Matador de Goblins – Vol. 08 – Cap. 07.3 – Interlúdio – De Como Horror Cósmico Não é Inimigo de Espadas e Magia

 

— Hup! Ahhh!

O grito fofo, mas poderoso, acompanhou uma explosão de luz que cortou a escuridão em torno do monte sagrado.

A escuridão era algo grotesco, como um grande pedaço de carne inchada. Estava cheia de vísceras pulsantes, como uma criatura viva virada do avesso.

Tinha chegado junto com a pedra flamejante do céu, aquela coisa, verdadeiramente irreconhecível, até mesmo indescritível.

Chegou com o meteorito, que ainda estava quente em sua cratera no topo da montanha, e então a coisa se tornou uma sombra, esticando sua carne em direção aos quatro cantos do mundo.

Provavelmente era, da perspectiva de alguém que só podia ver três dimensões, de outro plano de existência.

— Sinto que só olhar para isso já vai prejudicar minha sanidade mental… — disse Sábia, seu rosto estranhamente pálido e suado. Ela ainda não era uma maga que podia atravessar planos de existência. Seria uma pena ir para outros mundos quando ainda não tinha visto e entendido tudo deste.

Ela cerrou os dentes, os dedos no cajado, as próprias unhas, a maneira como cada parte de seu corpo e mãos se moviam, esculpindo palavras precisas de verdadeiro poder. Só Sábia tinha a capacidade de selar essa sombra, essa coisa horrível, essa coleção pulsante de tripas. A cada minuto, a cada segundo, sentia como se sua alma estivesse sendo arrancada por uma lima, mas…

— Está tudo bem? — Santa da Espada deslizou seus pés para frente e para trás, movimentos primorosamente minuciosos que mantinham a distância do inimigo. Ela avaliou suas oportunidades, atacando o alongamento, sondando as antenas sempre que tinha uma chance, forçando-as a recuar ou cortando-as. Cada vez, um borrifo de sangue enegrecido explodiria para fora, como uma bandeira carmesim voando de sua espada, pintando o céu. Mesmo um observador sem habilidade marcial teria entendido que ela era a pedra angular da defesa deste grupo. — Se sangra, significa que podemos matá-lo — disse. — De alguma forma.

Nem todo problema pode ser resolvido com uma espada, mas todo problema que pudesse ser resolvido com uma espada, ela resolveria.

Para Santa da Espada, este monstro não era nada mais do que um pedaço de carne que foi das estrelas para seu mundo. Chegou amaldiçoando sua terra e, agora, que estava ao alcance de sua espada, iria destruí-lo. Simples assim.

Sim, simples… É assim que ela é.

Sábia suspirou, heh, e sorriu, resignada com os modos de sua companheira. Seus ombros caíram quase imperceptivelmente.

Quando pensassem que seria bruta, seria técnica. E quando pensassem que seria técnica, seria absolutamente bruta.

Isso era o melhor. Então isso era tudo, pensou Sábia, que então disse levemente:

— Será que devo usar Fusão para explodir isso de uma vez por todas?

— Aw, se esta montanha acabasse ficando menor do que quando começamos, vão me culpar! — disse Herói, cortando alguns tentáculos que estavam indo em direção de Santa da Espada. Apesar de seu evidente cansaço, ela sorriu.

Foi Sábia quem impediu que a coisa se espalhasse, Santa da Espada lidou com a defesa e todo o ataque ficou a cargo de Herói. Seu pequeno corpo já estava sob o peso de uma espada gigantesca, e agora ela tinha a paz do mundo inteiro também em seus ombros.

— Pelo menos seu padrão de movimento é fácil; isso ajuda. — Herói soou tão suave quanto se nem mesmo sentisse esse fardo; ela preparou sua espada sagrada em suas duas mãos.

— Simplesmente fica atacando… Será que essa coisa é tão burra?

— Conhece apenas expansão e ataque. É por isso que temos que pará-lo agora.

— Acho que Sua Majestade realmente gostaria disso.

— Prefiro não imaginar o que aconteceria se falhássemos aqui e fôssemos absorvidas por essa coisa. — Sábia desistiu de sua admiração anterior por suas camaradas brincalhonas. — No entanto, vocês duas estão certas sobre uma coisa. Não acredito que a inteligência seja altamente desenvolvida…

Ela fortaleceu suas barreiras quando um ataque chegou de um ângulo estranho; Sábia estava pensando rápido. Parecia provável que essa coisa, essa sombra, se é que poderia ser chamada assim, aprendeu absorvendo outras coisas vivas. Elas simplesmente tiveram sorte que a criatura que estava tentando parasitar no momento era tão incrivelmente estúpida.

Mas... Sábia deu voz à pergunta óbvia:

— Como o cadáver de um goblin caiu no topo de uma montanha…?

— Algum cara em uma caça a goblins, em algum lugar deve ter… feito isso! — Herói cortou o monstro com toda a força de seus braços magros, sem se preocupar com a esgrima adequada, cortando um pedaço da criatura.

Tudo como de costume. A garota de cabelo preto sorriu. Seria um grande erro pensar que ela, sozinha, poderia cuidar do mundo inteiro.

— Ele está fazendo sua parte; então é melhor fazermos a nossa e não perder essa luta!

Ela sorriu de novo, parecendo uma garota que poderia ter saído de qualquer vila do mundo. Então balançou sua espada sagrada como um porrete.

— XEEEEEEEEENOOOOOOOOOOOOOONNN!!!!

— Como se já tivéssemos perdido!

Uma explosão solar.