Os aventureiros no prédio semiconstruído começaram a relaxar enquanto os sons da batalha ficavam mais distantes.
— Acha que foram por lá…?
— Parece que sim.
Talvez acabemos sendo resgatados. Mãe, Pai, talvez sobrevivamos.
Enquanto se olhavam e sussurravam, cada palavra era de medo ou reclamação.
Isso não vai ajudar.
Guerreiro de Armadura Pesada suspirou para si mesmo enquanto ficava na porta, olhando para o lado de fora. Ele estava perdendo o ânimo, e odiava isso.
Não que não simpatizasse com os novatos.
Qualquer um, quando falhava, quando se deparava com algo difícil ou doloroso, podia se sentir intimidado. Poderia bater os pés de frustração.
Essas crianças, acima de tudo, não queriam morrer pelas mãos de goblins. Ninguém queria.
Mas o que era um aventureiro que nunca se aventurou? Por mais desastrado que pudesse ser, um verdadeiro aventureiros nunca desistiria, não até o momento em que morria.
Mesmo que os próximos dados lançados pelos deuses resultassem em crítico.
Nessa hora…
Fwump.
Houve um som de passos pesados, capazes de fazer o chão tremer um pouco.
Os iniciantes tremeram, engoliram nervosos; calaram as bocas e pararam de falar.
Uma sombra escura.
Passou sem jeito segurando um porrete enorme na mão.
Guerreiro de Armadura Pesada não teve que sondar as profundezas de seu conhecimento sobre monstros para saber o que aquilo era.
— Temos um visitante grande e feio. Um hob.
Um hob.
Um hobgoblin.
Uma forma superior de goblin que aparecia intermitentemente. Não tinham inteligência e não eram lutadores particularmente elegantes, mas tinham uma força sem igual. Em muitos ninhos, serviam como chefes ou, às vezes, brutamontes contratados.
— Ei, crianças. Querem ver algo legal? — Guerreiro de Armadura Pesada cuspiu na palma da mão, lubrificou o cabo de sua espada larga e agarrou a arma com força. — Não sei o que os outros caras ensinaram, mas eu só tenho uma lição.
Então casualmente se atirou porta afora.
— HHOOOORRB!!
Um, dois, três passos. Ele avançou direto para o goblin gigante.
Era só um goblin. Um goblin e nada mais.
Não era nada se comparado com o goblin campeão com o qual havia lutado antes.
Ainda assim, um golpe direto daqueles músculos provavelmente não seria engraçado. Poderia, dependendo, ser até fatal.
— Não importa o problema que estiver enfrentando, se tiver informações suficientes a respeito…
Quem acreditaria que uma arma tão grande poderia ser balançada em um círculo?
Ele se aproximou.
Deixou o impulso de seu corpo levá-lo. Se fosse forte o suficiente, não seria impossível.
Seu corpo começou a se curvar.
A espada de aço de duas mãos valia muito mais do que qualquer outro equipamento. O preço a colocava em um nível diferente. E Guerreiro de Armadura Pesada…
— Então, garotos e garotas, vocês podem matar qualquer coisa… até mesmo um deus! — Passou a balançar.
Goblins só pensam em travessuras.
Os contos de fadas dizem muito, mas a chance de ver em primeira mão não é rara.
— GROB! GROORB!!
— GORROOR!!
Como isso aconteceu?
Sua mente funcionou rápido como sua armadura de couro, ainda nova o suficiente para estar rígida, triturada e rachada. Deveria ter uma espada na mão, mas deve ter deixado cair em algum lugar enquanto corria. Cada vez que dava um passo, a bainha batia em sua perna, lembrando-o de que sua cabeça estava tão vazia quanto sua bainha.
A escuridão da noite parecia estar inteiramente preenchida com o cacarejo dos goblins.
As sombras das árvores à luz das luas gêmeas agigantavam-se assustadoramente, e uma horda de olhos queimava como estrelas na escuridão.
Era algo que a maioria dos presentes só viu em pesadelos. Os iniciantes talvez, iniciantes que sequer teriam a chance de terminar o treinamento, nunca tivessem sequer sonhado com isso.
Nenhum deles.
A maioria, quando se imaginava em crise, também imaginava se livrar dela com frieza. No fundo de uma caverna, cercado por goblins? Pensariam em uma forma inteligente de mudar o ritmo das coisas.
Mas nunca imaginaram que poderiam acabar cercados por goblins em uma estrada, à noite, perfeitamente aberta.
— M-Maldição…!
— Por aqui, rápido! — gritou alguém, e foram direto para a floresta.
Pensaram que isso lhes daria uma vantagem em relação a ficarem cercados em campo aberto.
Havia, talvez, quinze deles no início. Estavam vagando pela estrada depois do treinamento, voltando para a cidade.
Haveria mais treinamento no dia seguinte, mas queriam em breve partir em aventuras. Era esse o tópico de suas conversas.
Mas, e daí?
Um grito surgiu da retaguarda do grupo. Viraram-se para ver uma garota abrigada em uma massa escura.
— Nããão! Não, para, pa… ahh! Gghh… Hrrgh…?!
Ainda podiam ouvi-la gritando enquanto sua vida se esvaia, sua voz rouca enquanto chorava e clamava por sua mãe.
Quando ele mergulhou e de alguma forma conseguiu arrastá-la para longe, já estava acabado. Ela foi coberta de cortes profundos através do tecido rasgado, osso atravessando sua carne perfurada. Claro que já não estava viva. Como poderia estar?
Depois disso, foi tudo caos…
— Goblins!
Algumas pessoas gritaram e correram, tentando fugir; outras tentaram enfrentar os monstros, mas um sumiu, outro acabou sendo separado do resto…
Por fim, restaram apenas cinco ou seis deles.
— Pensei que os goblins ficavam só em cavernas…!
— Bem, eles agora estão aqui, então pare de reclamar! — O guerreiro que corria ao lado tirou o capacete, já que estava quente demais. — Só temos que voltar para…
Ele jamais conseguiu terminar.
Uma pedra bateu em sua cabeça, esmagando seu crânio.
— O-O qu…?!
Acima de nós?!
Outro aventureiro desesperadamente limpou os restos de cérebro que respingaram em sua testa, depois, olhou para as árvores, e viu: os olhos ardentes e brilhantes dos goblins.
— Nunca ouvi falar que eles podiam subir em árvores!! — Ele podia se considerar sortudo por não ter se mijado ali mesmo.
Ainda tinha apenas quinze anos. O garoto mais forte da sua aldeia. Só isso já foi o suficiente para convencê-lo a deixar seu lar para trás.
Ele sabia como brandir uma espada. Exploração básica, como armar um acampamento, e assim por diante. Ele achava que isso o deixava “por cima”. Era tarde demais para perceber o quão errado estava.
Os cinco aventureiros sobreviventes se reuniram, tentando evitar que seus joelhos tremessem.
Seguravam as armas com as mãos trêmulas, tentavam entoar feitiços em línguas desconhecidas, tentavam orar com um medo avassalador.
A gargalhada uivante dos goblins voltou a soar.
— GOORORB!!
— GROORB! GRORB!!
Eles apontaram para os aventureiros aterrorizados, aproximando-se e tagarelando ruidosamente.
Se os aventureiros pudessem entender a língua dos goblins, o medo que sentiam só teria aumentado.
Dois pontos por um braço. Três pontos por uma perna. Dez por cabeça. E um torso, cinco.
Nenhum bônus para homens, mas dez pontos extras por cada mulher.
A maneira mais terrível de decidir a quem visar.
E tudo isso apesar do fato de que as fundas e lanças de arremesso tornavam impossível dizer quem matou o quê, e eles sem dúvidas acabariam apenas discutindo sobre quem ficou com quantos pontos.
Os goblins achavam que esse era um jogo maravilhoso o qual inventaram. Eles ergueram suas armas alegremente.
Era este o fim?
Os dentes dos aventureiros batiam enquanto observavam o avanço dos goblins.
Espadas enferrujadas foram erguidas, as pontas de lanças, as pedras brutas, nenhum indício de misericórdia…
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!
Foi então que um milagre aconteceu.
Uma luz, quase solar, explodiu atacando os goblins com seu poder.
— GROOROROB?!
— GORRRB?!
Os goblins berraram e cambalearam para trás; então entre eles apareceu uma silhueta, e depois outra.
— Toma… essa!!
— Yaaaaahhh!!
Lutadora Rhea empunhava uma lâmina de uma mão, enquanto Guerreiro Novato balançava sua clava para um lado e para o outro.
Sua força era deselegante, mas eficaz. Pow, pow, pow.
Foi como um redemoinho caindo sobre os goblins.
— GORB?!
— GOROORB?!
Podia não exatamente fatiar os goblins em duas partes, mas se cortasse a criatura do ombro ao torso, quebrando os ossos e rasgando a carne ao longo do caminho, o inimigo morreria.
Golpes críticos não eram necessários contra goblins.
— E-Ergh, realmente ainda não me acostumei com essa sensação! — gemeu Lutadora Rhea enquanto puxava sua espada de um dos monstros.
— Eles ainda estão vindo! — gritou Guerreiro Novato de volta, chutando o cadáver de um goblin para o lado.
Estava imitando Matador de Goblins. Se ele estivesse lutando esta luta, jogaria a espada e roubaria outra arma.
Lanceiro, então, agiria de forma mais decisiva, mirando nos pontos vitais e apunhalando-os rapidamente antes de passar para o próximo alvo.
E Guerreiro de Armadura Pesada? Ele varreria todos os goblins com um enorme golpe de sua espada larga.
Mas acho que não posso fazer nada disso, então…!
Pensar nas alturas que ainda não alcançou serviu de encorajamento para o espírito de luta de Guerreiro Novato.
— Certo, seus monstros, vamos lá…!
— Ah, pelo…! Se você perder outra arma, nenhum subsídio até comprarmos outra! — gritou Clériga Aprendiz para Guerreiro Novato, então correu para os aventureiros, segurando a bainha de suas vestes para que pudesse fazer isso. — Algum ferido? Digam! Venha aqui, eu trato! Milagres apenas para os gravemente feridos!
Vários dos aventureiros quase se arrastaram até ela. Clériga Aprendiz não viu ninguém precisando de atendimento de emergência, tampouco parecia haver alguém envenenado.
Ainda assim, dificilmente seria o momento para algo como Graças aos deuses, chegamos a tempo!
Dez outros jovens aventureiros foram cruelmente assassinados na rua.
Clériga Aprendiz mordeu o lábio e pegou algumas bandagens em sua bolsa de itens. Ela não tinha a liberdade para lançar Cura Menor em todos.
— V-Vocês…
— Nós viemos… para ajudar!
Essa voz vibrante pertencia à sacerdotisa que ergueu o cajado do qual brilhava a Luz Sagrada. Seu rosto esguio brilhava de suor, e ela olhou para a horda de goblins; foi sua fé inabalável que manteve o milagre acontecendo.
— Todos juntos! — comandou ela. — Vamos voltar para o campo! Em um espaço confinado como este, estamos à mercê dos goblins!
— Mas… Mas se eles nos cercarem…
— Vou manter nossa segurança com Proteção… Apenas vá! — gritou Sacerdotisa, calmamente considerando como usar seus milagres.
Muito provavelmente teria que sobrepor dois milagres para evitar os ataques de goblins enquanto se retiravam. Ela ainda só podia usar três milagres por dia, então desperdiçar até mesmo um deles resultaria em uma falha crítica.
Nenhuma Cura Menor por hoje, hein?
Ela sentiu um pontada de angústia com esse pensamento, mas era a melhor forma de lutar. Se continuasse firme nessa crença, a misericordiosa Mãe Terra continuaria concedendo-lhe luz.
— …
Entre os aventureiros que surgiram ao socorro estava um garoto ruivo, sem dizer qualquer palavra.
O clamor da batalha. Os gritos dos dois lutadores de vanguarda. Os gritos dos goblins. As admoestações das duas clérigas. As respostas dos aventureiros.
O garoto absorveu isso tudo, sua boca firmemente fechada, segurando seu cajado com tanta força que seus dedos ficaram brancos.
Por quê? Porque neste grupo de cinco pessoas, o maior poder de fogo era dele.
Não posso usar meu feitiço de qualquer jeito.
Ele não cometeria o mesmo erro da última vez.
Havia tantos goblins. Incluindo-o, havia apenas três aventureiros capazes de lutar, mas o inimigo era mais de uma dúzia.
Poderia acabar com todos usando uma única Bola de Fogo? Não, impossível. O inimigo estava espalhado demais para que pegasse vários deles com uma única explosão.
Mas usar seu feitiço para matar apenas um goblin não fazia sentido.
Porém, ele não tinha tempo para meditar a respeito disso. Havia goblins por toda parte, e ficar parado o tornava um alvo fácil.
Assim como aquela acólita que capturaram. O que aconteceria com essas garotas?
O que aconteceu com a sua irmã…?
De repente, Garoto Feiticeiro sentiu sua visão ficar quente como fogo, mas ele mesmo continuava completamente calmo.
Aquele aventureiro esquisito, Matador de Goblins, por mais que Garoto Feiticeiro odiasse admitir, estava sempre calmo. Se ele deixasse sua raiva ditar como usaria seu feitiço, desta vez realmente seria um homem inferior àquele aventureiro.
Não, não que Matador de Goblins diria algo. Mas ele nunca seria capaz de perdoar a si mesmo.
Então, o que eu faço?
Havia mais a se esperar de um feiticeiro do que lançar bolas de fogo e lançar raios trovejantes.
Então, o que havia para fazer?
Naquele momento, algo relampejou em seu cérebro.
— Todos, tapem os ouvidos!
— Quê?! Estamos… um pouco ocupados… lutando aqui…!
— Depressa!
— Aw, cara!
Guerreiro Novato e Lutadora Rhea não ficaram felizes com as instruções repentinas, mas não discutiram.
Não havia tempo a ser desperdiçado.
O garoto ruivo olhou para Sacerdotisa, que deu um solene aceno de cabeça para ele.
— Vou deixar isso com você!
Era exatamente como Matador de Goblins fizera durante a batalha após o festival, e também na montanha nevada.
O uso de feitiços, como tantas coisas, exigia tanto as ordens quanto a confiança do líder do grupo.
E o garoto em quem ela confiou, o garoto feiticeiro ruivo, balançou a cabeça e ergueu seu cajado.
— Vocês também! Façam o que ele mandou e tampem seus ouvidos! — gritou Clériga Aprendiz para os aventureiros sob seus cuidados.
Guerreiro Novato e Lutadora Rhea rapidamente lidaram com os goblins na frente deles, depois, correram para abrir uma distância.
Terei apenas uma chance.
Da boca do garoto saíram palavras de verdadeiro poder, seu feitiço lançado sobre o mundo.
— Crescunt! Crescunt! Crescunt!
Foram apenas três palavras. Um visível poder surgiu, flutuando no ar, derramando-se diante do garoto.
O que se seguiu foi um único som.
HRRR RRRRRRAAAA AAAAAAAAAAAAA AAH HHHH!!!!
O ar tremeu.
Era como matar todos os pássaros com uma única pedra. Cortando o nó Górdio.
Tal foi o golpe da espada larga de Guerreiro de Armadura Pesada, junto com o grito que soltou.
Com um tremendo golpe, cortou cada centímetro do hobgoblin, sua clava, carne e sangue.
Sangue negro espirrou por toda parte; a criatura se dividiu bem no meio antes de desabar no chão.
Os surpresos iniciantes só puderam ficar olhando enquanto Guerreiro de Armadura Pesada sacudia sua espada e mais uma vez a colocava em suas costas.
— Oh ho.
Toda a área foi tomada por um uivo de estourar os tímpanos.
Foi o grito de alguém? De onde estava vindo?
Ele olhou para o céu, não que fosse encontrar as respostas por lá.
— Parece que alguém está se divertindo um pouco — disse Guerreiro de Armadura Pesada com um sorriso afiado.
Naquele momento, pedaços de terra caíram do teto, e a umidade pegajosa deles levou Matador de Goblins a tomar uma decisão.
— Para cima.
Ele alojou a lança na garganta de um goblin, depois, chutou o cadáver espumante para longe, deixando sua arma partir com ele. Ao mesmo tempo, agarrou a machadinha da cintura da criatura.
Matador de Goblins sabia que não chegava nem perto de Lanceiro quando tratava-se do uso de lanças.
— Abra um buraco acima de nós!
Quando o grito chegou à retaguarda, Anão Xamã já estava vasculhando sua bolsa de catalisadores.
— Outro? Bem, chegando!
— Um buraco? O que você quer com um buraco? — gritou Lanceiro enquanto trabalhava com sua arma para conter a maré de goblins invasores enfurecidos. Seu corpo estava coberto de pequenos cortes, evidência de que não era invencível. Mesmo com vários aventureiros experientes na vanguarda, os números acabariam vencendo. Dores menores ou fadigas menos impactantes, empilhadas umas sobre as outras, ainda resultavam em morte quando chegava o momento.
— Tenho um plano — disse brevemente Matador de Goblins e bateu a ponta afiada de seu escudo na testa de um goblin. Vendo que a criatura ainda se recusava a soltar o último suspiro, Matador de Goblins pegou a machadinha recém-roubada e fingiu que iria bater.
Houve um satisfatório splorch e restos de cérebro voaram para todas as paredes da caverna.
— Mas, primeiro, quero acuá-los para ainda mais adentro na caverna.
— Lançar Medo e Túnel ao mesmo tempo vai ser um pouco demais até para mim!
— Milorde Matador de Goblins, eles só precisam ser enviados mais para o fundo, certo?
Anão Xamã estava mexendo em sua bolsa de catalisadores enquanto tentava alcançar o teto, no qual estava inscrevendo um sigilo. Lagarto Sacerdote havia se movido para cobri-lo; agora expunha suas presas de forma assustadora.
O momento para deixar sua destreza espiritual, que havia conservado até o exato momento de se manifestar, havia chegado.
Lagarto Sacerdote juntou as palmas das mãos em um gesto estranho e respirou fundo, enchendo os pulmões de ar. Ele parecia um dragão se preparando para usar um sopro.
— Bao Long, honrado ancestral, governante do Cretáceo, tomo emprestado agora o seu terror!
No momento em que terminou de cantar, Rugido do Dragão explodiu pelo túnel. O barulho que Lagarto Sacerdote soltou de sua mandíbula sacudiu o ar.
Os goblins, ouvindo um grande e terrível dragão ali no túnel, sentiram sua coragem sumindo.
Eles nunca foram corajosos, para começar. Só eram violentos quando em uma posição superior ou quando se vingando.
E quando com medo, não tinham noção de como proceder com uma retirada ordenada.
— GORRRBB! GBROOB!!
— GROB! GGROB!!
Gritando e largando as armas em qualquer lugar, começaram a fugir. Bruxa lançou Luz para perseguir suas formas em fuga.
Lagarto Sacerdote bufou para o espetáculo patético.
— Logo estarão de volta — alertou ele. — Mesmo o poder de um dragão não dura para sempre.
— Não me importo — respondeu Matador de Goblins, mas mesmo assim manteve sua postura baixa e cautelosa enquanto olhava para longe.
Alta Elfa Arqueira, começando a parecer cansada, deu um tapinha em seu ombro.
— Orcbolg, está planejando usar outro pergaminho?
— Eu tinha apenas um.
— Isso não me faz me sentir melhor…
Matador de Goblins balançou a cabeça enquanto observava Anão Xamã ainda trabalhando em um padrão na terra.
— Há um lago acima de nós.
O grito do garoto, amplificado por magia, ecoou pelo ar e árvores da floresta.
Era só uma voz muito alta. Nada notável para algo supostamente produzido por palavras que poderiam alterar a própria lógica do mundo.
Seus professores na Academia nunca o deixariam chegar ao fim daquilo, mas agora não estava na Academia.
Podia faltar a ameaça física de Bola de Fogo, mas sua voz estrondosa era sem igual. Mais importante ainda, a área de efeito era muito maior que a de Bola de Fogo. Goblins que estavam mais próximos logo caíram inconscientes, enquanto outros congelaram de surpresa, e outros ainda esqueceram o que estavam fazendo e começaram a correr.
— GOOROB?!
— GROOB?! GRRO?!
O garoto agarrou seu cajado, mordendo o lábio com tanta força que sangue escorreu, e olhou fixamente para as costas dos goblins.
Ele queria matar todos eles.
Eram criaturas tão egoístas. Violentas e assassinas. Entretanto, correram. E ele estava deixando.
Isso não era o suficiente.
Havia sua irmã mais velha em quem pensar. Os aventureiros que eles mataram. A acólita que ele e seu grupo resgataram.
Em seguida, havia a humilhação a que todos foram submetidos. A desesperança. A tristeza. A raiva. Todas as coisas que queimavam dentro dele.
Deixar todas essas coisas borbulharem, que prazer seria! Que maravilha!
Sim, mas…
— Vamos sair daqui!
Foi o grito de Sacerdotisa que fez o garoto voltar a si. Ela ergueu o cajado, ainda brilhando com Luz Sagrada, e o usou para apontar na direção em que deveriam seguir.
— Vão direto para fora da floresta, em direção à cidade!
— Pode deixar! — gritou Guerreiro Novato em retorno. Ele enterrou uma lâmina na garganta de um goblin inconsciente ao seu lado e começou a avançar. — Vamos lá. Nossa maior prioridade é voltar para casa! Sigam-me!
— Deixe-o liderar o caminho! Vou ficar de olho no grupo; você cuida da nossa retaguarda!
— Claro! — respondeu Lutadora Rhea para Clériga Aprendiz. Apesar de toda a luta, ela não parecia cansada. Isso era um traço de um rhea ou era só ela?
Lutadora Rhea passou pelo garoto enquanto se dirigia para a retaguarda.
— Bom trabalho. Aquilo foi mesmo incrível. — Ela só conseguiu sorrir enquanto passava, mas foi um sorriso sincero.
Um momento depois, o garoto acenou com a cabeça.
— Obrigado…
Enquanto o grupo cercava os aventureiros e começava a correr, o garoto olhou para trás, por cima do ombro.
O feitiço que usou não tinha intenção de matar, só de resultar em uma abertura para que escapassem.
Era verdade: seu objetivo neste caso não foi matar os goblins.
Foi ajudar os outros. Tirá-los de lá e voltar em segurança para a cidade.
Quão satisfatório seria se pudesse matar todos os goblins.
Mas, sim, porém.
Não sou Matador de Goblins.
O garoto saiu do campo de batalha e olhou para a frente, correndo com os demais.
Ele não voltou a olhar para trás.
Os goblins tinham surgido como uma maré e então foram arrastados por outra.
A água do lago que chegou pelo teto provocou um deslizamento de terra, derramando-se no túnel dos goblins.
Para o azar deles, o ninho estava em uma inclinação descendente. O grupo de aventureiros subiu um pouco a colina, isso era o suficiente para mantê-los em segurança, mas quanto aos goblins que fugiram de volta para o túnel…
— GORRRBB?!
— GBBOR?! GOBBG?!
Os goblins chegaram à superfície banhada pela água e voltaram a afundar, afogando-se na água lamacenta. Foi um espetáculo horrível.
— Acho que isso serve, já que funcionou — disse Lanceiro, acertando um goblin que estava se afogando com a coronha da lança e observando-o volta a afundar. — Mas assim não poderemos persegui-los. E se simplesmente voltarem a atacar quando a água descer?
— Quando Túnel acabar, lance algum tipo de feitiço de gelo. — Matador de Goblins deu sua próxima instrução a Bruxa, cuja expressão era ambígua. — O gelo irá se expandir assim que congelar, destruindo a passagem. Não poderão mais usá-la.
— Bom. Eu… entendi.
— Teremos que procurar o ninho pela superfície e destruí-lo.
Matador de Goblins já estava fazendo alguns cálculos mentais. Os goblins roubaram apenas ferramentas de construção, nenhuma comida. A missão anterior foi praticamente igual: apenas sequestraram prisioneiras para ajudar a passar o tempo.
Tudo isso indicava que o centro de suas operações não poderia estar muito longe.
O que os goblins pensaram quando viram o prédio em construção e os aventureiros se reunindo por lá? Ele não tinha como saber.
— Acho que vou deixar vocês cuidarem disso… Eu, cansei. — Lanceiro agarrou a arma, exausto, e sentou-se na lateral do túnel. — Da próxima vez que quiser um encontro duplo… espero que seja algo diferente de goblins.
— Entendo.
Refletindo, todos eles estavam há horas sem descansar. Estiveram todos lutando durante a noite. Estavam todos ansiosos para dormir feito pedras.
Alta Elfa Arqueira, fisicamente a mais fraca entre os seis aventureiros Prata, estava com as orelhas caídas.
— Estou tão cansada…
— Não trate as coisas assim — repreendeu-a Anão Xamã enquanto ela se apoiava contra a parede. — Ele só disse que ainda temos que localizar e destruir o ninho.
Alta Elfa Arqueira franziu os lábios.
— Sim, eu sei, mas…! — Ela não estava realmente chateada. Enxugou as bochechas sujas de lama e murmurou: — É por isso que odeio missões de goblins.
A maioria dos aventureiros provavelmente concordaria com ela.
A água borbulhava e expelia enquanto subia e descia. Era o som de goblins morrendo ou só da enchente correndo?
— Estou bastante impressionado por você saber que estávamos sob este lago — disse calmamente Lagarto Sacerdote enquanto observava as águas. — Milorde Matador de Goblins já esteve nesta área antes?
— Sim — disse Matador de Goblins sem qualquer paixão enquanto observava os monstros se afogando. — Muito… Muito tempo atrás.
Muitos goblins morreram naquele dia, assim como aventureiros.
Mas os aventureiros venceram.
Os campos de treinamento foram defendidos.
Mesmo assim, parecia haver tantos goblins no mundo quanto antes.
Tradução: Taipan
Revisão: Erudhir(3 Lobos)
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