Claro, nada disso significava que tudo estava acabado.
— Ele… está indo para lá!
— Ah, por…!!
Mais goblins estavam esperando por eles quando o elevador chegou ao primeiro andar.
— GROORB! GBOOROGB!!
— GBBOROOROB!!
Havia menos do que antes, com certeza. Devia ser o resto de tudo o que não haviam destruído antes, ou então os monstros eram dos andares inferiores.
— GOOBOGB!!
— Ora… seus…! — Sacerdotisa balançou seu cajado com tanta força quanto podia, mantendo os goblins com suas expressões horríveis sob controle.
Alta Elfa Arqueira disparava flechas sem parar, mas comparada com seu tiro normal, seus movimentos pareciam tão maçantes e lentos quanto os de um Porcelana. Também tinha ficado sem flechas de ponta-broto; agora contava com as de metal enferrujado que roubava dos goblins.
— Isso… dói…!
— GOOBOG?!
Ainda assim, foi suficiente. O goblin cambaleou para trás com uma flecha no olho e desabou.
— Cinco!
Quase instantaneamente, Matador de Goblins saltou sobre outro inimigo.
— GBBOOGB?!
Ele usou seu escudo para paralisar o porrete erguido, desviando do impacto e empurrando seu inimigo antes de se aproximar. Contendo a resistência inútil da criatura com o escudo, Matador de Goblins golpeou com sua espada na garganta do monstro antes de torcer violentamente.
— GOO?! GROGB…?! — O goblin morreu sufocando com seu próprio sangue.
— E seis — murmurou Matador de Goblins. Sacerdotisa e Alta Elfa Arqueira, ambas respirando com dificuldade, se entreolharam.
A sala estava cheia de cadáveres de goblins, incluindo os da batalha anterior que não haviam sido eliminados. Matador de Goblins pisou nos corpos quando seu capacete de metal girou.
— Como está a área?
— Tudo bem — disse Alta Elfa Arqueira com um fraco aceno de orelhas. — Eu acho. Não tenho tanta certeza quanto gostaria de ter.
Sua voz estava carregada de fadiga. Ela encostou o ombro esquerdo na parede para compensar o braço direito pendurado flácido ao lado do corpo.
— Então vou chamar pelos outros… — Sacerdotisa falava com bravura, mas, embora não estivesse ferida, parecia muito com Alta Elfa Arqueira. Ela estava tão cansada que arrastava os pés, cambaleando ao se aproximar da porta; soltou um pequeno grito enquanto reunia forças para abri-la. — Agora está tudo bem — disse.
— Ah, sinto muito por isso…
Do outro lado da porta que Sacerdotisa mantinha aberta, surgiu Anão Xamã, seu rosto frouxo. Ele tinha o corpo maciço de Lagarto Sacerdote sobre os ombros, junto com a forma muito menor da princesa.
— Muitas… desculpas… Se eu ao menos pudesse fazer meu corpo… funcionar um pouco mais… — A voz de Lagarto Sacerdote estava confusa enquanto ele tentava se desculpar. Ele recuperou um pouco de sua força, mas só um pouco. Seus movimentos foram obviamente prejudicados depois de sobreviver à explosão de magia congelante. Não quer dizer que alguém que não fosse um homem-lagarto teria feito melhor…
— Não… Me desculpe, eu não tenho mais poder — disse Sacerdotisa, balançando a cabeça. Ela se referia tanto à força física quanto ao poder de sua fé. Se ao menos a deusa concedesse um milagre de cura mais eficaz…
Se ao menos ainda tivesse o foco e a vitalidade para manter uma prece profunda conectando sua alma ao céu.
Talvez Anão Xamã tenha entendido o que ela estava pensando, pois um sorriso cansado apareceu em seu rosto barbudo.
— Imagino se você poderia carregar esses dois, não importa quanta força tivesse.
— Mas…
— Músculos humanos e músculos anões simplesmente não são os mesmos, moça, não importa quantos deles você tenha.
Em outras palavras, este era o seu momento de brilhar.
Mesmo à luz de seu conselho, Sacerdotisa não pôde evitar de ser picada por sua própria fraqueza. Ainda franzindo os lábios, verificou Lagarto Sacerdote e a princesa. Era o máximo que podia fazer naquele momento.
Lagarto Sacerdote sempre teve bastante força vital, mas a princesa muito mais fraca e esgotada estava em perigo. Sacerdotisa tocou a bochecha da garota suavemente, e a princesa pareceu sussurrar algo em resposta.
“Obrigada” e “Sinto muito”.
Ela murmurou as palavras sem parar, como se estivesse falando consigo mesma, e às vezes Sacerdotisa conseguia distinguir o Grande Irmão, o Pai e a Mãe também.
Sacerdotisa olhou para a princesa. Tinham quase a mesma idade, ou talvez a princesa fosse até um pouco mais nova. Sacerdotisa, prestes a fazer dezesseis anos, fechou os olhos como se fosse suprimir algo.
Um ano e meio atrás, era exatamente igual. Ignorante, inocente, impotente e, acima de tudo, estúpida.
Ela é… eu…!
Sacerdotisa abraçou o corpo maltratado da princesa junto ao seu.
O que foi capaz de fazer desde então?
Havia algo que pudesse fazer pela garota?
Poderia ser de alguma utilidade para ele…?
— Nada é inútil. — A voz baixa a pegou de surpresa, e ela olhou para cima. Matador de Goblins estava olhando ao redor vigilantemente, mas estava parado perto da parede. Isso era incomum para ele. — Você deve simplesmente trabalhar com o que você tem.
— Acho que o que ele quis dizer é: não se preocupe com isso. Embora ele pudesse aprender a se expressar com um pouco mais de clareza. — Alta Elfa Arqueira, apesar de seu rosto pálido e suado, tinha sua repreensão usual para Matador de Goblins. Ela ficava rígida de vez em quando, pressionando a mão ao lado do corpo. Esperançosamente, estava apenas machucado. Porque se estivesse quebrado…
— Vocês — disse Sacerdotisa, lutando para firmar sua voz trêmula. — Estão bem?
— Sim — respondeu Matador de Goblins com um aceno de cabeça. — Posso continuar.
— Ah, estou bem — adicionou Alta Elfa Arqueira, mas então fechou os olhos e olhou para baixo.
“Bem” não era uma palavra que parecesse descrever qualquer um deles.
Então Sacerdotisa simplesmente disse: “Tá”, e ficou quieta.
Após alguns minutos de descanso, sem sinal de ninguém, os aventureiros voltaram ao trabalho. Não podiam se dar ao luxo de ficar ali por muito tempo.
Ninguém falou. Mas todos sabiam o que os esperava em seguida.
Dobraram uma esquina do corredor, subindo as escadas, um degrau de cada vez, como se preenchessem os espaços em uma grade, em direção à superfície. Lutaram enquanto avançavam; o avanço levou apenas vinte ou trinta segundos. Apesar do descanso, parecia que demorou uma ou duas horas.
E então, finalmente, chegaram ao topo daquela longa escada, onde…
— GOOROGB…!
— GOOBOGR! GBOG!
— GRROOR!
— GBBG! GROORGB!!
Goblins. Sacerdotisa deu de ombros, seu rosto revelando uma mistura de medo, resignação e prontidão.
O pátio em frente ao calabouço estava cheio de peles verdes. Eles sorriram para Sacerdotisa e Alta Elfa Arqueira, obviamente imaginando como iriam derrubar as mulheres e os outros aventureiros. Eles seguravam armas de todo tipo… Quantos eram? Vinte, trinta? Quarenta, cinquenta?
— Bem, isso é normal… — disse Anão Xamã sem muito entusiasmo. — Não fomos muito sutis a respeito de como lidamos com a mão daquele demônio superior. Caso contrário, poderíamos ter saído daqui despercebidos.
— É o oposto do normal… — disse Alta Elfa Arqueira com uma risada seca. Ela tinha a mesma expressão em seu rosto de quando foram cercados por goblins nos esgotos. — Parece que somos nós que vamos ser mortos…
— Calabouços para um dragão, túneis para um troll e um abismo para aventureiros! Heh heh heh!
— Isso faz sentido — disse Lagarto Sacerdote se erguendo das costas do Anão Xamã cambaleante.
— Você está inteiro, Escamoso?
— Quando eu encontrar minha morte, certamente será em meus pés — respondeu Lagarto Sacerdote. Ele fez um gesto selvagem com as mandíbulas, mostrando as presas. Devia significar que estava pronto para qualquer coisa, na verdade, os homens-lagarto sempre estavam prontos para qualquer coisa. Seu povo sempre via aquele como um bom dia para morrer. — Então, temos algum plano, milorde Matador de Goblins? — Ele parecia totalmente satisfeito; seus olhos giraram em sua cabeça.
Durante tudo isso, os goblins avançaram passo a passo em direção deles. Estava claro que não tinham intenção de lançar um ataque repentino. Estavam gostando da visão dos aventureiros recuando em direção à entrada do calabouço. Era um prazer absoluto vê-los no lugar de costume dos goblins, olhando para um lado e para o outro. Era um bálsamo para o coração, ver aqueles que normalmente os caçavam reduzidos a circunstâncias tão lamentáveis.
Mais uma razão pela qual esta era a chance perfeita para ensinar-lhes uma lição, para machucá-los, violá-los, devorá-los.
Essas mulheres não pareciam muito carnudas. Morreriam rapidamente. Seria isso ou aproveitariam o tempo que tivessem.
Não, elas podiam ser desfrutadas mortas e vivas. Bastava torcer seus pescoços e se divertir com elas depois disso.
Espere, enterre-as até o pescoço e veja quem consegue enviar suas cabeças voando mais longe com o golpe de um machado, isso seria divertido.
— GOOBGBOG!
— GRROOR! GRBB!
— GGGROORGB!!
Os goblins se aproximaram, os sorrisos horríveis ainda em seus rostos.
Matador de Goblins não disse nada.
— Matador de Goblins, senhor…? — Sacerdotisa deslizou para mais perto dele, olhando para seu capacete.
Ela sentiu que deveria dizer algo neste momento. Mas não sabia o que dizer. Havia muitos pensamentos, muitas coisas que queria dizer; era tudo o que podia fazer para afastar a sensação de que tudo iria transbordar.
Então, finalmente, apenas olhou para o capacete com olhos vacilantes.
Era uma coisa de metal de aparência barata.
Era impossível ver a expressão escondida atrás do visor, mas…
— A nação não agirá neste assunto, nem o exército.
— Certo…
Matador de Goblins procurou seu equilíbrio, nunca perdendo a atenção. Ele verificou a largura da entrada da masmorra, afundou-se em uma postura profunda e preparou sua arma.
Havia encontrado um lugar onde os goblins seriam incapazes de usar seus números em proveito próprio.
Pretendia enfrentá-los de frente.
Não desistiu.
— Presumivelmente, nem mesmo desejam ser informados de que um membro da família foi sequestrado por goblins — disse ele, e seu capacete se moveu levemente. Seu olhar se voltou para a princesa.
Certo. Sacerdotisa deu outro pequeno aceno de cabeça.
Houve um som de clique. Era de seu cajado: suas mãos tremiam. Ela agarrou com mais força, mas o som não foi embora. Seus dentes também batiam.
— Matador de Goblins… senhor…!
Por mais tola que parecesse, ela sentiu que tinha que fazer isso.
Estendeu a pequena mão para a mão áspera e enluvada dele, quase como se buscasse se agarrar a ele.
Ele não afastou a mão dela.
Em vez disso, ainda olhando para os goblins, disse:
— Isso é goblincídio.
Os goblins estavam chegando.
Alta Elfa Arqueira preparou a última de suas flechas.
Os goblins estavam chegando.
Anão Xamã gentilmente colocou a princesa no chão e preparou seu machado.
Os goblins estavam chegando.
Lagarto Sacerdote abriu as mãos e balançou a cauda, assumindo uma postura imponente.
Os goblins estavam chegando.
Sacerdotisa mordeu o lábio e se levantou rapidamente, seu cajado seguro em uma das mãos trêmulas.
Os goblins estavam chegando.
O aventureiro, aquele com um capacete de metal de aparência barata e armadura de couro suja, com um escudo redondo amarrado ao braço e uma espada de comprimento estranho no quadril, disse:
— Mas se não…
Os goblins estavam…
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— Senhor do julgamento, Príncipe da Espada, Portador da Balança, mostre aqui o seu poder!
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Os goblins foram soprados para todos os lados.
— GOOROGB?!
— GBB?! OROG?!
Um clarão roxo de eletricidade.
O ar ferveu quando a lâmina do julgamento desceu do alto sobre os goblins, levando-os para longe. O céu, que estava envolto em nuvens escuras, de repente brilhou como o meio-dia, um Drake Trovão rosnando no alto. Quase nenhum som, apenas o suficiente para fazer seus ouvidos formigarem, verdadeira majestade divina.
— Quê…?
— Olha só…
Alta Elfa Arqueira só conseguiu ficar boquiaberta, enquanto Anão Xamã soltou um suspiro exasperado.
— Entendo… o martelo e a bigorna — disse Lagarto Sacerdote com um aceno de cabeça. — Então é isso que você quis dizer.
— GOOROGB?!
— GBBOOG?!
Os goblins, lutando para fugir, foram atingidos um após o outro por relâmpagos que caíram como chuva.
No meio de tudo isso, Sacerdotisa estava olhando diretamente para ela.
— Pessoal, os goblins não são nossos inimigos.
Ela, parada no topo das muralhas da cidade, recortada contra o azul pálido do céu do amanhecer.
— Não são, mas a comunhão imunda, os Não Propensos à Crença, que buscam introduzir os Demônios do Caos neste reino.
Uma bela mulher, acompanhada por um crocodilo branco, uma besta sagrada.
A carne de seu corpo voluptuoso estava coberta apenas por suas finas vestes brancas. Seu cabelo dourado brilhava ao sol. O cajado da espada e da balança, que agora segurava ao contrário com a lâmina voltada para cima, era o sinal da retidão e da justiça de lei.
Se alguém fosse imaginar o Deus Supremo como uma divindade feminina, poderia muito bem se parecer com isso.
A única mancha possível era a faixa escura em volta dos olhos. E, no entanto, não servia de nada para estragar sua beleza. Na verdade, talvez a faixa apenas acentuasse o quão deslumbrante ela era.
— Um certo aventureiro me disse isso. — Em seu peito farto, agarrou um pedaço de papel com um rabisco feio, como se fosse uma escritura sagrada. — Julgue cada um deles enquanto ainda viverem.
Um grande grito de resposta surgiu dos portões da cidade. Então os sacerdotes guerreiros avançaram como uma tempestade, literalmente pisoteando os goblins. A espada e as balanças gemeram, e os monstros foram induzidos a se arrepender… quando seus crânios foram esmagados.
— Ó, deusa da batalha! Conceda-nos a vitória!
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, pelo poder da terra conceda segurança para nós que somos fracos!
— Senhor do julgamento, Soberano da Balança, Príncipe da Espada, que haja luz…!
— Meu deus, o vento errante, que todos em nossa estrada tenham uma boa sorte!
— Vigia da Vela, ilumine uma humilde chama nas sombras de nossa ignorância! Que a escuridão nunca caia!
As figuras avassaladoras, invocando os nomes de seus diversos deuses, certamente não eram o exército, nem aventureiros.
Eram simplesmente a força de combate do templo, que saltou para obedecer a uma única palavra de uma única grande clériga.
O resultado desta batalha não estava mais em dúvida. Um dos heróis que lutou contra o Lorde Demônio estava agora presente. O calabouço mais profundo e terrível de todo o mundo não poderia conter o medo. Um punhado de goblins, tanto menos. Não havia como os aventureiros perderem.
Os goblins, que pensaram ter seus inimigos cercados e agora se encontravam encurralados, começaram a gritar e correr. Talvez tivessem em mente fugir para o calabouço. Mas encontraram ele com a arma na mão, como sempre.
— Sim, eu disse a ela — falou Matador de Goblins. De alguma forma parecia como se estivesse olhando para algo muito brilhante. — Mas o resto fica com ela.
Oh…
Sacerdotisa piscou.
Ela tinha certeza, agora, que podia ver isso. Não deveria ter sido capaz de ver, mas conseguiu.
A espada e a balança erguidas por Donzela da Espada estavam tremendo.
Seus lábios se moviam levemente, seus dentes batendo uns contra os outros, uma e outra vez.
O motivo pelo qual ela estava se apoiando naquele crocodilo era porque não tinha forças para se manter de pé.
Mas…
Lá estava ela.
Com o sol da manhã em suas costas, sua cor se misturando com o ouro de seu cabelo, realmente parecia uma deusa. Fraca de medo, quase incapaz de ficar em pé, o terror tingindo sua expressão, e ainda assim, confrontou os goblins.
Sacerdotisa percebeu que os olhos cegos de Donzela da Espada estavam focados diretamente nele.
Essa era a resposta; esse foi o motivo.
Sacerdotisa percebeu que sua mão ainda estava agarrada à dele e corou. Fez menção de desembaraçar os dedos, hesitou, roçou a mão dele suavemente e, por fim, puxou a dela.
Estava humilhada, patética, lamentável… e ainda assim.
Eu quero ser…
Uma fonte de força para ele…
Naquele dia, ela armazenou a menor das preces em seu coração.
Um dia, jurou, seria.
Tradução: Sahad
Revisão: Guilherme
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