Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 08 – Cap. 03.4 – O Matador de Goblins Vai Para a Capital

 

— Ah, uau… — Ela deixou sua reação escapar enquanto exalava, seus olhos brilhando.

Passaram-se vários dias caminhando pela estrada desde a cidade fronteiriça, mas enfim chegaram.

À medida que se aproximavam da capital, os campos começaram a surgir na beira da estrada e o vento soprava forte do rio. Ao longe, viram o telhado vermelho e lamacento da casa de alguém que observava a cena.

Os muros do castelo, que eram visíveis à distância, pareciam até agora elevar-se diante de seus olhos. Feitos de blocos de mármore maciços empilhados um em cima do outro, formavam um portão monumental. Olhá-los fazia doer o pescoço. A sombra projetada cobria toda a estrada durante o pôr do sol?

Quando o pensamento ocorreu à Sacerdotisa, descobriu que os muros causavam uma impressão muito maior nela do que simplesmente por seu tamanho. As belas pedras esculpidas não foram feitas com magia. Habilidade humana, engenhosidade humana e força humana tornaram isso possível, e era surpreendente.

Essa arquitetura resistiu por milhares de anos, resistindo aos elementos, à batalha e cuidando de muitas gerações de governantes.

Ela já tinha ouvido falar do lugar antes, mas nunca o tinha visto. Todo o seu mundo consistia no Templo, na cidade fronteiriça, no campo e, muito recentemente, na cidade da água. Nada mais além disso.

Este, porém, era muito maior e muito mais antigo do que o portão da cidade fronteiriça ou da cidade da água. O grande portão da capital já existia há muitas eras; era a história daqueles que já quiseram uma disputa.

— Isso é incrível…! — disse Sacerdotisa, sorrindo, deixando de lado as bizarrices da noite anterior

— Essa coisa é provavelmente mais velha do que eu — disse Alta Elfa Arqueira de sua posição no topo da carruagem, torcendo as orelhas quando chegaram à sombra do portão. O brilho em seus olhos verde-grama devia ser de curiosidade. Por que era tão emocionante ver algo nunca visto antes? — Ei — disse ela, estridente. — O que todas essas pessoas estão fazendo girando em volta em torno do muro?

— Deixe-me falar sobre os muros — respondeu Anão Xamã calmamente. — São a base da defesa de cidades, cidades estas que sentem orgulho deles. — Portanto, dar às pessoas a tarefa de mantê-los arrumados e limpos era essencial. O anão ergueu os olhos para a carruagem com uma expressão exasperada. — Orelhas Compridas, você de fato se apegou a esse lugar aí em cima, né?

— Bem, vale a pena ter alguém de olho em todas as direções. Não é, Orcbolg? — Ela olhou para baixo da carruagem, satisfeita por estar acima da multidão.

— Sim — disse o homem de capacete encardido.

Matador de Goblins estava olhando de um lado para outro, segurando um pedaço de pele. Tinha cortado um dos goblins da noite anterior… para desgosto de Alta Elfa Arqueira e Sacerdotisa, é claro.

— Bleh. Diga-me novamente por que se sentiu compelido a aceitar isso?

— Pode haver membros sobreviventes da tribo, ou podem ter um líder.

— Você poderia apenas ter copiado o símbolo em algo.

— Eu queria garantir a precisão. — Com um dedo enluvado, ele casualmente traçou o padrão geométrico da tatuagem na pele. Por fim, deu um pequeno aceno de cabeça, então enrolou a pele e a enfiou de volta em sua bolsa de itens. — Parece quase uma mão, mas não tenho certeza — disse, e então o capacete balançou. — Você acha este lugar incomum?

— Acho — disse Sacerdotisa com um aceno sério. — Aqui tem muitas pessoas…! — Ela olhava de um lado para outro, praticamente ficando na ponta dos pés.

— Tome cuidado para não se perder.

— E-Eu já sei disso! Sei mesmo, tá bom? — Envergonhada por ser tratada como uma criança, Sacerdotisa bateu no chão com seu cajado para enfatizar sua afirmação. De seus pés saiu um som duro. Estava tão concentrada na carruagem que não percebeu quando a estrada de terra se transformou em lajes.

A multidão crescia constantemente à medida que se aproximavam da capital e agora pressionava de todos os lados. Até os vastos portões pareciam estreitos em comparação com a quantidade de gente.

A multidão consistia de jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres de todas as raças e tribos, alguns pertencentes a profissões e até países que Sacerdotisa não conseguia identificar, todos misturados, gritando uns com os outros.

Várias outras carruagens também eram visíveis, enquanto mercadores carregavam cestas em meio à multidão, vendendo água ou frutos. A grande variedade de cores de roupas enquanto pessoas passavam ou paravam a surpreenderam como se fosse um caleidoscópio ou mosaico. A mistura de línguas que alcançou seus ouvidos soou agradável, quase como uma canção.

— É… tempo de festival ou algo assim? — perguntou ela.

Por mais incrível que pareça, foi Donzela da Espada quem abriu a janela e, rindo, informou à surpresa Sacerdotisa:

— É sempre assim.

— Claro, mais pessoas é sinônimo de mais problemas, mas também maiores oportunidades para aventureiros como nós — disse Lagarto Sacerdote, complementando enquanto segurava as rédeas. Ele revirou os olhos, alegre.

A carruagem avançou em direção ao portão em um ritmo majestoso, parecendo positivamente elegante.

— Mas temo não ser tão adequado naturalmente para serviços ilegais.

— Eu acreditaria que pessoas adorariam você para trabalhos como guarda-costas — disse Anão Xamã, rindo do seu lugar ao lado da carruagem. Ele parecia correr risco de ser arrastado pela multidão, mas seu ritmo em momento algum diminuiu. O anão olhou para Matador de Goblins, fixando seu olhar no capacete. — Você deve ter tempo de sobra, Corta Barba. Não deve haver tantas caças a goblins na capital.

— Não temos como ter certeza de que não há aqui.

— Esquece. — Foi uma resposta abrupta.

A resposta indignada de Anão Xamã foi o ponto final; Matador de Goblins e os outros focaram sua atenção à frente.

Diferentemente da cidade fronteiriça, ou até mesmo da cidade da água, o portão da capital não tinha soldados de guarda, mas sim uma guarita. Seja indo ou vindo, era preciso gastar um bom tempo com a burocracia, e provavelmente era essa a causa deste congestionamento.

Anão Xamã avaliou a fila que avançava sob o sol do início do outono.

— Não parece que vamos chegar lá tão cedo — disse com um encolher de ombros. Então pegou algumas moedas de sua bolsa e desapareceu no mar de gente.

Poucos minutos depois, voltou com várias garrafas pequenas, uma das quais jogou para Alta Elfa Arqueira no teto da carruagem.

— Melhor do que esperar sem nada para fazer. Pegue.

— Opa. Obrigada… Ei, o que é isso? — Ela inspecionou a garrafa de vidro, que continha um líquido violeta. Deu uma pequena sacudida e ouviu-o espirrar ao redor, em seguida, puxou a rolha e deparou-se um aroma doce sendo exalado.

— É chamado de sapa. Eles pegam uvas ou similares e as misturam com chumbo em uma cuba de bronze para adoçar.

— Hmm — disse a elfa, dando uma fungada exploratória e então balançando a cabeça. — Que cheiro forte de metal. Passo.

— É essa dieta limitada que te deixa igual uma bigorna.

Alta Elfa Arqueira rosnou e franziu os lábios, mas não disse nada enquanto jogava a garrafa de volta para Anão Xamã. Pelo fato de ainda estar sem rolha, ele precisou correr para pegá-la sem que o líquido derramasse. Então encarou a elfa com um olhar irritado e secou o conteúdo em dois goles generosos.

— Hrmph, bom demais.

— É, hã, hm, mas chumbo não é venenoso…? — disse Sacerdotisa, o que fez Alta Elfa Arqueira gargalhar, que então respondeu:

— O corpo dos anões é grande demais para precisarem se preocupar com venenos.

— O correto é robusto! — disse Anão Xamã, soltando um arroto e limpando algumas gotas de sua barba.

Lagarto Sacerdote observou a cena do seu lugar, onde incitava um trote com os cavalos, e revirou os olhos.

— Então, tem mais alguma coisa?

— Ahh… — Anão Xamã vasculhou sua coleção de garrafas. — Vai uma posca aí?

— Você disse posca?

— Ah, de fato.

Donzela da Espada sorriu pela janela da carruagem.

— É à base de vinagre, não é?

— Céus, você conhece?

— É fácil esquecer, mas já fui aventureira.

Posca era feita pela mistura de água com vinho que se tornara ácido demais – ou, para colocar de forma menos elegante, se transformara em vinagre. Mel era adicionado para criar um sabor agridoce, e era bem conservado, tornando-a a favorita dos aventureiros que visitavam a capital.

— Então, gostaria de um pouco agora?

— Posso?

— Mas com toda certeza!

Donzela da Espada sorriu rapidamente. Ela pegou a garrafa oferecida pela janela com ambas as mãos e removeu a rolha com um movimento que quase parecia uma carícia. Bebeu o conteúdo ruidosamente, em seguida, soltou um suspiro delicioso de contentamento.

— Gracioso… Quase nada feminino!

— Não deve importar tanto assim. De fato… — Hm. Donzela da Espada limpou as gotículas de seus lábios enquanto respondia, fazendo beicinho, à sua assistente. Então colocou a cabeça para fora da janela e deu um aceno a Anão Xamã, mostrando um sorriso angelical. — Muito obrigada… Estava deveras deliciosa.

— Fico muito feliz que tenha gostado — disse ele com um sorriso, em seguida, jogou as garrafas para seus companheiros com um presunçoso “Aqui”.

Sacerdotisa e Alta Elfa Arqueira responderam com “Caramba, é amargo” e “É só suco de uva velho mesmo”, embora tenham mostrado um sorriso no final. Não tem como uma garota não gostar de um sabor doce… isso talvez fosse ir um pouco longe demais.

Matador de Goblins pegou a próxima garrafa, abrindo-a silenciosamente e bebendo. Era assim que tratava tudo o que entrava em sua boca, fosse comida ou bebida, então ninguém lhe dava muita atenção. Apenas Sacerdotisa sorriu como se dissesse, Incorrigível!

Lagarto Sacerdote foi o próximo, mas acenou com sua mão enorme e disse:

— Não, obrigado. Estou farto de bebida. Meu estômago, e não minha garganta, é o que desejo satisfazer.

— Comida, então…? — murmurou Anão Xamã, acariciando sua barba pensativamente, em seguida, olhando para a panóplia de vendedores no portão.

Já era fim da tarde, o sol começando a se pôr no céu. Podia ter havido alguém vendendo almoços, mas provavelmente já estava sem estoque no momento. Seria muito mais provável encontrar algo para comer quando entrassem na capital.

— Sabe, ouvi dizer que vendem muito queijo na capital — disse Anão Xamã.

— Oh-ho. — Soou a resposta de… Matador de Goblins, que estava ouvindo em silêncio à conversa do grupo. Ele havia bebido habilmente a posca através do visor de seu capacete em um ou dois goles. — Interessante saber disso.

Sua seriedade absoluta arrancou risadas de todo o grupo. Até a acompanhante na carruagem levou a mão à boca para disfarçar o sorriso.

A única pessoa que não ria era Donzela da Espada. Ela apertava a espada e a balança em seu colo.

— Algum problema, milady?

— Não… — disse Donzela da Espada, balançando a cabeça como se tivesse acordado de seu devaneio. — Não é nada.

— Se você diz, milady…

Donzela da Espada deixou de olhar pela janela e observou o teto da carruagem, deixando escapar um suspiro de alívio.

Eu achava que qualquer emoção feminina havia sumido há muito tempo.

— É muito difícil, não é?

Foi então que aconteceu.

Na carruagem, o olhar de Donzela da Espada moveu-se novamente, enquanto em cima do veículo, as orelhas de Alta Elfa Arqueira se contraíram.

Rodas podiam ser ouvidas à distância. Vozes de soldados. A multidão se mexeu inquieta, abrindo caminho para o portão.

Uma carruagem, puxada por dois cavalos, abria espaço no meio do mar de pessoas. A gravura dourada no veículo e o leão voando no alto mostravam que pertencia à família real.

Os cavalos eram, obviamente, os melhores disponíveis. Corcéis lindos, repletos de músculos. Depois, havia os soldados que acompanhavam a carruagem – todos cavaleiros, cada parte de armadura cintilando! As finas couraças e elmos de metal, as lanças e as espadas, faziam com que parecessem heróis de contos de fadas, e ninguém precisava ser uma criança para ter a atenção roubada. Os soldados não poderiam estar mais distantes dos aventureiros que precisaram caminhar diversas milhas pelo país a pé.

— Uau… — Sacerdotisa respirou, de queixo caído, e quem poderia culpá-la?

— Essa já está começando a ser uma expressão familiar no seu rosto. — Alta Elfa Arqueira soltou uma risadinha. — Mas isso explicaria por que estamos esperando tanto tempo! — Sua expressão ficou sombria a uma velocidade mais rápida do que ficara alegre. — Algumas boas flechas podem lhes ensinar uma lição — murmurou baixinho, e Sacerdotisa rapidamente balançou o cajado para a elfa.

— N-Não, você não pode fazer isso…!

— Qual é, eu sei — bufou Alta Elfa Arqueira. — Além disso, estão trazendo proteção mágica pesada.

Quer dizer que dispararia se não tivessem…? Sacerdotisa pensou sombriamente.

A elfa maluca ignorou a clériga carrancuda.

— De qualquer forma — continuou. —, parece que o rei estava passeando. O que será que estava acontecendo?

— Impostos. — A resposta foi brusca e clara. Matador de Goblins respondeu em voz baixa, quase como se falasse consigo mesmo. — É época de colheita. O rei vai pessoalmente visitar áreas onde não tem representantes locais ou onde uma revolta parece provável.

— Hm. Parece que você sabe bastante.

— Venho de um vilarejo agrícola.

Quê? Foi Sacerdotisa ou Donzela da Espada que emitiu um som de surpresa?

Deviam estar imaginando aquele homem com seu capacete encardido e armadura de couro de aparência barata cuidando de um campo em algum lugar.

Oh, mas acho que ele realmente ajuda naquela fazenda em que vive… Sacerdotisa acenou para si mesma, um dedo pensativo em seus lábios.

— Está tudo bem — disse ela. — Acho que combina com você!

— Entendo.

Assim que a carruagem do rei passou pelo portão, os soldados pareceram relaxar um pouco. Não precisavam estar tão vigilantes quanto antes. A fila de pessoas esperando para entrar na cidade começou a se mover mais suavemente.

— Mesmo assim — disse Alta Elfa Arqueira, estreitando os olhos contra o vento à medida que o veículo começava a se mover —, essa era a carruagem mais chique que eu já vi. E parecia que ele tinha metade do exército consigo.

— É difícil a realeza sair para viajar de maneira humilde e solitária, né? — respondeu Anão Xamã, movendo seus braços e pernas atarracados enquanto corria ao lado da carruagem. Como anão, sabia algumas coisas sobre ornamentação. Acariciando sua longa barba branca, sorriu de maneira sabichona. — Para eles, entretanto, não é luxo, mas sim um gasto necessário.

— Como assim, tudo aquilo?

— Como se sentiria se o seu chefe, ou algo do tipo, estivesse vivendo em uma árvore seca, usando trapos?

— … — As orelhas de Alta Elfa Arqueira baixaram ao imaginar a cena. — Não ia gostar tanto assim, eu acho.

— Então, e se ele saísse por aí sozinho, implorando para que as pessoas pagassem os impostos?

— Acabariam com ele.

— Agora pegou a ideia. É trabalho deles parecerem grandiosos.

Tamborilando ao longo das proximidades, Sacerdotisa soltou um pequeno suspiro.

— Acho que não é fácil ser importante.

Em sua própria vida, tinha visto a Madre Superiora do templo trabalhando arduamente, e ela mesma havia nascido com a responsabilidade de apresentar a dança do ofertório em um festival. Quase não conseguia imaginar um trabalho mais difícil ainda.

Existem pessoas que fazem isso.

Olhou pela janela da carruagem ao lado da qual caminhava. Donzela da Espada estava sentada lá, seu leve sorriso imperturbável, seu corpo voluptuoso ainda preenchendo o assento. De alguma forma, Sacerdotisa tinha dificuldades em entender as emoções no rosto dela.

E ela nem tem um capacete como Matador de Goblins.

— Cara, deve ser um saco ser rei.

— Diz a princesa!

Alta Elfa Arqueira acenou desdenhosamente com a mão de cima da carruagem, seu comentário provocando um resmungo de Anão Xamã.

Estava tudo dentro dos conformes. Sacerdotisa descobriu que o fato de essas coisas não mudarem, mesmo dentro dos muros da capital, fazia com que relaxasse.

Ela riu e, em resposta, Lagarto Sacerdote revirou os olhos.

— Até mesmo nossas coletas são financiadas pelas taxas. — Seu tom era alegre, mas parecia um pouco como se estivesse passando um sermão. — E sem a nossa organização, nós, aventureiros, seríamos apenas mercenários desempregados.

Devemos ser gratos, parecia ser sua mensagem.

Fazia sentido para ela: Lagarto Sacerdote era uma figura bastante intimidante, e havia alguns entre os homens-lagarto que haviam se manchado com o Caos. Toda a raça deles estava perto de ser Que-Não-Rezam, um status que deveria possuir seus próprios fardos.

— Sorte que não têm um imposto sobre o comprimento das orelhas — comentou Anão Xamã.

Alta Elfa Arqueira bufou em resposta, então murmurou brincando que os impostos não eram problema. Ela sacudiu as longas orelhas pontudas e disse:

— Ou… uma sobretaxa de barril, talvez?

— Ha! Então estariam pedindo por uma rebelião, eu diria!

— Aquietem-se — disse Matador de Goblins, interrompendo-os. — Estamos nos aproximando do portão.

Hmm? Sacerdotisa inclinou a cabeça, surpresa. Era incomum para ele estar alerta para qualquer coisa, fora goblins.

À medida que se aproximavam dos muros, ela podia ver que estavam cercados por um fosso gigantesco, profundo e seco. Se as forças do Caos atacassem, estariam sob ataque dos arqueiros do castelo o tempo todo em que estivessem escalando para dentro e para fora do fosso. Uma grande ponte, presa ao portão do castelo com correntes, permitia a entrada sobre o fosso.

Naturalmente, uma voz interrogativa os deteve.

— Alto lá! Mostrem suas identificações.

Lagarto Sacerdote puxou as rédeas, fazendo os cavalos pararem, e lentamente deixou seu enorme corpo descer do banco do condutor.

Um soldado, parado ali com uma armadura polida até brilhar, segurava uma lança em uma das mãos. Bastou uma olhada para ver que tinha um equipamento melhor do que os aventureiros.

Eu acho que deveria, pois está vestido para a guerra, pensou Sacerdotisa.

Ao contrário dos aventureiros, que podiam lutar apenas quando o humor ou a necessidade os dominavam, os soldados tinham que estar prontos para qualquer coisa a qualquer momento, mesmo em momentos de paz.

Sacerdotisa puxou a rançosa insígnia de classificação pendurada em uma corrente em seu pescoço.

— Isso aqui serve, senhor?

Os viajantes em geral precisavam de um passe oficial de viagem, mas provavelmente uma prova de filiação a uma guilda comercial também serviria.

— Sabe escrever? — perguntou o soldado, dando uma rápida olhada na insígnia de Sacerdotisa, para a qual ela acenou com a cabeça. Esta foi a primeira vez que foi submetida a tal interrogatório e, embora estivesse nervosa, também estava curiosa.

O soldado puxou um livro grosso contendo linha após linha dos nomes das pessoas e onde estavam hospedadas.

— Então coloque seu nome e destino aqui.

— Sim, senhor. Hm… posso escrever que estou aqui para trabalhar como guarda-costas?

— Se você é uma aventureira, sim.

Sacerdotisa, ainda um tanto ambivalente, pegou uma pena e tinta e inscreveu uma série de caracteres irregulares, mas cuidadosos.

Mais pessoas entravam e saíam da capital do que ela jamais poderia ter imaginado. Se precisavam de mão de obra para supervisionar tudo… bem, então não era de se admirar que o exército precisasse de impostos para dar apoio.

— Vejo que também tem um anão, um elfo e um… homem-lagarto?

— De fato, senhor — disse Lagarto Sacerdote, juntando as mãos. — Acredito que você achará meu nome difícil de pronunciar, mas talvez não se importe?

— Sim, sem problema… Não é incomum com outras tribos e raças.

— Então, se me permite. — Uma mão áspera e escamosa apareceu, e Sacerdotisa educadamente ofereceu a pena e o livro com um sorriso.

Alta Elfa Arqueira, observando Lagarto Sacerdote escrever com uma facilidade inesperada, sacudiu as orelhas.

— Beleza, agora sou eu! Vou até ser legal o suficiente para escrever para o anão!

— Que infantil — disse Anão Xamã, irritado, mas, mesmo assim, ficou parado observando Alta Elfa Arqueira escrever seu nome na gramática fluente e única dos elfos.

Então, submeteram-se um a um à inspeção de entrada. Os soldados não pareciam especialmente em guarda; talvez estivessem acostumados com semi-humanos. Ou talvez o inesperado fosse a coisa mais normal de todas quando se tratava de aventureiros.

— E o que seria você?

— Sou um aventureiro — disse Matador de Goblins, rápido, jogando sua insígnia de aventureiro ao soldado. Talvez tenha acreditado que a ideia de mostrar a insígnia seria mais rápido do que tentar se explicar… Ou talvez pensasse que dessa forma era menos confuso.

O soldado pegou a insígnia quando ela fez um arco no ar e a olhou com ceticismo. Sacerdotisa reconheceu como a aparência de um homem tentando farejar moedas falsas e pensou: Se fosse uma moeda, ele a morderia.

— Você não está tentando me enganar, está?

— A Guilda me reconheceu — disse Matador de Goblins, sem rodeios, imperturbável pela suspeita sustentada do homem.

Os soldados se entreolharam, em seguida, realizaram uma conferência sussurrada.

— Por acaso não é um elfo negro, é?

—Não — disse Matador de Goblins, erguendo a viseira de seu capacete. — E tenho um elfo em meu grupo.

— Aquela garota “elfa” poderia estar usando maquiagem e orelhas pontudas de mentira, pelo que sabemos.

Incorrigível, pensou Sacerdotisa com um suspiro. Alta Elfa Arqueira deu de ombros, também já cansada. Era exagero pensar que ele poderia ser um pouco mais amigável?

Quer saber, acho que é exatamente o que direi. Com esse pensamento, Sacerdotisa deu um passo à frente e abriu a boca, mas…

— Em nome do Deus Supremo. — Uma voz abafada soou. Emergiu da janela da carruagem, e não apenas Sacerdotisa, mas também todos os soldados, arregalaram os olhos ao ouvi-la. — Têm a minha garantia de que ele é um aventureiro de classificação Prata.

— M-Milady arcebispa…!

Ela estava encostada na janela, enfatizando as curvas suaves de seu corpo; os soldados engoliram em seco e se endireitaram.

Havia algum homem vivo que não ficaria ansioso se estivesse sendo encarado por aqueles olhos, vendados, e sorriso?

— P-Por favor, perdoe nossa indiscrição. Pode prosseguir diretamente para dentro!

Donzela da Espada sorriu gentilmente e assentiu, mas parecia suspirar internamente com aquele peito abundante. Sacerdotisa, por sua vez, sentiu que poderia simpatizar.

Dizem que privilégio é poder, mas seria tão fácil abusar dele…

Donzela da Espada, no entanto, não deixou nada disso transparecer em seu rosto. Colocou um braço fino e bonito para fora da carruagem, estendendo a mão para um dos soldados.

— Procedimento é procedimento, não é? — disse. — Poderia fazer a gentileza de me alcançar o livro?

— S-Sim, senhora. Agora mesmo! V-Você aí, escreva mais rápido…!

— Tudo bem — disse Matador de Goblins, deslizando a caneta de pena pelo papel.

Sacerdotisa fez beicinho, desamparada, mas quando olhou novamente, viu seu rabisco correndo ao longo da linha. Nas letras, pouco discerníveis umas das outras, sentiu de repente uma estranha sensação de proximidade com ele.

— Isso serve?

— Hrmph, tudo bem…! — O soldado tomou o livro dele e apressou-se para entregar pela janela da carruagem. Donzela da Espada pegou e folheou as páginas, de alguma forma incerta; sua assistente a ajudou.

Sacerdotisa percebeu tudo isso e olhou de lado para onde Matador de Goblins estava parado. Ele olhava para o enorme portão como se não estivesse realmente pensando em nada em particular.

— Algo de errado? — perguntou ela, observando-o.

— Não — disse Matador de Goblins com um breve aceno de cabeça. — Eu estava pensando, então esta é a capital.

— Ah… — Sacerdotisa seguiu seu olhar para cima. O portão era tão alto que doía o pescoço ao tentar olhar para cima. — Eu nunca estive aqui antes. E quanto a você, Matador de Goblins, senhor?

— Também é a minha primeira vez — disse ele, tranquilo. — Sempre quis trazer minha irmã mais velha para cá algum dia.

Sacerdotisa sentiu um calor em seu coração, o qual espalhou-se até suas bochechas.

— Tenho certeza de que terá uma chance algum dia — disse ela.

Matador de Goblins ficou em silêncio por um momento. Então o capacete balançou mais uma vez devagar.

— Seria bom ter uma chance.

Não muito depois, a papelada finalmente acabou. Matador de Goblins e os outros atravessaram o portão e entraram na capital.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: Guilherme

 

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