— Majestadeee! Estou aqui!!
A porta foi aberta com um estrondo e um redemoinho entrou na sala na forma de uma jovem cujos longos cabelos negros voavam por toda parte.
Ela estava em algum ponto da adolescência, mais ou menos na idade em que poderia ser confundida com uma aventureira novata, mas também era óbvio à primeira vista que não era quem parecia ser. A armadura que cobria seu corpo tinha sido feita para priorizar a facilidade de movimento, mas também era cravejada com proteções mágicas. A enorme espada pendurada em seu quadril era de um acabamento igualmente extraordinário.
— Huh…?
A garota chegou ao meio da sala e olhou em volta, surpresa.
Quase nenhum dos VIPs havia ficado. O conselho já havia terminado?
O aventureiro com classificação Ouro estava parado ali, carrancudo, o que não fazia sentido para ela.
No instante seguinte, ela viu o cardeal se levantar da cadeira e abaixar a cabeça, com um sorriso tenso no rosto.
— Eeyowch!
Alguém bateu em sua cabeça com um bastão, provocando um grito da garota, como se tivesse sido chamuscada pelas chamas do inferno.
— Desrespeitosa. — Sábia, vestindo um manto esvoaçante, suspirou, segurando seu cajado, que estava impregnado de sabe-se lá quantos feitiços. Ajoelhando-se diante do rei e seus conselheiros, ela ignorou o olhar lacrimoso da garota.
Olhe para ela, agindo toda cortês. A garota esticou os lábios e resmungou:
— Hmph. Quem se importa? Sua Majestade e eu somos como melhores amigos… erk!
Desta vez, o tapa foi em suas costas, mas com o maior esforço, a garota conseguiu conter outro grito.
— Sua Majestade precisa pensar em sua posição, assim como nós, e você. Veja se aprende isso.
A pessoa que fez a garota pular desta vez foi uma lutadora que falou em tons contidos. Uma mulher de fama incomparável em todo o país, acenou com a mão esguia, mas terrivelmente musculosa para a garota.
— Seria de se esperar que a herói ficasse envergonhada com tal conduta, hein?
— Acho que “alguém” esperaria ficar ainda mais envergonhada por não ser capaz de encontrar um namorado…
— É culpa dos homens que nenhum deles seja mais forte do que eu.
A garota deu à lutadora imperturbável um olhar ressentido, mas viu um aceno do bastão de Sábia com o canto do olho.
— De qualquer forma, Vossa Majestade, você nos chamou, então estamos aqui!
— Mm, posso ver isso… — O rei, semicerrando os olhos como se achasse isso divertido, deu um amplo e magnânimo aceno de mão. Ele não esperava os modos de alguém nascido e criado na nobreza desta garota que fugiu de um orfanato aos quinze anos e se tornou um herói. Contanto que ela pudesse ser respeitosa com aqueles que conhecia, isso era o suficiente.
— Obrigada — disse ela e se sentou à mesa redonda.
Santa da Espada e Sábia a seguiram, cada uma com uma reverência educada.
Herói olhou para suas amigas de cada lado como se temesse que alguém pudesse ficar com raiva dela, mas então abriu sua boca.
— Então o que aconteceu? Disseram-me que não precisava vir para o conselho, mas…
— Está bem — disse o rei, balançando a cabeça com um sorriso. — Nós simplesmente entregamos uma missão a um incomum aventureiro com classificação Prata.
Ah, então era isso. Santa da Espada sentiu que a expressão no rosto do aventureiro de classificação Ouro dizia tudo. Cada aventureiro tinha seus pontos fortes e fracos, então não era incomum ser preterido em um determinado trabalho, mas talvez ficasse irritado por este estar sob o comando real.
— E não precisamos nos envolver? — perguntou Sábia. Sua voz soou a mesma de sempre, mas suas camaradas podiam dizer o quão séria ela estava.
— Não sei se está conectado ou não — disse o rei —, então, quero pedir a você para lidar com algo diferente.
— Claro, Vossa Majestade! Basta dar a ordem!
— Heh. — Os conselheiros sussurraram, sorrindo uns para os outros por causa da ansiedade indevida da Herói. É claro que eles não achavam bom repreendê-la abertamente. Ela podia ser uma herói, mas também era tão jovem quanto seus netos.
— Uma pedra de fogo caiu do céu na montanha sagrada ao norte. Parece estar emitindo uma aura bastante perturbadora…
— Então, quer que verifiquemos e mandemos pelos ares todos os bandidos que encontrarmos! Entendido! — Herói bateu em seu pequeno peito, transbordando confiança.
O rei soltou um suspiro, sua expressão relaxando levemente em direção a um sorriso. As coisas já deviam estar bem. Quando ela dizia que cuidaria de alguma coisa, sua palavra era absoluta.
— Bom. Separei algum dinheiro para você fazer seus preparativos. Não posso prometer cinquenta moedas de ouro e uma espada ou algo assim.
— Aw, tudo bem. Não preciso disso. Tudo que eu preciso é… Hrk?!
— Recebemos com gratidão, Vossa Majestade.
O que quer que Herói estivesse prestes a dizer, desistiu e esfregou seu traseiro. Santa da Espada curvou a cabeça profundamente.
Herói, com a bunda ainda dolorida do beliscão, fez uma careta e se recostou na cadeira.
— Pbbt. Que seja. Estaríamos bem sem essas coisas…
— É educado aceitar o que é oferecido a você — disse Sábia em seu tom calmo e tranquilo. Ela também fez uma reverência ao rei e disse: — E se precisarmos de mais alguma coisa?
— Fale com o cardeal e o capitão. Disse a eles para cuidarem de vocês.
— Obrigada, senhor.
— Heh, não nos agradeça. — O capitão da guarda real, quieto até aquele momento, sorriu amplamente. — Poderia ir com vocês, se ainda fosse um aventureiro. Mas alguém insiste muito para que o capitão pessoal do rei não se envolva.
— Tenho ouvido muito do mesmo. As pessoas continuam dizendo que não será bom se constantemente levantarmos os estandartes e avançarmos para a batalha. Estou certo? — O rei olhou para o cardeal em busca de apoio.
— “Estou certo”, de fato! — resmungou o clérigo. — Você tem que parar de sugerir que a melhor maneira de ajudar o estado do tesouro nacional seria matando um ou dois dragões.
— Acha que ele vai parar só porque você disse? — A interjeição silenciosa foi feita pela atendente de cabelos prateados, que não tinha falado até aquele momento. Era impossível adivinhar como ela estava se sentindo por sua voz, mas o encolher de ombros que exibiu tinha um toque de calor. — Ele é agora a pessoa mais importante do país, embora, pela minha vida, eu não consiga imaginar o motivo.
— Isso mesmo, eu sou importante.
Era a brincadeira desinibida de grupos completamente à vontade um com o outro.
— … — Sábia sentiu o menor fantasma de um sorriso compreensivo passar por seu rosto. A conexão entre eles era como aquela entre ela e suas próprias duas preciosas companheiras, mas não a mesma; cada uma era algo único neste mundo. Ser capaz de observar tal coisa em primeira mão era divertido e alegre.
Sábia ofereceu outra reverência e então falou com o cardeal sobre os detalhes mais delicados. Santa da Espada apresentou sua opinião sobre os pontos que envolviam batalha, enquanto Herói, por sua vez, mal parecia estar ouvindo.
Em vez disso, seu rosto se iluminou como se tivesse acabado de pensar em algo e correu para o homem-cão classificado como Ouro.
— Ei, senhor, senhor! Conte-me o resto da história que você começou da última vez!
— Ú-Última vez, quando? — disse o homem, piscando sob as sobrancelhas espessas. — Você quer dizer a vez que acertei o enorme monstro pássaro?
— Sim, sim! Da última vez, você parou bem quando a horda de demônios maiores o cercou. Quero saber como isso termina!
Mais do que feliz em obedecer, o homem-cão tomou um longo gole do frasco em seu quadril e então começou sua história dos velhos tempos. Sábia e Santa da Espada olharam para eles, mas com calor em seus olhares, uma resignação amigável.
Isso é bom, pensou o rei, absorvendo tudo.
A herói era mais do que apenas sua força. Na verdade, sua força era mais do que sua destreza de luta.
Todos adoravam a garota por sua habilidade de quebrar as presas da desarmonia, quase como se ela não soubesse o que estava fazendo.
E isso, acho que vai salvar o mundo.
Ele próprio já havia sido um aventureiro, mas, agora, infelizmente, havia uma coroa em sua cabeça.
Quão fervorosamente desejava poder reunir seu antigo grupo, ficar em volta de um mapa tramando uma aventura juntos.
Se isso fosse possível, já estaria a caminho para salvar a própria irmã.
A ameaça goblin, os demônios ressuscitados, o necromante morto-vivo, a pedra flamejante do céu, com suas próprias mãos, cuidaria de tudo…
Mas nunca irei.
De repente, o rei percebeu que estava apertando os braços do trono e relaxou os dedos.
Ele era o rei. Era diferente de quando era apenas um lorde bom e leal. Não estava mais supervisionando um simples grupo de seis pessoas, mas toda a nação humana. Não estava mais enfrentando calabouços sombrios, mas todo o tabuleiro do jogo do mundo conhecido.
Nunca tive que pensar sobre nada disso antes, mas agora penso.
Seus olhos foram para a porta do corredor. Em algum lugar além dela estavam os aventureiros que tinham partido com Donzela da Espada e Comerciante.
Ele e ela, juntos, se preocupariam com o país, a capital, o mundo.
Então, por favor, aventureiros, cuidem da minha irmã.
Tradução: Nero
Revisão: Guilherme
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