Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 11 – Cap. 03.1 – Escolha Sua Própria Aventura

 

 

— Da frigideira, para o fogo, é…?

Sacerdotisa quase não percebeu a princípio que aqueles sussurros vinham de Matador de Goblins.

— O qu…? — Ela disse, olhando em sua direção. Ele continuou do outro lado da janela do motorista, embora pudesse ou não estar realmente falando com ela.

— Palavras que meu profes… meu mestre disse uma vez.

— Bem, ele acertou a parte do fogo — disse Alta Elfa Arqueira com um encolher de ombros, olhando pela janela para o céu azul em seguida. A luz do sol caía impiedosamente, tornando até mesmo o interior da carruagem quente. Combinado com o reflexo da areia, era como estar em um forno. — Se eu fosse lá fora, queimaria minhas orelhas. — Suas orelhas se moviam como se expressassem seu descontentamento com a ideia.

E pensar que quando finalmente conseguiram parar para descansar na noite anterior, tinha sido frio o suficiente para causar arrepios. Você não precisava ser um elfo para achar a mudança de temperatura chocante. Certamente não parecia um lugar para os seres de vida curta.

Talvez por causa da afinidade de seu povo com o fogo, Anão Xamã, em contraste, parecia estar em seu lar doce lar. Não seria verdade dizer que não estava suando nem uma gota, mas não parecia muito perturbado por isso.

Mesmo assim, nenhum desses dois era humano.

— …Sinto muito. Isso tudo porque fiz o cavalo correr demais na noite passada… — disse Comerciante Feminina em uma voz suave do assento onde estava encolhida. Sua pele, geralmente branca como a neve, estava vermelha e lustrosa de suor. Sua respiração vinha em suspiros rasos. Sacerdotisa observou seu peito se contorcer de dor por um minuto antes de ajudá-la a afrouxar suas roupas, momento em que sua respiração finalmente se regulou um pouco.

— Isso é… insolação? — Seria certamente compreensível. Até mesmo Sacerdotisa, que já estava bem acostumada a estar em campo, se sentia um pouco tonta. Comerciante Feminina pode ter sido uma aventureira antes, mas ainda era de nascimento nobre e agora passava todo o seu tempo como comerciante. Não teria como isso ser fácil para ela.

Sacerdotisa ofereceu-lhe um odre de água e Comerciante Feminina o pegou com um “Obrigada” que saiu terrivelmente seco. Ela colocou os lábios na boca do odre e bebeu ruidosamente, Sacerdotisa segurando-o para ela. Uma vez que enxugou algumas gotas perdidas com um pano, murmurou “Obrigada” novamente.

— Agora que tomou um pouco d’água, coma um pouco da carne seca. Vai te manter viva agora que um deus da insolação tem as mãos sobre você.

Sacerdotisa acenou com a cabeça para Anão Xamã, que tirou algumas provisões, mordeu avidamente uma das tiras e lhe passou o resto.. Ela então ofereceu para Comerciante Feminina. A outra mulher pegou com cautela entre os dedos e começou a mastigar a carne amolecida. O gole de água havia colocado um pouco de umidade em sua boca e parecia comer sem muita dificuldade.

Sim. Felizmente, eles ainda tinham algumas provisões, então a situação não era crítica. Vinho de uva diluído e comida eram abundantes na carruagem de bagagens atrás deles. No entanto, o ritmo dos cavalos havia diminuído consideravelmente com o calor e havia apenas breves pausas ocasionais para descansar e se alimentar.

— Certifique-se de pegar leve de vez em quando, Corta Barbas. Você e aquele capacete de metal. Seu cérebro vai fritar antes que perceba.

— Certo. — Matador de Goblins assentiu com a cabeça.

A situação não era crítica, mas também não era particularmente otimista.

O fato de termos encontrado areia movediça sugere que perdemos a estrada principal.

Eles também não viam mais as estátuas do Deus do Comércio e o caminho que procuravam parecia ter desaparecido sob as areias. Poderiam ter as estrelas e luas à noite e o sol durante o dia para guiá-los, mas ainda não sabiam exatamente onde estavam. Quando olhou para fora além daquela viseira de metal, tudo o que viu foi o sol escaldante. Nenhuma montanha grande o suficiente para servir como pontos de referência, apenas areia até onde a vista alcançava.

O calor irradiava do chão, dançando ao longe.

— Uma miragem…? — Havia algo sobre elas em um livro que ele havia lido antes de partir. Dizia que aparições às vezes se manifestavam no deserto e iludiam os viajantes…

Ele estava falando meio consigo mesmo, mas Alta Elfa Arqueira, colocando a cabeça pela janela, respondeu-lhe.

— Apenas dê uma boa olhada, faça algumas perguntas para si mesmo e essas coisas não vão te pegar. — Ela apertou os olhos, como um gato, contra o vento quente e a areia soprando, então balançou a cabeça e olhou para cima. — Ei, está tudo bem com você aí?

— Ha-ha-ha. A falta de água me preocupa um pouco, confesso, mas quanto ao calor, acho bastante agradável — disse Lagarto Sacerdote, parecendo à vontade. Ele se sentou no banco do motorista da segunda carruagem, banhando-se ao sol enquanto segurava as rédeas.

O cocheiro contratado estava debruçado ao seu lado, murmurando para si mesmo.

— O deserto é o inferno — murmurou. — Se você morrer aqui, sua alma será comida…

— Admito que a noite gélida é um tipo de martírio. — Lagarto Sacerdote deu um tapinha suave nas costas do cocheiro, como se seu murmúrio não tivesse significado. De fato, parecia pensar que talvez fosse melhor não falar com o homem. — Também devo dizer que é preocupante para uma pessoa não ter certeza para onde estamos indo.

— Sim, espero que possamos voltar para a estrada — disse Alta Elfa Arqueira, encostada na moldura da janela e parecendo francamente entediada enquanto o vento passava por suas orelhas e bochechas.

A situação não era crítica, mas também não era animadora.

Eu mesmo fui forçado a reconhecer esse fato. E tendo feito isso, Matador de Goblins descobriu que era quase impossível permanecer otimista. Percebendo isso, se juntou à brincadeira.

— É lamentável que não tenhamos conseguido recuperar nenhum dos equipamentos dos goblins.

— Nem me fala. Não acho que vou encontrar mais flechas por aqui — disse Alta Elfa Arqueira, talvez ciente de sua necessidade de conversar. Talvez não. Ela riu como o som de um sino tocando.

Então, de repente, ela apertou os olhos, colocando a mão na testa para sombrear os olhos enquanto olhava ao longe.

— O que é?

— Lá. Uma construção… Talvez? É algo de qualquer maneira.

— Hrm… — Ele grunhiu. Havia a possibilidade de ser um erro, mas não havia tempo para isso. — Está certo. — Mesmo cansado como estava, o cavalo respondeu prontamente ao movimento das rédeas de Matador de Goblins. Dentro da carruagem, um rangido e o balanço anunciavam a mudança de direção.

— Cuidado aí, Bigorna. Tem certeza de que você não está vendo uma miragem?

— Vou te mostrar uma miragem! — Ela rosnou, puxando a cabeça de volta para a carruagem. Sacerdotisa assistiu a discussão; uma cena tão familiar tomar forma com alívio. Ela também estava lutando contra o calor. Para economizar água, mergulhava uma toalha de mão, limpava em torno de suas bochechas e testa e a oferecia para Comerciante Feminina depois, cujo cabelo estava preso ao rosto com suor.

— Acho que deveria ter treinado um pouco mais, hein…? — Ela sorriu fracamente para Sacerdotisa, que balançou a cabeça.

— Espero que possamos descansar mais adiante — respondeu ela.

Não muito tempo depois, a carruagem de fato chegou a uma aldeia… mas uma que estava muito quieta.

 

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Shf. Seu pé estendido chutou a pilha de areia, para variar. Quando Matador de Goblins baixou a haste longa que servia como freio da carruagem e pulou do banco do motorista, se viu pensando: É normal no deserto que a areia passe dos tornozelos? Seu cérebro — já torrado pelo calor — não estava funcionando muito rápido. Estalou sua língua e tomou um gole de água, depois outro. O líquido que entrava em sua boca pela abertura em sua viseira era desagradavelmente morno.

— De qualquer forma, acredito que devemos começar investigando. O que você acha?

— …Duvido que tenhamos outra escolha. Temos que saber onde estamos ou não chegaremos a lugar nenhum — disse Comerciante Feminina ao emergir, com as pernas finas primeiro, da carruagem. Estava usando botas altas contra a areia, seu manto puxado para cima de sua cabeça para protegê-la do sol. Ela lhe deu um aceno hesitante. — Mas por que me pergunta?

— Porque você é a nossa contratante.

Ela piscou com a resposta de Matador de Goblins, então sentiu suas bochechas se moldarem em um sorriso. Era como se alguma tensão tivesse se dissipado. — Então continue com a busca, se for ser tão gentil.

— Sim. — Matador de Goblins assentiu com a cabeça, em seguida, acenou para os membros de seu grupo para prosseguir em direção à aldeia. À medida que avançava, ouviu mais sons de impacto contra a areia atrás dele. O outros desembarcando da carruagem, supôs.

Pé para fora, passo à frente. A areia branca brilhava enquanto a chutava, antes de ser levada como poeira ao vento. Ele verificou a espada em seu quadril, certificando-se que poderia sacá-la a qualquer momento enquanto se movia. Haviam vários edifícios na aldeia, feitos de argila muito branca ou tijolos descoloridos pelo sol. Era impossível dizer à distância qual era o sustento desta cidade, mas talvez criassem os burros encaroçados. Ou talvez fosse uma cidade de hospedagem. De qualquer forma, esperava que pudessem obter água e informações aqui.

— Ah cara, meus pés estão chamuscados… — lamentou Alta Elfa Arqueira, chutando freneticamente um pouco de areia. Ela não parecia realmente deixar nenhuma pegada, considerando que era uma elfa.

Sacerdotisa apertou os olhos contra o sol que ameaçava assar o grupo, seu reflexo saltando da areia.

— Sinto que vai queimar meus olhos…

— O melhor plano é não olhar muito para cima ou muito para baixo — disse Anão Xamã. — Estou começando a pensar que a Orelhas Compridas teve uma boa ideia com esse traje.

Alta Elfa Arqueira, alguns passos à frente, ouviu-o e se virou, arfando seu modesto peito com uma quantidade nada modesta de orgulho.

— Essa é a sabedoria dos elfos para você; a verdadeira inteligência em ação. Você precisa estar de acordo com a Natureza, independente de qual ambiente esteja entrando.

— Isto vindo das pessoas que dobram os espíritos da Natureza à sua vontade!

— Melhor do que aqueles que cavam buracos no chão e derrubam florestas, como fazem os anões.

Suas vozes exasperadas eram o único som além do chicote do vento e seus passos na areia. Na verdade, não havia mais nada a ser ouvido.

Goblins?

Não, estava limpo demais para isso. Ele balançou o capacete quando entraram na aldeia aparentemente deserta. Havia muitas coisas para pensar.

— Onde está o cocheiro?

— Dificilmente está em condições de nos seguir e nem nós para cuidarmos dele — disse alegremente Lagarto Sacerdote, com os olhos revirando nas órbitas. Ele gesticulou com um lento tremor de seu longo pescoço em direção à cortina da carruagem de bagagens, atrás da qual um homem podia ser visto agachado. Ele estava protegido por um sobretudo, com os dedos na boca enquanto murmurava inaudivelmente para si mesmo… como vinha fazendo desde a noite anterior.

O ambiente do deserto, o ataque súbito junto de uma fuga precipitada e agora vagando sem rumo no deserto, nem todo mundo era feito para suportar tais coisas, supunha Matador de Goblins.

— Algum perigo?

— Bem… receio que não possa dizer. O comportamento daqueles cujas almas foram roubadas pelo deserto pode ser impossível de prever. — As mandíbulas de Lagarto Sacerdote se moveram e sua língua saiu de sua boca. — Por menor que nossa Comerciante Feminina possa parecer, ainda é bastante… corajosa. E não é como se ela não pudesse gritar.

— Mantenha um ouvido aberto para ela.

— Como você quiser.

Matador de Goblins deu a vanguarda para o homem-lagarto, que se arrastou para a frente e suspirou em seguida. Ele tinha que estar ciente do que estava ao seu redor. Tinha de saber o status de todos com ele. Como líder do grupo, havia muito o que pensar. Muito para lidar.

— E você? Como você está se sentindo?

— Estou bem — respondeu Sacerdotisa, sorrindo apesar do suor em seus olhos e sua dificuldade de respirar. — Estou bem.

— Bom, então — disse Matador de Goblins com um aceno de cabeça. — Certifique-se de se hidratar.

— É… preocupante, não é?

Hrm. Combinando seu passo com o dela sem notar, ele encontrou Sacerdotisa correndo ao seu lado e fazendo essa observação incomum. Quando inclinou o capacete em perplexidade, no entanto, ela sorriu.

— Quero dizer ela.

— Ah… — Dentro de seu capacete, ele moveu o olhar para examinar a carruagem. Comerciante Feminina havia trocado para o banco do motorista, usando seu casaco para bloquear o sol. Ela estava olhando em volta, em alerta máximo. A essa distância, ele não conseguia distinguir a palidez do rosto dela, mas, tanto física quanto mentalmente, suspeitava que ela poderia estar se forçando a suportar a situação. Quando ela o notou, no entanto, levantou a mão e deu um aceno largo. Eu estou bem, parecia estar dizendo.

— Afinal — murmurou, como se tentasse arrancar as palavras do nada. — ela é nossa… contratante.

— Isso é verdade — disse Sacerdotisa, soltando uma risada do fundo de sua garganta e depois pegando seu ritmo de caminhada. Matador de Goblins desacelerou o dele, para que ela pudesse finalmente alcançá-lo e caminhar ao seu lado.

E assim, no calor vertiginoso, os dois caminharam lado a lado ao longo do rio de areia que parecia ter sido uma rua nesta aldeia. Barris, implementos agrícolas: tudo do lado de fora parecia ter sido derrubado, enterrado pela areia, ou ambos. Nada neste lugar parecia um local que as pessoas iriam habitar…

— E, no entanto, mesmo com tudo isso… também não parece realmente apodrecido — disse Sacerdotisa, olhando em volta nervosamente, mas Matador de Goblins respondeu com silêncio. Ele estava em completo acordo com ela. Não reconhecia a sensação daqui, mas não era a sensação que se tinha em um ninho de goblins. Ele valorizava muito essa intuição, embora não fosse do tipo que se permitia hesitar por causa disso.

— E aí? Encontraram alguém? — Ele perguntou à Alta Elfa Arqueira.

— Sim, mas… — Suas orelhas tremulavam onde ela estava, na porta de um prédio. — Parece que estão dormindo.

— O quê…? — Matador de Goblins pisou sobre a pilha de areia no limiar da porta aberta. Depois de dar um único passo para dentro, quase sentiu frio, talvez porque a luz do sol estava bloqueada, ou talvez tivesse algo a ver com os materiais de construção. De qualquer forma, ele se dirigiu para dentro através da escuridão úmida, descobrindo o que parecia ser uma sala de jantar. Ele podia ver pedaços de tapete sob a areia espalhada, mas no centro da sala, em vez da mesa redonda que esperava, havia uma única mesa longa. Um homem de meia-idade estava debruçado sobre ela, dormindo. Lagarto Sacerdote e Anão Xamã estavam um em cada lado dele.

— Verificamos os outros quartos e todos estão assim. Mesmo os bebês não fizeram nenhum som — disse Anão Xamã.

— Bem, agora… se as outras casas estão de fato todas assim ou não, esta seria uma situação fantástica — respondeu Lagarto Sacerdote. Ele e Alta Elfa Arqueira devem ter sentido a estranheza do momento, assim como Matador de Goblins.

O homem deitado do outro lado da mesa usava trajes do deserto muito parecido com os de Alta Elfa Arqueira. Do contrário, ele parecia completamente normal, exceto que estava de bruços, sem se mover.

— Hum, olá… — Sacerdotisa, hesitante, começou a chamá-lo, mas Matador de Goblins a parou com um movimento de sua mão. Em vez disso, tirou sua espada curta da bainha, dando um passo mais perto do homem, depois outro. Então, estendendo a mão esquerda blindada, pegou o ombro do homem…

— Eek?! — Sacerdotisa exclamou no exato instante em que o homem desmoronou sem um único som. Ele se transformou em pó como uma estátua de pedra que havia passado muito tempo a céu aberto. A poeira era de uma cor avermelhada que evocava carne crua e agora tudo o que restava do homem descansava na palma da mão do Matador de Goblins. E mesmo isso teria se perdido se ele não tivesse apertado a mão para segurá-la.

— O que… o que está acontecendo aqui…? — Sacerdotisa, compreensivelmente, recuou. Até mesmo Anão Xamã e Lagarto Sacerdote empalideceram (embora fosse difícil dizer com as escamas do Lagarto Sacerdote).

— Agora, calma aí. Isso significa que todos nesta aldeia estão…?

— Parece ter acontecido à noite sem que eles percebessem e ninguém foi poupado. — Matador de Goblins soltou uma respiração curta.

— Isso explicaria o silêncio — disse Lagarto Sacerdote com um abanar de cabeça. — Devemos presumir que foram atacados por algum monstro?

— Se fosse assim, teria que ser… Grograman, A Morte de Muitas Cores1Referência de História Sem Fim. Conhecido como “A Morte de Muitas Cores” porque tem a habilidade de mudar de cor dependendo da areia em que está pisando e tudo, até mesmo as criaturas mais poderosas, são reduzidos a cinzas em sua presença. Link da imagem: Grograman. — Todos se entreolharam com este breve anúncio de dentro do capacete. — Ouvi dizer que há coisas terríveis no deserto. Embora não possa dizer que entendo o que são. — Matador de Goblins lhes disse com um rápido balançar de cabeça; deveria ser uma criatura de conto de fadas. — Mas não importa, esqueçam isso. Foi simplesmente algo que me veio à mente.

Matador de Goblins raramente, ou nunca, pronunciava o nome de qualquer monstro que não fossem goblins. Se não estivesse tão ocupada vigiando, Alta Elfa Arqueira poderia ter feito um grande alvoroço sobre esse fato.

Porém, naquele momento, ela descobriu que tinha coisas mais importantes com as quais se preocupar.

— Ei, pessoal! Más notícias!

 

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— E-eeyargh! Não aguento mais isso! Este deserto está amaldiçoado…!!

— Ei, segurem-no…! Onde você acha que está…?! — Comerciante Feminina agarrou o braço do cocheiro, mas ele a afastou e tomou as rédeas da carruagem de bagagens. Comerciante Feminina, caindo de costas na areia, deu um pequeno grito. O homem não chegou a desacelerar, no entanto, quando estalou as rédeas e colocou a carruagem de bagagens em movimento. Comerciante Feminina teve que sair do caminho, ou seu corpo esbelto e adorável poderia nunca mais ter sido visto novamente.

— Vou para casa! Não quero gastar mais um segundo neste lugar! Eu não quero morrer!! — Os olhos do cocheiro estavam arregalados e injetados de sangue, espuma salpicava as bordas de sua boca enquanto ele batia as rédeas repetidas vezes. Comerciante Feminina não conseguiu sequer se levantar antes que a carruagem tivesse desaparecido além das dunas. Se soubesse que isso iria acontecer, então ela deveria ter começado desembainhar sua rapieira…!

— Sinto muito. Eu não consegui pará-lo…!

— Esqueça isso! — Alta Elfa Arqueira gritou, saltando até ela. Chutando areia… um elfo, apesar de tudo! Quando chegou, fez um balanço da situação em um olhar e, em seguida, ajudou Comerciante Feminina a se levantar. — Você está bem? Ele não te machucou, não é?!

— Obrigada, estou bem — disse Comerciante Feminina, tossindo. — Apenas com um pouco de areia na minha boca.

— Bom. — Alta Elfa Arqueira soou sinceramente aliviada. Ela gentilmente escovou a areia do cabelo e das bochechas de sua amada amiga. Olhou ao longe, dando um clique deselegante de sua língua, em seguida, gritou calmamente, mas bastante audível: — Ei, pessoal! Más notícias!

Seus companheiros imediatamente saíram do prédio. Lagarto Sacerdote foi o primeiro, equilibrando-se com sua cauda; seguido por Matador de Goblins, que se movia com notável agilidade para um homem vestindo tanta armadura. Sacerdotisa correu atrás deles e, finalmente, Anão Xamã se arrastou pela retaguarda.

— Pelos Deuses! — Lagarto Sacerdote exclamou. — Eu não tinha percebido que seu espírito tinha sido tão quebrado pelo deserto!

Lagarto Sacerdote pensou que o homem tinha perdido a cabeça totalmente, e isso parecia ter se voltado contra ele. Como o desanimado muitas vezes não tem motivação para fazer qualquer coisa, Lagarto Sacerdote assumiu que era seguro deixar o cocheiro em paz, mas julgou mal.

— Qual é o problema? Por que você não atirou nele? — Matador de Goblins perguntou, tentando ignorar a impressão de que podia ouvir o som de dados sendo rolados à distância.

Alta Elfa Arqueira não respondeu, mas apenas olhou para as areias e perguntou baixinho:

— Encontrou alguma coisa?

— Não — respondeu, balançando a cabeça. — Ninguém vivo.

— Eu gostaria… de dar-lhes um funeral, se pudermos… — disse Sacerdotisa hesitante, mas sabia muito bem que seria perigoso ficar aqui por muito tempo. Alguma morte cuja forma eles não conheciam estava à solta. O cocheiro fugitivo poderia ser o mais sábio deles. — No entanto, acho que devemos ir atrás dele, rápido…!

— Com uma carruagem para todos nós? Não seria fácil… — Anão Xamã franziu a testa. — Poderia funcionar, se eu usasse Vento de Cauda…

— Eu não faria isso se fosse você, anão — disse Alta Elfa Arqueira, sem se preocupar em esconder sua carranca. Ela apontou com um movimento gracioso para algo logo acima das areias. — Dê uma olhada naquilo.

Essa foi a razão pela qual ela não atirou no homem ou deu perseguição. Sim, estava sobre as areias, literalmente. Especificamente, a camada superior de areia parecia estar se movendo. Rodopiou acima do horizonte preso em um vento selvagem. Sacerdotisa murmurou distantemente que era como uma grande cobra enrolada.

E estava vindo para cá. Era como uma montanha enorme e escura indo diretamente para eles.

— O quê… — Comerciante Feminina simplesmente ficou em pé e olhou, até que finalmente as palavras vieram. — …caralhos é… é isso?!

— Ó Deuses, eu vejo agora! A Morte de Muitas Cores, de fato! — Anão Xamã gritou, quase zombando. — O Simoon, o Vento Vermelho Mortal! Então foi isso que matou esses aldeões!

— O que é isso? Algum tipo de monstro?! — Alta Elfa Arqueira gritou, olhando para seu companheiro diminuto como se ela tivesse sido atingida.

— Não! — Anão Xamã gritou de volta. — É uma tempestade de areia!

Simoon: O nome significava “vento venenoso”. Trazia areia ofuscante e calor devastador. Pedras superaquecidas voariam por toda parte. Atacaria impiedosamente a todos em seu caminho. Qualquer um que fosse pego nele seria chicoteado por ventos inimaginavelmente quentes. Eles encontrariam o céu fechado pela areia e seriam sugados até morrerem secos.

É claro, que nem todos os aventureiros sabiam desses detalhes, mas sendo aventureiros, estavam bem conscientes de quando a morte estava se aproximando. Isso era uma coisa que o cocheiro, correndo com a carruagem de cabeça para a tempestade, obviamente não sabia.

— Corram! — Talvez tenha sido Matador de Goblins quem emitiu a ordem. Todos mergulharam para os prédios.

— Ha-ha-ha-ha-ha. Agora, isso se tornou interessante!

— Não é hora de rir, Escamoso!

Lagarto Sacerdote, lutando ao longo do chão com suas garras, prontamente levantou Anão Xamã com sua longa cauda e colocou-o em suas costas. Não havia como ele atravessar a areia com suas pernas atarracadas. Neste momento, o tempo importava mais do que a dignidade.

— Mas você disse que ninguém foi deixado vivo lá dentro de qualquer maneira, não é?! — Alta Elfa Arqueira gritou, poupando um olhar para trás enquanto corria junto. — Você não tem aqueles anéis de respiração que você gosta tanto?!

— Tenho, mas não sei se funcionariam com areia e não quero apostar minha vida para descobrir — respondeu Matador de Goblins. Sua respiração ainda regular mesmo enquanto elaborava a melhor estratégia em sua mente. — As pessoas daqui morreram porque não viram isso chegando — disse ele. — Vamos fechar as portas e janelas, nos entrincheirar.

Uma vez que o líder do grupo decide sobre um plano de ação, tudo o que resta é realizá-lo da melhor maneira possível. Enquanto Lagarto Sacerdote, Anão Xamã e Alta Elfa Arqueira seguiam em frente, Sacerdotisa estava apoiando Comerciante Feminina em seu ombro. Ainda sentindo os efeitos de um deus da insolação, a respiração da jovem comerciante era patética e perigosamente superficial.

— Peguei você! Só aguenta aí…!

— O c-cavalo… e quanto… ao cavalo?! Não podemos… só sair…

— Esqueça o cavalo.

— Yikes!

— Eek?!

Matador de Goblins instruiu enquanto corria entre as duas mulheres. Cada uma delas encontrou seus corpos delicados enrolados sob um de seus braços e foram puxadas para cima como lenha. Ignorando seus gritos e fracas demonstrações de resistência, ele aumentou a velocidade.

Porém, a escuridão era mais rápida do que ele. Continuava se aproximando, implacável, mesmo quando Comerciante Feminina continuou a se opor:

— E-Eu estou bem. Posso… posso andar…

— Não posso ajudá-la se você cair.

Sacerdotisa explodiu: — Obedeça!

Provavelmente tinha decidido que sua melhor chance de sobrevivência estava nos braços de Matador de Goblins, mesmo que fosse irrisória. Ela se contorceu, olhando para trás, tentando pensar em qualquer coisa que pudesse ser de alguma ajuda. O que se aproximava agora era uma enorme tempestade de areia, cobrindo qualquer luz do sol. Uma sombra escura se estendia sobre o grupo e logo estaria escuro como a noite.

Ela deveria lançar Luz Sagrada? Não, não estava tão escuro assim. Curar ou Purificar, então? Não, também não.

— Se precisarmos, lançarei Proteção!

— Por favor, faça.

Tudo o que restava, então, era concentrar seu espírito completamente, preparando-se para orar aos deuses no céu. Quando Sacerdotisa fechou os olhos e começou a murmurar as palavras de uma oração, Comerciante Feminina mordeu o lábio, com força. Matador de Goblins considerou dizer algo a ela, mas sentiu que sua força era melhor usada para correr.

— Orcbolg, rápido!!

Através de sua viseira, ele podia ver Alta Elfa Arqueira à frente. Ela tinha chegado primeiro à porta e estava gritando e acenando para ele. Ele acenou com a cabeça quando viu que Lagarto Sacerdote e Anão Xamã já haviam mergulhado para dentro. O Vento Vermelho Mortal estava quase os alcançando, mas ainda tinha uma curva à esquerda.

— Eu vou jogar vocês.

— O qu…?

— Eek…?!

Sem esperar por suas respostas, Matador de Goblins fez exatamente o que havia declarado que faria. Arremessou Comerciante Feminina, seguida por Sacerdotisa, em direção à porta. E então, no espaço de uma respiração, ele mesmo cobriu a distância restante. As duas meninas caíram no tapete de areia e foram capturadas por Anão Xamã e Lagarto Sacerdote. Quando Matador de Goblins deslizou pela entrada, Alta Elfa Arqueira bateu a porta atrás dele.

No segundo seguinte, houve um imenso rugido e a casa tremeu e rangeu.

Eles a barraram o mais rápido que puderam.

 

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Tradução: NERO_SL

Revisão: B.Lotus

 

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