Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 10 – Cap. 02.1 – Ghouls & Fantasmas

 

— Urrrgh… — Sacerdotisa chutou o chão com raiva enquanto andava. Isso era extremamente incomum para ela, que sempre foi uma garota equilibrada e, embora fosse antigo, aquilo era um cemitério; e ela nunca foi do tipo que perturba o descanso dos mortos.

Talvez cemitério não fosse um termo tão preciso quanto túmulo funerário. Nas profundezas de uma floresta escurecida por inúmeras árvores, havia um lugar onde o solo se elevava em um declive suave. Perto havia uma pilha de pedras, cobertas de musgo, mas obviamente não naturais. Era claramente o túmulo de algum rei ou nobre poderoso, uma vez famoso em tempos passados.

Sendo assim, era um lugar que uma devota discípula da Mãe Terra como ela deveria ter demonstrado o devido respeito.

— Urrrrrgh…

E ainda assim havia Sacerdotisa, rangendo os dentes como uma criança mal-humorada, incapaz de esconder sua infelicidade. Alta Elfa Arqueira, indo na frente dela, torceu as orelhas e sussurrou sem olhar para trás: — Muito incomum.

— Um sinal de como isso é difícil para ela aceitar — disse Lagarto Sacerdote com um aceno de cabeça. — Dificilmente se pode culpá-la.

Anão Xamã apenas olhou impotente para o céu. Ele certamente não esperava nada dos deuses no céu. Ela é como uma certa criança, isso sim.

A menina tinha dezessete anos. Dois anos após a maioridade, e certamente mais adulta do que costumava ser, mas ainda era jovem. Além disso, apenas pela idade, a bigorna à frente era de longe a mais velha de todos.

A idade adulta era mais do que apenas o acúmulo de anos. Ela ainda era uma jovem. Sempre diligentemente pensativa, sempre se preocupando com todos os outros, sempre tentando se tornar útil e era exatamente isso que a fazia parecer uma criança. Seria muito animador de se ver, se não soubesse a causa disso.

— Ei, Corta Barbas. Poderia dizer alguma coisa para a garota, não?

— Hrm… — Matador de Goblins, explorando de sua posição em segundo na fila, grunhiu baixinho. — Como o quê?

— Certamente não precisa que eu lhe diga.

Matador de Goblins não respondeu. Não havia resposta a dar.

Seu foco estava no chão à sua frente, na aventura à frente, e ele não tinha atenção sobrando para outros assuntos.

Baseado em como as missões normalmente vão, é um pouco incomum.

Por um lado, nenhum dano real havia sido feito ainda, uma característica muito rara em caçadas de goblins. A alegação era que goblins foram vistos na floresta perto da aldeia que era usada para caça e coleta. Eram pequenas sombras que se contorciam através da névoa branca. Moldando formas que um caçador identificou como goblins.

Este caçador havia participado da batalha no ano anterior, como arqueiro. Ele nunca confundiria um goblin. Ele havia debatido consigo mesmo se deveria agir primeiro. Quando considerou que antagonizar uma ou duas das criaturas poderia trazer uma horda inteira para sua aldeia, ele pensou melhor.

Era bastante compreensível, também, que o caçador levasse suas preocupações ao Templo da Mãe Terra antes de pensar em ir para a Guilda dos Aventureiros. E foi através da freira com quem ele falou que a história chegou ao Matador de Goblins…

— Vou fazer isso. — Foi o que ele disse no final.

— Eh, parece que nada aconteceu ainda — admitiu Irmã Uva com um sorriso envergonhado. — Só preocupa a uma pessoa ter goblins se escondendo por aí.

Concordo — respondeu Matador de Goblins. — Concordo plenamente.

Os problemas começaram depois disso.

Não ficou claro quem disse isso primeiro, ou por quê, mas os sussurros começaram na cidade, nas tavernas, mesmo nos cantos escuros da Guilda.

— Acha que aquela freira é fruto de um goblin? — Perguntaram.

Obviamente, era difícil criticar abertamente o Templo da Mãe Terra. Este era um mundo onde os deuses realizavam milagres muito reais para as pessoas. Eles existiam. Esse era um fato aceito por todos.

Mas atacar um indivíduo era uma questão inteiramente distinta. Cidadão ou aventureiro, nem todos eram puros e íntegros.

Ela era filha de uma mulher que havia engravidado de um goblin, disseram. Eles voltavam os olhos lascivos para o peito generoso que se esticava contra o hábito da freira e sussurravam.

Como esses rumores não chegaram aos ouvidos de Sacerdotisa?

Sua mente voltou para a cena na Guilda dos Aventureiros pouco antes de partirem.

 

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— ♪…

Os passos de Sacerdotisa pareciam leves como uma pena enquanto caminhava pela Guilda, o prédio já explodindo com os raios luminosos do sol da manhã. Ela cantarolou um hino enquanto listava mentalmente as coisas de que precisaria.

Equipamento, às vezes incluindo armas e armaduras, e itens, principalmente os consumíveis usuais. Poções poderiam estragar se já tivesse passado muito tempo, e o gancho na ponta de sua corda poderia ficar desgastado. Estacas de ferro podem enferrujar. Era importante não apenas reabastecer os suprimentos depois de usados, mas substituir proativamente as coisas que mostravam seu desgaste. Quando realmente precisava de uma poção de cura, não iria querer ter que beber cinco ou seis para encontrar uma que funcionasse.

A melhor maneira de evitar essa situação, então, era sempre despachar sua mala e comprar novos suprimentos conforme necessário.

Era isso que significava algo se tornar um hábito.

Não que eu queira ser arrogante, mas…

O pensamento de que eles estavam indo para uma caça aos goblins poderia ser motivo de infelicidade. Ela esperava que se aventurar com ele, com eles, fosse divertido, ou pelo menos, ela achava que seria, mas a batalha real com os goblins…

Sentiu que tinha crescido um pouco, mas a autoconfiança ainda parecia iludi-la. Isso não era bom ou ruim, simplesmente parte de quem ela era, mas de qualquer forma, ela conseguia ser útil às vezes. A provisão diligente de suprimentos foi o papel que Sacerdotisa encontrou para si mesma. Trabalhar nisso com todo o seu coração era seu trabalho, um trabalho respeitável que a permitia manter seu pequeno peito erguido.

— Ei, ouviu o boato?

Assim, mesmo quando ela pegou o sussurro, não prestou atenção. Não tinha nenhuma razão para esperar que fosse algo a ver com ela.

— Você quer dizer aquele sobre aquela clériga, a da Mãe Terra?

— O que…? — Ela parou de repente e se viu olhando para alguns garotos que, pelo estado impecável de seus equipamentos, considerou serem novos aventureiros.

Fazia um ano desde que os campos de treinamento na periferia da cidade haviam sido concluídos. Durante a construção, Sacerdotisa havia ajudado no curto espaço de tempo antes que o lugar realmente começasse a funcionar. Ainda assim, a maioria dos instrutores eram aventureiros experientes; Sacerdotisa era apenas uma assistente. Quase se poderia dizer que assumir a liderança na batalha com aqueles goblins foi tudo o que ela fez.

A memória era preciosa para ela agora, porque tinha sido a base sobre a qual ela havia sido promovida.

Naturalmente, seu coração também doía por aqueles que haviam morrido.

Muitos foram os novatos que deixaram de se aventurar quando descobriram o abismo entre os sonhos e a realidade.

Agora os professores da instalação eram em sua maioria aventureiros experientes e aposentados, e Sacerdotisa não fazia mais parte dela. Além disso, havia muitos novos aventureiros que optaram por não receber nenhum treinamento.

Tudo isso para dizer que não tinha motivos para pensar que isso tinha a ver com ela…

— Ah, sim, eu conheço essa —, o outro aventureiro respondeu com um aceno de cabeça. O sangue sumiu do rosto de Sacerdotisa ao ouvir o que ele disse em seguida. — Supostamente foi essa garota que foi atacada por goblins, certo? Uma aventureira?

Sacerdotisa não podia falar. Agarrou seus pertences; era tudo o que podia fazer para não deixá-los cair.

Havia outra clériga do Templo da Mãe Terra que falhou em uma caça aos goblins? Não que ela se lembrasse.

O que devo fazer? Ela se pegou pensando. O que devo fazer? Esse era o único pensamento em sua mente. Seus joelhos começaram a tremer um pouco.

— Não aquela, idiota —, o primeiro garoto sorriu. Ele não estava olhando em sua direção. Sacerdotisa percebeu que não tinha sido notada, mas ficou enraizada no local. — Quero dizer, a história de que há uma criança de goblin lá.

— Huh? A criança de um goblin?

— É. Um amigo de um amigo me disse. Não tenho certeza do que ele quis dizer.

— Mas pense nisso. — O menino sorriu novamente. — Aquela senhora de pele escura?

Que? pensou Sacerdotisa. Do que essas pessoas estão falando?

— Ah, de jeito nenhum. Você quer dizer aquela que faz o vinho? Merda, bebi algumas daquelas coisas.

— Sim… Faz você enjoar do estômago, hein?

— Eles são goblins, certo? Você teria que ser um lixo total para perder uma briga com eles.

— É uma vitória fácil, desde que eles não te cerquem. A Grande Heroína cairia na gargalhada… goblins!

— Você sabe como é, pessoas que têm problemas com goblins se transformam em frangos. Eles são como: Ah não! Goblins!

— Se acham que os goblins são ruins, espero que nunca vejam um dragão. Eles cairiam mortos no hora!

As gargalhadas dos meninos ecoaram pela sala; Sacerdotisa se encolheu para tapar os ouvidos. Poderíamos lidar com um dragão se fosse preciso! As palavras pulsavam implacavelmente em sua mente.

 

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— …Foco — disse Matador de Goblins, apenas uma palavra, enquanto rastejava silenciosamente sobre o molde de folha.

A palavra trouxe a atenção de Sacerdotisa de volta ao presente. Ela balançou a cabeça. Alta Elfa Arqueira e Anão Xamã pareciam exasperados por algum motivo que ela não entendia. Lagarto Sacerdote deu de ombros, limpando os juncos com o que parecia irritação.

As árvores bloqueavam a luz do sol, o ar úmido estagnado.

— E-eu sei…! — Sacerdotisa respondeu, consternada e confusa, mas alerta ao cheiro, que era diferente de um ninho de goblins. Ela mordeu o lábio e olhou para o chão; tinha sido negligente com seus pés. — Eu sei, realmente quero…

Parecia uma criança que tinha sido repreendida por seus pais. Ela apertou seu cajado, ressentindo-se, sentindo-se patética.

Eu deveria ter…

Deveria ter dito alguma coisa. Por que ela não falou? Por que deixou o momento passar? Era medo ou outra coisa?

Talvez fosse simplesmente que seu cérebro não conseguia acompanhar suas emoções. Mesmo agora, horas depois, não tinha certeza.

Quando e se chegarmos em casa…

Ela repetiu o nome da Mãe Terra para si mesma, tentando recuperar um pouco de compostura. Se não conseguisse se concentrar, morreria. Ela entendia isso muito bem.

Estava perfeitamente familiarizada com a visão dos outros que, normalmente envolvidos em brincadeiras calmas, concentravam toda a sua atenção na preparação para o combate. Ela tentaria imitá-los. Tentaria ser como eles, pensou, enquanto respirava fundo e soltava o ar. A escória de sua ira ficou com ela, é claro, mas havia uma grande diferença entre tentar e não…

— Ei, vocês estão sentindo o cheiro de alguma coisa? — Alta Elfa Arqueira sussurrou, seu nariz se contraindo.

O grupo parou. Um instante depois, Sacerdotisa também parou e olhou ao redor. Um grupo podia viver e morrer pelos sentidos de seu batedor e nenhum batedor tinha melhores sentidos do que um elfo.

Eles escutaram com atenção e então ouviram algo ao redor deles, um farfalhar de algo pesado se movendo entre as folhas.

Talvez o céu acima das árvores estivesse nublado e cinza. Isso foi o que Sacerdotisa viu em sua mente enquanto farejava o ar. Folhas apodrecidas, terra, umidade, tudo misturado em um gosto rançoso que grudava em sua língua.

É diferente do cheiro de uma caverna, mas…

— Acho que um túmulo como este sempre cheirou mal e sempre cheiraria mal — disse Anão Xamã, mas ele ainda pegou sua bolsa de catalisadores e se colocou em posição de luta.

— Me pergunto quanto tempo se passou desde que este lugar foi esquecido.

— Quem pode dizer? — Anão Xamã respondeu a Lagarto Sacerdote com um afago de sua barba branca e olhou pensativo para o céu. — Cem anos ou mil. Embora duvide que chegue até a Era dos Deuses. E não acho que nossa bigorna amigável tenha um nariz entupido.

— Vou te mostrar o entupido — rosnou Alta Elfa Arqueira, suas orelhas caídas para trás, mas Anão Xamã a ignorou, sussurrando: — Também não acho que este monte seja normal.

— Goblins?

— Não posso dizer ao certo — disse Anão Xamã e depois estremeceu. — Não ficaria surpreso se um espectro aparecesse.

— Espectro… — Matador de Goblins ecoou. — …Não conheço essa palavra. É algum tipo de monstro?

— Você não conhece nenhuma palavra exceto goblin. — Alta Elfa Arqueira franziu a testa, pegando sua aljava e puxando uma flecha com ponta de botão. Ela o colocou suavemente em seu arco enquanto suas orelhas giravam para um lado e para o outro, ouvindo atentamente. — Espectros são um tipo de espírito, reis ou generais amaldiçoados que quebraram a fé com um governante e não têm permissão para descansar.

— Mesmo eu não sou um especialista, mas… — Lagarto Sacerdote esticou seu longo pescoço, suas mãos brincando sobre a presa de um dragão em sua palma.

Uma névoa fina havia surgido, mas seus olhos de homem-lagarto não se incomodavam com ela. Este grupo tinha uma grande diversidade de raças, incluindo uma elfa, um anão e um homem-lagarto, então eram capazes de lidar com pouca visibilidade. Embora fosse um mistério para Sacerdotisa como os outros eram capazes de ver tão bem em tão pouca luz.

— …Eu deveria esperar muito mais espíritos do que goblins nestes cemitérios antigos — concluiu Lagarto Sacerdote.

— Os goblins se estabeleceriam onde alguém assim vive…? — A voz de Matador de Goblins soou suavemente de dentro do capacete de metal. Ficou claro que ele não gostou da situação. Ele chutou a terra com as pontas das botas, investigando o chão. A terra era traiçoeiramente macia e ele saiu com lama nas solas dos pés. — Não gosto disso.

Sacerdotisa engoliu em seco e agarrou-se ao seu cajado. Ela sentiu um formigamento em seu pescoço, seus cabelos em pé. Era uma sensação desagradável. Ela sempre tinha essa sensação quando algo ruim parecia prestes a acontecer. Então prestou muita atenção ao túmulo funerário e tudo mais nas proximidades, fixando os olhos nas sombras que esvoaçavam através da neblina.

A coluna de pedras empilhadas umas sobre as outras. Os vestígios de um túmulo de terra amontoada. Ela viu algo se movendo entre elas?

Não era justo, talvez, dizer que foi por isso que ela notou, mas foi ela quem notou o sinal.

Zzf . Quase silenciosamente, por si só, alguma terra coberta de musgo tremeu, e foi isso que Sacerdotisa notou.

— Ah…! — Ela exclamou. — A terra ali…!

No instante seguinte, uma flecha estava voando. Alta Elfa Arqueira puxou o arco e o soltou com um som como uma corda de alaúde, rápido demais para ser visto. O monte de terra parecia totalmente imperturbável pela flecha que agora estava cravada nele, mas se ergueu, como se estivesse desmoronando por dentro.

Era pequeno, humanoide. Tinha olhos desagradáveis e um cheiro fétido.

Sacerdotisa só podia imaginar que era uma coisa: um goblin. Matador de Goblins parecia pensar o mesmo.

— Então eram goblins. Quantos?!

— Não tenho certeza! — Alta Elfa Arqueira torceu as orelhas enquanto preparava outra flecha. — Mas estão vindo de todas as direções!

E assim foram. Os montes de terra ao redor começaram a tremer e desmoronar, inimigos surgindo do solo por todos os lados. Sacerdotisa gemeu e pressionou a mão na boca para resistir ao fedor nauseante que agora os cercava.

— Hoh-hoh. Um ataque furtivo de dentro da terra. — Lagarto Sacerdote olhou ao redor, seus olhos afiados, mas em sua mandíbula havia um sorriso. — Um estratagema bastante refinado para esses diabinhos.

— Podemos admirá-los mais tarde! Corta Barbas, dê-nos um plano! — Anão Xamã estava pegando sua bolsa de catalisadores.

Matador de Goblins, seu escudo e espada prontos, olhou em volta para as formas inimigas invasoras. Então, novamente, estritamente falando, seu capacete tornava impossível dizer para onde ele estava olhando. Sacerdotisa se encolheu ao senti-lo olhando para ela.

— Vamos formar um círculo, centrado em torno de você — disse ele calmamente. — Prepare-se.

— S-sim, senhor!

Os aventureiros agiram em um piscar de olhos. Em um momento como este, a ação agora era melhor do que uma ideia inteligente depois.

Eles cercaram Sacerdotisa protetoramente, prontos com espada, arco, machado e garras. Alta Elfa Arqueira estava na frente dela, com Matador de Goblins à sua esquerda, Lagarto Sacerdote à sua direita e Anão Xamã atrás. No meio de tudo isso, Sacerdotisa mordeu o lábio e olhou cuidadosamente ao redor com seu cajado em mãos. Ela não estava olhando, é claro, para o inimigo, que não podia ver por causa do nevoeiro, mas para seus amigos, como eles estavam indo. Seu trabalho seria mantê-los a par de qualquer nova informação pertinente à medida que a situação se desenvolvesse.

Este papel era o segundo em importância apenas atrás da provisão de milagres, a responsabilidade e ansiedade evidentemente pesavam muito sobre Sacerdotisa.

— Eles não estão se movendo muito rápido, estão…? — Ela perguntou.

— Não, eles não estão — respondeu Alta Elfa Arqueira, seu arco rangendo enquanto ela observava as sombras tremeluzirem no nevoeiro.

Slick, flick. As figuras se aproximavam, passo a passo, e Sacerdotisa sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— Eles não caíram mesmo quando atirei neles, mas não ouço nenhuma armadura… Algo parece estranho nisso.

— O que acha? — Matador de Goblins tomou nota da avaliação de Alta Elfa Arqueira e falou suavemente com Lagarto Sacerdote por sua vez.

O guerreiro comprovado gemeu e lambeu o nariz com a língua, aspirando e depois expirando.

— Falando de uma perspectiva puramente pessoal, não estou ansioso para ceder a iniciativa nesta ocasião.

— Concordo — disse Matador de Goblins. — Mantenham-se em formação. Vamos abrir caminho.

— Certo!

Esquecendo o pressentimento de um momento antes, Sacerdotisa assentiu enfaticamente. Neste momento e somente neste momento, ela sentiu que poderia deixar de lado a inquietação da Guilda.

Embora não estivesse agradecida aos goblins por sua ajuda.

 

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— O que é isso?

Um goblin caiu para trás, um jato de sangue em erupção de sua garganta onde uma espada lançada impiedosamente o esfaqueou. Mesmo por trás do véu de neblina, o fedor podre de carne e sangue fazia seus narizes formigarem.

O goblin caiu com um baque, mas então, silenciosamente, seu corpo flutuou para cima, subindo lentamente na névoa.

— Isto não são goblins —, Matador de Goblins cuspiu em frustração.

— Eles são obviamente mortos-vivos…! — Alta Elfa Arqueira gritou de volta, disparando uma saraivada literal de flechas. As flechas voaram como relâmpagos em ângulos que seriam impossíveis para um humano, desaparecendo na névoa. O choque que se seguiu, o choque de flechas perfurando a carne provou que seu objetivo era certo, mas as formas se contorcendo no nevoeiro continuaram avançando calmamente sobre os aventureiros, apesar das flechas eriçadas deles.

Alta Elfa Arqueira deu um estalo de língua sem graça: Eles simplesmente não conseguiam causar dano suficiente.

— Ah, para…! Por que é sempre assim ultimamente? É por isso que eu odeio qualquer coisa não viva…!

— Vamos começar quebrando as pernas deles! — Lagarto Sacerdote atacou com sua longa cauda, envolvendo-a em torno de algumas pernas podres e jogando seu dono no chão. Houve um som perverso como uma fruta estourando, mas o goblin só podia se contorcer no chão e não se levantou novamente.

Lagarto Sacerdote limpou a sujeira de seu rabo e uivou para seus amigos.

— A carne e os ossos são apenas complicações; destrua-os e as coisas não se moverão novamente!

— Pensei que você não fosse especialista em cadáveres…!

— Que eu saiba, os mortos fazem apenas uma coisa: voltam para a terra. Essas coisas são algum tipo de slime, talvez?

Anão Xamã encolheu os ombros com a resposta calma de Lagarto Sacerdote à sua própria brincadeira e ergueu seu machado. Ele só tinha uma mão para usar, pois a outra estava em sua bolsa.

A lâmina do machado atravessou os membros dos goblins como galhos de árvores, mas fez pouco para evitar os mortos, que não conheciam o medo.

— Se colocarem as mãos em nós, acabou — disse Anão Xamã, trabalhando suas pernas curtas para acompanhar seu grupo. — Nós temos que encontrar o necromante, Corta Barbas, e eliminá-lo!

— Necromante —, Matador de Goblins ecoou baixinho. — Ele está controlando os goblins?

— Como vamos saber disso se nem você sabe, Orcbolg?! — Alta Elfa Arqueira gritou. Ela já havia colocado seu grande arco nas costas e estava segurando sua adaga de obsidiana em um aperto como se portasse um picador de gelo. Ela acenou ameaçadoramente, como se dissesse, Cheguem mais perto e vou cortar vocês, mas os goblins não vacilaram. Da esquerda e da direita, eles saltaram do chão, aproximando-se cada vez mais.

Alta Elfa Arqueira empurrou as orelhas para trás com raiva, xingando-os em élfico. Os goblins mortos-vivos eram muitos; a única graça salvadora era que eles eram lentos. Cercado no centro da horda, o grupo continuou a se mover, sem saber para onde estava indo, mas mantendo diligentemente sua formação.

No entanto, foram gradualmente sendo encurralados. Era apenas uma questão de tempo até que quebrassem as fileiras.

— Ah, ah…! — De seu lugar no centro, Sacerdotisa se esforçou para ver na neblina; ela colocou um dedo nos lábios quando um pensamento lhe ocorreu. Necromante: Bom ou mau, era qualquer um que usasse magia para controlar cadáveres, ou assim tinha ouvido. Isso significava que isto era trabalho de um feitiço. Uma maldição. E isso significava…

— Deve estar vindo de algum lugar! — Seu conhecimento do assunto era confuso, mas Sacerdotisa seguiu este lampejo de insight. — Não sei se isso é um truque goblin ou o trabalho de um verdadeiro necromante, mas…

— Então é mais provável que esteja no topo do túmulo. — Lagarto Sacerdote, varrendo o cadáver mais próximo com suas garras e dilacerando-o, disse calmamente: — Se fosse eu, certamente estaria onde ofereceria minhas bênçãos.

Matador de Goblins pegou uma espada a seus pés, seu elmo virando de um lado para o outro. Era provável que esta arma tivesse sido enterrada com um soldado neste túmulo funerário. Era velha, enferrujada e ele não gostou do comprimento. Deu um ou dois golpes experimentais para sentir, então olhou para Sacerdotisa.

— Você pode pará-lo se formos até a fonte?

— Sim senhor…! — Sacerdotisa assentiu com firmeza, segurando seu cajado.

— Então está resolvido — disse Matador de Goblins. — Vamos para o topo do túmulo.

Os aventureiros acenaram um para o outro e começaram a se mover como um só. Subiram a encosta suave, abrindo caminho entre os goblins que vinham até eles de todos os lados. Havia poucos grupos que poderiam ter mergulhado em uma horda como este fez. goblins mortos-vivos poderiam estar no caminho deles, mas eles dificilmente seriam um obstáculo.

— Só tenho que cortar as pernas, certo…! — Alta Elfa Arqueira murmurou enquanto corria à frente. Ela puxou as flechas com pontas de botão que tinham sido de tão pouca ajuda antes. Enquanto corria, bateu em uma flecha com sua adaga, fazendo com que a ponta se partisse como uma flor desabrochando.

Alta Elfa Arqueira segurou sua adaga entre os dentes e com toda a graça de um curso d’água, tirou o grande arco de suas costas e disparou a flecha. A corda do arco tiniu fazendo um som como um instrumento musical e a flecha deslizou pelo chão antes de saltar para cima.

Foi para onde era planejado: bem no lombo de um goblin…

— …?!

A flecha girou no ponto de impacto, rasgando as pernas com um som nauseante. Se os cadáveres fossem capazes de se surpreender, este teria ficado chocado.

Os aventureiros pisaram sobre o corpo onde ele estava, progredindo sempre para frente.

— Uau! — Alta Elfa Arqueira exclamou, a adaga ainda entre os dentes e as orelhas saltando para cima e para baixo enquanto se preparava para o próximo tiro.

— Golpe sujo. — Era tudo o que o Anão Xamã tinha a oferecer. — É por isso que avisam para você nunca ir à guerra com elfos…

Poderia criticar o quanto quisesse, mas não era desleixado. Com a retaguarda da formação confiada a ele, Anão Xamã tirou um odre de sua bolsa de catalisadores. Puxou a rolha e derramou um pouco no chão, ele estava simplesmente se preparando.

— Gnomos! Ondinas! Façam para mim a mais fina almofada que se verá!

Mesmo criaturas que não conhecem a morte ainda devem permanecer no chão.

Como Lagarto Sacerdote havia dito, os ossos eram apenas uma estrutura para essas coisas, algo sobre o qual pendurar a carne. Quando o chão de repente borbulhou em lama, engoliu seus pés e os jogou no chão. Eles se debateram e arranharam, mas isso não os levou a lugar nenhum. Depois que a lama reivindicou seus pés, depois que eles caíram nela com um grande borrifo de terra molhada, foram deixados para se afogar.

Deram grandes golpes com seus braços, como crianças em pânico, mas só continuaram a afundar. À medida que os goblins mortos-vivos continuavam a se arrastar para a frente, impulsionados pelo cheiro dos vivos, simplesmente se atolavam na lama, um após o outro. Já teria sido ruim o suficiente quando eles tinham a inteligência de crianças, mas agora os goblins tinham perdido até isso.

— Corta Barbas! Tenho a parte traseira coberta; Apenas vá!

— Tudo bem. — Foi tudo o que Matador de Goblins disse antes de saltar para a primeira fila. Jogou sua espada em um goblin morto-vivo que cambaleou na frente dele, a lâmina enterrando-se profundamente na cabeça da criatura. Ele seguiu batendo seu escudo em sua garganta, cavando até quebrar a medula espinhal.

— Eles são numerosos, como sempre… — Ele deu um estalo de sua língua enquanto pisava em um braço ainda trêmulo, arrancando a carne podre. — Goblins são um incômodo, mesmo após a morte.

— Matador de Goblins, senhor!

O grito de Sacerdotisa foi respondido pelo som imediato de uma clava. A arma abriu a cabeça de um goblin que estava saindo da terra, tentando agarrar o pé de Matador de Goblins. Ele chutou a criatura em seu rosto recém-côncavo, então olhou em volta sem dizer uma palavra.

O inimigo era de fato numeroso. Esmagadoramente assim. Ele podia ver cada vez mais sombras se contorcendo na neblina à frente. Quase pareciam uma única criatura enorme.

Mas suponho que não seja diferente do habitual.

Esse simples fato permaneceu inalterado.

— ………!

Atrás dele, Sacerdotisa apertou seu cajado com ambas as mãos, assentindo com uma expressão resoluta.

Sem problemas, então. Tendo chegado a essa decisão, o grupo passou a cortar a neblina com Matador de Goblins à frente. Para cima, para cima, cada vez mais perto do topo do monte.

Eventualmente, tudo se tornou sons perturbadores de carne sendo quebrada e cortada, respiração irregular e lama pisoteada. Os gritos ocasionais que ecoavam pela área eram, eles supunham, os gritos de guerra de Lagarto Sacerdote. Os mortos inquietos estavam em silêncio como seus homólogos pacíficos. Houve apenas um gemido baixo logo levado pelo vento.

Sacerdotisa piscou enquanto gotas de suor escorriam por sua testa e em seus olhos. A névoa parecia deixar todo o seu corpo frio e úmido, como a chuva, e suas roupas encharcadas grudavam na pele. Ela puxou a bainha de sua saia para longe de suas pernas, tentando desesperadamente seguilo, mas sua garganta estava apertada de preocupação.

O resultado dessa batalha, a chance de todos voltarem vivos para casa, estava em seus ombros esbeltos. Se sua oração por Cancelar Feitiço, junto com Luz Sagrada, não chegasse à Mãe Terra, ela não queria pensar no que aconteceria.

Quando suas forças estivessem finalmente esgotadas, eles seriam tomados pela massa de inimigos, destroçados membro a membro, suas entranhas abertas, sua honra manchada, antes de serem finalmente devorados.

De repente, ela pensou que talvez ainda estivesse naquela caverna. Talvez estivesse naquele buraco de goblin imundo agora, deitada na pilha de imundície, esperando para morrer.

Talvez estivesse apenas vivendo algum sonho tolo enquanto estava refletida nos olhos vazios de uma horda de goblins. O que poderia fazer uma garotinha que era capaz apenas de desmaiar de medo, chorar e chamar o nome de sua deusa enquanto sua voz tremia impotente? Essa oração nunca chegaria ao céu e seus amigos seriam despedaçados pela horda, assassinados, e então ela seguiria o mesmo destino, é claro que iria…

— Quase lá.

As palavras foram breves, calmas e mecânicas. Ele não disse continue lutando ou está tudo bem ou qualquer outro incentivo caloroso.

Sacerdotisa sentiu o espaço ao seu redor ficar mais claro e ela respondeu “Certo” em voz baixa.

Isso é diferente. Com certeza é.

Respirou fundo, enchendo seus pulmões com tanto ar quanto seu pequeno peito poderia conter. Isso foi o suficiente para olhar para seu próprio umbigo. Foi a misericordiosa Mãe Terra que providenciava os milagres; Sacerdotisa era apenas um canal. Todos os outros membros do seu grupo estavam fazendo o máximo, então ela, da mesma forma, orava com tudo o que tinha. Ela não podia se dar ao luxo de ser vaidosa.

O pensamento fez o sangue que parecia ter se solidificado em suas veias começar a fluir novamente, tornando sua mente mais rápida, tudo mais fácil. Talvez fosse por isso. Sacerdotisa piscou. Ela ouviu algo no monte enevoado, um som estranho que não veio dos cadáveres…

— …?! Heek?!

No instante seguinte, a boina de Sacerdotisa voou, dançando pelo espaço junto com vários cabelos dourados de sua cabeça. Ela deu ouvidos ao seu formigamento na nuca, jogando-se na lama: Foi a escolha certa.

Algo voou acima dela com um assobio, algo que estava indo direto para Sacerdotisa. Então aconteceu de novo.

— Ah, ah…! — Ela soltou um grito enquanto estava deitada ali, sua roupa manchada de lama. Suas botas estavam muito rasgadas quando ela caiu, quase como se tivesse sido empurrada e sangue escorria de sua coxa. Uma inspeção mais detalhada revelou um entalhe adequado em suas vestimentas; o ataque tinha claramente a intenção de tirar sua vida. Se não fosse por sua cota de malha, que brilhava opacamente pelo uso regular, o golpe poderia ter perfurado seu coração.

Então veio o terceiro golpe…

— Acima de nós! — Matador de Goblins disse amargamente. — Não é um goblin.

Houve um baque de carne e osso sendo partido e um braço podre voou e afundou na lama. Matador de Goblins jogou fora o braço goblin, que agora era apenas um pulso, puxando uma espada enferrujada de seu cinto. Ele segurou a arma em um aperto para trás, rapidamente se agachando ao lado de Sacerdotisa.

— Você aguenta?

— Vou ficar bem…! — Respirando com dificuldade e apoiando-se pesadamente em seu cajado, Sacerdotisa conseguiu ficar de pé instavelmente, apenas para cair novamente com um choque de dor. Não era a dor, mas a humilhação, a sensação do quão patética ela era, que trouxe lágrimas aos seus olhos. Ela nunca chegaria ao topo do monte…

— O que…?!

Ela mal havia terminado o pensamento quando se sentiu flutuando. Levou um momento para ela perceber que estava descansando contra o ombro de Matador de Goblins.

— Aqui vamos nós.

— Ah! S-sim, senhor…! — Ela estendeu a mão o melhor que pôde para pegar sua boina, mas naquele instante houve outra lufada de ar. Faíscas voaram da espada erguida de Matador de Goblins, junto com manchas de ferrugem que pousaram em seu rosto.

— Você pode cuidar dela? — Matador de Goblins perguntou baixinho, impassível pelo balbucio embaraçado de Sacerdotisa.

A resposta veio de sua amiga (levou um instante e um suspiro, solto dentro daquele capacete de metal).

— Pode ter certeza! — Alta Elfa Arqueira respondeu imediatamente; ela zuniu em direção a eles enquanto soltava flechas no nevoeiro. As orelhas de um elfo eram as coisas mais sensíveis que qualquer falante possuía e ela podia facilmente acertar inimigos que não podia ver. — Só dei uma olhada por um segundo, mas havia alguma coisa humanoide com asas, e viva, eu acho! Não parecia feito de pedras!

— Ah —, Matador de Goblins respondeu. — Não é uma gárgula, então.

As orelhas de Alta Elfa Arqueira se contraíram e Sacerdotisa esqueceu sua dor por um momento e piscou.

— Você… Você sabe sobre elas…?*

*(NT: MdG enfrentou gárgulas em sua aventura com Lanceiro e Guerreiro de Armadura Pesada no volume IV).

— Claro que sim.

— Céus, isso é algum tipo de demônio! — Anão Xamã trabalhou suas pernas curtas para acompanhá-los, mesmo enquanto seu machado atacava, esmagando goblins mortos-vivos. Ele segurou sua arma pronta para defender Matador de Goblins e Sacerdotisa, examinando os céus. Ele franziu a testa quando ouviu o som do vento soprando ao redor deles. Eles tinham mais do que goblins mortos-vivos para se preocupar agora. Este não foi um desenvolvimento positivo.

— Orelhas compridas, acho que já vimos coisas assim antes. Sabe o que eu quero dizer.

— …Acho que este se move de forma diferente.

— Bem, há os maiores e os menores.

— Acho que eles deveriam ter chamado eles de ases e curingas…! — E então, sem nem mesmo uma contração para revelar o que estava prestes a fazer, Alta Elfa Arqueira atirou uma flecha na escuridão. O broto de ponta fendida sumiu de vista, respondido por um grande bater de asas. O demônio havia mudado de rumo, esperando evitar o projétil que se aproximava. Tinha entrado em pânico.

Mas a flecha não errou. Nenhum elfo desperdiça um tiro. Em outras palavras, ela pretendia errar.

— Agora!!

— Rrahh!! Velociraptor, eis o meu salto!! — O grito ecoou através da névoa quando uma grande sombra escura ergueu a cauda. Esta foi uma emboscada, ao estilo dos homens-lagarto.

— AAAARRRERERREM?! — O demônio, que estava calado para manter o elemento surpresa, gritou com o impacto.

Fazer a mesma coisa de antes era reconhecer que não havia necessidade de uma grande mudança nas táticas de combate. As garras e presas de Lagarto Sacerdote mais uma vez agarraram o demônio, de modo que ele estava agarrado às suas costas.

— ARÉM!! AEEEEEEER!! — O demônio gritou descontroladamente, amaldiçoando a criatura escamosa em suas costas enquanto batia as asas e subia no ar. Seu plano foi todo em vão agora. Pretendia começar destruindo aquela menininha lamentável.

Esse era seu objetivo, uma regra rígida de batalha demoníaca: Comece eliminando o clérigo. Rasgue-os até que parecessem um pano de prato gasto, mas agora sua carta na manga foi forçada. Ele ainda mataria todos eles, mas teria que começar com esse lagarto.

Todas as criaturas morriam se atingissem o chão com força suficiente. Ele iria enterrar este lutador idiota!

— ARRERMERE!!

— Ha-ha-ha-ha-há! Criatura vil, encontrada em nenhum galho da árvore da evolução!

Mesmo enquanto o demônio tentava ganhar altitude, sentiu garras, das mãos e pés, rasgando suas costas e asas; a criatura não se soltaria. Pior, as garras estavam rasgando sua pele, espalhando o sangue imundo de demônio por toda parte. Não importa o desafio, um homem-lagarto nunca esqueceria uma presa que ele pudesse caçar.

Os fortes sobrevivem, e ser forte e sobreviver em todos os sentidos era a justiça e a verdade dos homens-lagarto. Lagarto Sacerdote segurou as asas de morcego, um sorriso selvagem em seu rosto.

— Asas como essas são desrespeitosas com o pterodáctilo! Vou ter que me livrar delas!!

E então com um uivo, suas presas morderam a garganta do demônio.

— ARRRRRARRRRMMM?!?!

O grito nem tinha mais significado. As garras do homem-lagarto rasgaram implacavelmente as asas do demônio, agarrando os ossos retorcidos, apertando-os. E, finalmente, Lagarto Sacerdote com sua grande força arrancou as asas do monstro, jogando-as fora como lixo.

— AARAMM?! ARARAMMMMRREERMMMM?!

Tudo o que restou era a queda.

Ninguém podia dizer o que o demônio pensava enquanto espiralava em direção à terra. Sangue e gritos o seguiram como uma longa cauda, como um cometa caindo no chão. Um gêiser de lama disparou no ar, fazendo com que o Anão Xamã, meio encharcado na coisa, murmurasse: — Esse é um funeral melhor do que ele merece.

— Ei, você ainda está vivo?! — Alta Elfa Arqueira gritou, mas Lagarto Sacerdote sentou-se e respondeu calmamente: — Ah, isso não foi nada. — Ele cuspiu o sangue sujo de demônio de sua boca, então deu uma grande sacudida para tirar a lama de seu corpo. Com seus pés tremendos, pisou no demônio onde ainda estava se contorcendo, esticando o pescoço para olhar para ele.

— Sigam em frente; não se preocupem com isso!

— C-certo…! — Sacerdotisa assentiu, lutando contra a dor, e Matador de Goblins silenciosamente continuou andando. Basta olhar para onde você está indo. Nada poderia ser mais fácil. Prestando atenção especial ao seu lado esquerdo, onde Sacerdotisa estava, ele trabalhou sua espada enferrujada em golpes rápidos e curtos, cortando as pernas dos goblins, pisando nos corpos.

Sua espada se partiu ao meio quando matou seu enésimo goblin, mas agora tinha o comprimento perfeito. Sim, este era o comprimento de uma espada. Matador de Goblins deu um floreio de sua lâmina e então a arremessou para frente. Ela voou direta e sem girar uma única vez no ar, alojando-se na garganta de um goblin.

— Eeei! — Sacerdotisa gritou quando Matador de Goblins a pegou nos braços, pulando para frente e chutando o goblin para baixo, esmagando-o sob os pés.

Havia um fedor de sangue e lama, misturado com o fedor de podridão que vinha dos cadáveres e o odor inconfundível de vísceras derramadas. Tudo era exatamente como sempre foi. A diferença era que não havia gritos; o goblin que deveria estar morto simplesmente se contorceu sob sua bota.

Os goblins estavam desarmados; eles simplesmente avançavam com os olhos vazios e as mãos estendidas.

— Não gosto disso.

Estes não eram goblins.

Matador de Goblins olhou para sua espada, que havia sido reduzida apenas ao cabo. Ele não tinha suprimento de armas. Colocou Sacerdotisa no chão com cuidado, levantando o escudo em seu braço esquerdo.

— Você pode fazer isso?

— Eu… — Sacerdotisa colocou seus pés na terra e gemeu de dor. — Eu posso…!

— Bom.

Sacerdotisa assentiu, segurando as lágrimas que ardiam em seus olhos e saiu andando, arrastando uma perna. Eles estavam tão perto do topo agora. Aquela curta distância parecia tão longa.

Apanhada por um instante em uma espécie de arrependimento, olhou para trás e lá estava o escudo redondo dele balançando atrás dela. Era tão pequeno, mas a ponta afiada cortava membros podres como um machado cortava galhos. Além disso estavam as flechas de Alta Elfa Arqueira, o machado de Anão Xamã e as garras, presas e cauda de Lagarto Sacerdote, todos perpetrando grande violência.

A névoa parecia estranhamente fina; Sacerdotisa podia ver toda a batalha, que deveria ter sido escondida dela pelo nevoeiro.

De repente, as orelhas de Alta Elfa Arqueira se contraíram e ela olhou para cima e acenou com um sorriso. Sacerdotisa assentiu. Sua perna doía tanto como se seu coração estivesse dentro dela, mas ela pressionou a ferida, respirou fundo e se forçou a ficar de pé enquanto soltava o ar. Estendeu a mão para seu cajado como se estivesse suplicando; o sangue de seu ferimento, seu sangue, escorria por ele.

Ela agarrou o cajado.

Os demônios da peste que haviam atropelado o continente no passado usaram algo além de simples maldições para controlar cadáveres, ou assim se dizia. Se a mesma coisa estivesse acontecendo agora… se. Esse foi o medo que se alojou em seu peito, mas ela respirou fundo e o apagou.

Tudo o que restava era a oração. Ela não faria nada. Era apenas um canal.

Então não tenho com o que me preocupar.

Deu uma última olhada naquele capacete sujo, então fechou os olhos e rezou. Era uma conexão direta de sua consciência com os céus acima. Dedos suaves e gentis roçaram o coração desta discípula mais devota.

— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda sua luz sagrada para nós que estamos perdidos nas trevas…!!

Houve um clarão, uma luz ao mesmo tempo misericordiosa e impiedosa, que apagou a névoa maldita em uma escuridão branca.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Sonny

 

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