Matador de Goblins

Matador de Goblins – Vol. 07 – Cap. 06.2 – Coração das Sombras

 

O goblin havia terminado seu trabalho e estava animado. Ele não costumava ficar bêbado, mas tinha a sensação de que era assim que parecia estar.

O álcool roubado raramente chegava até ele – as garrafas sempre tinham sido bebidas até secar muito antes de chegarem tão longe. Ele tinha algumas dúvidas sobre como os garotos lá em cima estariam repartindo as mercadorias de maneira justa, mas isso eram os goblins. Eles nunca pensavam em seus outros camaradas que apareceriam depois deles, então cada um pegaria um pouco mais para si, e antes que percebessem, acabava tudo.

Mas este magnânimo goblin subterrâneo iria perdoá-los.

Não porque sabia que teria feito a mesma coisa se estivesse em um dos andares superiores – nada tão razoável. Ele estava contente em ficar furioso com os bastardos impensados ​​lá em cima, independentemente do fato de que teria se comportado exatamente como eles.

Não, a razão pela qual se sentia tão tolerante era porque trabalhar no andar de baixo tinha seus próprios benefícios.

Com um gesto casual, o goblin ajustou a decoração pendurada em uma corrente em seu pescoço. Então se sentou pesadamente em um círculo de seus companheiros e estendeu a mão para a comida no centro.

Ele tirou um dedo do braço podre e o jogou na boca. Mastigou e respirou fundo.

Trabalhar aqui é o pior, disse, tentando soar bem mesmo enquanto reclamava.

Houve um coro de concordância dos outros, então alguém arrancou uma perna da refeição.

Outra pessoa, incapaz de deixar isso passar, fez barulho e tentou tomar a perna, até que ela finalmente se partiu em duas, e o ofendido ficou com um pouco para si.

Enquanto mastigavam a carne, os goblins reclamavam que os chefões não entendiam.

Um deles arrancou um adorável globo ocular âmbar da refeição e comentou: Eles com certeza não entendem, então engoliu.

As reclamações dos goblins ficavam cada vez mais altas, mas é claro, o trabalho que foram solicitados a fazer não era tão exigente. Era simplesmente a maneira dos goblins se convencerem de que as coisas eram mais fáceis para os outros do que para eles.

Depois de uma refeição preguiçosa, os goblins se levantaram. Eles concordaram coletivamente que uma rhea não era uma refeição tão boa quanto um elfo, e um elfo não era tão saboroso quanto um humano.

Agora seus estômagos estavam bem e cheios, e parecia-lhes que não havia mais nada a fazer a não ser tirar uma soneca até que mais trabalho precisasse ser feito.

O goblin soltou um grande bocejo, quando…

— …?

Bem nesse momento.

O que era aquilo rolando até seus pés? Uma tocha apagada?

Que diabos? O goblin olhou estupidamente para ela.

— ?!

Um segundo depois, algo pesado e úmido o atingiu no rosto. Ele tentou gritar, mas outra coisa o acertou, desta vez na boca.

Ele estendeu a mão para retirar, mas sua mão agarrou-se àquilo e ele não conseguiu se livrar.

— GROBB!!

— GRB! GBBOROB!!

Quando ele caiu no chão, os outros goblins apontaram e riram dele. O ridicularizando da mesma forma que os goblins que caíram da escada naquele dia.

— GBOROB?!

Desta vez, as coisas bateram nos goblins que estavam rindo. Mais dois deles estavam arranhando seus rostos, contorcendo-se de dor. Três no total.

Os outros dois finalmente perceberam que não era hora para diversão e sacaram suas espadas roubadas.

Um deles colocou algo que parecia um apito de alarme nos lábios…

— Um.

E prontamente encontrou sua garganta perfurada por uma adaga que apareceu voando da escuridão. O sangue jorrou da ferida com um som não muito diferente de um assobio.

— GOBBRB?!

Cortando o som apareceu um aventureiro em armadura suja, avançando para eles rio abaixo. Em sua mão direita estava uma espada. À sua esquerda, um escudo. Os olhos do goblin estavam arregalados. Aventureiro! Ódio! Era ele!

— GBRO! GGBORROB!!

Ele se esqueceu de qualquer pensamento de chamar seus camaradas ou ajudá-los, em vez disso, partiu para a luta. Sua espada era uma coisa bem afiada que roubou recentemente de um aventureiro. Não era uma faca enferrujada.

— Hmph.

Matador de Goblins, entretanto, facilmente defendeu o golpe com seu escudo. Na verdade, até rebateu. Ele pegou o golpe excessivamente ansioso do monstro, que se alojou em seu escudo; em seguira recuou e deu uma rasteira.

— GOBBR?!

O goblin perdeu o equilíbrio e caiu pesadamente, em seguida, voltou a se levantar com dificuldade.

Imediatamente depois disso, ouviu um baque. E então o goblin parou de respirar, sem nunca saber por quê.

Ele nunca teria imaginado que era porque uma flecha de ponta-broto se alojou na parte de trás de sua cabeça.

Ele caiu para frente, seus olhos sem vida não percebendo mais o que estava acontecendo com seus companheiros.

— GOBB… GRB?!

— GROBBR?!

Os outros goblins, tendo finalmente arrancado os glóbulos pegajosos de seus rostos e bocas, mal conseguiam falar.

Um instante depois, a garrespada de Lagarto Sacerdote separou o torso das pernas e Matador de Goblins perfurou a garganta.

Despachar cinco goblins tomou apenas dez ou vinte segundos. Uma experiência e tanto.

— Três… E quatro e cinco. — Matador de Goblins contou os cadáveres e voltou para a escuridão. — Foi um sucesso impressionante.

— Tenho praticado. — Sacerdotisa saiu da escuridão, segurando seu cajado. Uma expressão tímida surgiu em seu rosto com o simples elogio de Matador de Goblins. Sim, a criatura foi distraída pela tocha, mas ela o acertou de forma justa, o resultado de seu próprio trabalho duro.

Ela pegou a meia preparada que o goblin havia arrancado de seu rosto e jogado de lado.

— Eca… Acho que não posso mais usar isso… — disse, desapontada. Havia sangue, baba e muco por toda parte. Ela poderia lavá-la três vezes e ainda assim não querer usá-la novamente.

— Colocar pedras em nossas meias, cobri-las com cola e depois jogá-las nos goblins? — Alta Elfa Arqueira, que também forneceu suas meias para a causa, estava recuperando sua flecha de um dos cadáveres — Eu juro, você tem a imaginação de um menino travesso.

— Mas funcionou — disse Matador de Goblins brevemente, virando-se para o corpo meio comido.

Era uma massa de sangue coagulado que era impossível até mesmo dizer de que sexo era, até que ele pegou uma etiqueta de cor azul no meio daquilo. Era um homem.

— Gostaria de saber se ele tinha uma família — disse Anão Xamã, olhando para ele e pegando o pedaço de safira manchado de sangue. — Ou um grupo… Duvido que estivesse sozinho.

— Provavelmente — disse Matador de Goblins, virando a cabeça e lançando o olhar sobre as ferramentas que os goblins usaram para seu “trabalho”.

Alta Elfa Arqueira cutucou um deles com um olhar de o que é isso, antes que percebesse o que estava vendo e saltar para trás.

— Eek?!

Era uma pedra de moinho – ou, mais precisamente, uma prensa. Girar uma alça redonda fez com que o dispositivo se movesse, aplicando pressão em tudo o que estava dentro dele. Era o tipo de coisa que se usava para obter azeite de azeitonas ou suco de uvas. Então, o que os goblins estavam pressionando com isso?

A resposta ficou imediatamente aparente.

— Ergh… Ah…! — Sacerdotisa soltou breves sons ofegantes e quase deixou cair o seu cajado.

Nas fendas da máquina podiam-se ver mãos e pés delgados, ainda se contorcendo com os últimos vestígios de vida. Eles pertenciam a uma jovem cujos olhos vidrados estavam olhando para o céu, a língua pendurada para fora da boca.

Isso deixou terrivelmente claro o que os goblins estavam tentando pressionar e como. Como forma de tortura, era grosseiro. Como meio de execução, estava além do sádico.

Não.

Sacerdotisa rapidamente entendeu o que tudo isso significava.

A pilha de armaduras femininas surradas no canto.

A espada curta polida que Matador de Goblins coletou do goblin.

A etiqueta de nível safira que estava pendurada no pescoço de um dos cadáveres.

Os músculos do braço que agora estavam moles.

Tudo isso mostrava que a jovem havia sido uma aventureira.

E levou a uma conclusão inevitável: os goblins estavam fazendo isso por pura diversão.

— …

Foi uma cena nauseante, mas embora pálida, Sacerdotisa engoliu o líquido amargo de volta.

Talvez – infelizmente – tivesse se acostumado a esse tipo de coisa. Talvez fosse apenas algo com o que tinha que se acostumar. Ela não sabia.

Enquanto se agachava, rezando para a Mãe Terra, um líquido espesso e pegajoso caiu no chão, manchando suas botas brancas.

A substância vermelho-escura que os goblins estavam espremendo com seu dispositivo gotejou para a sarjeta ao longo do chão e, de lá, para o rio.

— Hmm — disse Lagarto Sacerdote, revirando os olhos. — Se estão colocando isso no rio, não pode ser algum tipo de veneno?

— Pode muito bem ser. — Matador de Goblins se agachou e pegou uma pequena amostra da coisa pegajosa, esfregando-a entre os dedos. Embora tenha sido apenas uma pequena gota no enorme rio, provavelmente era o suficiente para ser fatal para um indivíduo. — É como se estivessem pensando “vocês todos têm bebido, vivido e se banhado com água cheia de sangue e excrementos de seus companheiros.”

— Hrr-ghh… — Alta Elfa Arqueira vomitou na mesma hora. Sacerdotisa foi rápida em oferecer-lhe o odre, mas ela respondeu apenas um: — Não, obrigada.

— Suponho, então, que devemos considerar isso uma forma de maldição — disse Lagarto Sacerdote.

— Então você também acha? — suspirou Matador de Goblins. — Aquela… coisa…

— Mokele-Mbembe, quer dizer?

— Isso — concordou Matador de Goblins. — Isso deve significar que aquele que o capturou era algum tipo de lançador de feitiços.

— E um goblin… — Sacerdotisa estremeceu.

Uma caverna escura. Mulheres desmaiadas. E um goblin xamã tagarelando em seu trono.

Tudo isso combinado com memórias queimadas em sua mente. Ela agarrou seu cajado com mais força.

— Xamã…?

— Quem quer que seja, não é nada além de desprezível — murmurou Anão Xamã, com respeito a Matador de Goblins e de Lagarto Sacerdote. — Estou surpreso que vocês dois estejam tão calmos…

— Manter um cativo vivo para nosso prazer não é o costume de meu povo, mas matar é a nossa vocação. — Lagarto Sacerdote balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro, quase contemplativamente. — Abrir as entranhas de um guerreiro superlativo e comer seu coração é considerado um costume adequado.

— Acho que vai demorar alguns dias até que eu queira carne de novo — gemeu Anão Xamã.

— E isso é um anão — disse Alta Elfa Arqueira com uma risada corajosa.

Matador de Goblins olhou para Anão Xamã e acenou com a cabeça. Então caminhou até Sacerdotisa com seu típico passo ousado e olhou para ela.

— Matador de Goblins, senhor, uh…

— Nós vamos parar aqui — disse ele lentamente. — Quando ela for enterrada, vamos descansar.

 

 

Finalmente decidiram dar ao cadáver esmagado da aventureira um enterro no mar.

Envolveram o corpo em um pano para esconder suas feridas e o colocaram à deriva no canal que levava ao rio.

Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, por favor, por sua mão reverenciada, guie a alma de quem deixou este mundo.

A oração de Sacerdotisa levou a alma da mulher ao céu, e a invocação de Lagarto Sacerdote garantiu que ela pudesse voltar ao ciclo da vida.

Eles não esperavam que nenhuma patrulha aparecesse na parte inferior da torre (os goblins sendo preguiçosos), então o grupo encontrou o local mais limpo que pôde, estendeu alguns cobertores e foi dormir.

Dormir… Teriam sorte se tivessem algumas horas, no máximo. Isso poderia não restaurar muito de sua força. O que era importante, porém, era que seus lançadores de feitiços recuperariam a energia espiritual que haviam gasto.

— … — Matador de Goblins encostou-se na parede da sala de tortura, abraçando a espada que havia pegado. Ele não queria acender uma fogueira, em parte por causa das proteções élficas neste lugar, mas principalmente porque não queria que a fumaça alertasse ninguém sobre a presença deles. Em vez disso, o grupo descansou o que pôde ao redor da lamparina, as venezianas fechadas para manter a luz no mínimo.

Lagarto Sacerdote sentou-se na postura de lótus, com as mãos transformadas em mudras e os olhos fechados, como se estivesse meditando. Anão Xamã havia tomado alguns bons goles de vinho e depois tombou, apoiou a cabeça nas mãos e logo estava roncando vigorosamente.

Então havia Sacerdotisa, seu pequeno corpo coberto por um cobertor amontoado em um canto. Mesmo à distância, seu rosto parecia pálido e sem sangue.

— Por que você não está dormindo…? — perguntou uma voz repentina.

— Estou descansando — respondeu Matador de Goblins casualmente.

Era Alta Elfa Arqueira, de volta de seu turno de guarda, parada na frente dele e parecendo irritada.

Matador de Goblins ergueu seu capacete lentamente, olhando para ela.

— Com um olho aberto.

— Ei, não consigo ver quantos olhos você tem aí — respondeu ela, aborrecida. Ela colocou as mãos nos quadris e bufou, as orelhas compridas tremendo, então se sentou pesadamente ao lado dele. Foi um movimento tão natural; não olhou para Matador de Goblins para qualquer tipo de permissão.

— Ela não parecia muito feliz, hein? — Alta Elfa Arqueira afrouxou a corda de seu arco e começou a amarrá-la diligentemente.

— Imagino — disse Matador de Goblins ao lado dela. — Se considerarmos apenas nossas ações, somos exatamente como os goblins.

Ele estava se referindo estritamente a ter dado os corpos de seus companheiros ao rio.

Eles haviam chegado tarde demais – fosse por minutos, horas ou dias. Caso contrário, talvez um ou dois dos aventureiros capturados ainda estivessem vivos.

Nunca, em nenhum momento, isso poderia ter acontecido como o que aconteceu naquele templo, com aquelas freiras.

— Eles morreram e nós os jogamos no rio. É a mesma coisa — concluiu Matador de Goblins secamente.

Alta Elfa Arqueira mordeu o lábio por um momento, sem conseguir falar, então balançou a cabeça em desacordo

— Não é a mesma coisa…

Matador de Goblins soltou um grunhido baixo e aborrecido.

— Não somos como os goblins. E se você disser que somos de novo, vou ficar brava. — Ela olhou para ele com os olhos semicerrados. — Posso até te chutar — murmurou, e parecia séria.

Matador de Goblins se lembrou da vez, em alguma ruína em algum lugar, quando ela lhe deu um chute sério. Fazia cerca de um ano. Ele até sentiu uma certa nostalgia por isso.

Mas quanto tempo isso era para um elfo?

— Entendo. — Matador de Goblins assentiu. Então soltou um suspiro profundo. — Você está certa…

— É melhor você acreditar que estou.

Com isso, os dois pararam de falar. O gorgolejar idílico de água corrente parecia fora do lugar. Mas de vez em quando, vinha o cacarejo dos goblins do andar de cima, lembrando-os de onde realmente estavam.

As orelhas de Alta Elfa Arqueira vibraram. Matador de Goblins olhou para ela, mas ela balançou a cabeça como se quisesse dizer que não era nada.

— Entendo. — Matador de Goblins respirou, então caiu em silêncio mais uma vez.

— Hmm? — disse Alta Elfa Arqueira, inclinando a cabeça, mas seu capacete mal se moveu enquanto ele falava apenas duas palavras em resposta.

— Sinto muito.

Alta Elfa Arqueira começou a piscar.

Orcbolg… se desculpou?

Era uma ocorrência incomum. Para esconder o sorriso repentino que ameaçava tomar conta de seu rosto, ela franziu a testa e perguntou bruscamente:

— Pelo quê?

— No final, eu trouxe goblins novamente…

Idiota. Alta Elfa Arqueira soltou uma risadinha. Como a água correndo, parecia um som muito doce para este lugar.

— O quê? É isso que estava te incomodando?

Não houve resposta.

Eles só se conheciam há um ano e mudaram, mas era muito tempo para conhecer alguém.

Acertei em cheio.

Alta Elfa Arqueira riu com um som semelhante ao de um sino tocando, então colocou seu grande arco gentilmente no chão ao lado dela. Ela abraçou os joelhos contra o peito e, em seguida, descansou a cabeça no ombro de Matador de Goblins.

— Você me conhece… não sou uma grande fã de goblincídio.

Isso simplesmente fazia sentido.

Antes de ela conhecer Orcbolg, mesmo quando era apenas uma Porcelana, nunca tinha saído em uma missão de caça aos goblins. Mas o número desses trabalhos que havia assumido aumentou dramaticamente desde que começou a trabalhar com ele.

Ela não tinha nenhum problema em explorar cavernas. E lutar contra monstros era muito bom. Resgatar cativos também era ótimo.

Mas isso é diferente.

Enfrentar goblins com Orcbolg de alguma forma não era o mesmo que outras aventuras. Não havia sensação de realização. Alta Elfa Arqueira mal conseguia chamar isso de aventuras.

Mas, ainda assim.

— Minha casa está em jogo.

Era perfeitamente óbvio, mas ela expressou o pensamento de qualquer maneira.

Ela sentiu mais do que viu a mudança no capacete de Matador de Goblins.

Alta Elfa Arqueira fechou os olhos por um momento. O cheiro de óleo e sangue. Era realmente um fedor terrível.

— Eu odiaria que minha irmã se casasse com goblins vagando por perto.

— Entendo…

— Normalmente, eu seria a única a reclamar… Ei, digo, não que eu esteja realmente chateada ou algo assim.

— Não — disse Matador de Goblins, balançando a cabeça. — Isso não me incomoda.

— Não? — Alta Elfa Arqueira inclinou a cabeça com surpresa. Suas orelhas vibraram.

— Não — repetiu Matador de Goblins brevemente. — Porque não sei o que fazer para ter uma aventura.

Huh — murmurou Alta Elfa Arqueira, e Matador de Goblins murmurou de volta:

— É verdade.

— Então tá — começou Alta Elfa Arqueira, soando quase como se estivesse cantando. — Que tal dizermos que estamos empatados? — Ela ergueu um dedo indicador e o moveu em um círculo no ar.

— Eu acho… — Matador de Goblins estava prestes a responder, mas então hesitou. Ele nunca encontrou as palavras que queria e, finalmente, sua resposta foi tão desapaixonada como sempre: — Isso é bom.

— Excelente! — Alta Elfa Arqueira pôs-se de pé em um salto. Ela soltou um grande bocejo, como um gato, esticando suavemente seu corpo flexível. Ela soltou um longo suspiro e perguntou: — Então, o que faremos a seguir?

Matador de Goblins respondeu imediatamente:

— Montaremos uma armadilha e então subiremos.

— Uma armadilha? — Os olhos dela brilharam e suas orelhas balançaram.

— Você vai entender muito em breve — Matador de Goblins fez parecer que seria incrivelmente incômodo. Alta Elfa Arqueira apenas bufou. Então tá bom.

— Mas… agora vamos voltar?

— Estamos lidando com goblins que se instalaram neste prédio. Tenho uma boa ideia do que devem estar pensando.

— …?

— O mais importante deles se baseará no nível mais alto ou no mais baixo.

— Ahh.

Agora fazia sentido. Alta Elfa Arqueira acenou com a cabeça, sorrindo. Os piores vilões gostavam dos lugares mais altos.

— O único problema é aquela… coisa.

— Mokele-Mbembe? — Alta Elfa Arqueira suspirou novamente. — Não acredito que você não tenha aprendido seu nome até agora.

— Quem quer que seja capaz de controlar aquela besta, é provavelmente um lançador de feitiços…

— Um lançador de feitiços… Hmm.

Alta Elfa Arqueira cruzou os braços, parecendo muito Alta Elfa Arqueira, mas rapidamente abandonou a contemplação. Pensar nisso agora não lhes renderia nenhuma resposta. Poderiam pensar sobre isso quando chegasse a hora.

De qualquer forma, pode ser um goblin xamã ou um goblin qualquer, eu ainda vou atirar nele.

— Não vamos descobrir quando chegarmos lá?

— Isso não vai servir — disse Matador de Goblins com um aceno decisivo de cabeça.

Alta Elfa Arqueira balançou a cabeça, como se dissesse: Você não tem jeito.

— Sim, vai. Mas você é nosso único especialista na vanguarda. No momento, o mais importante é você dormir um pouco, Orcbolg.

— Sim…

— Com os dois olhos fechados.

— Vou tentar…

— Vou te acordar em um momento.

— Obrigado.

— Sim, bem, caso contrário, não vou conseguir dormir.

— Tudo bem.

Alta Elfa Arqueira deu a ele um aceno reconfortante com a mão, em seguida, agarrou o arco entre os dedos. Ela saltou facilmente de um dorminhoco para o outro, para ver como eles estavam, então finalmente se sentou em um lugar só dela em um canto do cômodo.

Ao lado dela estava Sacerdotisa, enrolada em seu cobertor. Alta Elfa Arqueira deu-lhe um tapinha gentil. O cobertor se mexeu, depois balançou e ficou imóvel novamente.

Poderia puxar as cobertas o quanto quisesse, mas não conseguia esconder como se sentia com os sentidos de um elfo.

 

 

— Cara, por que os ancestrais não poderiam ter instalado um elevador?

Várias horas depois, após cuidar de alguns detalhes, o grupo começou a subir as escadas.

Alta Elfa Arqueira tinha bons motivos para reclamar. Tinham acabado de descer as escadas no dia anterior e agora estavam sendo forçados a subir novamente. A mudança de direção era um conforto frio.

— C-Cuidado para não falar muito alto…!

Alguém vai te ouvir. A preocupação de Sacerdotisa era igualmente natural, e sem nenhum lugar para onde correr, se algum goblin aparecesse, seriam forçados a lutar.

O grupo não mudou sua formação desde antes de parar para descansar (quando – ontem? Seu senso de tempo estava confuso), mas ainda…

— Bem — disse Anão Xamã —, é uma grande fortaleza. Pode haver um se procurarmos. — Ele estava respirando pesadamente. Parecia que seu pequeno corpo tornava a escalada mais difícil para ele do que para todos. Ele tirou a jarra de vinho do cinto e destampou-a, tomando alguns goles e enxugando algumas gotas da barba. — Mas depois de todo o trabalho que acabei de ter, realmente não faz sentido procurar um elevador.

— Além disso, pode exigir alguma chave para ativar. Uma com uma pulseira azul, por exemplo.

— Aarrgh…! — gemeu Alta Elfa Arqueira, batendo as orelhas com raiva. O comentário calmo de Lagarto Sacerdote somou três vozes contra ela. — Orcbolg, diga alguma coisa!

— Se encontrássemos um, nós o usaríamos, mas não temos tempo para procurar.

Não há ajuda aí. Alta Elfa Arqueira, abandonada, simplesmente pigarreou e continuou subindo as escadas.

Cada um deles estava totalmente vigilante. Até mesmo Sacerdotisa, observando seu cajado com inquietação, ficou de olho em seus arredores. Ela ficava lançando pequenos olhares para trás – sem dúvidas, um produto de suas piores memórias.

Eles podem vir por trás.

Eles podem quebrar a parede quando você menos esperar.

Havia alguma porta escondida? Não deixaram nenhuma passar, não é?

— Oops… — disse Alta Elfa Arqueira, e Sacerdotisa estremeceu.

— O que há de errado?

— Faltam alguns degraus.

— Oh… — Ela podia ver que Alta Elfa Arqueira estava certa. Bem à frente deles, a espiral de escadas foi interrompida por vários degraus quebrados.

Poderiam concebivelmente pular a lacuna, mas apenas se não pensassem por um segundo sobre o que aconteceria se caíssem. Podiam ouvir a água ecoando de muito, muito abaixo.

Se pudessem se segurar na próxima escada, isso seria uma coisa, mas se não, a queda certamente os mataria. Se tivessem sorte, isso aconteceria instantaneamente. Mas se não, poderiam simplesmente quebrar as pernas e ter que ficar ali, esperando para morrer. De qualquer forma, seria o fim de sua aventura.

Os goblins contornaram essa lacuna de alguma forma ou os testes precipitados continuaram?

—  Não vejo nenhum guarda — murmurou Matador de Goblins. — Se ainda fosse meio-dia, eu entenderia, mas não gosto disso.

— Acho que o maior problema é o que fazer com essa escada — disse Alta Elfa Arqueira, franzindo a testa. Ela ergueu o polegar, tentando avaliar a distância. — Eu poderia pular essa lacuna, mas não acho que todos nós poderíamos. Como o anão, o anão ou o anão.

— Escute aqui…

Isso foi até onde a resposta do Anão Xamã foi, no entanto. Alta Elfa Arqueira cruzou os braços e soltou um som pensativo.

— Talvez pudéssemos amarrar uma corda de um lado a outro — disse —, poderíamos pegar o caminho mais longo, mas não temos tempo, não é?

— Isso é perfeito — disse Sacerdotisa, acenando com a cabeça. — Vou pegar um pouco! — Ela vasculhou sua bolsa, rapidamente encontrando um gancho. O Kit de Ferramentas do Aventureiro. Ela ficou muito satisfeita com o fato de o conjunto, que havia comprado “por precaução”, estar sendo útil. Além do mais, o maior conforto para ela era saber que estava se tornando útil para o grupo.

— Você acha que isso vai alcançar? — perguntou.

— Experimente — disse Matador de Goblins.

— Certo — respondeu Alta Elfa Arqueira, agarrando a corda e dando um salto. Sua agilidade poderia ser igualada apenas por um seleto número de homens-fera ou elfos negros.

Ela aterrissou do outro lado da lacuna com um movimento que lembrava um cervo saltando, murmurando:

— Uau. — Enquanto isso, cuidadosamente mantinha o equilíbrio. — Você só precisa que eu prenda isso, certo?

— Sim. — Matador de Goblins acenou com a cabeça e pegou a corda do seu lado. — Então, devemos amarrar isso em nossos cintos e pular…?

— Se eu não chegar ao outro lado, terei de usar um feitiço — disse Anão Xamã, olhando para o fosso com uma expressão perturbada. — Por mais que eu odeie ter que fazer isso, à luz de nossas necessidades estratégicas… E você, Escamoso?

— Ahh, enquanto houver apoios para as mãos e pés nas paredes, vou passar por isso. — Lagarto Sacerdote exibiu as garras afiadas em suas mãos e pés, girando os dedos deliberadamente. — Eu deveria me preocupar, mestre lançador de feitiços, com nossa lady Sacerdotisa pulando. Talvez fosse melhor se eu a carregasse.

— Um de cada vez, então — disse Matador de Goblins. — Você vai ficar bem?

— Ah, sim! — Sacerdotisa foi a primeira a pegar a corda oferecida. Com um grunhido, ela a amarrou com cuidado e firmeza em torno de seus quadris estreitos, em seguida, prendeu seu cajado entre a corda e a parte inferior das costas para não deixá-lo cair.

— C-Certo, por favor, não me deixe cair…!

— Hmm. Você é bastante leve. Aqui…

Lagarto Sacerdote, com Sacerdotisa agarrada às suas costas, cravou suas garras na parede de rocha e ergueu seu corpo.

— Eep?!

— Segure firme, agora. Ó Velociraptor, veja meus feitos!

O que aconteceu a seguir foi realmente algo para se ver. Trabalhando as garras de suas mãos e pés nas fendas entre as pedras, Lagarto Sacerdote começou a rastejar habilmente através da abertura.

Por mais impressionante que fosse, no entanto, ele não era rápido; se houvesse um arqueiro esperando em algum lugar da escada em espiral, ele seria um excelente alvo. Matador de Goblins e Alta Elfa Arqueira olharam profundamente na escuridão, mantendo os olhos abertos justamente para tal ameaça.

Quando chegaram do outro lado, um momento depois, Sacerdotisa deu ao Lagarto Sacerdote um aceno respeitoso.

— S-Sinto muito pelo problema. E obrigada…

— Não precisa me agradecer. Na verdade, acredito que você poderia fazer isso se tivesse um pouco mais de carne em seus ossos.

— E-Eu vou tentar… — disse ela, um pouco envergonhada. Lagarto Sacerdote sorriu em confirmação, então pegou a corda dela e fez a viagem de volta. Em seguida, chegou carregando Anão Xamã, depois que ficou satisfeito que todos conseguiram atravessar, Matador de Goblins saltou a lacuna. Com sua armadura completa e cota de malha, era sem dúvidas aquele carregando o maior peso entre todos, mas conseguiu com espaço de sobra.

Ainda assim, quando ele cambaleou ao pousar, Sacerdotisa foi rápida em colocar a mão em seu braço para firmá-lo.

— V-Você está bem?

— Sim — disse Matador de Goblins com um aceno de cabeça e acrescentou um momento depois: — Estou bem.

— Cara, eu gostaria de ter sido levada adiante. — Alta Elfa Arqueira saltou.

— Ha! Ha! Ha! Bem, talvez haja outra chance. — Lagarto Sacerdote gargalhou.

— Vou cobrar isso de você! — disse Alta Elfa Arqueira, mas então parou de repente. — Ei, olha, aí está! Há um elevador!

— Hmm — disse Matador de Goblins com considerável interesse enquanto se remexia para inspecionar o dispositivo.

Ele tinha um par de portas duplas que rolavam para trás nas paredes, com o que parecia ser um painel de controle ao lado delas. Exatamente o tipo de coisa, percebeu, que costumava ser encontrada em ruínas como esta.

— Os goblins têm usado isso? — perguntou-se em voz alta.

— Boa pergunta — disse Anão Xamã. — Não posso dizer com certeza…

— Parece estar funcionando bem. Mas… hmm, o que é isso? — Lagarto Sacerdote, sondando o painel de controle com um dedo em forma de garra, descobriu um teclado. Continha quadrados com números, aparentemente esperando para serem pressionados. — Portanto, não funciona com uma chave, mas com um código.

— Ah! — Sacerdotisa, vendo o bloco, bateu palmas e começou a vasculhar sua bagagem.

Ela apareceu com a chave que havia tirado do goblin na entrada do forte. Era uma placa de ouro com números entalhados e uma corda como um colar.

— Que tal agora? No início, pensei que talvez as chaves fossem numeradas individualmente, mas…

— Sim, goblins nunca fariam contabilidade assim — disse Alta Elfa Arqueira com um encolher de ombros e Matador de Goblins concordou. Portanto, não havia dúvidas.

— Tente.

— Sim senhor! — Segurando o chip dourado, Sacerdotisa digitou cuidadosamente os três dígitos no painel.

Sentiram o menor arrepio quando algo profundo e distante gemeu, então, finalmente, houve um guincho quando a máquina parou.

As portas do elevador se abriram silenciosamente.

— Parece que tive a ideia certa — disse Sacerdotisa, passando a mão em seu pequeno peito com um suspiro de alívio.

O interior do elevador era uma caixa de pedra, assim como o exterior. Não era óbvio se o elevador se movia mágica ou mecanicamente, mas…

— No mínimo, não há nada aqui tão simples que os goblins possam operar — falou Matador de Goblins, olhando ao redor e usando sua espada como uma vara para cutucar. — No entanto, os vi usar baldes em poços.

— Isso é o suficiente para me dar arrepios. — Para com isso. Alta Elfa Arqueira acenou com a mão. Ela não queria imaginar a possibilidade de o dispositivo ser solto enquanto estavam dentro dele, fazendo-os despencar para o fundo.

— Vamos — pediu Sacerdotisa, decisão presente em seu tom, segurando seu cajado. Isso apesar do toque de palidez em seu rosto, uma rigidez inconfundível em sua expressão e o mais leve tremor em suas mãos. — Temos que… parar os goblins…

Essa foi uma declaração que obteve uma resposta imediata de Matador de Goblins:

— Sim.

A expressão de Sacerdotisa suavizou ligeiramente.

Matador de Goblins olhou para seu grupo.

Alta Elfa Arqueira estava estufando seu peito modesto como se dissesse que é claro que ela estava pronta.

Anão Xamã estava procurando por seus catalisadores com indiferença.

Lagarto Sacerdote fez um estranho gesto com as palmas das mãos juntas e revirou os olhos.

Matador de Goblins examinou cada rosto, em seguida, verificou seu próprio escudo, armadura, capacete e espada.

Sem problemas.

Seu plano estava em vigor.

Só havia uma coisa a fazer.

— Vamos matar todos os goblins.

Todos os aventureiros acenaram com a cabeça uns para os outros e entraram no elevador.

— Estou presumindo que essa coisa vai subir — disse Alta Elfa Arqueira —, mas isso pode ficar feio bem rápido.

— Poderia — concordou Matador de Goblins.

As bordas dos lábios da elfa se ergueram e ela murmurou sarcasticamente:

— O inferno, é o inferno… Sim, claro.

Então as portas se fecharam em silêncio.

 


Tradução: Nero

Revisão: Kenichi

 

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