Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 09 – Cap. 02 – Matador de Goblins Errante

 

 

— Certifique-se de se cuidar — disse ele. — Você vai ter queimaduras de frio.

— C-certo… — perturbada, ela colocou a mão sob as roupas, então finalmente teve a chance de olhar ao redor do prédio em ruínas. Parou antes de algo que se pudesse chamar de casa. Os restos de uma casa, talvez, como um esqueleto deitado no campo. Isso foi o que a fez pensar.

Mas ainda tinha quatro paredes e um telhado, mesmo que apenas o suficiente para manter os elementos do lado de fora. Não estava nem um pouco quente, não importava como visse, mas eles dificilmente poderiam esperar por algo melhor.

— Temos sorte de estar nevando — Matador de Goblins espiou por um buraco na parede.

Lá fora, na noite branca, os olhos brilhavam como chamas brilhantes. Os goblins pareciam perfeitamente capazes de andar por aí, apesar do frio. No entanto, eles careciam de certa elasticidade em seus passos; seus movimentos pareciam lentos e desinteressados.

Essas criaturas chamadas goblins sempre esperaram que os outros lidassem com as consequências de sua própria indolência. Eles não podiam evitar se estava frio e nevando lá fora; como eles deveriam trabalhar nessas condições? Ninguém notaria uma pequena folga, de qualquer maneira. Pelo menos não imediatamente.

— Isso vai ajudar a disfarçar o seu cheiro também.

A breve observação fez Vaqueira corar abundantemente.

— N-não olhe, ok?

— Não vou — Matador de Goblins se virou, em direção ao interior da sala, o clink-clink de seu cinto se abrindo audível atrás dele.

A maior parte do conteúdo da casa foi roubado, mas poderia haver algo sobrando. Uma busca completa era essencial, afinal eram goblins, eles não eram conhecidos por olharem com muito cuidado.

— …Ei — Vaqueira disse suavemente, acompanhado por um farfalhar de pano enquanto ela se secava — …Não ria, ou… pense que sou patética, ou…

— Não vou — respondeu ele, vasculhando uma cômoda surrada, com cuidado, para não fazer barulho. Então, como se tivesse decidido que isso não era suficiente, ele acrescentou — Meu professor me ensinou isso, há muito tempo.

— Seu professor…?

— Sim — Matador de Goblins assentiu. O grande mestre que o superou em todos os sentidos possíveis — “Quando as coisas ficarem difíceis, jogue para o caralho todos os fardos ​​e esteja pronto para correr.”

— “Para o caralho”…?

— Palavras do meu professor — ele disse bruscamente — Aparentemente, é a prova de que você não desistiu.

Ignorando o constrangimento de Vaqueira, ele puxou um par de luvas comidas por traças da gaveta. Considerando que sua jaqueta havia sido destruída enquanto corriam, este foi um achado tão bom quanto um casaco mágico de alta qualidade.

Matador de Goblins jogou as roupas para a garota atrás dele enquanto dizia — Seu corpo, pelo menos, se não seu coração e mente.

— …

— Se o seu corpo não desistiu, o resto é apenas uma questão de esforço.

Vaqueira ficou sem palavras, Matador de Goblins podia ouvir apenas algumas respirações rasas e, uma ou duas vezes, um hmm como som. Ela provavelmente estava enxugando o suor e os últimos vestígios de seu acidente durante o ataque dos goblins.

Ele se concentrou em um canto da sala, puxando a adaga da bainha em um aperto reverso.

— E aqueles que riem disso são idiotas que não sabem de nada, me disseram. Enquanto aqueles que tentam forçar seu caminho em situações desesperadoras são tolos, sem o bom senso de quando fugir.

— …E se você morrer tentando?

Ele enfiou a adaga no chão e quase imediatamente sentiu algo duro. Ele começou a desenterrar. Como ele esperava, no lugar de uma caixa de madeira, haviam vários potes enterrados no subsolo. A maioria era inútil depois de todos os meses e anos que passaram ali, mas podiam raspar o bolor das carnes secas e provavelmente seriam comestíveis.

— Você é um idiota.

— …Ah.

Tudo bem. A voz de Vaqueira estava tão fraca que fez Matador de Goblins se virar lentamente.

Ela havia acabado de se secar e colocado a calcinha e a camisa de volta; ela pendurou as calças em um pedaço de madeira e segurava um cobertor. Matador de Goblins foi e sentou-se ao lado dela imediatamente, oferecendo a carne, da qual ele havia raspado a superfície.

— Coma, é melhor que nada.

— …Certo — ela acenou com a cabeça, sentando-se pesadamente ao lado dele. Ela deslizou seu corpo macio para mais perto dele, em seguida, estendeu o cobertor para cobrir os dois antes de olhar para baixo para esconder suas bochechas rapidamente avermelhadas.

— Eu não, uh… estou fedendo ou qualquer coisa assim, não é?

— Não me incomoda.

— …Então você está dizendo que sim.

Haaah. Sua respiração se transformou em névoa e flutuou para longe.

O frio era quase difícil de suportar. Pequenos arrepios começaram a sacudir seu corpo.

— …Você está bem?

— …Sim — a voz que respondeu à pergunta de Matador de Goblins era baixa. E parecia soar mais fraca cada vez que a ouvia.

Vaqueira mastigava inquieta a carne dura, Matador de Goblins, por sua vez, empurrou um pouco da comida pelo visor, mastigando enquanto vasculhava sua sacola de itens. Ele estava muito ciente de que eles não poderiam acender uma fogueira, mas não havia razão para não fazer algo por Vaqueira. Infelizmente, um anel de respiração não poderia neutralizar o frio que não se originou diretamente da neve. Então…

— Beba isso.

Ele estendeu algo para ela: uma poção de resistência. Vaqueira olhou para o líquido espumando e piscou.

— Tem certeza…? Poções são caras, não são?

— Comprei para que pudesse ser usada quando fosse necessário.

— …Obrigada — ela bebeu ruidosamente, então soltou um suspiro audível — …Mmm, isso aquece bem, não é? — ela acenou com a cabeça e até sorriu, embora pudesse ter sido um show para o benefício dele.

Então ela passou o frasco para ele — Aqui!

E ele pegou — Sim.

O líquido amargo parecia aquecer seu corpo de dentro para fora.

— Você pode dormir se quiser. Não deve estar frio o suficiente para matá-la ainda.

— …Isso não é muito reconfortante.

— Estou brincando.

O sorriso de Vaqueira ficou tenso, Matador de Goblins ignorou e olhou para fora da cabana mais uma vez. Para escapar ou esperar pelo resgate?

Provavelmente poderíamos durar vários dias.

Eles podiam estar presos na escuridão imposta pela neve, mas ele duvidava que fosse difícil escapar das buscas dos goblins. Mesmo se os monstros pudessem andar durante o dia e também à noite, ainda estaria muito frio e ainda haveriam muitos lugares para se esconder.

Mesmo que seu objetivo principal fosse levar a garota ao lado dele para casa com segurança, ele não achava que seria um problema.

Claro, só podemos fazer o que podemos fazer.

Com isso, a conversa cessou. Ele detectava apenas uma suavidade e calor fugazes cada vez que ela se mexia. O som silencioso de sua respiração, seu peito subindo e descendo. Goblins tagarelando do lado de fora, seus pés esmagando a neve, mas todas essas coisas pareciam distantes.

Finalmente, as pálpebras de Vaqueira se fecharam. Ela caiu ligeiramente, recostando-se em Matador de Goblins. E então…

Thump! Um impacto virou tudo de cabeça para baixo.

— Heek…?! — quando Vaqueira se sentou de repente, Matador de Goblins já estava se preparando para lutar, se fosse preciso. Ele estava olhando ao redor vigilante, arma em punho, sua postura baixa e seus olhos fixos em…

Vaqueira também viu.

Um enorme corpo azul-escuro, chifres crescendo em sua testa, uma boca que exalava um odor podre e um enorme martelo de guerra em suas mãos.

Vaqueira, com os olhos arregalados de espanto, soltou uma voz que mal era um sussurro.

— O que…é aquela coisa…?

— Eu não sei — Matador de Goblins disse brevemente — Não parece ser um goblin.

Com um thump, thump, a cada passo sacudia o chão, a coisa se aproximava. Os goblins cercavam a criatura como se fossem atraídos por ela.

Entendo… então esse é o líder deles.

— Aquele monstro parece vagamente familiar — Matador de Goblins disse, então começou a observar os movimentos da criatura cuidadosamente. Como era chamado?

— Grah! Vocês ainda não encontraram o aventureiro?! — a criatura uivou em uma voz semi-articulada. Aquilo deu um chute em um dos goblins próximos.

— GOBG?!

— Goblins! Argh, inúteis…! — aquilo cuspiu quando o goblin rolou pela neve, então rastejou de quatro, implorando por perdão.

O monstro sentou-se no que restava da carroça, colocando o martelo ao lado dele com tanta força que parecia que estava batendo com força no chão.

— …Bah, tudo bem. Vocês têm sopa no lugar do cérebro, não entenderiam mesmo se eu soletrasse para vocês.

— GBOR…

— Eu disse “tudo bem”. Apenas se apressem e encontrem-no. O primeiro time que colocar as mãos nesses dois pode fazer o que quiserem com a garota.

— GROGB! GOBOGR!

— Entenderam? Então vão em frente!

Os goblins saíram correndo, gritando as instruções do líder para os outros em voz estridente. Matador de Goblins estalou a língua para ver a agitação entre seus inimigos. Os goblins eram movidos pelo medo e pela luxúria. E este gigante sabia como usar ambos para reunir suas tropas.

Realmente assustador, Matador de Goblins concluiu.

Evidentemente, nem escapar nem esperar seria fácil.

— Hum, ei…?

O tremor da garota ao lado dele havia se tornado mais violento. Matador de Goblins estendeu a mão, segurou-a e gentilmente a colocou no chão.

— …Durma — incapaz de encontrar outras palavras, ele tocou a espada com a mão e repetiu baixinho — Durma… Amanhã não será mais fácil.

— …Certo — Vaqueira acenou com a cabeça, então obedientemente fechou os olhos. Ela cochilou um pouco, mas por outro lado ela não conseguia dormir profundamente.

Matador de Goblins dormia com um olho aberto, alerta o tempo todo.

Ele precisava, não havia outra escolha.

 

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— Alguém que você ama está morrendo e você pode ver um goblin fugindo. Qual você escolhe?

— Eu não sei.

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele sentiu um golpe na cabeça. Seu mestre, seu professor, o havia acertado com uma bola de gelo.

Ele foi jogado no chão da caverna escura e gelada, mas não conseguia mais distinguir entre frio e dor. Ele se levantou em um salto e olhou em volta, na esperança de evitar o próximo golpe, mas, como sempre, não viu nenhum sinal de seu mestre.

— Ah, que pena! Sua amiguinha morre na frente de seus olhos! E o goblin vai embora!

E é o fim! Na escuridão, seu mestre, ainda invisível, rangeu algo entre os dentes. As nozes que ele mandou o garoto coletar na planície congelada. O menino havia aprendido que mesmo nas montanhas, cobertas de neve e gelo, havia uma quantidade surpreendente de comida, se você soubesse procurar.

Pfah, eu não estou compartilhando! Se você quiser, vá buscá-las você mesmo! Estas são minhas!

Sim. Ele assentiu.

Ele estava acostumado com os caprichos de seu mestre, mas nunca lhe ocorrera roubar a comida. Ele nem tinha cogitado isso.

Afinal, seu mestre o ensinou a ser honesto e correto.

— Hrmph — seu mestre grunhiu, deixando escapar um arroto — Eu acho que é um pouco melhor do que dizer que você faria as duas coisas.

— Não posso?

— Você não pode!

Algo molhado deu um tapa em seu rosto. A casca de uma das nozes, cuspida por seu professor, talvez. Ele o enxugou sem dizer uma palavra. Ele não queria que se transformasse em congelamento.

— Isso só mostraria que você não entendeu do que se tratava. Se você não enfrentar a realidade, você morrerá mais cedo ou mais tarde! Inúteis e indefesos, eles — seu professor resmungou, então cuspiu outra casca nele, desta vez direto em sua bochecha — Uma coisa, no entanto — seu professor acrescentou, e embora ele ainda estivesse invisível, o menino podia ouvi-lo sorrindo — Há uma parte da resposta lá.

— Uma parte?

— Sim, só um filho da puta burro deixaria as coisas ficarem tão ruins para começar! — uma gargalhada sobrenatural ecoou nas paredes da caverna. O som de mastigação se transformou em esmagamento. Cogumelos, provavelmente.

Depois de pensar um momento, ele respondeu.

— Mas o que devo fazer se as coisas chegarem a isso?

— O que você quer dizer com o quê?

Uma luz branco-azulada passou por seu nariz. A lâmina de uma adaga, a ponta roçando sua bochecha, perto o suficiente para tirar sangue.

De repente, ele ficou cara a cara com o rhea, cujas pupilas queimavam no escuro. A velha criatura gargalhou.

— Você faz qualquer coisa… Se for alguém que você ama!!

 

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— Mmm, er… — seu sono tinha sido tão leve que não foi surpresa que ela teve problemas para acordar. A noite foi longa e seus sonos foram curtos, ela havia sido despertada pela sensação de algo se movendo ao seu lado.

— Você está acordada?

— Eep…! — Vaqueira sentou-se rapidamente, cobrindo sua metade inferior com o cobertor e, em seguida, cobrindo a boca com as duas mãos. Então ela percebeu que não sabia por que tinha feito isso e piscou.

Onde ela estava? Este não era o quarto dela. E ele estava aqui, vestido como sempre.

— ………Hmm. Bom dia.

— Sim, bom dia.

Certo, certo. Ela acenou com a cabeça quando seu cérebro finalmente alcançou a realidade. Eles ainda estavam naquela cabana dilapidada, tudo exatamente como quando ela foi dormir. Ela estremeceu, então deu uma olhada rápida para fora.

Não haviam goblins no campo nevado além, pelo menos até onde ela poderia dizer.

Obrigado Senhor.

Seu amplo peito se acalmou quando ela exalou de alívio.

Quanto a ele, estava verificando seu equipamento, com a mesma aparência de quando inspecionava o cercado da fazenda. Seu capacete de metal de aparência barata estava lá, assim como sua armadura de couro encardida, a espada de um comprimento estranho em seu quadril e o pequeno escudo redondo amarrado em seu braço.

Vaqueira sentou-se e o observou, então pigarreou.

— …O que vamos fazer hoje?

Ela não teve coragem de perguntar, O que faremos a seguir?

— Hmm — ele grunhiu antes de dar uma resposta — Quer vamos fugir ou esperar por resgate, precisamos de outro lugar para dormir.

— Podemos ficar aqui? — Vaqueira olhou em volta — Eles não nos encontraram ontem.

Sua resposta foi direta — Então eles nos encontrarão esta noite. Precisamos de mais comida também.

— Comida… — Vaqueira se lembrou da carne seca que ela tinha comido na noite anterior. Ela se sentia como se não tivesse comido absolutamente nada.

Nossos almoços…

Se ela não os tivesse deixado cair, eles poderiam estar comendo agora.

Ela olhou em silêncio para o chão e, independentemente de como ele percebeu sua reação, disse baixinho.

— Vou procurar agora, enquanto os goblins estão dormindo. Você espera aqui.

— O quê? Eu não vou esperar em lugar nenhum — ela respondeu instantaneamente. A própria Vaqueira não sabia por que havia dito isso, dificilmente se poderia esperar que ele entendesse.

— Por que não?

Eu apenas deixei escapar! Dificilmente era algo com que ela pudesse responder. Em vez disso, ela murmurou “Hum, uh” e procurou por uma resposta. Seus olhos foram para um lado e para o outro, mas ela não encontrou nada na sala. Nem lá fora, na neve. Vaqueira colocou a mão no peito.

— Eu… quero dizer, se os goblins me encontrassem sozinha, eu ficaria completamente indefesa…

Isso era verdade e era um argumento bastante lógico, se ela mesma o dissesse. Pelo menos para algo que ela havia inventado na hora.

E também… eu simplesmente não quero ficar sozinha.

Ela não podia negar isso. Ela apertou as mãos na frente do peito, olhando para ele.

— …Então?

— … — Ele grunhiu baixinho.

Ela entendeu tanto quanto podia sobre esta situação. Pelo menos, ela achava que sim. Assim, desta vez, ela sentiu que não poderia forçar o assunto, se ele dissesse não, ela pretendia deixar por isso mesmo.

— …Desculpe.

— Ah… — como eu suspeitei. Vaqueira balançou a cabeça — Não, está tudo bem… Não se preocupe com isso.

— É mais difícil encontrar um esconderijo do que dois. Calculei mal antes.

— …Huh? — Vaqueira estava prestes a dizer “Eu vou só esperar aqui”, mas agora ela inclinou a cabeça.

— E você está certa; ter você comigo me permitiria lidar com qualquer coisa que surgisse.

— …Quer dizer que posso ir com você?

— Temos que nos apressar — respondeu ele, com uma resposta indireta — O tempo é curto.

Se precisar de alguma coisa, leve com você.

Com essa instrução, ele deu as costas para ela; Vaqueira olhou em volta freneticamente. Primeiro era o cobertor que ela estava usando agora, o que ele havia jogado para ela no dia anterior. Ela colocou sobre os ombros no lugar de um casaco, mas agora ela sentia o frio nas pernas.

Ah!

Ela corou e rapidamente agarrou suas calças. Ela se enfiou nelas, quadris, bunda e tudo, e apertou o cinto. Ele não parecia estar prestando atenção nela, ela esperava que continuasse assim.

— Uh, e, uh, uma arma…

— Você não precisa de uma — disse ele secamente — Se nos encontrarmos em uma situação em que você precisa de uma arma, é melhor você fugir. Não queremos nada que possa ser um fardo para nós.

— Er, certo…

As palavras “um fardo para nós” trouxe à sua mente a conversa da noite anterior. Ela estava feliz por suas calças estarem secas. Ela não tinha certeza de como se sairia com apenas um cobertor, mas ela não iria discutir mais com ele.

— Vamos lá.

— ….Ok.

Ela não gostava; honestamente, não queria admitir, mas ele, seu amigo de tantos anos, era Matador de Goblins.

 

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— Eu sabia que haveria uma vigia noturna — Matador de Goblins resmungou enquanto eles se esgueiravam de sombra em sombra pela vila em ruínas.

Por ordem do ogro (não que ele pensasse naquilo por esse nome), alguns goblins sonolentos estavam de guarda. Matador de Goblins veio por trás do mais próximo e colocou a mão sobre a boca antes de cortar sua garganta.

Haviam intermináveis ​​cantos e recantos onde esconder um corpo. Ou pode-se simplesmente enterrá-lo na neve. O rastro de sangue também logo seria escondido pela nevasca. Portanto, a neve não era de todo ruim.

— Vamos lá.

— C-certo… — Vaqueira olhou em direção ao cadáver, então seguiu atrás dele, incerta — …Que tipo de comida vamos procurar?

— Não podemos esperar que esta aldeia tenha mantimentos — o aparecimento da carne da noite anterior o deixara sem outras conclusões. Se houvesse outros itens comestíveis para encontrar, os goblins provavelmente já os haviam consumido.

Ele observou os pequenos demônios por trás de um monte de neve. Era um simples fato que a escuridão branca da nevasca estava do lado dos goblins. Os humanos eram incapazes de ver no escuro e eram vulneráveis ​​ao frio. Vaqueira, logo atrás dele, estava envolta em seu cobertor, mas ela ainda tremia violentamente. Ele girou o capacete ligeiramente e pôde ver que a pele dela estava azulada, a cor dos lábios dela estava desbotada.

Não adianta ir caçar.

A tensão sobre ela seria muito grande e a chance de serem avistados pelos goblins é muito alta.

Não. Ele balançou a cabeça, corrigindo-se: a chance de serem avistados pelos goblins era muito alta e a pressão sobre ela seria muito grande. Ele não deve confundir os dois. Ele correria o risco de cometer o mesmo erro de antes.

Se ele errasse em suas prioridades, isso poderia levar à morte dela. E muitas vezes, com os goblins, não parava com a morte.

— …Você se lembra da lingonberry? — Matador de Goblins perguntou, cuidadosamente mantendo sua voz impassível.

Vaqueira fez um som de confusão primeiro, mas então ela disse — Sim — e acenou com a cabeça — Bearberry, certo? Pequenas e vermelhas, elas costumavam crescer fora da aldeia.

— Algumas dessas frutas podem ter sobrado.

Eles procurariam por elas. Matador de Goblins olhou para o céu, as nuvens cinzentas, grossas, pesadas e escuras, continuavam a cuspir neve. O vento soprava forte e não houve alteração na quantidade de neve. Nenhum sinal de pássaros em lugar nenhum, mas se houvesse algum…

— Se você vir algum pássaro, ele deve sinalizar a presença de frutas vermelhas.

— Tudo bem… pássaros então — Vaqueira respondeu seriamente — Amoras… Mais alguma coisa?

— Umbilicarias.

— Umbilicarias…?

Matador de Goblins considerou por um momento, então gesticulou sem jeito.

— Um cogumelo plano e preto.

— Ah, entendi… Certo. Eu sei o que fazer — Vaqueira disse e sorriu.

Com o frio, o medo e a tensão, talvez sorriso não era a palavra certa, mas Matador de Goblins assentiu.

— Sim — ele disse e sua voz tremeu um pouco — Teremos que ter cuidado com o que está ao nosso redor enquanto trabalhamos.

Não era realmente necessário dizer, mas ele sentiu que precisava dizer isso.

 

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Eles não podiam fazer uma fogueira para derreter a neve; nem podiam usar o poço, que os goblins estavam guardando. Conseguiram água de um lago congelado na orla da aldeia.

— …Uma maneira de descobrir isso.

— A neve se acumula conforme a configuração do terreno… E se há um poço, deve haver uma fonte de água. Embora este provavelmente tenha sido usado para irrigação — enquanto falava, sacou sua adaga e a mergulhou no gelo, raspando-o — Os goblins não notariam algo assim.

Enquanto ele trabalhava, era função de Vaqueira ficar de vigia. Ela olhou ao redor, abraçando os ombros cobertos pelo cobertor enquanto tremia.

— Se pudéssemos ter usado o poço, hein?

— Tenho certeza de que os goblins estão pensando a mesma coisa.

Nós não temos escolha. Com isso, ele continuou trabalhando com a adaga e, em pouco tempo, abriu um pequeno buraco no gelo. Ele estendeu a mão para verificar a água. Estava clara e parecia pura.

 — Você não acha que está contaminada ou algo assim?

— Como costumava haver uma aldeia aqui, duvido que tenhamos que nos preocupar — ele acenou com a cabeça, em seguida, tirou um tubo fino e preto de sua sacola. Ele colocou uma ponta na água e a outra na boca e chupou; uma vez que a palha estava cheia de água, ele a deixou escorrer para o odre. Colocou o odre em uma pequena depressão no banco de neve que ele cavou para aquele propósito e o fluxo de água continuou naturalmente.

Vaqueira, que tinha mantido um olho no trabalho e outro em busca de eventuais problemas, inclinou a cabeça curiosamente.

— Esse tubo é algum tipo de mágica…?

— Foi formado pela aplicação de seiva de árvore em um cano e o deixando endurecer — explicou ele — Eu simplesmente coloco o odre abaixo do nível da água.

A água flui para baixo. A explicação era simples, mas ele não era bom em explicações.

— Huh — Vaqueira se agachou ao lado dele, parecendo em dúvida. Ele ficou em silêncio, uma mão na espada enquanto examinava a área.

Vaqueira soltou um suspiro suave. Ela queria estar perto dele, não desesperadamente, mas perto. Tinha certeza de que se ficasse muito longe dele, ela morreria.

Mas não quero que ele pense em mim dessa maneira.

Ela deixou seus sentimentos fluírem para o ar congelado junto com a névoa de sua respiração exalada. Seria muito fácil se ela simplesmente se agarrasse a ele, deixando tudo para ele, como estava fazendo agora.

Mas se eu fizesse isso, tudo estaria realmente acabado.

Pelo menos seria para ela, independentemente do que ele pudesse sentir sobre isso.

— Você sabe muitas coisas diferentes, hein? — as palavras saíram caindo dela; ela não aguentava o silêncio, apenas olhando para ele e para a paisagem por sua vez.

Sua resposta foi breve.

— Eu estudei.

— Huh — Vaqueira disse. Ela abraçou os joelhos para afastar o frio, puxando-os contra o peito generoso — Você é muito inteligente.

— …Não — foi quase um grunhido e ele balançou a cabeça. Ela não conseguia ver o rosto dele por trás do visor, mas teve a sensação de que seus olhos estavam fixos no odre — Meu professor sempre me dizia que eu era um idiota.

— Seu professor disse isso a você? — Vaqueira piscou. Isso era surpreendente, ela certamente não acreditava em nada do tipo.

Ela deslizou para mais perto dele, mudou de posição para que pudesse olhar em seu rosto. Era o mesmo capacete de metal barato de sempre.

— Ele disse que não tenho imaginação — continuou Matador de Goblins — Então, vou morrer rapidamente.

— Morrer…? — Vaqueira se viu sem palavras e se esforçou para encontrá-las novamente — Mas… você está vivo agora.

Ela estaria em tantos problemas se ele não estivesse. Palavras como morrer rapidamente a repeliram; ela nem queria pensar sobre elas.

— Então ele disse, não tente fazer coisas que ninguém pode fazer.

Porque você com certeza não pode fazer também.

Você se acha mais inteligente do que todos?

Você é um caipira idiota e não pode fazer nada mais do que coisas de caipira.

— Huh… — Vaqueira apertou os lábios. Ela não achou graça, se sentiu como se um “professor” que ela nunca tinha visto estivesse zombando dele — …Se eu estivesse lá, teria repreendido ele por você.

— Mas ele também me ensinou que a resposta está sempre no meu bolso.

— Desculpa…? — as palavras eram como algo saído de um enigma e ela não entendeu imediatamente. Ela inclinou a cabeça novamente e ele sorriu, ou pelo menos, ela sentiu que sim.

— Pense o máximo que puder, então faça o que puder… é o que eu acho que significa, de qualquer maneira.

— “Faça o que puder”…

— Nada.

— Nada…?

— Isso mesmo.

Ele pegou o odre e o sacudiu, um sploosh emanado de dentro. Satisfeito por estar cheio, trocou-o por um vazio. A água começou a se acumular novamente.

— Beba.

— Woow! — ele jogou o odre cheio até a borda para ela e ela o segurou gentilmente contra o peito.

— E coma. Ainda há muito a fazer.

— Claro, certo — Vaqueira acenou com a cabeça e abriu o lenço cheio de mirtilos que haviam coletado na estrada. Saborosos ou não, estava longe de ser um banquete.

— …O que você vai comer?

— Eu tenho isso — ele disse e empurrou os cogumelos pretos através de seu visor. Ele mastigava ruidosamente, mas a coisa realmente não parecia apetitosa para Vaqueira.

E ele está comendo cru…

— Hrgh — ela grunhiu, mas então disse — Tudo bem — e pegou a metade dos cogumelos restantes dele. E com um “Pronto!”, empurrou metade dos mirtilos na direção dele.

— Er…

— Vamos dividir!

Pela voz dela, estava claro que ela não estaria aberta para discussão. Ela interpretou o silêncio dele como consentimento e começou a comer os cogumelos.

Ela pensou que entendia a situação. A sorte deles não havia mudado nada, não importando como se visse. A água estava fria, os cogumelos eram duros e os mirtilos eram agridoces.

 

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Flash

 

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