Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 10 – Cap. 01.2 – Frente da Tempestade

 

Puxando a capa de chuva cada vez mais encharcada sobre os ombros, Sacerdotisa olhou desconsolada para o céu. A chuva caía o dia todo, rápida e forte, gotas grandes que a atingiam sem piedade. Gotas escorriam de sua boina; a capa de chuva havia chegado ao limite há muito tempo e estava encharcada, agora a água estava entrando em suas roupas.

O verão deveria estar próximo, mas esta chuva minou o calor de seu corpo até que estivesse congelando e sua respiração saindo em baforadas brancas de sua boca. Por um tempo, tentou em vão ficar perto o suficiente das muralhas da cidade para se proteger sob os beirais.

Uma figura humana sombria podia ser vista atrás do véu da chuva. Quando percebeu, o rosto de Sacerdotisa se abriu em um sorriso como o sol surgindo por trás das nuvens.

— Matador de Goblins, senhor, bom dia!

— Sim — disse ele, que estava vestido com uma pesada capa de chuva própria. — Desculpe meu atraso.

— De jeito nenhum, só cheguei aqui um pouco mais cedo…

— É mesmo?

Sim. Sacerdotisa respondeu com um aceno de cabeça, seu bom humor voltando. Ela partiu em uma caminhada, liderando o caminho.

E bem, ela tinha motivo para estar feliz. Essa pessoa que só falava de goblins, goblins e mais goblins mostrou interesse no vinhedo. O vinhedo no Templo da Mãe Terra, sua própria casa! Como seu coração não poderia pular de alegria? Ela se deleitava com cada passo que dava, mesmo os que caíam em poças.

Enquanto caminhavam pela estrada para o templo, Sacerdotisa se virou para olhar para o capacete de metal.

— E-eu não posso deixar de me perguntar, por que o súbito interesse pelo vinhedo? — Ela ficou frustrada ao descobrir que não conseguia evitar que sua voz chiasse um pouco, mas se esforçou para soar mais ou menos normal. Mas então ela bateu as mãos unindo-as. — Oh! Talvez isso tenha a ver com sua promessa de experimentar nosso vinho?

— Não — respondeu Matador de Goblins, então depois de pensar um pouco, resmungou baixinho. — …Bem, sim.

— Isso é maravilhoso… Hee-hee! — Ela acrescentou outro feliz “entendo, entendo” para si mesma enquanto trotavam. Havia lajes na cidade, mas um passo para fora dos portões, e era um caminho de terra. Ou seja, agora um caminho de lama, uma gosma escura que grudava em seus sapatos e pulava para pousar em suas roupas.

Sacerdotisa se viu estranhamente cativada pelos borrifos de lama escura em suas botas brancas e olhou para o chão embaraçada com o pensamento impróprio. Ela moveu os dedos dos pés desconfortavelmente, sentindo a água que invadiu suas botas espremer entre eles.

Vou ter que lavar e secar depois…

Ela não invejou o tempo para lavar a roupa; na verdade, gostava do trabalho, mas se preocupou por parecer patética demais naquele momento, e o pensamento a fez corar. Sim, ela estava com frio, mas o calor em seu rosto ainda não era bem-vindo…

— …Você quer entrar?

— Huh?

Quando ela entendeu o significado da emboscada na pergunta, seu rosto ficou ainda mais quente.

A capa de chuva de Matador de Goblins era obviamente velha, mas bem grande. Sacerdotisa era pequena o suficiente para que cobrisse facilmente os dois. Não passaria por cima de sua cabeça, com certeza, mas pelo menos em torno de seus ombros…

— Ah, n-não. Ob-obrigada pela oferta, mas vou passar. Hum… — Ela então se imaginou sob a mesma capa de chuva que ele e prontamente deu um aceno vigoroso com sua mão. Ela o acompanhou com um aceno de cabeça, enviando água voando de seu cabelo dourado pesado e encharcado. — Já estou completamente encharcada!

— Entendo. — Matador de Goblins assentiu antes de ficar em silêncio novamente. Essa era sua atitude natural; não significava nada, e Sacerdotisa olhou para o chão sem nada para responder. Ela estava pensando demais nas coisas, apenas isso. Mas… como ela poderia colocar isso?

…Para voltar ao templo assim com ele…

Seria embaraçoso. Essa era a palavra para isso.

Para Sacerdotisa, que não sabia como era sua mãe – ou mesmo qualquer membro de sua família de sangue – o templo era seu lar. As clérigas que serviam lá eram sua mãe, suas irmãs mais velhas e suas irmãs mais novas. Para ela, aparecer compartilhando uma capa de chuva com um homem, mesmo sendo um homem de seu grupo…

E é assim que as coisas são. Nada mais a dizer sobre isso!

Ela já as havia preocupado quando partiu para se tornar uma aventureira. Não queria dar a elas nenhuma ideia estranha.

Dentro de seu peito modesto, seu coração batia como um sino tocando rápido demais, e se arrependeu em particular de ter que se desculpar, mas se apressou em frente.

Não era tão longe da cidade até o templo. Eles prosseguiram pela chuva, praticamente nadando, e em pouco tempo a forma do edifício – embora nem de longe tão grande quanto o templo do Deus da Lei – surgiu na escuridão.

Então lá estavam eles de pé na frente do prédio, e três figuras familiares surgiram.

— Desculpe o atraso…

— Ah, você conseguiu! Por que demorou tanto, Orcbolg? — Apesar do fato de sua capa de chuva com capuz estar encharcada, Alta Elfa Arqueira pulou para cima e para baixo, tão feliz quanto uma criança. Cada vez que pulava e acenava, a água saía voando de suas mãos e cabelos, mas ela não se importava nem um pouco. Ela sorriu como se estivesse brincando na água e parecia estar dançando na chuva.

— Cuidado, Bigorna. Cuidado para não enferrujar.

— A chuva é um presente dos céus, mas vocês, anões, não saberiam disso, já que passam todo o seu tempo de baixo da terra.

— Deuses… — Anão Xamã, segurando um guarda-chuva de papel oleado avermelhado, soltou um suspiro. Ele segurou sua preciosa bolsa de catalisadores na frente de si, tomando cuidado evidente para que não ficasse encharcada pela chuva.

Sacerdotisa deu uma olhada em seu guarda-chuva, deixando escapar um suspiro impressionado. — Os guarda-chuvas são realmente bons…

— Mm, eles são de suma importância em uma aventura, é o que são. Parece que me lembro deles serem uma espécie de mercadoria de alto valor por aqui.

— Sim, nós os consideramos um pouco como um artigo de luxo.

Huh. Quando ouviu isso, Alta Elfa Arqueira disse: — Esses existem desde que eu era uma menina – eles não mudaram muito.

— E o que os elfos usam como guarda-chuvas, folhas? Uma classe diferente de proteção contra chuva.

— Eu ouvi isso! — E então a elfa e o anão foram discutir.

Lagarto Sacerdote ficou em silêncio ao lado deles, apertando os olhos contra a chuva.

Matador de Goblins notou. — Está chovendo — disse ele simplesmente.

— Hmm. Momento ruim, isso… — Lagarto Sacerdote respondeu suavemente —, não é bom para rastreamento. As pegadas terão desaparecido.

— Mas é improvável que a horda venha — disse Matador de Goblins. — Pelo menos não hoje. — Eles mantiveram suas vozes baixas o suficiente para serem cobertos pela chuva e Sacerdotisa não os ouvir. Alta Elfa Arqueira poderia, se estivesse prestando atenção, mas suas orelhas estavam encostadas em sua cabeça enquanto ela tagarelava com Anão Xamã.

Talvez até aquela pequena briga fosse uma gentileza perpetrada pelo anão, mas Sacerdotisa não sabia nada sobre isso. Não sabia nada de qualquer consideração que estava sendo feita pelos três homens. Ouviu apenas o que veio a seguir.

— Você quer usar? — Matador de Goblins perguntou, indicando a capa de chuva em volta dele. Os dois nunca caberiam, é claro, mas era grande o suficiente para cobrir o Lagarto Sacerdote sozinho.

O homem-lagarto, ainda se preparando contra o frio das gotas de chuva, girou os olhos na cabeça. — Ha-ha-ha-ha, chuva tivemos bastante em minha casa, mas nunca tão fria. — No entanto. Ele fez seu estranho gesto de palmas juntas, parando Matador de Goblins antes que pudesse tirar o casaco. — Esse casaco foi dado a você. Deixe você mesmo ser o único a usá-lo, milorde Matador de Goblins.

— Entendo.

— Ah, me mostre! — Exigiu Alta Elfa Arqueira, que havia captado a conversa com sua audição aguçada. Ela agarrou a gola da capa de chuva. — Huh. O que é isso? É novo? Novo para você, quero dizer.

— Sim, — Matador de Goblins respondeu, assentindo. — É antigo, mas de boa qualidade.

— Oi? Como é? Deixe-me dar uma olhada. Elfos não diferenciam vinho de suco de uva — murmurou Anão Xamã, provocando uma bufada de Alta Elfa Arqueira. Ele traçou a costura da capa de chuva com seus dedos curtos e grossos, e em pouco tempo, soltou outro murmúrio. — Ah. Material resistente, não chamativo,  confiável. Gosto disso.

— Sim — disse Matador de Goblins, retornando um aceno de cabeça. — Eu também.

— … — Sacerdotisa se afastou, observando-os. Ela não sabia porquê, mas queria suspirar. Talvez fosse porque as batidas de seu coração deram lugar a algo mais nebuloso, menos certo.

De qualquer forma, não conseguia afastar a sensação de que ele parecia uma criança exibindo sua capa de chuva novinha em folha.

 

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— Oh, você finalmente chegou! Vamos, não fique aí parada; venha ajudar! — A voz de uma mulher que soava tão brilhante quanto o sol os alcançou.

— Ah, certo! Não se preocupe, senhora. Estou indo…! — Sacerdotisa olhou para cima e viu alguém chapinhando na chuva. Suas roupas estavam sujas, prova de como havia trabalhado duro, e usava uma capa de chuva grossa. Como Sacerdotisa havia dito, era possível dizer quem era servo da Mãe Terra por suas vestimentas, mas…

— Hum…

…não havia como culpar Matador de Goblins por seu murmúrio baixo.

Esta mulher tinha a pele escura como café e cabelos pretos luxuosos fluíam por baixo de sua touca. Acrescente a isso seus olhos, verdes como um par de esmeraldas, e ficava claro que essa mulher não era daqui. Ela era humana, sim, mas os humanos vinham em muitos tipos. Ela provavelmente era uma daquelas pessoas que vagaram pelas montanhas do sul…

— Huh, então você é o líder do grupo da nossa garotinha. — Ela ainda era jovem – apenas um ou dois anos mais velha que Sacerdotisa, talvez – mas a clériga sorriu largamente, seu grande peito proeminente. — Bem, o bate-papo vem depois! Temos que trazer essas uvas antes que sejam arruinadas pela chuva! — A mulher parecia um pouco com Sacerdotisa, embora não tão recatada. Ela correu alegremente pela chuva, provavelmente indo direto para o vinhedo. Matador de Goblins fez menção de segui-la, então olhou de volta para Sacerdotisa.

— Ela é uma das minhas veteranas — disse Sacerdotisa suavemente e então sorriu. — É uma pessoa incrível.

— A conheci ontem, e cara, fiquei surpresa — disse Alta Elfa Arqueira com uma risada como um sino. — Não posso acreditar que você ficou tão quieta quando foi criada por alguém tão barulhenta.

— Bem, irmãs nem sempre se parecem — brincou Anão Xamã, pensando em uma certa irmã mais velha que havia se casado recentemente.

— Hmph. — Alta Elfa Arqueira respondeu, mas não disse mais nada; ela provavelmente estava pensando a mesma coisa.

— Entendo. — Matador de Goblins disse, mas então ficou em silêncio novamente. Seu capacete estava apontado para seus pés, examinando os arbustos logo além da chuva.

Ele e Lagarto Sacerdote acenaram um para o outro, então correram, tomando cuidado para ficar de olho em seus arredores. Era improvável, no entanto, que goblins ameaçassem este lugar agora.

— …A chuva realmente ficou mais forte, não é? — Alta Elfa Arqueira fungou, suas orelhas sensíveis se contraindo. Essa sensibilidade era crucial para o grupo. Ela pode ter perdido a conversa mais cedo, mas nunca deixaria de notar a aproximação daqueles Não-Propensos à Crença.

— De fato. — Lagarto Sacerdote respondeu calmamente, olhando para o céu. — Uma chuva fria e muito agourenta.

Em pouco tempo, o grupo chegou a um pedaço de folhagem baixa. Irmã Uva, a clériga de antes, tinha um guarda-chuva de couro na mão e parecia bastante agitada. As demais clérigas, o grupo incluía também acólitas mais jovens, ainda aprendizes, estavam todas trabalhando duro.

Sacerdotisa pressionou a boina encharcada na cabeça e gritou: — Senhora, o que você quer que nós…?

— Está chovendo como o diabo este ano! Troque os guarda-chuvas sobre as uvas! — Irmã Uva gritou. — Chuva significa mofo, mofo significa colheita ruim e colheita ruim significa sem vinho!

— Hô! — Anão Xamã exclamou, fechando seu próprio guarda-chuva. — Um assunto grave. Melhor fazer o que pudermos — trotando para o campo.

Alta Elfa Arqueira o seguiu em um passo ágil.

— Achei que estávamos aqui para continuar guardando o lugar. Não me importa o que aconteça com o vinho… Ela deu de ombros. — Por outro lado, a grama e as árvores são meio que meus amigos. Onde estão os guarda-chuvas?

— Bem naquela cesta!

— Eu também ajudarei! — Sacerdotisa disse, e como se essa fosse a deixa, o grupo inteiro entrou em ação.

Se as uvas crescessem em árvores altas, isso seria uma coisa, mas as videiras só chegavam à altura de um peito humano. Os anões tinham mãos hábeis e o trabalho era fácil para o xamã; para o elfo, nem precisamos dizer, foi ainda mais fácil.

— …Hum. Acho que vou me atrapalhar, de alguma forma. Para um homem-lagarto, por outro lado, era bem mais difícil: os movimentos de Lagarto Sacerdote eram retardados pelo frio, e era muito fácil para ele danificar a fruta com suas longas garras. Depois de lutar com a tarefa por algum tempo, Lagarto Sacerdote aparentemente decidiu que poderia servir melhor à causa carregando a cesta de guarda-chuvas de couro.

Sacerdotisa esvoaçou para frente e para trás, fazendo o trabalho que ajudou desde que era uma garotinha… E então seus olhos se arregalaram. — Já sabe como fazer isso…?

— Nunca lidei especificamente com uvas — disse Matador de Goblins. — Mas já ajudei na fazenda.

Cuide para que os cachos de uva não fiquem molhados, para que os frutos não se sobreponham. Ele moveu um guarda-chuva ensopado e o substituiu por um novo. O vento soprou; parecia que uma tempestade estava chegando.

— Tão estranho — disse irmã Uva, respirando audivelmente enquanto se aproximava deles. — Quase nunca chove assim nesta época do ano. — Ela olhou para o céu, preocupada. As tempestades geralmente vinham um pouco mais tarde na temporada. O verão estava apenas começando e esse clima era incomum.

— Você não poderia, tipo, usar um milagre? — Alta Elfa Arqueira disse enquanto afastava um pouco de cabelo grudado em sua bochecha. — Coloque proteção como você sempre faz, e bum, tudo seco!

— Se nos apoiarmos nos deuses para fazer tudo por nós, qual é o sentido de fazer qualquer coisa nós mesmos? — Irmã Uva disse, exibindo um sorriso cheio de dentes brancos. Ela não se incomodou em escovar o cabelo. — Nós nos voltamos para os deuses quando realmente precisamos. No momento, acho que ainda podemos fazer algo disso por conta própria!

Que venham o vento e as tempestades! — declarou confiante, e então ela mergulhou entre as vinhas.

— Entendo — disse Lagarto Sacerdote, repelindo as gotas de chuva com suas escamas. — Ela é realmente uma pessoa memorável.

— Bem, então, e os feitiços? — Anão Xamã sorriu e deu um tapinha em sua bolsa enquanto levantava orgulhosamente sua barba pingando. — Não é bem pedir a ajuda dos deuses.

— Um lançador de feitiços — disse Irmã Uva, arregalando os olhos. — Suponho que a Mãe Terra permitiria isso!

Sacerdotisa riu para si mesma. Irmã Uva estava exatamente como ela se lembrava, calorosa mesmo em meio a essa chuva torrencial. Todos os anos, ela era a mais animada em colher as uvas e fazer o vinho.

Fazia dois anos desde que Sacerdotisa deixou o Templo da Mãe Terra. Ela havia retornado periodicamente para ajudar com isso e aquilo, mas…

Realmente não mudou.

Tais eram seus sentimentos. Alguns rostos familiares estavam lá, outros foram embora e algumas pessoas novas se juntaram, mas quando se tratava do lugar para onde ela poderia se sentir em casa, era isso.

Enquanto Sacerdotisa trabalhava diligentemente, suor e gotas de chuva escorrendo pela testa, Anão Xamã começou a tecer um feitiço ao lado dela.

— Ó silfos, belas donzelas do vento, concedam-me seu beijo raríssimo e abençoe nosso vinho com brisas formosas!

Um redemoinho começou a se formar no ar, dançando ao redor do vinhedo. Os espíritos do vento em passos rápidos repeliram os pingos de chuva e as clérigas se viram parando para assistir, apesar de si mesmas.

— Uau. — Alta Elfa Arqueira assobiou. — Muito bom truque para um anão.

— Eu mesmo não conseguiria lidar com o vento assim. — Lagarto Sacerdote acrescentou, seus grandes olhos rolando enquanto ele olhava para o céu.

Essa produção de seres sobrenaturais estava em uma liga completamente diferente da arte pedestre. Matador de Goblins sozinho entre todos olhou para o céu por apenas um segundo antes de silenciosamente retomar seu trabalho.

Não que ele não fosse afetado pela exibição. A aventura, o mistério do mundo, tinha uma atração natural. Porém…

— Goblins…?

Quando viu sombras escondidas atrás da chuva, espreitando nas árvores, era outra história.

Não, não é o tamanho certo para goblins.

Ele tateou a espada sob a capa de chuva mesmo quando chegou a essa conclusão. Eram altos demais para serem goblins, mas baixos demais para serem hobs. Humanos, ele suspeitava. Possivelmente pessoas do templo, mas as figuras desapareceram na névoa antes que ele pudesse ter certeza.

Devo persegui-los?

Ele pensou nisso, então balançou a cabeça. Não eram goblins. E havia a chuva a considerar. E eles foram reduzidos na vinha.

Tudo isso se somava ao que ele disse enquanto gotículas pingavam de sua viseira: “O que devo fazer a seguir?”

 

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— Aaahh, isso foi uma grande ajuda. Muito obrigada! — A voz ansiosa de Irmã Uva ressoou no refeitório do templo, dando-lhe um pouco de calor extra. O lugar não era apertado, mas não era nada parecido com o templo do Deus da Lei na Cidade da Água, muito menos com o castelo real que ela tinha visto uma vez.

Isso não quer dizer, é claro, que os outros dois lugares fossem exemplos de opulência esbanjada. A autoridade tinha que manter um certo decoro. Alguns podem hesitar, por exemplo, em cumprir as decisões legais proferidas por clérigos em vestimentas surradas. E ninguém ficaria admirado com um rei vestido em trapos e carregando uma espada de madeira.

Mas para o Templo da Mãe Terra, as coisas eram diferentes. O refeitório era simplesmente uma coleção de longas mesas acompanhadas de bancos, e a comida não era nada elaborada, mas tinha um calor inconfundível. Que outro ornamento era necessário para comunicar o amor de uma mãe?

— Os ensinamentos de outras religiões são muito interessantes. Às vezes, há de fato pontos de interseção com minhas próprias crenças. — Lagarto Sacerdote pegou uma fatia contida (mas ainda grande) do pedaço de queijo no prato à sua frente. — Embora os temíveis nagas, a quem servimos, digam que em batalha se deve erguer a crista.

— Bem, gracioso — disse Irmã Uva com uma risada. — Nós, mulheres, com certeza sabemos como fazer isso quando precisamos!

Suas palavras carregavam algum significado que parecia atingir os outros adeptos, porque todos riram junto com ela. Apenas Sacerdotisa corou e olhou para o chão, sua boca trabalhando. Foi ela quem serviu como oficiante no festival da colheita no ano retrasado, mas isso não era a única coisa em sua mente.

Havia também o homem peculiar sentado na extremidade do banco e atraindo pequenos olhares dos adeptos. Usava uma armadura de couro encardida e um capacete de metal de aparência barata. Em seu braço havia um escudo redondo e em seu quadril uma espada de comprimento estranho. Ele estava pingando água da cabeça aos pés não muito tempo antes, mas alguém o secou diligentemente com uma toalha – isto é, Sacerdotisa.

Aha, então este é o infame ele.

— Ele não parece grande coisa.

— É impossível ver o rosto dele.

— Ele é bem construído.

— Qual é a altura dele, realmente?

— Sua voz parece tão suave.

— Seus movimentos eram tão ágeis nos campos.

— Qual é a classificação dele?

— Prata, aparentemente.

— Ora, esse é o terceiro nível mais alto. Incrível.

— Ele é um guerreiro?

— Parece que poderia ser um batedor.

— Que tal você tentar falar com ele?

As meninas, mais velhas e mais novas, sussurravam ruidosamente, aumentando o constrangimento de Sacerdotisa. — Ughhh… — Se era assim que as coisas deveriam ser, teria sido melhor não falar com elas toda vez que voltasse ao templo? Ou era esse constrangimento por saber que havia feito uma coisa tão vergonhosa…?

— Eh, ouso dizer que é assim que acontece quando você traz amigos em casa. Eu mesmo tenho alguns parentes. — Anão Xamã sorriu encorajadoramente para Sacerdotisa. Ele estava ocupado espalhando manteiga em um pão preto, mastigando sem se importar com o quão duro era. Arrancou algumas migalhas de sua barba e as jogou em sua boca enquanto Sacerdotisa olhava para ele lamentavelmente.

— Eu… eu sei o que está dizendo, mas… Sério, eu simplesmente não posso…

Sentados como estavam, os dois estavam olho no olho. Anão Xamã podia dizer de relance exatamente como a pele pálida de Sacerdotisa ficou vermelha.

— Basta deixar rolar. Olhe para mim, estou bem, apesar da evidente falta de carne ou peixe. — Ele riu com o que viu, esvaziando sua taça de vinho de uva. — Hô! — Exclamou, seus olhos se arregalando. — Não direi que está no nível do grande Deus do Vinho, mas pode dizer que é uma bênção da Mãe Terra.

— E estou muito honrada em ouvir você dizer isso, — Irmã Uva disse com um sorriso felino, apoiando o queixo nas mãos e olhando para o lado. — Parece que nossa irmãzinha já está bem e um pouquinho bêbada.

— E como está! — Anão Xamã exclamou, rindo ruidosamente. Sacerdotisa tentou se tornar ainda menor.

— Ahhh, isso te deixa quentinha — disse Alta Elfa Arqueira, estreitando os olhos como um gato que chega encharcado pela chuva. — Ei, Orcbolg. — Ela estendeu a mão com o cotovelo e cutucou Matador de Goblins, que estava silenciosamente comendo bocados alternados de pão e sopa.

— O quê? — Ele parou com um pedaço de pão preto ainda mergulhado em sua sopa, o capacete virando para Alta Elfa Arqueira.

— Não me venha com o quê — disse ela, seus lábios franzindo em aborrecimento. — Você não tem nada para contribuir com esta conversa?

— Hmm… — Matador de Goblins repetiu em voz baixa. — Como o quê?

Em um pânico repentino, Sacerdotisa disse: — Não, está tudo bem…! — Mas sua voz tinha toda a força de um mosquito zumbindo.

As orelhas de elfo de Alta Elfa Arqueira naturalmente perceberam, mas ela declarou: — Não consigo ouvir você. — Então se virou para Matador de Goblins. — Quero dizer sobre a garota, ou, você sabe, tipo, qualquer coisa!

— Hmm… Muito bem, — ele disse, mas Irmã Uva estendeu a mão para ele.

— Antes de dizer qualquer coisa, por favor, deixe-me agradecer.

— Me agradecer?

— Sim, claro — disse Irmã Uva, delicadamente tirando o sorriso do rosto e fazendo uma profunda reverência com a cabeça. — Você fez tanto por nossa irmãzinha. Obrigada… estou falando sério.

Sacerdotisa olhou para frente e para trás entre eles com crescente desânimo.

— Não, — Matador de Goblins disse com um aceno de cabeça. — É ela quem me ajuda.

Sacerdotisa mal podia emitir um som com isso e apenas olhou vagamente para seu capacete.

— Devo a ela meus agradecimentos.

Incapaz de suportar isso, Sacerdotisa olhou para baixo novamente. Suas mãos agarraram as mangas de suas vestes. Isso não passou despercebido por Alta Elfa Arqueira, que riu. Ela olhou para Lagarto Sacerdote, que revirou os olhos alegremente em sua cabeça. — Me orgulho de minhas habilidades marciais. Mas sutileza, temo que esteja perdida em mim.

 

 

 

— Ao contrário de uma certa bigorna, pelo menos você sabe ser atencioso.

As longas orelhas de Alta Elfa Arqueira recuaram e ela exclamou: — O que foi isso?! — Mas mesmo essa demanda logo se transformou em riso. Os adeptos, ouvindo, escutaram a risada da elfa soar como um sino, ecoando pelo refeitório. Havia tanto calor em sua voz que parecia que traria lágrimas aos olhos; a atmosfera era tão boa que lembrava o conforto da Mãe Terra.

Irmã Uva sorriu e acenou para Sacerdotisa, que olhava atentamente para o chão, sem dizer nada. — Bem, isso não é adorável? E a velha Madre Superiora aqui estava preocupada com você. — A Madre Superiora dificilmente era “velha”. Sacerdotisa olhou para cima quando detectou o amor por trás do pequeno golpe. — Mas você tem amigos tão bons. Isso deixa o coração tranquilo – tanto o meu quanto os delas.

Sacerdotisa sentiu que engasgaria com as palavras em sua garganta, mas finalmente conseguiu dizer “Sim, senhora”.

Quando Irmã Uva viu isso, finalmente conseguiu um olhar de aprovação em seu rosto, então disse levemente para ele: — A propósito, senhor… Matador de Goblins, não é?

— É assim que me chamam. — No canto desta sala quente, o aventureiro, que silenciosamente voltou a comer, parou mais uma vez.

— Há uma aldeia pioneira nas proximidades, onde ouvi dizer que houve alguns goblins. Talvez você possa nos dar seu conselho?

Sua resposta foi imediata. — Eu vou. Diga-me a localização. Qual o tamanho do ninho?

— Caramba, você com certeza se decide com pressa. Exatamente como me disseram… — Irmã Uva olhou para Sacerdotisa com um toque de surpresa. Sua boca formou as palavras: — Você tem uma vida difícil, hein? — Sacerdotisa balançou a cabeça em resposta. Então enxugou os olhos com as mangas para que ele não a visse sorrir.

Ele está bem, e sem dúvidas, sem esperança.

Assim o dia passou.

Seu próximo trabalho seria exterminar os goblins que Irmã Uva havia mencionado.

— De novo?! — Alta Elfa Arqueira explodiu ao ser informada disso, mas não estava tão infeliz quanto parecia. Lagarto Sacerdote e Anão Xamã pareciam sombrios e rapidamente começaram a conversar com Matador de Goblins sobre o que deveria ser feito. Para Sacerdotisa, entretanto, mesmo aquela era uma visão feliz e familiar, e ela se pegou piscando rapidamente. O cansaço que sentiu depois de trabalhar na tempestade, o calor de sua barriga cheia de comida, as vozes de todos ao seu redor: tudo era reconfortante e bom. Soltando um pequeno bocejo ao sentir seus olhos pesarem, logo caiu no sono.

Tinha sido um dia pacífico de felicidade calma. Um dia maravilhoso do tipo pelo qual era grata à Mãe Terra.

Foi logo depois que começaram a se espalhar os rumores de que Irmã Uva era filha de um goblin.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Flash

 

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