. Os guardas estavam caídos no chão, todos dormindo, embora não fossem cochilos saudáveis. Além disso, havia o fato de terem sido amarrados com uma corda. Apenas duas pessoas ainda estavam de pé: Comerciante Feminina, sua camisa escura de suor, e Guerreiro Dragodente em seu longo manto.

Matador de Goblins observou tudo isso com um olhar e perguntou baixinho: — Você está bem?

— …Sim. — Comerciante enxugou um pouco de suor e vestiu a jaqueta, que estava pendurada nas costas de uma cadeira. — De alguma forma.

Isso provocou uma exalação aliviada na respiração de Sacerdotisa. Alta Elfa Arqueira também sorriu. O que, por sua vez, fez Comerciante Feminina corar, quase como se estivesse envergonhada.

— Desculpe. Levei mais tempo do que esperava… — Ela parecia desconfortável; começou distraidamente ajustando sua jaqueta para se cobrir.

— Eliminando uma sala inteira cheia de guardas sozinha? Sim, isso levaria um tempo. — Alta Elfa Arqueira soltou uma risadinha.

— Pare com isso. — Comerciante Feminina objetou humildemente. — Difícil dizer que estava sozinha e não lutei de verdade contra eles…

— Ganhar sem lutar… não é ainda melhor? — Sacerdotisa respondeu imediatamente. — Não é? — perguntou a seus companheiros antes que Comerciante Feminina pudesse discutir novamente.

— Hmm… — disse Comerciante Feminina, derrotada por esse ajuste incomum de Sacerdotisa.

Anão Xamã não iria deixá-la escapar tão facilmente.

— Eles têm o direito disso, moça. Você não poderia ter feito melhor.

— Hoo-hoo, parece que meu Guerreiro Dragodente se saiu bem também. Muito bom, muito bom.

De repente, Anão Xamã e Lagarto Sacerdote, dois aventureiros de nível Prata, a elogiaram.

Fiel à sua persona, Matador de Goblins ofereceu um elogio muito mais moderado…

— Parece que o efeito do perfume funcionou como pretendido — disse enquanto inspecionava as amarras dos soldados. Isso foi endosso o suficiente, vindo dele.

— Então, ahem… — Comerciante Feminina respondeu, olhando ao redor sem rumo para esconder seu constrangimento. — E quanto a vocês…?

— Nós também estamos seguros — Sacerdotisa acrescentou com um aceno de cabeça. Então olhou na direção de Lagarto Sacerdote. — Agora temos que tirá-las daqui…

A questão é como.

Parecia que Comerciante Feminina havia deixado o Guerreiro Dragodente fazer as amarras, mas não havia como os soldados nesta sala representarem todos os guardas da estação. Então ainda tinham os goblins. Estavam sendo mantidos no subsolo, mas não havia garantia de que não encontrariam o caminho para a superfície.

O mais urgente de tudo é que agora carregavam várias prisioneiras. A fuga não seria uma tarefa fácil nessas condições. Não seriam capazes de simplesmente levarem as mulheres embora como haviam feito em outra fortaleza numa montanha nevada. Estavam em território inimigo desta vez e não podiam esperar entrar em uma cidade próxima quando estivessem fora da fortaleza.

Sacerdotisa parecia uma aluna que havia recebido um problema especialmente desafiador para resolver. Podia ser ouvida murmurando para si mesma baixinho.

Uma resposta veio de Alta Elfa Arqueira, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo: — Não podemos simplesmente pegar um navio de areia nas docas?

— Existem docas?

— Lembro que haviam nas plantas. Tenho certeza de que estão lá. — Alta Elfa Arqueira colocou as mãos nos quadris e estufou o peito com orgulho, então olhou na direção de Matador de Goblins. — Acho que esse era seu plano o tempo todo, certo, Orcbolg?

— É até onde eu cheguei. — Houve um único aceno do capacete de metal de aparência barata.

Sacerdotisa estava em silêncio; soltando um suspiro mental. Acho que não deveria mais me surpreender dele não nos contar sua estratégia.

Ele era realmente, com certeza, sem esperança.

Provavelmente teria que aprender a perceber isso sozinho, sem que ela dissesse nada.

— As mulheres — disse Matador de Goblins com um aceno de cabeça para as garotas resgatadas. — Vamos entregá-las ao Guerreiro Dragodente. Consegue pilotar um navio?

Lagarto Sacerdote deu um golpe pensativo com o queixo e revirou os olhos.

—  Acredito que sim. Quando estávamos na embarcação do Mestre Mirmidão, observei o processo. E qual será o nosso destino?

— Mostre-me o mapa que o Mirmidão nos deu.

— Claro. Como quiser. — Lagarto Sacerdote tirou o papiro de sua bolsa e o desdobrou. Desta vez, todos puderam dar uma olhada, incluindo Alta Elfa Arqueira. Embora nenhum deles fosse cartógrafo, podiam dizer que o mapa era excelente. Matador de Goblins notou um lugar não muito longe da fortaleza.

— Isto são ruínas?

Estavam marcadas com um X e representavam o que parecia ser um círculo de pilares de pedra. O rio passava por ela; parecia prometer um lugar onde poderiam descansar. Como se tratava de ruínas antigas, teriam que considerar a possibilidade de encontrar monstros, mas para um grupo de aventureiros, isso era apenas um risco ocupacional.

Parece um bom guia para seguir em meio a toda essa confusão.

— Então está resolvido — disse Lagarto Sacerdote. — O Guerreiro Dragodente deve encontrar e preparar um navio para nós nas docas.

— Vamos subir enquanto isso. — Matador de Goblins enrolou o mapa e o jogou para Lagarto Sacerdote, que o agarrou no ar com suas longas garras. — Então vamos escapar, nos unir com o Guerreiro e seguir para as ruínas.

— Bem, então, o tempo está passando. Não gostaria que nos pegassem porque demoramos demais. — Anão Xamã estava contando seus feitiços restantes em seus dedos grossos. — Vamos ver, magias e milagres. Só usei Estupor uma vez, então tenho três feitiços sobrando.

— Eu convoquei apenas um Guerreiro Dragodente — declarou Lagarto Sacerdote. — Também tenho três sobrando.

— Usei Luz Sagrada e Silêncio, então só me resta um… — disse Sacerdotisa, então lançou um olhar furtivo para Comerciante Feminina, que por um momento não entendeu porque estava sendo observada, mas então piscou e respondeu: — …Eu não usei nenhum feitiço. Tenho dois sobrando.

— Rapaz, este grupo tem muitos recursos. — Alta Elfa Arqueira riu. Treze feitiços no total, nove restantes agora. — Ei, tem certeza que não posso te adotar? Você consegue lidar na linha de frente e usar magia, é incrível.

Comerciante Feminina, que de repente se viu abraçada e tendo seu cabelo despenteado por um elfo superior, murmurou desajeitadamente: — Er, uh. Não acho que… poderia. Eu não… — Seu rosto ficou vermelho como uma beterraba e virou seu olhar para o chão timidamente. — Quero dizer, há muito que tenho que fazer… na capital. — Não temos certeza se devemos olhar para elas como duas amigas separadas por apenas alguns anos (bem, estavam separadas por mais do que alguns anos) ou como duas irmãs muito próximas.

Com a interjeição de Sacerdotisa de “Ela disse que não podia, ok?” o divertido trio estava completo. Suas brincadeiras pareciam totalmente incongruentes em meio à multidão de guardas desmoronados nesta fortaleza do mal.

Anão Xamã semicerrou os olhos como se estivesse olhando para algo particularmente brilhante e disse: — Vamos lá, Orelhas Compridas. — Contudo, havia um toque de afeto em sua voz. — Escamoso e eu provavelmente podemos ficar na linha de frente se precisarmos. De qualquer forma, Corta Barbas, o que faremos com os goblins?

— O ninho está abaixo de nós. — Matador de Goblins observou sem rodeios. Puxou um odre de sua bolsa e derramou o conteúdo através de sua viseira, bebendo profundamente antes de continuar. — Levaria muito tempo para encontrar e destruir cada um. Precisamos eliminá-los todos de uma só vez.

Em outras palavras, faria exatamente o que sempre fazia. Ele era Matador de Goblins e iria matar goblins.

— E é por isso que estamos subindo… — disse Comerciante Feminina, finalmente livre de sua breve luta com Alta Elfa Arqueira. Podia sentir um olhar sobre ela por trás da viseira do capacete e assentiu.

— Só para deixar claro, qual é o status da sua missão?

— O primeiro-ministro deste país se aliou ao Caos e está trabalhando especificamente para aumentar o número de goblins em suas terras. Vi com meus próprios olhos — respondeu Comerciante Feminina. Tinha ciência do que estava acontecendo. O caos estava brotando aqui e se preparando para explodir. — Minha missão está completa. Só me resta relatar o que vi.

— Então irei acompanhá-la. — Matador de Goblins enfiou o cantil meio drenado de volta em sua bolsa. Sua voz tornou-se ainda mais brusca, mecânica e indiferente quando disse: — É bom para o nosso grupo ter “muitos recursos”.

Certo. As bochechas de Comerciante Feminina se suavizaram em um sorriso. Ficou feliz em ouvi-lo dizer isso.

Seguiram-se breves discussões, traçaram-se planos e fizeram-se prontamente os preparativos. Era um conselho de guerra que dobrou para ser também um tempo muito curto de descanso.

Sacerdotisa percebeu que não sabia quanto tempo fazia desde que entraram na fortaleza. Parecia tão longo, mas tão curto ao mesmo tempo. De qualquer forma, porém, o tempo passou e provavelmente já era mais de meia-noite.

Fadiga e excitação eram igualmente perigosas. Se não tomassem cuidado, poderiam perder o fato de que estavam cansados. Assim, após a conferência, beberam um pouco de água, comeram algumas provisões e passaram parte de seu precioso tempo rindo.

Por fim, Matador de Goblins clamou: “Vamos”, e os outros cinco aventureiros se levantaram. Seu destino: o andar superior da fortaleza. O que poderia estar os esperando lá, eles não sabiam. Por que não sabiam? Porque isso era uma aventura.

— Ah, esperem só um segundo — disse Comerciante Feminina quando estavam prestes a deixar a sala da guarda. Ela correu de volta da porta para o Guerreiro Dragodente carregando as mulheres resgatadas. — Nunca te agradeci por sua ajuda…

Ela segurou o capuz que cobria a cabeça do Guerreiro, puxando-o para si e ficou na ponta dos pés; então seu rosto desapareceu no capuz. Alta Elfa Arqueira soltou um som de surpresa. Por um instante, as silhuetas de Comerciante Feminina e do Guerreiro Dragodente se sobrepuseram.

— …Desculpem a demora — disse, voltando para o grupo na mesma corrida apressada. Suas bochechas estavam levemente coradas. Sacerdotisa, que havia testemunhado um momento do desenlace, também sentiu seu rosto queimar um pouco.

— Ha-ha-ha, aquele Guerreiro Dragodente é um sujeito de sorte. — Lagarto Sacerdote soltou uma gargalhada e o rosto de Comerciante Feminina ficou ainda mais vermelho.

— V-vamos indo! — disse ela incisivamente se dirigindo para a porta, em direção aos corredores da fortaleza.

O grupo a seguiu, ainda sorrindo até que Anão Xamã sussurrou: — Só estou perguntando, mas você não está planejando matar o general ou seja lá quem for que comande este lugar, está?

— Não sei quem é, mas duvido que seja necessário — respondeu Matador de Goblins, suas palavras impiedosamente frias. — Se são leais aos goblins, então só podemos esperar que seja um tolo.

 

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Eles receberam comida, um lugar para dormir, até mesmo mulheres. Entretanto, tudo isso só aumentou sua insatisfação. Aqui, estavam forçados a viver neste buraco sujo, enquanto todos os outros se divertiam no andar de cima. Esse grupo provavelmente tinha comida muito melhor e luxos muito maiores. Provavelmente dormiam o tempo todo, seja durante a “noite” terrivelmente quente ou o “dia” gelado.

Na verdade, os do andar de cima levaram embora tudo o que os goblins lutaram tanto para ganhar. Até as mulheres. Receberam as mulheres com a permissão de que poderiam fazer o que quisessem com elas, mas quando o fizeram, os do andar de cima gritaram e os chicotearam. Era direito deles fazerem o que quisessem com o que era deles!

No entanto, o que mais os enfureceu foi como os do andar de cima pensavam que tudo isso era suficiente para fazer os goblins obedecerem. Faziam suas discussões mesquinhas e se exibiam, quando por dentro não eram muito diferentes dos que viviam aqui embaixo. Exibir-se era realmente o único talento que tinham.

Ficaram tão alvoroçados por causa da falta de um pedaço de papel! O que eles fizeram lá em cima?

E pensar que menosprezavam aqueles que viviam aqui! Façam isso, façam aquilo, diziam. Quando acabou, reclamaram. Se estavam tão desesperados, deveriam fazer isso sozinhos.

E tudo levou a… isso.

Os estábulos estavam vazios. Os corpos de seus compatriotas estavam espalhados por toda parte, o fedor subindo as escadas. O goblin uivou de raiva, ignorando o fato de que ele próprio só havia escapado da carnificina porque estava se esquivando de seus deveres. Se houvesse alguém que entendesse a língua goblin, certamente teria estremecido com a pura vulgaridade de sua linguagem.

Eles nos irritaram pela última vez!

Goblins estavam sempre com raiva, sempre praguejando, mas, como tantas vezes, este estava convencido de que sua raiva era justificada. Ele e os outros foram atormentados injustamente, por isso tinham todo o direito de se levantar e tomar de volta o que era deles.

Foram os que mais trabalharam nesta fortaleza, então deveriam estar no topo da hierarquia. Na verdade, não eles, mas ele, este goblin pensou enquanto seus gritos ecoavam pela caverna. Os nascidos e criados aqui, os trazidos de fora, todos deveriam e ficariam enfurecidos, deveriam e pegariam em armas. Invadiriam a fortaleza acima e a cidade próxima, tomando tudo e tornando-os deles.

A dançarina sobre a qual os soldados estavam delirando e aquela princesa ou quem quer que ela fosse, os goblins iriam levá-las. Os soldados foram tolos em não pegá-las, mas os goblins eram diferentes.

E eu deveria estar no topo de tudo.

Por quê? Porque ele seria o comandante desta batalha, é claro. Os outros seriam seus servos leais, como suas mãos e pés; iriam morrer em seu lugar. Não, na verdade, ao contrário dos idiotas que foram mortos aqui, ele não cometeria o mesmo erro. Ele sobreviveria. Estava certo disso.

Com um sorriso vil no rosto, sua virilha agitada por essa fantasia simples, o goblin deu um floreio de sua espada…

— GGOOOGOOGORRBB!!

…e no instante seguinte, seus miolos foram salpicados por uma corrente de ferro que calmamente o pegou na cabeça e sua vida acabou. Alguém pisou em seu corpo quando desabou, se contorcendo: outro goblin maior. Sendo o maior goblin aqui embaixo, sabia que era ele quem deveria ficar no topo e uivou sua convicção.

Nenhum dos outros goblins se opôs. Estavam todos unidos em sua crença de que poderiam usar esse grande bruto para seus próprios fins.

— GOOROGG!! GOORGGBBG!!

E assim os goblins saíram em direção à superfície. Correram pelas passagens subterrâneas, desconsiderando seus camaradas estúpidos o suficiente para serem pegos e mortos pelas armadilhas. Para cima, sempre para cima.

Os guardas da guarita foram as primeiras vítimas. E os mais sortudos. Estavam amarrados e dormindo, então foram eviscerados pelos goblins enfurecidos sem nunca saber o que estava acontecendo.

— GORGB!! GOORGBB!!

Bah, humanos não são tão durões.

Não, olhe. Estavam comendo algo que nunca vimos. Que merda é essa?

Há um cheiro. Tem cheiro de mulher. Um cheiro bom. Um novo. E cheira como nossas escravas de reprodução.

Subiram. Eles subiram. Os bastardos. Vamos arrastá-los de volta para baixo e espancá-los até virarem polpas sangrentas.

— GOORGBB!!

Os goblins despojaram os soldados de seus equipamentos, então, encharcados de sangue, soltaram um terrível grito de guerra e avançaram.

Matariam os humanos, pegariam as mulheres de volta e tomariam o que era deles por direito.

Depois de começarem, não parariam até que estivessem mortos: Esse era o jeito dos goblins.

 

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— O-o quê…?!

— São os goblins! Goblins estão vindo do subsolo!

— Quem foi que teve a brilhante ideia de usar goblins?!

Vozes furiosas soaram, logo acompanhadas pelo estrondo de espadas, gritos e berros, o som de carne sendo rasgada e a tagarelice de monstros.

Não havia ordem; todos simplesmente correram com suas espadas. Alguns soldados ainda estavam em roupas civis, enquanto outros se apressaram em vestir suas armaduras e alguns tentaram fugir apenas com suas roupas de baixo.

Muitos dos estertores que podiam ser ouvidos obviamente não eram humanos, mas também havia alguns gritos dos homens. Estavam vivendo acima de um ninho de goblins sem sequer fazerem um posto de guarda. Este era o resultado óbvio.

Em outras palavras, era um caos absoluto e implacável.

— Q-quem diabos é você?! Identifique seu esquadrão e…

— Os goblins logo atacarão do subsolo.

— O-o quê…?!

A pergunta acusatória — emitida por um homem que ainda não entendia a situação em que se encontrava — foi recebida com uma resposta calma de Matador de Goblins, que então se apressou com seu grupo. Avançaram pelos corredores, passando por soldados que corriam em desordem desesperada, passando por outros que tentavam detê-los; subindo, sempre subindo. Afastaram-se apenas para um grupo de pessoas: soldados que corriam gritando: — Estamos transportando os feridos! Todos saiam do caminho!

Os olhos de Sacerdotisa foram brevemente atraídos para o homem ferido na maca enquanto passavam, mas rapidamente olhou para frente de novo e continuou correndo. Quer fossem para a batalha ou para escapar, a maioria dos soldados estava descendo; ela e seu grupo estavam lutando contra a maré.

A maioria deles ignorou o homem sujo com seu grupo diversificado e sua extensa variedade de equipamentos. Se alguém tivesse tentado falar com eles, provavelmente teria sido alguém como antes, que realmente não entendia o que estava acontecendo.

Os soldados serviriam de distração para os goblins, enquanto os goblins serviriam de distração para os soldados. Embora fossem numerosos e tivessem a vantagem da surpresa, os goblins ainda eram apenas goblins. Quando os soldados voltassem sua atenção para eles, não havia como perder; essa confusão seria resolvida em breve, mas foi mais do que suficiente para ganhar um pouco de tempo.

— …Sabia que você era um especialista em goblins — disse Anão Xamã, rindo enquanto corriam —, mas tem as ideias mais desagradáveis, Corta Barbas.

— Não foi meu conhecimento que levou a essa ideia — respondeu Matador de Goblins, encostando-se numa parede para espiar em um canto. Satisfeito por não haver problemas à frente, acenou para os outros e o grupo voltou a correr.

A fortaleza pode ter sido planejada para confundir invasores inimigos, mas as pessoas que trabalhavam lá ainda tinham que fazer seu trabalho. Além do mais, Matador de Goblins e seu grupo eram aventureiros. Cavernas, ruínas e labirintos eram seu pão com manteiga. Se alguém memorizasse o mapa antes de mergulhar, simplesmente não se perderia.

— Quando cercado por inimigos, basta se transformar em amigo trazendo informações para eles, não é? — Lagarto Sacerdote revirou os olhos alegremente e bateu a cauda no chão. — Entendo, entendo. Minha própria sugestão deu frutos e é uma grande vitória para meus aliados. — Com sua grande cauda retorcida e as garras de seus pés que batiam nas pedras do piso, Lagarto Sacerdote parecia, para dizer modestamente, um verdadeiro monstro. O olhar que fixou nos soldados que passavam era de fato de puro divertimento, mas eles não sabiam disso.

— Tenho de dizer… não posso deixar de pensar que devemos parecer um pouco estranhos para amigos deles.

— Avisei que vocês deveriam ter trocado de roupa como eu fiz. — Alta Elfa Arqueira insistiu, passando por eles. No final, ela era a menos notável de todos. Isso era por causa de suas roupas? Ou porque seus outros membros do grupo incluíam alguém com uma armadura suja e um gigantesco homem-lagarto?

— Acho que isso teria tornado muito mais fácil entrar aqui para começar — continuou ela.

— Pensei que você não gostasse de disfarces. — Matador de Goblins respondeu incisivamente.

— Não gosto de ser disfarçada de escrava! — Ela parecia genuinamente irritada.

Ela se destaca, no entanto, Sacerdotisa pensou, bufando na parte de trás do grupo, onde tinha uma visão perfeita da beleza de Alta Elfa Arqueira. Os elfos superiores tinham uma qualidade sobrenatural em sua aparência que nenhuma muda de roupa poderia disfarçar.

Sacerdotisa pensou por um segundo, então num impulso disse: — Calma aí, não devemos ter preferências tão fortes assim.

 — Hrgh?! — Alta Elfa Arqueira, claramente não esperando isso de Sacerdotisa, engasgou um pouco.

— Hoh! — Os olhos de Anão Xamã se arregalaram, impressionado por ela ter respondido antes dele. — A moça está certa. Neste ritmo, você será uma bigorna para sempre.

— Inacreditável…! Minha garota doce e inocente está sendo corrompida por Orcbolg e seus amigos! — Era difícil dizer se Alta Elfa Arqueira estava falando sério ou não. Ela olhou para o teto dramaticamente.

— E-eu não estou sendo corrompida! — Sacerdotisa objetou, mas ninguém a envolveu mais no assunto.

Se quisessem chegar ao último andar, teriam que subir as escadas. Na frente deles havia uma escada em espiral íngreme e apertada. Um movimento em falso poderia fazê-los cair para o lado, e sempre havia a possibilidade de que inimigos — soldados ou goblins — pudessem pressioná-los de cima. Matador de Goblins e Alta Elfa Arqueira na primeira fila estavam visivelmente preparados para o combate e Lagarto Sacerdote seguiu seu exemplo.

— Grr… — Sacerdotisa resmungou, estufando as bochechas enquanto corriam, mas não havia nada a ser feito, então desistiu de objetar ainda mais.

— …? — Sacerdotisa olhou para Comerciante Feminina, que corria o mais rápido que podia, com o rosto vermelho e sem fôlego, mas determinada a não atrapalhar a equipe. Sacerdotisa estava educadamente igualando a velocidade de Comerciante Feminina, mas agora seus olhos estavam arregalados. Não estava prestando atenção o suficiente.

Quando pensou sobre o que Comerciante Feminina havia passado em sua vida, só podia concluir que a tagarelice dos goblins devia ser uma coisa terrível para ela. Enquanto corriam pela fortaleza, mesmo neste momento o clangor da batalha estava por toda parte, assim como os gritos dos goblins.

— Você está bem? — perguntou à sua amiga.

— Er, ah… — Comerciante Feminina olhou em volta, sem saber ao certo o que dizer. Então estabilizou um pouco a respiração e respondeu simplesmente com o que poderia ser um toque de inveja: — Você é simplesmente… incrível.

— Hum… Você acha?

Sacerdotisa não tinha tanta certeza. Parecia que tudo que podia fazer era só seguir as pessoas à sua frente. E mesmo assim…

Se eu sou incrível, certamente não sou a única.

— Acho que isso vale para todos nós — disse ela.

Incluindo você.

Ela pegou a mão de uma mulher que havia se tornado uma comerciante de primeira linha, abrindo caminho em um campo do qual Sacerdotisa dificilmente poderia imaginar fazer parte. Assim como durante a luta na montanha nevada, seu aperto era suave, mas firme. Em troca, sentiu um entrelaçamento hesitante de dedos e um aperto, isso a deixou muito feliz.

— Bem, vamos continuar, então!

— Certo!

Então continuaram subindo as escadas rindo como garotas, um som muito fora de lugar aqui.

A escada torceu para cima. Isso sugeria que estavam em uma das torres que tinham visto de fora. Quando finalmente chegaram ao topo da escada, encontraram-se em uma grande câmara com janelas para todos os lados. Uma torre de vigia, talvez. Matador de Goblins enfiou a cabeça para fora de uma das janelas e olhou em volta.

Espere… Não, pensou Sacerdotisa. Matador de Goblins parecia não estar olhando ao redor, mas para cima.

— Você está pensando em subir lá? — perguntou.

— Sim, no topo do telhado — disse Matador de Goblins com um aceno de cabeça. — Mas o telhado está em um ângulo muito íngreme. Como está o teto?

— Um pouco alto lá em cima — resmungou Anão Xamã. — Mas, se conseguíssemos chegar lá, provavelmente poderíamos arrancar algumas pedras e sair.

— Está resolvido, então… Vamos.

— Sim, senhor. — Sacerdotisa prontamente tirou o Kit de Ferramentas do Aventureiro de sua bolsa, oferecendo a ele aquele velho recurso, o gancho.

Nunca saia de casa sem ele…! Ela pegou o Kit de Ferramentas por recomendação e nunca houve um momento em que se arrependesse de tê-lo.

Matador de Goblins pegou o gancho, agarrou a corda com firmeza e girou a ponta do gancho antes de jogá-lo para cima. Ele se alojou entre as vigas e Matador de Goblins deu um ou dois puxões na corda pendurada para se certificar de que estava firme. Agora só precisavam escalar.

Comerciante Feminina era muito nova nisso e, compreensivelmente, teve alguma dificuldade, mas com os outros cinco para puxá-la para cima, não houve nenhum problema real. Uma vez nas vigas, Anão Xamã habilmente soltou algumas das tábuas do teto, permitindo-lhes acesso ao telhado propriamente dito. Então agora se encontravam em uma abóbada de pedra perfeitamente arqueada.

— Então você quer sair, não é?

— Sim. No ponto mais alto possível. — Matador de Goblins olhou para as pedras no topo do arco. — Existe algo chamado de pedra angular, não é?

— Espera aí, Orcbolg! — gritou Alta Elfa Arqueira, tendo um mau pressentimento sobre isso. Sacerdotisa também franziu a testa. — Você não pretende derrubar toda essa fortaleza, não é?

— Não — respondeu Matador de Goblins sem preocupação aparente. Ele deu um aceno lento de seu capacete. — Não serei eu a derrubá-la.

Em vez disso, estava olhando para Lagarto Sacerdote.

 

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Wooooooooooooom…

Houve um uivo como se fosse uma grande assembleia de espíritos, um lamento agonizante se extinguindo.

Era improvável que a maioria dos que ouviram o som entendesse o que era. Os goblins certamente não entenderam. A maioria dos soldados provavelmente também não.

Não, aqueles que simplesmente ouviram o som não teriam reconhecido o que estava acontecendo, mas aqueles que viram, sim. Assim como aqueles que sentiram o terremoto que se seguiu.

O deserto estava se movendo. A areia girava nos desertos distantes como uma nuvem nascendo direto do chão.

E foi chegando mais perto. Cada vez mais perto. Aproximou-se ainda mais enquanto o redemoinho ficava cada vez maior.

A maioria das pessoas estava muito envolvida no turbilhão de goblins para perceber a tempestade de areia, mas todos os presentes sentiram uma vibração inconfundível. Fraco a princípio, fazia com que as partículas de areia nas lajes saltassem para cima e para baixo. Então os talheres nas mesas, as armas descartadas e até os móveis começaram a tremer de forma audível, a caírem e se espatifarem no chão.

Soldados, fugindo dos goblins ou ainda tentando resistir a eles, pararam. Os goblins imprudentes também ficaram paralisados; começaram a olhar em volta e a tagarelar ansiosamente.

Então chegou o momento. Uma grande onda de areia caiu contra a fortaleza como uma tempestade. Uma enorme barbatana dorsal, tão alta quanto uma torre, podia ser vista projetando-se de dentro da nuvem.

— S-São mantaaaas de areia! — Alguém gritou, mas o som foi rapidamente engolido pelos monstros que avançavam. O cardume de peixes enormes, com conchas externas como armaduras, ignorou humanos e goblins e até mesmo a própria fortaleza; nada disso significava nada para eles.

Primeiro um, depois outro e mais outro, colidiram com a fortaleza. Era bem simples: as mantas de areia não se preocupavam com nada, apenas passavam por cima ou através de qualquer coisa que estivesse em seu caminho.

Foi apenas uma questão de tempo até que a fortaleza, famosa e infame em igual medida nesta terra, fosse reduzida a ruínas.

 

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Tradução: NERO_SL

Revisão: ZhX

 

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