Matador de Goblins – Vol. 09 – Cap. 02.5 – Interlúdio – De antes das Aventuras Começarem

 

Era mais fácil se mover do que em um vestido, mas ficava envergonhada em como suas coxas apareciam por baixo da barra quando corria. Como quando tentou correr pelo corredor, ela estava achando difícil com essa roupa estranha.

Ela disparou pelo grande e longo corredor, correndo por um tapete felpudo e empurrando a pesada porta ao fundo. —Grande irm- quero dizer, Vossa Majestade! Eu trouxe um relatório!—

—Ah, o que é dessa vez? A pedra de fogo celestial? Conspirações dos cultos diabólicos? Ou talvez um dragão tenha pousado no jardim da frente? Deixe-me pegá-lo!

—Majestade. — O cardeal ruivo, parado ao lado do homem angustiado na mesa, evitou a enxurrada de declarações. A atendente desabrigada de cabelos prateados parada na entrada do escritório balançou a cabeça desesperada. Mesmo o belo jovem, a quem as damas do palácio comparavam a um leão dourado, não conseguia esconder o cansaço.

A princesa – agora uma discípula da Mãe Terra – não pôde deixar de sorrir enquanto perguntava, — Está tudo bem? — Inclinando a cabeça.

— Deixar tudo em bom estado é o suposto trabalho de um rei. — O jovem governante disse suspirando. Então ele olhou com orgulho para sua irmã mais nova, que permaneceu brilhante e alegre mesmo com as experiências horríveis na qual passou.

Claro, isso era provavelmente apenas na fachada. Ela estava apenas parecendo otimista para não preocupá-lo. Mas o próprio fato dela ter consideração o suficiente para isso era uma prova evidente de seu crescimento.

Ou talvez a orientação da Mãe Terra tenha ajudado. O rei fez uma oração curta e silenciosa de agradecimento aos deuses e assentiu.

—Muito bem. Deixe-me ouvir o que o Templo da Mãe Terra tem a dizer.

—Claro. Não posso ter certeza até adequar nossa agenda com a do Deus do Conhecimento, mas…

—…este parece ser um inverno estranhamente longo.

—Então você acha que é mais do que apenas um clima ruim.

—O vento da montanha do norte está mais frio do que o normal… E também não havia sinais disso no verão.

—Então agora é um desastre natural…

—…Estou um pouco mais preocupada com o comércio— disse uma voz suave, mas nítida, enquanto o rei encostava em sua cadeira, fazendo-a ranger.

—Hmm? — Os olhos da princesa se arregalaram com surpresa compreensiva.

No canto da sala, em uma mesa reservada para visitantes, e atualmente com uma pilha grande de papéis, sentava uma comerciante que a irmã do rei não reconhecia. Ela fazia a princesa se lembrar de uma garota nobre que ela viu em um baile uma vez, muitas luas atrás, mas poderia ser…?

—Com todos se recusando a vender por medo da fome, simplesmente estocando o que têm, o dinheiro e as provisões irão parar de circular…

—…e efetivamente instigar uma fome, você quer dizer. É um problema difícil de se resolver.

A comerciante manteve uma conversa rápida e profissional com o irmão mais velho da princesa, o rei. Talvez ela pudesse ser confiável. A princesa olhou para o cardeal, que acenou uma vez.

Bom, então.

Seu pensamento era particularmente simples: amigos de seu irmão eram amigos dela, e apenas isso importava.

—Suponho que isso signifique que é melhor enviarmos um aventureiro. Precisamos de um explorador. O melhor que possamos encontrar.

—Vou dar uma olhada.

A conversa foi tão rápida que nenhum estranho pensaria que seria possível se intrometer, mas a princesa não hesitou em perguntar. —Não poderíamos enviar o exército?

—O exército é para guerrear, não investigar um lugar esquecido por deus na fronteira norte— disse o rei com um meio sorriso.

—…E mobilizar os militares envolveria somas significativas de dinheiro, gerando custos para tudo, desde levar as tropas, alimentá-las e limpar tudo depois. — A explicação adicional da comerciante evocou um murmúrio  e um aceno de Sua Majestade.

—Se você começar a pensar que pode resolver qualquer problema apenas enviando o exército, os soldados e as pessoas sofrerão.

Não havia frasco mágico que produzia um suprimento ilimitado de soldados da infantaria. Foi aí que entraram os aventureiros. Era assim que o mundo funcionava, como tinha que funcionar.

—Embora alguém se canse, eu me preocupo… Muito bem— O rei olhou para a mercadora, que se virou para a estante e encontrou o registro de aventureiros atuais. Haveria alguém perto da capital que eles pudessem enviar para as montanhas do norte? Um investigador habilidoso, rápido, forte e bom em sobreviver…

—Merda, não deve ser tão complicado.

—Parece haver um, Vossa Majestade, mas…— Um olhar preocupado surgiu no rosto da mercadora enquanto ela passava seu dedo pela página. —…eles são muito teimosos, e não sei se aceitarão.—

— Escreva um contrato, um longo o suficiente para encher uma sala se necessário, e mande para eles. Prometa a eles qualquer tesouro que tenham interesse para quando a missão terminar, se for preciso. — O rei estava a beira do desespero. —Se eles realmente amam aventuras, isso deve bastar.