— Podemos mesmo nos dar ao luxo de desperdiçar o nosso tempo assim?
— Se não formos em cômodo por cômodo, podemos nos colocar em perigo.
Eles tinham eliminado os goblins de duas ou três câmaras. Neste mausoléu, no qual várias salas estavam interligadas, a organização era fácil de se seguir, mas também havia muitas câmaras a verificar. O constante trabalho de encontrar e eliminar goblins estava marcado até em seus ossos.
O Garoto Feiticeiro cutucou o chão de pedra com seu cajado, irritado, fazendo com que Sacerdotisa adotasse um tom reconfortante.
— Mas pense nisso — disse o garoto, carrancudo. — As cativas podem estar em perigo…
Isso com certeza era verdade. Sacerdotisa também estava preocupada com os aventureiros anteriores a eles. Havia vestígios – sangue seco aqui, um cadáver de goblin ali. Mas não mais do que isso. Isso não dava a garantia de seus predecessores ainda estarem vivos ou não.
Mas… quase certeza que não, sussurrou uma voz fria no fundo do seu coração.
Mesmo assim… Ela deu uma mordidinha nos lábios. Isso não era motivo para perder as esperanças.
— Como estão as outras salas? — chamou por Alta Elfa Arqueira, empurrando o amontoado de pensamentos desagradáveis para o fundo da mente.
A elfa pressionou a orelha contra uma porta de madeira, procurando algum som; espiou pelo buraco da fechadura e finalmente concluiu:
— Destrancada e vazia. — Entretanto, apontou para a borda superior da porta com um dedo fino. — Mas olhe aquilo.
Havia o que parecia ser um pedaço de barbante preso na brecha. Se abrissem a porta, o barbante cairia e algo poderia acabar desabando sobre eles.
— Uma armadilha? — perguntou Matador de Goblins.
— Parece que sim — respondeu ela.
Matador de Goblins soltou um humph baixo. Ele jogou a tocha gasta fora, trocando-a por uma nova, a qual acendeu com uma pederneira, então puxou uma lança enfiada em um cadáver de goblin, verificou a ponta e a jogou fora. A adaga no quadril da criatura seria mais útil.
Ele pegou a arma e levou à bainha. Estava um pouco enferrujada, mas ainda era possível apunhalar algo com ela. A considerava descartável, de qualquer forma.
Por último, examinou a pilha de saques roubados e encontrou um machado de guerra com uma aparência agradável. Era uma arma de uma mão, mas surpreendentemente pesada.
— Problemático — declarou enquanto descansava o machado em seu ombro.
— Vai saber — disse a Alta Elfa Arqueira, encolhendo seus ombros esbeltos.
Sacerdotisa caminhou até ao lado deles, ficando na ponta dos pés para olhar para o topo da porta. O barbante não era muito grosso, e a estrutura era simples. Mas isso não significava que poderiam relaxar.
Isso podia estar conectado a algo besta como um prego enferrujado, mas se o prego acertasse o rosto de alguém, ainda poderia causar a sua morte. Ou podia ter veneno envolvido.
Sacerdotisa franziu as sobrancelhas finas, podia pensar em várias possibilidades.
— Pensando bem… o capataz disse que os goblins roubaram algumas ferramentas, não foi?
— Não que eu queira imaginar o que goblins podem fazer com boas ferramentas de carpintaria — rosnou o Anão Xamã, cruzando os braços. Ele passou a mão por cima do cabelo e então inspecionou o barbante. — Não parece que esteja ligado a algo. Seja lá o que for, não é algo muito elaborado.
— Também poderíamos considerar seguir um caminho diferente. — Lagarto Sacerdote bateu com o rabo no chão de pedra. — Havia outras duas portas além daquela que nos trouxe a esta. Os goblins parecem ainda não saber que estamos aqui.
— Hmm…
O que fazer? Qual direção seguir?
Com o olhar de todo o grupo sobre ela, Sacerdotisa vasculhou em sua bolsa e pegou o mapa. Era um trabalho simples, feito à mão, com pena em pele de carneiro. Este grupo não tinha alguém dedicado à cartografia. Se passassem por algumas das câmaras fechadas para chegar à sala com a armadilha…
Seus pensamentos foram interrompidos pelo grito do garoto.
— Arrrgh! Não aguento mais isso!! — Ele não estava mais tentando esconder o seu aborrecimento, apontando o seu cajado para a porta. — É aí que os goblins estão, certo?! Eles não sabem nem armar uma armadilha direito!
— Ah! Não, espera! Não…
— Sai da frente! Vou abrir essa porta!
Alta Elfa Arqueira podia ser uma Prata, mas o garoto ainda assim foi facilmente capaz de colocá-la de lado.
— O qu…? Ah, uh, ummm…!
Ela tinha que impedi-lo. Entretanto, apesar deste pensamento desesperado, Sacerdotisa não conseguia formar sequer uma palavra completa. O que deveria dizer e como deveria dizer? Assim que pensou nisso, percebeu que todos tinham, até o momento, obedecido todas as suas ordens. Ela não fazia ideia de como lidar com alguém que se recusava a escutar.
— …
Sacerdotisa olhou desesperada para Matador de Goblins, mas ele não disse nada. Ela não sabia que tipo de expressão estava escondida naquele capacete de aço. Pareceria desinteressado? Ou…
Se… Se ele desistir de mim…!
O simples pensamento foi mais do que o bastante para sacudir Sacerdotisa toda. Uma voz fria e calma começou a, em algum lugar de sua mente, provocá-la.
O que eu faço? O que eu faço? O que eu faço oqueeufaçooqueeufaçooqueeufaçooqueeufaçooqueeufaço…?
Seus pensamentos correram, mas não conseguiu dizer nada. Ela estendeu a mão, esperando ao menos segurá-lo, mas o garoto já estava abrindo a porta…
— Eeyaaaahhhhhh?! — gritou ao ver algo caindo.
Seu grito ecoou pela câmara mortuária; parecia alto o suficiente para chegar até as profundezas do mausoléu. O Garoto Feiticeiro caiu para trás, desviando do objeto que caía.
— O-o-o-o-o-o-o-o-o-o que diabos é isso…?!
Era uma mão e um braço. Foram arrancados com tanta violência que parecia quase que tinham sido enfiados em um moedor de carne. Já tinham pertencido a uma mulher.
Eram adoráveis membros com músculos bem desenvolvidos, mas pareciam agora horríveis. Era quase impossível imaginar o que devia ter acontecido à sua antiga dona.
— Um pouco das travessuras goblinescas — disse Matador de Goblins com um estalo de língua. — Só queriam nos assustar.
— U-ugh… — Sacerdotisa deixou um gemido involuntário escapar. Ela sentiu algo amargo e ácido subindo pela garganta; com lágrimas nos olhos, engoliu tudo de novo.
Não era a hora para perder a coragem, já não tinha visto outras coisas semelhantes?
Desesperadamente falou a si mesma para manter o controle, então agarrou seu cajado tão firmemente quanto podia com as suas mãos trêmulas.
— Tenho um mau pressentimento quanto a isso — disse a Alta Elfa Arqueira, dando um tapinha encorajador nas costas da Sacerdotisa. Ela não parecia muito melhor do que a sua líder, que levantou as golas para esconder o rosto e lábios pálidos. — Aquele grito pode muito bem ter funcionado como um alarme da porta.
— Acho que a ideia era essa — murmurou o Matador de Goblins sem qualquer sinal de agitação; ele assumiu uma posição de combate com o machado na mão. — Acredito que em breve teremos companhia.
— Não tenho certeza, mas…
— GY-GYAAAH…!!
Alta Elfa Arqueira acabou dando uma sacudidela em suas orelhas compridas enquanto o grito estridente de uma mulher ecoava pelo mausoléu.
Todos os aventureiros congelaram, mas por um só instante; um segundo depois, cada um deles preparou as suas armas.
A única exceção foi o Garoto Feiticeiro.
— Soou dali…!
— Não! Você não pode ir sozi…
O garoto saiu correndo, sem dar qualquer atenção à voz que tentava impedi-lo. Ele chutou a porta da câmara mortuária, irrompendo para a próxima sala, virando de um lado para o outro até encontrar o que estava procurando.
— Só pode ser isso…!
Ele bateu com o ombro na porta, forçando-a a abrir.
No momento em que fez isso, um fedor úmido e sufocante o assaltou. Parte disso era graças aos resíduos de goblins espalhados por toda parte. Um pouco era de sangue e vômito.
Então o garoto viu.
O goblin.
A mulher.
A mulher estava amarrada a uma cadeira, pedaços de arame perfuravam sua pele pálida e carne macia.
Seus olhos, tão abertos quanto o possível, deixavam lágrimas escorrerem.
O machado na mão do goblin estava coberto por manchas vermelho-escuras.
E então ali estava a sua mão ensanguentada.
O líquido vermelho escorria pelo braço da cadeira.
E na poça de sangue, vários pálidos e delicados…
— Ee… yaaaaaaaaaahhhhhhhhh!! — uivou o garoto.
Ele continuava berrando quando caiu sobre o goblin, golpeando-o com seu cajado. Seu coração e sua mente estavam queimando de raiva, e o fogo de suas emoções fez com que palavras de verdadeiro poder espontaneamente tomassem rumo por seus lábios.
— Carbunculus… Crescunt… Iacta!! Voe, ó esfera de fogo!
A Bola de Fogo disparou pelo ar, deixando um rastro de chamas para trás. E ela voou bem, acertando o crânio do goblin. Cérebro, sangue e pedaços de ossos estilhaçados voaram por todas as partes, e o goblin agora sem cabeça desabou no chão.
— Ah, ah, ah… Tome… isso…!
Isso era… nada. Nada de nada.
Ele matou outro ser vivo sem sequer aproximar um dedo. Não parecia algo real, havia enviado um goblin para o seu fim com um único golpe, assim como queria – foi surreal.
Toda a sala de interrogatório, toda a horrível cena, tudo girou ao seu redor; ele não conseguia compreender.
— De qualquer forma, tenho que ajudá-la… Ei, está tudo bem?!
Mas ele deveria ter prestado mais atenção a suas ações.
O único feitiço que podia usar era Bola de Fogo, e só podia usar uma vez por dia.
Devia ter lembrado do alarme de antes. E do fato de que era um ninho de goblins.
— Ahhh… hhh… Errr… g…
— Espera aí! Vou te tirar daqui agora mesmo!
O garoto estava totalmente concentrado em cortar o fio que prendia os membros da mulher à cadeira.
Foi por isso que não percebeu. O garoto não registrou o óbvio fato de que devia haver ali algo que eliminou o outro grupo de aventureiros.
— Errgh… Nngh… Ah…
— …?!
Não foi nenhuma de suas habilidades, e sim pura sorte, que o fez cair para trás, evitando a clava que balançou um instante depois.
— O… whoa…?!
Todo o sangue deixou a sua cabeça. Ele descobriu que em momentos de verdadeiro pânico, as pernas de uma pessoa tornam-se muito moles.
— OLRLLT…?
E viu uma enorme forma irregular coberta por cicatrizes. Ele sentiu o odor corporal forte o suficiente para deixá-lo nauseado.
A cabeça careca da criatura parecia a própria personificação da estupidez, e seu rosto exibia um sorriso irônico e idiota.
A coisa tinha braços do tamanho de troncos de árvore e carregava uma enorme clava. E os inúmeros pregos cravados na clava, ali só para rasgar e destroçar a carne, falavam da sede no coração do monstro.
Um troll.
A criatura ergueu a clava como se não tivesse certeza do motivo pelo qual seu ataque errou. O garoto avistou algumas manchas vermelho-escuras na arma e pedaços de cabelo que pareciam ter pertencido a uma mulher…
— Errg… Ugghh…!
Ele então apertou a mandíbula para evitar que seus dentes batessem.
Segurando o seu cajado, levantou-se.
Atrás dele estava uma mulher ferida, quase inconsciente e cativa.
Ele não podia fugir. Nem mesmo se quisesse. E, ainda assim, o que deveria fazer?
Como um feiticeiro em treinamento, estava naturalmente familiarizado com os trolls, mas de uma perspectiva acadêmica. Claro que estava.
Eles eram enormes. Poderosos. Idiotas. E tinham poderes regenerativos – lidar com isso exigia fogo ou ácido.
Porém, aí estava um problema.
Sem feitiços.
— GRORB!
— GRB! GROBRORO!!
E não era só isso.
Ele ouviu o tagarelar dos goblins ecoando pela câmara mortuária, e sabia que as coisas tinham piorado.
Colocaram uma isca, e ele engoliu o anzol, linha e chumbada.
Por que sairiam do próprio caminho para torturar uma prisioneira em um lugar como este? E (como aconteceu) logo após algum intruso estúpido ter gritado!
As portas de todos os lados da câmara mortuária foram abertas. Goblins apareceram aos tropeços, rindo sem parar.
Eu devia ter ouvido quando aquela elfa sugeriu dar a volta pelo outro lado…!
Mas já era tarde demais para se arrepender.
Foi tudo uma armadilha. Uma projetada para pegar aventureiros que avançassem de sala em sala.
Quando percebeu isso, o jovem sem feitiços tinha apenas um curso de ação possível.
Ele lambeu os lábios. Respirou bem fundo e começou a gritar:
— Fujam! É uma armadilha…!
Essa seria a ação final do garoto.
Um instante depois, um machado de mão passou voando, uma flecha cortou o ar e uma Garrespada brilhou.
— GRBRR?! — gritando e uivando, os goblins desabaram feito trigo sob a foice.
— Vinte deles. Restam dezessete.
A voz soou tão calma quanto o vento soprando acima do solo e, com ela, Matador de Goblins entrou em combate. Sua mão direita vazia moveu-se com a precisão de uma máquina, sacando sua adaga e fazendo uma transição instantânea para um golpe no pescoço de um goblin confuso.
— GROORORB!!
— Hmph… Quatro. Restam dezesseis.
A lâmina enferrujada, incapaz de suportar a força do impacto, estilhaçou-se e saiu voando, mas foi o suficiente para desferir um crítico na espinha da criaturinha.
Matador de Goblins estalou a língua e jogou o cabo de lado, agarrando a espada que o goblin em colapso carregava. Ele a puxou dando um chute descuidado no monstro enquanto ele morria. Então girou o pulso, assumindo uma postura de luta cautelosa.
— Tem vida?
Garoto Sacerdote assentiu várias vezes.
— Uh, s-sim… T-tenho…
— Não você — disse friamente o Matador de Goblins, interrompendo-o.
— Acredito que ele está curioso a respeito da jovem senhora ali — disse Lagarto Sacerdote, correndo e assumindo uma posição defensiva diante do garoto aliviado.
— Sim! — exclamou ele, engolindo em seco. — Ela tem vida! Claro que tem!
— Entendo — disse Matador de Goblins e, por trás de seu visor, fixou um olhar de reprovação no garoto. Não que o Garoto Feiticeiro tivesse alguma noção de onde o homem estava olhando por trás de seu capacete de metal. Mas ele achou que sentiu. Então fechou os olhos e tentou dar uma desculpa.
— Eu só… Só queria ajudá-la assim que possível…
— Também temos mulheres do nosso lado — disse Matador de Goblins, sua voz fria e cortante. — Duas delas.
Isso fez com que o garoto respirasse fundo e olhasse na direção das duas.
— Ugh. É por isso que odeio goblins…
— Hrk…
Alta Elfa Arqueira estava pálida diante da visão da câmara de tortura, mas disparou uma flecha atrás da outra para manter o troll longe.
Ao seu lado, Sacerdotisa só podia oferecer uma espécie de suspiro aflito; as mãos que agarravam o seu cajado tremiam suavemente.
— Mas…! — O garoto estava prestes a oferecer uma réplica, mas o Anão Xamã apareceu pulando e gritou com raiva:
— Agora não é hora para conversa, garoto! Pegue a garota, a cadeira e tudo, e vamos dar o fora!
Os dois guerreiros e a arqueira abriram um caminho, e o xamã e a sacerdotisa o seguiram.
— Estamos sem tempo!
E de fato estavam.
— GROROB! GROB! GROORB!!
— OOOORLLLLT!!
Sua rota de fuga havia sumido.
Dezesseis goblins. Um troll. Não era bem uma multidão, mas os aventureiros foram cercados.
Lenta, mas seguramente, os monstros avançaram, sorrisos perversos apareciam em seus rostos enquanto ficavam cada vez mais seguros da vitória.
Os aventureiros se aproximaram para proteger o garoto, a acólita capturada e a Sacerdotisa.
— Mas como devíamos levá-la…? — O garoto hesitantemente colocou a mão na cadeira; vários gemidos indecifráveis vazaram da boca da mulher. Sua mão estava coberta de sangue, escorregadia e pegajosa. Foi o suficiente para fazer seu estômago revirar; ele sentiu como se fosse vomitar ali mesmo.
Lagarto Sacerdote, observando, revirou os olhos, um amplo campo de visão era uma das características do seu povo. Sua língua então deslizou para fora da sua boca.
— Não se esqueça dos dedos. Se tudo correr bem, podemos ser capazes de curá-la.
— Ah…!
O garoto se jogou ao chão, rapidamente procurando pelo líquido vermelho.
O machado enferrujado havia cruelmente cortado tanto carne quanto ossos. Mas ele não tinha tempo; nenhum. Os dedos teriam sido tão fáceis de esquecer, mas se certificou de encontrá-los, contá-los e embrulhá-los em um pano.
Tentou limpar o suor da testa com a mão suja e manchada de sangue, e mordeu os lábios.
— Peguei!
— Excelente! Você, pegue aquele lado… sim, aquele! — comandou o Lagarto Sacerdote.
Houve um barulho quando a cadeira foi erguida, misturando-se aos gemidos da mulher.
Alta Elfa Arqueira ficou atrás dela, protegendo-os, seu arco sempre disparando e suas orelhas agitadas.
— Eles ainda estão vindo dos fundos! — Ela olhou para a Sacerdotisa. — O que faremos?!
— Eh… ah…!
Sacerdotisa se viu incapaz de falar na mesma hora. Suas mãos congelaram em seu cajado, que agarrou com tanta força que suas mãos doeram e os nós de seus dedos ficaram brancos.
O que fazer? Qual seria a coisa certa a se fazer? Lutar? Fugir?
Ela tinha que dar uma resposta, e logo. Sim, mas… mas…
Caímos em uma armadilha de goblins.
Não só caímos, corremos para ela.
E foi ela quem disse: Vamos segui-lo!
Não havia arrependimento. Claro que não. Mas foi o suficiente para fazer suas pernas ficarem instáveis.
Ela podia ver Maga, aquela adaga venenosa enterrada nela.
Lutador, sendo feito em pedaços pelos diabinhos.
Monja, presa, espancada sem qualquer misericórdia, violada das formas mais terríveis.
Calma. Cada vez que tentava afastar a memória, simplesmente se deparava com a próxima à sua espera.
A vez em que o campeão goblin quase a esmagou – o terror, a dor, o desespero.
O ponto em seu pescoço que fora mordido latejava.
— Uh… Um… um…!
Os goblins, aproximando-se. Aquele troll gigantesco.
Sacerdotisa precisava falar, mas sua língua se recusava a se mover.
As lágrimas começaram a brotar nos cantos de seus olhos; seus dentes não paravam, criando uma terrível vibração.
E tudo isso enquanto sabia tão bem quanto qualquer um que não era hora para essas coisas…!
— Milorde Matador de Goblins!
Sua salvação surgiu na forma do Lagarto Sacerdote, que rapidamente avaliou a situação e chamou.
— Certo — respondeu Matador de Goblins sem qualquer paixão. — Podemos?
Mesmo nesse momento ele procurava pelo consentimento dela. Sacerdotisa assentiu sem forças, não sabia o que mais poderia fazer.
As instruções do Matador de Goblins foram curtas e rápidas.
— Use Luz Sagrada. Avançaremos para dentro. Vou deixar a linha de frente para o resto de vocês. Pegarei a retaguarda e lidarei com aquela coisa gigante e rosnante.
— Excelente! — respondeu de imediato o Lagarto Sacerdote.
— C-certo! — Sacerdotisa, por outro lado, lutou para reprimir o senso de quão patética era.
O Garoto Feiticeiro, trabalhando duro para levar a cadeira consigo, estava ansioso. Ele pode lidar com isso?!
— Você é um guerreiro, certo?! Aquela coisa é um troll!
— Idiota — disse a Alta Elfa Arqueira, conscientemente estufando o peito. — É em momentos assim que Orcbolg mostra o seu melhor.
Lagarto Sacerdote soltou uma risada. Este homem não seria derrotado por goblins.
Sacerdotisa, entretanto, não riu. Se ela não pudesse fazer mais nada, ao menos cumpriria o dever que lhe foi confiado.
Então agarrou o cajado com as duas mãos. Elevou a sua consciência, apelando diretamente aos deuses lá no céu.
— Ó Mãe Terra, abundante em misericórdia, conceda tua luz sagrada para nós que estamos perdidos na escuridão!
E, assim, recebeu um milagre.
— GGRORRRROOB?!
— TOOLR?! OORTT?!
Houve um flash de luz branco-azulada, como um sol explodindo. E queimou os olhos dos goblins e do troll.
Sacerdotisa, seu pequeno peito arfando com o esforço desta súplica rasgalma, gritou, tanto para se inspirar quanto a qualquer outra pessoa:
— Vamos!
Quando começou a correr, ergueu seu cajado, e o Lagarto Sacerdote apareceu ao seu lado.
Os goblins deixaram as câmaras mortuárias, preenchendo todo o caminho, a visão. Lagarto Sacerdote atacou com garras, unhas, presas, cauda, varrendo-os para o lado sem qualquer piedade.
Seguindo atrás dele por todo o caminho criado estavam Anão Xamã e Garoto Feiticeiro, carregando consigo a cativa. Não tinham a liberdade para lançar feitiços.
Alta Elfa Arqueira tinha as suas flechas sempre prontas, salpicando a estrada criada com uma chuva de projéteis enquanto corria.
E então…
— Um troll? — murmurou o Matador de Goblins, deixado para trás, na retaguarda. — Então não é um goblin.
— OOOORLLT!!
Os pregos da clava do monstro brilharam quando ele a balançou. Mas, cego como estava, sua força pouco lhe valeu. Sem pânico ou pressa, Matador de Goblins saltou para trás. Então procurou em sua bolsa de itens e pegou uma pequena garrafa.
Quando o recipiente se espatifou contra a pele do troll, enviando fragmentos por todos os lados, não fez mal à criatura.
Claro, não precisava.
O importante era o que havia ali dentro.
— TOORL?! TOORRL?!
Um líquido preto viscoso e não identificável agarrou-se ao corpo gigante do troll. A coisa exalava um cheiro que formigava pelo nariz. O troll se debateu, desesperadamente tentando limpar a substância ardente, espalhando-a ao redor.
Os monstros não faziam ideia de que o material era o Óleo de Medeia, gasolina à base de petróleo.
— Até mais.
Sem qualquer momento de hesitação, Matador de Goblins lançou sua tocha na criatura, aproveitando o mesmo movimento para se virar.
— TOOOOROOOOROOOOOORRRT?!?!
— GROROOB?!
Uivos e gritos escaparam do troll, totalmente envolto pelas labaredas de chamas, e também dos goblins que foram pegos na conflagração.
Matador de Goblins já estava correndo em outra direção; enquanto o fazia, pegou uma arma de um dos goblins mortos, um dos que seus companheiros deixaram para trás. Era uma lança de mão. Ele segurava a espada com a mão esquerda e a lança com a direita, agachando-se enquanto avançava.
— Aquilo talvez tenha pego metade deles. Então…
A lança saiu voando. Ela acertou o estômago de um goblin que enfrentava as chamas, matando-o.
— GGRORR?!
— Com esse, quinze.
Matador de Goblins girou com habilidade, mais uma vez partindo atrás de seus companheiros.
Não havia como confundir a rota. As portas foram deixadas abertas; cadáveres de goblins estavam espalhados por todas as partes. Só tinha que seguir os traços de batalha. Seu verdadeiro problema eram os goblins que continuavam a aparecer pelas portas laterais.
— GBGOR?!
— GRORB! GORORRB?!
Flechas voavam de longe, acertando-os. E assim foram mais três. Dezoito.
Matador de Goblins correu para a frente, saltando entre os corpos que caíram à sua frente.
Logo avistou Alta Elfa Arqueira, seu cabelo trançado balançando atrás dela como se fosse um rabo.
— Orcbolg, o que está acontecendo? Ouvi um tipo de fwoosh lá atrás!
— Era uma situação de emergência.
— Poderia ter ao menos avisado!
— Não pensei tão longe. — Enquanto corria, Matador de Goblins se virou, como se estivesse lançando uma emboscada pelo meio do caminho. — Dezenove.
O goblin, que por fim o alcançou, foi pego de surpresa por sua ação. Uma espada foi cruelmente cravada em sua garganta. Quando se retorceu, o goblin espumou sangue e morreu. Um chute no peito do monstro voltou a libertá-la.
— Como está à frente?
— O de sempre! Yargh! Blargh! Todos os tipos de loucura. — Alta Elfa Arqueira disparou mais duas ou três flechas enquanto falava, confiando na sorte para acertar o tiro. Três goblins desabaram no chão, contorcendo-se, flechas cravadas em suas órbitas oculares. Vinte e dois. — Você tem um plano? — perguntou.
— Claro. — Matador de Goblins mudou de posição no instante em que a elfa levou para matar aqueles três monstros; estava agora ao seu lado. — Sempre tenho.
Tradução: Taipan
Revisão: Shibitow
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