— Bem, bem, Corta Barbas, você demonstrou ter um autocontrole admirável — disse Anão Xamã com um sorriso, sua voz quase perdida no barulho das rodas da carruagem ao longo dos sulcos na laje.
O capacete de metal de Matador de Goblins se moveu levemente. Ele havia se instalado dentro da carruagem e estava trabalhando em silêncio. Ofereceu apenas um pensativo “Hmm”, embora tenha acrescentado em seu habitual tom desapaixonado:
— Foi necessário. — Uma resposta contundente. Era um mistério o quão bem ele entendia o significado por trás das palavras do anão.
Anão Xamã observou a paisagem passar do lado de fora da janela enquanto retirava uma cabaça de vinho presa ao seu quadril, bebendo-o sem demora em um único gole e soltando um suspiro como um ahhh.
— Rumores da filha de um goblin? Esperava que você fosse direto investigar, devo dizer.
— Ela é só uma descendente de um povo com pele escura — disse Matador de Goblins brevemente. O capacete virou-se para Anão Xamã, o olhar escondido atrás do visor pousando em sua barba. — E o requerente da missão é o filho do comerciante de vinhos. Não um goblin.
Anão Xamã gargalhou, bastante satisfeito com a resposta. No canto, as bochechas de Sacerdotisa se suavizaram em um pequeno sorriso.
Alta Elfa Arqueira, os observando, deu um elaborado movimento de ombros.
— Mas tudo dá na mesma: caça aos goblins, de novo. Deuses, fico tão entediada de ficar com você, Orcbolg.
— É mesmo?
— Isso foi sarcasmo.
— …É mesmo?
Esse murmúrio foi acompanhado por uma breve pausa em seu trabalho, mas ele logo o retomou. Estava moendo algo preto com um almofariz, como um alquimista. Alta Elfa Arqueira, que normalmente poderia estar inspecionando o trabalho com curiosidade, deu algumas fungadas e franziu a testa. Então acenou com a mão como se quisesse deixar claro o quão desinteressada estava.
Anão Xamã, ignorando-a, tomou outro gole.
— Eh, no final, um aventureiro não é nada mais que um porrete.
— Um porrete? — Sacerdotisa perguntou.
— Eu diria que sim — respondeu Anão Xamã, acariciando sua barba branca.
Sacerdotisa estava confusa demais com aquela frase para dizer mais alguma coisa, mas Lagarto Sacerdote escolheu preencher a lacuna.
— E o que te faz dizer isso, Mestre Xamã? — Ele desenrolou seu longo pescoço e Anão Xamã assentiu.
— Porque em todos os lugares e épocas, o último recurso para resolver um problema é atingi-lo o mais forte que puder. Até certo ponto, você pode tentar a polidez, pode resolver problemas diferentes, mas quando as coisas ficam ruins… Então é a nós que eles chamam.
Lagarto Sacerdote concordou com a cabeça.
— Desde a criação de todas as coisas, a violência sempre foi a solução preferida para os problemas.
Sacerdotisa ofereceu um sorriso tenso e optou por não responder diretamente.
— Vocês acham mesmo?
— Claro, não é verdade para todas as situações — respondeu Lagarto Sacerdote com um tom significativo muito apropriado para um monge. — No entanto, depois de reunir informações, convocar um conselho de guerra e chegar a um acordo geral…
— Então geralmente a conclusão é apenas uma e isso significa que é hora de atacar! — Anão Xamã disse e, juntamente com Lagarto Sacerdote, começaram a rir ruidosamente. A alegria deles sacudiu a cortina e deixou Sacerdotisa sem saber como responder. Por fim, se contentou em oferecer um “Desculpe” ao cocheiro e deixou para lá.
Ela se perguntou, no entanto, como até mesmo essa simples troca animava seu coração.
Talvez seja porque finalmente estou de volta.
Estava longe de ser a primeira vez que operava sem os outros. E realmente não faziam tantos dias desde a última aventura com todos eles, se contasse. Mas… sim, voltar era certamente o termo correto. Todos os outros estavam conversando e se divertindo; estava lá, mas com uma expressão perturbada no rosto. Era realmente bastante confortável e, para esconder seu constrangimento, Sacerdotisa conseguiu soltar um pequeno murmúrio:
— Nossa, realmente…
— Este é o tipo de coisa que faz as pessoas assumirem que anões e homens- lagarto têm alguns parafusos soltos — afirmou Alta Elfa Arqueira para Sacerdotisa. Não deixe que eles a incomodem. Suas orelhas se moveram na direção da cortina. — Ei, estou vendo algo… esse é o lugar?
Matador de Goblins moveu-se calmamente para onde a elfa estava inclinada e olhou na direção indicada. Ele enfiou a cabeça com capacete para fora do transporte, passando pela cortina, virando-a na direção a qual os demais estavam olhando.
Entendo; Então é isso.
Atrás de um bosque de pequenas árvores, construído no topo de uma colina imponente, de modo que parecia vislumbrá-los, havia uma mansão. Sim, eles disseram que o mercador tinha um negócio bastante lucrativo. A casa parecia nova em folha, um edifício espetacular.
Matador de Goblins grunhiu enquanto olhava para a mansão, então perguntou categoricamente:
— O que acha?
— Acho que não sou a pessoa a quem você costuma fazer essa pergunta — respondeu Alta Elfa Arqueira. Não que eu me importe. Ela também olhou para fora, suas orelhas se contraindo. — Vinhas a oeste. É por isso que a casa está aqui. Há uma ladeira descendo da mansão, depois um rio a leste…
— Um rio?
— Posso ouvir água — explicou Alta Elfa Arqueira como se isso devesse ser bem óbvio.
— Hmm — murmurou Matador de Goblins, vasculhando sua bolsa e retirando um mapa.
Era um esboço das imediações, é claro. Eles teriam que investigar por si mesmos para obter os detalhes mais sutis do terreno, mas… ah sim, havia o rio, a leste, de fato. Também corria para a Cidade da Água um braço do rio no qual eles viajaram para o sul até a terra natal dos elfos.
— De qualquer forma, se eles vão aparecer, aposto que será do oeste — disse Alta Elfa Arqueira, entrando de volta na carruagem enquanto Matador de Goblins estudava o mapa. A elfa sentiu que este não era realmente seu trabalho. Ficava feliz em improvisar assim que via como as coisas eram no chão; não pensou muito antes de chegar lá.
— As vinhas não dariam uma boa posição?
— Posição? — Ela repetiu de forma boba por ter sido pega de surpresa pela pergunta. Então disse enquanto absorvia o significado da frase: — Ahh, como uma posição estratégica… — Assentiu com a cabeça. — Boa pergunta. Acho que os goblins são muito baixos para fazer tanta diferença.
— Entendo…
As videiras foram mantidas aparadas e dispostas em fileiras ordenadas para permitir que o trabalho continuasse sem interrupções. Quase como os dentes de um pente, pensou Matador de Goblins. Se houvesse uma estrada preparada para eles, poderia esperar que os goblins marchassem estupidamente por ela?
— Nós não poderemos usar fogo. — refletiu.
“Claro que não!” alguém disse, e “Claro que não podemos!” disse outra pessoa. No entanto, quem tinha falado?
Matador de Goblins tirou as dúvidas de sua cabeça e observou o cenário fluir. Ficou surpreso com a figura humana que viu de pé no terreno. A princípio, pensou que fosse um guarda ou talvez um servo, mas não era. Armado com uma arma e encimado por um capacete, era um espantalho construído às pressas.
Tais coisas podem ter alguma utilidade à noite, mas durante o dia são em grande parte sem sentido. E para goblins, noite era dia.
Isso afastaria os goblins ou os colocaria em guarda? Matador de Goblins considerou por um momento, então balançou a cabeça. Não teria muito propósito. A invasão viria no início da noite. Era assim que os goblins faziam. E uma vez que estavam no ataque, sequer cogitavam que tinham a chance de perder.
Pensando bem, muitos aventureiros agiam dessa mesma maneira.
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— Vocês estão aqui! Do fundo do meu coração, agradeço por terem vindo…!
Quando o grupo desembarcou da carruagem, foram recebidos pelo filho do comerciante de vinhos, que havia chegado um pouco antes deles. Quando o seguiram pela porta, no entanto, o que descobriram foi uma completa traição de suas expectativas.
— Hrk…
— Bem, agora… Meu Deus…
Matador de Goblins parou na porta, enquanto ao lado dele Anão Xamã falava sem querer.
O quintal tinha sido bem cuidado, junto com o caminho sinuoso que o atravessava e depois havia a grossa porta de carvalho. Porém, assim que entraram no salão que formava a frente da casa, o encontraram em ruína. Madeira nua e materiais de construção podiam ser vistos por todos os lados e as paredes haviam sido repintadas apenas parcialmente. Um canto da sala estava ocupado por móveis descartados, que haviam sido cobertos apenas com um grande pano branco para manter a poeira longe. Sacerdotisa não tinha certeza se o lugar estava sendo construído ou demolido.
— Então você… ainda está trabalhando nisso? — Ela finalmente perguntou.
— Eu disse que não poderíamos mais nos preocupar com reputação, mas queríamos que o exterior ficasse pelo menos bonito — respondeu o filho do comerciante. — Meu pai contratou um carpinteiro para reformar o lugar, mas ele fugiu de nós.
— Gaaaah! Uma coisa horrível, isso. — Madeira cortada e pedra esculpida, ao contrário de madeira bruta e pedra intocada, eram campo dos anões. O xamã ficou furioso. Parecia um elfo confrontado com uma floresta brutalmente derrubada, provavelmente se sentindo como um também. Seu rosto era a imagem da tristeza, e sua voz estava cheia de compaixão por esta casa, que não conseguiu cumprir seu papel. — Desperdício de um bom edifício…
— Mas conveniente para nós — disse Matador de Goblins, colocando a mão em uma parede mal montada. Parecia satisfeito ao descobrir o quão fino era. — Vamos perfurar as paredes. Haverá muitos inimigos para enfrentar. Usando esse lugar como base, será melhor se pudermos acessar facilmente o interior.
— O que, planejando transformar este lugar em uma fortaleza? — Anão Xamã disse, meio brincando e meio preocupado.
— Não — respondeu Matador de Goblins, balançando a cabeça. — Um castelo filial.
— Mm, uma tática testada ao longo da história para batalhas de defesa ao forte — disse Lagarto Sacerdote, fazendo seu típico gesto estranho de mãos juntas. Os homens-lagarto sabiam mais de batalhas do que qualquer outra raça neste grupo e podia se tornar bastante loquaz quando se tratava de estratégias e táticas. Acenou sua longa cauda, sua língua entrando e saindo de sua boca, enquanto olhava Matador de Goblins no rosto. — É difícil dizer o que as forças do Caos podem querer aqui, mas duvido que seja simplesmente por controle ou conquista.
— Os goblins são capazes de pensar tanto em primeiro lugar?
— Talvez eles não, mas sim aqueles acima deles. Assim, podemos ser capazes de adivinhar seus objetivos.
— Hmm… —,Matador de Goblins meditou e considerou. O que tinha aqui? — As uvas e o vinho. E o prédio.
— Sim, suprimentos que eles podem obter através deste roubo, mas acho que roubar provisões era apenas incidental ao seu objetivo principal.
— A Cidade da Água… Uma Praça D’Armas*, é assim que você chamaria isso?
*(NT: Um grande espaço aberto no centro de um castelo ou fortaleza. Tinham como objetivo principal servir de local para concentração de tropas).
— Provavelmente, mas duvido que até mesmo esse seja o objetivo principal deles. Esta operação tem muitas facetas. O que significa que…
Os dois juntaram as cabeças, falando sobre táticas de batalha com familiaridade. Acompanhar a medida que as ideias fluíam, era tudo o que Sacerdotisa podia fazer. Era intimidante, mas inexperiente como era, mesmo uma conversa como essa poderia ser uma lição valiosa.
Tenho que dizer minha opinião, no entanto.
— Hum — disse ela com uma tossida doce, atraindo os olhares penetrantes dos dois debatedores. Mesmo que estivesse ficando vermelha com a atenção, Sacerdotisa hesitantemente levantou a mão. — Não deveríamos pedir a opinião sobre esse tipo de coisa para o requerente da missão primeiro…?
— …Hrk.
— Uma noção sábia.
Matador de Goblins apenas grunhiu e Lagarto Sacerdote revirou os olhos alegremente. Alta Elfa Arqueira, que estava ouvindo a conversa sem muito interesse, tentou reprimir uma risada, porém mesmo assim soltou uma risada suave, como um sino.
Anão Xamã só podia suspirar com a cena, e se virou para o requerente da missão.
— Você os ouviu. Tudo bem para você, senhor?
— Sim, está tudo bem.
A resposta veio antes que o filho do comerciante de vinho pudesse falar, do alto da escada que se estendia para fora da sala principal. A voz era como uma corda de arco bem esticada e pertencia a uma mulher idosa.
Ela usava roupas que eram menos extravagantes, ou elegantes e mais simples e contidas, seu cabelo grisalho estava preso no alto da cabeça. Provavelmente deve ter sido uma grande beldade, mas agora estava magra e definhada, acompanhada pela passagem de muitos anos. Entretanto, não demonstrou nenhuma vergonha nisso enquanto descia a escada com passos seguros, e essa mesma força era sua beleza agora.
Sacerdotisa engoliu em seco e sentou-se mais ereta. A velha parecia aceitar até mesmo aquele gesto como algo natural.
— Só resta uma coisa para a honra desta casa; todo o resto é trivial.
— Mãe…
— Silêncio, criança. — A voz da mulher revelava a idade, mas suas palavras eram fortes. Ela fixou um olhar afiado e muito avaliador nos aventureiros, olhando de um para o outro. — Nossa família pode cair de joelhos, mas nunca deixará de se levantar. — Talvez tenha sido isso que lhe deu tanta convicção, mesmo nestes tempos difíceis.
É isso que significa ter um modo de vida? Ter estilo?
Sacerdotisa pensou nas palavras que ouviu naquele covil de bandidos. Ela ainda as entendia vagamente.
— Assim como são nos negócios, será na guerra. Espero que vocês ganhem suas recompensas, aventureiros. — A velha fez uma reverência elegante, depois desapareceu no andar de cima, quase deslizando para longe. Seus passos não emitiram nenhum som, sem dúvida explicando como havia entrado sem que eles percebessem.
— Cara, vocês humanos são fascinantes. — Alta Elfa Arqueira sorriu ao lado de Sacerdotisa. Havia apenas uma pitada de admiração em sua voz. — Tenho que mostrar a essa criança o meu lado bom, considerando que sou mais velha que ela.
— Mas ela certamente é muito mais velha do que eu — enfatizou Sacerdotisa, e isso parecia uma razão para ela ter certeza de que agia de uma maneira que pudesse se orgulhar.
A mulher lhes disse para ganharem suas recompensas. Isso foi, à sua maneira, uma expressão de confiança neles. E a confiança era tão valiosa quanto um saco de moedas velhas e surradas que o chefe da aldeia havia coletado ou o ouro retirado de seu cofre por um comerciante.
Ter pai, mãe, filho, amigos, trabalho, viver a vida dia após dia.
Tenho certeza que é isso que significa… Certo?
Sacerdotisa dirigiu a pergunta silenciosa a ninguém em particular, talvez à Mãe Terra no céu. É claro que nenhuma resposta veio, mas isso era ótimo.
— De qualquer forma, deixe Orcbolg e seus amigos se preocuparem com os detalhes. — Alta Elfa Arqueira mudou de repente para um bom humor calmo. — Eu só atiro nas coisas.
— Agora só um minuto, Orelhas Compridas. Quando estamos com tanta falta de mão-de-obra, até uma bigorna pode ser colocada em serviço. — Houve um som de objeção (“Bah!”), que Anão Xamã sumariamente ignorou enquanto se voltava para o filho do comerciante de vinhos. — Mais uma vez, senhor, como quer lidar com isso?
— Minha mãe deu sua aprovação — disse o menino com um sorriso dolorido. — Quem sou eu para contradizê-la?
— Então está resolvido. — assentiu Matador de Goblins. E imediatamente começou a calcular em sua mente. Todos estavam com ele. E sua mente estava focada. Ele sentiu uma onda de gratidão por tudo isso. — Vou deixar você decidir quais paredes romper e quais deixar. Facilite a entrada e saída.
— Sou o cara certo para isso, mas ainda temos esse problema que mencionei sobre a falta de pessoal. — Anão Xamã parecia pouco satisfeito. Tudo o que eles tinham, ele explicou, era uma bigorna. (“E em breve teremos um anão morto!” Alta Elfa Arqueira ameaçou com um aceno de punho.) Então eles começaram a discutir e Sacerdotisa percebeu quanto tempo fazia desde a última vez que vira essa cena familiar.
Ela estava decidindo se e como intervir quando Matador de Goblins assentiu novamente. — Gostaria de pedir emprestado quaisquer servos que ainda estão aqui e qualquer sobra de madeira e ferramentas. O que quer que usemos, você pode deduzir o custo de nossa recompensa.
— Tudo bem. Não resta muito, mas alguns de nossos servos foram bons o suficiente para ficarem conosco. Pessoas confiáveis. — Havia um tom de orgulho na voz do jovem em meio à auto-recriminação. — Eles estão à sua disposição, assim como eu. Faça com eles o que achar melhor. Você é um especialista, certo?
— Eu suponho que sim. — Matador de Goblins assentiu novamente. Matador de Goblins. Fazia em torno de cinco, seis, sete anos desde que começaram a chamá-lo assim. Ninguém poderia igualar o tempo que ele passou caçando goblins.
Você é estúpido, tolo e não tem sorte, então certifique-se de pensar quando agir! Foi o que seu professor lhe disse.
— Nesse caso, por favor, traga-me a pessoa que disse ter visto as pegadas dos goblins. Gostaria de confirmar isso por mim mesmo.
— Sim senhor. Agora mesmo.
Então, depois de mais algumas conversas, Matador de Goblins começou a agir.
Alta Elfa Arqueira, Lagarto Sacerdote, Anão Xamã e Sacerdotisa se moveram para cumprir seus respectivos papéis. O tempo era curto, as mãos eram poucas, os inimigos eram muitos, havia muito a defender e o fracasso não era uma opção.
A situação era terrível, mas Matador de Goblins estava calmo.
Afinal, sempre foi assim.
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As empregadas andavam de um lado para o outro, enquanto os garçons corriam de um lado para o outro. Todos os que sobraram, os altos e os baixos, cozinheiros e servos e todos os outros, lançaram-se ao trabalho. A grande casa vazia ressoou com o som de ferramentas de construção, a vida retornando aos corredores mais uma vez. Poderia ter sido uma cena inspiradora, se não levasse em conta o porquê disso estar acontecendo.
— Estes são os rastros que eu vi —, o velho servo, apoiado em uma lança enferrujada no lugar de um cajado, disse à Matador de Goblins. — A magia dos demônios me fez voar — disse ele, batendo em sua perna de madeira com um sorriso no rosto enrugado. — Mas o mestre e a mestra tiveram a gentileza de me darem um emprego aqui, entende? Não seria um homem se não os pagasse como eles mereciam.
— Entendo. — Com um aceno rápido, Matador de Goblins se agachou para inspecionar o pedaço de terra indicado.
Eles estavam no caminho distante que serpenteava entre as vinhas perto da casa. As folhas e galhos das trepadeiras quase arborizadas se entrelaçavam no alto, e ele conseguia distinguir pegadas horríveis entre as sombras manchadas. Enquanto as contava por trás do visor, de repente pensou na primavera dois anos antes.
Havia mais deles então.
— Os rastros são deixados todos os dias?
— Não, apenas uma vez, meu bom senhor. Desde que colocamos aquele espantalho, os diabinhos mantiveram distância.
— Mas as coisas progrediram o suficiente para vocês chamarem aventureiros.
— Bem, certamente nós o fizemos. — O rosto do velho, sem dúvida digno de um guerreiro uma vez, estava tenso quando assentiu. — Goblins batedores, eles eram. Em uma quantidade que, se você entrasse no caminho deles, voltariam para te fazer pagar.
— Sim.
Isso é certamente verdade.
Goblins consideravam natural que outros fossem atacados por eles, roubados por eles. Serem interrompidos nessas atividades claramente os irritava; veriam isso como uma afronta. Então certamente haveria uma invasão, exatamente como havia imaginado. Até aqui, nada de incomum.
A questão era aquele espantalho.
Matador de Goblins se levantou e olhou para ele na luz oblíqua do sol. Tinha uma arma na mão, usava capacete e armadura, um bravo guerreiro para afastar goblins e corvos, um guerreiro recheado com palha.
Os goblins podiam ver à noite e, se chegassem perto o suficiente, provavelmente perceberiam o que era, então, quão boa era a visão deles, exatamente? De longe o suficiente, olhariam e pensariam que os ingredientes de um grande exército os aguardavam?
Eles não apagaram suas pegadas. Isso sugere que seu líder também é um goblin.
Se estivessem realmente servindo como soldados de infantaria para as forças do Caos, teriam recebido algum tipo de equipamento. Sempre havia a possibilidade de tentarem algo sujo; ele tinha que estar preparado.
— …Desejo ver o rio também.
— Sim senhor. Dê a volta e desça a encosta e você estará lá.
— A inclinação?
— Um dique, pode chamá-lo assim. O mestre há várias gerações o construiu ao lado do rio.
Entendo. Matador de Goblins assentiu e se levantou. O sol que filtrava pelas videiras estava ficando vermelho, então parecia que havia sido banhado em uma chuva de sangue. Hmph, Matador de Goblins bufou e então, de seu pacote de itens, tirou a bolsa com a qual estava trabalhando na carruagem.
— Isso é algo que preparei. Por favor, coloque um deles no meio de cada uma das estradas da fazenda. — Ele deu a bolsa para o servo e, depois de um momento de reflexão, disse: — Você pode conseguir alguém para ajudá-lo.
— Heh, até eu poderia lidar com esse trabalho sozinho, senhor. Deixe para mim. — O velho sorriu, depois foi embora com a bolsa. A uma curta distância, porém, parou. — Ah, senhor, o que planeja fazer com o espantalho? Vamos tirá-lo de lá?
— Não — disse Matador de Goblins depois de um momento. — Deixe-o aí.
— Sim senhor.
Matador de Goblins observou o velho partir, então virou seu capacete.
No final, no grande esquema das coisas, esta era uma pequena batalha. Uma luta sem importância em um canto minúsculo do tabuleiro do jogo. Os inimigos eram apenas soldados de infantaria das forças do Caos e eles mesmos eram apenas aventureiros. Sem dúvida, os jogadores no céu estavam interessados em coisas maiores enquanto jogavam seus dados. Se ganhasse ou perdesse aqui, a balança do céu mudaria pouco.
— Mas o que me importa?
Se havia algum problema com isso, Matador de Goblins não sabia o que era.
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— B-bom trabalho, pessoal! — Parecia ser o refrão constante de Sacerdotisa enquanto corria pela casa. Ela não sabia nada de carpintaria e não era adequada para longos períodos de trabalho físico. Alta Elfa Arqueira tinha um controle sobre o perímetro e quando se tratava da vida diária da casa, os servos sabiam mais do que Sacerdotisa.
Isso deixou apenas uma coisa a se fazer. Sacerdotisa cobriu o cabelo com um pano, vestiu um avental, lavou as mãos e ficou na cozinha empunhando uma faca. Uma coisa a que estava bastante acostumada de seus dias no Templo da Mãe Terra era fazer comida para muitas bocas.
Algo como ensopado não seria adequado para um trabalho como este; não havia tempo para parar e comer. Felizmente, os ingredientes eram abundantes. Mais do que suficiente para encher o estômago de todos na casa.
Tudo bem então.
Ela se apropriou de pão velho para usar como pratos, carregou com outros ingredientes, colocou outro pedaço de pão em cima e cortou grosseiramente. Não tinha certeza do que todos eles fariam com sanduíches, não sendo comida típica para nobres ou mercadores, mas…
— Pelo menos eles podem comê-los enquanto trabalham…!
Ela fez uma reverência e agradeceu às empregadas que a ajudaram na cozinha, depois deu a cada uma delas uma cesta.
A qualquer momento, havia algo que cada pessoa poderia fazer. Neste exato momento, Sacerdotisa sentiu que isso era tudo o que ela podia oferecer e de fato estava certa.
Anão Xamã, que estava ocupado dando instruções aos vários servos, sorriu e prontamente começou a dividir a comida. Lagarto Sacerdote, que estava carregando madeira, revirou os olhos alegremente, engolindo um sanduíche com queijo em uma única mordida.
Alta Elfa Arqueira pulou levemente do telhado, pegou um sanduíche com um rápido “Obrigado!” e retornou.
Obrigado foi a palavra nos lábios de todos, das criadas aos mordomos e ao velho da perna de pau. Isso deixou Sacerdotisa muito feliz. Era muito encorajador ajudar.
Ela tamborilou de quarto em quarto, finalmente chegando à câmara mais interna.
Engoliu e respirou fundo. Seu pequeno peito subia e descia enquanto batia.
— Pode entrar. — A voz era clara e dominante.
— M-mil perdões, então —, Sacerdotisa disse e abriu a porta.
Dentro havia prateleiras alinhadas com os maiores livros que Sacerdotisa já tinha visto em sua vida. Talvez este lugar fosse um escritório de estudos.
Sacerdotisa olhou ao redor, um pouco sobrecarregada, entrando na sala o mais silenciosamente possível. O filho do comerciante de vinhos estava sentado em uma enorme escrivaninha, anotando alguma coisa, enquanto a velha estava sentada em uma cadeira, com um livro aberto em sua frente. Ela não olhou para cima quando Sacerdotisa se aproximou, mas disse rispidamente: — Ah, essa é aquela comida… aquela que dizem ser tão popular com aquele nobre que adorava jogar.
— Mãe… — O jovem parou de escrever. Se levantou e foi até Sacerdotisa, agradecendo-lhe com uma reverência. — Temos nossas próprias batalhas para lutar. Devemos ser gratos pelas provisões.
Talvez a observação fosse dirigida à sua mãe. — Sei disso —, a mulher idosa respondeu irritada.
— Aquele nobre era muito diligente, não brincava com nada — acrescentou. — Isso deve ser bom para comer enquanto você trabalha.
Sacerdotisa considerou por um instante, então decidiu responder simplesmente: — Sim. — Ela não queria envergonhar essas pessoas estourando sua fachada cuidadosamente construída. — As coisas estão indo de acordo com o planejado — continuou ela. — Desculpem-nos, sei que é um pouco barulhento…
— Batalha é uma coisa barulhenta — disse o jovem. Ele pegou um sanduíche da cesta e o mordeu com um sorriso e um comentário de: — Ah, isso é bom! — Não foi um momento muito refinado para ele, mas também foi sincero e de alguma forma combinava com ele.
— Mas, senhor… Batalha? — Sacerdotisa questionou, inclinando a cabeça.
— Para o que vem a seguir — respondeu o filho do comerciante de vinhos. — Últimos testamentos, para o caso de o pior acontecer. Estratégias que podemos seguir se sobrevivermos. Sempre há muito o que fazer antes de uma luta.
Se colocou tudo de si em uma luta e venceu, muito bem, mas se gastou tanto na batalha que não sobreviveu às consequências, isso derrotou o ponto. Pense à frente, depois mais à frente, depois mais ainda: era exatamente isso que os empresários faziam.
— Meu Deus, mas isso é realmente gostoso. Você não vai experimentar um, mãe?
— É preciso mais do que a vitória na batalha para sobreviver. Obrigada por seu esforço —, a velha disse finalmente. Ela não se dignou a tocar na comida enquanto Sacerdotisa estava presente, mas pelo menos teve esta palavra de apreço no final.
— N-não há de que! — Sacerdotisa respondeu, sorrindo, e educadamente curvou a cabeça e se retirou da sala.
Quando a porta foi fechada com segurança atrás dela, deu um suspiro de alívio. Todos, cada um deles, quem quer que fossem, estavam fazendo o que podiam. Isso incluía ela e os dois naquela sala. Cada um simplesmente fazendo o que era mais óbvio para eles fazerem. Fazia apenas um breve tempo desde que a resposta surgiu, mas agora ria ao lembrar das coisas triviais com as quais se preocupava.
Quando Matador de Goblins voltar de sua patrulha, vou me certificar de que ele coma também.
Enquanto andava com pensamentos como esses, o sol se pôs e a noite veio antes que percebesse.
E então o momento finalmente chegou.
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As luas gêmeas e as estrelas olhavam para baixo no horizonte, de onde vinha um inquietante rufar de tambores. As pequenas sombras escuras que eles supunham que estavam vindo não eram visíveis de seu ponto de vista no segundo andar da mansão; o inimigo estava escondido pela folhagem atarracada das vinhas.
Alta Elfa Arqueira contraiu as orelhas, apoiando um pé contra a ameia improvisada onde a moldura da janela havia sido cortada para fornecer um buraco através do qual pudesse atirar.
— Estão lá fora, muitos deles. Apenas goblins… eu acho, mas ouço armaduras chacoalhando.
— Como esperávamos.
— Gostaria que eles tivessem nos surpreendido.
— Concordo.
Matador de Goblins deu a Alta Elfa Arqueira, que estava com seu grande arco pronto, um tapinha gentil no ombro, então se moveu para o lado quase como se estivesse deslizando. A parede havia sido quebrada para facilitar a entrada e saída, enquanto os destroços resultantes haviam sido removidos para que não atrapalhassem.
O diretor de todo esse trabalho não era outro senão Anão Xamã, agora agachado diante do porto de flechas, o local de onde ocorreriam os disparos. Segurou sua bolsa de catalisadores perto enquanto olhava para o campo de batalha. A seus pés havia uma pilha de munição: cacos de tijolo quebrado. Ele tomou um gole de vinho, enxugou as gotas de sua barba e riu com sua típica diversão. — Agora, Corta Barbas. Cuidado para não escorregar.
— Nossos primeiros movimentos precisam estar em conjunto. Vou deixar o tempo para você.
— Você entendeu. Estamos nisso juntos há dois anos.
Dois anos para um humano. Dois anos para anão. Dois anos para um elfo e um homem-lagarto. Quanta diferença havia entre todos esses dois anos? Matador de Goblins não sabia.
Quando não disse nada, Anão Xamã gargalhou novamente. Matador de Goblins saiu da sala com aquele som ainda ecoando atrás dele.
As portas que anteriormente bloqueavam os quartos uns dos outros ou os quartos separados do corredor haviam sido todas separadas e agora estavam encostadas em várias paredes. Na pior das hipóteses, eles podem ter que ir para o chão dentro da casa. As portas fariam escudos úteis em um piscar de olhos.
No corredor, ao lado das portas, estavam os criados, todos parecendo completamente alarmados, armados com uma variedade heterogênea de armas. Armas, na verdade, pode ter sido um termo generoso; com exceção de algumas espadas e lanças retiradas de um armazém, muitos dos servos estavam armados apenas com estilingues ou com pequenos arcos, como os usados para a caça. Se a batalha chegasse a essas pessoas, seria realmente o fim, a morte poderia ser o melhor resultado que eles poderiam esperar.
Matador de Goblins viu o velho soldado de antes entre os homens e mulheres reunidos e acenou para ele.
— Como está?
— Entreguei tudo. Se preocupe consigo mesmo!
— Faça com que algumas pessoas observem o rio também. Nunca se sabe.
— Esta não é minha primeira guerra. Eu sei o que fazer.
Sua bravura combinava com um soldado. Ele se aproximou de um porto de flechas e olhou para o rio.
Matador de Goblins olhou para ele e os demais servos, então rapidamente desceu as escadas.
É importante ver as coisas por si mesmo, confirmar com os próprios olhos.
Isso foi algo que seu mestre lhe ensinou ou algo que aprendeu no curso de suas aventuras? Ou talvez Guerreiro de Armadura Pesada tivesse dito isso. Quando alguém se tornava líder de um grupo ou comandante de um exército, cabia a ele considerar como dar paz de espírito a seus camaradas. Assim, não deve ficar frenético ou demonstrar pânico. Nem medo. Nem excitação ou agitação.
Matador de Goblins nunca esteve tão agradecido por seu capacete como naquele dia. Ele não tinha confiança de que poderia apresentar tal fachada. Como deveria olhar para Sacerdotisa? E seus outros companheiros? Garota da Guilda continuava apontando que ele era um aventureiro de rank Prata, mas o que era isso?
No entanto, sou Matador de Goblins.
Foi assim que, bem ciente da etiqueta pendurada em seu pescoço, se definiu: apenas algumas palavras curtas. Ele era Matador de Goblins e esta era uma caça aos goblins. Só tinha que fazer exatamente isso. Era no que era bom.
— Matador de Goblins, senhor! — Quando chegou na entrada da frente, foi recebido por Sacerdotisa, correndo para fora da cozinha. Ela havia descartado o avental e trocado o pano sobre o cabelo pela boina de sempre e em suas mãos estava seu cajado. — Os goblins…!
— Eu sei — disse com um aceno de cabeça. Um gesto perfeitamente típico para ele. — Está tudo pronto?
— Sim senhor! — Respondeu e em uma mudança completa dos últimos dias, parecia brilhante e feliz. É claro que sua expressão estava tingida de ansiedade com a próxima luta com os goblins, mas estava claramente diferente.
Hmph, essa pessoa é realmente sem esperança.
— …? Alguma coisa está acontecendo? — Sacerdotisa perguntou.
— Não — respondeu Matador de Goblins com um aceno de cabeça. Ele se virou para a porta da frente. — Você se lembra dos arranjos?
— Sim, eu consegui!
— Bom então.
Apesar de todas as portas soltas e caixilhos de janelas quebrados na casa, só esta porta da frente tinha sido deixada no lugar. Se a casa era um castelo filial, este era o portão do castelo. Se chegasse a isso, eles poderiam até trancar a porta. Lagarto Sacerdote estava ao lado desta grande laje de carvalho, a chave para sua defesa, com os braços cruzados e parecendo positivamente como se estivesse se divertindo. — Aham, agora, milorde Matador de Goblins. Este é o momento da verdade, você precisa de mais soldados?
— Não temos pessoas suficientes, mas gostaria de deixar alguns feitiços disponíveis.
— Entendido, é claro. — Lagarto Sacerdote balançava seu longo pescoço de um lado para o outro, trabalhava suas garras e geralmente alongava seu corpo. Pensando bem, ultimamente ele não teve, nem na montanha nevada ou entre os mortos-vivos, a chance de simplesmente rasgar um inimigo membro por membro em terreno plano. Matador de Goblins não tinha certeza do quanto isso poderia doer a um homem-lagarto.
— O que você acha?
O que realmente importava era que esse gigante era o estrategista militar mais experiente do grupo. Sabendo disso, era fácil confiar suas vidas a ele, embora não tivesse um título mais elaborado.
— Bem, agora — disse Lagarto Sacerdote, revirando os olhos em sua cabeça. — Se tudo correr como planejado, acho que não será nada diferente do costumeiro.
— Entendo.
— No entanto, um campo de batalha como este pode produzir certas surpresas… — Lagarto Sacerdote falou com calma compostura que sugeria um veterano em batalha, então fez seu estranho gesto de palmas juntas. — Vocês dois deveriam pensar melhor, não em matar, mas em sobreviver. Acredito que isso também melhoraria os resultados desse combate.
— Tudo bem — respondeu Sacerdotisa. Ela não esperava que sua voz fosse tão estridente e levou a mão à boca, o rosto ficando vermelho.
— Uma proposta difícil — resmungou Matador de Goblins. — Não tenho intenção de mandar nenhum deles vivo para casa. — Então colocou as duas mãos na grande porta de carvalho. Ele a empurrou para abrir, a porta raspando audivelmente ao longo do chão.
No final, não era diferente de mergulhar em uma caverna. Ou encontrar os goblins enquanto atacavam uma vila. Tendo chegado a esse momento, viu que Anão Xamã estava certo: ele tinha sido medido de forma incomum.
E as coisas que não podia fazer sozinho, havia confiado aos batedores.
Todo esse comportamento dificilmente poderia ser considerado muito aventureiro, mas também não se parecia com um ladino. De sua parte, acreditou que aceitava plenamente quem e o que ele era. Tudo o que tinha feito, trouxe para esta situação. Sendo esse o caso, havia uma coisa a se fazer. Não precisava perguntar a mais ninguém.
E mesmo assim, Matador de Goblins disse isso em voz alta. Suas palavras eram tão afiadas quanto uma adaga na noite enquanto as luas gêmeas brilhavam. Sua voz era tão fria quanto o vento soprando através de uma caverna nas profundezas da terra.
— Nós vamos matar todos os goblins.
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— GOOROGGOORG!!
— GORGB!! GBBOORGBB!!
Eles estavam esfomeados e sedentos. Sua fome febril só podia ser saciada aqui, somente aqui, eles tinham certeza; não tinham dúvidas.
No mínimo, esses bastardos tinham renegado um contrato com eles. Isso foi o que os altos e poderosos visitantes disseram. Para que os goblins pudessem espancá-los, machucá-los, pisoteá-los, matá-los e estuprá-los, e eles não tinham o direito de reclamar. Deixe-os chorar e se desculpar, não haverá perdão, e se eles morressem, isso só provaria sua fraqueza.
Este homem de palha armado com lança que eles colocaram, um pequeno truque bobo, mostrou sua tolice.
— GBOOOGGB!!
— GGB!!
Os goblins gargalharam enquanto chutavam o espantalho que vigiava o vinhedo. Cuspiram nele, rasgaram-no e depois pularam para cima e para baixo em cima dele.
Olha aqui uma ideia! Quem quer que eles pegassem, empalariam nesta vara e os colocariam na entrada da floresta. Então os humanos saberiam que essas uvas e essas videiras e tudo mais aqui pertencia aos goblins. Aqueles humanos pareciam pensar que as vinhas eram deles, mas estavam errados, errados, errados!
— GOROOGBB! GOBR…?
Então um goblin que estava perdido nessas fantasias viciosas de repente estremeceu. Tropeçou, sentindo como se o céu e o chão estivessem trocando de lugar e então desmaiou.
A terra, é claro, não se moveu; foi o goblin que caiu. Não sabia quando seus companheiros ao redor começaram a cair um após o outro também. Não tinha ideia de quando uma flecha de longe perfurou sua medula espinhal e acabou com sua vida tão facilmente como se estivesse caindo em um sonho. Não havia dor, nem sofrimento, era uma morte terrivelmente boa para um goblin. A partir dessa perspectiva, pelo menos, a chuva de flechas que veio de um ângulo estranho foi realmente uma grande misericórdia.
Não foi assim, porém, para os goblins assistindo à distância.
— GOROGB?!
— GGBB?!
Magia! Isso é magia!
Os goblins começaram a balbuciar em agitação. Esses trapaceiros, dando a si mesmos uma vantagem.
Envoltos em fumaça, atingidos por flechas, os goblins recuaram pela estrada em fuga.
Isso realmente não significava nada. Os caras que foram atingidos eram apenas idiotas. Se tomarmos um caminho diferente…
— GOR? GOOGB?!
Mas mesmo assim, os goblins podiam ver uma estrada após a outra sendo cortada por tiras de fumaça. Fumaça mágica em todos os lugares. Entretanto eles estavam aprendendo, se ficassem fora da fumaça, estariam bem.
— GOOROGB!!
— GRRB! OOBOGRR!!
Com porretes e machadinhas à mão, os goblins seguiram pela única estrada que não tinha fumaça. Eles nunca, jamais perdoariam o filho da puta que fez isso. Quebrariam todos os ossos de seu corpo, o arrastariam pelos cabelos, enfiariam uma lança em sua bunda e o colocariam em exibição.
Os goblins ficaram furiosos.
Suas cabecinhas estavam completamente cheias de raiva e ódio, em outras palavras, estava tudo normal.
E assim tudo correu como de costume quando a caça aos goblins começou.
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— Ugh, Orcbolg tem as piores ideias — resmungou Alta Elfa Arqueira enquanto soltava uma flecha após a outra através da porta no segundo andar, cada uma carregada com brasas.
Orelhas compridas se contraindo, ela leu o ar da noite, suas flechas voando fielmente ao seu destino na trilha entre os vinhedos. Lá, um simples detonador aguardava, facilmente evidente aos olhos de um Alto Elfo.
— Ateei fogo, assim como você disse, mas o que é toda essa fumaça?
— Uma cortina de fumaça criada com uma combinação de esterco de lobo seco, enxofre, cinzas de madeira, agulhas de pinheiro e juncos — informou Anão Xamã à elfa irritada enquanto tomava um gole de vinho. Afinal, aquela era a casa de um comerciante de vinhos e ele dissera que tudo estava à sua disposição. Anão Xamã precisava de energia e foco suficientes para controlar seus feitiços, é verdade, mas quanto ao álcool que era seu catalisador, havia um suprimento infinito dele e um anão com vinho é invencível.
Anão Xamã começou a tecer seu feitiço com uma exortação enérgica aos espíritos ao seu redor: — Beba muito, cante alto, deixe os espíritos guiá-lo! Cante alto, dê um passo e, quando dormir, o verão, que uma jarra de vinho de fogo esteja em seus sonhos para cumprimentá-lo!
Seu feitiço de Estupor desceu em uma névoa sobre o campo de batalha, não exatamente a névoa da guerra, mas certamente entorpecente para os goblins. Quando pisaram no caminho entre os vinhedos, suas consciências ficaram turvas, tornando-os presas fáceis para Alta Elfa Arqueira.
Os goblins fugiram com medo, olhando para a direita e para a esquerda, mas os outros caminhos também estavam cheios de neblina e eles tinham apenas duas opções. Uma era atacar pelo último caminho disponível; a outra era correr com o rabo entre as pernas. A maioria escolheu o primeiro. Afinal, eles mesmos não haviam se machucado e sabiam que ainda não iriam morrer.
— Com o nível de cérebro goblin, não há muita diferença entre meu feitiço e uma cortina de fumaça.
— Então você está dizendo que seu precioso feitiço e o brinquedo de fumaça de Orcbolg estão no mesmo nível?
— Vou tomar isso como um elogio — fungou Anão Xamã desinteressadamente.
— Bem, foi sarcasmo —, Alta Elfa Arqueira fungou de volta, soltando uma flecha enquanto isso.
— Se o que o Corta Barbas diz for verdade, esses caras podem ver no escuro, mas não através da fumaça.
— Me lembro de dizer que ele não podia usar fogo…
A própria Alta Elfa Arqueira não conseguia enxergar tão bem através da fumaça, mas qualquer habilidade suficientemente avançada é indistinguível da magia. Se ela pudesse sentir onde algo estava de alguma forma, poderia atingi-lo, mesmo com os olhos fechados. Ela quase podia sentir as flechas se alojarem nos goblins distantes depois de seu longo e breve voo pela escuridão. Alta Elfa Arqueira se permitiu um sorriso enquanto tirava flechas de sua aljava e as atirava o mais rápido que podia.
Ela tinha vários embrulhos com pontas de botão a seus pés. Não precisava se preocupar em ficar sem munição mesmo em seu ritmo; era uma situação com a qual estava muito satisfeita.
— Huh, pela primeira vez eu finalmente tenho flechas suficientes. Amo poder atirar à vontade!
— Ei, Bigorna — disse Anão Xamã duvidosamente.
— O que é? — Ela rosnou.
— Onde você conseguiu todas essas flechas, afinal?
— Eu não as consegui, exatamente. Apenas pedi ajuda aos pequeninos ao meu redor.
Ela disse, “Olhe” e estendeu a mão através da ameia, falando palavras antigas que apenas os Altos Elfos conheciam, então um galho de uma árvore que crescia perto da janela tremeu como se de prazer e se esticou para encontrá-la. Em um piscar de olhos, o galho estendido produziu um broto duro e afiado: claramente uma flecha.
— Obrigada — sussurrou Alta Elfa Arqueira, pegando o galho com ponta de botão e encaixando-o em seu arco. — Viu?
— Bem, agora…… — Anão Xamã suspirou, profundo e sério, então disse palavras que raramente saíam de seus lábios: — Acho que às vezes você é útil!
— Às vezes, o cacete! Estou sempre ajudando! — As orelhas de Alta Elfa Arqueira se ergueram orgulhosamente, então preparou três flechas de uma vez em seu arco e as soltou.
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Tradução: NERO_SL
Revisão: Play_cabs
QC: Bravo
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